Como tudo começou



Cartas Para Ninguém



Capitulo 1



Como tudo começou





Acordou com o leve movimento do pequeno corpo que dividia com ela a pequena cama.

Os seus olhos estavam cansados devido ao esforço da noite anterior, tinha lido todas aquelas cartas escritas durante os tempos de guerra, cartas para ninguém.

Ergueu-se da cama e caminhou até á janela, coberta pelas cortinas que afastou. Os jardins em volta da casa estavam cobertos de neve, fazendo-a lembrar daquela manhã fria onde tudo tinha começado.



***



Ginny estava sentada numa poltrona, com os cotovelos apoiados na secretária á sua frente. Olhava pela janela, através da qual via os jardins cobertos de neve e ao fundo algumas árvores despidas pelo rigoroso Inverno. Decidiu escrever, era o que sempre fazia quando os seus sentimentos estavam mais confusos, mas ultimamente a escrita tinha-se tornado um hábito para ela.



“ St. Mungus, 1 de Novembro



Ainda não acredito que estou aqui. Não que seja uma coisa má, muito pelo contrário, ajudar as pessoas em tempo de guerra faz-me sentir útil. Mas fico triste ao saber que estou aqui contra a minha família. Todos participam, duma maneira ou de outra, na guerra e eu não queria ficar de fora, embora todos eles ainda achem que eu sou uma criança.



Faz dois meses que a guerra começou, no início estava protegida em Hogwarts, enquanto cursava o meu 7º ano mas a escola não aguentou muito tempo. Por mais que Dumbledore tentasse proteger a escola as barreiras de segurança não iam aguentar para sempre. Antes que os devoradores da morte tivessem possibilidade de magoar os alunos, o director mandou-nos de volta a casa.



Admito que não fiquei feliz, afinal fui impedida de continuar os meus estudos, mas agora que me conformei acho que foi melhor assim. Depois de chegar a casa informei os meus pais que queria participar na guerra. Eles chamaram-me doida, disseram que a guerra não era lugar de mulher e que ainda era muito nova para me arriscar a tal ponto. Mas eu não concordava, todos participavam, todos os meus irmãos, o Harry e até a Hermione. Eles impediram-me de ingressar na Ordem, proibiram-me até de falar nisso a Dumbledore, mas eu encontrei uma maneira de ajudar sem me expor tanto. E aqui estou eu, no St. Mungus a ajudar os médicos e enfermeiras a tratar dos feridos de guerra. Não que o meu conhecimento na área da medicina bruxa seja vasto, mas aqui é aceite qualquer ajuda que possa aparecer.



Hoje o dia amanheceu calmo e espero que continue assim…”



Não pode continuar a escrever pois uma das enfermeiras adentrou na sala.



-Vamos Ginny, houve outro ataque e precisamos da tua ajuda.



A ruiva guardou o pedaço de pergaminho, a pena e o tinteiro numa das gavetas da secretária e saiu atrás da enfermeira.



-Jenny, o que aconteceu?

-Foi um ataque num bairro bruxo, várias famílias foram dizimadas mas conseguiram salvar bastantes pessoas – Respondeu enquanto caminhava apressadamente pelos corredores brancos do hospital.

-E o estado deles é grave?

-Segundo sei, é.



Entraram numa grande ala, cheia de camas, agora ocupadas pelos sobreviventes ao ataque.



-Ginny, encarrega-te daquelas crianças ali ao fundo, os ferimentos delas não são graves, na realidade estão só em estado de choque.



Ginny caminhou até ao fundo da enfermaria, onde as camas eram ocupadas por crianças. As mais novas choravam, chamando pelos pais, enquanto as mais velhas se mostravam assustadas.

Eram cerca de cinco crianças, algumas com cortes na face e nos braços, outras apenas cobertas de poeira.



-Vamos ver o que temos aqui – Disse aproximando-se de uma rapariguinha morena com uns grandes olhos verdes, que a fizeram lembrar Harry – Olá.

-Oi, sabes onde está a minha mãe?

-Não, mas não te preocupes, daqui a pouco ela vai estar aqui para te buscar. Como te chamas?

-Liza, e tu? – Perguntou a morena.

-Bem, eu sou a Ginny.



A ruiva aproximou-se da rapariga para verificar se ela precisava de cuidados médicos.



-Parece estar tudo bem contigo, agora se não te importas vou ver os outros meninos, ok?

-Posso ir contigo?

-Prometes ajudar-me?

-Sim.

-Então anda daí - Disse com um grande sorriso.



A morena saltou da cama e acompanhou Ginny enquanto ela verificava o estado de saúde das outras crianças.



-Ginny, arranjaram uma ala mais pequena para onde vão transferir as crianças – Informou Jenny – Elas vão ficar ao teu encargo.



-Gin, onde vamos? – Perguntou Liza, puxando a mão da ruiva.

-Vamos para um quarto novo, só com meninos e meninas da tua idade.



Jenny mostrou a nova ala onde Ginny ficaria com as crianças, não era mais que um quarto com seis camas, três de cada lado da parede. Uma enorme janela de frente para a porta e uma pequena mesa em frente desta.



Ginny ajudou as crianças a deitarem-se nas camas, e assim que todos estavam instalados ela começou a falar.



-Vamos fazer um jogo – Anunciou – Cada um diz o seu nome, a sua idade e o que mais gosta de fazer, pode ser?



-Sim – Responderam os cinco em uníssono.

-Então começa a Liza.



A rapariga pôs-se de joelhos em cima da cama, para todos a verem.



-Eu sou a Liza e tenho oito anos – Começou a morena – O que eu mais gosto de fazer é voar, sim porque quando eu for grande vou ser uma jogadora de quidditch muito famosa – Assim que terminou de falar sentou-se de novo na cama.

-Agora tu – Disse a ruiva apontando para a rapariga ao lado da Liza.

-Eu sou a Bia – Disse timidamente. Era uma rapariga de longos cabelos negros, e com os olhos igualmente negros. A sua pele era bastante clara e as maças do rosto estavam vermelhas, provavelmente devido ao frio.

-E quantos anos tens, Bia? – Perguntou Ginny simpaticamente.

-Seis.

-E o que é que gostas de fazer?

-….Hum…… gosto de fazer desenhos…..

-Então está decidido, depois de terminar-mos este jogo vamos fazer um concurso de desenhos….

-Posso ser eu agora? – Perguntou um rapazinho loirinho.

-Claro que podes.

-Eu sou o Ben e tenho estes anos – Disse erguendo a mão aberta.

-Cinco?



Ele acenou positivamente e continuou a falar.



-Eu gosto de fazer desenhos e brincar com a minha mana….

-E onde está a tua mana?

-Ali – Respondeu prontamente apontando para uma rapariga igualmente loira, sentada na cama ao lado da da Bia.

-E como é que se chama a irmã do Ben? – Perguntou á rapariga, com aspecto mal-humorado.

-Camilla.

-E que idade tens tu?

-Oito.

-E o que é que gostas de fazer, Camilla?

-Nada – Respondeu azeda.



Ginny resolveu não insistir, e voltou-se para o ultimo ocupante do quarto.



-Então e tu, como é que te chamas?

-Kyle e tenho sete anos.

-Agora que já acabamos as apresentações vamos ao concurso de desenhos.



Abriu uma das gavetas da secretária e retirou um monte de pedaços de pergaminho e um tinteiro, que transfigurou numa caixa de lápis de cor.

Conjurou cinco cadeiras e colocou-as á volta da mesa.



-Vamos lá ver que é que faz o melhor desenho – Disse assim que todos rodeavam a mesa, todos menos a Camilla.



Enquanto as crianças ficaram a fazer desenhos Ginny caminhou até á cama da Camille e sentou-se na ponta.



-O que aconteceu? Porque é que não estás com os outros?

-Não me apetece.

-Estás triste?

-Não te interessa.

-Eu só estou a tentar ajudar.

-Então traz os meus pais de volta! – Gritou, saindo a correr do quarto, com os olhos cheios de lágrimas.

-Quem me dera poder – Murmurou para si mesma.



Levantou-se para ir atrás da loira quando Jenny entrou no quarto, Carregando um embrulho nos braços.



-Foi encontrada por um Auror nos destroços. Estava ao lado dos corpos dos pais, já sem vida. Temo que não haja ninguém para cuidar dela. Acho que ficará bem entregue contigo.



Passou para os braços da ruiva a pequena adormecida que carregava consigo. Era uma linda menina, loirinha e com as faces rosadas, não devia ter mais de dois anos. Ginny aconchegou-a de encontro ao seu corpo, como num acto de protecção. Ficou ali, a segura-la fortemente, junto ao seu peito e embalando-a delicadamente.



-Jenny, procura a Camilla, ela tem oito anos, é loira e tem os olhos azuis claros. Ela saiu daqui a correr mesmo antes de entrares e não pude procura-la. Ela deve ter ido á procura dos pais.

-Tudo bem Ginny, não te preocupes, eu vou procura-la.

-Obrigado Jenny.



Sentou-se na poltrona com a pequena ainda adormecida nos seus braços, algo lhe dizia que ela não a devia soltar.



-Gin… Gin …. Já acabamos os desenhos … Vem escolher o mais bonito – Chamou Ben animado.

-Estou a ir – Ergueu-se e caminhou até á mesa onde estavam os pequenos.

-E então, qual gostas mais?

-Sinceramente Kyle, eu acho que houve um empate.

-O que é isso? – Perguntou Ben.

-Bem, como estes desenhos estão todos tão bonitos eu não sou capaz de escolher só um….

-Mas tens de escolher, se não não é um concurso.

-Então fazemos assim, cada um pendura o seu por cima da sua cama, pode ser?



As crianças acenaram alegres e a ruiva, por meio de um feitiço, colocou cada desenho sobre a cama do seu respectivo autor.



-E o que é que vamos fazer agora? – Perguntou, tornando a sentar-se na poltrona, ao lado da mesa, com a loirinha nos seus braços.

-Conta-nos uma história.

-Sim, conta-nos uma história.

-Ah…. Não sei…. Não me lembro de nenhuma…

-Conta uma de princesas… – Pediram as raparigas.

-Não conta uma de cavaleiros…. – Pediram os rapazes.

-E que tal misturar as duas, uma história com princesas, cavaleiros e dragões?

-Sim!

-Ora bem ….. Vamos lá ver …. Era uma vez….. – Começou a contar - ….e viveram felizes para sempre…. – Naquela altura todos dormiam um sono calmo.

-Parece que finalmente adormeceram – Murmurou para si mesma.



Olhou a pequena adormecida nos seus braços e no segundo seguinte os seus olhos fixavam uns azuis profundos. A loirinha pestanejou sonolentamente e continuou a encarar Ginny.



-Olá pequenina – Disse acariciando os caracóis loiros da menina – Como te chamas?



A rapariga olhou-a por uns segundos antes de responder.



-Ma…

-Mariana? – A loirinha acenou negativamente – Margarida?

-Ma….

-Maria?



Ela continuou a acenar negativamente.



-Que tal, Mafalda? Matilde? Marina? Não? Nenhum destes? Então não sei……

-Ma…. Ma….

-Mara?



A loirinha sorriu e abraçou a ruiva. Ginny ficou ali por um tempo, brincando com a loirinha e vigiando as crianças que dormiam calmamente. Alguém entrou pela porta, fazendo algum barulho.



-Camilla…. Mais calma?

-Eu…..eu queria pedir desculpas….

-Não tem mal…. Não queres descansar um pouco, pareces cansada…..



A rapariga deitou-se na cama e a ruiva ergueu-se para a aconchegar. Minutos depois Camilla dormia tranquila como os outros. A ruiva deitou Mara, que tinha tornado a adormecer na cama vazia e conjurou o pergaminho em que escrevia antes de ser chamada.



“Nem tudo corre como desejamos …. Hoje houve outro ataque, muitos bruxos foram feridos e até mortos ….. Estou encarregue de seis crianças e uma delas, órfã, tem no máximo dois anos…..



É revoltante saber que nesta guerra todos ficam a perder…..A guerra nunca trouxe e nunca trará nenhum beneficio para aqueles que a vivem ….. Só posso esperar que a sua duração seja curta … para que tudo volte ao normal…..”



. . . . .



“St. Mungus, 4 de Novembro



Faz hoje três dias que não vou á Toca ….. Sinto saudades da minha família, dos meus pais e irmãos e das discussões que sempre tínhamos …. Em tempos de guerra tudo é mais difícil….. Sei que devia aproveitar para estar com eles …. Mas a minha presença é precisa aqui, no hospital, com estas crianças….”



Estava sentada á secretária, a escrever, apenas iluminada por uma pequena vela que repousava no canto da mesa. Era ainda noite, mas o sono tinha desaparecido á muito. Todos dormiam tranquilos nas suas camas, agora reduzidas a apenas quatro.



“Ontem os pais do Ben e da Camilla passaram por aqui, tinham estado em recuperação depois do ataque, mas assim que voltaram ao estado normal procuraram pelos filhos …. Foi inexplicável aquilo que senti quando os vi a abraçar os filhos….. Foi uma coisa maravilhosa, principalmente ver a gratidão nos olhos deles…. Por terem salvo os pequenos …. Tenho pena que outros ainda continuem aqui … É difícil imaginar o que terão de passar… Principalmente a Mara, que é a mais nova e a quem não restam possibilidades para além de uma adopção…. Queria poder fazer algo mais por eles …. Mas se tudo correr bem, cada um deles voltará á sua família dentro de pouco tempo…… Se tudo correr bem ….”



Um grito ecoou no quarto o que fez com que Ginny se levantasse de rompante.



-Bia, o que foi? – Perguntou sentando-se na cama da menina que chorava intensamente.

-Eu quero a minha mama …. – Chorava cada vez mais.

-Tem calma meu amor…… - Disse abraçando a rapariga que chorava – Foi só um sonho…..



Bia foi-se acalmando pouco a pouco, até que o choro cessou, restando apenas as marcas das lágrimas na pele branca.



-Podes voltar a dormir…. E vou ficar aqui do teu lado….

-Podes segurar na minha mão? A minha mama faz sempre isso…. Quando eu tinha um sonho mau….

-Claro que posso….



Deitou-se na cama, ao lado da pequena e esperou até ela adormecer.



. . . . .



-Ginny, temos de falar.

-O que foi Jenny? – Perguntou saindo do quarto, enquanto outra enfermeira tomava conta das crianças.

-Nada de grave, na realidade. Sabes que o hospital está cheio de feridos, todos os quartos ocupados – A ruiva assentiu – Pois bem, á três dias atrás, durante o ataque foi encontrado um rapaz. Ele não estava muito ferido, estava apenas desmaiado. Esperamos que ele acordasse mas isso não aconteceu, ele continua desmaiado desde então. Ninguém foi capaz de identifica-lo, nem mesmo os aurores que o resgataram.

-Sim, mas o que é que isso tem a ver com o meu trabalho? – Perguntou confusa.

-Ele vai ser transferido para o quarto onde estão as crianças, o local onde ele tem estado estes três últimos dias é mais do que necessário paras os feridos que chegam diariamente ao hospital. Tu não vais ter de tratar dele, nem pensar, temos enfermeiras qualificadas para isso, ele vai ficar apenas a ocupar uma das camas vagas daquele quarto.

-Tudo bem Jenny. Agora que Kate está a tratar das crianças eu aproveito para ir a casa por umas horas, está bem assim?

-Sim, volta quando quiseres.

-Então até mais logo – E com isto aparatou-se na Toca.



Logo a sua mãe correu para ela, abraçando-a e revistando cada parte do seu corpo.



-Gininha, filha, estava morta de preocupação…. Podia ter acontecido alguma coisa, não sabias avisar? Quando soube daquele ataque quase entrei em desespero…. Sabes a aflição por que passei? Não claro que não sabes….

-Mãe eu estou bem ….

-… E vê-se que não te tens alimentado bem…. Ginny, filha, onde é que tu tens a cabeça…..

-Mãe está tudo bem agora…. Eu estou aqui, cansada e com fome…. Vou lá acima tomar um banho….

-E eu fico aqui a preparar-te um almoço reforçado…..

-Sem exageros mãe….



Subiu as escadas e encaminhou-se ao seu quarto, já estava com saudades daquela cama fofinha. Atirou-se para cima da cama com os braços abertos, enterrando a cara fundo nas almofadas.

Após uns minutos naquela posição ganhou coragem para se levantar e tomar um bom banho. Demorou imenso tempo debaixo do chuveiro, sentindo a água quente a escorrer-lhe pelo corpo, uma sensação de veras relaxante.



Depois do almoço super reforçado da sua mãe aparatou-se de volta ao hospital. O quarto estava com uma disposição totalmente diferente da que tinha quando ela de lá saiu. Três das camas estavam num lado da parede e a outra estava em frente a estas, ao lado da secretária. Ao lado desta a área era coberta por uma espécie de cortina.



“Deve ser lá que está o tal rapaz…..” – Pensou – “Não deve ter mal se eu vir quem é….”



-Kate, conheces o rapaz? – Perguntou á enfermeira que entretinha as crianças.

-Não, ninguém o conhece.

-Tens a certeza?

-Tenho.



Ginny caminhou até á cortina e afastou-a cuidadosamente.



“Mas como ….. Ele é inconfundível …. Apesar do cabelo comprido …. Ele continua igualzinho ….. Não, não pode ser outra pessoa …. Tem mesmo de ser ele … Não há dois iguais por aí ….Só não percebo porque é que ninguém o identifica …. Ele está igual ao de sempre …..”







- - - - - Fim do 1º Capitulo - - - - -



Ok, tenciono actualizar todos os dias uma vez que esta fic é uma das antigas… Comentem, digam o que acharam!



Bjxs

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Comentários (1)

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