O aniversário do Gui
Por volta do meio-dia, o Departamento de Jogos Mágicos estava em alvoroço. Com a Copa Mundial de Quadribol aproximando-se, podia-se perceber uma atmosfera tensa em todo o Ministério. Costumeiramente, cada Departamento tratava de seus assuntos sem muitos problemas, mas durante a Copa existia um esforço em conjunto para que os trouxas não percebessem nada.
Rebeca estava sentada em sua mesa, escrevendo compulsoriamente cartas aos ministros e às seleções internacionais, certificando-se de que todas as medidas para ocultar a Copa já haviam sido tomadas. As corujas apresentavam-se à medida que percebiam que ela terminara de escrever uma carta, no esforço de mostrarem-se melhores que as outras.
– Leve esta ao boticário[1] e volte para mim com o remédio, está bem? Estou com uma dor de cabeça horrível... – comentou, amarrando o pergaminho na perna da coruja junto à um pequeno saquinho com duas moedas em seu interior. Esta piou, confirmando que entendera, e bateu as asas, sumindo pela janela.
A jovem inclinou-se novamente, preparando-se para voltar ao trabalho quando as demais corujas se agitaram, abrindo as asas e piando, irritadas. Em seguida houve um farfalhar de asas e uma coruja malhada de marrom e branco atravessou a janela, pousando sobre o pequeno poleiro sobre a mesa. A coruja fitou Rebeca e passou a aprumar-se com o bico sem pressa, ignorando completamente as demais que esperavam por sua vez. A morena ergueu o rosto e a olhou: Era Cherry, sua coruja. Na perna direita trazia um pequeno pergaminho, amarrado com barbante de cozinha.
Cherry havia sido um ‘presente’ do pai de Rebeca, assim que completara 11 anos. A pequena coruja aparecera na residência dos Loover durante o final verão, mancando sob a perna direita, com penugem de filhote. Provavelmente havia se perdido da mãe ou ficado órfã visto que aquela era temporada de caça no mundo trouxa. Sem escolhas, Jhon deixou que a filha ficasse com a ave. Não demorou e as duas se tornaram grandes amigas. No primeiro ano de Hogwarts, Cherry ficava solta sobre a cama da dona, visto que sem mãe ainda não havia aprendido a voar. Pouco tempo depois, Hagrid a levou para o Corujal onde, observando as mais velhas, a pequena ave aprendeu a alçar vôo.
Becky afagou a cabeça da coruja, que bicou seu dedo delicadamente, demonstrando carinho pela dona. A morena sorriu e apanhou o pequeno pedaço de pergaminho. O papel estava levemente sujo de farinha, onde Fleur havia escrito um curto bilhete apressado:
“Becky,
Estamos te esperando para o aniversário do Gui hoje. Será uma festa para toda a família – bem, ao menos acho que ninguém faltará – e preciso da sua ajuda. As crianças estão eufóricas aqui e Victoire não me deixa assar as tortinhas. Rony veio ajudar, mas desde que chegou está no sofá da sala jogando xadrez bruxo com Hugo, e Rosa está lá fora com Victoire, jogando pedras em uma ave exótica que Carlinhos trouxe para ela de presente. Estou as vendo da janela da cozinha do Chalé.
Ah, droga! Não sabe o que aconteceu. A ave foi embora. Ela foi embora. Rosa está chorando agora.
Victoire disse que vai enfeitar o túmulo de Dobby com conchas. Será que isso é uma boa ideia? Por favor, você poderia vir me ajudar como no ano passado?
Ps.: Hermione já está a caminho. Por favor, traga cinco caixas de cerveja amanteigada. Eu despachei o Gui à Hogsmeade com uma lista de compras, mas sei que ele vai esquecer. Ele sempre esquece a cerveja amanteigada.
Com carinho, Fleur.”
Um sorriso bobo apareceu nos lábios de Rebeca. Se tinha uma coisa da qual gostava, eram das festas Weasley: todas sempre muito alegres, divertidas e imprevisíveis. Imediatamente a moça apanhou um pergaminho novo e, molhando a ponta da pena de águia, escreveu:
“Fleur,
Estarei aí em duas horas. Estou levando a cerveja e sapos de chocolate, para as crianças. Peça à Hermione que faça aquela receita deliciosa de panquecas sem açúcar para o lanche, ajudará a acalmar os meninos enquanto eu não chego.
Até breve,
Becky.”
Em seguida a bruxa atou o pergaminho à perna da coruja, que agora olhava com desdém para as outras.
– Cherry, leve esta carta para Fleur. Você pode ficar lá, eu irei para lá mais tarde. Tudo bem? – perguntou, afagando a cabeça da ave. A corujinha malhada piou, confirmando que entendera. Então agitou as asas e alçou vôo.
***
O Chalé das Conchas estava em alvoroço: por toda parte podiam-se ver cabeças ruivas – grandes ou pequenas – correndo para todos os lados. O senhor Weasley montava uma enorme tenda sobre as pedras miúdas que se estendiam por toda a costa e Molly, sua esposa, ajudava Gina a pendurar os enfeites. A morena agitou a varinha, fazendo as caixas de bebida que trazia flutuarem para dentro do Chalé e as seguiu.
O interior do Chalé exalava todo tipo de aromas típicos de uma festa Weasley: haviam tortas de abóboras, chás de frutas, salgadinhos de queixo e cones coloridos. Em um canto da sala, Hugo, Rosa e Victoire – a filha de Gui e Fleur – observavam, entediadas, os adultos correrem de um lado para o outro.
– Tia Becky! – as crianças gritaram, em uníssono. Rebeca só teve tempo para ver duas cabeças ruivas e uma platinada correndo em sua direção. Em seguida sentiu os bracinhos delas em suas pernas, fazendo-a rir.
– Meu amores! – respondeu, abaixando-se para abraça-los – Titia estava com saudade. Vocês se comportaram? – perguntou, depositando um beijo estalado na bochecha de cada um.
– Eu me comportei! – a primeira a falar foi Victoire, erguendo seu dedinho indicador pálido. A menina tinha quase sete anos e cabelos muito louros, que contrastavam com seus enormes olhos castanhos. Às vezes, Becky podia jurar que havia algo de veela nela também, assim como em sua mãe.
– Eu também! – interrompeu Rosa, sendo seguida por Hugo, que se contentou em bater palmas, extasiado. O menino ainda estava aprendendo a falar, mas já se mostrava tão esperto quanto a mãe, Hermione. A morena riu, aproximando-se dos meninos para confidenciar algo.
– Titia trouxe sapos de chocolates para vocês. Por que não vão se sentar para abri-los? – perguntou, entregando aos meninos uma sacola colorida, repleta de doces. As crianças gritaram e saíram em disparada pela casa, passando por baixo dos braços de Rony, que agora voltava dos fundos com uma pilha de pratos. Hermione vinha logo atrás, carregando dois sacos de copos descartáveis vermelhos.
– Becky! – chamou, aproximando-se para abraçar a amiga – Que bom que chegou! Eu falei com o Rony que deveríamos ter te consultado, mas ele não me ouviu.
– Eu não podia fazer nada. Ele quis vir e Gui é amigo dele também. Não me envolva nessa história! – o ruivo defendeu-se antes que Rebeca pudesse lhe perguntar o que estava acontecendo. Mais rápido ainda Rony sumiu, levando os pratos até a tenda montada no lado exterior.
Hermione o fitou, arqueando as sobrancelhas como sempre fazia quando não aprovava uma situação. A morena observou Rony se afastar, voltando a olhar a amiga em seguida. Mas antes que pudesse perguntar o que estava acontecendo, Fleur surgiu, limpando as mãos em um pano de prato.
– Bécccky! Que bom que chégou. E obrrrigada pelos sapos, Victoire está obcecada em encontrrrar a figurrrinha com Dumblédoure.– comentou, observando as crianças tentarem apanhar um sapo que agora pulava pela mesinha de centro. Dos três, Hugo é que o parecia mais empolgado, soltando gargalhadas contagiosas a cada sapo novo que as meninas mais velhas abriam.
Rebeca sorriu, mas antes que pudesse responder foi interrompida novamente.
– Viu onde o Harry foi? Pedi a ele que buscasse as cadeirrras lá trás, mas ele sumiu e… Oh, aí está você! Harry, se importarrria em ajudar Jorge a levar as cadeirrras lá para fora?
Fleur arqueou as sobrancelhas, como se estivesse impaciente por uma resposta. Hermione levou a mão à testa, em um gesto típico de quem se arrependera de algo. No primeiro momento, Rebeca ficou parada, pestanejando sem entender. No segundo seguinte lhe veio o entendimento: eles não estavam olhando para ela. Estavam olhando para alguém que estava atrás dela. A morena virou-se devagar: e foi aí que o viu.
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