A MISSÃO DOS PRECURSORES



CAPÍTULO 22



 



A MISSÃO DOS PRECURSORES



 



 



 



 



 



 



 



Harry e Voldemort aceleraram as vassouras e finalmente chegaram à costa da França, guiando-se pelas luzes de Cherbourg. Fizeram uma curva à esquerda e, após ultrapassarem a praia, pousaram em um bosque, a nordeste de Fermanville. Sem fazer o menor ruído, Voldemort piscou a lanterna vermelha que levava. Longo, curto, curto, longo, longo.



A resposta não demorou, de acordo com o código combinado. Curto, curto, longo, longo, curto. Um grupo de Maquis aproximou-se da dupla e o líder dirigiu a palavra a eles.



 



_ “Capitão América”. _ disse ele.



_ “Bucky Barnes”. _ respondeu Harry _ “Tocha Humana deu sangue para...



_... “Jacqueline, a filha de Lord Fallsworth”. _ completou o líder do grupo dos Maquis.



A pegadinha era quase óbvia, porém eficaz. Um alemão, mesmo que conhecesse os personagens, responderia com o codinome “Spitfire” e erraria, pois Jacqueline Fallsworth somente ganhara os poderes de “Spitfire” após a transfusão. Além de que os Nazistas até poderiam conhecer o Capitão América e Bucky, pois suas revistas eram datadas da década de 40, enquanto as aventuras de Union Jack e Spitfire somente seriam publicadas a partir de 1976. Apenas quem fosse do futuro ou fosse devidamente orientado saberia exatamente o que responder.



 



_Quando eu soube que “Batman” e “Robin” assumiriam essa missão, não poderia deixar de participar com minha célula. Inclusive, insisti com a líder de nossa divisão para virmos. Bienvenue, mes amis.



 



Reconhecendo a voz, Harry e Voldemort voltaram-se para o lado de onde ela vinha.



 



_Jean-Marc! Como é bom vê-lo. _ disse Harry.



_Ici, je m'appelle "Sebastian". _ disse Jean-Marc Malfoy, tirando um maço de cigarros do bolso do casaco e acendendo um _ É o meu codinome entre os Maquis.



_Começou a fumar, Sebastian? _ perguntou Voldemort _ Você não fazia isso nos tempos de estudante.



_Beaucoup de choses sont arrivées, “Batman”. _ disse Jean-Marc, soltando a fumaça, após uma tragada. _ Bien, je crois que vous êtes precisando de uma boa lareira e um copo de vinho para se aquecerem, depois dessa úmida travessia do canal.



 



O grupo seguiu pelo bosque, até uma chácara. Entrando na casa, foram em busca do calor da lareira, enquanto os outros se juntavam à volta do rádio para ouvirem as mensagens de Charles de Gaulle, agora transmitidas pela BBC.



 



_Alors, como foram os dias da reconquista da Grã-Bretanha? Tivemos algumas notícias, mas não muitos detalhes. _ perguntou Jean-Marc _ Aliás, Harry, devo dizer que sinto muito pela perda de Elaine Rutherford. Soube que vocês pretendiam se casar, após a guerra.



_Graças ao maldito “Coringa” os nossos planos caíram por terra, Jean-Marc. Mas eu espero ainda confrontá-lo. _ disse Harry, com uma expressão sombria no olhar e tomando um gole de vinho _ Excelente. Pelo sabor, parece ser um Merlot.



_Exatamente. É cultivado por alguns amigos nossos, perto de St. Mère-Église. _ disse Jean-Marc _ Uma produção pequena, para consumo próprio e venda limitada, por encomenda. E é aí que vocês entrarão, pois seu disfarce será de distribuidores do vinho para os clientes, cobrindo a Normandia e realizando algumas entregas até mesmo em Paris.



_Muito bom mesmo. _ disse Voldemort _ E então, já tem o roteiro de nossas missões?



_Oui, “Batman”. _ disse Jean-Marc _ Será necessário reduzir o efetivo e a potência das forças Nazistas em St. Mère-Église, St. Laurent-Sur-Mer, Bayeux, Caen, St. Lô, Lisieux, Rouen e Évreux. Nem vou perguntar o porquê desses lugares, mas estou certo de que vocês sabem. Além de que eu já percebi que formam um caminho até Paris. Certamente a libertação da capital já está nos planos dos Aliados, n’est ce pas?



_Sem contar que ainda há uma parte muito perigosa da missão, que ficará a cargo de vocês dois, mes amis. _ disse Remy Danglars, codinome “Victor”, responsável pela administração de suprimentos _ “Trabalhar” nas casamatas da costa, sabotando os Sensores de Atividades Mágicas portáteis e debilitando as muralhas. Só mesmo para bruxos.



_Por sorte, sabemos onde deveremos enfraquecer as defesas Nazistas. Embora as baixas sejam inevitáveis, elas serão bastante reduzidas. _ disse Harry, depois de mais um gole de Merlot _ E isso será bem útil, depois.



 



Depois que a maioria dos membros da célula foi dormir, Harry e Voldemort permaneceram na sala, com Jean-Marc. O bruxo da família Malfoy procurou atualizar os amigos quanto ao que acontecera na França, depois da formatura.



 



_Logo depois da formatura, vim para a França e fui para Paris, onde sabia que poderia me juntar aos Maquis. _ disse o bruxo loiro _ Alguns desconfiaram, pois meus outros dois irmãos, Gryphus e Gérard, eram colaboradores dos Nazistas, seguindo a tradição dos Malfoy. Mas foi graças à líder da divisão que eles me aceitaram.



_E quem é ela? _ perguntou Voldemort.



_Vocês irão conhecê-la. Eu mesmo só fiquei sabendo há pouco tempo quem era ela _ disse Jean-Marc _ Bien, alors, já como membro ativo dos Maquis, eu comecei a desempenhar missões de reconhecimento e sabotagem. Foi em uma delas que conheci uma jovem por quem me apaixonei logo de cara e foi recíproco. Seu nome era Valentine D’Alembert e pouco tempo depois nos casamos. Mas então veio a desgraça.



_E o que houve?_ perguntou Harry.



_Valentine, cujo codinome era “Violette”, foi denunciada por um espião Nazista em nossa célula, de codinome “Corbeau”, com o nome falso de Pierre D’Anjou, mas na verdade se chamava Klaus Rommersdorf. Ela foi presa, torturada e morta pela Gestapo. _ disse Jean-Marc, com lágrimas nos olhos _ E ela estava grávida de cinco meses, Harry. Pode imaginar, mon petit garçon, ou ma petite fille, jamais chegou a nascer, o que isso não faz com a gente? Depois daquilo, entrei em um período de depressão no qual a única coisa que me aliviava era liquidar Nazistas e comme une forme de diminuir a ansiedade, comecei a fumar. Por fim, em homenagem a ela, acrescentei oficialmente seu sobrenome ao meu.



_Dá para fazer uma ideia. _ disse Harry _ Precisei me segurar muito, depois que Elaine foi morta. Mas eu sei que ela não iria querer que eu me consumisse em depressão. Vamos acabar com os “Chucrutes”, que é o que interessa.



_Teve notícias de Salvatore e Giuletta? _ perguntou Voldemort.



_Oui. Estão com os Partigiani, sendo elementos de ligação entre eles e o 5º Exército Americano, bem como com a Força Expedicionária Brasileira, a FEB, que está se mobilizando e deverá embarcar para a Itália, o mais tardar no segundo semestre deste ano, provavelmente em julho.



_Já estão em contato com a FEB, antes mesmo de virem para a Europa? Sinal de que os entendimentos com Getúlio já estavam adiantados.



_Oui, Voldemort. _ disse Jean-Marc _ O torpedeamento de embarcações civis brasileiras, há dois anos, mobilizou a opinião pública e o Brasil se engajou profundamente.



_E o fato de Harry ter impedido que os Horten de Grindelwald chegassem a bombardear o Brasil certamente deve ter chegado ao conhecimento de Getúlio, Tancredo e dos Generais. _ disse Voldemort _ Zenóbio da Costa e Mascarenhas de Morais não vão querer deixar barato.



_E o que teremos a partir de amanhã, Jean-Marc? _ perguntou Harry.



_Viajaremos para St. Mère-Église e vocês vão conhecer o vinhedo. Seus documentos já foram preparados e são à prova de quaisquer meios de detecção de falsificações, quer mágicas, quer trouxas. O pessoal da Beauxbatons caprichou. _ disse Jean-Marc, apresentando a eles seus documentos _ Eles são especialistas em fazer as coisas bem caprichadas.



 



Depois de um último copo de vinho, os amigos foram dormir. No dia seguinte, viajariam para St. Mère-Église, que seria local de importantes combates, após a invasão, pelo que Harry se lembrava das aulas de História.



 



Na manhã seguinte, munidos de seus documentos falsos, perfeitamente iguais aos originais, Harry e Voldemort embarcaram em um caminhão e algumas horas depois, chegaram a St. Mère-Église onde se apresentaram no vinhedo, que ficava uns dez quilômetros a sudeste da cidade, cujo proprietário era um senhor baixinho e grisalho, chamado Guillaume Lamounier, codinome “Adrian”, bruxo mestiço e líder de uma célula dos Maquis na região.



 



_Alors, vocês foram mandados por meu amigo, Manoel (codinome de Dumbledore na Resistência)? Sejam bem-vindos, mes amis. Sabem dirigir caminhões?



_Oui, monsieur. _ respondeu Harry, em um Francês fluente _ Tivemos aulas em caminhões militares, jipes, veículos de passeio e mesmo motocicletas. Acho que estamos aptos.



_Sem contar que François (codinome que havia sido dado a Harry) é capaz de pilotar até mesmo aviões. _ disse Voldemort, cujo codinome era “Lucien”, em uma piada com Lucius Malfoy _ Inclusive jatos experimentais Nazistas.



_Sacré Bleu, Lucien! _ exclamou Lamounier _ Alors vous etesBatmanetRobin”? Notres chances aumentaram! O caminhão está ali fora, vocês irão utilizá-lo para fazer as entregas de barris e garrafas de vinho.



_E eu aposto que o roteiro deve incluir locais estratégicos, perto de defesas Nazistas, n’est ce pas? _ perguntou Harry.



_Perfeitamente, François. Inclusive, alguns de nossos clientes são os próprios chucrutes. Lógico que eles não recebem o melhor vinho, mas para alguém acostumado com aquelas porcarias absurdamente doces de Mosela e aqueles Riesling frutados demais ou, quando muito, um Gewürztraminer daqueles bem enjoativos, seria difícil notar a diferença.



_Isso poderá ajudar no plano que estou bolando. _ disse Voldemort.



 



Foram ver o caminhão, um Renault AHN, modelo fabricado pelo regime de Vichy, mais para uso militar.



 



_Como foi que conseguiram um Renault AHN, sendo civis? Os exemplares deste modelo são usados pelos militares colaboracionistas. _ perguntou Voldemort.



_Você ficaria surpreso com o que uma boa conversa, um bom vinho et, pourquois pas, uma boa Maldição Imperius nas pessoas certas pode convencer as autoridades que o uso deste caminhão por nossa vinícola seria essencial para a região. _ disse o líder da célula Maquis, com um sorriso _ Os Nazistas nos venderam o caminhão e nós vendemos vinho para eles. Uma boa troca.



_Mesmo que o vinho seja o segundo melhor. _ comentou Voldemort, também rindo.



 



Em pouco tempo, os dois estavam habituados com o manejo do caminhão e logo começaram a fazer as entregas. Realmente, os locais eram bem próximos de pontos estratégicos para os Nazistas e, em alguns casos, em suas bases. Alguns dias depois, suas entregas os levaram a um povoado no litoral, uma comuna chamada Vierville-sur-Mer, onde uma guarnição alemã localizada entre Vierville-sur-Mer e Saint-Laurent-sur-Mer havia feito uma encomenda de doze garrafas de Merlot.



 



_Harry, este lugar... _ disse Voldemort.



_Exatamente, Voldemort. _ disse Harry _ Vierville-sur-Mer e Saint-Laurent-sur-Mer são as comunas mais próximas da Praia Omaha. Um dos lugares nos quais teremos que trabalhar para facilitar o avanço Aliado.



_Principalmente aquela muralha que eles, mesmo com o uso do Bangalore tiveram dificuldade para transpor. E isso está me dando uma ideia. _ disse Voldemort.



_De que tipo? _ perguntou Harry.



_Explosivos plásticos, antecipadamente plantados em locais estratégicos.



_RDX, C-3? _ perguntou Harry, pensando no que usariam. Principalmente no que havia de disponível na época.



_Estou pensando em C-4 ou Semtex.



_Não está uns vinte anos adiantado para isso, Voldemort?



_Falou o cara que disse que “no meio de uma batalha, quem iria examinar estilhaços de uma granada, para saber se ela é da II Guerra ou da Guerra do Vietnã”.



_OK, você venceu. _ disse Harry _ Além disso, o C-4 é mais estável em baixas temperaturas e poderíamos moldá-lo como pedras ou mesmo componentes das próprias muralhas das casamatas.



_E detoná-los a uma distância relativamente segura, utilizando espoletas eletrônicas e detonadores sem fio via rádio, já que não vai sobrar nada deles depois para ser estudado, mesmo. _ disse Voldemort.



_Essa é uma excelente ideia, Voldemort. Poderemos utilizar poliisobutileno e di(2-etilhexil)sebacato para transformar C-3 em C-4 e moldá-lo na forma que for necessário. _ disse Harry _ Como sei que você sempre foi um mestre em Poções, será fácil fazermos algo que só será desenvolvido no futuro.



_Assim eu fico sem jeito, Harry. _ disse Voldemort. Há algum tempo, mesmo quando sua Persona estava em primeiro plano, ele já não estava mais tratando Harry com a formalidade de antes.



_Você estava falando sobre um plano, envolvendo o vinho de M. Lamounier. O que você tem em mente, Voldemort? _ perguntou Harry.



_Bem, eu estava pensando em utilizar outra “coisinha” do nosso tempo, para deixar os Nazistas com um humor melhor e, talvez, mais... “estável”. Mesmo que com uns trinta ou quarenta anos de antecipação. Aliás, já adicionei certa quantidade às garrafas que estaremos entregando à guarnição das casamatas. _ comentou Voldemort, sorrindo e falando de modo casual.



_Não me diga que você sabe sintetizar e produzir a...



_Exatamente. _ confirmou Voldemort _ E não me olhe com essa cara. Embora seja uma descoberta e um produto trouxa, há muitos bruxos que tomam. De vez em quando, até mesmo Bellatrix tomava. Então, eu acabei aprendendo a sintetizá-la.



_A cada dia, uma novidade. E quanto ao fato de não ser recomendada sua associação com bebidas alcoólicas? _ perguntou Harry.



_É aí que entra o meu toque pessoal, Harry. _ disse Voldemort _ Consegui contornar esse problema, alterando um pouco a concentração e utilizando um composto de minha criação como tampão.



_Isso está ficando melhor do que eu esperava, Voldemort. E está me dando mais ideias, ideias de coisas maiores. _ disse Harry.



_De que tipo? _ perguntou Voldemort, meio que adivinhando o que o jovem iria lhe dizer _ E acho que deve bater com algumas ideias que eu também estou tendo sobre os rumos da guerra.



_Exatamente. Você se lembra de que dissemos que tentaríamos interferir o mínimo possível, não foi?



_Sim. Mas a coisa está tomando uma dimensão maior, Harry.



_Tem razão, Voldemort. _ concordou Harry _ Temos a possibilidade de ajudar esta realidade a ter um futuro melhor do que a nossa, talvez com menos conflitos. E se pudermos reduzir a dimensão da Guerra Fria, pelo menos o suficiente para não colocar o mundo à beira de um holocausto nuclear por semana?



_Anda lendo minha mente, Harry? Pois eu soube que sua Legilimência melhorou bastante. _ disse Voldemort, brincando _ E eu acredito que um importante passo para isso será reduzir...



_... Reduzir a influência soviética, por isso será importante que, diferente do que aconteceu  em nossa realidade, os americanos, de  preferência com Patton à frente, cheguem a Berlim antes dos soviéticos de Zhukov.



_Não é fácil, mas não é impossível. Inclusive, já começamos, quando pedimos para que Lolek e a Resistência Polonesa atrasassem os soviéticos o mais que pudessem. Então era nisso que você pensava quando queria evitar que a “Operação Market-Garden” se tornasse um fracasso, não é, Harry?



_Sim. E já pensou se pudéssemos ajudar a Alemanha a se reerguer, sem a maldita influência de Stalin na Ocupação? A possibilidade de crescer unida, talvez sem um muro a dividir Berlim, sem famílias separadas da noite para o dia, não seria ótimo?



_Sim, claro que seria, Harry. E os artífices dessa restauração teriam uma grande responsabilidade pela frente, razão pela qual os soviéticos não poderiam ter participação. E mesmo o papel de Charles de Gaulle deverá ser reduzido, em virtude do seu viés socialista. Mas vamos nos focar primeiramente no Dia-D e em nosso papel nele. Aliás, parece que nossa próxima entrega será para a guarnição do Bunker da Praia Omaha.



_O 1º Batalhão do 352º Regimento de Artilharia? Sob o comando do Major Werner Pluskat? Aquele que é creditado no filme como o primeiro a ter visto as embarcações da Invasão?



_Ele mesmo, embora haja controvérsias sobre se foi mesmo ele. Bem, talvez seja assim, nesta realidade. Estamos chegando, vamos entregar... vinte e quatro garrafas? O pessoal daqui gosta mesmo do vinho de M. Lamounier. _ comentou Voldemort.



 



Estacionaram perto da guarita e foram contactados pelas sentinelas, que já aguardavam pela entrega.



_Wie gut! Der Wein der letzten Lieferung war schon am Ende (Que bom! O vinho da última entrega já estava no final)!



_Vocês são novos por aqui. _ disse o Sargento Neuhaus, Comandante da Guarda, em um Francês perfeito _ Quem são vocês? Podem me mostrar seus documentos?



_Começamos a trabalhar há pouco tempo para M. Lamounier, M. le Sergent. Somos os novos entregadores. _ disse Harry, também em Francês, apresentando os documentos, enquanto Voldemort fazia o mesmo _ Je suis Armand Zidane et il est Rémy Montrachet. Podemos descarregar?



_Podem, podem. O vinho de M. Lamounier é algo de especial. Além de que ele sabe que estamos aqui cumprindo ordens. Somos do Exército e não das Waffen-SS. Mesmo que estejamos ocupando, temos que conviver bem com o povo, afinal precisamos deles. E, mesmo que eles não gostem, também precisam de nós, pelo menos um pouco.



_Ao menos foi o que o Major Pluskat disse. _ disse um Cabo _ Ele é um Oficial Superior, mas não é bitolado.



 



Harry e Voldemort descarregaram as vinte e quatro garrafas e receberam o pagamento. Quando estavam prontos para recolher as garrafas vazias da entrega anterior e irem embora, ouviram uma voz, falando em Alemão, mas de forma bem tranquila.



 



_Wie gut! Ich lobte Herrn Lamouniers Merlot so sehr und würde nicht wollen, dass der Marschall ohne Geschmack ging (Que bom! Eu elogiei tanto o Merlot do Sr. Lamounier e não gostaria que o Marechal fosse embora sem provar um pouco).



 



Quando os dois se voltaram para onde vinha a voz, deram de cara com o Major Werner Pluskat, acompanhado de outro Oficial, que vestia um sobretudo verde com lapelas negras, assim como era verde o uniforme que usava por baixo, com uma gola negra que destacava as insígnias de Generalfeldmarschall (General Marechal de Campo) douradas, sobre retângulos de veludo vermelho. Ali, à frente dos dois bruxos, encontrava-se simplesmente o Comandante do Grupo de Exércitos B da Wehrmacht, o responsável pela Muralha do Atlântico.



 



Johannes Erwin Eugen Rommel, em pessoa.



 



Pluskat abriu uma das garrafas de Merlot, servindo uma pequena quantidade em duas taças. Rommel olhou o vinho contra a luz, sentiu seu aroma com a taça parada, então sentiu as notas do vinho após agitar a taça. Por fim, provou o Merlot e, com um sorriso, serviu-se de uma quantidade um pouco maior.



 



_Werner, você não exagerou nem um pouco. _ disse Rommel _ É um excelente Merlot, o vinicultor deve se orgulhar deste produto. Vocês são os entregadores? Transmitam a ele meus cumprimentos.



_Certamente, Marechal Rommel. _ disse Voldemort.



_Ora, me conhecem?



_Vimos suas fotos e já havíamos ouvido falar do senhor e de suas campanhas militares. _ disse Harry.



_Quem são vocês? _ perguntou Pluskat.



_Funcionários novos da vinícola, Major. _ disse Harry _ Ele é Rémy Montrachet e eu sou Armand Zidane.



_ “Zidane”? Das colônias? _ perguntou Rommel.



_Argélia. Minha mãe era “Pied Noir”. _ disse Harry, compondo a história que havia criado _ Mas eu nasci na França, em Carcassonne.



_Bien, vou levar as garrafas vazias, então. _ disse Voldemort.



_Se puderem esperar um pouco mais, M. Montrachet, eu tenho algumas coisas para discutir com o Major Pluskat e terá que ser agora. Vocês poderiam retornar ao seu caminhão e logo que terminarmos avisaremos, certo? _ perguntou Rommel.



_Sem problemas, Marechal. _ respondeu Voldemort, deixando as garrafas vazias e saindo com Harry.



 



Cerca de vinte minutos depois, Harry e Voldemort recolheram as garrafas vazias, carregando-as no caminhão e indo para o ponto de entrega seguinte.



 



_Eu bem que gostaria de saber o que foi que Rommel e Pluskat passaram esse tempo conversando. _ comentou Harry.



_Não se preocupe, pois logo saberemos, Harry. _ disse Voldemort, pegando uma das garrafas que haviam recolhido _ Por que você acha que esta aqui está arrolhada?



_Ora, então você fez o mesmo que as garotas fizeram na Polônia daquela vez? Perfeito, Voldemort. Teremos acesso a tudo o que eles falaram.



_Assim que retornarmos a St.-Mère-Église, vamos desarrolhar a garrafa. Também estou curioso.



 



Depois de terem concluído suas entregas, Harry e Voldemort retornaram ao vinhedo de M. Lamounier e à noite, com o comando da célula reunido, Voldemort desarrolhou a garrafa e todos puderam saber o que Rommel e Pluskat conversaram.



 



_ “Você está fazendo um excelente trabalho, Werner”.



_ “Obrigado, Marechal, mas é generosidade sua”.



_ “Não, na verdade o Führer disse que as defesas estão muito bem administradas”.



_ “Vindo do Comandante da Muralha do Atlântico, só posso tomar como o maior dos elogios. Mas não sou o único que é elogiado por aqui. Sabe qual é a expressão que usam para descrever quando alguém desempenhou sua tarefa de modo impecável”?



_ “O que eles dizem”?



_ “Dizem que a pessoa ‘fez um Rommel’. O senhor tornou-se um parâmetro de perfeição”.



_ “Acho que andaram exagerando sobre o que eu fiz na África”.



_ “Seu apelido de ‘Raposa do Deserto’ não veio à toa, Marechal. Mas temo que mesmo isso não esteja sendo suficiente para diminuir os rumores”.



_ “Que rumores, Werner? Será que é o que eu imagino”?



_ “Ja. Andam questionando sua lealdade ao Führer”.



_ “Só por que eu não faço o tipo ‘Dudelsack’ (Puxa-Saco)? Não fico concordando com tudo o que Hitler diz, se vejo que vai dar Scheiße (melhor não traduzir), eu digo mesmo”.



_ “Mas muitos interpretam seu questionamento como deslealdade”.



_ “Não quero mal a Hitler. Mesmo que ele tenha chegado até onde está com muito apoio duvidoso e que esteja com pessoas de reputação questionável”.



_ “Fala dos bruxos”?



_ “Não no geral, Werner. Não tenho nada contra os bruxos, aliás sua atuação sempre foi muito importante. Mas há um bruxo em especial que me deixa desconfiado: Grindelwald”.



_ “Por quê? Se bem que ele também me dá arrepios, mas o Führer confia nele”.



_ “Acho que ele aproveita a inclinação do Führer pelo oculto, para conduzi-lo aos seus próprios interesses. E o General Kammler, com aquelas experiências na Polônia, também me deixa com o pé atrás”.



_ “E o senhor pensa que Grindelwald pode tentar um golpe, a fim de tomar o poder para os bruxos”?



_ “É possível. Ele é um bruxo das Trevas e a associação com as SS me preocupa, ainda mais porque ele criou uma Divisão Bruxa nas Waffen-SS, a tal de ‘Drachenwache’, a ‘Guarda do Dragão’, um bando de assassinos fanáticos”.



_ “Quem ouvir o senhor falando assim, pode até considerá-lo contra o Partido”.



_ “Werner, eu sou um militar e sou do Exército, não das Waffen-SS. Além disso, sou leal à Alemanha e nem sou filiado ao Partido Nazista”.



_ “Além disso, também poderão levantar sua proximidade com certos oficiais que são considerados meio... ‘rebeldes’ pelo Partido, tais como o General Tresckow e o Coronel von Stauffenberg, por exemplo”.



_ “Não me importo com o que pensam. O Führer sabe que meus esforços são pelo bem do país. Mas mesmo assim ele não quer mandar mais uma Divisão Panzer para reforçar as casamatas”.



_ “Estamos bem reforçados, mas o apoio de uma Divisão Panzer seria importante, caso os Aliados resolvessem atravessar o Canal”.



_ “Vou continuar insistindo, embora não tenha muita esperança de que o Führer mude de ideia”.



_ “Os últimos bombardeios dos Aliados me deixaram inseguro, Marechal. Várias estações de radar e Sensores de Atividades Mágicas foram destruídos. Estamos apenas com os portáteis, o que nos deixa bem limitados”.



_ “Espero que todos estejam atentos para evitar possíveis ações de sabotagem por parte dos Maquis. A Muralha do Atlântico é o que evita que a França e por que não a Europa Continental inteira, venham a cair nas mãos dos Aliados”.



_ “Patton e Montgomery devem estar babando para invadir. Mas seria preciso milhares de navios e aeronaves”.



_ “Os quais eu não creio que eles tenham. Pelo menos não no momento”. Bem, devo voltar a Paris. A família me espera”.



_ “Um grande abraço a todos. Conseguiram se adaptar satisfatoriamente”?



_ “Sim, afinal estamos aqui desde janeiro. Até a próxima, Werner”.



 



A conversa terminou e M. Lamounier abriu uma garrafa de Merlot. Jean-Marc acendeu um cigarro e serviu-se de um copo.



 



_Bien, parece que o Marechal Rommel não é dos mais fanáticos.



_Como ele mesmo disse, é um militar do Exército, não um daqueles tarados das Waffen-SS. _ disse Harry.



_E também podemos concluir que Hitler realmente está obcecado por tudo que se relaciona com o oculto. _ disse Voldemort _ Bem como ficou clara a insegurança de Pluskat quanto às condições da Muralha do Atlântico.



_Seria interessante darmos início às ações nas casamatas. Poderíamos começar amanhã à noite. _ disse Harry.



_Certo. _ disse Voldemort _ Outros colegas poderiam tomar o nosso lugar amanhã, para que possamos preparar uma boa quantidade de C-4.



_Creio que não será tão difícil executarmos as tarefas, pois o próprio Major Pluskat deu a dica. Os Sensores de Atividades Mágicas fixos foram seriamente avariados e estão inoperantes.



_Somente sobrando para eles a possibilidade de utilizarem os portáteis. _ disse Jean-Marc _ Vamos preparar os explosivos, então.



 



Voldemort escreveu a fórmula para converter o C-3, explosivo já existente na década de 40 no C-4, que só seria desenvolvido na de 60. Na manhã seguinte, iniciariam o processo. Depois que Jean-Marc e os outros foram dormir, Harry e Voldemort se serviram de um último copo de vinho, pois o experiente bruxo (já nem tanto) das Trevas sabia que Harry tinha algo de importante para falar.



 



_Acredito que você já tenha algo em mente, Harry.



_Sim. e creio que você concordará comigo. Veja, sabemos que o destino de Rommel está selado e que ele realmente não é um Nazista e sim um militar.



_Claro. Inclusive, Pluskat deixou pistas na conversa, ao citar os nomes do General Tresckow e do Coronel von Stauffenberg. Você está pensando então que, para reerguer a Alemanha depois da guerra sem influência soviética na ocupação, talvez seja preciso que um certo Oficial não ligado ao Partido Nazista, que não seja das Waffen-SS e que seja um firme crítico de Hitler, desempenhe um papel importante no esforço de paz pós-guerra. Portanto outra de nossas missões será...



_... Salvarmos a vida do Marechal Erwin Rommel, em 14 de outubro deste ano.



 



E o olhar de Harry Potter não deixava dúvidas de que ele já estava planejando como levar a cabo aquela missão.



 



Na manhã seguinte, Voldemort, Harry e alguns outros membros da célula trabalhavam na conversão de uma boa quantidade de C-3, obtido a partir de RDX conseguido com os Aliados e multiplicado de acordo com a Lei de Transfiguração Elementar de Gamp, em C-4. Enquanto isso, outros dois funcionários da vinícola saíram para realizar as entregas de vinho, sendo que as garrafas destinadas à guarnição das casamatas já se encontrava “batizada” com o medicamento preparado por Voldemort. Os alemães iriam encarar os fatos sob uma perspectiva mais... “leve”.



 



À noite, já haviam obtido uma quantidade de C-4 suficiente para o que queriam. Harry e Voldemort vestiram trajes Ninja pretos e muniram-se de armas Ninja, que tinham a vantagem de serem silenciosas, embora não se descuidassem de pistolas Colt com silenciadores e carregadores de reserva. Mas as armas mais eficientes mesmo eram suas varinhas, Voldemort com sua varinha de teixo e cerne de pena de cauda de Fênix e Harry com a de pilriteiro com cerne de pelo de cauda de unicórnio, que havia tomado de Draco Malfoy durante os eventos na mansão, em Wiltshire. O plano era desaparatarem da vinícola e aparatarem próximo das casamatas, embaralharem os Sensores de Atividades Mágicas portáteis e instalarem as cargas camufladas em pedras e em parte das muralhas, ocultos por Feitiços de Desilusão. A partir dali, iriam para outra praia, até completarem as cinco do desembarque. Começariam por Utah, seguindo para Omaha, Gold, Juno e Sword. As mochilas e bolsas estavam cheias com as cargas e com as espoletas que Voldemort havia conjurado.



 



_Bem, vamos indo, então. _ disse Harry.



_Como vocês sabem onde instalar as cargas? _ perguntou M. Lamounier.



_Acredite, temos fontes seguras para isso. _ disse Voldemort, ajustando a mochila às costas _ Está na hora, retornaremos após cumprirmos a missão. Au revoir.



_Au revoir et bonne chance. _ despediram-se os outros, enquanto os dois bruxos desaparatavam.



 



Aparataram na praia Utah, a certa distância das casamatas. Protegidos por Feitiços de Desilusão, os dois aproximaram-se das fortificações, localizando as patrulhas e embaralhando os Sensores. Instalaram as cargas disfarçadas de C-4 com suas respectivas espoletas nos pontos predeterminados e retraíram para um ponto de onde poderiam desaparatar com segurança.



 



_Ninguém imaginaria que o filme “O Mais Longo dos Dias” iria servir de fonte de dados para esta operação. _ disse Voldemort.



_O fato do próprio Major Pluskat ter servido de consultor para o filme ajudou bastante. _ disse Harry _ Assim sabemos os pontos certos de instalação das cargas.



 



Desaparataram para Omaha, onde repetiram as operações realizadas em Utah. Quando iam instalar as cargas no ponto da muralha que seria crucial para a conquista daquela praia, bem onde seria posicionado o Bangalore que iria rompê-la, o inconfundível estalido de submetralhadoras MP-40 sendo engatilhadas colocou os dois bruxos em guarda. Ao se voltarem, viram três soldados apontando as armas em sua direção, mesmo que estivessem invisíveis.



Quando viram os aparelhos que os soldados tinham nos olhos, logo entenderam. Mesmo que estivessem sob Feitiço de Desilusão, seus corpos ainda emitiam calor.



 



E aqueles soldados usavam Óculos de Visão Térmica, certamente fabricados em Der Riese ou em outra daquelas instalações de Sonderwaffen.



 



Teriam que ser muito rápidos, frios e precisos, para conseguirem sair daquela situação.



 



Mas Harry já havia pensado no que fazer para resolver o problema.


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