Luna Lovegood



– Luna Lovegood.



 



– Luna Lovegood? – Lily perguntou franzindo a testa – O nome do capítulo é o nome de uma pessoa que nós não conhecemos?



– Já ouvi falar de uma família Lovegood… – Sirius disse, pensativo – Mas há anos que ninguém fala sobre eles…



– O que quer dizer? – Alice perguntou, curiosa.



– Não era uma família muito importante, mas tinham sangue-puro. – Sirius admitiu – As últimas gerações não tiveram muitos herdeiros, e depois não ouvimos mais falar sobre eles…



– Pelo visto a família não desapareceu completamente. – Frank deu de ombros – Um descendente dessa família obviamente sobreviveu.



– Quem quer que seja se manteve longe dos olhos da sociedade puro-sangue por um bom tempo… – Sirius disse, interessado.



– Famílias costumam simplesmente desaparecer assim? – Lily perguntou com curiosidade.



– Só quando nascem abortos ou algum tipo de vergonha recai sobre o nome. – Sirius disse com um aceno de mão displicente – Deve ter sido alguma dessas coisas…



– Ou sobraram poucas pessoas e elas são reclusas. – Tiago disse encolhendo os ombros.



 



Harry teve uma noite inquieta. Seus pais entravam e saíam dos seus sonhos, sempre calados; a Sra. Weasley soluçava sobre o cadáver de Monstro, observada por Rony e Hermione, que estavam usando coroas, e mais uma vez Harry se viu descendo por um corredor que terminava em uma porta fechada.



 



– O sonho inteiro até faz sentido se levar em conta tudo o que aconteceu no dia anterior… – Sirius disse coçando a cabeça, confuso – Mas a parte do corredor que termina em uma porta fechada é muito estranha…



– Você não costuma ter sonhos recorrentes. – Tiago disse, concordando com Sirius lentamente – A não ser o sonho da luz verde… E nós sabemos de onde aquele veio…



– Não deve ser nada demais. – Alice disse com um aceno de mão displicente – Ele deve estar se sentindo encurralado… Pelo menos é isso que o “Intérprete dos sonhos” diria…



– O livro de adivinhação? – Frank perguntou levantando uma sobrancelha, descrente.



– É. – Alice respondeu sem se abalar – Vocês podem até não confiar em adivinhação em vários sentidos, mas interpretação de sonhos é uma coisa muito real…



    Frank, resolvendo ignorar Alice, revirou os olhos e voltou a ler.



 



Acordou bruscamente com a cicatriz formigando e encontrou Rony já vestido e falando com ele.



—... é melhor se apressar, mamãe está furiosa, diz que vamos perder o trem...



Havia grande confusão e barulho na casa. Pelo que ouviu enquanto se vestia rapidamente, Harry conseguiu entender que Fred e Jorge tinham enfeitiçado seus malões para voar escada abaixo, a fim de economizar o trabalho de carregá-los, e, em consequência, eles haviam colidido diretamente com Gina e feito a irmã rolar dois lances de escada até o corredor; a Sra. Black e a Sra. Weasley estavam ambas berrando a plenos pulmões.



 



– Não foi tão ruim quanto parece. – Gina explicou quando o olhar de todos os presentes se voltou para ela – Fred foi bem rápido e conseguiu amortecer a minha queda, eu fiquei com alguns hematomas, mas não me machuquei de verdade.



– Mas isso foi uma atitude muito perigosa dos seus irmãos. – Lily disse trocando um olhar com Gina, preocupada – Você poderia ter se machucado de verdade…



– Eu sei. – Gina disse encolhendo os ombros – Mas eles também sabem disso… Pediram desculpas e ficaram de olho em mim até eu garantir a eles que todos os hematomas haviam sumido… Às vezes eles parecem muito irresponsáveis, mas são muito bons irmãos…



– Como na Copa mundial no ano anterior. – Tiago disse, relembrando – Você disse que foi a única vez que viu eles discordando, e isso foi porque eles estavam preocupados com Rony, Harry e Hermione e ao mesmo tempo não queriam colocar você em risco…



– Isso. – Gina disse balançando a cabeça em concordância.



– E eles ficaram péssimos quando Riddle te sequestrou e te levou para a câmara secreta. – Sirius disse cuidadoso.



– Nós sempre fomos muito próximos. – Gina afirmou – Eles sempre me protegiam do jeito que podiam… – completou com um suspiro ligeiramente triste, que a maioria dos presentes não entendeu.



 



—... PODERIAM TÊ-LA MACHUCADO SERIAMENTE, SEUS IDIOTAS...



— MESTIÇOS IMUNDOS, EMPORCALHANDO A CASA DOS MEUS PAIS...



Hermione entrou correndo no quarto com o rosto afogueado, na hora em que Harry estava calçando os tênis. Edwiges se equilibrava no ombro da garota, que carregava Bichento a se debater em seus braços.



— Mamãe e papai acabaram de mandar Edwiges de volta — a coruja saiu esvoaçando docemente e foi se empoleirar no teto de sua gaiola. — Você já está pronto?



— Quase. A Gina está bem? — perguntou Harry, pondo os óculos no rosto.



— A Sra. Weasley já cuidou dela — disse Hermione. — Mas agora Olho-Tonto está protestando que não podemos sair até Estúrgio chegar, ou ficará faltando uma pessoa na guarda.



 



– Guarda? – Lily perguntou, desconfortável – Vocês vão precisar de uma guarda para ir para a estação?



– Eu diria que Harry vai. – Remo disse trocando um olhar com Harry – Considerando tudo o que aconteceu, não acho que seja seguro para Harry andar por aí sozinho mesmo…



– Infelizmente temos que reconhecer que ele precisa de verdade da proteção extra. – Tiago disse, balançando a cabeça descontente.



 



— Guarda? — perguntou Harry. — Temos de ir a King’s Cross com uma guarda?



— Você tem de ir a King’s Cross com uma guarda — corrigiu-o Hermione.



— Por quê? — perguntou Harry, irritado. — Pensei que Voldemort estivesse agindo nas sombras ou será que você está me dizendo que ele vai pular de dentro de um latão de lixo e tentar me matar?



— Eu não sei, foi o que Olho-Tonto disse — respondeu Hermione desatenta, olhando para o relógio — mas se não sairmos logo decididamente vamos perder o trem...



 



– Se Voldemort conseguisse te sequestrar de alguma forma, – Tiago disse, evitando obviamente o que Voldemort faria depois de sequestrar Harry – ele não se revelaria necessariamente… Ainda mais com tudo o que estão dizendo de você nos jornais…



– E é claro que se Voldemort conseguisse… Fazer isso… A Ordem perderia muito de sua força. – Sirius disse hesitante – A questão não é apenas a sua segurança, Harry… Acho que você é o que da esperança para a maioria das pessoas que enxerga a verdade. Tenho a impressão de que se algo acontecesse com você, Voldemort conseguiria dominar o mundo.



– Porque diz isso? – Alice perguntou, obviamente confusa – Não quero ser desagradável, mas Harry é apenas um garoto… Porque se algo acontecesse com ele Voldemort ganharia? Mesmo que algo acontecesse com Harry, ainda teriam sobrado várias pessoas para lutar…



– As pessoas veem Harry como o símbolo de que é possível sobreviver à Voldemort. – Remo afirmou encarando Harry com atenção – Que eles saibam, Harry já sobreviveu pelo menos duas vezes, nós sabemos que na verdade foram quatro, até agora…



– Além disso, – Tiago disse, balançando a cabeça em desagrado – nós sabemos que por algum motivo, o objetivo de Voldemort sempre foi ir atrás de Harry… Então Harry deve ter alguma coisa que ameaçou Voldemort de algum jeito…



– Tudo isso é ruim demais. – Lily suspirou profundamente – E confuso demais…



– Vocês vão entender tudo… – Hermione disse hesitante – Em pouco tempo vocês vão entender tudo isso…



 



— SERÁ QUE VOCÊS PODEM DESCER AQUI, AGORA, POR FAVOR! — berrou a Sra. Weasley, e Hermione deu um salto como se tivesse se escaldado, e saiu correndo do quarto.



Harry agarrou Edwiges, enfiou-a sem cerimônia na gaiola e saiu atrás da amiga, arrastando seu malão.



O retrato da Sra. Black uivava de fúria, mas ninguém se preocupava em fechar as cortinas sobre seu retrato para fazê-la calar; todo aquele estardalhaço no corredor com certeza iria tornar a despertá-la.



— Harry, você vem comigo e com Tonks — gritou a Sra. Weasley, tentando abafar os repetidos guinchos de “SANGUES RUINS! RALÉ! CRIATURAS DA IMUNDÍCIE!” — Deixe o malão e a coruja, Alastor vai cuidar da bagagem... ah, pelo amor de Deus, Sirius, Dumbledore disse não!



Um cachorrão peludo aparecera ao lado de Harry quando ele tentava escalar os vários malões que atravancavam o hall e chegar à Sra. Weasley.



 



– Que mal há em acompanhar Harry até a estação como cachorro? – Sirius disse revirando os olhos – Não é como se alguém fosse me reconhecer e me entregar para o ministério…



– Os comensais da morte a essa altura já sabem que você é um animago… – Tiago disse balançando a cabeça com desgosto – Pedro com certeza já contou a todos eles…



– Mas eu não sou a prioridade deles. – Sirius disse com um aceno de mão displicente – E que tipo de vantagem traria a eles me entregar ao ministério afinal?



– Mesmo assim, – Remo disse, apreensivo – eles poderiam te usar como isca ou algo do tipo… Ainda mais se souberem que Harry se importa com você…



– Eu vou estar com a Ordem, e com Harry… – Sirius disse revirando os olhos – Se forem capturar alguém, com certeza não vou ser eu…



– E você realmente deve estar precisando de um ar puro… – Tiago disse dando o braço a torcer – Sair um pouco vai te fazer bem…



 



— Ah, francamente... — respondeu a Sra. Weasley, desesperada. — Bom, mas seja por sua conta e risco!



Ela abriu com violência a porta de entrada e saiu para o dia palidamente iluminado de setembro. Harry e o cachorro a acompanharam. A porta bateu às costas deles, e os guinchos da Sra. Black cessaram instantaneamente.



— Cadê a Tonks? — perguntou Harry, olhando a toda volta, enquanto descia os degraus de pedra do número doze, que sumiram no instante em que eles pisaram a calçada.



— Está nos esperando ali adiante — respondeu a Sra. Weasley secamente, evitando olhar o cachorro preto que se sacudia ao lado de Harry.



 



– O que mais me incomoda é o modo como sua mãe trata o Sirius. – Tiago disse virando-se de Gina para Rony – Ela já sabe de toda a verdade, e ainda assim o trata como um criminoso…



– Desde que ela não saia por aí falando de você, eu não me importo. – Sirius afirmou com um aceno de mão desinteressado – O problema dela para mim é que ela prefere acreditar em tudo o que sai da boca de Dumbledore a pensar com a própria cabeça…



– Minha mãe não é cabeça oca. – Gina disse, dando uma cotovelada leve nas costelas de Sirius – Ela apenas confia em Dumbledore…



– Cegamente. – Sirius respondeu revirando os olhos.



 



Uma velha cumprimentou-os na esquina. Tinha cabelos grisalhos muito crespos e usava um chapéu roxo em feitio de torta de porco.



— Aí, beleza, Harry! — cumprimentou Tonks, com uma piscadela. — É melhor a gente se apressar, não acha, Molly? — acrescentou, verificando a hora.



— Eu sei, eu sei — gemeu a Sra. Weasley, apertando o passo — mas Olho-Tonto queria esperar por Estúrgio... se ao menos Arthur tivesse nos arranjado carros do Ministério outra vez... mas Fudge ultimamente não o deixa pedir emprestado nem um tinteiro vazio... como é que os trouxas conseguem viajar sem magia...



 



– É bem mais simples do que os bruxos fazem parecer… – Lily disse revirando os olhos – A única diferença é que os trouxas precisam sair de casa com tempo o bastante para chegar onde querem chegar.



– Isso já é pedir demais se tratando da minha família. – Rony disse rindo.



 



Mas o cachorrão preto deu um latido alegre e correu animado ao redor deles, assustando os pombos e caçando o próprio rabo. Harry não pôde deixar de rir. Sirius ficara preso em casa por muito tempo. A Sra. Weasley contraiu os lábios de um jeito quase igual ao de tia Petúnia.



Levaram vinte minutos para chegar a King’s Cross a pé, e nada mais excitante aconteceu durante esse tempo, exceto Sirius ter espantado uns gatos para divertir Harry.



 



– Pelo menos você se divertiu. – Remo disse sorrindo para Sirius.



– Depois de passar tanto tempo preso no mausoléu da minha família, eu merecia um passeio… – Sirius afirmou trocando um olhar cúmplice com Harry.



 



Uma vez na estação, eles pararam displicentemente ao lado da barreira entre as plataformas nove e dez até não haver ninguém à vista, depois, um a um, atravessaram para a plataforma nove e meia, onde o Expresso de Hogwarts aguardava, arrotando fumaça escura sobre a plataforma apinhada de alunos que iam embarcar e suas famílias. Harry aspirou aqueles cheiros familiares e sentiu seu ânimo fortalecer... ia realmente regressar...



— Espero que os outros cheguem a tempo — comentou a Sra. Weasley, ansiosa, olhando para o arco de ferro trabalhado que abarcava a plataforma e por onde chegariam os novos passageiros.



— Belo cão, Harry! — disse um rapaz alto com cachos rastafári.



— Obrigado, Lino — disse Harry sorrindo, enquanto Sirius sacudia a cauda freneticamente.



 



– Obrigado, Lino! – Sirius repetiu com uma gargalhada canina.



– Se Harry fosse um pouco mais parecido com Tiago ele aproveitaria a presença de Sirius para conquistar algumas garotas… – Remo disse entre risadas.



    Tiago corou sem graça, mas quando viu que Lily também estava gargalhando, riu também.



 



— Ah, que bom! — exclamou a Sra. Weasley, parecendo aliviada. — Aí vem Alastor com a bagagem, vejam...



Com um boné de carregador cobrindo os olhos díspares, Moody passou mancando pelo arco, atrás de um carrinho carregado com as malas dos garotos.



— Tudo bem — murmurou ele para a Sra. Weasley e Tonks — acho que ninguém nos seguiu...



Segundos depois, o Sr. Weasley surgiu na plataforma com Rony e Hermione. Tinham praticamente descarregado o carrinho de bagagem quando Fred, Jorge e Gina apareceram com Lupin.



— Nenhum problema? — rosnou Moody.



— Nada — respondeu Lupin.



 



– Ótimo. – Lily suspirou, aliviada – Pelo menos em Hogwarts tenho certeza de que Harry vai estar mais seguro…



– Eu já disse, – Sirius revirou os olhos – eu não confiaria nisso se fosse você… No ano anterior Voldemort conseguiu tirar Harry de debaixo do nariz de Dumbledore…



– Pare de falar assim. – Lily disse, apreensiva – Você vai me deixar maluca pensando nisso…



– Só não quero que você tenha um choque se algo de errado acontecer… – Sirius disse, parecendo chateado – Eu também não quero que aconteça, mas temos que estar prontos para essa possibilidade.



 



— Ainda assim, vou dar parte de Estúrgio a Dumbledore — disse Moody — é a segunda vez em uma semana que ele não aparece. Está ficando tão irresponsável quanto Mundungo.



 



– Será que aconteceu alguma coisa com esse Estúrgio? – Alice perguntou, ligeiramente preocupada – Ele pode apenas estar ficando irresponsável como o Moody disse, mas eles estão no meio de uma guerra silenciosa…



– Alice tem razão… – Sirius disse com estranheza – Esse Estúrgio ajudou a Ordem a buscar Harry na casa dos trouxas… Talvez alguém tenha descoberto que ele trabalha para a Ordem…



– Se algo assim fosse possível, Moody provavelmente desconfiaria… – Tiago disse com um aceno de mão displicente – E nós não conhecemos esse tal de Estúrgio… Moody conhece.



– Se for pensar em como Moody desconfia de tudo, se fosse algo sério ele saberia. – Remo concordou com Tiago.



 



— Bom, cuidem-se bem — desejou Lupin, apertando a mão de todos. Despediu-se de Harry por último e lhe deu uma palmada no ombro. — Você também, Harry. Tenha cuidado.



— É, cabeça baixa e olhos alertas — disse Moody, apertando a mão do garoto também. — E não se esqueçam, todos vocês: cuidado com o que escrevem. Se tiverem dúvida sobre alguma coisa, não a mencionem em carta.



— Foi ótimo conhecer vocês — disse Tonks, abraçando Hermione e Gina. — Logo nos reveremos, espero.



Soou um primeiro apito; os alunos, ainda na plataforma, correram para o trem.



— Depressa, depressa — disse a Sra. Weasley, distraída, abraçando-os a esmo, e segurando Harry duas vezes. — Escrevam... se comportem... se esqueceram alguma coisa nós mandaremos... agora subam no trem, depressa...



Por um breve momento, o enorme cão negro ergueu-se nas patas traseiras e apoiou as dianteiras nos ombros de Harry, mas a Sra. Weasley empurrou o garoto em direção à porta do trem.



— Pelo amor de Deus, Sirius, comporte-se mais como um cachorro! — sibilou ela.



 



– Ótimo, – Sirius bufou com irônia – não posso nem ao menos me despedir propriamente do meu afilhado.



– Você não estava agindo como um cão… – Lily disse defensivamente.



– Já vi vários cães grandes se apoiando nos donos. – Sirius afirmou com um aceno de mão displicente – É um sinal de carinho.



– Mesmo assim, – Lily disse, preocupada – você deveria tomar cuidado… A plataforma é cheia de pais de alunos… E nós sabemos que os pais de alguns dos alunos são comensais… Imagina o que aconteceria se eles fizessem você voltar a sua forma verdadeira no meio da plataforma e…



– Lily! – Tiago disse, segurando o braço dela com cuidado – Não foi a atitude mais responsável de Sirius, mas não é nada tão ruim assim… Ele só queria se despedir de Harry…



– Eu sei. – Lily murmurou para que apenas Tiago escutasse – Mas fico preocupada… Nem quero imaginar como você se sentiria se algo acontecesse com Sirius… E é claro que me preocupo com Sirius também…



– Então você está preocupada comigo? – Tiago perguntou, olhando para Lily com um meio sorriso – Nunca pensei que veria esse dia, Evans.



– Você sabe muito bem que me importo com você… Potter. – Lily murmurou trocando um sorriso carinhoso com Tiago.



    Severo os observou, desconfortável.



 



— Até mais! — gritou Harry pela janela aberta, quando o trem começou a andar, enquanto Rony, Hermione e Gina acenavam ao seu lado.



As silhuetas de Tonks, Lupin, Moody e do Sr. e da Sra. Weasley foram encolhendo rapidamente, mas o cachorro preto continuou saltando ao lado da janela, abanando o rabo; gente na plataforma agora pouco visível ria de ver o cão correndo atrás do trem, então contornaram uma curva, e Sirius desapareceu.



 



– Nem comecem. – Sirius disse levantando as mãos – Cachorros correm atrás dos donos, não há nada de errado nisso.



 



— Ele não devia ter vindo com a gente — comentou Hermione, manifestando preocupação na voz.



— Ah, anime-se — disse Rony — ele não vê a luz do dia há meses, coitado.



— Bom — disse Fred, batendo palmas — não podemos ficar aqui conversando o dia inteiro, temos negócios a discutir com o Lino. Vemos vocês mais tarde.



E ele e Jorge desapareceram pelo corredor à direita.



O trem continuou a ganhar velocidade, fazendo os garotos que continuavam em pé balançarem, e transformando as casas em imagens fugidias.



— Então, vamos arranjar uma cabine? — convidou Harry.



Rony e Hermione se entreolharam.



— Hum — falou Rony.



— Nós... bem... Rony e eu temos de ir para o carro dos monitores — disse Hermione, sem jeito.



 



– Vocês não tem que ficar no vagão dos monitores. – Remo afirmou – Só precisam ir até lá receber as primeiras instruções, depois podem fazer o que quiserem… Não é como se os alunos realmente dessem trabalho no trem…



– Alguns alunos dão trabalho. – Lily afirmou – Eu sempre ajudo a supervisionar o trem…



– Eu disse, – Tiago disse levantando os braços – ser monitor da muito mais trabalho do que benefícios…



 



Rony não estava olhando para Harry; parecia vivamente interessado nas unhas da mão esquerda.



— Ah — respondeu Harry. — Certo. Ótimo.



— Acho que não temos de ficar lá a viagem inteira — acrescentou Hermione depressa. — Nossas cartas dizem que vamos receber instruções dos monitores-chefes e depois patrulhar os corredores de tempos em tempos.



 



– Eu realmente não queria lembrar que vou ter que fazer isso também. – Tiago disse com uma expressão de desagrado.



– E sendo monitor-chefe você realmente vai ter que passar a viagem toda inspecionando o trabalho dos monitores mais novos e vigiando os alunos. – Lily disse com um meio sorriso de zombaria.



– Dumbledore estava realmente inspirado a te impedir de se divertir esse ano. – Sirius disse balançando a cabeça em desagrado.



 



— Ótimo — repetiu Harry. — Bom, eu... eu talvez veja vocês mais tarde, então.



— É, com certeza — disse Rony, lançando um olhar esquivo e ansioso ao amigo. — É chato ter de ir para lá, eu preferia... mas temos de ir... quero dizer, não estou me divertindo, não sou o Percy — concluindo em tom de desafio.



— Sei que você não é — disse Harry, rindo.



Mas quando Hermione e Rony arrastaram os malões, Bichento e Píchi, engaiolada, em direção à frente do trem, Harry teve uma estranha sensação de perda. Nunca viajara no Expresso de Hogwarts sem Rony.



 



– Eu senti o mesmo. – Rony afirmou, categórico.



 



— Anda — disse-lhe Gina — se formos logo, poderemos guardar lugares para eles.



— Certo — concordou Harry, pegando a gaiola de Edwiges com uma das mãos e a alça do seu malão com a outra.



 



– Pelo menos você estava com Gina, no nosso segundo ano eu tive que ir para a escola sem vocês… – Hermione disse virando-se de Harry para Rony e de volta, desconfortável – Eu passei a maior parte da viagem achando que vocês dois tinham mudado de ideia… Que não queriam mais ser meus amigos…



– Porque você pensaria isso? – Harry perguntou, chocado.



– Quando eu era pequena as outras crianças faziam isso comigo… – Hermione disse, hesitante – Fingiam ser meus amigos e depois riam de mim por ter acreditado…



– Isso é horrível, Mione. – Lily disse encarando a garota com pena – Eu sinto muito…



– Porque você nunca nos contou isso? – Rony perguntou segurando a mão de Hermione com carinho.



– Por que depois percebi que vocês nem ao menos estavam no trem… – Hermione deu de ombros – E percebi que estava sendo boba… Que vocês nunca fariam isso comigo, e que vocês não são como aquelas crianças… Mas mesmo assim, foi uma viagem muito dolorosa e solitária para mim…



 



Eles avançaram com dificuldade pelo corredor, espiando pelas vidraças das cabines e descobrindo que já estavam ocupadas. Harry não pôde deixar de notar que muitos garotos o olharam com grande interesse e que vários cutucaram os vizinhos e apontaram para ele.



 



– Se esses olhares já eram ruins antes, nem quero pensar em como pioraram. – Lily suspirou, pesarosa.



– Acho que a única coisa que você pode fazer é se acostumar… – Tiago disse a Harry – Tenho a impressão de que mesmo que consigamos mudar esse futuro, você nunca vai ser uma pessoa normal.



– Temo que não. – Harry disse, conformado.



 



Depois de registrar esse comportamento em cinco carros consecutivos, ele lembrou que, durante o verão inteiro, o Profeta Diário andara informando aos seus leitores que ele era um mentiroso exibicionista. Perguntou-se, desolado, se as pessoas que agora o olhavam e cochichavam teriam acreditado naquelas histórias.



 



– O povo é burro, influenciável, tem memória curta e acredita no governo… – Sirius enumerou com desagrado – Eu diria que a maioria deles acha que você é um mentiroso exibicionista e talvez até um assassino…



– Infelizmente é isso que eles devem estar pensando mesmo. – Remo suspirou – Não haveria outra explicação plausível para a morte de Cedrico se eles não acreditam no retorno de Voldemort.



– Mas eles vão ver, vão ser obrigados a admitir que estavam sendo burros. – Sirius afirmou com irritação – E espero que seja o mais rápido possível.



– Nem quero imaginar quanto poder Voldemort será capaz de reunir se o povo demorar muito para reconhecer que ele voltou. – Frank disse, temeroso, antes de voltar à leitura.



 



No último carro, eles encontraram Neville Longbottom, o garoto do quinto ano, colega de Harry na Grifinória, o rosto redondo brilhando com o esforço de arrastar o malão e segurar, com apenas uma das mãos, o seu sapo Trevo, que se debatia.



— Oi, Harry — ofegou. — Oi Gina... está tudo cheio... não consegui encontrar um lugar!



— Do que é que você está falando? — respondeu Gina, que se espremera para passar por Neville e espiar a cabine atrás dele. — Tem lugar nesse aí, só tem a Di-lua/Luna Lovegood...



 



– Di-lua? – Lily perguntou levantando uma sobrancelha para Gina.



– É como as pessoas chamavam ela… – Gina respondeu, ligeiramente constrangida – Eu não devia ter chamado ela assim…



– O nome dela é o nome do capítulo… – Remo disse, pensativo – Ela deve ser importante de alguma forma…



– Espero que ela não seja maldosa com vocês como você foi com ela chamando-a de Di-lua… – Alice disse balançando a cabeça.



 



Neville murmurou alguma coisa sobre não querer incomodar ninguém.



— Não seja bobo — disse Gina dando risadas. — Ela é legal.



Gina abriu a porta e puxou seu malão para dentro. Harry e Neville a seguiram.



— Oi, Luna — cumprimentou ela — tudo bem se a gente ocupar esses lugares?



A garota ao lado da janela ergueu os olhos. Tinha cabelos louros, sujos e mal cortados, até a cintura, sobrancelhas muito claras e olhos saltados, que lhe davam um ar de permanente surpresa. Harry entendeu na hora por que Neville preferira procurar outra cabine. A garota emanava uma aura de nítida birutice. Talvez fosse porque guardara a varinha atrás da orelha esquerda, por medida de segurança, ou porque tivesse decidido usar um colar de rolhas de cerveja amanteigada, ou ainda porque estivesse lendo a revista de cabeça para baixo. Seus olhos estudaram Neville e se fixaram em Harry.



Ela fez que sim com a cabeça.



 



– Agora eu entendo porque as pessoas a chamam de Di-lua. – Sirius disse impressionado – Ela parece um bocado maluca…



– Ela é legal. – Gina reafirmou recebendo um olhar de repreensão de Hermione – Eu literalmente acabei de repetir o que eu disse no livro, não pode haver algo de errado nisso!



– Na verdade, – Tiago disse trocando um sorriso com Gina – você reafirmar que ela é legal, nos faz ver que ela não vai estar contra Harry…



– Não é como se eles não fossem descobrir isso em poucas linhas. – Gina afirmou, categórica – Não fiz nada de errado.



    Hermione apenas revirou os olhos e indicou que Frank voltasse a ler.



 



— Obrigada — disse Gina, sorrindo para ela.



Harry e Neville guardaram os três malões e a gaiola de Edwiges no bagageiro e se sentaram. Luna observou-os por cima da revista invertida, que se chamava O Pasquim.



 



– Não é essa a revista que o Kingsley mandou para Sirius no dia da audiência de Harry? – Remo perguntou, interessado.



– Acho que sim… – Sirius disse, pensativo – E assim que falaram da revista no livro todos vocês riram… – completou referindo-se a Harry, Rony, Mione, Gina e Neville – E agora o livro está falando da mesma revista…



– Só pode ser algum tipo de revista cômica… – Tiago disse, interessado – E não devemos nos esquecer de que Luna está lendo a revista de cabeça para baixo…



– Antes eu tinha pensado que ela estava lendo de cabeça para baixo porque é meio amalucada… – Sirius afirmou – Mas talvez tenha a ver com a revista…



 



Aparentemente, ela não piscava com tanta frequência quanto as pessoas normais. Não parava mais de olhar para Harry, que se acomodara no assento defronte, e agora desejava não ter feito aquilo.



— Boas férias, Luna? — perguntou Gina.



— Boas — disse Luna sonhadora, sem tirar os olhos de Harry. — É, foram bem divertidas, sabe. Você é Harry Potter — acrescentou.



— Eu sei que sou — respondeu Harry.



 



– Ela é um bocado despudorada… – Lily disse, impressionada – As pessoas não costumam ser tão diretas…



– Ela não parece ter o nível normal de constrangimento. – Tiago disse, interessado – As pessoas devem ser muito maldosas com ela, por ela ser tão excêntrica…



– As pessoas não gostam de nada que seja divergente do que eles consideram normal. – Remo afirmou concordando com Tiago.



 



Neville riu. Luna voltou então seus olhos claros para ele.



— Eu não sei quem você é.



— Não sou ninguém — respondeu Neville, apressado.



— Não, não é não — disse Gina com rispidez.



 



– E não é mesmo! – Alice disse sorrindo acaloradamente para Gina.



– Você precisa se valorizar mais. – Frank afirmou encarando Neville – Mas pelo menos você tem uma boa amiga… – completou sorrindo para Gina.



 



— Neville Longbottom, Luna Lovegood. Luna está no mesmo ano que eu, mas é da Corvinal.



— O espírito sem limites é o maior tesouro do homem — disse Luna entoando o ditado.



E erguendo a revista o suficiente para esconder o rosto, ela se calou. Harry e Neville se entreolharam com as sobrancelhas erguidas. Gina reprimiu uma risadinha.



O trem avançou barulhento, levando-os em velocidade para o campo aberto. O dia estava estranho, meio instável; em um momento o carro se inundava de sol e no seguinte passavam sob agourentas nuvens escuras.



— Adivinhem o que ganhei de aniversário? — perguntou Neville.



— Mais um Lembrol? — perguntou Harry, lembrando-se do dispositivo em forma de bola de gude que a avó de Neville lhe mandara na tentativa de melhorar sua incrível falta de memória.



— Não — respondeu o garoto. — Até que um Lembrol viria a calhar, perdi o antigo há séculos... não, olhe só isso...



Ele enfiou na mochila a mão livre – a outra segurava Trevo firmemente – e, depois de procurar um pouco, tirou um vaso contendo algo parecido com um pequeno cacto cinzento, exceto que era recoberto de pústulas, em vez de espinhos.



— Mímbulus mimbletonia — disse orgulhoso.



 



– É uma escrofulária realmente rara. – Severo afirmou, ligeiramente impressionado – A seiva é ingrediente de muitas poções poderosas…



– Acho que Hogwarts não tem nenhuma atualmente. – Lily disse, pensativa – Me lembro de Slughorn comentar no ano passado que só conseguia a seiva importando diretamente da Assíria a preços astronômicos.



– Realmente impressionante. – Alice disse sorrindo para Neville bondosamente – Não sei muito sobre herbologia, mas se sua planta conseguiu impressionar Snape e Lily, deve ser realmente importante…



 



Harry olhou para a coisa. Pulsava levemente, o que lhe dava a aparência sinistra de um órgão interno avariado.



— É uma escrofulária realmente rara — comentou Neville radiante. — Nem sei se na estufa de Hogwarts tem uma. Mal posso esperar para mostrar à Profª Sprout. Meu tio-avô Algie conseguiu-a para mim na Assíria. Vou ver se consigo multiplicá-la.



 



– Pelo menos dessa vez ele não te pendurou pelos tornozelos do lado de fora da janela antes de te dar um presente… – Frank disse, resignado, obviamente lembrando-se da primeira vez em que sua família percebeu sinais de magia em Neville.



– Tio Algie não é tão ruim. – Neville declarou, categórico – Ele sempre me mandava bons livros de herbologia e plantas exóticas das viagens dele… E era o único na família que realmente me incentivava a seguir esse caminho...



– Sempre bom saber que meu tio não é de todo ruim. – Frank deu de ombros antes de voltar a ler.



 



Harry sabia que o assunto favorito de Neville era Herbologia, mas, por mais que se esforçasse, não conseguia imaginar o que o garoto poderia querer com aquela plantinha nanica.



 



– Desculpe, Neville, – Harry disse encolhendo os ombros – mas nunca consegui ver algo de interessante em herbologia.



– Eu entendo. – Neville disse com um aceno de mão displicente.



– Mas herbologia é uma matéria muito importante, – Lily disse – conhecer bem as plantas e suas funções influencia muito nas poções…



– E Harry também nunca gostou de poções. – Tiago a interrompeu com um sorriso de canto de boca – Eu não fico aqui lamentando o fato de Harry também não ter muito interesse em transfigurações…



– Mas pelo menos Harry gosta de quadribol, como você… – Lily suspirou – Às vezes tenho a impressão de que Harry não gosta de nada do que eu gosto…



– Isso não é verdade. – Tiago afirmou – Só porque ele não gosta das mesmas matérias que você na escola, isso não significa que vocês não tem nada em comum… Vocês provavelmente tem dúzias de coisas em comum que você nunca reparou…



– O que por exemplo? – Lily perguntou, obviamente insegura.



– Harry sempre pede torta de caramelo de sobremesa, – Tiago disse com um meio sorriso, vitorioso – é a sua favorita, não é?



    Lily apenas sorriu enquanto acenava afirmativamente com a cabeça.



– Tenho certeza de que vocês tem dezenas de coisas em comum. – Tiago afirmou – Apenas não são coisas óbvias como quadribol e matérias na escola.



 



— Ela... hum... ela faz alguma coisa? — perguntou.



— Muita coisa! — respondeu Neville, orgulhoso. — Tem um fantástico mecanismo de defesa. Tome, segure o Trevo aqui para mim...



Ele largou o sapo no colo de Harry e tirou uma pena da mochila. Os olhos saltados de Luna Lovegood tornaram a aparecer por cima da borda da revista invertida, para espiar o que Neville estava fazendo. O garoto segurou a escrofulária próxima dos olhos, a língua entre os dentes, escolheu um ponto e espetou com força a planta.



A planta espirrou líquido de todas as pústulas; jatos verde-escuros, malcheirosos, espessos. Eles bateram no teto, nas janelas, e salpicaram a revista de Luna Lovegood; Gina, que erguera os braços para proteger o rosto bem em tempo, ficou parecendo que usava um chapéu verde pegajoso, mas Harry, cujas mãos tinham estado ocupadas com Trevo para impedir que o sapo fugisse, recebeu o jato em cheio no rosto. Cheirava a estrume rançoso.



 



– A seiva não é venenosa, então não há com o que se preocupar. – Lily disse enquanto os outros riam.



– Mas é extremamente valioso, justamente por ser uma escrofulária tão rara. – Severo afirmou.



 



Neville, cujo rosto e tronco também estavam encharcados, sacudiu a cabeça para limpar o excesso dos olhos.



— D-desculpem — disse gaguejando. — Eu não tinha experimentado isso antes... não pensei que seria tão... mas não se preocupem, esta escrofulária não é venenosa — acrescentou ele, nervoso, enquanto Harry cuspia um bocado de seiva no chão.



Neste exato momento, a porta da cabine se abriu.



— Ah... olá, Harry — disse uma voz agitada. — Hum... cheguei em má hora?



Harry limpou as lentes dos óculos com a mão livre. Uma garota bonita, de cabelos negros e brilhantes, estava parada à porta sorrindo para ele: Cho Chang, apanhadora do time de Quadribol de Corvinal.



— Ah... oi — disse Harry, desconcertado.



— Hum... — respondeu Cho. — Bem... pensei em dar um alô... então tchau.



Corando um pouco, a garota fechou a porta e foi embora.



 



– Acho que ela pode estar interessada em você. – Alice disse sorrindo para Harry – Que outro motivo ela teria para ir atrás de você no trem… E ela ainda corou antes de ir embora.



– Ela tem que ser um bocado boba para entrar na cabine só para falar oi e tchau… – Sirius disse revirando os olhos para Alice.



– Ela estava envergonhada… – Alice justificou – E temos que reconhecer que ela chegou num momento muito estranho. – acrescentou com uma risada abafada.



– Nada impediria ela de ficar… – Tiago disse trocando um olhar com Gina – Se ela fosse uma garota com personalidade, ela ficaria...



 



Harry se largou no banco e gemeu. Gostaria que Cho o encontrasse sentado com um grupo muito legal, se acabando de rir de uma piada que tivessem acabado de contar; e não ali, com Neville e Luna Lovegood, segurando um sapo e pingando escrofulária.



 



– Eu particularmente acho a Luna e o Neville pessoas muito mais interessantes do que qualquer uma das amigas dela. – Gina disse trocando uma piscadela com Neville.



– Eu concordo com Gina. – Remo disse dando um grande sorriso para a garota – E ainda acho que se você precisa mudar de amigos, ou de personalidade, para uma garota gostar de você, essa garota certamente não vale a pena.



    Harry corou enquanto acenava afirmativamente para Remo.



 



— Tudo bem — disse Gina, procurando consolar o garoto. — Olhe, podemos nos livrar de tudo isso facilmente.



E puxando a varinha ordenou: Limpar!



A seiva da escrofulária desapareceu.



— Desculpe — tornou a dizer Neville, com uma vozinha tímida.



Rony e Hermione só apareceram depois de uma hora, altura em que o carrinho de comida já passara. Harry, Gina e Neville já haviam comido as tortinhas de abóbora e se entretinham em trocar os cartões dos sapos de chocolate, quando a porta da cabine se abriu e os dois entraram acompanhados por Bichento e Píchi, que soltava pios agudos em sua gaiola.



— Estou morto de fome — disse Rony, guardando Píchi ao lado de Edwiges, passando a mão num sapo de chocolate de Harry e se atirando no lugar a seu lado.



Abriu, então, a embalagem, arrancou a cabeça do sapo com uma dentada e se recostou, com os olhos fechados, como se tivesse tido uma manhã exaustiva.



 



– Foi uma manhã extremamente chata e a companhia não ajudou em nada. – Rony afirmou.



– Me deixa tentar adivinhar um dos outros monitores. – Sirius disse com um meio sorriso, soturno – Malfoy?



– É a única opção. – Tiago concordou – Dos garotos da Sonserina que aparecem mais nos livros, ele é o único que teria a capacidade mental para ser monitor…



– Além disso ele é o queridinho do Snape… – Remo disse olhando de soslaio para Severo – E é o diretor da casa que indica os nomes dos monitores para o diretor.



 



— Bom, tem dois monitores do quinto ano de cada casa — disse Hermione, parecendo completamente desapontada quando se sentou. — Um garoto e uma garota.



 



– Você pensou que apenas você e Rony seriam monitores? – Sirius perguntou a Hermione com uma mistura de pena e zombaria.



– Não exatamente. – Hermione admitiu – Mas não sabia que tinham que escolher dois de cada casa…



– Achou que fosse uma coisa muito mais rara e mais importante do que é. – Remo disse acenando lentamente em concordância.



 



— E adivinhem quem é o monitor da Sonserina? — disse Rony, mantendo os olhos fechados.



— Malfoy — respondeu Harry na mesma hora, certo de que seus piores receios teriam se confirmado.



— Claro — disse Rony amargurado, enfiando o resto do sapo na boca e apanhando mais um.



— E aquela completa vaca Pansy Parkinson — disse Hermione com ferocidade. — Como foi que chegou à monitora, sendo mais obtusa que um trasgo lesado...



 



– Talvez as outras garotas da Sonserina sejam ainda mais obtusas? – Sirius perguntou com uma risada canina.



– Nem tanto. – Hermione admitiu – Mas acho que Pansy tinha mais influência sobre as outras…



– Isso com certeza é um critério de escolha. – Remo afirmou apontando para Tiago, que bufou.



 



— Quem são os da Lufa-Lufa? — perguntou Harry.



— Ernesto Macmillan e Ana Abbott — respondeu Rony com a voz empastada.



 



– Não são tão ruins assim. – Alice deu de ombros.



– Ana é uma garota legal. – Neville disse, fazendo Alice sorrir com satisfação.



– Mas Ernesto consegue ser um bocado idiota na maior parte das vezes que aparece nos livros… – Frank lembrou antes de continuar lendo.



 



— E Antônio Goldstein e Padma Patil da Corvinal — continuou Hermione.



 



– Isso provavelmente não ajudou a reunião a ser mais confortável para você. – Alice disse para Rony, sem conseguir esconder a risada – Depois de como você a tratou no baile…



    Rony desviou os olhos, constrangido, mas não respondeu.



 



— Você foi ao Baile de Inverno com Padma Patil — disse uma voz imprecisa.



Todos se viraram para Luna Lovegood, que olhava sem piscar para Rony, por cima de O Pasquim. Ele engoliu o sapo de uma vez.



— É, eu sei que fui — disse ele, parecendo ligeiramente surpreso.



— Ela não gostou muito — informou-lhe Luna. — Acha que você não a tratou bem, porque não quis dançar com ela. Acho que eu não teria me importado — acrescentou pensativa. — Não gosto muito de dançar.



 



– Completamente maluca. – Sirius disse rindo de maneira carinhosa – Já gosto dela!



– Ela não me parece ter o mesmo nível de discernimento das outras pessoas… – Remo disse com um sorriso – Deve ser uma companhia muito interessante.



 



Luna tornou a se esconder atrás de O Pasquim. Rony ficou olhando para a capa da revista de boca aberta por alguns segundos, depois procurou Gina com o olhar para obter uma explicação, mas a irmã havia enterrado os nós dos dedos na boca para sufocar um acesso de riso. Rony sacudiu a cabeça, confuso, depois olhou para o relógio.



— Temos de patrulhar os corredores a intervalos — disse a Harry e Neville — e podemos castigar os alunos que não estiverem se comportando. Mal posso esperar para apanhar Crabbe e Goyle fazendo alguma coisa...



— Você não pode abusar da sua posição, Rony! — ralhou Hermione.



— Certo, porque o Malfoy não vai abusar nem um pouquinho da dele — respondeu Rony com sarcasmo.



— Então você vai se rebaixar ao nível dele?



— Não, só vou garantir que apanho os amigos dele antes que ele apanhe os meus.



— Pelo amor de Deus, Rony...



— Vou fazer Goyle escrever cem vezes a mesma frase, ele vai morrer, odeia escrever — disse Rony alegremente. E baixando a voz para imitar os grunhidos de Goyle, contraiu o rosto fingindo dolorosa concentração e escreveu no ar. — “Eu... não... devo... ter... cara... de... bunda... de macaco.”



 



– Não deixa de ser uma boa estratégia. – Tiago disse sem esconder as risadas.



– Eu acho que também não conseguiria me conter nesse caso. – Lily disse rindo.



 



Todos riram, mas ninguém riu mais do que Luna Lovegood. Soltou um grito de alegria que fez Edwiges acordar e bater as asas, e Bichento pular para o alto do bagageiro, sibilando. Luna riu tanto que a revista escapou-lhe das mãos, escorregou pelas pernas e foi parar no chão.



— Essa foi boa!



Seus olhos marejados de lágrimas fixavam Rony, enquanto tentava recuperar o fôlego. Completamente aparvalhado, ele olhava para os amigos, que agora riam da expressão em seu rosto e do riso absurdamente prolongado de Luna, se balançando para a frente e para trás, comprimindo os lados do corpo.



— Você está tentando me fazer de bobo? — perguntou Rony enrugando a testa.



— Bunda... de macaco! — ela engasgava, segurando as costelas.



 



– Luna não tem muitos amigos. – Gina disse entre as risadas de todos os outros – Acho que ela não estava acostumada a estar em situações sociais… Mas ela não faria ninguém de bobo de propósito, acho que ela não tem essa capacidade…



– Pobrezinha, – Lily disse com carinho – ela me parece muito socialmente desajeitada…



– Pelo menos sabemos que ela sempre vai dizer a verdade. – Tiago disse acenando com a cabeça – Do jeito que ela parece ser direta, não acho que ela conseguiria mentir.



 



Todos apreciavam Luna rir, exceto Harry, que, batendo os olhos na revista ainda no chão, reparou em alguma coisa que o fez abaixar-se rapidamente para apanhá-la.



De cabeça para baixo, fora difícil dizer qual era a foto da capa, mas Harry agora percebia que era uma charge malfeita de Cornélio Fudge, apenas reconhecível por causa do chapéu-coco verde-limão. Uma das mãos do ministro apertava uma bolsa de ouro; a outra esganava um duende. A legenda da charge perguntava: Até onde irá Fudge para se apoderar de Gringotes?



 



– Esse com certeza é um artigo que me interessa! – Frank disse levantando os olhos do livro.



– E essa é a mesma revista que Kingley mandou para mim? – Sirius perguntou rindo, curioso.



– Mas essa é uma revista séria? – Alice perguntou confusa – Porque as insinuações da charge e do título não me parecem muito profissionais.



– Talvez seja apenas uma revista que não tem medo de cutucar as pessoas poderosas. – Remo disse levantando as sobrancelhas com interesse.



 



Abaixo, uma chamada para os outros títulos da revista:



Corrupção na Liga de Quadribol: Como os Tornados estão assumindo o controle



 



– Esse é um artigo que me interessa! – Tiago disse rindo.



– Espero que o livro não mostre esse artigo, ou vamos acabar tendo que te silenciar. – Remo disse, fazendo Tiago revirar os olhos.



 



Segredos das antigas runas revelados



Sirius Black: Vítima ou Vilão?



 



– Esse é um artigo que com certeza me interessa! – Sirius exclamou sem conseguir esconder o espanto.



– Essa deve ser a mesma edição da revista que Kingsley mandou para você… – Remo disse, abismado.



– Será que mais alguém descobriu a verdade sobre você não ser o fiel do segredo? – Tiago perguntou com grande interesse.



 



— Posso dar uma olhada? — perguntou ele ansioso a Luna.



A garota concordou com a cabeça, ainda de olhos em Rony, ofegante de tanto rir.



Harry abriu a revista e correu os olhos pelo índice. Até aquele momento esquecera-se completamente da revista que Kingsley entregara ao Sr. Weasley para Sirius, mas devia ser essa mesma edição de O Pasquim.



Ele localizou a página e voltou sua atenção para o artigo, excitado.



Era também ilustrado por uma charge bem ruinzinha; de fato, Harry nem teria percebido que representava Sirius, se não houvesse legenda. O padrinho estava em pé no alto de uma pilha de ossos humanos, empunhando a varinha.



O título do artigo era:                                     



SIRIUS – NEGRO COMO O PINTAM?



Famoso assassino em massa ou inocente sensação musical?



 



– Sensação musical? – Remo perguntou descrente – Do que essa revista está falando?



– Não sei… – Tiago disse coçando a cabeça, ligeiramente confuso – Mas eles acreditam que Sirius é inocente, e isso já é muito bom…



    Sirius não disse nada, apenas acenou para Frank ler o artigo.



 



Harry precisou ler a primeira linha várias vezes para se convencer de que entendera corretamente. Desde quando Sirius era uma sensação musical?



 



– Eu acho que eu poderia ser uma sensação musical, se eu quisesse. – Sirius disse jogando os cabelos para o lado, presunçoso, fazendo a maioria dos presentes rir – Eu com certeza tenho o visual para isso…



 



Durante catorze anos acreditou-se que Sirius Black fosse culpado do assassinato em massa de doze trouxas inocentes e um bruxo. Sua audaciosa fuga de Azkaban há dois anos desencadeou a maior caçada humana que o Ministério da Magia já conduziu. Nenhum de nós jamais questionou que ele merece ser recapturado e devolvido aos dementadores. MAS SERÁ QUE ELE MERECE?



 



– Nós sabemos que ele definitivamente não merece. – Tiago disse, categórico – Mas gostaria de saber porque a revista acredita nisso…



 



Recentemente vieram a público novas e surpreendentes provas de que Black pode não ter cometido os crimes pelos quais foi mandado para Azkaban. De fato, diz Dóris Purkiss, da via Acântia, 18, Little Norton, Black talvez nem tenha presenciado a matança. “O que as pessoas não percebem é que Sirius Black é um nome falso”, diz a Sra. Purkiss. “O homem que elas pensam ser Sirius Black é na realidade Toquinho Boardman, vocalista do popular conjunto Os Duendeíros, e que se retirou da vida pública depois de ser atingido na orelha, por um nabo, em um concerto, em Little Norton Church Hall, há quase quinze anos. Reconheci-o no instante em que vi sua foto no jornal. Ora, Toquinho não poderia ter cometido aqueles crimes, porque no dia em questão estava, por acaso, saboreando um jantar romântico à luz de velas em minha companhia, como fã escrevi ao ministro da Magia e estou aguardando que muito breve concedam perdão total a Toquinho, ou melhor, Sirius.”



 



    Todos os presentes trocaram olhares sem saber exatamente como reagir àquilo. Sirius foi o primeiro a sair do estado de descrença dando uma escandalosa gargalhada.



– Esse é o melhor artigo que eu já li na minha vida! – Ele afirmou entre risadas – Toquinho Boardman! – repetiu gargalhando e contagiando a todos os outros.



– Faz todo o sentido! – Tiago disse rindo sem controle – É por isso que você desaparece todos os meses por volta da lua cheia! Nós pensávamos que você estava andando por aí em forma de cachorro, mas na verdade você estava cumprindo uma agenda de shows e tendo jantares românticos com fãs!



– Agora entendo porque vocês riram tanto quando a revista foi citada! – Remo disse tremendo de rir – Incrível!



– Então essa é mesmo uma revista de piadas? – Lily perguntou, risonha – Só pode ser, não é?



– Não tenho ideia! – Tiago respondeu – Mas definitivamente é uma revista que eu assinaria!



 



Harry terminou de ler e ficou olhando a página, incrédulo. Talvez fosse uma piada, pensou, talvez a revista publicasse invencionices com frequência. Ele folheou as páginas anteriores e encontrou a notícia sobre Fudge.



Cornélio Fudge, ministro da Magia, há cinco anos quando foi eleito negou que tivesse planos para assumir a administração do banco dos bruxos, o Gringotes. Ele sempre insistiu em afirmar que quer apenas cooperar pacificamente com os guardiões do nosso ouro. MAS SERÁ QUE QUER MESMO?



Fontes ligadas ao ministro revelaram recentemente que a mais cara ambição de Fudge é assumir o controle da reserva de ouro dos duendes e que não hesitará em usar a força se for preciso.



“E não seria a primeira vez, tampouco”, declarou um funcionário bem informado. “Cornélio Fudge, o Mata-Duendes é como seus amigos o chamam. Se os leitores pudessem ouvi-lo quando ele pensa que não há ninguém por perto, ah, não para de falar nos duendes que matou; mandou afogar, mandou atirar do alto de edifícios, mandou envenenar, mandou cozinhar para rechear tortas...”



 



– Rechear tortas! – Remo repetiu gargalhando, fazendo todos voltarem às risadas – Fudge recheando tortas com duendes!



– Essa é a melhor revista! – Tiago declarou – É genial!



– Hilária! – Sirius concordou com sua gargalhada canina.



– É com certeza uma revista de piadas, não é? – Lily perguntou entre risadas, espantada.



– Deve ser. – Remo disse com um aceno de mão displicente – Quem conseguiria levar essas coisas a sério?



 



Harry não quis continuar a ler. Fudge podia ter muitos defeitos, mas o garoto achava extremamente difícil imaginá-lo dando ordens para assar duendes para rechear tortas. Ele folheou o resto da revista. Parando aqui e ali, leu uma acusação de que os Tornados de Tutshill estavam vencendo o campeonato da Liga de Quadribol, combinando chantagem, envenenamento de vassouras e tortura;



 



    Tiago nem ao menos tentou falar seriamente de quadribol, ele apenas riu junto com todos os outros.



 



uma entrevista com um bruxo que dizia ter voado até a lua em uma Cleansweep 6 e trazido um saco de sapos lunares para provar o seu feito;



 



– Em uma Cleansweep 6! – Rony repetiu como se aquela fosse a parte mais absurda da entrevista.



 



e um artigo sobre runas antigas que ao menos explicava o motivo de Luna estar lendo O Pasquim de cabeça para baixo. Segundo a revista, se a pessoa observasse as runas de cabeça para baixo elas revelariam um feitiço para transformar as orelhas de um inimigo em cunquates. De fato, comparada com os demais artigos de O Pasquim, a insinuação de que Sirius pudesse realmente ser o vocalista dos Duendeiros parecia até bastante sensata.



 



– Eu ainda acho mais provável que Fudge esteja recheando tortas com duendes! – Frank gargalhou levantando os olhos do livro.



– A história do tornados é muito mais crível! – Tiago disse balançando a cabeça com prazer – Quero dizer, pelo menos não estão alegando nenhuma coisa fisicamente impossível, como ir à lua em uma Cleansweep!



– Parem com isso! – Sirius disse, levantando os braços teatralmente – Eu tenho que confessar! – continuou fingindo dignidade – A pobre Dóris tem toda a razão! Eu sou Toquinho!



    Com isso a sala voltou a explodir em gargalhadas. Depois de alguns minutos, Frank conseguiu retomar a leitura.



 



— Alguma coisa que preste aí? — perguntou Rony, quando Harry fechou a revista.



— Claro que não — respondeu Hermione criticamente, antes que Harry pudesse responder. — O Pasquim só tem bobagens, todo o mundo sabe disso.



 



– Então a revista não é intencionalmente hilária? – Alice perguntou com interesse.



– Parece que não. – Sirius disse, balançando a cabeça, fingindo-se pesaroso.



 



— Desculpe — disse Luna; sua voz perdeu momentaneamente a vagueza. — Meu pai é o editor.



 



– Isso com certeza explica algumas coisas. – Remo disse com sobriedade, recebendo acenos de concordância de todos os presentes.



 



— Eu... ah — disse Hermione, visivelmente constrangida. — Bem... tem coisas interessantes... quero dizer, é bem...



— Pode me devolver, obrigada — disse Luna com frieza, e, curvando-se para frente, puxou-a das mãos de Harry.



Folheando rapidamente até a página cinquenta e sete, tornou a segurá-la de cabeça para baixo, decidida, e desapareceu por trás da revista, no momento em que a porta da cabine se abriu pela terceira vez.



 



– Acho que você a ofendeu… – Sirius disse a Hermione mordendo os lábios para esconder o riso.



– Não foi minha intenção. – Hermione afirmou – Eu não tinha mesmo como saber…



 



Harry olhou; já esperava por isso, o que não tornou mais agradável a visão de Draco Malfoy ladeado por seus dois comparsas Crabbe e Goyle.



 



– Eu tenho a impressão de que Draco sempre vai atrás de Harry em um momento ou outro durante as viagens de trem… – Sirius disse pensativo – Ele realmente é dedicado…



– Acho que ele nunca superou a recusa ao aperto de mão. – Tiago disse, concordando enfaticamente.



– Pelo que ele falou no final do ano anterior, ele realmente acreditava que ser amigo dele seria o melhor para Harry… – Remo disse balançando a cabeça.



– Ele obviamente não entendia nada do mundo real… – Tiago suspirou com um pouco de pena – Talvez ser amigo de Harry fosse o melhor para ele…



– Um Potter já resgatou um Black antes, nada impediria que isso acontecesse de novo. – Sirius afirmou trocando um sorriso com Tiago – Afinal, apesar de tudo, Draco é metade Black…



– Então vocês acham que ele tem salvação, mesmo depois de tudo o que ele já fez contra Harry, Rony e Hermione? – Lily perguntou, olhando de soslaio para Severo.



– Ele era apenas uma crianças quando ele fez essas coisas. – Tiago deu de ombros – Todos temos nossos momentos de babaquice, ainda mais quando somos crianças… O problema é quando a pessoa não evolui.



– Então acho que para saber se Draco tem salvação, temos que ver como ele vai evoluir… – Sirius disse, pensativo.



 



— Que é? — disse agressivamente, antes que Malfoy pudesse abrir a boca.



— Modos, Potter, ou terei de lhe dar uma detenção — entoou Malfoy, cujos cabelos lisos e louros e o queixo pontudo eram exatamente iguais aos do pai. — Como está vendo, ao contrário de você, fui promovido a monitor, o que quer dizer que, ao contrário de você, tenho o poder de distribuir castigos.



— É — disse Harry — mas, ao contrário de mim, você é um babaca, por isso se manda e deixa a gente em paz.



Rony, Hermione, Gina e Neville riram. Malfoy crispou o lábio.



— Vem cá, Potter, como é que você se sente perdendo a liderança para o Weasley?



— Cala a boca, Malfoy — mandou Hermione rispidamente.



— Parece que toquei num ponto sensível — disse ele, sorrindo com afetação. — Bom, trate de se cuidar, Potter, porque vou estar na sua cola como um cão de caça, caso você saia da linha.



 



– Ele acabou de dizer o que acho que ele acabou de dizer? – Tiago perguntou engolindo em seco.



– Não liga para isso. – Sirius disse com um aceno de mão displicente – Não é como se não soubéssemos que os comensais sabem que sou um animago…



– Ainda assim… Isso me soou como uma ameaça. – Remo disse, balançando a cabeça preocupado.



– Não há nada que eles possam fazer comigo. – Sirius disse dispensando a preocupação dos outros – Se eles fossem me denunciar para o ministério já teriam feito isso… E Dumbledore me mantém preso no mausoléu, então eles não tem como me alcançar… Sem preocupações.



– Não sei… – Tiago disse com seriedade – Voldemort já se mostrou muito inventivo… Se ele quiser te pegar, ele vai conseguir.



– Só não acho que ele tenha algum motivo para querer. – Sirius deu de ombros.



    Os outros continuavam preocupados com a insinuação de Draco, mas não falaram mais nada.



 



— Fora daqui! — disse Hermione, ficando de pé.



Abafando o riso, Malfoy lançou um último olhar malicioso a Harry e saiu da cabine com os dois amigos pesadões em sua esteira. Hermione bateu a porta da cabine e virou-se para Harry, que percebeu imediatamente que a amiga, como ele, registrara o que Malfoy dissera e ficara igualmente abatida.



— Joga mais um sapo para nós — disse Rony, que pelo jeito nada percebera.



 



– Às vezes eu bloqueio a maior parte das coisas que Malfoy diz. – Rony confessou – Ele gosta muito do som da própria voz, eu não compartilho do interesse… – completou arrancando algumas risadas.



 



Harry não podia falar com franqueza na frente de Neville e Luna. Trocou mais um olhar nervoso com Hermione, depois ficou olhando para fora da janela.



Achara engraçada a ideia de Sirius tê-lo acompanhado à estação, mas de repente achou-a irresponsável, se não positivamente perigosa... Hermione estava certa... Sirius não devia ter vindo. E se o Sr. Malfoy tivesse reparado no cão preto e comentasse com Draco? E se tivesse deduzido que os Weasley, Lupin, Tonks e Moody sabiam onde Sirius estava escondido? Ou será que o fato de Malfoy ter usado a palavra “cão” fora coincidência?



 



– Mesmo que eles tenham reparado em tudo isso, – Sirius disse, ligeiramente mais sério – não faz diferença! Os Weasley não estão mais morando na Toca, ir atrás de Arthur no ministério chamaria muita atenção, que eles não querem, ninguém sabe onde Remo e Moody moram e Tonks é uma auror, ir atrás dela também chamaria atenção demais.



    Por um segundo Tiago pensou em responder, mas apenas acenou para Frank continuar.



 



O tempo permaneceu indefinido à medida que rumavam sempre para o norte. A chuva salpicou as janelas de má vontade, depois o sol fez uma pálida aparição e logo as nuvens o encobriram. Quando anoiteceu e as luzes foram acesas nos carros, Luna enrolou O Pasquim, guardou-o cuidadosamente na mochila e passou a encarar, um a um, os colegas de cabine.



Harry estava sentado com a testa encostada na janela do trem, tentando captar um vislumbre distante de Hogwarts, mas era uma noite sem luar e a janela riscada de chuva estava suja.



— É melhor nos trocarmos — disse Hermione.



Ela e Rony prenderam no peito os distintivos de monitor. Harry viu Rony apreciando a própria imagem na janela escura.



Finalmente o trem começou a reduzir a velocidade e eles ouviram a zoeira que sempre havia quando os alunos corriam a preparar a bagagem e os animais de estimação para o desembarque. Como Rony e Hermione deviam supervisionar a movimentação, eles desapareceram da cabine, deixando para Harry e os outros cuidarem de Bichento e Píchi.



— Eu levo essa coruja, se você quiser — disse Luna a Harry, estendendo a mão para Píchi, enquanto Neville guardava Trevo cuidadosamente no bolso interno das vestes.



— Ah... hum... obrigado — disse o garoto, entregando-lhe a gaiola e erguendo Edwiges com mais firmeza nos braços.



 



– Ela parece ser uma boa menina mesmo. – Lily disse com um meio sorriso – Ela não precisava oferecer ajuda, ainda mais depois de se sentir ofendida pelo que Hermione falou da revista do pai dela…



– Luna não é o tipo de pessoa que guarda ressentimentos. – Gina disse sorrindo com carinho ao se lembrar da amiga – Ela tem um bom coração.



– Gina… – Hermione começou a dizer, mas foi imediatamente interrompida por Remo.



– Pelo que sabemos Gina pode estar se referindo a qualquer coisa que aconteceu durante os três anos anteriores. – ele disse encolhendo os ombros – Não acho que saber que alguém tem bom coração interfira de alguma forma com o modo como entendemos a história…



 



O grupo saiu lentamente da cabine, sentindo o primeiro impacto do ar noturno em seus rostos ao engrossarem a confusão de alunos no corredor. Aos poucos, foram se deslocando para as portas. Harry sentiu o cheiro dos pinheiros que ladeavam a trilha até o lago. Desceu para a plataforma e olhou ao redor, procurando ouvir a chamada familiar de “alunos do primeiro ano aqui... primeiro ano...”



Mas a chamada não veio. Em vez disso, uma voz bem diferente, uma voz feminina enérgica gritava: “Alunos do primeiro ano façam fila aqui, por favor! Todos os alunos de primeiro ano para cá!”



 



– Voz feminina? – Alice perguntou, confusa – Mas o que aconteceu com Hagrid?



– Ele pode ter se machucado de alguma forma... – Remo disse, balançando as pernas preocupado – Tenho certeza de que Dumbledore mandou ele atrás dos gigantes…



– Talvez ele não tenha se machucado, – Tiago disse tentando esconder o nervosismo – talvez ele apenas não tenha voltado ainda…



– Mas ele foi atrás dos gigantes meses antes disso! – Lily exclamou alarmada.



– Talvez ele tenha conseguido formar uma aliança com os gigantes e por isso não voltou… – Sirius disse, pensativo – Ele pode estar com os gigantes, tentando mostrar que os bruxos não são ruins…



– Existem inúmeras possibilidades. – Tiago afirmou, categórico – Mas só vamos saber o que aconteceu de verdade, lendo.



 



Uma lanterna veio balançando em direção a Harry, e, à sua luz o garoto viu o queixo proeminente e o severo corte dos cabelos da Profª Grubbly-Plank, a bruxa que assumira o Trato das Criaturas Mágicas no lugar de Hagrid, por uns tempos, no ano anterior.



— Onde está Hagrid? — perguntou ele em voz alta.



— Não sei — disse Gina — mas é melhor a gente sair do caminho, estamos bloqueando a porta.



— Ah, é...



Harry e Gina se separaram enquanto caminhavam pela plataforma para se afastar da estação. Empurrado pela aglomeração de alunos, Harry procurou divisar, no escuro, um relance de Hagrid; ele tinha de estar ali, contara com isso – rever Hagrid era uma das coisas que mais desejara. Mas não havia sinal do amigo.



 



– Se Hagrid estivesse em Hogwarts, Grubbly-Plank não estaria. – Sirius afirmou – Ainda mais realizando uma das tarefas favoritas de Hagrid… Todo mundo sabe como ele gosta de ser quem mostra Hogwarts pela primeira vez para os alunos do primeiro ano…



– Ele pode estar machucado, pode estar se recuperando na ala hospitalar… – Alice disse, temerosa.



– Eu realmente não queria ser obrigado a dizer isso, – Tiago disse com um suspiro pesaroso – mas se Hagrid se machucou a ponto de precisarem chamar a Grubbly-Plank, então ele não conseguiria voltar para Hogwarts… Temos que lembrar que ele é muito mais resistente do que o resto de nós…



– Mas Maxime estava com ele, – Lily suspirou – se Hagrid se machucasse, ela poderia trazê-lo de volta e...



– Isso são apenas conjecturas… – Remo a interrompeu – Temos que parar de tentar imaginar o que pode ter acontecido nesse caso… Pelo menos até termos alguma pista concreta.



 



Ele não pode ter ido embora, disse Harry a si mesmo enquanto avançava lentamente pelo estreito portal da saída, para se juntar aos outros na rua. Vai ver apanhou uma gripe ou outra coisa qualquer...



 



– Hagrid nunca abandonaria Hogwarts… – Sirius afirmou, categórico – Pelo menos não por vontade própria.



– E eu dúvido muito que uma gripe possa derrubá-lo. – Remo disse com um suspiro pesado.



 



Ele procurou Rony ou Hermione com os olhos, querendo saber o que pensavam da reaparição da Profª Grubbly-Plank, mas nenhum dos dois estava por perto. Então ele se deixou impelir para a estrada escura e lavada de chuva, à saída da Estação de Hogsmeade.



Se encontravam aguardando mais ou menos cem carruagens, sem cavalos, que sempre levavam os alunos mais adiantados até o castelo. Harry deu uma olhada rápida, afastou-se um pouco para vigiar a chegada dos amigos, então deu uma segunda olhada.



As carruagens não eram mais sem cavalos. Havia animais parados entre os varais dos carros. Se precisasse designá-los por algum nome, ele supunha que os teria chamado de cavalos, embora possuíssem alguma coisa reptiliana também. Eram completamente descarnados, com os couros negros colados ao esqueleto, no qual cada osso era visível. As cabeças semelhavam a de dragões, e os olhos, sem pupilas, eram brancos e fixos. Da junção das espáduas saíam asas – imensas e negras, coriáceas, que pareciam pertencer a morcegos gigantes. Imóveis e quietos na escuridão, os bichos eram estranhos e sinistros.



 



– Então agora Harry consegue ver testrálios. – Tiago disse balançando a cabeça, pesaroso – Você finalmente tinha assimilado a morte de Cedrico…



– Eu preferia que você nunca fosse capaz de ver testrálios. – Lily disse segurando a mão de Harry com carinho.



– Então é assim que testrálios se parecem? – Alice perguntou com uma mistura de curiosidade e pesar.



– É uma descrição muito boa. – Tiago afirmou com um suspiro.



– Então você também consegue vê-los? – Harry perguntou virando-se para Tiago.



– Desde o meu primeiro dia em Hogwarts… – Tiago deu de ombros – Você se lembra da história que contei a vocês sobre o outro elfo doméstico da minha família? Aquele a quem inadvertidamente dei roupas? – depois que a maior parte dos presentes confirmou com a cabeça, Tiago continuou – Eu vi ele se matando… Eu era novo, mas já tinha alguma compreensão sobre o que é a morte, e a morte dele me abalou profundamente…



– Sinto muito. – Lily disse apertando o braço de Tiago em solidariedade.



– Quando Tiago disse que conseguia ver algo que nós não conseguimos, ficamos completamente fascinados por essas criaturas. – Remo contou – Então fomos até Hagrid e ele nos explicou sobre testrálios e como é raro que estudantes consigam vê-los.



– Eu também consigo vê-los desde o primeiro ano. – Neville revelou chamando a atenção de todos – Mas não sabia que estava vendo algo que o resto das pessoas não via até o nosso terceiro ano, quando ouvi um garoto do primeiro ano perguntando para um monitor como as carruagens conseguiam andar sem cavalos…



– E quem você viu morrer? – Alice perguntou apertando o braço de Neville com força.



– Meu avô. – Neville afirmou, e tanto Frank quanto Alice sabiam que ele só podia estar se referindo ao pai de Alice, já que o pai de Frank já havia morrido.



– Quantos anos você tinha? – Frank perguntou apertando o ombro de Neville com carinho.



– 10… Foi pouco antes de receber minha carta de Hogwarts. – Neville suspirou com a lembrança – Minha avó sempre me levava para visitá-lo… Ele morreu dormindo… Sinto muito. – completou para Alice.



– Tudo bem… – Alice disse esfregando os olhos para impedi-los de formar lágrimas – Pelo menos ele já estava bem velho quando morreu… Pelo menos você conseguiu conhecê-lo…



 



Harry não conseguia entender por que as carruagens seriam puxadas por esses cavalos horrorosos quando eram perfeitamente capazes de se mover sozinhas.



— Cadê o Píchi? — indagou a voz de Rony logo atrás de Harry.



— A Luna vem trazendo ele aí — disse Harry, virando-se depressa, ansioso para consultar o amigo sobre Hagrid. — Onde é que você acha que...



—... o Hagrid está? Não sei — disse Rony, parecendo preocupado. — Tomara que esteja bem...



A uma pequena distância, Draco Malfoy seguido por um pequeno grupo de comparsas, inclusive Crabbe, Goyle e Pansy Parkinson, afastava do caminho alguns alunos de segundo ano, de ar tímido, para poderem apanhar uma carruagem. Segundos depois, Hermione emergiu ofegante da multidão.



— Malfoy estava agindo de maneira absolutamente revoltante com um garoto de primeiro ano lá atrás. Juro que vou dar parte dele; ele só está usando o distintivo há três minutos e já está abusando mais do que nunca das pessoas... onde está o Bichento?



 



– Não acho que possamos esperar outra coisa de Draco… – Sirius disse balançando a cabeça, pesaroso – Ele realmente não sabe agir de outra forma…



– Isso não justifica a maneira como ele age. – Lily disse, categórica.



– Não justifica. – Sirius concordou – Mas ele ainda não sabe nada sobre o mundo… Gosto de pensar que ele tem uma chance. – Sirius completou, sem querer, estava pensando mais em Régulo do que em Draco, e em como, por hora, Régulo ainda poderia ter uma salvação.



– Eu entendo. – Lily suspirou olhando de soslaio para Severo, que a encarou de volta – Eu realmente entendo.



 



— Está com a Gina — disse Harry. — Olhe ela ali...



Gina acabara de surgir do ajuntamento, segurando um Bichento que esperneava.



— Obrigada — disse Hermione, substituindo Gina na tarefa. — Vamos logo, vamos pegar uma carruagem juntos, antes que lotem todas...



— Ainda não apanhei Píchi! — disse Rony, mas Hermione já ia se adiantando em direção à carruagem desocupada mais próxima.



Harry ficou para trás com Rony.



— Que é que você acha que são essas coisas? — perguntou Harry, indicando com a cabeça os horrendos cavalos, enquanto os outros alunos passavam por eles em bando.



— Que coisas?



— Esses cavalos...



Luna apareceu segurando a gaiola de Píchi nos braços; a corujinha pipilava excitada, como de costume.



— Pronto, aqui está — disse ela. — É uma corujinha bem simpática, não?



— Hum... é... ela é legal — disse Rony com maus modos. — Bem, vamos então, vamos entrar... que é que você estava dizendo, Harry?



— Eu estava perguntando que bichos horríveis são esses que parecem cavalos? — e continuou andando com Rony e Luna para a carruagem em que Hermione e Gina já estavam sentadas.



— Que bichos que parecem cavalos?



— Esses bichos que estão puxando as carruagens! — disse Harry impaciente.



Afinal, eles estavam a menos de um metro do mais próximo; e o bicho os observava com aqueles olhos brancos e fixos. Rony, no entanto, se virou para Harry com um ar perplexo.



— Do que é que você está falando?



— Estou falando daquilo... olhe!



 



– Eu sei como você se sentiu. – Lily disse com um suspiro pesaroso – Foi o mesmo quando os vi pela primeira vez, e ninguém sabia do que eu estava falando.



– Então você também vê os testrálios? – Harry perguntou, interessado, nunca soube nenhuma dessas coisas sobre os pais.



– Infelizmente… – Lily disse balançando a cabeça – Quando recebi o distintivo de monitora antes do quinto ano meus pais ficaram muito orgulhosos, é como Hermione disse, monitoria é uma coisa que eles conseguem entender… Então eles me levaram à praia, para comemorar, é claro que Petúnia não quis ir… – continuou, revirando os olhos – Enquanto estávamos na praia vi uma mulher se afogar... O salva-vidas até conseguiu tirar ela da água, mas ela tinha engolido água demais... Eu também tomei um verdadeiro choque ao chegar em Hogwarts depois disso e dar de cara com os testrálios… Mas pouco depois os estudamos em Trato das Criaturas Mágicas e entendi o que estava acontecendo.



– Mais alguém aqui consegue vê-los? – Remo perguntou olhando em volta com curiosidade, Frank, Alice, Severo e Sirius balançaram a cabeça negativamente – Eu também não. – completou e levantou as sobrancelhas para Hermione, Rony e Gina.



– Você sabe que nós não podemos revelar isso. – Hermione afirmou – Mas posso te dar certeza de que nesse momento do livro, nós não conseguimos.



 



Harry agarrou Rony pelo braço e girou seu corpo de modo a obrigá-lo a ficar cara a cara com o cavalo alado. Rony olhou direto para o cavalo durante um segundo, depois tornou a olhar para Harry.



— Para o que é que eu devo olhar?



— Para... ali, entre os varais! Atrelados à carruagem! Bem ali na frente...



Mas, como Rony continuava a parecer confuso, ocorreu a Harry um estranho pensamento.



— Você... você não está vendo nada?



— Vendo o quê?



— Você não está vendo a coisa que está puxando a carruagem?



Rony agora começou a se assustar seriamente.



— Você está bem, Harry?



— Eu... é...



Harry sentiu-se completamente desnorteado. O cavalo estava ali, diante dele, um sólido reluzente à luz que vinha da janela da estação às costas deles, o vapor saía de suas narinas no ar frio da noite. No entanto, a não ser que Rony estivesse fingindo – e se estivesse seria uma brincadeira muito sem graça – ele não estava vendo nada.



— Vamos entrar, então? — convidou Rony hesitante, olhando para Harry como se estivesse preocupado com o amigo.



 



– É claro que eu fiquei preocupado. – Rony revelou – Depois de tudo o que aconteceu no ano anterior, de repente você estava vendo coisas que não estavam ali…



– Rony veio falar comigo sobre isso depois… – Hermione contou – Mas eu também não sabia que os testrálios puxavam as carruagens então passamos um bom tempo vigiando as reações de Harry a tudo o que acontecia e pensando se devíamos ir atrás do diretor…



– E você tem a terrível mania de só acreditar nas coisas que você consegue ver. – Gina disse, levantando uma sobrancelha para Hermione.



– Talvez eu realmente tenha dificuldade em acreditar em coisas que eu não consigo confirmar pessoalmente. – Hermione admitiu, constrangida.



– Você devia acreditar um pouco mais no extraordinário. – Alice disse a Hermione com um sorriso bondoso – Afinal, você passou os onze primeiros anos da sua vida acreditando que nosso mundo não existia… Milhares de outras coisas podem existir fora do que nós podemos enxergar… Essa é a beleza da magia.



– Alice tem razão. – Tiago disse, ligeiramente surpreso – Seria muita prepotência nossa pensar que conhecemos todos os segredos do mundo só porque somos bruxos.



 



— É — disse Harry. — É, entre...



— Está tudo bem — disse uma voz sonhadora ao lado de Harry, quando Rony desapareceu no interior escuro da carruagem. — Você não está ficando maluco nem nada. Eu também vejo.



— Vê? — exclamou desesperado, virando-se para Luna.



Ele via os cavalos de asas de morcegos refletidos nos grandes olhos prateados da garota.



— Ah, vejo. Sempre os vi, desde o meu primeiro dia de escola. Eles sempre puxaram as carruagens. Não se preocupe. Você é tão normal quanto eu.



Sorrindo suavemente, ela entrou no interior mofado da carruagem. Harry a acompanhou, mas nem tão tranquilo assim.



 



– Acho que depois de tudo o que vimos sobre ela, isso realmente não é muito tranquilizador… – Remo lamentou – Ainda mais por ela ter dito a Harry que os testrálios sempre estiveram ali, ele apenas não tinha a capacidade de vê-los antes…



– Eu realmente pensei que estava ficando louco. – Harry admitiu enquanto Frank passava o livro para Rony, que o abriu no capítulo seguinte:



– Capítulo XI – A nova canção do Chapéu Seletor.





Hey leitores mais queridos do FeB! Sei que tenho demorado muito para postar ultimamente, mas é como falei para vocês, não tenho mais capítulos adiantados, por isso estou postando sempre que acabo de escrever um capítulo. Pretendo conseguir adiantar alguns e voltar a postar regularmente, mas ainda não tenho qualquer previsão de quando vou conseguir, então só posso pedir a vocês que continuem por aqui! 

- Flaa: Que bom que gostou! ;)

- Evelyne: Que bom que gostou! Espero que as reações dos marotos à Luna tenham te agradado!

- MatheusMD: Sei bem como é querer conhecer a história toda o mais rápido possível! Eu realmente gostaria de conseguir escrever e postar mais rapidamente, mas por hora, só espero que você continue por aqui! 

- Juhh Potter Malfoy: Muito obrigada por todo o apoio, significa muito para mim! Eu tive mesmo muitos problemas nos últimos tempos, mas as coisas já estão melhorando por aqui, já estou mais animada e logo vou voltar a ter tempo para escrever! Eu sempre gosto de saber que ajudo as pessoas a verem HP de um jeito diferente, acreditem, vocês também me ajudam a ver a história de uma nova forma. Eu acho que Lily e Tiago ainda precisam de um pouco mais tempo antes de demonstrarem seus sentimentos. Lily já sabe que sente algo por ele, ele sempre soube que sente algo por ela, mas os dois ainda precisam passar por algumas coisas... Eu também estou gostando muito de repostar no novo site. Está me dando a oportunidade de rever a história e lembrar de várias coisas que já passaram. Obrigada por estar sempre por aqui!

- Carolina Black: Eu gosto muito da Sra. Weasley, acho maravilhosa a atitude dela de cuidar de Harry como ela cuida dos próprios filhos e tudo mais, mas ela não se esforça para deixar "todos" mais confortáveis. Ela está sempre tratando Sirius mal, mesmo sabendo que tudo o que ouviu sobre ele era mentira, e isso sempre me faz ficar irritada com ela... 



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Comentários (13)

  • MionGinnyLuna

    Heeey Juu! Não abandonei, é que mey FB tá dando problema e eu esqueci a senha do facebook! Mas voltei agora! Enfim, essa fic já me deu muitos problemas cardiacos, emocionais e psicológicos, mas a gente supera, pq ela é perfeita! Amo a Luna, coisa linda do meu coração! Eu reli todas as fics anteriores, de saudade que eu tava dessa aqui! E eu reparei uma coisa: você disse que a Alice gostava de Herbologia no capítulo O Alçapão, da 1a fic, mas aqui vc diz que ela não entende disso! Ou eu q entendi errado o que vc quis dizer, slá. Ahhh, Harry, coisa fofa, não se preocupe, vc n é louco! Sabe o que eu acho? Acho que a escola inteira, especialmete o Malfoy, já teve uma queda pelo Harry. Ele é muito fofo, lindo, e adorável, além disso ele é sarcastico e famoso, receita de bolo para crushs! Bjos, Juu, e arrase!

    2016-12-17
  • Julia Angelini

    OOOOOOOOI!!!!!!!! Quanto tempo! Primeiramente, sorry :( eu não comentei muito porque tiveram umas tretas aí de família + escola + ENEM + preguiça, aí já viu. Eu nem lembro o que você me perguntou da última vez que eu comentei, então vou só falar sobre os capítulos que eu lembro aqui.ELA MESMA LUNA LOVEGOOD MELLO!! Uma das minhas felicidades desse livro <3 Que por acaso é meu preferido, olha lá. Outra coisa legal é a Armada, AAAAAAAAAAAAAA. Além disso, eu tinha esquecido como eu tava ansiosa pra você falar de testrálios. São minha criatura favorita depois do Thunderbird. Falando em Thundebird... AFEOH... O que foi aquilo?... To pasma até agora.E nessa fanfic ainda vai ter o primeiro beijo do Harry e eu só quero ver a reação de Jily, que já sabe de Hinny e tal. Espero que você não desista daqui, a fanfic vai demorar pra terminar ainda mas ainda tem taaaaaaaaanta coisa que eu quero ler <3 E você tem o talento pra escrever essas coisas. Toda semana eu venho aqui ver se teve atualização, e se tem, a minha semana muda completamente.Até o próximo :*

    2016-11-21
  • MatheusMD

    ótimo cap ... Cheguei na floreios a muitos anos e esse tipo de fic me faz continuar. Parabéns, continue.

    2016-11-15
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