EXPRESSO DE CONFISSÕES



CAPÍTULO 5



 



EXPRESSO DE CONFISSÕES



 



 



 



 



 



 



 



 



A Plataforma 9 ½ estava repleta de alunos e seus familiares, em despedidas para mais um ano letivo em Hogwarts. Alunos veteranos, etiquetando e despachando suas bagagens, alunos do primeiro ano, apreensivos e agarrados a seus pais. Harry lembrou-se de seu primeiro ano e de como travara o primeiro contato com a família Weasley, constituindo os alicerces de sua forte amizade com Rony, o primeiro e melhor amigo que tivera na vida. Lembrou-se de como ficara espantado ao ver Percy, Fred e Jorge atravessarem a barreira e de como a Sra. Weasley o ensinara. Não pôde deixar de sorrir ao lembrar-se de Gina (“Mamãe, não posso ir?” “Ainda não, Gina. Só no próximo ano.”), seu olhar firme e contrariado, seu queixo endurecido de teimosia e, em seguida, aquela voz doce, desejando boa sorte. (“Com certeza, cem por cento uma Weasley”, pensou).



Avistando Parvati Patil e sua irmã gêmea, Padma acompanhadas, respectivamente, por Seamus Finnigan e Theo Boot (“Aconteceram novidades nestas férias”, pensou ele). Aproximou-se e foi cumprimentado pelos quatro, recebendo um pedido de desculpas por parte de Seamus:



 



_Harry, sei que já pedi desculpas por isso antes, mas preciso dizer novamente. Fui um tolo em não acreditar quando dizia que Você-Sabe-Quem havia retornado. Sobre uma coisa dessas não se brinca e muito menos se mente.



_Deixa para lá, Seamus. Mesmo tendo tomado parte nos fatos, fica difícil acreditar que realmente ocorreram.



_Notou que os Death Eaters ainda não cometeram nenhum atentado de vulto? Só invadiram locais aparentemente sem importância, como museus, bibliotecas e livrarias bruxas. O único que mataram foi um vigia de museu, que os flagrou.



_Realmente _ comentou Harry _ não é o estilo de Voldemort... opa, mau jeito, gente. _ disse Harry, ao ver os amigos quase transparentes e suando frio _ Vocês vão ter de se acostumar a ouvir o nome dele sem ficar da mesma cor do Nick Quase-Sem-Cabeça.



_Cara, dá um tempo para a gente se adaptar. _ disse Boot.



_Tudo bem. Falando em desculpas, Parvati e Padma, eu queria aproveitar para me desculpar, mesmo que com quase dois anos de atraso, pela maneira com que eu e Rony agimos com vocês no Baile de Inverno. Com certeza, deveríamos ter sido mais gentis embora, se eu e você continuássemos dançando por mais tempo, é certo que você teria me mandado passear. Nunca dancei muito bem.



Parvati sorriu e disse:



_Tudo bem, Harry. Eu entendo. Mas ninguém pode negar que você ficou muito bem naquelas vestes a rigor (Harry teve a impressão de ver punhais reluzindo no olhar de Seamus). Ainda há pouco Rony esteve aqui e pediu desculpas pela mesma coisa.



_Ainda não o vi e nem a Hermione. Acho que já devem ter entrado.



_Que cabeça a minha! _ exclamou Padma. _ Espero não estar atrasada para a reunião dos monitores! Goldstein vai me torcer o pescoço se eu deixá-lo sozinho na reunião. _ e saiu correndo, seguida por Boot.



_Um pouco mais depressa e aqueles dois poderiam dispensar as vassouras _ comentou Seamus, rindo.



Notando a aproximação de Cho Chang, acompanhada por sua amiga, Marieta Edgecombe, Harry pediu licença a Seamus e foi até elas, não sem antes ouvir do amigo:



_Você ainda vai falar com aquela dedo-duro, mesmo depois do que ela nos fez?



_Na época eu também pensava assim, Seamus, mas agora acho que entendo os motivos de Marieta. E, além do mais, só aquela azaração das pústulas já foi castigo mais do que suficiente. _ e dirigiu-se às duas _ Olá, Cho. Olá, Marieta. Vocês têm um minuto?



 



Meio surpresas, as duas disseram que sim e ele começou a explicar:



 



_Sei que não fui muito cortês no último ano principalmente com você, Cho, mas eu acho que, em vista dos acontecimentos, vocês vão entender que eu tive as minhas razões. Da mesma maneira, Marieta, eu agora entendo porque você entregou a AD. Acho que você se sentiu muito pressionada, pelo fato de sua mãe trabalhar no Ministério, ainda mais na Rede do Flu, que estava sendo monitorada. Você apenas se desesperou e cedeu. E eu não deveria ter falado tão duramente com você, Cho, criticando o comportamento de Marieta. Agora mesmo eu estava dizendo ao Seamus que, mesmo tendo participado de tudo e visto, por duas vezes, a cara feia de um renascido Voldemort...ora, meninas, controlem-se. Bem, eu dizia que ainda assim é difícil de acreditar na volta daquele demônio em forma de gente.



_Mas ele está de volta. _ disse Cho _ E teremos de encarar o que vier, quando vier, como Hagrid costuma dizer. Mas eu queria saber, Harry, o que será de nós, nós dois. Não dá para negar ou esquecer o que tivemos, por menos tempo que tenha durado.



_Realmente, não dá. Essa será uma das mais ternas lembranças que levarei, Cho, mas não era para ser. E quanto ao Michael Corner? Vocês não estavam juntos?



_Estávamos, mas tivemos muitos atritos, nos desentendíamos freqüentemente. Ainda me sinto muito confusa... a lembrança de Cedric é muito forte e eu ainda gosto muito de você, Harry. Não sei mais o que pensar.



_Acho que, por isso, deveremos deixar como está, Cho. Tivemos algo de muito bom, muito importante para mim, você foi a primeira garota por quem me interessei, mas não sei se devo me envolver com você, com alguém , novamente. Além de não querer te enganar, dizendo que ainda te amo como antes, não quero comprometer sua segurança, tornando-a um alvo em potencial.



_Mas eu provei que posso me defender, você me ensinou feitiços avançados, aprendi a conjurar um Patrono. Ou será que o nosso treinamento na AD não passou de brincadeira?



_Cho, sua amizade é importante demais para que eu a estrague, voltando a me envolver com você, sem amá-la como merece. Sinto muito. Espero, sinceramente, que não me queira mal. Talvez mais cedo ou mais tarde encontremos o anjo que tem a outra asa, para que possamos voar juntos mas, infelizmente, acho que não sou o seu e nem você é o meu. Entre nós, realmente, não era para ser.



_De maneira alguma eu poderia te querer mal, Harry. Alguém tão sincero como você jamais poderia ser mau-caráter.



 



Deu um beijo no rosto de Harry e saiu, meio apressada, para que ele não visse as lágrimas que teimavam em querer rolar de seus olhos. Ainda bem, pois não viu que Harry também tinha os olhos úmidos. Mesmo ela tendo reconhecido sua sinceridade, sentia-se triste, com a certeza de que, pelo menos um pouco, ele a havia magoado.



Embarcou no trem e procurou por uma cabine vazia, pois logo Hermione e Rony retornariam da reunião dos monitores. _ “Bem, pelo menos estou conseguindo acertar as coisas, sem deixar pendências. Sabe-se lá se eu terei outra chance. Agora, por mais que a idéia não me pareça nada agradável, eu precisaria encontrar e me desculpar com aquele... _ e quase trombou com o Prof. Snape, que havia saído do banheiro, em direção ao vagão dos professores.



 



_Olhe por onde anda, Potter.



_Desculpe, Prof. Snape. Aliás foi muito bom eu tê-lo encontrado. Pensei que só o veria em Hogwarts.



_O que faço durante as minhas férias é somente da minha conta, Potter. Não me consta que eu deva lhe dar satisfações da minha vida particular.



_Por mais estranho que possa parecer, eu estava esperando uma oportunidade para falar com o senhor.



_Por que, Potter? _ e Snape pareceu demonstrar uma certa curiosidade.



_Devido a essa situação, com uma guerra contra os Death Eaters e seu líder (procurou evitar dizer o nome “Voldemort”, pois Snape ainda tremia ao ouvi-lo), estamos sujeitos a sofrermos um ataque a qualquer momento, nossas vidas estão em constante perigo e eu quero resolver toda e qualquer pendência, entende, resolver quaisquer mal-entendidos. Por isso, quero pedir desculpas por haver invadido suas lembranças na Penseira, particularmente aquela bastante dolorosa e desagradável. Por mais que não gostemos um do outro, devo-lhe respeito como professor e reconheço sua competência e talento, bem como seu conhecimento. Se alguns desconfiam do senhor, para mim basta confiar no julgamento de Dumbledore. Além disso, ninguém merece ser tratado da maneira como meu pai o tratou naquela ocasião. Sei que ele e o senhor não se davam ou melhor, se odiavam, mas nada justifica ridicularizar, humilhar ou fazer brincadeiras de mau gosto como sei que os Marotos freqüentemente lhe faziam passar. Nesse sentido, sou muito diferente do meu pai. Não acredito em atitudes inconseqüentes. Também queria pedir, retroativamente, desculpas pelo que meu pai, Sirius e os outros lhe fizeram no passado, mesmo sabendo que é quase certo que o senhor não as aceitará pois, afinal de contas, foram muitos anos de sofrimento, gerando grande mágoa e rancor. Mas sinto-me na obrigação de me abrir com o senhor sobre tudo isso.



_Já terminou, Potter? _ perguntou Snape, em seu tom frio habitual.



_Sim, senhor. Não me sentiria em paz sem dizer essas coisas.



_Pois, já que você foi sincero e abriu seu coração comigo, que nunca demonstrei a menor simpatia pela sua pessoa, farei a mesma coisa com você. Aceito todas as suas desculpas (e Harry arregalou os olhos, surpreso), sem exceção. Realmente, eu e Tiago nos odiávamos, mas eu jamais o quis morto e me senti muito triste quando o Lorde das Trevas o matou, junto com sua mãe. E se eu já o detestava, ficou ainda pior quando, no sétimo ano, ele e Lílian começaram a namorar (nova surpresa de Harry). Sim, Potter, eu era apaixonado por sua mãe. Mas, orgulhoso e cabeça-dura, com aquele preconceito idiota de “Sangue-Ruim” na mente, era tarde demais quando eu, finalmente, me encorajei a confessar meus sentimentos.



_E o que ela lhe disse?



_Ela foi doce e gentil, como sempre havia sido. Disse: “Severo, não sei o que dizer. Há alguns anos atrás eu era atraída por você, pelo seu jeito reservado e introspectivo, mas nunca tive coragem para tentar me aproximar. Com o tempo, me forcei a superar tal sentimento, até que consegui e o que restou foi um grande respeito. Depois namorei Amos Diggory, mas não deu certo porque eu não o amava realmente. Por fim acabei me apaixonando por outra pessoa, aceitei seu pedido ontem. Oh, Severo, se você tivesse deixado alguma brecha em sua armadura há alguns anos, talvez as coisas fossem diferentes.” Então perguntei a ela quem era, mas meio que já adivinhando, pois ele não escondia de ninguém o quanto a amava e ela me respondeu: “Potter... Tiago Potter.” Mesmo com o coração sangrando, ainda achei forças para gracejar: “Se ele te magoar, vai se ver comigo.” Ela me deu um beijo na testa e se retirou. Desde então, jamais me aproximei de garota alguma, tendo vivido sempre a tomar a poção Cor vetato, para bloquear quaisquer emoções, jamais me apaixonar novamente por alguém e, assim, não sofrer mais. Quando soube que você havia sido aprovado para Hogwarts, imaginei que viria um garoto com o perfil de Lílian mas, quando você surgiu no Salão Principal, parecia que Tiago havia voltado do túmulo para me assombrar. Sempre que olho para você eu vejo, além da cópia fiel do seu pai, o filho que poderia ter sido meu, se eu não tivesse sido tão idiota e tivesse me revelado mais cedo para sua mãe.



_Nunca pensou que poderia ter havido outra garota. Professor?



_A essa altura da minha vida, Potter, quem se interessaria?



_Nunca se sabe, professor. O senhor só descobrirá se estiver aberto a uma nova experiência.



_Talvez, Potter, talvez. Mas, no momento, preciso ir. Ah, lembra-se de quando eu disse a Sirius que você era igual ao seu pai?



_Lembro.



_Pois eu me enganei. Você é muito melhor do que ele era. E ele era muito bom, apesar de arrogante e inconseqüente. Acho que Lílian o colocou na linha. Até. E, lembre-se, esta conversa fica apenas entre nós.



_Até, professor. _ e pensou: “Fiquei conhecendo um lado totalmente insólito do Prof. Snape. É bom saber que ele é humano.”



 



Enquanto o expresso de Hogwarts avançava nos trilhos, rumo ao norte do país, Harry resolveu ouvir um pouco de música. Como o sol estava forte, trocou seus óculos pelos A-Wires que havia ganho de Hermione. Deixou os pensamentos vagarem, enquanto ouvia a música das Esquisitonas no seu Discman. Havia uma imagem que teimava em não sair de sua mente. Ela possuía cabelos ruivos e, com certeza, não era Rony. Lembrou-se de Gina Weasley e de como ela, de uma forma ou de outra, sempre estivera por perto, desde o início, quando Harry julgava que todo aquele sentimento pudesse ser apenas um capricho juvenil, que aquele xodó passaria, como aparentemente havia passado. Gina Weasley, sempre ao seu lado...



Então, a ficha caiu. Devido à sua amizade com os Weasley, jamais pensara em Gina de forma diferente de como uma irmã, embora jamais tivesse conseguido ficar de todo indiferente ao interesse dela. Lembrou-se de todas as situações em que ela estivera presente... desde o embarque na Plataforma 9 ½, no primeiro ano. No segundo ano, Rony dizendo que ela passara todo o verão falando nele. O desespero dela, quando ele perdera todos os ossos do braço direito, devido a um feitiço malfeito de Gilderoy Lockhart. O brilho nos olhos dela, quando ele havia derrotado Tom Riddle e seu basilisco, bem como a sensação que ele experimentara ao tê-la nos seus braços e, que na época, ele não compreendera. Quando desmaiara em seu primeiro encontro com o dementador e ela parecia ter ficado tão mal quanto ele e, agora, ele entendia que Gina sofrera tanto ao vê-lo daquele jeito, como se ela própria tivesse sido a atingida pelo monstro. A decepção na voz e no rosto dela, ao dizer que não poderia ir ao Baile de Inverno com ele, pois já iria com Neville (“Tolo, devia tê-la convidado logo de cara”). Ela na AD. Ela ao seu lado, combatendo os Death Eaters no Ministério. Ela, sempre ao seu lado... e ele sem notar. Então a frase veio à sua mente: “Muitas vezes o mais importante está ao nosso lado e, justamente por isso, não percebemos.” A ficha caiu totalmente. Sempre gostara de Gina, mas nunca tomara consciência disso. Achava que revelar seus sentimentos seria um desrespeito à família dela. Também, inconscientemente, queria preservá-la dos perigos aos quais se expunham todos os que dele se aproximavam. “Mas não estamos todos em perigo agora, com o retorno de Voldemort? O que o impediria de, por exemplo, atacar o Expresso de Hogwarts, cheio de alunos, eu entre eles?” Diabos, agira exatamente como Snape fizera no passado. Deixara passar a oportunidade e agora ela estava com outro, seu colega de turma e amigo Dean Thomas, um cara legal e exímio desenhista (“Mas eu não posso deixar de pensar que agi como um idiota. Se eu pudesse encontrá-la, para consertar as coisas e dizer: eu te amo, Gi...”)...



 



_Gina! _ Exclamou Harry, surpreso ao vê-la entrar em sua cabine, com uma cara capaz de dar pesadelos em um Death Eater, resmungando e vociferando tão rapidamente que ele tinha dificuldades para entendê-la:



_Desgraçadofalsomalditovigaristaenganadortraidor!



_Voumandarparaeleumchapéuenfeitiçadoparanãosobrarumfiodecabelonaquelacabeça!



_Cachorrosarnentopuladordecercafilhodeumbasilisco!



_(*&%$#!!!)!!GALINHA!!!



_Calma, Gina. _ disse Harry, espantado. _ Quem é o infeliz objeto de tanta fúria?



 



Naquele momento Gina tomou consciência da presença de Harry na cabine. Qualquer um que a visse, não saberia onde terminavam seus cabelos e começava seu rosto, já que ambos estavam da mesma cor.



 



_Oh, Harry! M-me d-desculpe. Não percebi que havia mais alguém na cabine. Que papelão, baita mico. Me desculpe, por favor.



_Só se você responder à minha pergunta. _ disse Harry, agora bastante curioso, enquanto o rosto de Gina ia voltando à sua cor normal.



_Aquele cretino do Dean Thomas.



_Ué, vocês não estavam namorando?



_Pelo menos eu pensava que estivéssemos, mas, depois do que eu vi ainda há pouco...



_E o que foi que você viu?



_Aquele (e Gina usou uma expressão nada digna de sair da boca de uma jovem senhorita britânica) me passou na cara o verão todo. Ao mesmo tempo em que estava comigo, correspondia-se e encontrava-se com uma garota da Beauxbatons.



_Quem?



_Martinette Montségur, uma aluna do quinto ano, amiga de Fleur Delacour. Fiquei sabendo, através do Gui, que ela viria para cá este ano em intercâmbio. Ele ainda me preveniu, dizendo que ela havia confidenciado a Fleur que estava muito interessada em um rapaz de Hogwarts, com quem estava se correspondendo. Apertando um pouquinho mais, Gui descobriu que era o Thomas. Eu, tola, ainda não queria acreditar, mas agora, depois do que vi...



_E o que foi? _ perguntou novamente Harry.



_Procurando por uma cabine, entrei em uma que julgava vazia e dei de cara com os dois se “intercambiando” em um beijo no qual parecia que os dois haviam sido embalados a vácuo. Se o uniforme da Beauxbatons não fosse azul, seria impossível saber onde terminava um e começava o outro. Mas que vontade de azarar aqueles dois.



_Caracas, eu não esperava essa do Dean Thomas. Conheço-o desde o primeiro ano e jamais o julgaria capaz dessa canalhice.



_De certa forma, você tem um pouco de culpa.



_???



_É bom que estejamos sozinhos, porque não quero que ninguém nos ouça. Minha indignação com o Thomas é mais orgulho ferido e não tanto dor de corno. Na verdade, não sinto grande coisa por ele, assim como não sentia pelo Michael Corner. Tudo era tentativa de esquecer e tentar superar o que eu sempre senti por um, como diziam Fred e Jorge, “certo anão de óculos”, que agora já não é tão anão assim.



 



Decidido a resolver aquela situação de uma vez por todas, Harry disse:



 



_Então, Gina, confesso-me inteiramente culpado de tudo mas, principalmente, culpado de ter sido o maior dos idiotas durante esses anos, sendo mais míope do que o grau dos meus óculos, cego a ponto de nunca ter percebido que a pessoa mais importante para mim sempre esteve ao meu lado e, talvez por isso mesmo, jamais tenha me dado conta disso.



_Harry...



_Por favor, Gina, me deixe dizer tudo, antes que eu perca a coragem ou a inspiração. Não sei se eu julgava que, me declarando, fosse desrespeitá-la ou prejudicar nossa amizade, talvez não tivesse, no início, levado a sério os seus sentimentos, achando que fosse passageiro. Fui um idiota, tentando negar o que eu também estava sentindo por você ou quem sabe tentando, sem querer, protegê-la das encrencas nas quais eu sempre me metia, temendo por sua segurança, não percebendo que você sempre foi perfeitamente capaz de se defender. Sabe, Gina, quando derrotamos Riddle e o basilisco...



_Quer dizer, você derrotou.



_Não, nós derrotamos, porque eu te sentia comigo o tempo todo me dando forças, ainda que você estivesse inconsciente, quase morta naquela hora. Depois, em nossa batalha contra Voldemort e os Death Eaters no Ministério, você provou que não precisava de proteção. Mesmo assim eu estava, sem perceber, reprimindo meus sentimentos porque queria vê-la longe de quaisquer perigos aos quais você poderia se expor, estando perto de mim. Gina, eu jamais me perdoaria se deixasse que algo de mau lhe acontecesse, porque...



_Porque...



_Porque eu finalmente tomei consciência do quanto te amo, Srta. Virgínia Weasley. Só lhe peço que me perdoe por ter demorado todos esses anos para perceber e lhe dizer.



_Eu perdôo você, Sr. Harry Tiago Potter, porque eu também te amo. Sempre te amei. Primeiro até eu mesma pensei que fosse uma paixão infantil mas quando, com o passar dos anos, a intensidade dos meus sentimentos por você não diminuía, tive então a certeza de que era amor, puro e verdadeiro.



 



Seus rostos estavam cada vez mais próximos e ambos podiam sentir o calor que seus corpos irradiavam. O último pensamento consciente de Harry, antes de se inebriar com o aroma de jasmim que emanava da garota, foi que jamais havia percebido que os olhos de Gina Weasley eram verdes, não como os dele, mas de uma tonalidade mais clara, próxima do jade, salpicados de um castanho dourado, o que lhes conferia um ar felino, extremamente misterioso e sedutor, naquele rosto juvenil decorado com aquelas sardas e emoldurado por aqueles brilhantes cabelos ruivo-cobre.



E então, quando suas bocas se uniram, o tempo simplesmente parou para os dois, durante os instantes que durou aquele beijo ardente e apaixonado.



 



 



 



 “Mas o amor nos deixa tããããooo leves...”



 



 



Gina adormecera abraçada a Harry, ouvindo Simply Red no Discman dele, as mãos de ambos entrelaçadas, ele se sentindo confortado e feliz pelo contato com ela, o corpo daquele anjo ruivo agradavelmente pesando contra o seu. Lembrava-se da sensação de leveza enquanto se beijavam e, quando olharam para baixo, realmente estavam levitando a cerca de meio metro do chão. Ao perceberem, baixaram suavemente e sorriram um para o outro:



 



_Emissão mágica involuntária? _ perguntou Gina.



_Isso mesmo. E bastante forte, a julgar pelo quanto levitamos.



_Mamãe me disse, certa vez, que quanto mais intenso e verdadeiro é um amor, maior é a força da emissão.



_Então acho que tivemos sorte de não sairmos voando pela janela.



 



Riram juntos, como crianças. Gina perguntou:



_Harry, e quanto a Cho? Vi que ela lhe deu um beijo no rosto, lá na plataforma, antes do embarque.



_Na verdade, aquilo foi uma forma dela premiar minha sinceridade.



_???



_Eu havia acabado de dizer a ela que namorá-la sem amor seria o meio mais certo de estragar a nossa amizade. Acho que ela entendeu.



_Mas ela ainda sente algo por você. Haviam lágrimas no rosto dela.



_É, eu sei. Mas não se pode mandar no coração, Gina, e o meu pertence a você. Eu realmente gostei dela mas faltava algo, entende? Sabe, quando um sorriso não é completo, não se estende aos olhos? Isso me incomodava, além daquela possessividade e ciúme sem fundamento que ela sentia em relação a Mione. Falando nisso, cadê os dois?



_A reunião dos monitores está meio demorada. Mas, daqui a pouco, estarão aqui.



_Que bom. Você acha que Rony vai se incomodar por estarmos namorando?



_Acho que não. Meu irmão gosta muito de você, Harry, além do que ele já tem bastante com o que se ocupar. _ disse ela sorrindo e, sem dizer mais nada, pegou os headphones do Discman de Harry e colocou um CD. Dali a pouco, abraçada a ele e embalada pela voz de Mick Hucknall cantando “You Make me Feel Brand New” adormecia, com um sorriso nos lábios.



 



Rony e Hermione chegaram uns quinze minutos depois. Hermione estava falando meio alto mas, a um “psiu” de Rony, que havia visto Gina a dormir, baixou a voz e os dois entraram na cabine. Então repararam em como dormia a caçula Weasley: abraçada a Harry e com as mãos entrelaçadas às dele. Vendo aquilo os dois, ao mesmo tempo:



 



_Vocês...?



 



Harry fez que sim com a cabeça e, baixinho para não acordá-la, disse:



 



_Sim. Eu apenas criei coragem para dizer o que eu já deveria ter dito há anos. Ainda bem que fiz isso a tempo. _ e notou uma coisa totalmente nova: Rony e Hermione estavam...de mão dadas. _ Vocês também...?



_Sim, Harry. _ disse Rony, corando violentamente como de hábito. _ Queríamos fazer surpresa para você. Apenas Gina sabia.



_Então era isso que ela queria dizer. Que garota. Me mantendo em suspense até o último instante. Para mim nunca foi surpresa o quanto você sempre gostou de Mione. Estou surpreso por você, finalmente, ter resolvido se declarar.



_Pois é, Harry, um dia tinha que acontecer. _ disse Hermione, lembrando-se dos acontecimentos da noite anterior, no Caldeirão Furado.



 



Pouco antes de todos subirem para os quartos, Rony dissera a ela, baixinho:



 



__Mione, desça novamente a esta sala, depois que todos estiverem dormindo. É muito importante.



 



Ela desceu cerca de meia hora depois. Encontrou Rony sentado à mesa e, à frente dele, uma xícara de chá.



 



_Sente-se, Mione, por favor. _ disse Rony _ O que eu tenho a dizer já deveria ter dito há muito tempo, mas eu nunca tive coragem para tanto. Talvez nem hoje eu tivesse, se o Sr. Mason não tivesse me dado uma ajuda. _ e esvaziou sua xícara. _ Essa ajuda veio na forma de três gotas de Veritaserum, as quais estavam nesta xícara que acabei de esvaziar. Opa... acho que já está começando a fazer efeito. _ e os olhos dele ficaram vidrados, fitando o vazio. Hermione perguntou:



_Por que você fez isso, Rony? Por que tomou Veritaserum?



 



Já sob o efeito da mais poderosa poção da verdade conhecida, Rony começou a falar, com uma voz calma e desprovida de emoção:



 



_Eu tenho muito a dizer, Mione, e não quero correr o risco de omitir nada, seja por esquecimento, seja por falta de coragem. O único problema é que o Veritaserum elimina a emotividade e eu ficarei falando igual a uma máquina.



_E o que você queria me dizer?



_O que sinto por você, Mione, praticamente desde que nos conhecemos, há cerca de seis anos.



_E o que é? _ perguntou ela, já desconfiando de qual seria a resposta.



_Eu te amo, Mione. Desesperadamente, completamente, intensamente, apaixonadamente, irremediavelmente, eu te amo. Sou totalmente caído por você, mas nunca tive coragem de me declarar, sempre achando que não estava à altura da aluna-modelo Hermione Granger, mas sempre procurando dar o melhor de mim para que, um dia, ela me notasse como mais do que o colega imaturo e engraçado, que ela descobrisse o que há por debaixo desta casca ruiva cheia de sardas. Fiz, em segredo, muitas coisas para melhorar em seu conceito. Li “Hogwarts, Uma História” e gostei. Me senti mal quando, no primeiro ano, eu disse coisas que a fizeram chorar no Dia das Bruxas. Juro que teria matado aquele trasgo ou morrido tentando, se ele tivesse lhe causado algum mal. Quase enlouqueci quando você foi petrificada pelo basilisco, no segundo ano. Treinei, nas horas vagas, todo tipo de feitiço, para ser tão eficiente quanto eu achava que você gostaria que eu fosse. No quarto ano, precisei me segurar para não armar uma cena quando vi você no Baile de Inverno, de braço dado com Viktor Krum. Entrei para o time de Quadribol para provar que eu era capaz de fazê-lo tão bem quanto meus irmãos ou quanto Harry. Sofri, achando que pudesse haver um affair entre vocês, tive ciúmes, até que ele me garantiu que não havia nada entre vocês, então fiquei aliviado.



_Quer dizer que você já teve ciúmes de Harry?



_Já, Mione, por um pequeno período de tempo. Senti nojo de mim mesmo por isso, depois. Harry é o melhor amigo que alguém poderia ter. Nem acredito que pude pensar mal dele, quando aquele impostor colocou o nome dele no Cálice de Fogo e o obrigou a participar do Torneio Tribruxo. Eu queria pedir desculpas, mas achava que ele estava magoado comigo por ter pensado mal dele.



_E ele pensava que você estivesse magoado com ele.



_Eu não tinha era coragem de dizer a ele o quanto estava arrependido de ter pensado aquilo. Uma noite, poucos dias antes da prova dos dragões, ele estava na Sala Comunal falando com Sirius na lareira, eu soube depois. Falei tantas coisas desagradáveis que ele não agüentou e me atirou um daqueles bottons que o Malfoy havia feito. Como eu desejei que aquilo me rachasse a cabeça e acabasse comigo, antes de pensar mal dele. Só pude meio que me desculpar depois dos dragões.



_O que você achava de Harry, antes de conhecê-lo?



_Não tinha opinião formada de início. Primeiro achei que, por ele ser o “Menino que Sobreviveu” fosse um bruxinho mimado, metido e cheio de si. Mas, quando dividimos a mesma cabine do Expresso de Hogwarts no primeiro ano e ele, mesmo sem me conhecer, abriu-se comigo como nunca alguém havia feito, principalmente quando disse que eu era o primeiro amigo que ele tivera na vida, revelando tanta humildade e grandeza de caráter, descobri que nada poderia nos separar definitivamente e, quando descobri que te amava, cheguei a uma conclusão sobre nós, os “Inseparáveis”, como nos chamam.



_E a que conclusão você chegou, Rony?



_Descobri que eu seria capaz de dar a vida por vocês, me sacrificar se fosse preciso. O que fiz no xadrez vivo de McGonnagall foi uma pequena amostra do que eu faria, se houvesse a necessidade, por qualquer de vocês. Por Harry, porque ele é como um irmão para mim. Por você, pelo fato de que eu te amo e sem você eu não ia querer viver. Não sei o que você sente por mim, Mione, mas se correspondesse ao menos um pouquinho ao amor que sinto por você eu seria o homem mais feliz do mundo, sabendo que a melhor das mulheres gosta de mim. _ e, sorrindo, pendeu a cabeça para o lado e adormeceu, como sempre acontecia ao final do efeito daquela poção.



 



Ao despertar, viu Hermione à sua frente, com os olhos pesados, vermelhos e úmidos e o lábio inferior trêmulo. Perguntou a ela:



 



_O que houve, Mione? Sei que não foi nada romântico usar Veritaserum, mas não havia outro jeito de dizer tudo, sem omitir nada. Falei algo que não devia? Deixei de dizer algo? Disse alguma coisa que a ofendeu? Por que essa cara?



_Seu tolo. _ disse ela, as lágrimas rolando pelo seu rosto. _ Não precisava recorrer ao Veritaserum. Se você não tivesse me chamado aqui esta noite, eu mesma o chamaria, porque também precisava dizer o quanto te amo, seu teimoso (e, a cada palavra, ela o abraçava e o beijava), adorável imaturo, foguinho dos meus sonhos, melhor dos amigos, homem da minha vida, Sr. Ronald Weasley. Agora, vamos para os nossos respectivos quartos, antes que eu faça uma loucura.



_Uau, Hermione Granger à beira de uma loucura. _ gracejou Rony.



_Você é impossível, sabia, Rony? _ disse Hermione, beijando-o novamente.



_É o irresistível charme Weasley. Marca de família, segundo o meu pai.



 



E subiram, abraçados, cada um para o seu quarto, para dormirem um sono reparador, com as consciências totalmente tranqüilas.



 



De volta ao presente...



 



Cerca de uma hora depois, Gina já havia despertado. Harry olhou para ela e pensou: “Jamais a percebi tão linda.” Disse a ela:



 



_Muito bonito, Gina. Me fazendo suspense até o último instante, não é?



_Não resisti, Harry. Só sinto de não estar acordada na hora, para ver a sua cara.



_Um pouco mais e eu quase sou capaz de agradecer ao Voldemort...



_???



_Deixem-me explicar: Se não fosse por aquele maldito, tenho certeza de que os acontecimentos não teria se desenvolvido desta forma. Não teria conhecido vocês nestas circunstâncias, talvez não tivéssemos nos tornado tão amigos e, bem, o resto nem preciso explicar. Pena que muitos de nós perderam entes queridos.



_Piada mais besta. _ disse Rony.



-É verdade, Rony. Não tem a menor graça, espero que principalmente para ele, que precipitou os acontecimentos e plantou as sementes para sua própria destruição.



_Como assim? _ perguntou Gina.



_Não queria contar para ninguém, mas isto está entalado desde o final do último período. Eu não lhes disse toda a profecia.



_Mas o registro dela, que estava no Ministério, não se quebrou?



_Sim, mas Sibila a fez para Dumbledore e ele me contou tudo. _ e contou todo o texto da profecia que Sibila Trelawney fizera a Dumbledore, antes que ele nascesse.



_Então, Harry, poderia ter sido o Neville?



_Sim, Mione, poderia. Mas Voldemort se precipitou e,me atacando, proporcionou condições para que eu pudesse sobreviver a todos os ataques dele.



_Mas o final da profecia...



_É, Rony. O último combate entre nós deverá ter apenas um sobrevivente e farei tudo para que seja eu. No começo, a idéia de matar alguém me repugnou, mas Voldemort já tem pouco de humano, então matá-lo não será assassinato, mas livrar o mundo de uma praga. O outro motivo pelo qual pretendo sobreviver aos nossos confrontos é porque agora eu tenho alguém para quem voltar. _ e abraçou Gina _ Todos vocês são muito importantes demais para que eu os perca, principalmente você, Gina. Somente juntos e unidos poderemos vencê-lo.



_Inseparáveis... _ disse Rony, estendendo a mão direita.



_Para sempre. _ completaram todos os outros, juntos, estendendo a mão direita e colocando sobre a dele.



_Nesse exato momento, entraram na cabine nada menos que Neville Longbottom e Luna Lovegood...abraçados. Neville disse:



_Não pudemos deixar de ouvir, Harry. Você sabe que somos parte disso, também.Pelo que Dumbledore disse, poderia ter sido eu em vez de você. Como se não bastasse, nós seis já lutamos juntos e acredito que não será a última vez. Portanto... _ e os dois estenderam a mão direita e juntaram-nas às dos quatro. _ Pode contar conosco, sempre.



 



Sensibilizados, os seis uniram-se em um abraço coletivo. Só então foi que Harry reparou no jeito dos dois.



 



_Espere aí, Neville. Vocês também...?



 



Neville e Luna riram e confirmaram:



 



_Sim, _ disse ele _ desde as últimas férias.



 



Hermione notou algo de diferente em Luna:



 



_Luna, você está diferente, os seus olhos...



_Ah, isso. Também foi nessas férias. Por coincidência, eu e Neville acabamos viajando para o mesmo lugar, no Brasil. Fui visitar uma tia, que é medi-bruxa e casada com um médico trouxa. Os dois dirigem um Spa no sul do país, em uma cidade muito bonita chamada Gramado, na região serrana do estado.



_Rio Grande do Sul? – perguntou Hermione.



_Isso mesmo. Eles chamam de “Centro de Terapias Alternativas”. Os brasileiros são muito mais tolerantes quanto a assuntos mais...ocultos. Lá eles combinam medicina trouxa e bruxa, disfarçada como Fitoterapia, Cromoterapia, Meditação, Florais, Ayurvédica, etc. Foi lá que meu tio trouxa descobriu o que eu tinha.



_E o que era? _ perguntou Harry, curioso.



_Uma doença trouxa, por isso que os medi-bruxos não a diagnosticaram, já que ela não é comum em bruxos. Uma disfunção de tireóide. Depois que descobriram, foi fácil criar uma poção para curá-la.



_E como descobriram?



_Meu tio olhou para mim e perguntou se eu tinha dificuldade para engolir e se eu alternava períodos de agitação e apatia. Eu disse que sim e ele me levou a uma sala onde havia uma máquina trouxa estranha que ele explicou ser para um exame, uma tal de Supra-monografia.



_Ultra-sonografia. _ explicou Hermione. É um exame que mostra imagens do interior das pessoas, em tempo real. É muito usada para acompanhar a evolução de uma gravidez. Vimos em Estudo dos Trouxas.



_Isso. Ele me mostrou a imagem da glândula e onde ela estava alterada. O exame não dói nada, mas faz uma melecada de gel.



 



                                        



 "Que bom. Sinto-me bem melhor agora"



 



Todos riram e Neville completou a explicação:



 



_E eu estava viajando com a minha avó, a convite de uma atriz brasileira trouxa, amiga dela, Fernanda Montenegro.



_Uau, Neville! _ exclamou Hermione _ Ela é uma das maiores atrizes em atividade. Teatro, cinema, televisão, ela está em todas e é reconhecida internacionalmente.



_Pois é, Mione, nessa época é inverno lá no Brasil e, naquela cidade, faz um frio considerável. Ela nos convidou para o Festival de Cinema que ocorre lá, anualmente. Ficamos em um hotel no centro da cidade e, uma tarde, fomos a um restaurante chamado “Casa da Velha Bruxa” para tomar um chocolate, que é excelente. Para meu espanto e alegria, dei de cara com Luna em uma das mesas. Começamos a conversar e descobrimos tantas coisas em comum entre nós... eu já tinha uma queda por ela, desde o quarto ano, mas vocês conhecem a velha timidez do Neville aqui. Incrivelmente, descobri que ela desaparece quando estou em companhia de Luna. Mas, pelo que vejo, não fui o único a criar coragem para dizer à pessoa amada o que sente, não é?



Entre risos, todos concordaram e Neville comentou:



_Algum de vocês notou alguma coisa estranha? Há cerca de umas duas horas atrás minha Mimbulus mimbletonia floriu de repente, totalmente fora de época.



 



Harry e Gina olharam um para o outro e ficaram em silêncio, não se sabendo qual dos dois estava mais vermelho, enquanto os outros olhavam, sem entender nada.



Mas, como nem tudo nesta vida é diversão, um pouco depois da bruxa do carrinho de comida passar, eis que vinham se aproximando da cabine...



 



_Vejam quem vem lá. _ disse Neville.



_É o suficiente para estragar a digestão de qualquer um. _ comentou Rony.



_Espero que passem direto. _ disse Gina, com uma expressão de desagrado no rosto.



_Podem perder as esperanças. _ comentou Hermione _ Eles já nos viram e vêm direto para cá.



 



O trio da Sonserina estava chegando, ainda em trajes trouxas, Malfoy só nas grifes, como sempre: camisa Tommy Hilfiger, calça jeans Diesel, sapatênis Schio e óculos Harley-Davidson. Uma capa de revista.



 



_Vejam só. _ disse Malfoy _ Os “Insuportáveis Inseparáveis”, com bônus. Já viram três casais mais esquisitos? Potter e Weasley; Weasley e Granger; Longbottom e Lovegood.



 



Harry olhou para os sonserinos, medindo-os de cima a baixo e disse, calmamente:



 



_Olhem quem veio nos visitar: Moe, Larry e Curly.



 



Hermione e Luna riram, com conhecimento de causa. Rony, Gina e Neville os acompanharam. Malfoy replicou:



 



_A quem está chamando de pateta, Testa Aberta?



 



_Testa Aberta mas, pelo menos, estou aqui em companhia de amigos de verdade e abraçado a alguém de quem eu realmente gosto, em vez de estar ladeado por dois trasgos. Francamente, Malfoy, só mesmo a Pansy Parkinson para topar ficar com você, tendo essas gárgulas por perto. _ ninguém percebia mas Harry fazia, disfarçadamente, pequenos gestos com as mãos. _ Mas poderia ser pior. Só faltava vocês estarem com as calças arriadas.



 



Naquele instante, Crabbe comentou:



 



_Ei, Draco, está ventando nos Países Baixos ou é impressão minha?



 



Os três olharam para baixo e viram que estavam com as calças arriadas até a altura dos tornozelos. Pelo menos as cuecas estavam limpas. As de Malfoy eram azul-claras, com o pato da Brooksfield. Crabbe usava um bem comportado modelo boxer em preto. Já Gregory Goyle...



Goyle vestia uma cueca lilás, bastante cavada, parecida com um modelo asa-delta, com bordas brancas e uma estampa na frente, representando uma varinha, com o texto: “Playing with The Wand”. Os Inseparáveis olharam para aquilo e não resistiram. Explodiram em uma gargalhada retumbante. E não foram os únicos.



Atraídos pelo som dos risos, vários colegas saíram de suas cabines e deram de cara com aquela cena no corredor do trem.



 



_Mas o que é isso?



Que é que está pegando?



_Que exibidos!



_Esse é o Malfoy. Mauricinho até as cuecas, como disse a Rita Skeeter naquele artigo.



_E que pernas! _ dizia uma garota da Lufa-Lufa.



_Devem ser as mais bonitas de Hogwarts. Venceriam qualquer concurso.



_Não sei não, gente. Dizem que o Harry passou o verão todo malhando. Deve estar parelho com o Malfoy.



_Deve estar um gato!



_Yummy!!!



_Isso ninguém sabe, nem mesmo a Cho, que o namorou no ano passado.



_Muito menos _ ouviu-se a voz de Cho _ aquela enferrujada Weasley, que arrasta a asa para ele desde que era caloura (Harry e Gina olharam um para o outro e Harry comentou: “Imaginem quando ela souber que a “enferrujada”, como ela diz, é que é a dona do meu coração”).



_Mas falando em cuecas...



_Pois é, a do Goyle é uma gracinha.



_Acho que já vi algo igual.



_Sim, na Trapobelo Moda Mágica.



_Com certeza, na seção EFS.



_EFS?



_Elfos, Fadas e Semelhantes.



_Ai, mas que meeeeeeiiiiiiiiiigoooooo!!!



_Cuti, cuti, cuti.



_Gracinhas.



_Mimosos.



 



Os três arrumaram as calças, vermelhos até a raiz dos cabelos e saíram, em meio aos apupos dos outros alunos. Embora tivesse pago outro mico histórico,até mesmo Draco também achara graça nas cuecas “élficas” de Goyle.



Depois daquelas cenas memoráveis, os seis ocuparam-se de coisas mais agradáveis. Harry abriu a embalagem de um sapo de chocolate e disse:



 



_Nicolau Flamel. Completei minha coleção de cards. Lembram-se de Nicolau Flamel?



_Como poderíamos esquecer? Foi a nossa primeira grande aventura, a Pedra Filosofal. _ disse Rony.



 



Hermione comentou:



 



_Harry, você não devia dar bandeira, usando telecinese dessa forma. Se bem que eles mereceram. Vocês notaram que há algo de diferente no Malfoy?



_Para mim, continua desagradável como sempre. _ disse Luna.



_Eu notei. _ Harry falou _ Notei desde o Beco Diagonal. Ele está usando mais grifes trouxas que de costume, quando comentei sobre os Três Patetas ele disparou a resposta no ato e, principalmente, ele parece não estar carregando tanto nas brincadeiras de mau gosto, como se ele mesmo não achasse mais tanta graça nelas. E lá no Beco Diagonal ele chegou a pedir desculpas por uma gafe que cometeu.



_Draco Malfoy pedindo desculpas? _ espantou-se Gina.



_Não choveram canivetes abertos nem caiu neve cor-de-rosa na hora? _ perguntou Luna.



_Alguém tinha uma máquina para registrar esse momento histórico? _ lembrou-se Neville.



_Não _ riu Harry _ Mas ouvi há pouco uma coisa da qual não gostei.



 



Hermione acertou na mosca:



 



_O comentário de Cho?



_Exatamente. Eu não esperava uma grosseria dessas da parte dela.



_Parece que o nosso dragãozinho chinês não é tão bonzinho e está começando a soprar seu fogo. _ disse Gina _ Eu percebi que ela está com o coração e o orgulho feridos e não me parece ser alguém que gosta de perder.



_Mas, se ela está pensando em uma disputa _ sentenciou Harry _ já perdeu antes mesmo de começar. Além de eu não ser um prêmio, sou homem de uma mulher só e vocês sabem muito bem a quem me refiro. _ concluiu, dando um selinho em Gina.



_Só que eu acho _ Rony se manifestou _ que daquela garota poderemos esperar mais artilharia. E da bem pesada.



 



Harry suspirou e disse:



 



_Era tudo o que eu estava precisando. Como se já não bastasse a guerra contra Voldemort... ora, controlem-se, eu já disse... e os Death Eaters, ainda ter de me proteger do bombardeio de uma garota rica e mimada, que não sabe quando parar com seus caprichos.Bem, acho que está na hora de nos trocarmos. Logo estaremos chegando a Hogsmeade. Vamos tentar pegar o mesmo coche.


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