A TULIPA E O DIÁRIO
CAPÍTULO 6
A TULIPA E O DIÁRIO
_É uma linda cidade. _ comentou Harry.
_Sim. Eu já estive aqui, durante minhas viagens em busca de poder. Amsterdam é tão bonita, que eu me dei ao luxo de relaxar um pouco e conhecer não só a cidade, mas a Holanda inteira. _ disse Voldemort _ Como o país não é muito grande, foi bem rápido. Amsterdam, Haia, Leyda, Rotterdam, Haarlem, Utrecht, Delft, cada uma dessas cidades é cheia de lugares que valem a pena conhecer.
_Pena que a época não é das melhores. _ disse Harry.
_É verdade. _ concordou Voldemort _ Bem, temos de encontrar nosso contato, no Rijksmuseum. Temos ainda umas duas horas, se meu relógio está certo. Creio que uma Heineken bem gelada não fará mal.
_Ajudará a entrar no clima, consumir uma das mais tradicionais e antigas cervejas da Holanda e da Europa.
Uma garrafa de Heineken depois, os dois encontravam-se no Rijksmuseum. Enquanto admiravam o quadro “Ronda Noturna” de Rembrandt, um homem aproximou-se dos dois e fez um comentário.
_Os personagens retratados, principalmente o Capitão Frans Banning Cocq, parecem até vivos.
Ao que Harry respondeu:
_Mas o destino que espera pelo pobre frango que a garota carrega, não deve ser dos melhores.
_Sou Raff van de Vries. Vocês devem ser “Batman e Robin”. Tenho instruções para vocês. Um espetáculo de balé estará sendo realizado clandestinamente neste endereço. _ e passou um bilhete para Tom _ Após a apresentação, vocês deverão ir ao camarim da Prima Ballerina. Ela será seu contato com a Resistência. O horário será às 16:00 h. Não se atrasem.
O homem saiu e desapareceu entre a multidão que visitava o museu, principalmente a “Ronda Noturna”, que tinha um corredor próprio desde 1906. Os dois saíram do museu e dirigiram-se ao endereço que havia no bilhete, já destruído. Entraram no prédio onde ocorreria o balé clandestino, cujos fundos financiariam a Resistência. Pagaram, ocuparam seus lugares e assistiram a uma linda apresentação de “Coppélia”, de Arthur Saint-Léon. A bailarina principal pareceu meio familiar a Harry. Era uma jovem de treze para catorze anos, esbelta e bonita, com olhos castanhos aveludados, que poderiam ser definidos como “olhos de gazela”, em um rosto de traços delicados e nobres, cuja beleza nem mesmo as privações da guerra poderiam destruir.
Depois da apresentação, Harry e Tom dirigiram-se ao camarim, com a finalidade de cumprimentar a bailarina. Autorizados, bateram à porta e ouviram sua voz.
_Podem entrar.
Os dois entraram e Harry elogiou a apresentação.
_Belíssima apresentação. A senhorita flutuava como um anjo no palco.
_Não posso ser um anjo, não tenho asas. _ respondeu a garota.
_Você não precisa de asas para ser um anjo. _ disse Tom.
_ “Batman e Robin”? _ perguntou a bailarina, após a correta troca de senhas e contra-senhas.
_Sim. _ respondeu Harry, finalmente reconhecendo-a _ E é um enorme prazer conhecê-la pessoalmente, Srta. Edda van Heemstra. Ou será que eu deveria dizer... Audrey Hepburn?
_Como é que você conhece o meu verdadeiro nome? Bem, sei que vocês dois são bruxos, mas não creio que eu tenha tanta importância assim.
_Srta. van Heemstra, a senhorita sequer imagina o quanto. _ disse Tom, agora com a Persona de Lord Voldemort a se manifestar _ Basta saber que Audrey Hepburn será um ícone mundial.
_Bem, não vou questionar. _ disse a garota, sorrindo e cambaleando. O odor de acetona no seu hálito denotava que ela não se alimentava bem há algum tempo e que por aquele motivo estava meio enfraquecida _ Me desculpem. A situação aqui está meio ruim, como vocês viram.
Naquele momento, uma senhora adentrou o camarim, logo sendo reconhecida por Voldemort, que inclinou-se e beijou sua mão direita.
_Muito prazer em conhecê-la, Baronesa van Heemstra. _ disse o bruxo, respeitosamente, para a mãe de Audrey _ Insisto para que sejam nossas convidadas para o almoço.
_Sem contar que biscoitos de folhas de tulipa não são a dieta mais adequada para uma jovem em fase de crescimento. _ disse Harry.
_Aceitamos com prazer. _ disse a Baronesa _ E sei quem são vocês, os dois bruxos ingleses que nos procurariam.
Depois do almoço, foram para a casa da Baronesa, onde seguiram com a conversa.
_A Holanda não foi tão atingida, mas vocês podem acreditar que há muito perigo, com os Nazistas por aqui. _ disse Audrey _ Como vocês viram, não posso utilizar meu nome inglês, pois ficaria visada. “Vitorioso” mandou vocês? E como está “Abelha Branca”?
_Estão bem. Conhece Dumbledore?
_Sim, já conversamos com ele, algumas vezes. Vocês têm informações para a Resistência? _ perguntou Audrey.
_Sim, Srta. van Heemstra. _ disse Harry _ E importantíssimas. Os Nazistas desenvolveram armas que, se chegarem à Grã-Bretanha, poderão virar a vantagem da guerra de volta para eles.
_Devem ser muito poderosas. _ comentou a Baronesa _ Se não fossem, eles não os mandariam até aqui.
_São sim, Baronesa. _ disse Harry, desfazendo o Feitiço Fidelius e passando as informações para Audrey _ Armas atômicas, que virão da Alemanha por terra, até Alkmaar e de lá para a Inglaterra.
_Ouvindo vocês falarem, parece coisa de livros de ficção, com aquelas histórias de cientistas loucos. _ disse Audrey _ O problema é que sabemos que os cientistas loucos são muito reais. Precisaremos, então, avisar os líderes da Resistência. Eles multiplicarão as informações e as rotas desde a fronteira alemã até Alkmaar serão monitoradas.
_Se puderem impedir que essas bombas cheguem à Inglaterra, melhor. Se não for possível, atrasem os Nazistas o máximo que puderem. _ disse Voldemort.
_Outra coisa. _ disse Harry _ Alguma de vocês sabe onde fica a empresa Opekta, na Rua Prinsengracht?
_Eu sei. _ disse Audrey _ Mas por quê?
_Gostaria de dar uma passada por lá. Há algo que preciso saber.
_Eu te acompanho até lá. _ disse Audrey, enquanto Harry retirava as informações de sua têmpora direita com a varinha, convertendo-as em fios de memória e guardando-as em frascos, que seriam entregues às lideranças da Resistência.
Depois que os frascos foram entregues ao mensageiro da Resistência, eles prepararam-se para sair. Na rua, Voldemort perguntou a Harry:
_Você pretende fazer o que eu estou pensando?
_Sim. Preciso dar um jeito de falar com Miep e Jan Gies. Se algumas coisas nesta realidade estão acontecendo mais precocemente, nada impede que os Frank sejam delatados antes do que aconteceu na nossa.
_Sabe o que está pretendendo, Harry Potter? _ perguntou Voldemort.
_Sei, Voldemort. _ disse Harry _ Se conseguirmos, esta realidade poderá não conhecer o diário de Anne Frank, mas serão todos salvos e, quem sabe, poderão contribuir para que esta guerra termine logo. Nossa missão foi cumprida, podemos aproveitar algum tempo livre e, quem sabe, improvisar uma operação extra.
_Concordo. Se eu, que sou quem sou, sempre achei uma crueldade o que fizeram com Anne Frank, por que não você, garoto herói? _ disse Voldemort, meio na brincadeira.
Depois que a garota mostrou o local, despediram-se de Audrey e da Baronesa e encontraram uma pequena pensão, perto da Opekta. Na manhã seguinte, transfigurados como dois potenciais compradores de especiarias, chegaram à Opekta e pediram para falar com Jan Gies.
_Pois não, em que posso lhes ajudar?
_O senhor é Jan Gies? _ perguntou Voldemort.
_Sim, sou. E esta é minha esposa, Miep.
_Podemos conversar em um local reservado? _ perguntou Harry.
_Será melhor sairmos para dar uma volta. _ disse Miep _ Que tal um passeio para admirar os canais do rio Amstel? O gelo já derreteu, mas é muito bonito ver as embarcações.
Enquanto olhavam o movimento das embarcações, Voldemort abriu o jogo.
_Não somos compradores de especiarias, Sr. Gies. Na verdade, sabemos do Achterhuis e das famílias que estão escondidas nele.
Miep e Jan Gies sentiram o sangue gelar, mas Harry os tranquilizou.
_Calma, nós não somos da Gestapo, muito pelo contrário. Nossa intenção é tirar daqui e levar para um lugar seguro os Frank, os van Pelses e o Dr. Pfeffer. Já estamos bolando um plano, mas precisaremos de sua ajuda e de alguns membros da Resistência.
_Vocês têm certeza? _ perguntou Miep _ Poderemos ajudar, se vocês realmente tiverem meios para salvá-los.
_É importante que somente vocês saibam de tudo o que vai acontecer. Precisaremos que todos ajam naturalmente, portanto Victor Kugler, Johannes Kleimann, Bep e Hendrik Voskuijl não devem saber de nada. _ disse Harry.
_Na verdade, o próprio tamanho da estrutura Nazista será nosso aliado. Embora eles sejam muito organizados, como é característica dos alemães, a estrutura de sua organização é tão grande que um setor acaba não sabendo muito bem o que o outro faz e é com isso que contaremos, até que seja tarde para eles. _ disse Voldemort.
_Vocês têm ciência de que irão se prejudicar quando os Nazistas souberem do que aconteceu, não têm? _ perguntou Harry.
_Sabemos. Acabaremos enfrentando um interrogatório, talvez queiram manter a empresa fechada por algum tempo, mas os alemães não agüentam ficar sem nossos temperos nas salsichas. Logo tudo voltará ao normal. _ disse Jan.
_Excelente. Faremos da seguinte maneira...
Na manhã seguinte, duas viaturas militares alemãs estacionaram em frente à Opekta, um caminhão e um automóvel Mercedes Benz. Do primeiro desembarcaram uma dúzia de soldados das Schutzstaffell, armados com submetralhadoras MP-40. Do automóvel, saíram dois oficiais, trajando uniformes negros das SS e portando pistolas Walther P-38. Um deles, um Sturmbahnführer (Major), adiantou-se e perguntou à recepcionista:
_Onde está o Sr. Gies? _ perguntou ele.
_No escritório. _ disse a recepcionista.
_Bom. Assuma o comando, Herr Hauptsturmführer (Capitão) von Kossel.
_Jawohl, Herr Sturmbahnführer Niedermeyer. Vocês, guardem as portas. Ninguém entra e ninguém sai. _ disse o Hauptsturmführer para os soldados.
O Sturmbahnführer retornou à sala, acompanhado de Jan Gies.
_Sr. Gies, recebemos uma denúncia de que alguém aqui está dando abrigo a fugitivos judeus.
_Mas como isso é possível? _ perguntou Miep _ Nós sempre obedecemos e colaboramos com vocês, na medida do possível.
_Talvez até possa ser sem o seu conhecimento, mas temos de investigar. Vamos revistar os escritórios. _ disse o Hauptsturmführer _ Homens, comecem.
Os soldados começaram a procurar por alguma abertura oculta, testando a sonoridade das paredes. Certo momento, um Unterscharführer (Terceiro-Sargento) que estava inspecionando uma parede no patamar acima dos escritórios enfiou uma alavanca por detrás de uma estante de livros, deslocando-a e descobrindo uma porta.
_Komm her, Herr Hauptsturmführer! Ich habe etwas gefunden (Venha aqui, Capitão! Encontrei alguma coisa!)!
O Hauptsturmführer e o Sturmbahnführer dirigiram-se para lá e viram a porta.
_Arrombem a porta! _ ordenou o Sturmbahnführer _ Vamos ver o que há por detrás dela.
A porta foi arrombada, dando passagem para duas salas pequenas, com um banheiro contíguo que ficavam no primeiro nível, acima de um maior espaço aberto, com uma pequena sala ao lado. A partir desta sala menor, uma escada levava ao sótão. Na sala, um grupo de pessoas assustadas encarava os soldados SS.
_Levem todos para o caminhão. _ ordenou o Sturmbahnführer _ Os funcionários da empresa terão de ser interrogados. Aguardem aqui, até que chegue a equipe de interrogadores (Os funcionários tremeram nas bases ao imaginarem que seriam visitados e interrogados pela Gestapo).
Antes de embarcar no automóvel, o Hauptsturmführer apalpou os bolsos.
_Com licença, Herr Sturmbahnführer, creio que minha caneta ficou lá dentro. Vou buscá-la e já volto, não vai demorar nada.
_Tudo bem, os prisioneiros não vão sair do caminhão, mesmo.
Menos de dois minutos depois, o oficial retornava e embarcava no Mercedes.
O pequeno comboio deslocava-se lentamente pelas ruas de Amsterdam, a carroceria do caminhão totalmente fechada. Então entraram por uma rua lateral, deixando as áreas mais movimentadas para trás. Após rodarem por algum tempo, chegaram à periferia da cidade e entraram em um galpão. Os veículos foram desligados e os dois oficiais desembarcaram do automóvel.
_Saiam todos! _ ordenou o Sturmbahnführer para os que estavam no caminhão.
Os guardas desceram e mantiveram sob a mira das submetralhadoras os prisioneiros que desembarcaram do caminhão.
_Mas este não é o QG da Gestapo. _ disse Otto Frank _ O que é que vão fazer conosco? Vão nos fuzilar aqui e agora?
_Não, Herr Frank. Temos planos melhores para todos vocês. _ disse o Hauptsturmführer, dirigindo-se aos soldados SS _ Podem abaixar as armas, gente. Deu tudo certo.
Os soldados abaixaram as armas e começaram a rir, aliviados porque o plano havia sido um sucesso.
_Mas o que é que está acontecendo aqui? _ perguntou Anne _ O que é tudo isso?
_Apenas uma bem-sucedida operação de resgate, Srta. Frank. Acho que já podemos tirar os disfarces. “Revertere Ad Forma Mea”. _ disse Harry, fazendo um gesto com a varinha e desfazendo o disfarce de Hauptsturmführer das SS. Voldemort fez o mesmo, seguido pelos membros bruxos da Resistência, que desfizeram o feitiço nos trouxas, diante dos olhares espantados dos Frank, dos van Pelses e do Dr. Pfeffer.
_Estes veículos também têm de sumir. “Evanesco”. _ disse Voldemort, fazendo com que o caminhão e o automóvel conjurados desaparecessem.
_Ainda bem que temos conosco um dos bruxos mais poderosos da História. Conjurar dois veículos não levou muito tempo. _ disse Harry.
_Assim eu fico sem jeito. _ brincou Voldemort _ Agora teremos de proceder à segunda fase do nosso plano.
_E ela será de nossa responsabilidade. _ disse a Baronesa van Heemstra aproximando-se, com Audrey ao seu lado _ Tenho conhecidos no porto e o próprio Capitão dos Portos não é muito chegado aos Nazistas, embora seja um Capitão da Marinha Mercante Alemã. Ele aprecia ópera e Ballet.
_A senhora é a Baronesa van Heemstra. _ disse Margot Frank _ Eu já vi fotos da senhora em revistas.
Audrey e Anne olharam-se, imediatamente simpatizando uma com a outra. Tinham a mesma idade e ambas passavam por situações de risco, Anne Frank escondida e Audrey Hepburn agindo com a Resistência.
_Como eu dizia, poderemos colocá-los em um navio para a Suécia. Lá, vocês ficarão a cargo das organizações de ajuda a refugiados. _ continuou a Baronesa _ Embarcarão esta noite. Até lá, fiquem em minha casa.
Entraram em veículos civis, depois de terem disfarçado magicamente a aparência dos resgatados. Na casa da Baronesa, encontraram-se com Miep e Jan Gies, que esperavam por eles.
_Graças a Deus, deu tudo certo. _ disse Miep _ Estávamos preocupados, pois o plano foi bolado meio às pressas.
_Mas com a ajuda da magia, tudo se resolveu. _ disse Voldemort, sentando-se em uma poltrona _ Aliás, como foi com o Feitiço de Memória, “Robin”?
_Funcionou perfeitamente, “Batman”. _ disse Harry _ Eu o executei de forma bem rápida, de modo que ele até poderia ser detectado por um Sensor de Atividade Mágica, mas não rastreado até sua origem. Os funcionários jamais se lembrarão de que havia refugiados escondidos no anexo.
_Ótimo. Agora é só esperar que anoiteça e embarcá-los para a Suécia.
_E quanto ao meu diário? _ perguntou Anne _ Eu o deixei no anexo, junto com outras anotações.
_Eu posso trazê-lo para você. _ disse Miep.
_É vital que por enquanto o diário não seja devolvido à Srta. Frank e fique sob a sua guarda, Sra. Gies. _ disse Harry _ O livro poderá ser devolvido depois da guerra, mas depois que seu conteúdo seja publicado, como uma denúncia dos horrores Nazistas e um alerta às gerações futuras. Se fizer isso, Sra. Gies, tenho certeza de que “O Diário de Anne Frank” será um livro importantíssimo para o mundo, em um futuro próximo.
_Vocês falam como se soubessem quando esses horrores terminarão. Como isso é possível, mesmo sendo bruxos? _ perguntou Audrey.
_Seria muito difícil explicar, Srta. van Heemstra. _ disse Voldemort _ Mesmo para nós, bruxos, não é muito fácil entender.
_Por enquanto, basta dizer que somos de outro tempo e de outro lugar. Para nós o que está ocorrendo agora, com algumas diferenças, é História. _ disse Harry.
_Incrível. Eu não imaginava que existissem bruxos de verdade. _ disse Anne.
_Nós nos mantemos ocultos por causa da intolerância da maior parte das pessoas não-mágicas ou “trouxas”, como são conhecidos em nosso meio. _ disse Voldemort, recolhendo alguns bulbos e folhas de tulipa, multiplicando-os e transubstanciando-os em um lanche, que foi saboreado por todos _ Seria difícil para muitos aceitarem a convivência com alguém que é capaz disto que acabei de fazer. E os judeus sabem como ninguém o que é conviver com a intolerância e o preconceito, nestes tempos de domínio Nazista.
_Tem razão. _ disse Hermann van Pels _ Mas somos todos muito agradecidos a vocês pelo que fizeram.
As horas passaram e chegou o momento de saírem. Os Frank, os van Pelses e o Dr. Pfeffer seriam levados ao porto para embarcarem no navio sueco. Antes da saída, Harry e Voldemort fizeram questão de tirar algumas fotos, com uma câmera Polaroid e uma câmera de filme 35 mm, conjuradas pelo Lorde das Trevas. Não eram digitais, mas mesmo assim ainda eram muito mais avançadas do que as câmeras da década de 40 e Voldemort as havia preparado para tirar fotos-bruxas. Assim, as pessoas moviam-se nos instantâneos e o mesmo aconteceria nas fotos a partir dos negativos que seriam revelados.
Em uma das fotos, Tom fez questão de posar transfigurado na aparência adulta de rosto viperino de Lord Voldemort, sendo retratado juntamente com Anne Frank, Audrey Hepburn e Harry Potter. Talvez pela influência da Persona do jovem Tom Riddle, Voldemort estava sorrindo e, com sua mão direita, fazendo um sinal que depois seria imortalizado por Winston Churchill.
_Preparem-se. _ disse Voldemort _ Passei horas ontem preparando uma Chave de Portal potente o bastante para nos levar a todos até Rotterdam, mas sem alertar os sensores. Mantenham-se todos segurando esta tampa de lata de lixo. Todos prontos? Um, dois e... TRÊS!
Com um brilho, desapareceram de Amsterdam e, após alguns instantes, ressurgiram em Rotterdam, perto da entrada do porto. Os guardas alemães foram distraídos por duas garotas holandesas, membros da Resistência e não viram quando os funcionários franquearam a entrada ao grupo, que se dirigiu ao ponto no qual o navio sueco estava atracado. Os marinheiros suecos conversavam com os soldados alemães, fazendo-os olharem para o outro lado. Enquanto isso, todos eles embarcavam.
No convés do navio, do lado oposto ao cais, membros da tripulação conduziam os refugiados ao local onde ficariam escondidos, até que o navio estivesse em águas territoriais suecas. Todos despediram-se de Harry, Voldemort, da Baronesa e de Audrey.
_Muito obrigada a vocês dois. _ disse Anne Frank _ Sempre estaremos em dívida. Vocês dois, “Batman e Robin”, são como Moisés e Aarão. Eles libertaram o povo hebreu do cativeiro do Egito, levando-os a Canaã e vocês nos libertaram do perigo de sermos descobertos pelos Nazistas e estão nos conduzindo à segurança, na Suécia. Podemos dizer que estamos tendo o nosso próprio Pessach, nossa passagem para a liberdade.
_Nem pense nisso, Srta. Frank. Fizemos aquilo que tínhamos de fazer para evitar que aqui se repetisse o que aconteceu no lugar de onde viemos. Talvez um dia alguém lhe explique tudo isso e as principais razões pelas quais fizemos. _ disse Harry _ Apenas me prometa que jamais irá tolerar regimes tirânicos e ditatoriais e que será uma voz a se manifestar em favor da liberdade.
_Como judia, este sempre foi um lema para mim. Não se preocupe, pois farei o que puder para que os oprimidos tenham voz, para que o totalitarismo não prolifere e também prometo lutar para que os judeus voltem a ter uma pátria e que possamos conviver em paz com os palestinos, um dia. _ disse Anne Frank, deixando Harry admirado com a maturidade da jovem garota de apenas treze anos _ Só me deixe lhe dar algo, para que não se esqueça de mim.
Antes que Harry Potter pudesse esboçar qualquer reação, Anne Frank ficou na ponta dos pés e lhe deu um beijo ardente, inesperado para a idade da garota. Peter van Pels, ali perto, ficou de queixo caído e um olhar dardejante de ciúmes, embora soubesse que aquilo era somente uma forma de agradecimento. Divertido, Voldemort fez questão de tirar uma foto daquilo. O apito do navio soou, anunciando que estava prestes a zarpar.
_Mesmo sem esse beijo eu jamais lhe esqueceria, Srta. Frank. _ disse Harry, acariciando os cabelos de Anne Frank e beijando suas mãos.
_Vocês devem desembarcar. _ disse Otto Frank.
_Não será necessário. _ disse Voldemort _ Como agora somos menos pessoas, não precisaremos da Chave de Portal, poderemos simplesmente desaparatar e levar nossos amigos conosco. Até um dia.
_Mas o que é desap... _ A mãe de Anne, Edith Frank, não conseguiu terminar a frase. Com o característico estalido da desaparatação, Voldemort e Harry já haviam sumido, levando consigo a Baronesa, Audrey e os Gies. O navio zarpou, levando para a liberdade na Suécia um grupo de pessoas que certamente seriam delatadas, capturadas e mortas, se permanecessem na Holanda.
Na casa da Baronesa van Heemstra, os seis aparataram no meio da sala. Os trouxas estavam admirados com o uso da magia por parte de Harry e Voldemort.
_Incrível. _ disse Audrey _ Mas não entendo por que vocês não retiraram os refugiados da Opekta com magia.
_O risco seria muito grande, Srta. van Heemstra. _ disse Voldemort _ Para que pudéssemos transportar aquela quantidade de pessoas com magia, acabaríamos sendo detectados por um Sensor de Atividade Mágica que havia ali perto. Aqui estamos mais ou menos seguros quanto a isso, pois não percebi nenhuma antena ao alcance.
_O Feitiço de Memória que executei nos funcionários foi rápido e não consumiu quase nada de energia mágica, portanto não deixou um rastro que o sensor pudesse captar. E, mesmo se captasse, os funcionários da Opekta não poderiam revelar nada. _ disse Harry.
_Aquela prisão simulada, na qual nós e a Resistência nos passamos por membros das SS, deu maior credibilidade ao plano. Quem quer que passasse pela Rua Prinsengracht veria Nazistas cumprindo suas missões, nada mais. _ concluiu Voldemort, satisfeito com o sucesso do plano.
_Aquela garota, Anne Frank, alguma coisa me diz que ela será uma grande ativista pela paz mundial. _ disse Audrey _ E que um dia todo o mundo irá conhecê-la e admirá-la.
_Creio que sim, Srta. van Heemstra. _ disse Harry _ E com isso concluímos nossa missão na Holanda, com um bônus. Poderemos retornar à Grã-Bretanha.
_Façam uma boa viagem e dêem lembranças a Churchill e Dumbledore. Espero que possamos nos reencontrar depois que essa guerra terminar. _ disse a Baronesa.
_Compartilhamos de suas esperanças, Baronesa. _ disse Voldemort.
_Até um dia. _ disse Audrey, dando um beijo no rosto de Voldemort. Quanto a Harry, ela se despediu de forma semelhante à que Anne Frank utilizara. E é claro que Voldemort também fotografou aquele momento. Harry tirou do bolso a caneta Montblanc, a Chave de Portal que os levaria de volta à Grã-Bretanha, segurando-a junto com Voldemort.
A Chave de Portal foi acionada e os dois bruxos desapareceram, rumo a Hogwarts. Reapareceram na Sala Precisa, onde Minerva os aguardava.
_Vocês demoraram mais do que o previsto. _ disse ela, abraçando Tom Riddle e constatando que ambos estavam bem _ Estávamos preocupados.
_Desculpe, Minerva. _ disse Tom Riddle, agora com sua própria Persona no controle _ É que acabamos cumprindo uma missão extra. Fizemos a extração de um grupo de pessoas que estavam escondidas nos escritórios de uma empresa de Amsterdam.
_A essa hora eles estão a caminho da Suécia. _ disse Harry.
_Mas essa missão extra não estava prevista. _ disse Hiram Mason _ Vocês correram um enorme risco.
_Era algo que não podíamos deixar de fazer, Hiram. _ disse Harry _ Com isso nós pudemos evitar, nesta realidade, uma das maiores atrocidades que ocorreu na nossa.
_E a Resistência foi avisada? _ perguntou Dumbledore _ Vocês entregaram as informações, codificadas nos fios de memória?
_Sim, Prof. Dumbledore. _ disse Tom _ A Baronesa van Heemstra e sua filha lhe enviam lembranças e esperam revê-lo e a Mr. Churchill, depois da guerra. Alguma notícia da Operação Chastise?
_Ela sairá na data prevista, foi o que Churchill me garantiu. Agora descansem e preparem-se para reassumir seus lugares.
Deitados em seus beliches, Tom e Harry trocavam impressões sobre a aventura na Holanda.
_Pelas memórias de Voldemort, creio que será melhor que a Srta. Gina Weasley jamais saiba de alguns detalhes de sua estada em nossa realidade.
_É verdade, Tom. _ concordou Harry _ Bem, creio que devo ser o único homem que foi beijado por Anne Frank e Audrey Hepburn, no mesmo dia, com fotos para provar. Até mais, Tom.
Virando-se para o canto, Harry adormeceu logo em seguida. Horas depois, despertou e recolheu seu Shikigami, que já havia chegado. Encerrou o feitiço, vestiu o uniforme e foi para as aulas, encontrando-se com Tom, Hiram e os outros. No caminho para a aula de Poções, um grupo de alunos da Sonserina passou por eles. Uma das garotas olhou para Harry, com certo interesse.
_Quem é aquela? _ perguntou ele.
_O nome dela é Elaine Rutherford, Georges. _ disse Hiram, tratando Harry pelo seu nome falso _ Ela é muito bonita e é uma fera em Poções, mas tome cuidado.
_Por que, Hiram? _ perguntou Harry.
_Porque ela é meio... “devoradora”. _ disse Tom _ Se um rapaz está em sua mira, ela não descansa até consegui-lo.
_E depois que ela se cansa, descarta-o. _ disse Minerva.
_Parece que ela o elegeu como sua próxima refeição, Georges. _ disse Renata.
_Vamos ver. Temos muito mais o que fazer para nos preocupermos com uma garota insaciável, por mais bonita que seja. _ disse Harry.
Na aula de Poções, o professor Horatio Slughorn ensinava aos alunos a correta maneira de preparar a Poção Morpheus, que provocava um sono profundo por cerca de cinco horas em quem tomasse um gole que fosse.
_É algo bastante útil, inclusive quando se está sem sono. Eu mesmo já a utilizei quando tive problemas de insônia. _ disse ele _ E é bem mais segura do que a Poção do Homem Morto.
Depois da aula, Harry e Tom permaneceram com o professor, pois tinham um tempo livre. Slughorn não era do grupo de professores impostos por Grindelwald, tendo sido mantido no cargo pelo seu grande talento em Poções. O pior era ter de fingir obediência ao conselheiro de Hitler e ao pateta que havia sido colocado para fingir ser Diretor de Hogwarts, Wilbert Slinkhard.
_São uns cretinos. _ disse Slughorn _ Não se preocupem, minha sala tem Feitiços de Segurança mais do que suficientes. A queda do Reich poderia estar sendo planejada aqui dentro e quem passasse pelo corredor sequer perceberia.
_Poderiam convidar von Stauffenberg e os outros para planejar a “Operação Valquíria” aqui. _ comentou Harry _ Talvez ela tivesse maior chance de sucesso.
_Do que está falando, Georges? _ perguntou Slughorn.
_Coisas que ainda estão para vir, mas que poderão ou não ocorrer nesta realidade.
_Fiquei na mesma. Bem, quanto menos eu souber, melhor. Me dá nojo fingir obediência aos Nazistas, mas é o melhor disfarce que se pode imaginar, fico sabendo de muita coisa que repasso às pessoas certas. O que me deixa mais contente é que você parece ter desistido daquela ideia maluca das Horcruxes.
_Ao menos para isso essa maldita guerra serviu. _ disse Tom _ Dividir a alma não me interessa. Bem, está na hora de irmos para aquela aula inútil de Defesa Contra as Artes das Trevas. A professora utiliza o livro de Slinkhard.
_Aquele papel higiênico encadernado? _ perguntou Slughorn _ Aquela porcaria de livro teria mais utilidade se atirado no oponente do que se fossem tentar utilizar seu conteúdo.
Os dois riram com o comentário do Prof. Slughorn e foram para a aula seguinte.
Depois das aulas, Harry estava na Sala Comunal da Grifinória, olhando para a foto de Gina, que guardava em sua carteira. Naquele dia ele não estava escalado para a Sala Precisa, tinha seu tempo livre. Resolveu, então, ir à Biblioteca e ver se conseguia encontrar em algum livro do vasto acervo algo que ajudasse a ele e a Voldemort retornarem à sua época e realidade. A bibliotecária, Madame Barnes, conhecia muito bem os livros sob sua responsabilidade e tinha com eles o mesmo cuidado que Madame Pince teria, no futuro.
Infelizmente, não eram muitos os títulos sobre o assunto que lhe interessava, “Deslocamento Dimensional”. Além disso, nem todos eles estavam liberados, muitos estavam na Seção Reservada (“Nessas horas, sinto falta da minha Capa de Invisibilidade”, pensou Harry). Só se ele executasse um Feitiço de Desilusão, quem sabe? Tentaria, mais tarde da noite. Naquele momento, duas corujas deixaram cartas em seu colo e seguiram seu vôo para o Corujal. Harry colocou as mensagens no bolso.
Seus atos não passaram despercebidos a um par de olhos que já o espiavam há algum tempo, por trás de uma estante. Graças aos ensinamentos de Renata Wigder, Harry havia rapidamente aprendido a sentir o Ki das pessoas e sabia estar sendo observado. Inclusive, já tinha idéia de quem era o dono ou melhor, a dona daquele Ki (“Como disseram, parece que ela não vai desistir, mas eu não tenho o menor interesse em engatar um romance com quem quer que seja, tenho mais o que fazer”, pensou ele). Então saiu da Biblioteca, depois de ter assinado a ficha de empréstimo do livro.
Elaine Rutherford saiu de trás da estante, intrigada e até meio ferida em seu orgulho com o fato de Harry tê-la ignorado. Pois se era assim, talvez fosse a hora de utilizar artilharia pesada.
De volta à Torre da Grifinória, Harry subiu para o dormitório masculino do sétimo ano, deitou-se na cama e cerrou as cortinas, começando a ler as mensagens. A primeira delas tinha apenas uma palavra, que o fez lembrar-se da data, 17 de maio de 1943. A palavra era “Nigger”. Então, a “Operação Chastise” havia ocorrido na data prevista e havia sido um sucesso.
A segunda mensagem viera criptografada e Harry a decifrou. Era de Audrey e o texto era o seguinte:
“Quatro comboios, saíram da Alemanha e entraram na Holanda, cada um por uma rota diferente, todos tendo um caminhão fechado e bem guardado. Como os Nazistas não desconfiavam da aproximação de crianças, um grupo passou perto o suficiente para que o Contador Geiger reagisse, em todos eles. Anne está em Estocolmo, trabalhando como voluntária nas organizações de assistência a refugiados e pediu que novamente agradecesse a “Batman & Robin”. Continuaremos a monitorar os comboios e, se possível, evitaremos que cheguem ao seu destino. Até um dia.
Edda”
Aquilo deveria ser levado ao conhecimento do grupo da Resistência de Hogwarts, pois era muito importante. Quatro comboios, uma divisão do transporte, significava que os Nazistas tinham um “Plano B”, mas qual? E também podia significar algo mais grave.
Um vazamento. Toda a segurança podia estar comprometida.
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