Alvo e Isobel



– EI GALERA, LEVANTEM!


Alvo acordou assustado. Sentia como se tivesse acabado de fechar os olhos quando ouviu a voz de Roxanne. Olhou para o lado e vira Fred ainda roncando, mas Tiago já estava sentado, porém, ainda bocejando.


Somente depois de Roxanne derrubar a água de um vaso de flores da janela na cara de Fred, ele concordou que poderia pensar em sair da cama, de modo que depois de mais ou menos meia hora os garotos desciam a escada de madeira lustrosa até o primeiro andar, já devidamente prontos.


Quando chegaram no salão próximo a cozinha, todos os primos e a maioria dos adultos da família Weasley-Potter estavam reunidos na enorme mesa (Harry e Gina não estavam ali).


– Sentem-se e comam. Fiz um café especial hoje... – disse a avó Molly dando palminhas alegres.


Tiago apresentava uma feição destruída, naturalmente por que dormira muito pouco. Alvo fitava o vazio apático e somente mostrou algum sinal de vida quando Rosa, que estava em seu lado o cutucou, perguntando:


– O que foi, Al? Parece meio... Abatido - Alvo apenas negou, sorrindo levemente – Se você diz... - Rosa continuou, mais entusiasmada - Já são quase nove horas... O correio vai chegar a qualquer minuto!


É verdade... As cartas de Hogwarts chegariam hoje de manhã, segundo o senhor Slugorn. Alvo se sentia estranho. Queria estar feliz por receber a carta que o informaria que iria estudar na incrível Hogwarts, mas também sentia-se um pouco mole, espalhado como a fina camada de manteiga do seu pão. Apesar dele ter a impressão de que tudo aquilo não passava de um sonho, a conversa do seu pai com seus tios Hermione e Rony causava um efeito estranho de dilema atordoante. Alvo nada podia fazer sobre, mas sentia-se incomodado, calado, como se o choque daquelas informações tivesse a possibilidade de desaparecer com um sopro ou do nada as piores consequências se realizarem e ele não pode ver o pai por muito, muito tempo...


Harry acabara de chegar com Gina. Ele ia se sentar na mesa, mas a tia Fleur precipitou-se a levantar e conduzir o casal a uma mesinha encostada na parede mais a frente, com uma grande população de presentes encapados.


– Olhem todas as coisas que vocês ganharam, Hahy, Gina...


– O melhor presente já está comigo – disse Harry, dando um beijo na bochecha de Gina.


– O relógio...? – Gina quis saber.


– Aqui – Harry mostrou o pulso. Tinha relógio dourado com estrelinhas no lugar dos ponteiros, que se moviam ao redor do eixo de céu azulado –Foi o melhor presente de todos, meu amor...


– Sabia que ele ia gostar – não se conteve a avó Molly.


– E o seu, está aí? – perguntou Harry, sorrindo. Gina mostrou-lhe o anel de ouro com um diamante – na época do nosso casamento eu não tinha condições, mas agora...


– É lindo...


Os pais de Alvo abriram alguns outros presentes (livros, utilidades para casa, roupas, artigos de quadribol, vinhos, etc) e sorriram, riram, brincaram e se divertiram. Alvo os fitava, pensando fixamente sobre o que ouvira. Será que sua mãe sabia?


– Não vai comer, querido? – a senhora weasley empurrava a panqueca com mel para o neto – está uma delícia, prove... E pegue um pouco de suco de laranja, que tal?


Alvo mastigou rápido e tomou guti-guti.


– Pai...


Harry, que observava um cartão no qual um homem voava em uma vassoura.


– Diga, Al...?


Tiago olhou com uma expressão mortificada para o irmão. Alvo teve que evitar os pedidos mudos de “Não” dele e continuar.


– Eu quero falar uma coisa com o senhor.... Mas é só com o senhor – acrescentou com a voz mais baixinha.


Harry concordou, intrigado. Ele acompanhou o filho até a sala.


– Pai... – o garoto não sabia por onde começar... – Acontece que eu – Alvo não iria ferrar com o irmão, então iria omitir a participação dele na espionagem de ontem a noite – Eu...


– Al, você está nervoso com a carta, a escola... Eu sei


Alvo começou a formar a frase “Não pai, é que...”, mas Harry o interrompeu.


– Deixe eu lhe contar uma história, filho – Alvo calou-se, impaciente e um tanto irritado - Quando eu tinha onze anos, aliás, uns dias antes de completar onze eu recebi a carta de Hogwarts.


“Eu não sabia que a magia existia, entende? Eu morava com meus tios, por que seus avós tinham morrido quando eu tinha um ano. Tio Válter e tia Petúnia não tinham me contado nada sobre a magia, então até onze anos eu acreditei que era trouxa. Quando eu recebi a carta a minha vida mudou completamente. E olha que foi uma dificuldade para pegar essa carta da mão do meu tio... (Harry riu-se nesse momento). Aí Hagrid me levou para o Beco Diagonal, me ajudou comprar os materiais, eu entrei em Hogwarts... Foi tudo muito bom, mas... Eu sentia falta de algo. Sabe, Al... Estava faltando meus pais para me ajudar, me apoiar. Eu não tive muita gente para desabafar os medos. Eu ficava triste por isso, as vezes isso realmente me colocava pra baixo. Então, mesmo criança eu prometi.. Meus filhos vão ter um momento especial quando receberem a carta. Eu vou levar eles pra fazer compras, eu vou fazer desse o momento mais feliz que eles possam imaginar.Então, Al, não se preocupe... Pode contar comigo para desabafar, por que hoje eu vou garantir que você seja muito feliz.”


Alvo agora estava totalmente desarmado. Seu pai sorria-lhe, tão esperançoso... Não iria contar nada, esperaria outro momento, outra situação...


– AL! – Tiago entrou correndo na sala – chegaram!


Harry abriu um sorriso ainda maior. Alvo também sorriu. Tentou pôr um pouco a preocupação de lado...Afinal... A carta Chegou.


Muitas corujas estavam encarapitadas em uma espécie de poleiro pendurado no janelão da cozinha da avó Molly. Tiago estava fazendo carinho na sua coruja, uma linda coruja castanha-avermelhada (como os cabelos de Tiago) que ele tinha batizado de “Pepp”, em homenagem a um famoso jogador de quadribol. A maioria dos primos tinham uma carta nas mãos. Rosa, Roxanne e Dominique, porém, eram as mais visivelmente entusiasmadas.


Uma coruja-da-torre solitária na janela tinha ainda uma carta no bico. Ela virava a cabeça para um lado, para outro, num ângulo estranho, procurando o dono da carta.


– É a sua. Vai lá pegar! – encorajou a mãe de Alvo. O menino fez que sim.


A mão que pegou a carta estava trêmula. Ele não podia negar que estava ansioso. Tirou o lacre com excessivo cuidado, temendo que, durante a violação, rasgasse, destruísse, pulverizasse a prova mais cabal de que ele realmente iria daqui a 19 dias para aquele magnífico castelo. Ela tinha um Brasão com um leão, uma serpente, ao que parecia um texugo e uma águia ou falcão. Acima: HOGWARTS; abaixo: algum tipo de lema “Draco dormiens nunquam titilandus”.


Alvo virou para constatar se alguém o observava. Sim. Harry o fitava do balcão, com um sorriso saudoso escapando-lhe nos cantos dos lábios. Seus óculos redondos cintilavam para a luz da manhã que entrava pela janela. Quando ele notou que Alvo o fitava, ele formou as palavras mudas “Leia”.


O garoto retirou lentamente o papel do envelope. Obedeceu:


ESCOLA DE MAGIA E BRUXARIA HOGWARTS


Diretora: Minerva Mcgonagall


(Ordem de Merlin, Primeira Classe, Donatária do Priorado de Morgana, Membro glorioso, Confederação Internacional dos Bruxos)


Prezado Sr. Potter,


Temos a imensa honra de comunicar que V.sa. tem uma vaga na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Anexamos uma lista de livros e equipamentos que lhe serão necessários durante sua estadia na Escola. Alguns avisos sobre regras e condutas preliminares seguem anexos da mesma maneira.


Gostaríamos de informar que o ano letivo começa em 1º de setembro. Cabe-nos, ainda, esclarecer a V.Sa. que aguardamos sua resposta de confirmação, para âmbitos organizacionais. Pedimos perdão pelo atraso da entrega das cartas a todos os pais e responsáveis dos estudantes, e devido ao transtorno, estenderemos o prazo do envio da confirmação até o dia 26 de agosto.


Congratulações,


Aleph Ravus


Diretor substituto.


Quando Alvo leu as últimas palavras, sentiu-se assustado. Era o homem da loja, o baixinho de barba vermelha cacheada... O garoto tinha quase certeza de que ele sabia que ele e seu irmão tinham espionado a conversa no Antiquário do Elfo Thatcher. Era só o que faltava. O garoto já tinha arranjado problema com o vice-diretor de Hogwarts. Mas o seu pai estava encrencado com essa história de roubo...


Deveria ele contar ao pai sobre a conversa que ouvira no antiquário, correndo o risco de estar errado? O professor iria saber que quem tinha dado entre as línguas nos dentes na hora. Alvo seria ganharia a antipatia do professor pelo resto da vida... Mas se não contasse e ele fosse o culpado de fato? Estaria perdendo a chance de ajudar o pai em um momento difícil...


Alvo foi sentar-se na mesa, ignorando a conversa entusiasmada que explodia ao seu redor. Meditou, meditou... e decidiu-se.


Iria primeiramente confirmar a história, antes de falar alguma coisa. Ele não poderia acusar alguém sem provas. Não tinha falado isso para o quadro do diretor Finneus Black. Alvo iria arrumar algum jeito de descobrir do que se tratava aquela conversa no Antiquário... Mas como? Não importava. Quando chegar em Hogwarts iria grudar no professor, ficar bem próximo e assim ter algum tipo de informação... É isso.


– Mil Ervas e Fungos mágicos! – Alvo ouviu Rosa falando para sua mãe, a tia Hermione – do ... e Batilda Bagshot, com História da magia... Está vendo, mamãe? Eles não trocaram todos os livros!


– Mas esse Bebidas e Poções mágicas é da centésima quinquagésima sexta edição – respondeu a mãe - O que você estava lendo é o centésimo quadragésimo novo, filha... E esse “Feitiços: um guia preliminar para a expressão mais pura da magia” dessa tal Daliléia Sandermoore é totalmente novo para mim...


Alvo observava agora os primos conversando acerca dos materiais, etc. Ele ainda estava imerso no pensamento sobre o vice-diretor Ravus até que Tiago se dirigiu ao garoto, à baixas vozes e cautelas segredantes.


– Alvo, você por acaso falou pro papai que a gente ontem...


– Não. Não vou estragar as compras no beco... (Tiago suspirou, como que aliviado) Mas vou falar com ele. Mas acho que você se lembra do que a gente ouviu no Quinquilhares?


– Sim, eu lembro. Ta afim de falar isso pro papai, é?


– Não, não ainda. A gente não tem como provar e pode se enrascar se acusarmos o nosso professor assim, do nada...


– É verdade, é, pensando bem, você tá certo cara, você não é tão burrinho quanto parece né?... Mas – Tiago se aproximou da orelha do irmão, cobrindo-a com uma das mãos – A gente vai ter que pesquisar um pouco mais. Se a gente puder fazer alguma coisa pelo papai... A gente faz. Mas deixa que eu penso nas coisas, pra não sobrecarregar a sua cachola.


Alvo concordou, irritado por ser chamado de burro. Sentia uma certa renitência, porém, em concordar. Sabia que o método de “Pesquisa” de Tiago era sempre desnecessariamente perigoso.


– O que vocês estão falando? – quis saber Lily, abraçando TIago pelo pescoço.


– A gente tava só falando sobre visitar a loja de Artigos de Qualidades para Quadribol... – respondeu Tiago - Ouvi falar de um lançamento de uma vassoura. A gente pede pro papai levar você lá...


– Eu queria mesmo ir pra Hogwarts, igual o Al... – desembuchou a menininha.


– Ano que vem, você, o Huguinho e o Louisinho vão tooodos juntos... Vai ser bem legal, o irmãozão aqui vai mostrar todas as passagens secretas, as salas escondidas e a gente vai subir no corujal pra ver o Pepp...


– Mas eu queria que fosse esse ano... Não aguento mais estudar em Hopkins. É muito chato sem você, Tiago...


– Calma, maninha, tudo tem sua hora... – Tiago fez cócegas na menina, que riu gostosamente, até desistir e largar o pescoço do irmão, um pouco mais sorridente, indo se juntar aos priminhos.


Percy, que havia acabado de escrever uma carta e despachar a coruja, consultou o relógio de bolso prateado...


– Dez horas e vinte... – falou para si mesmo - Então, Harry, Rony, Fleur, Jorge, Angelina... Acho que vocês devem ir agora, as lojas já devem estar deveras congestionadas... Audrey, querida... Eu, Gina, Hermione e Gui ficaremos aqui, temos que ver uma situação no Ministério, além do mais, se formos todos juntos não conseguiríamos todos entrar nas lojas...


Quer dizer que a gente não vai? – quis saber Lily.


– Não, amor... – respondeu uma Gina inicialmente paciente – Acordamos muito tarde por causa da festa e o tio Percy está certo... Hoje o Beco deve estar cheio de estudantes, seria difícil controlar todos... Vocês poderiam se perder... Ano que vem vamos todos juntos, mais cedo...


– Mas mãe! – Lily teimou - o Tiago prometeu me levar para a loja de quadribol para me mostrar a nova vassoura! Por favor a gente se comporta...


– ...Lilian, tende entender, minha filha... – Gina começou com a voz cansada.


– Por favor! Por favor! – se juntaram à Lily, Hugo e Louis, fazendo coro.


– Não. – a entonação, o olhar, tudo corroborou para a palavra categórica de Gina fizesse todos ficarem em silêncio.


Hugo olhou para Hermione, Louis para Fleur, mas não conseguiram nada além de um balançar de cabeça, tampouco. Então foram os três batendo o pé para a sala.


– Vocês devem ir logo – Gina disse, fática.


Rony, então, pegou o pó de flu do vaso e posicionou-se na lareira da cozinha.


– O de sempre, então? – Perguntou.


– Sim, eu cuido das crianças até vocês voltarem do banco – respondeu Angelina.


Rony atirou o pó contra a chama e ela ficou verde. Disse claramente “Beco Diagonal” e sumiu entre as animadas chamas verdes, seguido de Fleur e Audrey.


– Eu vou dar uma passada no Geminialidades, tá bem, Angelina? Te encontro no Olivaras.


Pegou o pó e exclamou “Geminialidades Weasley”.


– Al, Tiago, eu não demoro, o.k?


Harry desapareceu nas chamas da lareira, com o destino ao Beco Diagonal. Gina, Hermione, Percy, Gui se despediram de seus filhos.


– Comportem-se – disse Gina – Não quero ouvir que você foi arranjar problemas, ouviu bem Tiago? – Gina deu um beijinho no garoto e em Alvo também – Boa sorte, Al.


Os adultos então desapareceram com um estalo seco, aparatando provavelmente para o Ministério da Magia. Agora só restava a tia Angelina.


– Vamos, garotada... Eu vou primeiro e a Vick vai por último para ajudar os outros. Não se separem, o lugar deve estar lotado...


A mulher desapareceu nas chamas da lareira. Logo atrás, Fred, Tiago, Lúcia e Molly. Roxanne sorria excitadíssima e entrou na lareira sem demora. Atrás dela, Dominique e Rosa falaram o destino e desapareceram no fogo verde.


Agora era a vez de Alvo.


Ele iria fazer as compras naquelas lojas. Hoje era a sua vez... Ele seria o centro das atenções. Iria ter livros de feitiços, roupas de Hogwarts, caldeirões... E, claro, o mais importante... Sua própria varinha. Quantos anos ele sonhou com isso? O garoto pegou um punhado de pó de flu e posicionou-se. Jogou contra as chamas, elas se tornaram verde-ácido. Ele fizera isso diversas vezes, mas sentia que agora iria viajar para outro mundo, um mundo novo, emocionante... Era o primeiro passo para Hogwarts... O primeiro passo para realizar o seu sonho de ser o maior mago que o mundo da magia já viu...
– Al, o que você está esperando? – forçou Victoria – É a sua vez!


O menino jogou o pó nas chamas (Beco Diagonal!). Sentiu o fogo lhe tomar, lhe engolir por completo. Sim, a prima Vick estava mais certa do que nunca.“É a minha vez”


Naquele exato momento, aos muitos quilômetros da “Toca”, uma garota perdeu o chão da Mansão dos Licaster. Agora viajava pelo furacão verde, sentindo-se sugada por um ralo, girando rápido. Ela já começava a se sentir enjoada, sentia um frio indistinto no rosto, batia em algumas coisas... Resolveu ficar dura e reta, totalmente amedrontada pela experiência esquisitíssima. Via uma sucessão de lareiras, uma delas era a de Alvo Potter, mas ela não sabia disso. Os dois garotos seguiam a mesma direção... O mesmo lugar.


Alvo e a garota pousaram juntos, em uma calçada de uma Ruela do Beco Diagonal. A menina caíra de cara no chão. Alvo estava em pé, procurando os primos. Ele a notou antes: a garota de cabelos negros e curtos esparramada na calçada.


– Você tá legal? – Alvo pegou a mão da menina para ajudá-la a se levantar.


– Eu não preciso da sua ajuda, me larga – respondeu, ríspida.


– O.K, tudo bem, então. Fica aí beijando o chão...


– Antes o chão do que você, né? Moleque fracote e ridículo – a menina levantou-se, batendo o pó e massageando o nariz.


– Fracote? Eu cheguei aqui em pé... E ridícula é você que não sabe nem usar o pó de flu – retorquiu Alvo.


– É, mas pelo menos eu não tenho essa cara de bunda. Que horror...


– ISOBEL – uma voz masculina chamou de um lado.


– ALVO! – gritou Fred do outro - Para de namorar e vem logo...


Mas o garoto não estava ouvindo. Ele fitava espantado a tal Isobel, que fora agora se juntar com - ninguém menos que o Vice-Diretor Aleph Ravus.


Quando o garoto foi se juntar com os primos e a tia Angelina, que estavam na frente de uma loja intitulada “Mapas & Escapas - Cartografia”, procurou primeiramente se aproximar de Tiago.


– Por que ficou enrolando do outro lado? – perguntou Tiago. Mas Alvo sussurrou aos ouvidos do irmão.


– Aquela menina que eu esbarrei ainda agorinha... Olha ali quem está levando ela para as compras...


“Nossa” exclamou o irmão “É o Professor Ravus!”


– É – sussurrou Alvo – E aquela Isobel deve ser parenta dele...


– ... A gente pode ver se ele dá alguma mancada...


– ...Mas eles não são parecidos, quer dizer, ele é ruivo e parece ser meio anão...


– Esquece a garota, Alvo! – sibilou Tiago, enquanto caminhavam pelo beco, liderados pela tia Angelina - A gente tem que focar no Professor Ravus... Vigiar, seguir, espionar, sei lá...


– Mas ele não está fazendo nada de suspeito... Só está levando a garota pra fazer as compras. Isso não é esquisito.


– Mas lembra que foi escutando atrás das portas do antiquário que descobrimos várias coisas. Nunca se sabe!


Alvo apenas concordou, seguindo com os olhos os dois, quase da mesma altura, Ravus e Isobel, desviando dos transeuntes na rua lotada.


– Olha, acho que aquela garota com quem você esbarrou é do primeiro ano – informou um Tiago sensato - então antes de qualquer coisa, eles precisam comprar uma varinha. Sorte nossa, por que é lá que o pessoal marcou de se encontrar com a tia Angelina... A gente vai seguir eles de perto até ele fazer alguma coisa suspeita...


– E depois? E depois, quando eles fizerem alguma coisa suspeita? – quis saber um Alvo temeroso.


– Ah, maninho, aí vai do que a minha criatividade permitir...


E foi com essa nota nada apassivadora que Alvo permitiu calar-se e seguir o fluxo de bruxos e bruxas que iam para lá e para cá, no coração do Beco Diagonal. O lugar era fantástico, o garoto pode constatar. Cheio de lojas de todas as qualidades...


Em uma barraca, uma bruxa velha e descabelada informava “Abóboras, abóboras engurgitadas e adocicadas! Ótimas para sucos, bolos, tortas e doces! 20 sicles! Aqui, senhora, veja como estão coradas as Abóboras engurgitadas!”. Mais à frente, uma pilha de caldeirões de estênio, prata, ferro, ouro; variados tamanhos, variados formatos, todos brilhando ao sol das onze e meia. Passaram na frente de uma loja de roupas “Talhe justo & Janota”, cuja a fachada demonstrava o provável alto preço das peças que continha. Alvo notava também que algumas pessoas apontavam para eles, como se os conhecessem.


Entrementes, um rapagote gritava “O que o Ministério esconde? O que o Ministério está escondendo? Leia a reportagem no Profeta Diário de hoje! Profeta Diário, aqui!”. O estômago de Alvo deu um solavancou ao ouvir isto. Mas ele seguiu, procurando nas outras lojas distração, sem, contudo, tirar os olhos de Isobel e Ravus, que iam um pouco mais a frente. Neste tempo, uma bruxa foi falar com Angelina, reconhecendo-a como um membro da “Armada de Dumbledore”. Mais alguns minutos de autógrafos, então os garotos voltaram a andar.


O garoto notou uma loja chamada “Gambol e Japes – jogos de magia”, mas nem se delongou a observá-la. Sabia que a loja do tio Jorge era muito maior e melhor, apesar do pai não permitir que Alvo compre certos artigos perigosos, os quais Tiago contrabandeava através do primo, na maior cara-de-pau.


Alvo passou por uma loja de vassouras (Artigos de Qualidade para Quadribol), esta estava particularmente lotada. Então alvo lembrou que Tiago tinha dito...


– Hoje é a estreia de uma nova linha de vassouras... – o irmão explicou, enquanto fitava a loja de longe - Chamam de “Raiden”. Eu queria ver, mas não vai dar pra parar, né...


O garoto nada tinha a acrescentar sobre a conversa, já que sempre fora um zero à esquerda no Quadribol. Não que odiasse o esporte. Sério, Alvo amava, mas de tanto passar por situações vergonhosas (beirando a “deploráveis”, sendo sinceramente caracterizada como “Fiascos”), resolveu desistir do vago sonho pelos campos de Quadribol de Hogwarts, os quais deviam ter gramas verdejantes, com as balizas à mais de dez metros de altura; e as arquibancadas cheias de torcedores, todos gritando pelo time que cortava o ar como estrelas peregrinas, em suas vassouras “Rainden” prateadas até as cerdas...


– E ali está a nossa primeira parada, criançada! – disse uma tia Angelina entusiasmada, arrebatando Alvo do sonho acordado que teve, que envolvia ele voando nos céus montado na vassoura Raiden... enquanto Tiago o observava da arquibancada.


A tia se referia a uma loja deveras capenga, cujo letreiro tinha letras com tinta douradas informando Olivaras: Artesãos de Varinhas de Qualidade desde 382 a.C. A vitrine empoeirada continha um quadro apoiado em uma almofada verde. Nele, um velho senhor de olhos intrigantemente azuis sorria misterioso. No lado de fora, aguardava Ravus. O garoto permitiu-se cobrir-se pelos primos e entrar ser notado pelo baixinho.


Alvo, Rosa, Roxanne e Dominique, acompanhados da tia foram os que entraram na loja de espaço mínimo, fazendo um sininho tocar de algum lugar do fundo do local.


– Seu pai deve chegar a qualquer momento – disse a tia, enquanto posicionava os meninos para se sentirem menos incomodados com o aperto. Isobel já conversava com o vendedor, um rapaz alto, esguio, de cabelos negros longos como o de uma mulher cobertos por uma cartola cor de vinho. Os olhos verdíssimos, tal qual (talvez mais) os de Alvo. Seu bigode era bem feito, muito curvo e pontudo.


O rapaz tinha o caminhar leve. Ia para o fundo da loja, trazia uma das centenas de caixinhas amontoadas nas estantes altíssimas tomadas por elas, Isobel abria a caixa, balançava a varinha, nada acontecia o rapaz novamente ia para o fundo da loja. Na quinta tentativa, Isobel pegou a varinha e balançou-a. Foi o suficiente para o caos se instalar de uma maneira tão rápida que Alvo perguntou-se como isso podia ter acontecido.


Primeiramente surgiu um foco de chamas para o local que a menina tinha apontado displicentemente (uma estante com muitas outras caixas de varinhas). Em seguida as chamas rodearam Isobel, numa dança estranha, fazendo o rapaz afastar-se e apanhar sua própria varinha. A garota largou a varinha no chão, com medo de fazer mais alguma coisa queimar. Mas isso foi um erro ainda pior.


Por que, assim que a varinha tocou o chão, ele foi tomado de chamas que se alastraram para todas as direções. Uma labareda de fogo vindo da varinha voou em direção a Alvo, que tentou por a mão para evitar ter a face queimada. Mas...


– Protego Maxima! – exclamou a tia Angelina, e uma espécie de campo separou Alvo e os primos das chamas descontroladas.


– Finnite Incantatem – uma outra voz recitou. Era Ravus, apontando o feitiço para a varinha cuspidora de fogo de Isobel.


As chamas engoliam uma prateleira de varinhas, estas explodiam com efeitos mágicos estranhos, ao contato com fogo: algumas lançavam correntes elétricas indistintamente pela loja, outras invocavam uma poça de água, como se quisessem se proteger das chamas. Outras apenas faiscavam, em protesto ao calor. O vice-diretor Ravus preparava um feitiço em direção às chamas quando o pai de Alvo entrou na loja.


– Ignis Exumai. – disse Harry, então todas as chamas cessaram repentinamente, sem nenhum foco de fumaça vindo de caixa ou varinha carbonizada.


“Wingardium leviossa” entoou o vendedor, fazendo a varinha do caos – que jazia inocentemente no chão, aos pés de Isobel – flutuar até os fundos da loja. Quando ele voltou, foi se desculpando:


– Senhorita, eu não entendo como isso pode ter...


– Eu pago todos os prejuízos, Sr. Gorgento. Traga uma varinha menos extraordinária para a nossa Isobel e então sairemos daqui...


O rapaz concordou, demorou-se nos fundos e pegou uma varinha escolhida com relutância e deu a Isobel. A garota exitou a tocá-la. Ela estava pálida de susto, olhava para a varinha com uma clara expressão de medo.


– Experimente, sei que essa não trará nenhum mal... -


Isobel aceitou e balançou minimamente a varinha (visivelmente temerosa). Uma faísca fraca vermelha e dourada escapou da ponta. O homem suspirou aliviado e pegou a caixa e entregou para a garota, pegando o dinheiro e oferecendo a porta para ela e Ravus sem demora.


Alvo arfava, com a adrenalina circulando em suas veias. Olhou para o pai em busca de explicação. Harry apenas mostrou uma cadeira para Alvo sentar-se.


O dono da loja se reaproximou.


– Senhor Po-potter, é um prazer, uma grande honra conhecê-lo ... Sinto muito pelo transtorno... – disse a Harry e abrangendo Angelina também na última colocação. Os adultos apenas negaram, gentilmente – me chamo Thiego Gorgento – tinha um certo ar lunático e apressado (talvez pudesse ser apenas o susto ainda atuando). O garoto notou o seu terno com estampas e que o Gorgento gostava de enrolar mais a ponta do bigode.


Dirigiu-se em seguida a Alvo, tirando uma fita métrica com números prateados do bolso. Ela tomou vida e começou a se mover. “Estique os braços” e ele foi medido pela fita. “Fique o mais ereto possível” e ela mediu sua altura da cabeça aos pés, seguida de inúmeras outras medidas.


O rapaz subiu em uma estante e pegou uma varinha em uma caixa qualquer. Alvo a pegou temeroso de explodir o resto da loja do homem.


– Ah, acalme-se senhor Potter – disse Gorgento – com esses 5 anos de trabalho e ainda vendo meu avô trabalhando na loja, nunca vi nada parecido com aquele evento acontecer. Aquela menina, talvez... Bem, esqueça, experimente sem temer.


Alvo balançou sua varinha. Nada. O rapaz também precisou fazer o garoto experimentar várias, várias, várias... Na verdade o garoto pensou que tinha pegado pelo menos na metade das varinhas do estoque quando o rapaz Gorgento finalmente decidiu-se, um tanto contrariado.


– Esperem um pouquinho, hm? Irei achar, não se preocupem, eu vou achar sim... – E repetindo isso, o rapaz foi aos fundos novamente, mas dessa vez subiu uma escada de caracol no final do corredor de estantes de caixas.


Passou um tempinho... Até Alvo não conseguir segurar-se.


– Pai, será que eu não tenho varinha?


– Al, claro que você tem uma varinha. O antigo dono encontrou uma varinha para mim. Demorou um pouco também, mas ele encontrou. Tenho certeza que o senhor Gorgento também vai...


– E se não encontrar?


– Ele vai encontrar – afirmou Harry com muita convicção, segurando nos ombros do filho – a varinha escolhe o bruxo, o senhor Olivaras certa vez me disse. O fato dele estar demorando apenas significa que você é um garoto mais raro, entende?


Isso animou um pouco mais Alvo. É, ele era raro, sua varinha deveria ser muito especial, difícil de achar. Na verdade ele acharia chato demais se achasse de primeiro. Aí ele ia ser como qualquer um. Tá certo que ele não queria ser aquele que pôs fogo na loja, mas um suspense até que ia bem.


O senhor Gorgento voltou com três e apenas três caixas. Elas eram diferentes. Uma vermelha, outra roxa e a última branca.


“Veja bem... Essas são varinhas experimentais... Na verdade são varinhas como varinhas, mas eu as chamo assim por que não têm cernes convencionais. Normalmente meu avô utilizava pelo de unicórnio, fibra de coração de dragão ou uma pena de fênix como catalizador mágico. Mas eu tenho pesquisado outras fontes, também outros tipos de árvores, mais raras... E o resultado estão aqui. O senhor viu a senhorita Isobel testar essa varinha da caixa vermelha, que possui o cerne de pedaço da cauda de um Esplosivim. Ela acabou levando a que tinha a caixa verde, com cerne de lascas de raiz de mandrágora” 
– Como vou saber se meu filho não corre risco com essas varinhas? – quis saber Harry.
“Senhor Potter, não se preocupe. Entenda, alguns raros clientes viram essas varinhas, mas nenhum deles apresentou aquele efeito com a varinha vermelha... Posso apenas imaginar que aquela garota possui algum tipo de afinidade negativa com aquela em especial...”


Alvo pegou primeiramente a varinha branca. Ele balançou-a e sentiu-se imediatamente anestesiado. O senhor Gorgento retirou da mão do garoto e deu-lhe a vermelha. Com certo medo de pôr tudo em chamas, Alvo balanço-a também fracamente. Ela deu-lhe uma quentura, mas novamente o senhor Gorgento puxou-a de sua mão sem pestanejar.


Restando apenas a varinha contida na caixa roxa, Alvo sentiu um certo pânico. E se de fato não fosse escolhido por nenhuma varinha? Olhou para o pai. Harry fez que sim, como que apoiando o filho a continuar.


Alvo pegou aquela varinha. Sentiu um formigamento, primeiramente. Depois foi tomado por uma sensação engraçada, peculiar. Alvo não sabia explicar o que estava sentindo. A varinha brilhou, uma luz branca e terna, depois apagou, sem aviso.


O senhor Gorgento veio batendo palmas.


– Essa. Essa é a varinha, senhor Potter, meus parabéns! Única, linda, elegante. Uma obra prima, uma das últimas varinhas feitas pelo meu avô. Eu pedi para ele variar no protocolo... E eis aqui essa beleza de varinha... Olmo – o rapaz tomou-a da mão de Alvo com muita rapidez – trinta e nove centímetros. Fina, mas dura. E o cerne é de cauda de fênix. Essa combinação é inédita. Como eu disse, uma varinha muito rara. Tome. Cuide bem dela.


– Parabéns Al – disse-lhe Harry, com um sorriso de orgulho – É uma linda varinha – isso fez o garoto sentir-se satisfeitíssimo, único, inigualável. Finalmente... Sentia-se como se pertencesse mais a família, como se fosse um legítimo herdeiro Potter. Sentia-se... Especial.


O senhor Gorgento ficou um tempinho admirando a varinha até prosseguir para Rosa, Roxanne e Dominique. Assim que as primas conseguiram as varinhas, Harry e Angelina pagaram alguns galeões ao senhor Gorgento e saíram da loja, adentrando novamente a rua mais lotada ainda. O sol estava mais a pino, muito mais quente. As nuvens raras e o azul maravilhoso. O irmão de Alvo e os demais primos apareceram acompanhados da Tia Fleur e Rony.


– Eles estão na Floreios e Borrões – Tiago disse ao ouvido de Alvo – Vamos falar com o papai para nos levar lá. Você tá com a lista de livros aí não é?


Alvo tateou os bolsos. Ah não! Tinha esquecido de pegar o papel que veio no envelope também. Mas quando notou Tiago a rir de seu desesperou, disse:


– Me dá, Tiago!


– Como você não notou! Toma – e pegou um papel amassado e deu pro irmão. Em seguida, foi com o pai, dizendo alguma coisa (provavelmente pedindo para eles irem para a tal loja que Ravus estava agora). Harry concordou e todos foram se movendo com dificuldade em meio a multidão de alunos e seus pais. “Fiquem juntos” Angelina dizia de tempos em tempos. E assim os garotos seguiram. Não por muito tempo, por que logo Harry foi identificado.


“Minha nossa, é o Harry Potter!”... “Senhor Potter, por favor!”... “Não acredito que estou conhecendo o senhor, que dia maravilhoso”... “Senhor Potter, esse é meu filho Lionel!”.


– E aí, conseguiu uma varinha legal? – perguntou Tiago, enquanto estavam empacados em meio aos fãs de seu pai – dez centímetros? Pau de pique, maleável, cerne de cérebro de trasgo?


– Olmo, trinta e nove centímetros, fina, dura, com uma cauda de fênix dentro. A varinha mais rara da loja – retorquiu Alvo, com o nariz nas alturas.


– O.K, bruxão! Agora vamos ver se sabe lançar algum feitiço com ela, ou se ela vai servir só pra desentupir a privada lá de casa com esses trinta e nove centimetros...


Alvo não ligou. Tiago estava com inveja dele. É, ele estava com inveja por que Alvo tinha uma varinha mais legal. De algum modo, o garoto estava muito satisfeito com isso.


Quando finalmente Harry gritou “EU PRECISO IR, ESTOU FAZENDO AS COMPRAS COM MEU FILHO” e com isso conseguindo se desvencilhar da senhora gorducha Welga, então continuaram andando. Entraram na Floreios e borrões. Mais alguns minutos de puxação de saco fizeram Alvo sentir mais respeito pelo pai por ter coragem de leva-lo para fazer as compras, para fazê-lo feliz, mesmo sabendo que a cada passo que desse ia ser parado para conversar com desconhecidos de fã clubes esquisitos.


– Vamos comprar os livros agora, Al – disse um Harry finalmente livre – Está com a lista aí? – O filho mostrou o papel – Ótimo. Vá dizendo os livros e eu vou ajudando a pegar um, você pega outro... Fazemos assim, ok?


Alvo concordou. Foi direto para a lista de livros:


Livros


Os alunos devem comprar um exemplar de cada um dos seguintes:


Feitiços: um guia preliminar para a expressão mais pura da magia de Daliléia Sandermoore


História da magia de Batilda Bagshot


Teoria da Magia de Adalberto Waffing


Guia de Transfiguração para iniciantes de Emerico Switch


Mil ervas e fungos mágicos de Fílida Spore


Bebidas e poções mágicas – edição remasterizada de Édipo Jigger


Defesa contra as artes negras: um manual de Richard Garilaka


Poeticon Astronomicon: o atlas do céu noturno de Hyginus Everland


– Qual primeiro devemos procurar? - perguntou um Harry animado.


Todos pareciam muito interessantes... Mas o que chamou mais a atenção de Alvo foi este de Feitiços.


– O senhor pode pegar esse Astronomicon, aí eu procuro o de Feitiços...


Alvo foi procurar nas prateleiras da loja apinhada de gente um livro que tinha aquele título enorme. Muitos livros se acumulavam por lá, alguns deles fazendo pilha. Algumas mães iam falando para um ajudante da loja “Onde está o volume dois desse livro da Batilda? Por favor, e o três deste de feitiços? O senhor pode me ajudar, licença”. Alvo preferiu procurar só, sem incomodar o já muito transloucado e espinhento ajudante.


Foi procurando o livro como pode, desviando de quem conseguia. Nos fundos, próximo a uma escadaria que dava para o segundo andar da loja, encontrou o livro de Feitiços que constava na lista de materiais. Mas outra pessoa também tinha acabado de encontrar o livro.


– Tá me seguindo, por acaso? – disse a garota Isobel.


Alvo assustou-se um pouco. Recuperou-se e respondeu, tentando manter-se por cima.


– Eu só vim pegar meu livro...


– Sei. É esse aqui, não é? – A menina jogou no peito do menino o livro de Feitiços – agora já pode dar o fora.


– Você é muito mal educada.


– É você que sai derrubando as pessoas.


– Eu não... – Alvo ia se explicar, mas percebeu que sempre que falava algo, a menina vinha com quatro pedras na mão. Preferiu calar-se e folhear um pouco o livro. “Feitiços de manipulação elemental simples”... “Feitiços utéis para enrascadas”...


– Meu nome é Alvo, Alvo Potter...


Isobel mirou o menino dos pés a cabeça, dizendo apenas “Hm.”. Alvo notando que a menina era muito mais espinhosa do que imaginara, resolvera partir para o jogo aberto.


– Aquele cara que tava acompanhando você... Ele é seu parente?


– Meus pais morreram, ele não é nada pra mim.


– Então por que ele veio aqui com você? – insistiu Alvo.


Isobel o fitou com significância, apertando os olhos para a curiosidade repentina do estranho.


– Por que quer saber?


– Ele é o vice-diretor de Hogwarts... Só fiquei curioso, sabe? Nada de mais.


– Se você quer tanto saber... Só veio me levar para as compras por que aquela Waldorf está ocupada. E eu sou órfã. Trouxa, também, para sua informação, e se quiser criar caso com isso – a menina puxou a varinha – você viu o que eu fiz na loja.


Alvo poderia levar muito a sério a ameaça da menina, se levasse em conta a destruição que ela fez na loja. Mas com ela segurando a varinha pelo lado oposto, apontando-lhe a base para o nariz do garoto, sentiu vontade de rir. Mas segurou-se. Segurou-se por que a menina havia citado o nome Waldorf... O mesmo nome que Harry tinha se referido. “A Waldorf quer minha cabeça”, disse o pai naquela noite.


– Essa Waldorf é a mesma Integra Waldorf?


– Sim – respondeu secamente – Me adotou. Que é que tem?


– Ãnm – Alvo pensou em alguma mentira – Er, ela é legal... Quer dizer, me disseram que ela era...


– É uma frígida. Acabou a sabatina ou tem mais alguma pergunta sobre a incrível vida dessa órfã trouxa aqui?


Alvo piscou três vezes, sem saber o que dizer. Como ficou calado, Isobel tomou isso como uma despedida.


– Já que não vai, eu vou. Tchau - e foi-se.


Ao mesmo tempo que a garota se distanciava para outra estante a procura de livros, Alvo decidiu que não iria mais falar com aquela estupida e irritante Isobel. Neste instante, o seu pai apareceu. Achei três livros. Você achou o seu (“sim”). Então agora falta mais três.


Harry Procurou o livro com Alvo, ajudando também Tiago a encontrar o “Animais fantásticos e onde habitam” em uma prateleira mais a frente possível.


Quando terminaram de pegar todos os livros da lista, saíram em direção de outros materiais. Alvo, que já havia notado o Vice-Diretor Ravus entrar no Boticário Redfiel & Hirase. Novamente Harry teve que atravessar a rua com agilidade e cumprimentar no mínimo dez pessoas dentro do estabelecimento.


O local era predominantemente verde, Cheio de estantes com vidrarias identificadas com os nomes mais esquisitos que Alvo já tinha visto. Muitas plantas medicinais acumulavam-se em uma pequena estufa selada por um espaço de vidro climatizado por magia. E muitos outros potes grandes penduravam-se sobre o balcão. Atrás dele, um velho senhor asiático, quase que totalmente calvo sorria para os clientes. Naturalmente cumprimentou a celebridade Harry Potter com muito entusiasmo e fez-se todo hospitaleiro para seus filhos e parentes. Isobel consultava um vidro vermelho. Ravus observava as plantas da estufa com delicado interesse.


–Mal posso esperar para dizer à minha esposa que apertei a mão de Harry Potter! Sou Masahiro Hirase, muito prazer, muito prazer! – as palavras do homem saiam meio agudo-desafinado ao passo de cantadas e cheias de exclamações - Tooodos os ingredientes que seus filhos precisarão no ano letivo vocês podem encontrar aqui. Venham comigo.


O homem pegou uma rama de bétula, pedras do estômago da cabra, alguns líquidos estranhos, azulados com plantas dentro. Raízes frondosas, flores enfiadas em potes robustos... Ia pegando tudo e tagarelando sem limites.


– meu filho vai entrar em Hogwarts esse ano. Está ali ele. Mallone! Venha cá conhecer seu amiguinho de Hogwarts!


O menino que estava sentado em uma cadeira sem espaldar mais periférica possível em relação ao balcão observava o vazio de uma garrafa com uma expressão de tédio mais profundo (com a mão apoiando a cara afundada) que Alvo se perguntou se não era proibido sentir tão pouca vontade de viver. Mas, a despeito do estado de espirito, Alvo teve que concordar que Mallone era um asiático peculiar. Primeiramente por que seus cabelos de cuia, lisos como fios de seda, eram ruivíssimos. E os olhos vesgos, naturalmente puxados, mais puxados ainda agora com a expressão de sono, revelavam uma fresta da íris azul. O garoto ficou se perguntando quão forte era as características da mãe de Mallone, pois o irmãozinho de Mallone era igualmente ruivo, de olhos puxadinhos azuis. O garotinho queria mostrar alguma coisa na mão para Mallone. Parecia um animal úmido e escorregadio.


– Malon! Papo! – exclamou o bebezinho. Mallone meramente balançou o cabelo do menino (que voltou imediatamente a posição cuinha) e depois voltou a sua divagação profundamente ociosa, ao que o menininho pegou o sapo que havia pulado em direção a porta para a liberdade. Ele o jogou novamente no aquário grande que a loja tinha e subiu na cadeira para pegar a lagosta.


– NÃO! Wesker, tire a mão do aquário! – o pai do garotinho correu e pegou-o antes da lagosta conseguir se atracar no dedinho dele. Ele levou o menino para além da porta dos fundos e voltou em direção ao Vice-diretor Ravus, escondendo a mão que tinha sido apertada pela poderosa garra da lagosta. Eles conversaram um pouco e depois o senhor Hirase retornou ao pai de Alvo.


Quando eles terminaram de pegar todos os ingredientes para as aulas de poções de Hogwarts, prepararam-se para sair da loja. Foi quando Alvo notou uma Isobel solitária, sentada próxima ao aquário à observar um bichinho polvoso que arreganhava-lhe dentes pontiagudos.


– O professor Ravus sumiu! – cochichou Alvo urgentemente aos ouvidos do irmão.


– Isso é péssimo. Vamos lá fora ver se a gente enxerga pra onde ele ta indo!


Sem serem notados por Harry, que pagava as contas junto com tia Angelina, Fleur e Rony, Alvo e Tiago saíram para a frente da loja, tentando, inutilmente localizar o baixinho de barba encaracolada ruiva em meio às cinturas da multidão. Mas nada.


– Escafedeu-se... Droga, a gente perdeu ele! – chutou Tiago – E agora? Pra deixar a menina lá na loja... Ele deve estar fazendo alguma coisa suspeita, com toda a certeza... E a gente perdeu ele justamente agora...


Alvo estava calado, pensando em uma maneira de pegar o rastro do Vice-Diretor. Pensou até que.


– Já sei.


Alvo retornou a loja, dando de encontro com o pai. “Preciso falar uma coisa com o senhor Hirase... Só um minutinho...”.


Alvo foi até o dono da loja, que contava os galeões e os colocava em ordem na gaveta. Pensou rápido em uma estratégia e...


– Senhor – disse, formal - O senhor poderia me dizer o que o meu tio estava procurando? Ele me pediu para pegar aqui, mas eu esqueci. Era o homem de barba ruiva encaracolada, baixinho, assim, do meu tamanho.


– Ah! Sim! Seu tio é? Hmmm – o homem pigarreou, como se incomodado. Continuou:


“Acontece que o que ele estava procurando nós não vendemos aqui na loja. Se quer saber foi um pouco deselegante ele perguntar por isso para um Boticário de respeito. Ora! Como se eu carregasse um frasquinho sequer com Veneno de Manticora! Coisa proibida assim a gente não vende em loja de bem. Mande seu tio ele mesmo entrar na Travessa do Tranco e falar com aquela família ordinária que mancha o nome dos bruxos vendendo porcarias que só servem para produzir poções que só ladrões se interessam de fazer!”


– Família? – quis saber Alvo, interessado – De que família o senhor se refere? – então, notando a atribulação distrativa do homem, acrescentou: - Senhor?


– Os Ugarte, é claro! Familiazinha degenerada essa! Sempre foi uma pedra no sapato para vendedores direitos... Sim, é dos Ugarte que estou falan-... Ei garoto! Para onde você vai?!


Alvo já estava saíndo da loja. Os familiares o aguardavam. Quando todos estavam atravessando a rua em direção a loja de caldeirões (O pai desviando dos fãs o quanto podia), o garoto voltou-se à Tiago, cochichando.


– Ele está na Travessa do Tranco, numa loja de uma família chamada Ugarte.


– Eita... Travessa do Tranco? A gente não vai passar por lá. Papai me proibiu. Lá vendem coisas proibidas, algumas bacanas, interessantes... Outras um pouco sinistras, mas todo mundo que vai lá não tá pensando em fazer algo muito “certo”, se é que você me entende...


– É... Chato. A gente tava chegando perto. Mas tudo bem... – Alvo consolou – Vamos achar outra oportunidade e...


– Ta louco? Não! A gente vai pra Travessa do Tranco!


– Mas você acabou de dizer que...


– Já vai amarelar tão cedo, bebê? (Não. Sou. Bebê!) Se liga, eu vou dar um jeito, só espera um pouquinho, a idéia vai vir.


Tiago ficou pensando com a mão no queixo, até que, ao que parecia, lhe surgira uma idéia.


– Pai – Tiago disse, sorrindo – Al e eu queremos entrar na Artigos de Qualidade para Quadribol. Eu vou comprar uma luva de goleiro para ele... Na verdade acho que ele tem talento para defender balizas, saca? Vou treinar com ele lá em Hogwarts, quando der... O senhor deixa a gente ir lá? O Fred vai com a gente...


Harry começava a falar:


– Eu posso levar vocês na...


– Nah, pai. A gente tá com fome, melhor o senhor pegar logo os caldeirões, pra depois a gente ir na Madame Malkin... O senhor compra os caldeirões e a comida do Pepp, aí a gente se encontra na loja... Porfavor pai, eu quero um tempinho com o meu irmãozinho... Hoje é o dia dele... Não é?


Harry olhou com uma expressão de pura desconfiança, mas fez que sim. Alvo, Tiago e Fred correram em direção a esquina...


– Legal – disse Fred entusiasmado – eu queria mesmo dar uma olhada na vassoura prateada, a tal Raiden... Ela parece muito...


– A gente não vai pra loja, Fred, foi mal.


Tiago resumiu rapidamente a história da perseguição a Ravus para Fred.


– Ah, então é por isso que vocês estavam seguindo a namoradinha do Al? (Ela não é minha namorada. Eu nem conheço!)


– Sim, é por isso. O Ravus tá na Travessa do Tranco, na loja dos Ugarte. O papai vai comprar comida do Pepp, a fila da loja O Poleiro Mágico está lotada, então ele vai demorar a beça... Enquanto isso isso, eu e você vamos lá espionar o cara. O Al fica na loja de quadribol, pra caso o papai chegue mais cedo...


– Que? Não! – protestou o garoto – Não Tiago, eu quero ir! Eu mereço ir!


– Que merece o que... Você só sabe dessa história por acidente. Eu que descobri tudo sozinho, você só iria atrapalhar. Fica aqui vigiando, enquanto eu e o Fred, que temos mais experiência em esgueirar e espionar...


– Eu quero ir! Tiago, você sempre tá me excluindo... Mas o Fred nem é filho do papai, ele que esta nessa história por acidente. Eu quero ajudar o meu pai. E, se eu não for...


– “Ninguém vai?” você seria egoísta a esse ponto? – quis saber um Tiago sério - Severo?


– Não me chama assim! – explodiu o garoto – Eu não gosto, você sabe! Eu vou, eu vou ajudar o papai diretamente. Eu descobri para onde o Ravus ía, eu vou.


– A gente tá perdendo tempo aqui, Tiago – finalmente disse Fred – E por um lado ele tá certo. Eu caí de paraquedas nessa história. Além do mais, Alvo não sabe mentir bem. Se alguém chegasse aqui, teria que ter alguém esperto para enrolar seu pai por mais tempo. Vão, eu fico fazendo a vigia.


Os irmãos saíram da loja para a rua lotada. Tinham em mente a Travessa do Tranco. Não se falavam, por que Alvo era um pirralho egoísta e Tiago tinha passado dos limites com “Severo”. Alvo detestava esse nome. Nome estranho, por que seu pai tinha lhe dado esse nome esquisito? Não ia falar com o irmão até amanhã. Não. Ia ficar uma semana sem falar com Tiago. Pensando bem, só iria falar quando atravessasse as portas de Hogwarts. Pensava nisso tudo enquanto passava por vitrines e portas.


Então, antes de descerem uma escadaria lateralizada, dando para uma ruela lateral, Tiago virou-se para Alvo.


– A gente vai entrar aqui, mas toma cuidado. Fica grudado em mim (como você sempre faz), não olha pro olho de ninguém, não hesita ao andar, não demonstra medo, não fala com ninguém, mesmo que falem com você.


Então desceram a escadaria.


A travessa do Tranco era uma ruela com outras anexas arteriais, todas deveras sombrias, ermas, taciturnas... As lojas pareciam acumular todo tipo de artigo para as artes das trevas por metro quadrado. Nas vitrines, podia-se ver quadros com esqueletos pintados, jarras cheias de um líquido negro-avermelhado, que deveria ser sangue. Uma gaiola balançava junto a uma aranha branca enorme, cheia de olhos e com a pinças batendo para Alvo quando ele passou ao lado. Várias cabeças de seres estranhos estavam mergulhadas em vidros. O garoto ainda notou tripas de algum animal grande penduradas em um varal de uma loja, ainda pingando um liquido verde em uma bacia...


Alvo sentiu vontade de olhar para as poucas pessoas que passavam por ele, mas obedeceu Tiago. Ambos estavam evitando andar no meio da rua. Escolhiam cantos, onde, cobertos pelas sombras, evitavam olhares. Mas o garoto temia justamente serem agarrados por alguma coisa que também queria evitar olhares, enquanto esgueiravam pelas trevas da Travessa do tranco.


Mais um pouco a frente encontraram a loja dos Ugarte. Era uma loja estreita e comprida, como uma torre de quatro andares. Uma porta com um caldeirão pendurado nela, no qual o nome da loja estava escrito: Boticário dos Ugart. Na vitrine puderam ver o Vice-diretor conversando com uma bruxa de aparência péssima, cheia de trapos, que contrastavam com a vestimenta imperial de Ravus.


– Então? – quis saber Alvo – a gente entra?


Tiago olhou para um lado, para outro. Aquele trecho estava inabitado. Enão apenas lhe mostrou as orelhas extensíveis e o amplificador.


Os garotos sentaram-se de costa para a vitrine, escondidos pelo murinho que sustentava o vidro. Colocaram a orelha discretamente nele e encaixaram o amplificador no outro lado.


“E esta semente de Seladora? Um amigo meu pediu, então, me veja uma saca” disse a voz de Ravus.


“Claro, senhor. As cerdas envenenadas estão ali no pote. Se me permite dizer, esta poção que pretende fazer...” a voz da mulher era aguda e rasgada, como se a cada palavra desse uma gargalhada esquisita.


“É apenas uma experiência acadêmica” meramente disse o vice-diretor.


“Entendo. Sinto muito pela intromissão senhor. É que sou versada em poções, podendo jurar que estes ingredientes fazem uma muito útil para esconder um...”


“É só isso, obrigado” Ravus forçou a parada da conversa “Espero a visita de um amigo. Nós nos encontraremos aqui. Enquanto isso, pode me mostrar seu estoque de Volúptuosa e a sua...”


Alvo ouviu um som de pia sendo desentupida. Tiago havia puxado a orelha extensível e se levantado rapidamente.


– Tem alguém se aproximando. Não vai dar pra se esconder! Disfarça!


Vindo das sombras de uma das arteriais da travessa do tranco, o vulto revelou-se.


Era um homem alto, muito alto e esguio. Era branco, o mais pálido que um ser-humano podia ser. Os cabelos loiros palha e a íris vermelha brilhando na meia-luz. O albino vestia-se com um sobretudo verde, tinha um colar de pedra negra no pescoço. Ele veio em linha reta, naturalmente já tinha enxergado os garotos. Alvo engoliu a seco. Quem era aquele homem? Sentiu um arrepio na espinha quando ele veio e disse:


– Ora, ora, ora se não são os Potter – sua voz era lenta e letal, como a de uma serpente paciente à cortejar sua presa – E vagando pela Travessa do Tranco... O Senhor Potter não gostaria de saber que seus filhos andam por esses cantos, se formos considerar sua atual... Situação. Tiago – o homem voltou ao irmão de Alvo, sem, porém, parar de passar sorrateiramente o olhar avermelhado no menino também – não lembro de nenhum material dos quartanistas que poderia ser encontrado aqui.


– Professor Vogelweide – cumprimentou Tiago – acontece que eu e meu irmão, a gente. O senhor entende que eu... Eu e ele, quer dizer...


– Poupe-me de suas mentiras. Que fazem aqui? Veio procurar material proibido para contrabandear para a escola esse ano?


– Não, eu...


– A Madame Brendon receberá uma nota para tratar a revista dos alunos com mais cautela... Em especial a vistoria em suas malas.


– Eu não...


– E quem sabe com isso tenhamos provas definitivas contra o senhor... E talvez a escola finalmente fique livre do quarteto infernal que é...


– Kaleb. Deixa eles em paz.


O homem virou-se. Aquela mulher destoava totalmente do ambiente da Travessa do Tranco. Tinha os cabelos Azul claro, os olhos maquiados com branco, preto, com traços que lembravam peixes. O lábio inferior dela tinha um piercing e aquela roupa descolada completava o visual: a jaqueta verde, uma calça jeans curta com uma meia arrastão bordada com palavras estranhas e um tamanco laranja. Ela era muito mais jovem que o professor Vogelweide, porém conseguia impor-se a presença espinhosa do homem.


– Hmmm... Adhara.


– Professora Aileen agora.


– O que faz tão distante da mansão Licaster?


– Sabe que não moro mais lá – respondeu a jovem, com um ar topetudo - E você não tá em posição de exigir resposta de nenhum garotinho de onze ou quartorze, já que também é suspeito da sua parte passar por aqui.


– Bem... Todos temos os nossos, hm, segredinhos. Não é, Aileen?


O homem apertou os olhos contra a mulher. Mirou as crianças e depois virou-se, apenas entrando no Boticário dos Ugarte.


– Nossa, essa foi por pouco – suspirou Tiago – Muito obrigado mesmo, tia Adi. Eu te adoro, sério...


– Tiago, você sabe que não vai escapar de mim me passando mel... O que estavam fazendo aqui?


– É... A gente tava só... A gente tava seguindo um cara suspeito.


Os garotos subiram a travessa. Alvo, não sabia explicar por que, se sentia muito mais seguro perto da bruxa colorida. Escalaram a escadaria e novamente estavam no Beco Diagonal, ainda apinhado de gente.


– Bancando o detetive, hm? De quem se trata? Quem era o suspeito?


– O Professor Ravus e, agora, o Professor Vogelweide parece estar envolvido.


– Ai, Tiago, cuidado com esses caras... Mas por que seguir eles? Acham que eles estavam fazendo alguma coisa?


O garoto preparava-se para responder quando Harry apareceu, todo suado, com a varinha na mão.


– Vocês! Aileen? Onde vocês estavam? Eu procurei vocês, procurei muito!


Um bruxo com chapéu cocó surgiu sabe-se-lá-deus de onde dizendo entusiasmado: “Senhor Potter! Eu...”


– NÃO... CHEGA! – gritou Harry, fazendo o homem se afastar assustado – Sem autógrafos, chega! Tiago, onde vocês... E Aileen!


– Foi mal, Harry – a jovem tomou a frente para explicar, dando uma piscadela imperceptível para Tiago e Alvo – levei os garotos para tomar um sorvete na Florean Fortescue, depois a gente foi na Gambol & Japes. Pensei que tava tudo bem, a gente não ia demorar muito...


– Vocês quase me matam de preocupação! Pensei que vocês estavam perdidos, que alguma coisa tinha acontecido... Tiago, nunca mais...


– Relaxa, Potinho, eles estavam comigo, a culpa foi toda minha.


Harry pois a mão na cabeça, visivelmente devastado de cansaço. Alvo se sentiu culpado... Mas agradeceu a tal Adhara Aileen por não ter os denunciado.


Um homem enorme surgiu lá do fundo da multidão. Quando avistou os Potter, aproximou-se mais rapidamente, derrubando três ou quatro pessoas.


– Tiago, Alvo, onde vocês estavam, peloamordedeus! – disse o gigante barbudo Hagrid – Quase matou seu pai de preocupação. Ele já estava preparando os aurores pra uma busca!


– Eles estavam com a Aileen – disse Harry, porém olhando feio para Tiago.


– Ah, que bom!


– Hagrid! Eu queria falar exatamente com você – disse Adhara. E chamou o gigante para um canto de uma loja.


– Tiago, você disse que ia ficar na Artigos de Qualidade para Quadribol... E você saiu sem me avisar, não me esperou. Fiquei desesperado. Traiu minha confiança. Estou realmente decepcionado com você. E Al, muito me admira você, que sempre foi obediente... Mas em casa conversamos. Agora ainda precisamos das roupas de Hogwarts.


A última parada dos Potter e Weasley foi na Madame Malkin – roupas para todas as ocasiões.Quando Alvo terminou de experimentar o uniforme negro de Hogwarts (sentindo-se que fora feito para entrar naquela capa legal), Rosa aproximou-se.


– Você vai me contar toda a verdade depois, não é?


Alvo olhou um tanto espantado para a menina.


– O.K – respondeu, entendendo – Quando a gente voltar pra toca eu conto tudinho.


A menina concordou. Depois deixou a idosa esbelta e elegante alfinetar a roupa após medir com uma fita métrica flutuante muito parecida com o do Senhor Gorgento.


Quando voltaram para rua, avistaram ao lado de Aileen um Hagrid sorridente. Ele sorria especificadamente para Alvo. Parece que escondia algo em suas mãos nas costas. Quando se aproximaram mais, o velho gigante chamou o menino.


– Há muito tempo atrás eu dei um presente para o seu pai – disse Hagrid sorrindo para Alvo. Harry sorriu também – agora eu vou lhe dar um parecido.


Hagrid revelou o que tinha nas costas. Ela era linda. A coruja dentro da gaiola era muito branca, aliás, totalmente branca. Até o bico era cinzento. Aqueles magníficos olhos âmbar-cor-de-vinho fitavam o garoto com leve curiosidade.


Alvo abriu um largo sorriso. Abraçou a perna do tio Hagrid, agredecendo muitas vezes.


– Seu pai tinha uma coruja muito parecida na época de Hogwarts... – disse Hagrid.


– Verdade, parece muito com a Edwirges – disse um tio Rony saudoso.


– Só que é uma coruja macho – informou Hagrid.


– É uma linda coruja, muito linda mesmo! – acrescentou tia Fleur.


– Parabéns, Al – Harry sorriu-lhe, com os olhos um tanto marejados.


Alvo abraçou o pai, depois abriu um pouco a portinhola e acariciou a coruja.


– Já tem um nome em mente? – Perguntou o tio Jorge, que estava abraçado com a tia Angelina.


Alvo pensou. Olhou para a coruja branca e disse a primeira coisa que veio em sua cabeça.


– Lude.


Era uma referência a um espirito da lua que habitava as noites das florestas. Ele tinha achado aquele ser fascinante. Branco, luminoso... Sua coruja ia se chamar Lude.


– É um nome lindo – disse Adhara, agora se aproximando de Alvo, enquanto os outros iam falar com Hagrid


“Acho que não me apresentei a você. Eu sou uma antiga amiga do seu pai e da sua mãe. Joguei quadribol com a Gina nas eliminatórias para entrar nas Harpias. Claro que ela pegou a minha vaga, mas sem rancores, sua mãe era uma ótima artilheira. E trabalhei um ano como aurora com seu pai... Mas... Agora eu vou ser sua professora, Al... E como primeira lição, eu gostaria que você não ficasse se metendo na Travessa do Tranco. O lugar é muito perigoso, o Tiago não tem noção disso. Estou limpando a barra de vocês agora, mas não pensem que vou passar a mão na cabeça só por que sou amiga dos seus pais... Mas não vim aqui só passar bronca, se você quer saber”.


A professora Aileen entregou cinco - ao que parecia ser (e eram) - Ingressos. Neles, estava escrito:


O FANTÁSTICO JUPEROS


Venha conferir nossas atrações!


O mais famoso circo dos bruxos agora na Inglaterra!


Show no dia 29 de agosto, ao crepúsculo.


Floresta próxima ao vilarejo de Ottery St. Catchpole


Não perca!


*Ingressos especiais para colaboradores do evento.


– Vai ser muito legal – piscou a professora – Sinceramente, o show deles é magnífico... Esses ingressos são para sua família, mas se os seus primos quiserem, manda o Harry falar comigo que eu dou um jeitinho. Até mais, Al... Vejo vocês lá. E em Hogwarts, é claro...


– Obrigado – o garoto sorriu simpático para ela.


A jovem deu um beijinho na bochecha de Tiago, depois na de Alvo. O garoto sentiu a face ficar vermelha. Depois ela abraçou Harry, agarrou a mão dele e disse:


“Deixei uma coisa com seu filhinho Al. Ele é a sua cara... E parece ser um garoto muito especial... E ele é lindo, vai arrasar corações de toda as garotinhas de Hogwarts. Sério... Meus parabéns, digo, pelos seus filhos. Gina tem realmente muita sorte.”

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