You got to be strong.



Ele olhou para o seu malão. Sabia que em alguns minutos sua mãe gritaria seu nome para que descesse, para que comesse, para que... E ela gritou seu nome. Ele olhou para a porta e depois para o malão novamente. Não via a hora de sair daquela casa, só esperava ser escolhido para o lugar certo, encontrar as pessoas certas, fazer as coisas certas, mas... Será que era ele quem queria isso? Ele esfregou os olhos. Era ele sim, devia assumir para si mesmo que não passava de um sangue-puro arrogante que aprendia a matar gatos em aulas particulares com seu tio, Cygnus, seu irmão mais novo e sua prima. Mas ele realmente gostava disso? Se lembrou da primeira vez que isso aconteceu. Seu tio queria demonstrar algumas coisas que sabia e... Como ele iria para a escola em um ano, ele concordou, mas quando ele viu o jato de luz verde saindo da varinha de sua prima e acertar o pobre gato, ele sentiu vontade de vomitar, sentiu vontade que o feitiço recocheteasse na garota. Seu irmão se sentiu incomodado, mas permaneceu ali... O que de errado havia com essas pessoas? Quando as demonstrações de horror acabaram, ele se retirou, foi ao banheiro e vomitou. Mas agora... E se ele decepcionasse os pais, os tios, os primos? Esfregou novamente os olhos, pegou o malão pesado e desceu as escadas.

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"Pra que preciso ir para esse lugar?", ele pensou, e quem era aquele homem esquisito? Ele quase nunca saía de casa, não conhecia muitas pessoas, mas aquele homem era esquisito. "Eles vão me mandar embora para morrer sozinho? O que eu vou comer?". Em sua casa ele tinha as melhores carnes, as mais estranhas, as mais desejadas por seu estômago e se fosse embora... O que iria acontecer? Se sentiu traído, abandonado, mas então o homem esquisito entrou em seu quarto. O malão jogado no chão, as roupas espalhadas. Ele não quis encarar o homem, mas o homem se aproximou, sentou ao seu lado e passou a mão bondosamente sobre seu cabelo.

- Não precisa ficar preocupado, - disse o homem - vejo em você um potencial que não vejo em ninguém há muito tempo e saiba... Você não vai ser mandado para a morte.

O garoto encarou o homem. A barba muito grande, branca... Ele parecia uma boa pessoa, mas para que levar ele embora? O homem havia lido seus pensamentos? Ele sabia que isso era possível, mas... Por que ler sua mente?

- Eu não quero ir.

O homem sorriu.

- Mas eu já preparei tudo... Eu fiz uma casa, plantei uma árvore e tenho algumas poções também... Não são nem de longe parecidas com a que você realmente precisa, mas ajudam... E todas essas coisas que eu fiz,foi para te proteger, não há perigo algum.
- E... - O garoto começou a falar constragido - Tem quais tipos de carne nessa casa?

O homem riu.

- Uma infinita variedade.

O garoto se levantou rapidamente e começou a colocar as coisas dentro do malão.

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Já estavam na estação esperando o trem chegar, preferiram chegar antes de todo mundo para acomodar seu filho em um dos melhores lugares do trem, longe de sangues ruins, mestiços e de qualquer aluno da Corvinal. O garoto olhou os pais, olhou o irmão, as primas. Uma delas o fazia se sentir seguro, o olhava de longe. Ele sorriu para ela e ela sorriu para ele. Talvez uma das únicas pessoas de quem ele gostava em sua família. Então eles não eram mais as únicas pessoas na plataforma, havia outras três. Um casal e um garoto. Um garoto loiro, com as roupas remendadas, tinha cizatrizes na face e parecia muito, muito tímido e dependente de seus pais, porque chorava muito e dizia que havia se arrependido de aceitar tal proposta daquele homem. Ele não conseguia parar de olhar o garoto, mas uma risada feia fez ele voltar para a terra. Era sua prima maluca, rindo do garoto. Ele não gostou daquilo, mas não disse nada.

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Ele percebeu que estava sendo observado e aquilo não foi agradável. Ele olhou para o garoto do outro lado da plataforma, bem vestido, ar de arrogante, mas muito bonito. "O que ele tanto olha para mim? Minhas roupas não são das melhores, mas pelo menos são limpas...". E então, ele olhou para a garota mais velha e viu que ela ria dele. Ele se virou para o seu pai.

- Eu não quero ir, pai. Eles vão rir... Na verdade, já estão rindo. Olha só...

Seu pai olhou para aquelas pessoas e sorriu.

- Esse tipo de gente não gosta de nós... - O pai abaixou o corpo na altura do garoto. Como ele explicaria uma coisa tão complicada para uma criança? Resolveu resumir - Nos chamam de traídores de sangue. 

O garoto olhou para sua mãe, sabia que ela não conseguia fazer mágica alguma ao não ser a mágica de preparar carnes. Ela sorriu e ele se sentiu melhor. Não ligava para o sangue, só ligava para o amor de sua família. Mas o garoto não parava de olhar para ele. Então o garoto sorriu e ele olhou para o chão, se virou e abraçou os pais, fez promessas de escrever e ouviu promessas de que receberia cartas. Seria legal ver sua mãe colocando uma carta na pata de uma coruja. Ele entrou no trem.

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A plataforma estava cheia de pessoas, animais, vassouras e toda a espécie de roupas e de sangue. A garota entrou primeiro no trem e ele esperou um pouco, para despista-la. Seu plano funcionou e ele achou uma cabine em que se encontrava um garoto de óculos que lia um livro sobre quadribol.

- Posso ficar aqui? - Perguntou ele constrangido.

O garoto de óculos ergueu a cabeça.

- Pode entrar.
- Obrigado.

Alguns minutos depois, o garoto da plataforma apareceu no vidro da cabine e quando viu que ele estava sentado lá, saiu do corredor para procurar outro lugar. Ele se levantou e foi atrás do garoto.

- Oi! - Ele disse, o garoto não se virou, mas parou de andar - Vi você na plataforma... Você está melhor? - O garoto não disse nada - Meu nome é Sirius... - E Sirius esperou a resposta, mas ela não veio - Você quer ficar aqui com a gente?
- Acho melhor não, mas obrigado pelo convite. - O garoto disse, mas não se virou.
- Fico feliz que não tenha perdido a voz...
- Sua irmã estava rindo de mim na outra cabine.
- Não é minha irmã... É minha prima.

O garoto se virou, Sirius ficou muito feliz com isso.

- Por que não riu de mim quando teve oportunidade?
- Porque não tenho motivos para rir de você.
- Tem... Eu sou mestiço... Meu pai é, como é que vocês chamam mesmo? Traídor do sangue.
- Eu não ligo para essas coisas, garoto mestiço. A única coisa que me incomodou foi ver você chorando tanto... Por que chorou tanto?
- Não é da sua conta.

"Eu não vou desistir na primeira queda...", Sirius pensou.

- Eu sei que não... Se não quiser responder, tudo bem, não tem problema, mas... Ter que procurar uma outra cabine porque minha prima idiota estava rindo de você... Fique aqui com a gente.

O garoto não respondeu, entrou na cabine e se sentou no outro banco. Pegou um livro enorme e abriu. Sirius se sentou ao lado do garoto de óculos e olhou a capa do livro que o outro estava lendo. Não conseguiu entender bem, mas parecia ser sobre Poltergeists.

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