Give me love like her

O quarto estava um caos, quase todo destruído, móveis e objetos estavam aos pedaços, da janela o vento soprava através da vidraça quebrada, na cama um casal desacordado.

Quando por fim o sol iluminou todo o quarto o homem despertou, a barba ainda por fazer e os cabelos loiros bagunçados. Estava encarando o teto como se ali houvesse respostas às quais ele vivia a procurar.

Flashs da noite anterior invadiam sua mente. Mais um ataque de fúria, mais uma vez destruiu o quarto, ele tinha o dom de perder o controle quando se sentia com raiva. Draco nunca foi um exímio em equilíbrio emocional, isso piorava um pouco quando estava bêbado.

Astória se remexeu na cama despertando. Sem esperar mais, ele tratou de levantar e se arrumar. Momentos depois quando já havia tomado um banho e se arrumado, ele a encarou já acordada ainda deitada na cama.

− Como você está? – Ela perguntou serenamente.

− Estou bem... – Ele ponderava sobre um possível pedido de desculpas, mas rapidamente afastou esse pensamento. – Vou ao escritório... Tenho assuntos a resolver, te vejo mais tarde... – Ele não esperou que ela o respondesse, precisava se afastar daquela casa o quanto antes.

Antes de sair passou pela adega e agarrou uma garrafa de uísque. Aquele seria um longo dia.

O escritório era silencioso e deserto, já era tarde e a secretária havia sido dispensada mais cedo por ele.

Ainda restava meia garrafa de bebida. A cada gole ele buscava esquecer as coisas que sua mente se recusava a parar de pensar.

− Você vai me deixar louco! – Ele segurava uma cópia antiga do Profeta Diário, onde a foto de uma bruxa sorria nervosa na capa da edição.

Draco trazia arrependimentos em sua alma e uma vontade louca de refazer sua vida. Ele sentia o gosto amargo de escolhas que hoje o faziam infeliz. Era um homem de sucesso nos negócios, era casado, havia da melhor forma possível recuperado o nome de sua família, mas havia nele um buraco enorme. Era um homem amargo e infeliz, atormentado pelos fantasmas do passado.

De tudo o que um homem poderia querer, ele queria o impossível, desejava secretamente aquilo que jamais poderia ser seu. E para completar seu fardo estava condenado a um casamento infeliz. Astória era uma ótima mulher para Draco, ele não possuía queixas contra ela, mas ela não tinha seu coração e jamais teria o seu amor verdadeiro.

Alguns instantes perdidos em seus devaneios, e logo ele ouviu a porta se abrindo com um “click”.

Ele a olhou nos olhos, aquele olhar profundo com uma imensidão imensurável que o tragava numa viagem sem fim para dentro de seus maiores mistérios, era assim que ele se sentia toda vez que a via. E então ela sorriu.

− Draco... Bebendo outra vez? – Sua voz era doce e aveludada, com um leve toque de advertência.

− Você faz isso comigo, sabe que preciso de você, não suma nunca mais. – Ele se apressou em ir encontra-la na porta.

Tomou seus lábios de modo desesperado e voraz, precisava senti-la, precisa que ela fosse sua de todas as formas que houvesse e fossem possíveis. Tê-las em seus braços era uma urgência inexplicável, cada pedacinho dele ardia em brasas por ela.

− Draco... Draco... Você nunca aprendeu a lição não é? – Ela parecia brincar com o coração dele, como se este estivesse em suas mãos e de fato estava, sempre esteve.

− Não há lições que possam ser proveitosas quando se trata de amar alguém, por mais que eu decida sobre o que quero ou não, meu coração tem vida própria e faz suas próprias escolhas.

− Querido, já lhe disse... Você jamais terá o impossível.

− Não preciso tê-la, apenas fique aqui... Iluda-me, eu sou seu.

Alguns segundos passaram-se e ela o beijou fervorosamente, apenas para afasta-lo com um empurrão em seguida, sorrindo pela aflição que causara a ele.

− Por que sente tanto prazer em pisar em mim? – Ele perguntava enquanto se servia de mais uma dose de uísque.

− Você não me dá prazer querido, de forma alguma.

− Mas você está aqui e posso senti-la enquanto se satisfaz por me ter em suas mãos.

− Não estou aqui, já está na hora de conseguir distinguir o que é real e o que não é.

− Eu sei, mas não posso me negar este deleite, preciso de você e não me importo de que maneira isso aconteça, real ou não.

− Você nunca me mereceu, na verdade Draco, jamais merecerá, desista e se poupe de tanta humilhação.

− Hermione, você é utopia, da qual estou fadado a sonhar e desejar.

− Acorde! – Ela gritou com ele, e foi como se sua voz aguda e feroz o estapeasse sem piedade.

Ele cambaleou para trás se sentindo enfraquecido. Sonhara acordado.

E dessa vez a porta se abrira de verdade, Astória se encontrava parada o encarando com sua expressão suave e compreensiva.

− Imaginei que devia vir busca-lo hoje.

− Eu não quero ir embora, não agora. – Ele disse mal humorado, como se uma pontada irradiasse dor pelo seu peito.

− Chegar por hoje Draco, eu o amo e estou disposta a enfrentar cada momento difícil ao seu lado. Mas não sou idiota, sei que a ama e sei que jamais estará disposto a me entregar seu coração.

− Não ouse falar disso mulher.

− Eu vou ama-lo Draco, e não posso mudar isso em mim, mas não posso ser ela.

− Me ame como ela amaria. Como ela ama o outro. – Ele andou até a mulher e a beijou, aquela era uma demonstração de desespero, uma busca desenfreada por ela, pela mulher que habitava seu coração.

Quando se separaram Astória tomou sua mão esquerda, onde ele carregava a aliança símbolo do casamento.

− Seremos uma família querido, e preciso de você comigo! Preciso que esteja presente, e que aprenda a esquecer, a abrir mão de coisas que não são possíveis.

− Eu fiz essas escolhas e assumo que errei Astória, não consigo esquecê-la... Você e eu nascemos para isso. Vamos sempre amar aquilo que não nos pertence.

− Me ame! Eu posso ser sua, basta você querer! Você está doente Draco, precisa de ajuda... Isso não é amor, é loucura!

− E o que você sente por mim é o que? Demência querida?

Eles se encararam e num momento de lucidez Draco se lembrou da responsabilidade, iria ser pai em breve fazia alguns dias desde que sua mulher lhe revelara que estava grávida.

− Não posso lhe prometer nada, nem afirmar que um dia vou deixar de sentir o que sinto, mas eu garanto Astória que vou estar com você, que vou honrar o compromisso que assumi com você e com essa criança que está vindo.

− Querido, só quero que sejamos uma família feliz.

− Seremos.

E assim ele a abraçou. Apesar de tudo ela era o seu porto seguro, que aguardava pacientemente o fim da tempestade para que Draco voltasse a ela.

Hermione era sinônimo de tempestade, a simples menção ao seu nome ou uma lembrança o tirava de órbita, causavam caos e destruição dentro dele. Era uma doença que o consumia, mas era de longe amor. Amor avassalador do qual ele jamais será capaz de esquecer.

Alguns meses depois...

Draco caminhava apressado pela calçada, trazia um embrulho em seus braços. Estava feliz, seu filho acabara de nascer e ele havia saído para comprar um presente. Experimentava pela primeira vez na vida a sensação de ser pai, de ter sua família.

E então ele a viu. Caminhando entre a multidão, o olhar sereno e os cabelos ao vento. Sentiu o coração tropeçar dentro do seu peito. Ela também o viu e apenas acenou para ele. Era o mínimo que podia fazer por ele, nunca foram amigos.

Ela continuou seu caminho inabalável, e ele apenas respirou e se lembrou de quem era, de que não podia mais sonhar com ela. Seguiu seu caminho no mundo real, onde Draco Malfoy era apenas um homem casado, e agora pai.

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