Um acordo inesperado
Harry estava deitado, mas com os olhos bem abertos, encarando o teto do quarto. Sua cabeça girava.
Depois que o trimestre letivo se encerrara, a profª McGonagall dissera a Harry que ele deveria ficar mais um tempo na casa dos tios. Os Dursley haviam voltado de Mallorca, na Espanha, onde estavam escondidos e pareciam felizes em voltar à Rua dos Alfeneiros, mesmo com a presença de Harry, que agora era um bruxo formado.
Ainda era julho. O curso de auror só começava na metade de agosto e talvez levasse alguns anos. Os Dursley tinham retomado o costume de ignorar Harry, exceto Duda que ainda era grato a Harry por tê-lo salvo dos dementadores. Tio Válter encontrava-se cheio de dívidas, uma vez que ficara ausente durante um ano e sua empresa de brocas estava mal das pernas. Não era nada disso, porém, que intrigava Harry.
O garoto recebera uma carta no dia anterior, por correio-coruja. Harry adquirira um péssimo hábito de hesitar ante uma carta de coruja, para não cair na tentação de chamá-la de “Edwiges”. A coruja negra passou pela janela e deixou a carta cair na cama de Harry, depois voou para fora do quarto.
Harry apanhou a carta. Não havia selos.
Harry Potter
Rua dos Alfeneiros nº. 4
Little Whinging
Surrey
Prezado Harry
Estarei passando em sua casa amanhã por volta das três horas da tarde. Preciso tratar de um assunto particular com você e seus tios. Depois, você irá comigo para a Toca, onde está convidado a morar.
Atenciosamente
Matt Scott Stick
Harry releu a carta para ter certeza de que lera certo. Ia morar na Toca. Poderia ter ido para lá assim que saísse de Hogwarts, mas McGonagall e Matt haviam insistido por alguma razão que ele voltasse a morar com os Dursley por um tempo. Mas morar com Gina e Rony seria a melhor coisa que poderia lhe acontecer depois de sair de Hogwarts.
E o que era esse “assunto particular” que Matt queria tratar com Harry e os tios? O garoto imaginava que não era nada a ver com o Ministério. Não imaginava o que Matt Stick teria de tão importante para falar com os Dursley.
Depois de almoçar (salada de frutas com aipo), Harry seguiu para o quarto e se deitou de costas, olhando para o teto. Arrancara o calendário em que outrora riscara os dias que faltavam para ir a Hogwarts e guardara-o na mochila, junto com outros objetos de estimação como a Capa da Invisibilidade e o espelho de Sirius que Aberforth Dumbledore lhe dera. Depois, guardara suas roupas no malão. O antigo relógio de Fabian Prewett em seu braço marcava 14h59min.
Harry aguardou, relaxando o corpo, imaginando o que ocorreria em seguida.
O relógio marcou 15h00min. Ele ouviu um estalo lá fora, na rua. A campainha no hall tocou.
...
...
Longe da Rua dos Alfeneiros, uma garota de cabelo castanho andava pelas ruas de uma cidade australiana à procura de uma casa. A varinha estava guardada na barra das vestes, mas estava pronta para ser sacada se fosse necessário. As casas em volta dela eram todas iguais, mas ela sabia que a casa que ela estava procurando não seria difícil de reconhecer.
...
...
Harry saltou da cama e escancarou a porta. Correu pelo corredor e desceu a escada no momento em que o tio Válter abria a porta (“Quem será a essa hora, diabos?”).
Harry congelou. Parado ao portal estava Matt Stick, do jeito que ele se lembrava: alto, cabelos negros e rebeldes, olhos castanho-claros e um rosto com expressão divertida. Mas as roupas de Matt estavam diferentes.
Em vez de estar usando a capa preta que ele habitualmente usava (com a bandeira da Escócia, seu país de origem, estampada no peito) sobre as vestes oficiais do Ministério, Matt conseguira se disfarçar perfeitamente de um trouxa. Usava um terno preto elegante com a gravata perfeitamente ajustada, uma caneta azul saindo do bolso esquerdo e um celular no bolso da calça. Tio Válter só podia estar imaginando estar diante de alguém importante, pois olhava com admiração para Matt.
- Boa tarde, o senhor deve o Sr. Válter Dursley, sim? – perguntou Matt com sua voz solene.
- Eu, sim, sim, é claro – balbuciou tio Válter, que aparentemente ainda não notara o sobrinho ao pé da escada observando a cena.
- Meu nome é Matt Scott Stick – disse ele ainda formalmente. – Enviei uma carta a seu sobrinho, Harry Potter, comunicando que estaria vindo aqui. A propósito...
Matt olhou para o lado e avistou Harry. O garoto tentou sorrir em resposta, sem jeito; esquecera-se de avisar aos Dursley que provavelmente um bruxo viria visitá-los.
- Já está aí, Harry? – disse Matt satisfeito. – Ótimo, ótimo.
Tio Válter virou-se abruptamente e encarou Harry. Tornou em seguida a olhar para o bruxo; toda a sua admiração por ele pareceu desaparecer instantaneamente.
- O senhor então é... – começou tio Válter, gaguejando.
- Sou um bruxo – informou Matt; tio Válter engoliu em seco. – Sou um caçador de bruxos das trevas, um Auror, e trabalho no Ministério da Magia. Trabalhei na escola de Hogwarts e fui professor de Harry. Vim buscá-lo para...
- Espere um instante! – bradou o tio Válter, como se tivesse acabado de notar alguma coisa. – Já vi você antes. O senhor apareceu na televisão! Ao lado do Primeiro-Ministro!
Tio Válter apontou um dedo trêmulo para Matt, lívido e espantado. O bruxo não deu o menor sinal de surpresa.
- É, é verdade. Vejo que o senhor não perde um detalhe – a voz de Matt continuava solene. – De fato, sou o novo secretário do premiê britânico. O ministro precisava de alguém para o cargo, uma vez que meu amigo Kingsley Shacklebolt, que foi secretário do Primeiro-Ministro anterior, deixou o cargo pois estava fugindo de Lord Voldemort... O senhor deve saber quem é, o bruxo que estava perseguindo Harry...
- Estava? – perguntou tio Válter.
- Sim. Não mais. Foi morto em maio. Harry deu um fim nele.
Tio Válter lançou um rápido olhar assustado a Harry, mas, quando Matt recomeçou a falar, voltou a encarar o bruxo.
- A princípio, o ministro indicou Shacklebolt para o cargo, mas ninguém conseguiu encontrá-lo... Então, a guerra contra Voldemort terminou e Kingsley tornou-se o Ministro da Magia. Reuniu-se com o Primeiro-Ministro e os dois decidiram que eu seria o secretário de governo dos trouxas.
- Então... – começou tio Válter lentamente. – O tal Shacklebolt é o novo ministro...
- De fato. Como eu ia dizendo, Sr. Dursley, estou aqui por causa do Harry. Vim buscá-lo para a casa da família Weasley, onde ele irá morar. Não sei se o senhor sabe, mas Harry agora irá trabalhar no Ministério, e devo dizer que a casa dos Weasley e relativamente mais próxima de Londres do que a sua.
“Porém, há algo sobre o qual temos de tratar, antes de eu e Harry partirmos. Podemos conversar lá dentro?”
- Claro... claro – disse tio Válter, ainda aturdido por ver que um bruxo secretário de gabinete do primeiro-ministro trouxa britânico estava em sua casa para conversar com ele e com o sobrinho.
Tio Válter indicou a Matt a porta da sala. Matt fez sinal para Harry passar à frente (tio Válter resmungou baixinho) e fechou a porta da frente.
Tia Petúnia e Duda assistiam à televisão na sala. Matt e Harry acomodaram-se no sofá junto da parede, enquanto tio Válter sentou no sofá diante deles. Tia Petúnia, ao notar o visitante, pareceu reconhecê-lo da TV. Quando, porém, os olhos dela encontraram os de Harry, o garoto percebeu que a tia acabara de concluir que Matt era bruxo. Duda olhava do pai para Harry e dele para Matt, parecendo curioso.
- Então, Sr. Stick, qual é o assunto que tem a tratar comigo? – disse tio Válter, falando como se estivesse numa reunião de negócios e ele fosse o chefe.
- O Ministério da Magia decidiu em reunião – começou Matt – de que o senhor e sua família merecem uma gratificação por terem acolhido Harry Potter em sua casa, pelo que este rapaz representa para o mundo bruxo.
Harry olhou para Matt, incrédulo, certo de que não ouvira direito. O Ministério ia dar dinheiro aos Dursley?
- Vocês tiveram a bondade de acolhê-lo – continuou Matt -, alimentá-lo, educá-lo... Mesmo que tenham perdido as estribeiras muitas vezes, Sr. Dursley, você e sua família deram uma casa para O Eleito morar, protegendo-o de perigos maiores, ainda que de maneira involuntária e arbitrária.
Duda parecia muito orgulhoso de ver que ajudara a proteger o primo. Tia Petúnia prestava atenção a todos os detalhes da conversa, como se procurasse algo que pudesse questionar; não parecia estar acreditando em Matt. Tio Válter, porém, desde que ouvira a palavra “gratificação”, não tirava os olhos do auror.
- Vocês são em parte responsáveis por terem evitado que Harry pudesse ser submetido a perigos precocemente. O ministro Shacklebolt concorda comigo, e trouxe um termo de transferência monetária para o senhor assinar.
Matt pôs a mão no bolso onde estava a caneta, e puxou um pequeno pedaço de pergaminho enrolado. Desenrolou-o e o papiro foi crescendo, até ficar do tamanho da mesinha do tio Válter. Matt pousou o pergaminho na mesa e puxou a caneta do bolso. Na parte de baixo do pergaminho havia quatro espaços em branco, onde Harry supôs que a pessoa deveria assinar. Não deu outra, o auror escreveu com a caneta “Matthew Stick” no espaço “Transfere”.
- Pode ler se quiser conferir, Sr. Dursley. Depois, se quiser assinar, é no espaço “recebe”.
Tio Válter apanhou o pergaminho que, apesar de ser grande, não tinha muito para se ler. Tia Petúnia se aproximou para ler, ainda disposta a encontrar algo fora do lugar.
Tio Válter, porém, encontrou primeiro.
- Que é isso? – indagou ele, parecendo irado, apontando para a parte de baixo do pergaminho. – Que significa isso??
E virou o pergaminho para mostrá-lo a Matt, o dedo pousado sobre um dos espaços em branco. O nome embaixo dele era “valor recebido”. E, para surpresa de Harry, o espaço estava vazio.
Harry teve uma surpresa maior ainda quando viu Matt sorrir para Válter.
- Bom, Sr. Dursley – disse ele, parecendo achar muita graça –, é aí que o Harry entra.
Harry sentiu todos os olhares convergirem para ele, e sentiu-se desconfortável.
- O que o garoto tem a ver com isso? – perguntou tia Petúnia, falando pela primeira vez desde que Matt chegara.
- O ministro e eu decidimos que – respondeu Matt, ainda sorrindo –, como o Harry foi protegido por vocês durante 16 anos, ele é quem decidirá quanto os senhores irão receber. Justo, não?
Harry percebeu, na hora, que os Dursley podiam achar que tal decisão podia ser qualquer coisa, menos justa. Tio Válter empalideceu e tia Petúnia fez cara de triunfo; parecia ter finalmente encontrado um motivo para crucificar o auror.
- E então, Harry? – perguntou Matt de repente, ignorando as reações dos Dursley. – Quanto você acha que seus tios merecem ganhar? Em libras, é claro. Faremos o câmbio da nossa moeda para a deles.
Harry pensou. Nunca fora feliz por completo com os Dursley. Nunca cogitara a possibilidade de lhes dar dinheiro. Quanto os tios mereceriam ganhar? Nunca haviam feito nada que o fizesse pensar em retribuir. Contudo, os tios nunca lhe haviam feito o mal, se comparado ao que sofrera nas mãos de Voldemort. Matt acabara de dizer: os Dursley, ainda que sem querer, impediram que Harry sofresse mais. Faltava, porém, a Harry algo que pudesse definir o que fazer diante daquela situação. Estava diante de um impasse.
Mas então, como uma luz que se acendia em sua mente, ele lembrou-se de Duda. Duda lhe era grato porque ele salvara a vida (ou melhor, a alma) dele. Duda lhe dera um excelente presente há um ano: saber que havia alguém na Rua dos Alfeneiros, nº. 4, que se importava com ele. Tio Válter estava cheio de dívidas com a empresa. Se Harry o deixasse na miséria, o primo não poderia concluir os estudos (caso um dia quisesse pensar em concluí-los) nem teria do que viver. Harry já se decidira.
- Humm... Matt? – arriscou ele.
- Que foi, Harry? – o tom de voz de Matt era quase desinteressado. – Chegou a uma conclusão?
- Quase. Quero perguntar ao tio Válter uma coisa.
Válter ergueu os olhos, incrédulo, para Harry.
- Sei que o senhor acumulou dívidas com sua empresa. O senhor sabe dizer de quanto o senhor precisa para quitar tudo?
- Preciso de... Um milhão – sussurrou tio Válter, sua voz não demonstrando esperança. – Um milhão de libras.
- Obrigado. Ahn, Matt – começou Harry, decidido a pôr o plano em prática. – Já sei quanto quero que meus tios ganhem.
- Quanto? – perguntou Matt.
- Um milhão de libras. Está bem?
Válter arregalou os olhos para Harry. Trocou um olhar incrédulo com a esposa e depois encarou Matt.
- Um milhão está bem. – Ele apanhou novamente a caneta e escreveu o valor mencionado. – Agora, Harry, favor queira assinar aqui...
Ele indicou o quarto espaço, debaixo do qual se lia: testemunha. Matt ofereceu a caneta a Harry, que a segurou sem hesitar e escreveu o nome no espaço referido.
- Só falta a sua assinatura, Sr. Dursley...
Trêmulo, tio Válter pegou a caneta que Harry lhe estendeu, e assinou. No instante em que ele levantou a caneta e entregou a Matt, o pergaminho se enrolou de novo e voltou a ficar diminuto.
- Pois bem! Está tudo certo, creio eu... Sr. Dursley, espere um oficial do Ministério amanhã há esta hora que lhe deixará o dinheiro. Esperamos que faça um bom uso dele.
- Obrigado... – gaguejou tio Válter para os dois. – Muito obrigado.
Matt levantou-se e voltou-se para Harry.
- Já fez as malas, meu rapaz?
- Já.
- Excelente. Já é maior de idade, então pode trazê-las por magia se quiser. – Matt virou-se para tio Válter, que choramingava de emoção no sofá enquanto tia Petúnia o confortava. – Até mais, Sr. e Sra. Dursley... e Dudley...
Duda se espantou ao ver que Matt sabia seu nome, mas acenou discretamente para ele e para o primo.
- Se cuidem – disse Harry aos tios. – A gente se vê, Duda.
Duda ergueu o polegar, sem jeito pela atitude do primo. Harry acenou em resposta para ele e correu para o quarto. Nem a mala nem a mochila eram muito pesadas, por isso ele simplesmente jogou a mochila no ombro e saiu carregando a mala.
Matt o esperava já do lado de fora. Quando ele avistou Harry, esperou o garoto passar para fechar a porta dos Dursley. Harry, que esperava uma Aparatação Acompanhada ou algo do gênero, ficou surpreso ao ver que Matt pôs-se a caminhar.
Harry acompanhou os passos do amigo, satisfeito por encerrar as duas últimas semanas com os Dursley por cima. Enquanto caminhavam pela rua, uma pergunta surgiu nos lábios de Harry.
- Aquilo tudo foi verdade, Matt? Ou era só brincadeira sua?
Matt lançou a Harry um olhar divertido.
- Até a parte em que eles receberão o dinheiro, sim. – Matt caiu na risada, e Harry percebeu que ele havia aprontado alguma. – Mas o dinheiro que vamos cambiar tem um truque.
- Qual? – indagou Harry.
- É ouro de leprechaun, mas nós conseguimos retardar o feitiço de modo que só quando o dinheiro estiver com seu quarto dono é que vai desaparecer. Ou seja, seus tios irão usá-lo para quitar as dívidas da empresa, mas é provável que eles guardem algo para eles e gastem com alguma coisa. – Eles atravessaram a rua. – Suponhamos que sua tia compre um vestido. O dinheiro continua lá, com a loja onde ela comprou. Agora suponhamos que a tal loja pague um salário de um funcionário, ou que compre novas peças de roupa para vender. O funcionário ou os fabricantes das roupas compradas, no momento em que tirarem os olhos do dinheiro, como aconteceu com você na Copa Mundial, notarão que o dinheiro desapareceu.
Eles dobraram a esquina e Matt voltou a rir.
- Uma brincadeira que eu e Kingsley combinamos – acrescentou ele. – Não se preocupe, como pode ver, dificilmente seus tios serão prejudicados.
- O problema não seria eles ficarem prejudicados – interpôs Harry. – Estava preocupado com o Duda, ele precisa terminar a educação dele. Mas acho que aparentemente não preciso me preocupar.
- É verdade. Por aqui, Harry.
Eles seguiram em frente pela rua lateral. Outra pergunta surgiu nos devaneios de Harry.
- Onde estamos indo?
- Para a casa da Sra. Figg – disse Matt tranquilamente, então notou o olhar intrigado de Harry. – Precisamos da casa de alguém da Ordem para desaparatarmos sem que trouxas vejam. Questões de segurança. Não que estejamos em perigo, mas, como um membro graduado do Ministério, tenho que dar o exemplo, seguir o protocolo.
Harry teria achado graça o fato de Matt se preocupar em seguir o protocolo ministerial se não tivesse pressentido um quê de preocupação distinta na voz de Matt, mas decidiu não ligar. Não devia ser nada.
Eles chegaram à rua da Sra. Figg. Matt tocou a campainha. Ouviram passos apressados do outro lado e a Sra. Figg abriu a porta. Continuava velha e enrugada e usava suas pantufas de sempre.
- Entrem, queridos, por favor – disse ela, ao reconhecê-los. Harry supôs que ela e Matt haviam se conhecido na Ordem da Fênix. – Aconcheguem-se.
Ela os levou para a sala, que cheirava a repolho. Havia retratos de seus inúmeros gatos em todas as cômodas e estantes. Harry deixou a mala no chão e sentou-se numa poltrona velha. Matt, porém, sacou a varinha e fez um grande aceno.
O terno que o auror usava sumiu. Em seu lugar apareceu a capa de Matt, preta e com a bandeira da Escócia, no ombro do bruxo, e as vestes pretas e douradas do Ministério.
- Até que enfim – suspirou Matt. – Eu gostaria de um copo d’água, por favor, Sra. Figg. – A mulher sorriu em concordância e dirigiu-se para a cozinha. – Sinceramente, eu morei com os trouxas por muito tempo, como você, Harry, e acho que eles têm bom gosto para roupas, mas ainda prefiro minha capa da Escócia. Só uso o terno quando estou com o ministro.
- Você morou com os trouxas? – perguntou Harry. – Eu achava que você fosse puro-sangue.
- E sou – disse Matt. – Mas meus pais preferiram me criar no mundo dos trouxas, achavam que era mais seguro.
- Como assim?
- Na época havia, bem... Meu pai era muito perseguido, entende. Voldemort estava começando a espalhar o caos. Meu pai, como você sabe, acabou morto pouco depois de eu entrar para Hogwarts. Os pais de Thaila também eram assim.
- Eles já morreram? – perguntou Harry. Já ouvira algumas coisas da história de Matt, mas nunca se aprofundara tanto.
- Não, estão idosos, mas bem vivos. Minha mãe, porém, faleceu recentemente. A varíola de dragão não lhe deu chance. Depois de 28 anos, eu finalmente sei como você se sente, Harry, sem pai nem mãe.
Matt fez uma pausa e inspirou profundamente. Ainda devia ser difícil para ele falar da mãe.
- Minhas condolências – disse Harry.
- Agradeço. Mas a vida continua. Eu soube antes de viajar.
- Viajar pra onde?
- Fui assistir a Copa Mundial de Quadribol – respondeu Matt. – No Uruguai. Com Thaila. Belas praias. Só não superam as do Brasil. Um dia pretendo voltar lá. Só me decepcionei com a campanha da Escócia.
- Que aconteceu?
- Pegou um grupo difícil, com Marrocos, Brasil e Noruega. Na estréia, estava ganhando do Marrocos por 150 a 0. Então o apanhador marroquino apanhou o pomo e jogo terminou em empate. Depois enfrentou o Brasil; estávamos ganhando de 150 a 100. Então o apanhador brasileiro apanhou o pomo e o jogo terminou em 250 a 150. Na última partida da 1ª fase, contra a Noruega, ninguém mais acreditava que a Escócia tivesse chances; o Brasil tinha ganhado duas partidas e a Noruega, uma. Mas a seleção surpreendeu: precisava da vitória e marcou de cara 4 gols. Mas aí a Noruega conseguiu virar. Logo depois empatamos e finalmente, capturamos o pomo; o jogo findou em 200 a 50 para nós e a Escócia passou de fase. Aí enfrentou o Chile... Foi um massacre. Fizemos 100 pontos, mas o Chile empatou e capturou o pomo... 250 a 100 e a Escócia foi eliminada.
- E a Inglaterra? – perguntou Harry.
Matt fungou com o nariz antes de responder; era escocês e não simpatizava muito com a Inglaterra quando se tratava de esportes. Mesmo no quadribol, as duas maiores equipes desportivas da Grã-Bretanha eram grandes rivais.
- Saíram-se um pouco melhor. Na 1ª fase, empatou com a Colômbia, mas venceu Tunísia e Romênia e passou de fase. Eliminou a Argentina nas oitavas de final, mas parou diante da Alemanha nas quartas. Irlanda, Gales e Irlanda do Norte não se classificaram para a Copa.
Nesse instante a Sra. Figg voltou com a água. Matt agradeceu e bebeu de um gole só.
- Estava precisando. Não bebo água há umas cinco horas – disse ele. – Está pronto?
Harry se levantou prontamente e ergueu a mala.
- Segure meu braço – disse Matt, e Harry obedeceu. – Obrigado por nos receber, Sra. Figg.
- Por nada, queridos – respondeu ela.
Harry lançou um último olhar a Sra. Figg, então sentiu que ele e Matt rodopiavam no ar. Em instantes, eles cessaram de girar e Harry caiu de bruços no chão.
Ergueu os olhos e ficou contente ao ver prédio torto que seria, a partir dali, a sua casa.
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