Capitulo Único - Perfeita
Foi uma sorte que Gina Weasley não conseguia dormir naquela noite.
As três da manhã, ela encontrava-se enrolada nos cobertores, com os olhos cor de cedro vidrados na parede, enquanto seu cérebro atrapalhava-se com a quantidade de pensamentos que corriam na mente de Gina. Ela olhava para a cama onde sua amiga, Hermione Granger, ressonava tranquilamente, embora sem vê-la realmente. Seus olhos estavam secos e vidrados, como o de uma pessoa morta.
Aquela comparação mórbida fez Gina imediatamente piscar, hidratando os orbes castanhos; ela não queria pensar em morte por um bom tempo. Não depois de Fred ir. Não depois de quase perder Harry.
Seus pensamentos conturbados foram interrompidos por um suave e quase inaudível rangido da porta. Gina foi capaz de ver a luz pálida do corredor entrar sorrateiramente em seu pequeno quarto antes de cerrar os olhos com força. Ela sabia que deveria ser sua mãe, que criara o habito de checa-los periodicamente durante a noite, para certificar-se de que todas as suas crianças estavam dormindo.
Forçou-se a relaxar o corpo, e parecer o mais adormecida possível, para que assim sua mãe fosse embora. Não havia barulho de porta fechando-se, e Gina estava começando a perguntar-se o porquê de sua mãe estar tomando tanto tempo para checa-la, quando uma voz rouca e suave sussurrou em seu ouvido, fazendo-a abrir os olhos com tamanha força, que parecia querer estica-los:
- Está acordada?
Gina virou-se para o lado, podendo finalmente ver a imagem de quem invadia seu quarto naquela hora da madrugada, mesmo que ela já soubesse sua identidade á muito tempo. Harry Potter olhava intensamente para ela, com os grandes e belos olhos verdes cintilando por trás de seus óculos. O cabelo cor de ébano de Harry estava mais desarrumado que o normal, e ele trajava calças de pijama e uma enorme blusa cinza, os pés descalços, e a varinha na mão. A luz do corredor contornava a figura do menino, dando-lhe um ar gracioso e angelical, como se ele fosse encrustado em ouro.
A menina sentiu o ar deixar seus pulmões ao olhar para a imagem de Harry. Ele estava a centímetros dela, talvez nem isso. Eles não estiveram próximos assim desde seu último beijo no aniversário dele - um presente, uma promessa de que ela esperaria por ele; mil anos, se fosse necessário. Mas desde o fim da guerra, três dias atrás, eles não trocaram palavra. E aquilo estava consumindo Gina de dentro para fora; tudo o que ela queria era abraça-lo bem apertado, e sentir os braços firmes, porém gentis de Harry abraçando-a de volta.
Não confiando em sua capacidade de falar, Gina apenas sacudiu a cabeça, respondendo desnecessariamente à pergunta de Harry.
- Vem comigo? – perguntou ele, olhando-a com tanta intensidade que a deixou desorientada.
Olhou para Hermione, que continuava imersa em um sono profundo, e depois para sua escrivaninha, onde, enquadrada em um porta-retratos, jazia uma foto de Gina e Harry, os dois abraçados, sorrindo e acenando para a câmera. O sorriso grande e genuíno no rosto do casal fez o coração de Gina aquecer. Pareciam fazer eras desde que ela não abria aquele sorriso.
- Vou. – disse a garota firmemente, levantando-se da cama, ignorando o arrepio gelado que passou por entre as suas pernas.
Com um pouco de constrangimento, Gina percebeu que vestia um largo e velho pijama, furado e remendado em alguns cantos, certamente nem um pouco gracioso. Mas Harry não pareceu notar isso. Com gentileza, ele segurou, com mãos fortes e mornas, a mão magra de Gina, puxando-a para fora do quarto. A garota não questionou-o até que eles tivessem acabado de passar por todos os quartos, onde, por pequenas frestas nas portas, podia-se ver ruivos adormecidos.
Porém, quando prepararam-se para descer a escada, Gina teve que perguntar:
- Para onde estamos indo?
Harry encarou-a por longos minutos, seus olhos gritando o desejo de dizer palavras não ditas.
- Preciso te mostrar uma coisa – disse ele por fim.
Não houve mais indagações até que eles chegassem até a porta dos fundos, que levava ao quintal. Harry levou a mão a maçaneta, e então hesitou, virou-se para ela como se fosse dizer algo, mas então mudou de ideia, e abriu a porta, deixando a frescura da noite entrar na abafada Toca. Os dois saíram da casa silenciosamente, e Harry guiou-a até uma velha macieira, não muito longe da casa. A árvore era grande e grossa, seu tronco era suficiente para encobrir, pelo menos, três pessoas enfileiradas lado a lado. Gina perguntou-se por que Harry a trouxera ali, mas a pergunta logo seria respondida, pelo visto, pois ele a levou até base da macieira, onde os dois sentaram-se um ao lado do outro, em silencio.
- Olhe – murmurou Harry, seus impressionados olhos esmeralda encarando o céu acima deles. Curiosa, Gina fez o mesmo, e sentiu como se, por um momento, o ar abandonasse seus pulmões.
Ela nunca vira algo tão maravilhoso. O céu estava tão enfestado de estrelas que o véu negro da noite mal era visível. A luz emanada daqueles pequenos e distantes astros era tão intensa, que Gina sentia-se sob um holofote natural. A magnitude daquela imensidão de céu a fazia sentir-se pequena, como uma mísera margarida no meio de uma plantação de flores.
Boquiaberta, Gina virou-se para Harry, e viu-o ainda olhando fixamente a vista esplêndida, com um milhão de estrelas refletidas em seus olhos verdes. Mas, sentindo o olhar dela em si, o menino virou a cabeça para olha-la, dando um sorriso fraco.
- Lindo, não é?
Eles ficaram em silencio por mais alguns instantes antes que Gina pronunciasse-se, antes mesmo que pudesse reter-se:
- Eu senti sua falta.
Harry olhou para ela.
- Eu também, Gina. – disse ele, com um tom de melancolia na voz. Harry girou o corpo, de modo que os dois fitassem-se de frente. – Eu senti tanta, tanta falta de você, que eu... Gina era você que me fazia continuar indo... Eu pensei tanto em você, Gina, você não tem ideia... Me desculpe, eu sinto tanto por ter te deixado, por não ter sido honesto... E-eu fiquei apavorado na batalha quando eu não sabia se você estava viva, bem, salva ou...
Gina cortou o discurso dele com um beijo. Ela não aguentava mais – precisava de Harry quase tanto precisava de oxigênio. Ela beijou-o com amor, carinho, e, principalmente, saudades. Harry retribuiu, colocando uma mão nas mechas ruivas de Gina, e a outra em sua cintura. Ela podia sentir o calor que Harry exalava, seu cheiro doce de hortelã, açúcar e alfazema. Gina sentia os fios pretos e rebeldes atravessarem seus dedos, enquanto ela passava-os pelos cabelos do garoto. Soube quando os óculos dele escorregaram até roçar no nariz da própria Gina, enquanto seus dedos entrelaçavam-se cegamente.
Aquele beijo parecia dizer muitas coisas ao mesmo tempo: Sinto sua falta..., Perdão..., Estive preocupado..., Jamais faça isso de novo, embora o mais importante fosse: Eu nunca desisti de você. Gina nunca havia beijado alguém assim, amado alguém dessa forma. Trazia uma onda de felicidade e calor para seu corpo que nunca estiveram presentes antes. Gina queria continuar beijando Harry para sempre, e talvez o tivesse feito se não fosse a estupida necessidade de respirar.
Os dois separaram-se, seus olhos nunca deixando o do outro. Ambos os dedos estavam suados, embora nenhum deles fizesse menção de suavizar o aperto.
- Eu te amo. – disse Harry com simplicidade.
A veracidade da frase atingiu Gina de um jeito maravilhoso. Sozinha na madrugada, Gina havia imaginado aquela cena com Harry fazendo um discurso belo e elaborado, dentro de um cenário bonito, onde os dois estavam arrumados, e não de pijamas sentados na grama seca as três da manhã. Mas, depois de ouvir deliciada aquelas três palavras saírem da boca de Harry, Gina não podia imaginar um momento mais perfeito.
- Eu te amo também. – Gina conseguiu dizer, mesmo com a garganta apertada, enquanto ela tentava conter as lagrimas de alegria que pinicavam em seus olhos.
Harry sorriu tão bela e genuinamente quanto quando a foto do porta-retratos de Gina foi tirada, e ela não tinha duvida de que seu sorriso encontrava-se em estado semelhante.
Gina recostou a cabeça no peito de Harry, e ele passou um braço por cima dela. Os dois observaram o céu até adormecer, e ser acordados por oito ruivos assustados (cinco deles furiosos), para tomarem um belo sermão sobre avisar antes de sair, e ser descentes ao namorar, antes mesmo do café da manhã.
Mas não importava, pois a noite havia sido perfeita.
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