Único
“Você acha que ele vai ficar bem?” perguntou Hermione. “Harry, quero dizer.”
Ron a encarou em surpresa. Eles estavam sentados no corredor fora da ala hospitalar, esperando. Ron não tinha certeza do que eles estavam esperando. Harry estava lá dentro, em um sono sem sonhos, e Ron sabia que ele não acordaria por um tempinho.
Mas ainda assim, eles estavam lá, sentados no chão, nenhum deles falando muito. Era compreensível, claro. Muitas coisas tinham acontecido aquela noite. Ele e Hermione tinham seguido cada passo que Harry dava dentro do labirindo, sentado nas arquibancadas, roendo as unhas. E então, Harry desapareceu. Pareceu tão irreal de repente. E Cedrico também não estava lá. Eles reapareceram repentinamente. Ron lembrou do rosto de Harry caindo no chão, segurando a Taça Tribruxo em uma mão, e um Cedrico sem vida em outra.
E então, a confusão começou. Olho-Tonto Moody arrastou Harry para fora das vistas deles, e Ron só esperou que fora para bem. Mas aparentemente, não fora para o bem. Harry voltara parecendo mortificado, e Ron ficou pensando no que realmente tinha acontecido desde que ele entrara no labirinto. Ele estava preocupado. E pelo olhar no rosto de Hermione, ele podia dizer que ela estava tão preocupada quanto ele.
“Você o ouviu,” Ron respondeu inconfortávelmente. “Ele está bem. Só está cansado.”
Hermione suspirou. “Ele só disse aquilo porque não quer que nos preocupemos com ele.” Ron olhou para baixo. Era verdade. Harry não estava bem. Quando ele entrou na ala hospitalar, horas antes, Ron soubera, com apenas um olhar para ele, que ele estava terrivelmente... mal. Os olhos dele estavam úmidos, e sua face parecia vazia, como se ele estava tentando não se lembrar de nada. Como se ele estivesse forçando sua mente a ficar vazia.
“Acho que ele ficará bem,” disse Ron. “Harry é feito de força.”
Houve um silêncio novamente. Hermione estava olhando para baixo, seus joelhos pressionados contra seu peito. Ron a encarou por um instante, tentando não imaginar o que tinha acontecido com seu melhor amigo, mas foi inútil.
“O que você acha que aconteceu com ele?” perguntou Ron. Ele estava doido para saber o que Hermione achava. Ele estava doido para dizer a ela o que ele achava.
“Não sei,” Hermione, disse, repentinamente severa. “Você ouviu Dumbledore, não podemos perguntar a ele até que ele esteja pronto para contar.”
Aquela não foi realmente a reação que Ron esperava. “Não vou perguntar a ele, Hermione, não sou tão idiota!” Ele se sentiu ofendido, de alguma maneira. Ele sabia que não podia perguntar a Harry, ele não precisava ficar se lembrando disto.
“Ah, Ron,” disse Hermione, ajoelhando-se e virando-se para olhar para ele. “Não foi o que eu quis dizer.”
“Eu só queria saber…” começou Ron, mas ele parou. Talvez não fosse a hora certa para falar sobre isso.
“Quero saber também,” respondeu ela, olhando para o outro lado. “Mas precisamos esperar.”
Ron assentiu. Ele ainda estava um pouco ofendido. Mas não estava bravo. Era impossível estar bravo com Hermione naquele momento. Não quando Harry Harry estava lá dentro, e eles estavam lá fora, juntos. Sozinhos.
Ele olhou para Hermione novamente. Ela estava encarando o corredor vagamente. Seu cabelo estaav mais cheio do que nunca, e Ron lembrou-se do quão bonita ela estava no Baile de Inverno. Seu estômago pulou de leve. Ele se lembrou do quão idiota ele fora.
“Você está… você está confraternizando com o inimigo!”
De todas as coisas que ele pudera ter dito, ele veio com a mais idiota.
Mas por que Krum? Ele queria saber. Por que, de todos os garotos com quem ela podia ter ido, por que ela escolheu Krum? O mais idiota e feio de todos. O idiota estava competindo contra Harry no torneio. O idiota que jogava pela Bulgária. O maldito de Durmstrang. De todos os garotos... por que ela não escolhera ELE? Ron Weasley?
Ele percebeu o que estava pensando e sacudiu sua cabeça. Não era aquele o ponto. O ponto era, ela saiu com Vítor Krum. E ele a convidou para ir para a Bulgária.
Ron pensou se Hermione aceitara o convite. Ela evitou a pergunta dele aquele dia, em Poções, e eles nunca mais tocaram no assunto.
“Eu estava pensando em convidar você e Harry para as férias. Para A Toca, eu quero dizer...” ele disse, corando. ‘Não core, seu idiota, não core’
“Seria ótimo,” disse Hermione, para a felicidade de Ron.
“Sério?” disse Ron, alto. “Mas tem certeza que vai ter tempo? Quero dizer, com sua viagem para a Bulgária, e...” Corou de novo. ‘Por quê? Por que você sempre tem de ficar vermelho?’
“Não tenho certeza sobre a Bulgária.” Hermione o cortou.
Ron abriu e fechou sua boca como um peixe fora d’água várias vezes, antes de encontrar as palavras e fazerem-nas sair. “Mas achei que tinha dito ao Krum que iria...”
“Eu nunca disse isso.” Respondeu Hermione, inconfortável. “Vítor me convidou e eu disse que pensaria sobre o assunto.”
“E você pen…”
“Sim. Mas ainda preciso de mais um tempinho.”
Ron assentiu. Hermione dissera as últimas palavras em um tom que o dissera que a conversa estava acabada.
Então ela não tinha certeza se queria ir. Ron conteve um sorriso. Talvez ela preferisse ir até a casa de Ron e ficar com ele o verão inteiro. Talvez ele pudesse convidá-la para ficar em sua casa o verão inteiro, para não ter tempo para ir até a Bulgária.
"Da próxima vez que houver um baile, me convide, antes que outro garoto faça isso, e não como último recurso!”
Ele sacudiu sua cabeça novamente, mas parou rápido, com medo de que Hermione achasse que ele estava ficando louco ou algo, sacudindo a cabeça o tempo todo. Partes da briga terrível deles sobre o Baile de Inverno vinham à sua cabeça mais do que ele podia suportar.
Mas Hermione não tinha entendido, claro. Se tivesse sido outra pessoa, não Krum, então Ron não teria ficado tão furioso. Se tivesse havido outra pessoa... que não estava competindo contra Harry, que não era de Durmstrang, que não era o INIMIGO... alguém que fosse amigo de Harry... alguém que fosse o MELHOR amigo de Harry. Ron Weasley, talvez?
‘Você está sendo idiota novamente, Ron,’ ele pensou. ‘Idiota!’
“Espero que Harry esteja bem,” disse Hermione, e Ron pulou um pouco, sendo puxado para fora de seus pensamentos. “Ele deve ter passado por poucas e boas. Cedrico até... er... morreu... Graças a Deus que a mesma coisa não aconteceu com... com ele.”
Ron concentrou-se, tentando se lembrar do rosto de Cedrico. O terror implantado em seus olhos. Seu corpo duro e frio. Sua boca meio aberta. A coisa toda parecia familiar. Ele já vira essa reação antes... ele fechou os olhos, tentando lembrar. A expressão de terror... a boca entreaberta... duro e frio...
Então as peças se encaixaram como um quebra cabeça dentro da mente de Ron.
“Foi o Avada Kedavra,” Ron disse, de repente. Hermione olhou para ele, confusa.
“Quê?” perguntou ela.
“Cedrico morreu por causa do Avada Kedavra,” disse Ron, novamente.
Hermione o encarou, surpresa. Ron estava começando a se sentir infonfortável quando ela finalmente falou, sua voz tremendo levemente. “Mas Ron, isso é... ilegal...”
Ron assentiu apreensivamente. “Sim, eu sei. Mas ele pareceu petrificado.. como aquela aranha na aula de Moody...”
“Isso é terrível,” disse Hermione, lentamente. “Quero dizer, quando vi aquela aranha simplesmente MORRER daquele jeito, nunca pensei que pudesse acontecer com...”
“Cedrico.” Disse Ron,
”Com ninguém. Pareceu tão distante, tão..”
“Irreal” terminou Ron por ela, e ela assentiu.
“Mas se ele morreu por causa disso,” Hermione continuou. “Quem... quem... ?”
“Não sei,” disse Ron. “E prefiro nem pensar nisso.”
Houve um silêncio novamente. Ron podia ouvir sua mãe falando em um sussurro dentro da ala hospitalar. Ela estava falando com Gui. Mas Gui parecia muito quito. Exatamente como eles.
“Harry deve estar terrivelmente chateado,” disse Hermione, sacudindo sua cabeça lentamente.
Chateado não era a palavra para descrever como Harry devia estar se sentindo. Ron, de alguma maneira, sabia que Harry sentia o que ele sentia. Medo, confusão e dor. Mas Harry provavelmente estava mil vezes mais assustado do que ele. Por que ele sabia o que realmente acontecera quando ele tocara a Taça. Ele vira seja lá o que tenha sido que matou Cedrico.. Ele viu Cedrico morrer. E Ron tentou imaginar o que mais ele tinha visto...
“Eu acho que ele está assustado. Terrivelmente assustado.” Respondeu Ron.
E, para sua enorme surpresa, Hermione começou a chorar.
Ron a encarou, sem saber o que fazer. Lágrimas desciam pelas bochechas dela. Ele se sentia mais inútil a cada minuto. Ele queria confortá-la, abraçá-la, beijá-la... BEIJÁ-LA?
‘Controle-se, Ron Weasley. Ela é sua amiga. A abrace e termine logo com isso.’
Ele se aproximou dela lentamente, com cuidado, com um jeito gracioso. Ele colocou um braço ao redor dela, antes que ele pudesse pensar no que estava fazendo. Seu corpo inteiro ficou terrivelmente tenso, enquanto ele segurava a mão dela com a sua. Ele sentiu a adrenalina correr pelo seu corpo num flash.
E, para o seu grande alívio, ela descansou sua cabeça no ombro dele. Ele podia sentir suas vestes se molhando com as lágrimas dela, mas ele não se importou.
Naquele momento, no qual ele estava envolvendo Hermione forte em seus braços, nada importou. Eles ficaram assim por um longo tempo. Logo, Ron percebeu que Hermione parou de chorar. Mas ela não fez esforço nenhum para se afastar, então não importava. Ron se sentiu incrivelmente aquecido, e podia ficar assim para sempre, sentindo o cabelo de Hermione sob sua testa, com aquele cheiro doce que ele tinha percebido tantas vezes antes. Quando ela o abraçou depois da primeira tarefa. Quando ela o abraçou ano passado. Mas, desta vez, ELE estava abraçando ELA, e era muito bom. Então algo fez Ron e Hermione pular. Eles ouviram rápidos passos e vozes, gritando.
“COMO VOCÊ SE ATREVEY A TRAZER AQUELA COISA PRA DENTRP DO CASTELO?” Era a Profa.McGonagall. Hermione imediatamente se afastou de Ron, e Ron resmungou um pouco, o que foi abafado por outra voz gritando de volta.
“EU FIZ BEM!” Ron reconheceu a voz de Fudge. “AQUELE HOMEM ERA UM ASSASSINO!” Os passos pararam. Ron olhou para Hermione, confuso. Ela encolheu os ombros em resposta, e Ron estava prestes a dizer que eram Fudge e McGonagall quando ouviram mais gritaria.
“VOCÊ DEVOA TER CONSULTADO DUMBLEDORE PRIMEIRO!” gritou a Profa.McGonagall. “VOCÊ DEVIA TER DITO A ELE!”
“PELO AMOR DE DEUS, MULHER!” respondeu Fudge. “EU VOU CONTAR A ELE!”
“O ESTRAGO JÁ ESTÁ FEITO AGORA, CORNÉLIO!” McGonagall falou, aparentemente batendo o pé no chão.
“Vamos, Minerva, Cornélio.” Eles ouviram uma voz muito familiar. “Vamos procurar Dumbledore e ver o que ele acha.” Era Snape.
Eles imediatamente começaram a caminhar de novo, os passos se aproximando mais.
“Talvez devêssemos entrar,” disse Ron, depressa.
Hermione assentiu. “Harry deve acordar a qualquer momento, de qualquer maneira.”
Ron se levantou, sentindo-se um tanto trêmulo. Ele estendeu a mão, para ajudar Hermione a se levantar. Ela a segurou embaraçosamente, e sorriu de leve para ele. Ron sorriu de volta, e eles entraram na ala hospitalar, fechando a porta atrás deles.
Fim
P.S: O resto é história...
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