A terceira tarefa
– A terceira tarefa.
– Pelo menos é a última tarefa! – Lily suspirou ligeiramente aliviada – É só Harry passar pelo labirinto e finalmente esse torneio odioso acaba!
– Não sei… – Remo disse receoso – A pessoa que colocou o nome do Harry no cálice não fez nada até o momento… Ele deve ter planejado alguma coisa para essa tarefa, é a última chance que ele tem…
– Remo tem razão. – Tiago bufou – Ou todo o trabalho do infiltrado de Voldemort seria em vão… Ele vai fazer alguma coisa nessa tarefa.
– Voldemort não seria burro de fazer tudo isso e não agir. – Sirius concordou nervoso.
– Tudo isso porque eu estava achando que isso tudo estava acabando. – Lily deitou a cabeça no ombro de Tiago agoniada.
Tiago se mexeu no sofá para deixar Lily mais confortável e começou a ler.
— Dumbledore também acha que Você-Sabe-Quem está se fortalecendo outra vez? — sussurrou Rony.
Tudo que Harry vira na Penseira, e quase tudo que Dumbledore lhe contara e mostrara depois, ele agora estava dividindo com Rony e Hermione — e, é claro, com Sirius, a quem Harry enviara uma coruja assim que saíra do escritório do diretor. Mais uma vez os três garotos ficaram acordados até tarde na sala comunal, discutindo os acontecimentos até que a cabeça de Harry começou a rodar, até que ele compreendeu o que Dumbledore quisera dizer quando falara em uma cabeça ficar tão cheia de pensamentos que era um alívio esvaziá-la.
– Harry não falou tudo o que viu na penseira. – Hermione disse trocando um olhar com Neville.
– Eu imaginei que não. – Neville disse resignado – Vocês pareciam tão chocados quanto eu quando… Quando Harry descobriu…
Rony ficou olhando fixamente para as chamas na lareira.
Harry achou que o viu estremecer levemente, embora a noite não estivesse fria.
— E ele confia em Snape? — tornou a perguntar Rony. — Confia realmente em Snape, mesmo que o cara tenha sido um Comensal da Morte?
– E espero descobrir o por quê disso o mais rápido possível. – Sirius disse olhando Severo de soslaio – Ainda não acho certo alguém que definitivamente foi comensal da morte nunca ter passado um dia em Azkaban e uma pessoa inocente ter passado 12 anos na prisão!
– É bom que Dumbledore tenha um ótimo motivo! – Tiago disse categórico.
— Sim — disse Harry.
Hermione não falava havia dez minutos. Estava sentada com a testa apoiada nas mãos, fitando os joelhos. Harry pensou que ela também faria bom uso de uma Penseira.
— Rita Skeeter — murmurou ela finalmente.
– Depois disso tudo, isso foi realmente a primeira coisa que você pensou? – Sirius perguntou abismado.
– Não a que eu pensei. – Hermione revirou os olhos – Apenas a primeira coisa que eu falei… É claro que pensei primeiro nos perigos que Harry estava correndo, e que se Dumbledore confia em Snape eu devia confiar na capacidade de Dumbledore…
– Mas pelo menos isso explicou o que Skeeter sabia sobre Bagman. – Tiago disse completando o pensamento dela.
— Como é que você pode estar preocupada com ela agora? — indagou Rony, incrédulo.
— Não estou preocupada com ela — respondeu Hermione para os próprios joelhos. — Só estou pensando... Lembra o que ela me disse no Três Vassouras? "Sei coisas sobre Ludo Bagman que a deixariam de cabelo em pé”. Era a isso que ela estava se referindo, não é? Ela fez a cobertura do julgamento, sabia que ele tinha passado informações para os Comensais da Morte. E Winky, também, lembra: “O Sr. Bagman é um bruxo malvado”. O Sr. Crouch provavelmente ficou furioso quando Bagman se livrou da prisão, e comentou isso em casa.
— É, mas Bagman não passou informações de propósito, passou? — Hermione deu de ombros.
– Eu realmente acho que Bagman foi apenas, como ele mesmo disse, um idiota. – Tiago deu de ombros – Ele não tinha como saber que Rookwood era um espião! Ninguém sabia!
– Para alguma coisa Karkaroff tinha que servir. – Sirius comentou irônico.
— E Fudge acha que Madame Maxime atacou Crouch? — perguntou Rony se virando para Harry outra vez.
— É — respondeu Harry — mas só está dizendo isso porque o Sr. Crouch desapareceu perto da carruagem da Beauxbatons.
— Nunca pensamos nela, não é mesmo? — disse Rony, lentamente. — E olhem que ela positivamente tem sangue de gigante, e não quer nem admitir...
– Você foi realmente preconceituoso! – Gina bufou para o irmão.
– Ele não tem culpa. – Alice disse ainda abalada – Vocês devem ter sido criados da mesma forma que eu… Sei disso pelo modo como sua mãe tratou Hermione… Rony passou tempo demais ouvindo que gigantes são malignos, entre outras coisas… É claro que quando se trata do Hagrid… Hagrid é a pessoa mais doce do mundo… Mas vocês mal conhecem Maxime… O preconceito as vezes fala um pouco mais alto.
Tiago, Sirius e Remo sorriram para Alice afeição, ela finalmente estava entendendo as coisas, Neville apertou a mão de Alice com carinho.
— Claro que não — disse Hermione secamente, erguendo os olhos. — Olha só o que aconteceu com o Hagrid quando a Rita descobriu quem era a mãe dele. Olha só o Fudge tirando conclusões apressadas sobre ela, só porque a mãe é meio giganta. Quem precisa desse tipo de preconceito? Eu provavelmente diria que tinha ossos grandes se soubesse o que me esperava por dizer a verdade.
– É como me sinto todos os dias. – Remo bufou resignado.
– Não todos os dias. – Sirius disse sorrindo para Remo – Nós nos esforçamos muito para fazer você não se sentir assim.
– Você tem razão, não todos os dias. – Remo sorriu para os amigos.
Hermione consultou seu relógio de pulso.
— Não praticamos nada! — exclamou, chocada. — Vamos fazer a Azaração de Impedimento! Amanhã temos que meter as caras nela pra valer! Vamos Harry você precisa descansar.
Os dois garotos subiram lentamente para o dormitório. Enquanto vestia o pijama, Harry olhou para a cama de Neville. Fiel à palavra dada a Dumbledore, não falara a Rony e Hermione sobre os pais do garoto. Depois que tirou os óculos e se meteu na cama, ficou imaginando como devia ser a pessoa ter pais vivos, mas incapazes de reconhecê-la. Ele sempre despertava simpatia nos estranhos por ser órfão, mas ao escutar os roncos de Neville, concluiu que o colega a merecia mais do que ele.
– Pelo menos eu tive minha avó... – Neville encarou Harry encolhendo os ombros – Você passou todo esse tempo sem seus pais e com os seus tios trouxas que só te tratavam mal. Minha avó, apesar de ser dura muitas vezes, sempre foi amorosa comigo, sempre cuidou de mim…
Deitado no escuro, Harry sentiu um assomo de raiva e ódio contra as pessoas que haviam torturado o Sr. e a Sra. Longbottom... Lembrou-se dos risos e caçoadas dos espectadores quando o filho de Crouch e os companheiros foram arrastados para fora do tribunal pelos dementadores... Compreendeu o que sentiram... Então lembrou-se do rosto extremamente branco do garoto que gritava e percebeu, com um sobressalto, que ele morrera no ano seguinte...
Fora Voldemort, pensou Harry fitando, no escuro, o dossel da cama, tudo acabava apontando para Voldemort... Ele é quem tinha separado aquelas famílias, quem tinha arruinado todas aquelas vidas...
– Finalmente você está culpando as pessoas certas. – Tiago disse levantando os olhos do livro – Voldemort é o culpado de tudo isso… E não podemos esquecer isso.
– E não podemos esquecer que os seguidores dele tem sua parcela de culpa. – Sirius disse soturno – Mas grande parte deles, são apenas peões que não sabem o que estão fazendo…
– Mas eles são pessoas ruins! – Lily disse cruzando os braços sobre o peito.
– Ninguém nasce ruim. – Sirius afirmou – Se alguém nascesse ruim, eu seria uma péssima pessoa! Voldemort sabe encantar e enganar as pessoas, vocês viram como ele falou com Harry no final do primeiro livro, e algumas pessoas são apenas fracas demais para resistir.
– Outras gananciosas demais. – Tiago deu de ombros voltando a ler.
Rony e Hermione precisavam estar revisando as matérias para os exames, que terminariam no dia da terceira tarefa, em lugar disso, estavam devotando todas as energias a ajudar Harry a se preparar.
— Não se preocupe — disse Hermione brevemente, quando Harry comentou isso com eles, e disse que não se importava de continuar a praticar sozinho — Pelo menos vamos tirar notas máximas em Defesa contra as Artes das Trevas, nunca teríamos descoberto tantas azarações em aula.
— Bom treinamento para quando formos aurores — comentou Rony excitado, experimentando uma Azaração de Impedimento em uma vespa que entrara zumbindo na sala, e fazendo-a estacar no ar.
– É muito bom ver que suas prioridades estão mudando. – Frank disse a Hermione com um sorriso fraco.
Quando entrou o mês de junho, a atmosfera do castelo se tornou mais uma vez elétrica e tensa. Todos aguardavam com ansiedade a terceira tarefa, que se realizaria uma semana antes do fim do trimestre. Harry praticava azarações em todos os momentos de folga. Sentia-se mais confiante com relação a esta tarefa do que a qualquer das anteriores. Mas, apesar de difícil e perigosa, como certamente seria, Moody tinha razão: Harry conseguira passar por criaturas monstruosas e atravessar barreiras mágicas antes, e desta vez, recebera aviso, tivera a chance de se preparar para aquilo que o aguardava.
– Você está confiante demais… – Sirius disse receoso – Isso nunca é bom… Quando você já entra em campo achando que vai vencer o jogo, você nunca presta atenção nos seus erros…
– Eu achei que só Tiago agia como se tudo na vida pudesse ser comparado com quadribol. – Lily disse encarando Sirius com interesse.
– Se você convivesse com Tiago tanto quanto eu, falaria de quadribol mesmo sem querer também. – Sirius deu de ombros.
– Vou aprender muito sobre quadribol então… – Lily disse dando um meio sorriso tímido para Tiago, que sorriu abertamente antes de continuar lendo.
Cansada de surpreendê-los por toda a escola, a Professora Minerva dera a Harry permissão para usar a sala de Transformação vazia na hora do almoço. Ele não tardou a dominar a Azaração de Impedimento, um feitiço para retardar e obstruir atacantes, o Feitiço Redutor lhe permitiria explodir objetos sólidos em seu caminho, o Feitiço dos Quatro Pontos, uma descoberta útil de Hermione que faria sua varinha apontar para o norte, permitindo-lhe, assim, verificar se estava se deslocando na direção certa dentro do labirinto.
– Esse feitiço eu não conhecia. – Remo disse interessado – Acho que nunca precisei realmente saber para onde era o norte… Mas pode ser muito útil.
Mas ele ainda estava tendo problemas com o Feitiço Escudo. Este lançava uma parede temporária e invisível em torno dele e o protegia de pequenos feitiços, Hermione conseguiu desfazê-la com uma bem colocada Azaração das Pernas Bambas. Harry bambeou pela sala uns bons dez minutos, até a garota ter tido tempo para achar a contra-azaração.
— Mas você continua se saindo realmente bem — disse Hermione encorajando Harry e consultando a lista que fizera para riscar o que ele já aprendera. — Alguns desses devem ser uma mão na roda.
– Você deviam ter aprendido a maioria desses feitiços anos antes! – Sirius revirou os olhos – Se vocês tivessem tido Flitwick no clube de duelos estariam bem melhor…
– Pelo menos está aprendendo agora. – Tiago deu de ombros – Antes tarde do que nunca.
— Venham só dar uma espiada nisso — disse Rony que estava parado junto à janela. Contemplava os jardins. — Que será que o Malfoy está aprontando?
Harry e Hermione foram ver. Malfoy, Crabbe e Goyle estavam parados à sombra de uma árvore lá embaixo. Crabbe e Goyle pareciam estar vigiando alguma coisa, os dois abafavam risinhos. Malfoy tampava a boca com a mão e falava para dentro dela.
— Parece até que ele está usando um walkie-talkie — disse Harry curioso.
— Não pode estar — lembrou Hermione. — Já disse a vocês dois que esse tipo de coisa não funciona em Hogwarts. Vamos, Harry — acrescentou ela energicamente, dando as costas à janela e voltando ao meio da sala — vamos experimentar outra vez o Feitiço Escudo.
– Isso é muito estranho. – Sirius disse coçando a cabeça pensativo – Walkie-talkies podem até não funcionar em Hogwarts, mas ele está falando na mão dele… E não está falando com Crabbe e Goyle…
– Ele deve estar se comunicando com alguém com quem ele não deveria falar. – Alice deu de ombros desanimada – Por isso os dois estão vigiando…
– Mas não tem ninguém com eles… – Tiago disse balançando as pernas ansioso – A não ser que tenha alguém com ele…
– O que quer dizer? – Lily perguntou confusa.
– Que tem uma pessoa que anda por Hogwarts ouvindo conversas dos outros e que ninguém mais consegue ver… – Tiago respondeu encarando o livro com atenção – Aparentemente essa pessoa está fazendo entrevistas com sonserinos, afinal, Pansy deu uma entrevista para a matéria sobre Mione… Eu só não sei exatamente como ela anda pelo colégio sem ser propriamente invisível, mas de modo invisível…
– Você está me deixando confusa. – Lily confessou.
– Estou apenas tentando entender como exatamente Skeeter entra na escola sem ser vista e faz entrevistas por ai… – Tiago deu de ombros – E Draco está conversando com alguém que não deveria estar ali…
– O que você acha de pensar enquanto lê? – Sirius perguntou com um meio sorriso para Tiago, que acenou afirmativamente e voltou à leitura.
Sirius agora mandava corujas diariamente. Do mesmo modo que Hermione, ele parecia querer se concentrar em fazer Harry concluir a última tarefa, antes de se preocupar com outra coisa. Em cada carta ele lembrava ao afilhado que fosse o que fosse que acontecesse fora dos muros de Hogwarts não era responsabilidade do garoto, nem estava em seu poder influenciar nada.
– Não… – Sirius disse apreensivo – Eu estou vendo tudo da forma errada… Quem colocou o nome de Harry no cálice tem um plano… Devíamos pensar no que está acontecendo fora de Hogwarts também…
– Seu eu-futuro não tem como saber. – Remo respondeu balançando as pernas preocupado – Para seu eu-futuro, alguém está apenas querendo matar Harry… Você não ouviu sobre o plano de Voldemort poder ser realizado com outra pessoa…
– Esse plano me deixa cada vez mais preocupada. – Lily suspirou – O que exatamente ele quer com Harry…
– Não tenho nenhuma ideia. – Tiago afirmou – Mas tenho certeza de que é muito pior do que todos estão imaginando…
“Se Voldemort está realmente voltando a se fortalecer, — escreveu ele — minha prioridade é garantir a sua segurança. Ele não pode sequer alimentar esperanças de pegá-lo enquanto você estiver sob a proteção de Dumbledore, mas mesmo assim, não corra riscos: concentre-se em atravessar esse tal labirinto em segurança, depois poderemos voltar nossa atenção para outros assuntos.”
– Voldemort deu um jeito de colocar o nome de Harry no cálice. – Remo disse nervoso – Se ele foi capaz de fazer isso debaixo do nariz de Dumbledore…
– Eu só não consigo entender qual é o plano dele! – Tiago disse bagunçando os próprios cabelos, frustrado – Por que exatamente ele queria Harry no Torneio, para que ele precisa de Harry… E principalmente, como ele vai fazer para por as mãos em Harry durante a prova?
– Ele só pode fazer isso durante a prova. – Sirius concordou balançando a cabeça – Se não fosse ser durante a prova, ele não precisaria de Harry no Torneio…
– Então o que quer que seja… Só pode acontecer nesse capítulo. – Severo murmurou estreitando os olhos.
O nervosismo de Harry foi crescendo à medida que o dia vinte e quatro de junho se aproximava, mas nem tanto quanto nas tarefas anteriores. Por um lado, ele se sentia confiante de que, desta vez, fizera tudo que pudera para se preparar para a tarefa. Por outro, esse era o último esforço e, independentemente de se dar bem ou mal, o torneio enfim terminaria, o que seria um enorme alívio.
– Eu realmente acho que Harry esqueceu que alguém colocou ele no torneio de proposito… – Lily suspirou nervosa – Tudo o que eu queria era que Harry não entrasse nesse labirinto. – completou roendo as unhas apreensiva.
– Ele não pode simplesmente não entrar no labirinto. – Sirius suspirou.
– Mas devia poder, ou então entrar e sair em seguida… – Lily bufou ansiosa – Mas sei que Harry não faria isso. – completou voltando a pousar a cabeça no ombro de Tiago – Por que Harry tem que ser tão atraído pelo perigo?
– Genética. – Sirius deu de ombros em tom de explicação.
O café foi uma reunião barulhenta à mesa da Grifinória, na manhã da terceira tarefa. O correio coruja apareceu, trazendo para Harry um cartão de boa sorte de Sirius. Era apenas um pedaço de pergaminho, dobrado com a impressão de uma pata enlameada, Harry gostou assim mesmo.
– Imagino que eu não tenha muitas palavras em um momento como esse. – Sirius suspirou.
– Você já tinha dito tudo o que precisava dizer com a impressão da pata. – Harry disse sorrindo para Sirius com carinho – Foi mais do que o suficiente.
Uma coruja-das-torres chegou trazendo para Hermione seu exemplar do Profeta Diário, como habitualmente. Ela abriu o jornal, deu uma olhada na primeira página, cuspiu a boca cheia de suco de abóbora, sujando todo o jornal.
— Que foi? — exclamaram Harry e Rony juntos, olhando para garota.
— Nada — disse Hermione depressa, tentando esconder o jornal, mas Rony agarrou-o.
Ele arregalou os olhos para a manchete e disse:
— Nem pensar. Hoje não. Essa vaca velha.
— Que foi? — perguntou Harry. — Rita Skeeter de novo?
— Não — respondeu Rony, e do mesmo modo que Hermione, tentou esconder o jornal.
— Fala de mim, não é? — perguntou Harry.
— Não — disse Rony, num tom que não convencia ninguém.
– Eu disse, – Gina revirou os olhos – vocês nunca souberam disfarçar muito bem…
– Gina tem razão. – Sirius disse encarando Rony e Hermione – Vocês mentem muito mal! Precisam de umas boas aulas!
Mas antes que Harry pudesse pedir para ver o jornal, Draco Malfoy gritou lá da mesa da Sonserina, do outro lado do salão.
— Ei, Potter! Potter! Como é que está a sua cabeça? Você está se sentindo legal? Tem certeza de que não vai endoidar para cima da gente?
– O desmaio da aula de adivinhação. – Tiago suspirou resignado.
– Mas como ela poderia saber? – Lily perguntou irritada.
– Vamos ler a matéria… – Sirius disse ansioso – Duvido que Rony e Hermione consigam esconder por muito tempo… E então vamos saber se ela viu, ou alguém contou a ela.
– Mas ela não tem como ter visto! – Alice disse enfática – Harry estava no meio da sala de aula, em uma torre!
– Só vamos saber lendo a matéria. – Sirius deu de ombros – E talvez não dê para descobrir nem assim…
Malfoy segurava um exemplar do Profeta Diário, também. Os alunos ao redor da mesa da Sonserina deram risadinhas e se viraram nas cadeiras para ver a reação de Harry.
— Me deixa ver isso — pediu Harry a Rony. — Me dá isso aqui.
Com muita relutância Rony entregou o jornal. Harry virou-o e deparou com a própria foto, sob uma gigantesca manchete.
“HARRY POTTER PERTURBADO E PERIGOSO”
– Isso não vai ser nada bom. – Tiago suspirou antes de ler.
O garoto que derrotou Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado encontra-se instável e possivelmente perigoso, escreve nossa repórter especial Rita Skeeter. Há poucos dias vieram à luz provas assustadoras do estranho comportamento de Harry Potter, que lançam dúvidas sobre suas qualificações para competir em um torneio rigoroso como o Tribruxo, ou até mesmo para freqüentar a Escola de Hogwarts.
– Que mulherzinha baixa! – Lily disse irritada, levantando a cabeça do ombro de Tiago – Que mulher vil!
– Espero sinceramente que você tenha dado um jeito nela. – Remo disse a Hermione – Ela tem que estar fazendo algo errado para obter essas informações!
O Profeta Diário está em condições de afirmar, com exclusividade, que Potter regularmente desmaia na escola, e com freqüência se queixa de dor na cicatriz que tem na testa (relíquia de um feitiço com que Você-Sabe-Quem tentou matá-lo).
Na última segunda-feira, no meio de uma aula de Adivinhação, a repórter do Profeta Diário presenciou a saída intempestiva de Potter da sala de aula, dizendo que sua cicatriz o incomodava em demasia para que pudesse continuar em classe.
– Presenciou? – Lily disse entredentes – Ela não presenciou nada! Ela não estava na sala!
– Não… – Tiago murmurou pensativo – Harry não viu ela na sala… Rony e Neville também não… O que aconteceu de diferente nessa aula? Além de Harry ter desmaiado?
– Harry estava com calor… – Sirius disse hesitante – Ele abriu a janela! – exclamou vitorioso.
– Ela não poderia estar na sala, mas ela poderia estar espiando da janela. – Tiago conjecturou.
– Mesmo assim. – Alice suspirou – Ele estava no alto de uma torre, ela não pode ter escutado!
– Ela pode ter dado um jeito de chegar até a janela. – Remo deu de ombros – Há várias formas de voar até uma janela e permanecer invisível… Ela poderia estar invisível como estava no dia da segunda prova, em cima de um testrálio…
– Ou ela poderia estar fazendo alguma coisa bem menos complicada. – Tiago disse balançando as pernas ansioso – Tenho certeza de que há algo em comum entre o baile de inverno, a segunda tarefa e o dia em que Harry desmaiou na aula…
– Não há nada em comum entre esse dias! – Lily afirmou categórica – O baile era uma festa, tinham várias pessoas em volta, mas Harry e Rony dizem que não viram ninguém que poderia ter escutado a conversa deles… Na segunda tarefa Hermione tem certeza de que ninguém pode ter ouvido ela conversando com Krum… E Rita não teria como estar na aula.
– Eu sei! – Tiago bufou frustrado – Mas ela tem que estar ouvindo essas conversas de alguma forma!
– Pensa enquanto lê. – Sirius disse ansioso.
É possível dizem os maiores especialistas do Hospital St. Mungus para Doenças e Acidentes Mágicos, que o cérebro de Potter tenha sido afetado pelo ataque que sofreu de Você-Sabe-Quem, e que sua insistência em dizer que a cicatriz continua a doer seja uma expressão de sua arraigada confusão.
"Talvez até esteja fingindo": opinou um especialista, "o que poderia ser um mecanismo para receber atenção”.
– Além de chamar você de louco ainda vão dizer que você está mentindo? – Sirius disse irritado.
– O que mais me irrita, é que as pessoas nem ao menos levam em conta o fato de Harry ser o único sobrevivente ao feitiço da morte! – Remo bufou – Eles nem sabem o que o feitiço realmente pode ter feito!
Severo concordou com Remo internamente.
O Profeta Diário, no entanto, descobriu fatos preocupantes sobre Harry Potter, que Alvo Dumbledore, diretor de Hogwarts, tem cuidadosamente ocultado do público bruxo.
"Potter é ofidioglota" revela Draco Malfoy, um quartanista de Hogwarts. "Há uns dois anos, houve uma série de ataques a estudantes, e quase todos pensaram que Potter era o responsável depois que o viram perder a cabeça em um Clube de Duelos e açular uma cobra contra um colega. O episódio foi abafado. Mas ele também faz amizade com lobisomens e gigantes. Achamos que ele é capaz de qualquer coisa para ter algum poder.”
– Era isso que Draco estava fazendo quando vocês viram ele falando dentro da mão! – Tiago disse tremendo de raiva – Ele envolveu Hagrid nisso! Ele envolveu Remo!
– Pelo menos ele não falou de Remo por nome. – Sirius disse de punhos cerrados – Mas ainda assim, essa doninha ridícula…
– É claro que as pessoas vão julgar Harry por isso... – Remo suspirou triste – Mas isso não importa, Harry é mais forte que isso, eu sei que sim. – completou olhando para Harry com carinho.
Ofidioglossia, ou a capacidade de conversar com as cobras, é tradicionalmente considerada uma Arte das Trevas. Com efeito, o ofidioglota mais famoso dos nossos tempos não é outro senão Você-Sabe-Quem. Um membro da Liga de Defesa contra as Artes das Trevas, que prefere se manter anônimo, declarou que consideraria qualquer bruxo ofidioglota "merecedor de investigação”.
“Pessoalmente, eu encararia com muita suspeita qualquer pessoa que conversasse com cobras, pois esses animais em geral são usados nos piores tipos de magia negra e historicamente, são associados com bruxos malignos!” Da mesma forma "qualquer um que procure a companhia de criaturas selvagens como lobisomens e gigantes me parece ter inclinação para a violência":
– Então, eu diria que todos nós temos uma grande inclinação para a violência! – Sirius exclamou sarcástico – Passamos a maior parte do nosso tempo com um lobisomem e um ofidioglota e consideramos um meio-gigante a pessoa mais doce do mundo!
– Acho que nós somos as pessoas ruins afinal. – Tiago concordou irônico – E talvez no próximo jornal venha a notícia de que os comensais da morte são um grupo hippie amante de trouxas que cantam em volta da fogueira de mãos dadas!
Alvo Dumbledore deveria, sem dúvida, refletir se um garoto desses pode realmente competir no Torneio Tribruxo. Há quem receie que Potter possa apelar para as Artes das Trevas em seu desespero de vencer o torneio, cuja terceira tarefa será realizada hoje à noite.
– Essa mulher nem ao menos faz sentido! – Sirius bufou – Um dia ela trata Harry como um heroizinho trágico, depois ela coloca Harry no meio de um triangulo amoroso com Krum e Hermione, ainda tentando fazer as pessoas terem pena dele, e de repente ele se torna um louco que pode apelar para as Artes das Trevas?
– Ela é ridícula! – Lily concordou – Está sempre se contradizendo, não sabe nem fazer o próprio trabalho direito.
– Ela não tem competência nem para ser uma péssima jornalista. – Sirius afirmou irritado.
— Acho que ela está deixando de gostar de mim, não? — comentou Harry despreocupado, dobrando o jornal.
– Fico feliz em ver que você não deixou essa matéria ridícula te desestabilizar. – Remo disse dando a Harry um sorriso confiante – Você precisa de toda a sua concentração para a terceira tarefa.
Na mesa da Sonserina, Malfoy, Crabbe e Goyle riam-se dele, davam pancadinhas na cabeça, faziam caretas grotescas imitando loucos e agitavam as línguas como cobras.
— Como foi que ela soube que a sua cicatriz doeu na aula de Adivinhação? — perguntou Rony. — Não havia como ela ter estado presente, não havia como poder ter ouvido...
— A janela estava aberta — disse Harry. — Eu a abri para respirar.
— Você estava no alto da Torre Norte — lembrou Hermione. — Sua voz não podia ter sido ouvida lá embaixo nos jardins!
— Bem, você é quem anda pesquisando métodos mágicos de grampear! — disse Harry. — Me diga você como foi que ela conseguiu!
— Estou tentando — defendeu-se Hermione. — Mas eu... Mas...
Uma expressão estranha e sonhadora subitamente apareceu no rosto de Hermione. Ela ergueu uma das mãos e correu os dedos pelos cabelos.
— Você está legal? — perguntou Rony, erguendo as sobrancelhas para a amiga.
— Estou — respondeu Hermione sem fôlego. Ela tornou a correr os dedos pelos cabelos e levou a mão à boca, como se estivesse falando para um walkie-talkie invisível. Harry e Rony se entreolharam.
– Já sei! – Tiago disse levantando os olhos do livro e encarando Hermione com atenção – Já sei o que há em comum em todas as conversas que sabemos que Skeeter escutou!
– E o que é? – Lily perguntou curiosa.
– Um besouro! – Tiago disse magistralmente.
– Genial! – Sirius exclamou pasmado – Devíamos ter pensado nisso! É claro que nós devíamos ter pensado nisso! Ela entra em Hogwarts escondida da mesma forma como eu entrava em Hogwarts escondido no ano anterior!
– Você quer dizer que ela é um animago ilegal? – Lily perguntou perplexa.
– Faz todo o sentido! – Remo disse dando um tapa na própria testa.
– No dia do baile Harry ficou encarando um besouro para evitar ouvir a conversa de Hagrid. – Tiago disse analisando as reações de Hermione, procurando pela confirmação de suas teorias – Na segunda tarefa Krum tirou um besouro do seu cabelo… E na sala de adivinhação, Harry escutou o zumbido de um inseto! Ela é um besouro! E é assim que ela ouviu conversas e conseguiu entrevistas o tempo todo! – Hermione sorriu para Tiago satisfeita.
– Não posso falar se você está certo. – Hermione disse sem esconder o sorriso e a admiração, não estava surpresa que ele tenha descoberto, ela era mais jovem que ele e tinha menos informações quando descobriu.
– Eu sei que estou certo. – Tiago disse passando os dedos pelos cabelos e voltando a ler.
— Tive uma idéia — disse Hermione, olhando para o espaço. — Acho que sei... Porque desse jeito ninguém poderia ver... Nem Moody... E ela poderia ter chegado até o peitoril da janela... Mas isso é proibido... Decididamente é proibido... Acho que a pegamos! Me dêem dois segundinhos na biblioteca, só para ter certeza!
– O que exatamente você foi procurar na biblioteca? – Sirius perguntou curioso – Se Tiago está certo, você não teria muito o que procurar…
– Eu não posso dizer, não é? – Hermione respondeu sem esconder uma risada.
– Ela não tem todas as informações sobre animagia que nós temos. – Tiago disse encarando Hermione interessado – Pode ter ido ver se é possível se transformar em um inseto… Ou algo do tipo… Você já sabe que dá para se transformar sem conhecimento do ministério, afinal você conheceu dois animagos ilegais um ano antes…
– Deve ser isso. – Lily deu de ombros – Eu não sabia que era possível se transformar em um inseto!
Dizendo isso, Hermione agarrou a mochila e saiu correndo do Salão Principal.
— Oi! — gritou Rony para ela. — Temos exame de História da Magia dentro de dez minutos! Caracas, — disse o garoto tornando a se virar para Harry — ela deve realmente odiar aquela Skeeter para se arriscar a perder o início do exame. Que é que você vai fazer na sala do Binns, reler livros?
Dispensado dos testes de fim de trimestre por ser campeão no torneio, até ali Harry se sentara no fundo das salas de exame, pesquisando novas azarações para a terceira tarefa.
— Acho que sim — respondeu Harry para Rony; mas nesse instante a Professora Minerva vinha contornando a mesa da Grifinória em direção a ele.
— Potter, os campeões vão se reunir na câmara vizinha ao salão depois do café — anunciou ela.
— Mas a tarefa só vai ser à noite! — exclamou Harry, derramando, sem querer, ovos mexidos na roupa, receoso de que tivesse se enganado na hora.
— Eu sei disso, Potter. As famílias dos campeões foram convidadas para assistir à última tarefa, entende. É apenas uma oportunidade para você cumprimentá-los.
Lily, Tiago e Sirius se entreolharam desconfortáveis.
– Tudo o que eu queria era poder estar com você. – Lily murmurou com os olhos marejados – Mas espero que você não fique triste…
– Se eu não fosse um foragido… – Sirius suspirou – Talvez eu tenha ido assistir de qualquer forma, – completou tentando se animar – no ano anterior eu fui assistir uma das suas partidas de quadribol… Não vejo porque não poderia assistir a tarefa como cão…
– E mesmo que Sirius não consiga aparecer, você tem o apoio de Rony, Hermione e toda a Grifinória. – Tiago disse tentando se manter forte.
– Eu fico sinceramente triste por não ser nem ao menos considerado. – Remo bufou – Mas eu entendo… Também não acho que vou estar esperando por Harry… E isso é só mais uma razão para mudar tudo!
Ela se afastou. Harry acompanhou-a com o olhar, boquiaberto.
— Ela não está esperando que os Dursley apareçam, está? — perguntou a Rony sem entender.
— Sei lá. Harry é melhor eu me apressar ou vou chegar tarde à sala do Binns. A gente se vê depois.
Harry terminou o café da manhã num salão que ia lentamente se esvaziando. Viu Fleur Delacour se levantar da mesa da Corvinal e se juntar a Cedrico, na hora em que o rapaz atravessava o salão para entrar na câmara.
Krum saiu daquele seu jeito curvado para se reunir a eles logo depois. Harry continuou onde estava. Na realidade não queria entrar na câmara. Não tinha família — ou pelo menos nenhuma família que fosse aparecer para vê-lo arriscar a vida. Mas no instante em que começou a se levantar, pensando que seria melhor ir à biblioteca reler mais algumas azarações, a porta da câmara se abriu e Cedrico pôs a cabeça para fora.
— Harry, anda, eles estão esperando por você!
– Quem? – Lily perguntou confusa – Minha irmã nunca viria a Hogwarts…
– Talvez eu tenha me transfigurado para vir dar apoio a Harry? – Sirius deu de ombros – E talvez tenha chamado Remo também… Tenho certeza de que mantemos contato…
– Eu duvido muito que Dumbledore apoiaria você a se expor desse jeito. – Tiago suspirou voltando à leitura.
Absolutamente perplexo, Harry se levantou. Não era possível que os Dursley estivessem ali, era? O garoto atravessou o salão e abriu a porta que levava à câmara. Cedrico e os pais estavam logo à entrada.
– É claro que o pai insuportável dele viria. – Sirius bufou irritado.
Vitor Krum, a um canto, falava muito depressa em búlgaro com o pai e a mãe de cabelos escuros. Herdara o nariz adunco do pai. Do outro lado da sala, Fleur algaraviava em francês com a mãe. Sua irmãzinha, Gabrielle, segurava a mão da mãe. Ela acenou para Harry, que retribuiu o aceno. Então ele viu a Sra. Weasley e Gui parados diante da lareira, sorrindo para ele.
– A mãe de vocês é ótima. – Lily disse secando uma lágrima que cismou em cair – Eu sei que se mudarmos tudo e eu for agradecer a ela, nada vai fazer sentido… Mas assim que eu tiver a oportunidade vou dar um forte abraço nela… Apenas por ser uma ótima mãe… – Lily deitou a cabeça no ombro de Tiago novamente, emocionada.
– Devia ter imaginado. – Tiago sorriu para Rony e Gina.
— Surpresa! — disse animada a Sra. Weasley, quando Harry, todo sorriso, se encaminhou para eles.
— Pensamos em vir ver você, Harry! — Ela se curvou e lhe deu um beijo na bochecha.
— Você está bem? — cumprimentou Gui, sorrindo para o garoto e apertando sua mão. — Carlinhos queria vir, mas não pôde tirar licença. Ele me contou que você esteve incrível na tarefa com o Rabo-Córneo húngaro.
Fleur Delacour, Harry notou, espiava Gui, com grande interesse, por cima do ombro da mãe. O garoto percebeu que ela não fazia objeção alguma a cabelos compridos e brincos com dentes pendurados.
– Seria um casal interessante. – Alice disse com pouco entusiasmo – Mas só se ele tiver a capacidade de fazer ela ser mais humilde…
– Não acho que Rony se sentiria muito a vontade com isso. – Lily disse com uma meia risada, fazendo Rony corar.
— Foi muita gentileza da senhora — murmurou Harry a Sra. Weasley. — Pensei por um momento... Os Dursley...
— Hum — resmungou a Sra. Weasley contraindo os lábios. Ela sempre se abstinha de criticar os Dursley diante de Harry, mas seus olhos faiscavam sempre que eles eram mencionados.
– Mamãe só se abstinha na sua frente. – Gina contou – Sempre que Rony falava sobre seus tios ela ficava revoltada… Quando ele telefonou para você e seu tio foi grosseiro mamãe cogitou seriamente a ideia de ir buscar você… Mas logo depois papai recebeu o prêmio e fomos para o Egito…
— Estou achando o máximo voltar aqui — comentou Gui, correndo os olhos pela câmara (Violeta, a amiga da Mulher Gorda, piscou para ele lá do seu quadro). — Não revejo a escola há cinco anos. Aquele quadro do cavaleiro doidão ainda está por aí? Sir Cadogan?
— Ah, está — respondeu Harry, que conhecera Sir Cadogan no ano anterior.
— E a Mulher Gorda? — indagou Gui.
— Ela já estava aqui no meu tempo — comentou a Sra. Weasley. — Ela me passou um carão daqueles uma noite em que eu vinha voltando para o dormitório às quatro horas da manhã...
– Bom saber que sua mãe não é completamente careta! – Sirius disse com uma risada similar a um latido – Fora da cama às quatro da manhã… Quem diria…
— E o que é que a senhora estava fazendo fora do dormitório às quatro horas da manhã? — perguntou Gui olhando a Sra. Weasley, admirado.
Ela sorriu, os olhos cintilando.
— Seu pai e eu saímos para dar um passeio à noite. Ele foi pego por Apolíneo Pringle, era o zelador naquela época, seu pai ainda tem as marcas.
– Ainda bem que não pegamos a época dos castigos físicos na escola… – Sirius disse com um arrepio involuntário – Dumbledore nunca conseguiu acabar com os castigos na época de Pringle, mas quando Pringle se aposentou e Filch o substituiu acabaram os castigos físicos… Minha prima Andrômeda me contou… Antes de ser deserdada.
– Você chegou em Hogwarts já sabendo muito sobre a escola, não é? – Lily perguntou a Sirius interessada.
– Um bocado. – Sirius admitiu dando de ombros – Na época em que entrei em Hogwarts minhas primas ainda gostavam de mim… Narcissa e Andrômeda ainda estavam aqui… Então me contaram várias coisas para me preparar.
– Nenhum dos meus irmãos fez isso. – Rony disse encolhendo os ombros.
– E você não fez isso por mim quando teve a chance. – Gina rebateu cruzando os braços sobre o peito – Mas depois do episódio com o diário… Fred e Jorge me ensinaram várias coisas sobre a escola, tentaram compensar o meu primeiro ano ruim…
— Quer fazer o tour da escola com a gente, Harry? — perguntou Gui.
— Ah, OK. — disse Harry e os três se dirigiram à porta que levava ao Salão Principal. Ao passarem por Amos Diggory, o bruxo se virou.
— Aí está você, não é? — disse ele, olhando Harry de alto a baixo. — Aposto como não está se sentindo tão cheio de si agora que Cedrico superou a sua pontuação, não?
– Alguém poderia fazer o favor de estuporar esse homem desagradável! – Remo bufou exasperado.
– Estou começando a ter pena do filho dele. – Sirius revirou os olhos – Imagino quão embaraçoso é ter que lidar com isso…
— Quê? — exclamou Harry.
— Não dê atenção a ele — pediu Cedrico a Harry, em voz baixa, erguendo as sobrancelhas para o pai. — Ele anda aborrecido desde o artigo da Rita Skeeter sobre o Torneio Tribruxo, sabe, porque ela fez de conta que você era o único campeão de Hogwarts.
— Mas ele não se deu ao trabalho de corrigi-la, não é? — disse Amos Diggory, em voz suficientemente alta para Harry ouvir quando ia se encaminhando para a porta com a Sra. Weasley e Gui. — Mas... Você vai mostrar a ele, Cedrico. Já o venceu uma vez, não foi?
– Que homem ridículo! – Frank revirou os olhos – Ele insiste em competir com um garoto de 14 anos!
– Apenas ignorem ele. – Harry disse jogando a mão pro alto displicente.
— Rita Skeeter sai do caminho dela para provocar confusões, Amos! — disse a Sra. Weasley zangada. — Era de se esperar que você soubesse disso, já que trabalha no Ministério!
O Sr. Diggory pareceu que ia dizer alguma coisa, irritado, mas sua mulher pôs a mão em seu braço e ele simplesmente encolheu os ombros e virou as costas.
– Ele ainda ia teimar com a Sra. Weasley? – Sirius perguntou balançando a cabeça descrente – É ridículo mesmo.
Harry teve uma manhã muito agradável passeando pela propriedade ensolarada com Gui e a Sra. Weasley, mostrando-lhes a carruagem de Beauxbatons e o navio de Durmstrang. A Sra. Weasley se mostrou intrigada com o Salgueiro Lutador, que fora plantado depois que ela terminara a escola, e lembrou-se longamente do guarda-caça antes de Hagrid, um homem chamado Ogg.
— Como vai o Percy? — perguntou Harry, quando davam a volta às estufas.
— Nada bem — respondeu Gui.
— Ele está muito aborrecido — disse a Sra. Weasley, baixando a voz e olhando para os lados. — O Ministério quer abafar o desaparecimento do Sr. Crouch, e Percy foi convocado para um interrogatório sobre as instruções que o Sr. Crouch tem-lhe mandado. Aparentemente o Ministério pensa que elas talvez não tenham sido escritas por Crouch. Percy está sob uma enorme tensão. Não vão deixá-lo substituir o chefe, como quinto juiz, hoje à noite. Cornélio Fudge virá fazer isso.
– Crouch provavelmente escreveu as cartas sob coação. – Sirius afirmou – Já sabemos que ele estava sob o poder de Voldemort… Devia estar preso desde quando parou de ir à escola…
– Ou até há mais tempo. – Tiago disse pensativo – Poderia estar sob a maldição imperius… Harry sempre falava que Crouch estava apático, mas achávamos que ele era simplesmente assim…
– O pior mesmo é ter que aturar Fudge como jurado. – Frank bufou mal humorado.
Os três voltaram ao castelo para almoçar.
— Mamãe... Gui! — exclamou Rony, fazendo cara de espanto, ao se reunir à mesa da Grifinória. — Que é que vocês estão fazendo aqui?
— Viemos assistir à última tarefa do Harry! — disse a Sra. Weasley animada. — Devo confessar, é uma bela mudança não ter que cozinhar. Como foi o seu exame?
— Ah... OK... Não consegui me lembrar dos nomes de todos os duendes rebeldes, por isso inventei alguns. Tudo bem — acrescentou servindo-se de um pastel galês, sob o olhar severo da mãe, — todos eles têm nomes tipo Bodrode o Barbudo, Urgue o Impuro, não foi difícil.
Fred, Jorge e Gina vieram fazer companhia a eles também e Harry se divertiu tanto que quase se sentiu de volta à Toca, esquecera-se de se preocupar com a tarefa da noite e somente quando Hermione apareceu, já na metade do almoço, foi que ele se lembrou de que a garota tivera uma idéia sobre Rita Skeeter.
– Que ótimo! – Lily suspirou com um sorriso entre satisfeito e triste – Você teve um bom almoço em família…
Tiago apertou a mão de Lily com carinho antes de continuar lendo.
— Vai nos contar...?
Hermione balançou a cabeça num aviso e olhou para a Sra. Weasley.
— Olá, Hermione — disse a Sra. Weasley muito mais formalmente do que de costume.
— Olá — respondeu a garota, seu sorriso hesitante diante da expressão fria no rosto da senhora.
– Atitude interessante para quem acabou de criticar Diggory por acreditar em Skeeter. – Remo disse irônico.
– Mamãe não fez de proposito. – Gina deu de ombros – Ela só se importa demais com Harry, e acha que ele precisa ser protegido de tudo…
– Sua mãe é ótima, mas ela exagera… – Tiago suspirou.
Harry olhou para as duas, em seguida disse:
— Sra. Weasley, a senhora não acreditou naquele besteirol que a Rita Skeeter escreveu no Semanário das Bruxas, acreditou? Porque Mione não é minha namorada.
— Ah! — exclamou a Sra. Weasley. — Não... É claro que não!
Mas ela se tornou bem mais calorosa para com Hermione depois disso.
– Pelo menos Mione é madura o bastante para não guardar rancor. – Gina disse com um meio sorriso.
Harry, Gui e a Sra. Weasley passaram a tarde em um longo passeio ao redor do castelo, depois voltaram ao Salão Principal para o banquete da noite. Ludo Bagman e Cornélio Fudge haviam se sentado à mesa dos professores. Bagman parecia bem animado, mas Cornélio Fudge, ao lado de Madame Maxime, estava sério e calado. Madame Maxime se concentrava no prato a sua frente, e Harry achou que seus olhos pareciam vermelhos. Hagrid não parava de olhar para os lados dela na mesa.
– Eles devem ter brigado de novo. – Alice suspirou desapontada – E não deve ser nada agradável ter que comer com um homem preconceituoso como Fudge ao lado…
– Nem um pouco. – Remo concordou com um suspiro cansado – O pior é que a maioria das pessoas é como ele…
Havia mais pratos do que de costume, mas o garoto, que estava começando a se sentir realmente nervoso, não comeu muito. Quando o teto encantado no alto começou a desbotar de azul para um violáceo crepuscular,
Dumbledore se ergueu à mesa dos professores e fez-se silêncio.
— Senhoras e senhores, dentro de cinco minutos, vou pedir a todos que se encaminhem para o estádio de Quadribol para assistir à terceira e última tarefa do Torneio Tribruxo. Os campeões, por favor, queiram acompanhar o Sr. Bagman ao estádio agora.
Lily suspirou ansiosa, era a última tarefa e eles sabiam que o plano de Voldemort devia se concretizar naquele momento.
Harry se levantou. Todos os colegas da Grifinória o aplaudiram, os Weasley e Hermione lhe desejaram boa sorte e ele se dirigiu à porta do Salão Principal com Cedrico, Fleur e Krum.
— Está se sentindo bem, Harry? — perguntou Bagman, quando desciam os degraus da entrada para os jardins. — Confiante?
— Estou OK... — Era um pouco verdade; estava nervoso, mas não parava de repassar mentalmente todas as azarações e feitiços que praticara enquanto andavam, e a idéia de que era capaz de lembrar de todos eles o fazia se sentir melhor.
– Não consigo ficar tranquilo. – Tiago bufou tirando os olhos do livro – Só pode ser nessa tarefa… Depois de tanto tempo… Eles não colocariam o nome do Harry no cálice em vão!
– Não quero nem pensar nisso. – Lily suspirou pousando a cabeça novamente no ombro de Tiago.
Os campeões entraram no estádio de Quadribol, que estava totalmente irreconhecível. Uma sebe de seis metros corria a toda volta. Havia uma abertura bem diante deles: a entrada para o imenso labirinto. A passagem além parecia escura e sinistra.
Cinco minutos mais tarde, as arquibancadas começaram a se encher, o ar vibrou com as vozes excitadas e o ruído dos pés de centenas de estudantes que ocupavam seus lugares. O céu se tornara azul profundo e límpido, e as primeiras estrelas começavam a surgir. Hagrid, o Professor Moody, a Professora Minerva e o Professor Flitwick entraram no estádio e se aproximaram de Bagman e dos campeões.
Usavam grandes estrelas vermelhas e luminosas nos chapéus, todos, exceto Hagrid, que carregava a dele nas costas do colete de pele de toupeira.
— Vamos patrulhar o lado externo do labirinto — disse a professora aos campeões. — Se estiverem em apuros, e quiserem ser socorridos, disparem faíscas vermelhas para o ar e um de nós irá buscá-los, entenderam?
Os campeões confirmaram com um aceno de cabeça.
– Fico um pouco mais tranquila em saber que Hagrid, Flitwick, McGonagall e Moody vão estar cuidando de você. – Lily disse esfregando as mãos ligeiramente aliviada – Não há ninguém melhor para cuidar de Harry… A não ser Dumbledore, talvez…
– Pelo menos Moody vai conseguir enxergar dentro do labirinto. – Remo suspirou ainda apreensivo – Se acontecer alguma coisa ele vai poder agir rápido...
— Podem começar, então! — disse Bagman, animado, para os quatro patrulheiros.
— Boa sorte, Harry — sussurrou Hagrid, e os quatro saíram em diferentes direções para se postar em torno do labirinto. Bagman, então, apontou a varinha para a garganta e murmurou "Sonorus", e sua voz magicamente amplificada ressoou pelas arquibancadas.
— Senhoras e senhores, a terceira e última tarefa do Torneio Tribruxo está prestes a começar! Deixe-me lembrar a todos o placar atual! Empatados em primeiro lugar, com oitenta e cinco pontos cada, o Sr. Cedrico Diggory e o Sr. Harry Potter, os dois da Escola de Hogwarts!
Os vivas e as palmas fizeram os pássaros saírem voando da Floresta Proibida para o céu crepuscular.
— Em segundo lugar, com oitenta pontos, o Sr. Vítor Krum, do Instituto Durmstrang! — Mais aplausos. — E, em terceiro lugar, a Srta. Fleur Delacour, da Academia de Beauxbatons!
Harry conseguiu apenas reconhecer a Sra. Weasley, Gui, Rony e Hermione aplaudindo Fleur educadamente, mais ou menos no meio das arquibancadas. Ele acenou para os amigos que retribuíram o aceno, sorrindo.
— Então... Quando eu apitar, Harry e Cedrico! — anunciou Bagman. — Três... Dois... Um...
– Vai dar tudo certo… – Lily murmurou para si mesma com um tremor – Precisa dar tudo certo…
O bruxo soprou com força o apito e Harry e Cedrico correram para a entrada do labirinto. As sebes altaneiras lançavam sombras escuras sobre a trilha e, talvez porque fossem tão altas e densas ou porque fossem encantadas, o barulho dos espectadores que as cercavam silenciou no instante em que os rapazes entraram no labirinto. Harry quase se sentiu novamente embaixo da água. Puxou a varinha, murmurou: “Lumus" e ouviu Cedrico fazer o mesmo atrás dele.
Depois de andarem uns cinqüenta metros, os garotos chegaram a uma bifurcação. Entreolharam-se.
— Até mais — disse Harry e tomou a trilha da esquerda, enquanto Cedrico tomou a da direita.
Harry ouviu o apito de Bagman uma segunda vez. Krum acabara de entrar no labirinto. Harry se apressou. A trilha que escolhera parecia completamente deserta.
Ele se virou à direita e continuou depressa, mantendo a varinha acima da cabeça, tentando ver o mais longe possível. Mesmo assim, não havia nada à vista.
O apito de Bagman soou ao longe uma terceira vez. Todos os campeões agora estavam no interior do labirinto.
Harry não parava de olhar para trás. Tinha a sensação familiar de que alguém o vigiava.
– Talvez Moody esteja vigiando seu lado do labirinto. – Remo disse tentando parecer tranquilo – Dumbledore deve ter pedido para ele ficar de olho em você… Dumbledore não é burro, sabe que você ainda está em perigo…
– Espero que sim. – Alice suspirou.
O labirinto foi ficando mais escuro a cada minuto que se passava, porque o céu no alto ia ganhando um matiz azul-marinho. Ele chegou a uma segunda bifurcação.
— Me oriente — sussurrou ele à varinha, segurando-a deitada na palma da mão.
A varinha fez um giro completo e apontou para a direita, para a sebe maciça. Para ali ficava o norte, e ele sabia que precisava seguir para noroeste para chegar ao centro do labirinto. Faria melhor se tomasse a trilha da esquerda e tornasse a seguir para a direita assim que pudesse.
A trilha à frente também estava vazia e quando Harry chegou a uma curva à direita e entrou por ela, encontrou mais uma vez o caminho livre.
– Esse labirinto está vazio demais… – Sirius disse balançando as pernas apreensivo – Você já deveria ter se deparado com alguns obstáculos…
– Pelo menos ele não foi atacado por nada. – Lily disse nervosa – Não é tão ruim que o caminho esteja vazio, pelo menos está longe do perigo!
– Não sei… – Sirius murmurou – Isso não parece bom…
Harry não sabia o porquê, mas a falta de obstáculos começava a deixá-lo nervoso. Com certeza já deveria ter encontrado algum a essa altura? Tinha a impressão de que o labirinto o estava induzindo a uma falsa sensação de segurança. Então ouviu um movimento bem atrás dele. Ergueu a varinha, pronto a atacar, mas seu facho de luz recaiu sobre Cedrico, que acabara de sair correndo da trilha do lado direito.
Cedrico parecia gravemente abalado. A manga de suas vestes fumegava.
— Os explosivins de Hagrid! — sibilou ele. — Estão enormes, escapei por um triz!
– Tinha certeza de que Hagrid se divertiria muito fornecendo criaturas para o labirinto. – Gina disse categórica – Passamos um bom tempo sem ver explosivins antes da terceira tarefa… Achei que Dumbledore tinha se livrado deles depois da matéria sobre Hagrid…
– Pensei o mesmo… – Tiago disse enfático – Era o mais prudente a se fazer depois da Skeeter falar sobre isso no jornal…
– Talvez os funcionários do departamento de regulação e controle das criaturas magicas respeitem demais Dumbledore para simplesmente ir atrás de Hagrid dentro de Hogwarts. – Sirius deu de ombros – Ou eles simplesmente não dão tanta atenção ao que Skeeter escreve por ai...
– Ou as pessoas passaram o tempo pensando em Hagrid ser um meio gigante e não repararam que ela acusou ele de fazer experimentos ilegais. – Remo interrompeu.
Cedrico sacudiu a cabeça e desapareceu de vista por outra trilha.
Interessado em guardar uma boa distância entre ele próprio e os explosivins, Harry retomou depressa o seu caminho. Então, ao fazer uma curva ele viu... Um dementador deslizava em sua direção. Três metros e meio de altura, o rosto oculto pelo capuz, as mãos podres e cobertas de feridas estendidas à frente, ele avançava às cegas, tateando em direção ao garoto. Harry ouviu sua respiração vibrante, sentiu um frio pegajoso se apoderar dele, mas sabia o que precisava fazer...
– Dementador? – Remo perguntou surpreso – Dumbledore não permitiu dementadores dentro de Hogwarts nem quando achava que Sirius era um assassino!
– Deve ser um bicho-papão. – Sirius disse pensativo – Continuo me impressionando com o fato do seu maior medo ser o medo em si…
– Eu disse, – Remo disse encarando Harry orgulhoso – Harry é forte! Espero que seu bicho-papão continue sendo um dementador por muito tempo… Meu maior medo mudou muito ao longo dos anos.
– E qual é o seu maior medo hoje? – Alice perguntou interessada.
– Na última vez que encarei um bicho-papão, meu maior medo era perder meus amigos… – Remo disse olhando para Sirius e Tiago, sério – Quando era mais novo, antes de vocês descobrirem, meu maior medo era que soubessem o que eu sou, e me rejeitassem… Aparentemente no futuro meu maior medo é a lua cheia em si, provavelmente o medo de ter que enfrentá-la sozinho…
– Vamos mudar isso também. – Tiago garantiu – Você não vai ter que enfrentar lua cheia nenhuma sozinho, como eu te prometi na noite em que consegui me transformar pela primeira vez!
Chamou à mente o pensamento mais feliz que pôde, se concentrou com todas as forças no pensamento de sair do labirinto e comemorar com Rony e Hermione, ergueu a varinha e exclamou:
— Expecto Patronum!
Um cervo prateado irrompeu da ponta da varinha de Harry e avançou à galope para o dementador, que recuou e tropeçou na barra das vestes... Harry nunca vira um dementador tropeçar.
— Espere ai! — gritou ele, avançando na cola do seu patrono prateado. — Você é um bicho-papão! Ridikulus!
Ouviu-se um grande estalo e o transformista explodiu, deixando atrás apenas uma fumacinha. O cervo prateado desapareceu de vista. Harry desejou que ele tivesse podido ficar, seria agradável ter uma companhia... Mas continuou o seu caminho o mais depressa e silenciosamente que pôde, apurando os ouvidos, a varinha, mais uma vez, erguida no alto.
Esquerda... Direita... Novamente à esquerda... Em duas ocasiões ele foi dar em trilhas sem saída. Harry executou o Feitiço dos Quatro Pontos mais uma vez e descobriu que se afastara demais para leste.
Retrocedeu, tomou a trilha à direita e viu uma estranha névoa dourada flutuando mais adiante. Aproximou-se cautelosamente, apontando para a névoa o facho de luz da varinha. Parecia algum tipo de encantamento. Ele se perguntou se seria capaz de explodi-la para desimpedir o caminho.
– Provavelmente não. – Sirius disse coçando a cabeça – Feitiços não são sólidos… Mas não faço ideia de que feitiço pode ser esse…
— Reducto! — ordenou.
O feitiço atravessou a névoa, deixando-a intacta. O garoto concluiu que devia ter sabido: o Feitiço Redutor só servia para objetos sólidos. Que aconteceria se ele atravessasse a névoa? Valeria a pena arriscar ou deveria retroceder?
– Acho que voltar é mais seguro. – Hermione disse ansiosa – Não se deve andar por ai atravessando feitiços desconhecidos!
Ele ainda hesitava, quando um grito rompeu o silêncio.
— Fleur? — berrou Harry.
Silêncio. Ele olhou para todos os lados. Que acontecera com a garota? Seu grito parecia ter vindo de algum lugar à frente. O garoto inspirou profundamente e atravessou a névoa encantada.
O mundo virou de cabeça para baixo. Harry ficou pendurado no chão, os cabelos em pé, os óculos balançando fora do nariz, ameaçando cair no céu infinito.
– Parece um feitiço de reversão… – Severo murmurou pensativo – O mundo não virou de cabeça para baixo realmente, é apenas a impressão que a pessoa enfeitiçada tem.
Ele os segurou na ponta do nariz e continuou pendurado, aterrorizado.
Tinha a sensação de que seus pés estavam grudados na grama, que agora se transformara em teto. Abaixo, o céu pontilhado de estrelas se estendia infinitamente. Harry sentiu que se tentasse mexer um pé, despencaria da terra de vez. Pense, disse a si mesmo, enquanto todo o seu sangue afluía à cabeça, pense...
Mas nenhum dos feitiços que praticara se destinava a combater uma repentina inversão de terra e céu. Ousaria mexer um pé?
Ele ouviu o sangue latejar com força em seus ouvidos. Tinha duas opções — tentar se mexer ou disparar faíscas vermelhas e ser socorrido e desqualificado da tarefa.
– Por favor, atire faíscas e seja resgatado. – Lily murmurou consigo mesma apreensiva – Não há vergonha nenhuma nisso, você cumpriu todas as suas obrigações…
Harry fechou os olhos para evitar contemplar o espaço infinito abaixo dele e puxou o pé direito com toda a força que pôde do teto gramado. Imediatamente o mundo se endireitou. Harry caiu para frente de joelhos num chão maravilhosamente sólido. Sentiu-se por algum tempo mole de susto. Inspirou profundamente para se firmar, então tornou a se levantar e avançou correndo, lançando olhares para trás por cima do ombro, enquanto fugia da névoa dourada, que piscou para ele inocentemente ao luar.
O garoto parou na junção de duas trilhas e olhou para os lados à procura de algum sinal de Fleur. Tinha certeza de que fora a garota que ouvira gritar. Com que será que ela deparara? Estaria bem?
Não havia faíscas vermelhas no alto — será que isto significava que conseguira se livrar do problema ou estaria em tal apuro que nem conseguira apanhar a varinha? Harry tomou a trilha à direita com uma sensação de crescente inquietação... Mas, ao mesmo tempo, não conseguiu deixar de pensar, menos um campeão...
A Taça estava em algum lugar ali perto e, pelo jeito, Fleur não estava mais competindo. Ele chegara até ali, não chegara? E se, de fato, conseguisse vencer?
Por um instante fugaz, e pela primeira vez desde que se fora feito campeão, ele reviu aquela imagem de si mesmo, erguendo a Taça do Tribruxo diante do resto da escola...
Por uns dez minutos não encontrou nada, exceto trilhas sem saída. Duas vezes tomou a mesma trilha errada. Finalmente encontrou um novo caminho e começou a andar depressa por ele, a luz da varinha oscilando, fazendo sua sombra bruxulear e se distorcer pelos lados da sebe. Então ele virou mais uma vez e deu de cara com um explosivin.
– Pelo menos Hagrid obrigou vocês a cuidarem dos explosivins por um bom tempo… – Remo disse balançando as pernas nervoso – Você deve ser perfeitamente capaz de acertar o ponto fraco dele…
– Mas não conte para Hagrid se conseguir derrubar ele. – Sirius aconselhou ansioso – Ele ficaria triste por você não ter tentado apenas fazer cócegas na barriga dele…
Cedrico tinha razão — era enorme. Três metros de comprimento, lembrava mais um escorpião gigante do que qualquer outra coisa. Seu longo ferrão estava revirado para trás. A grossa armadura refulgia à luz da varinha, que Harry apontava para ele.
— Estupefaça!
O feitiço bateu no escudo do explosívín e ricocheteou; Harry se abaixou bem a tempo, mas sentiu cheiro de cabelos queimados, chamuscara o alto da cabeça. O explosívín soltou um jorro de chamas da cauda e voou para cima do garoto.
— Impedimenta!— berrou Harry. O feitiço bateu mais uma vez no escudo do explosivin e voltou; Harry cambaleou alguns passos para trás e caiu.
— IMPEDIMENTA!
O explosívín estava a centímetros dele quando se imobilizou — o garoto conseguira atingi-lo na barriga carnuda e sem escudo.
– Você deveria ter mirado na barriga desde o inicio! – Hermione o repreendeu nervosa – Passamos um tempão cuidando dessas coisas!
– Eu tentei! – Harry respondeu cruzando o braço sobre o peito – Queria ver você mirar direto na barriga em um momento complicado como esse.
– Eu não apostaria contra ela. – Gina afirmou com um meio sorriso para Hermione.
Ofegando, Harry se impeliu para longe e correu, com todas as forças, na direção oposta — a Azaração de Impedimento não era permanente, o explosivin recobraria o uso das pernas a qualquer momento.
Harry seguiu pela trilha da esquerda e não encontrou saída, seguiu pela da direita e tampouco encontrou saída, obrigando-se a parar, com o coração acelerado, ele executou mais uma vez o Feitiço dos Quatro Pontos, retrocedeu e escolheu uma trilha que o levasse para noroeste.
Já ia caminhando apressado pela nova trilha havia alguns minutos, quando ouviu alguma coisa na trilha paralela à sua, que o fez estacar.
— Que é que você está fazendo? — berrou a voz de Cedrico. — Que diabo você pensa que está fazendo?
E então Harry ouviu a voz de Krum.
— Crucio!
– O que? – Sirius perguntou abismado.
– Krum parece estar torturando Cedrico. – Tiago disse relendo as últimas linhas – Mas isso nem ao menos combina com o que vimos de Krum!
– Ele é de Durmstrang. – Alice disse com um tremor – Deve ter aprendido a maldição Cruciatus como qualquer outra…
– Realmente não acho que isso combine com ele… – Sirius disse hesitante – Mesmo sendo de Durmstrang… Ele chamou o Harry para conversar sobre os boatos de que ele namorava com Hermione… E ficou apavorado quando Crouch apareceu!
– Isso realmente não faz sentido algum. – Tiago concordou voltando a ler, apreensivo.
O ar se encheu repentinamente com os gritos de Cedrico. Horrorizado, Harry avançou correndo por sua trilha, tentando encontrar uma passagem para a de Cedrico. Quando não apareceu nenhuma, ele tentou novamente o Feitiço Redutor. Não foi eficiente, mas queimou um buraquinho na sebe, pelo qual Harry enfiou a perna, chutando os galhos emaranhados até eles cederem deixando uma abertura, com esforço Harry a atravessou, rasgando as vestes e, ao olhar para a direita, viu Cedrico se debatendo e se contorcendo no chão, sob o olhar de Krum.
Harry se endireitou e apontou a varinha para Krum na hora em que o rapaz ergueu a cabeça. Krum deu as costas e começou a correr.
– E isso faz menos sentido ainda! – Tiago bufou tirando os olhos do livro – Ele estava torturando Cedrico, porque correria de Harry?
– Talvez não quisesse enfrentar os dois ao mesmo tempo? – Lily deu de ombros apreensiva – Ou pegou Cedrico de surpresa e não estava pronto para um duelo justo.
– Ainda assim, não faz sentido. – Sirius afirmou balançando as pernas nervoso – Sair correndo também não combina em nada do que vimos sobre ele!
– Ele deve ter mentido o tempo todo. – Alice disse obviamente decepcionada – Deve ter enganado a todos…
— Estupefaça!— berrou Harry.
O feitiço atingiu Krum pelas costas; ele parou instantaneamente, caiu de borco e ficou imóvel, com a cara na grama. Harry correu para Cedrico, que parara de se contorcer, mas continuava deitado no chão arfando, as mãos cobrindo o rosto.
– Krum não teria dificuldade nenhuma em enfrentar Harry com Cedrico caído. – Sirius afirmou hesitante – Por que ele correu?
— Você está bem? — perguntou Harry rouco, agarrando Cedrico pelo braço.
— Estou — ofegou ele. — É... Eu não acredito... Ele se aproximou de mim pelas costas... Eu o ouvi e, quando me virei, ele estava empunhando a varinha apontada para mim...
Cedrico se levantou. Ainda tremia. Ele e Harry olharam para Krum.
— Eu não acredito... Achei que ele era legal — comentou Harry, contemplando Krum.
— Eu também.
— Você ouviu Fleur gritar há algum tempo?
— Ouvi. Você acha que Krum a pegou também?
— Não sei — disse Harry lentamente.
— Vamos deixá-lo aqui? — perguntou Cedrico.
— Não — disse Harry. — Acho que devíamos disparar faíscas vermelhas. Alguém virá apanhá-lo... Do contrário ele provavelmente será comido por um explosívín.
— E seria bem merecido — murmurou Cedrico, mas ainda assim, ergueu a varinha e disparou uma chuva de faíscas vermelhas para o ar, que pairaram sobre Krum, marcando o local em que ele se encontrava.
– É claro que Cedrico ficaria ressentido. – Frank suspirou solidariamente.
Harry e Cedrico ficaram ali no escuro por um momento, olhando a toda volta. Então Cedrico falou:
— Bem... Suponho que seja melhor a gente ir...
— Quê? Ah... Sim... Certo...
Foi um momento estranho. Ele e Cedrico unidos por breves instantes contra Krum — agora o fato de serem adversários ocorria a ambos. Eles continuaram pela trilha escura sem falar, então Harry virou-se para a esquerda e Cedrico para a direita. O ruído dos passos do rapaz não tardou a desaparecer.
Harry seguiu caminho, continuando a usar o Feitiço dos Quatro Pontos, para se certificar de que caminhava na direção correta. Agora a competição estava entre ele e Cedrico. O desejo de chegar à Taça primeiro ardia em seu peito como nunca antes, mas ele não conseguia acreditar no que acabara de ver Krum fazer. O uso de uma Maldição Imperdoável em um ser humano significava uma sentença de prisão perpétua em Azkaban, fora o que Moody dissera. Krum com certeza não poderia ter desejado a Taça Tribruxo tanto assim... Harry se apressou.
De vez em quando ele chegava a trilhas sem saída, mas a escuridão crescente lhe dava a certeza de que estava se aproximando do centro do labirinto.
Então, quando seguia por uma trilha longa e reta, ele mais uma vez percebeu um movimento, e a luz de sua varinha incidiu sobre uma criatura extraordinária, uma que ele só vira sob a forma de ilustração no seu Livro Monstruoso dos Monstros.
Era uma esfinge. Tinha o corpo de um enorme leão, grandes patas com garras e um longo rabo amarelado que terminava em um tufo de pêlos castanhos.
– Uma esfinge? – Remo perguntou surpreso – Harry não é muito bom em charadas…
– Espero que você tenha aprendido um pouco com Hermione ao longo dos anos… – Lily suspirou apreensiva.
A cabeça, porém, era de mulher. Ela virou os olhos amendoados para Harry quando ele se aproximou.
O garoto ergueu a varinha hesitante.
A esfinge não estava agachada como se fosse saltar, mas andava de um lado para outro da trilha, bloqueando seu avanço. Então falou, com uma voz profunda e rouca:
— Você está muito próximo do seu objetivo. O caminho mais rápido é passando por mim.
— Então... Então será que a senhora podia se afastar, por favor? — disse Harry, sabendo qual seria a resposta.
— Não — disse ela, continuando a sua patrulha. — Não, a não ser que você decifre o meu enigma. Se acertar de primeira, deixo-o passar. Se errar, eu o ataco. Permaneça em silêncio, e eu o deixarei partir ileso.
– Pelo menos ela te deu a opção de ir embora. – Lily disse esfregando as mãos nervosamente – Você pode escutar o enigma e se não tiver ideia da resposta simplesmente ir embora…
O estômago de Harry escorregou alguns centímetros. Hermione é que era boa nesse tipo de coisa e não ele. O garoto avaliou suas chances. Se o enigma fosse muito difícil, ele podia se calar, ir embora sem se machucar e tentar encontrar um caminho alternativo para o centro.
— OK. — respondeu ele. — Pode me dizer o enigma?
A esfinge se sentou nos quartos traseiros, bem no meio da trilha e recitou:
Primeiro pense no lugar reservado aos sacrifícios,
Seja em que templo for.
Depois, me diga que é que se
desfolha no inverno e torna a brotar na primavera?
E finalmente, me diga qual é o objeto que tem som,
luz e ar e flutua na superfície do mar?
Agora junte tudo e me responda o seguinte,
Que tipo de criatura você não gostaria de beijar?
Tiago, Sirius e Hermione se entreolharam, os três pensando nas pistas da esfinge intensamente.
– Não tenho nem ideia. – Alice disse coçando a cabeça frustrada – Altar, planta e peixe? Isso não faz sentido!
– Você não está pensando no enigma como um todo. – Remo disse paciente – Você tem que unir as pistas para fazer o nome de uma criatura que você não gostaria de beijar…
– Ararambóia! – Hermione exclamou vitoriosa.
– Não é justo! – Sirius retrucou irritado – Quem pode me garantir que Harry não contou a você sobre o enigma?
– Pelo que você viu de Harry, você realmente acha que ele se lembraria do enigma? – Gina perguntou com uma risada.
– E eu posso te garantir que ele não me falou, – Hermione sorriu – espero que seja o bastante para você.
– Continuo sem entender como você chegou a essa resposta. – Alice murmurou enquanto Tiago retomava a leitura.
Harry encarou-a boquiaberto.
— Podia, por favor, repetir... Mais devagar? — pediu hesitante.
A esfinge pestanejou, sorriu e repetiu o enigma.
— Todas as pistas levam ao nome da criatura que eu não gostaria de beijar? — perguntou Harry.
A esfinge meramente sorriu, aquele sorriso misterioso. Harry interpretou-o como um "sim". Começou a pensar. Havia muitos animais que ele não gostaria de beijar, seu pensamento imediato foi um explosívín, mas alguma coisa lhe disse que não era a resposta correta. Ele teria que tentar decifrar as pistas...
— O lugar reservado aos sacrifícios, — murmurou Harry, encarando a esfinge — seja em que templo for... Hum... Seria... Um altar. Não, esta não seria a minha resposta! Uma... Ara? Vou voltar a isso depois... poderia me dar a pista seguinte, por favor?
O animal fabuloso repetiu as linhas seguintes do enigma.
– A esfinge parece muito mais paciente do que eu esperava. – Remo afirmou satisfeito – Pensei que ela te atacaria assim que você começou a pensar alto…
— A última coisa a desaparecer no inverno e a reaparecer na primavera nas árvores da floresta — repetiu Harry. — Hum... Não faço idéia... Árvores... Galhos... Rama... Pode me dizer o último trecho outra vez?
Ela repetiu as últimas quatro linhas.
— O objeto que tem som, luz e ar e flutua na superfície do mar... — disse Harry. — Hum... Isso seria... Hum... Espere aí, uma bóia?
A esfinge sorriu.
— Ara... Hum... Ara... Rama... — disse Harry, agora era ele quem estava andando para lá e para cá. — Uma criatura que eu não gostaria de beijar... Uma ararambóia!
A esfinge abriu um sorriso maior. Levantou-se, esticou as pernas dianteiras e então se afastou para um lado e o deixou passar.
– Acompanhando os pensamentos de Harry a resposta faz muito mais sentido. – Frank afirmou.
— Obrigado! — disse Harry e, admirado com a própria genialidade, prosseguiu correndo.
Tinha que estar perto agora, tinha que estar... A varinha lhe dizia que estava na direção exata, desde que não deparasse com nada horripilante, ele poderia ter uma chance... À frente precisou escolher entre duas trilhas.
— Me oriente! — sussurrou mais uma vez à varinha, e ela deu um giro e apontou para a da direita.
Harry saiu correndo por ela e viu uma luz adiante.
A Taça Tribruxo brilhava num pedestal a menos de cem metros a sua frente. Harry mal saíra correndo quando um vulto escuro se precipitou sobre a trilha à sua frente.
Cedrico ia chegar primeiro. O rapaz estava correndo o mais rápido que podia em direção à Taça, e Harry percebeu que nunca o alcançaria, Cedrico era muito mais alto, tinha pernas muito mais compridas...
– Não é uma coisa ruim. – Lily afirmou levantando a cabeça – Se Cedrico vencer vocês podem simplesmente sair desse labirinto terrível e isso tudo acaba… Tudo que eu quero é que tudo isso acabe.
Então, Harry viu um vulto imenso por cima da sebe à sua esquerda, deslocando-se ligeiro pela trilha que cortava a sua, ia tão depressa que Cedrico estava prestes a colidir com ele, e com os olhos na Taça, o rapaz não vira o vulto...
— Cedrico! — berrou Harry. — À sua esquerda!
O garoto virou a cabeça em tempo de se atirar para além vulto e evitar colidir com ele, mas, em sua pressa, tropeçou. Harry viu a varinha voar da mão dele, ao mesmo tempo em que uma enorme aranha entrava na trilha e começava a avançar para o rapaz.
Rony não conseguiu conter um arrepio involuntário.
– Uma acromântula. – Remo disse apreensivo – Hagrid realmente se empolgou nessa tarefa… Deve ter convidado um dos filhotes de Aragogue…
– Muito bonito da sua parte avisar ao Cedrico. – Lily disse apertando a mão de Harry com carinho – Esse livro me mostrou ainda mais como você é uma ótima pessoa.
– Honra e fibra moral. – Tiago sorriu para Harry.
— Estupefaça! — berrou Harry, o feitiço atingiu o gigantesco corpo da aranha, negro e peludo, mas produziu tanto efeito quanto se o garoto tivesse atirado uma simples pedra nela, a aranha estremeceu, virou-se e correu para Harry.
— Estupefaça! Impedimenta! Estupefaça!
Mas não adiantou — a aranha ou era demasiado grande ou tão mágica que os feitiços só conseguiam irritá-la, Harry viu de relance, horrorizado, oito olhos negros e brilhantes e pinças afiadas como navalhas, antes que a aranha estivesse sobre ele.
O inseto ergueu-o no ar com as patas dianteiras, debatendo-se como louco, Harry tentou chutá-lo, sua perna fez contato com as pinças e no momento seguinte ele sentiu uma dor excruciante, ouviu Cedrico gritar "Estupefaça!” também, mas o feitiço do rapaz produziu tanto efeito quanto o de Harry, o garoto ergueu a varinha quando a aranha tornou a abrir as pinças e gritou "Expelliarmus!”
Funcionou, o Feitiço para Desarmar fez a aranha largá-lo, o que significou que Harry caiu três metros e tanto sobre uma perna já machucada, que se dobrou sob seu corpo. Sem parar para pensar, ele mirou bem alto sob a barriga da aranha, como fizera com explosívín, e gritou "Estupefaça!" na mesma hora em que Cedrico gritava o mesmo.
Os dois feitiços combinados fizeram o que um sozinho não conseguira — a aranha tombou de lado, achatando uma sebe próxima, e espalhando na trilha um emaranhado de pernas peludas.
– Uma perna machucada não é uma coisa tão ruim assim. – Lily disse apreensiva – Pelo menos esse torneio horrível está chegando ao fim e nada de ruim aconteceu…
– Não diga isso! – Sirius a repreendeu nervoso – Nunca diga isso antes do fim… É um péssimo augúrio!
– Sirius tem razão… – Tiago balançou as pernas ansioso – Nunca cante vitória antes do fim do jogo…
— Harry! — ele ouviu Cedrico gritar. — Você está bem? Ela caiu em cima de você?
— Não! — gritou Harry em resposta. Ele examinou a perna. Sangrava muito.
Ele viu uma secreção grossa e pegajosa que saíra das pinças da aranha em suas vestes rasgadas. Então, tentou se levantar, mas a perna tremia demais e se recusava a sustentar seu peso. Ele se apoiou na sebe, tentando recuperar o fôlego e olhou para os lados.
Cedrico estava a pouquíssima distância da Taça Tribruxo que refulgia às suas costas.
— Pegue a Taça, então — disse Harry arfante para Cedrico. — Pegue logo. Você chegou ao centro.
Mas Cedrico não se mexeu. Continuou parado olhando para Harry. Em seguida virou-se para olhar a Taça. Harry percebeu a expressão desejosa no rosto do rapaz à luz dourada do objeto. Cedrico se virou mais uma vez para Harry que agora se amparava na sebe para se manter de pé. Cedrico inspirou profundamente.
— Você pega. Você é que deveria vencer. Você salvou minha vida duas vezes neste labirinto.
– Vocês dois são honrados demais. – Sirius murmurou apreensivo – Apenas acabem logo com isso, antes que alguma coisa aconteça!
— Não é assim que a coisa deve funcionar — disse Harry. Sentiu raiva, sua perna doía muito, seu corpo doía inteiro do esforço para se desvencilhar da aranha e, apesar de tudo isso, Cedrico o vencera, da mesma forma que o vencera na hora de convidar Cho para o baile.
Gina não escondeu um muxoxo de impaciência.
— Quem chegar à Taça primeiro ganha os pontos. E foi você. Estou lhe dizendo, não vou vencer nenhuma corrida com essa perna assim.
Cedrico deu alguns passos em direção à aranha estuporada, afastando-se da Taça e balançou a cabeça.
— Não — disse.
— Pare de ser nobre — retrucou Harry irritado. — Pegue logo a Taça para a gente poder ir embora daqui.
– Você realmente não sabe nada sobre pessoas da Lufa-lufa… – Sirius suspirou – Eles simplesmente não tem a capacidade de parar de ser nobres…
Cedrico observou Harry se aprumar, segurando-se com força na sebe.
— Você me falou dos dragões — disse Cedrico. — Eu teria perdido a primeira tarefa se você não tivesse me prevenido sobre o que me esperava.
— Tive ajuda nisso — retorquiu Harry, tentando enxugar a perna ensangüentada com as vestes. — Você me ajudou com o ovo, estamos quites.
— Eu tive ajuda com o ovo para começar — disse Cedrico.
– Cedrico teve ajuda com o ovo? – Remo perguntou franzindo o cenho – Quem pode ter ajudado ele com isso?
– Talvez algum professor? – Frank deu de ombros – Alguém querendo ajudar Hogwarts a vencer o torneio…
– Não sei… – Sirius levantou uma sobrancelha desconfiado – Mas esse livro ainda tem coisas demais sem explicação… E não estou gostando nada disso.
— Continuamos quites — repetiu Harry, experimentando a perna, desajeitado, ela tremeu violentamente quando o garoto se apoiou nela, tinha torcido o tornozelo quando a aranha o largara.
— Você devia ter ganho mais pontos na segunda tarefa — teimou Cedrico. — Você ficou para trás para salvar todos os reféns. Eu é que deveria ter feito isso.
— Eu fui o único campeão suficientemente burro para levar aquela música a sério! — disse Harry com amargura. — Pegue a Taça!
— Não.
Cedrico pulou por cima do emaranhado de pernas da aranha para se juntar a Harry, que o encarou. Cedrico falava sério. Estava dando as costas a uma glória que a Casa da Lufa-Lufa não experimentava havia séculos.
— Anda — disse o rapaz. Dava a perceber que aquela atitude estava lhe custando cada centímetro de determinação que possuía, mas havia firmeza em seu rosto, cruzara os braços, parecia decidido.
Harry olhou de Cedrico para a Taça. Por um momento fulgurante ele se viu saindo do labirinto, segurando-a. Viu-se erguendo a Taça Tribruxo no alto, ouviu os berros dos espectadores, viu o rosto de Cho iluminado de admiração, mais claramente do que jamais o vira...
Gina não conseguiu se conter e estalou a língua para o livro novamente.
– No meio dessa situação toda, e sua cabeça está nessa garota completamente sem graça? – Tiago revirou os olhos – Cedrico devia vencer só por isso.
Por algum motivo que a maioria desconhecia, Harry suspirou profundamente antes de fazer sinal para Tiago continuar lendo.
E então a imagem se dissolveu e ele se viu encarando o rosto teimoso e sombrio de Cedrico.
— Os dois — disse Harry.
Harry baixou a cabeça profundamente arrependido por ter dado aquela sugestão.
— Quê?
— Levamos a Taça ao mesmo tempo. Ainda é uma vitória Hogwarts. Empatamos.
Cedrico encarou Harry. Descruzou os braços.
— Você... Você tem certeza?
— Tenho. Tenho... Nós nos ajudamos, não foi? Nós dois chegamos aqui. Vamos levá-la, juntos.
Por um instante, Cedrico pareceu que não conseguia acreditar no que estava ouvindo, então seu rosto se abriu num sorriso.
— Negócio fechado. Venha até aqui.
Ele agarrou o braço de Harry pela axila e ajudou-o a mancar até o pedestal onde estava a Taça.
– É um atitude muito bonita, de vocês dois. – Alice disse sorrindo para Harry com admiração.
– Não me importo com quem vai vencer. – Lily bufou – Só quero que isso acabe.
Quando a alcançaram, os dois estenderam a mão para cada uma das asas.
— Quando eu disser três, certo? — disse Harry — Um... Dois... Três...
Ele e Cedrico apertaram as asas.
Instantaneamente, Harry sentiu um solavanco dentro do umbigo. Seus pés deixaram o chão. Ele não conseguiu soltar a mão da Taça Tribruxo, ela o puxava para diante, num vendaval colorido, Cedrico ao seu lado.
– Não! – Tiago exclamou encarando o livro chocado – A taça é uma chave de portal! Em momento algum falaram que a taça era uma chave de portal… Isso está errado!
– Só pode ser o plano de Voldemort. – Sirius disse levando a mão à cabeça preocupado – Ele inscreveu Harry no torneio para Harry vencer o torneio e ser retirado da escola… O homem infiltrado dele deve ter transformado a taça em chave de porta.
– Talvez não seja isso. – Lily disse tremendo – Talvez a taça apenas leve os garotos para fora do labirinto…
– Se fosse algo assim Bagman teria avisado. – Remo disse ansioso – Nós sabíamos que Voldemort tinha um plano…
– Não pode ser isso! – Lily balbuciou – Não pode ser!
– Vamos apenas continuar lendo. – Tiago disse entregando o livro nas mãos de Lily, cuidadoso.
– Vocês tem que estar errados. – Lily afirmou pegando o livro e abrindo no capítulo seguinte – Vocês precisam estar errados.
– Nós já sabíamos que Voldemort tinha um plano, Lily. – Sirius suspirou – Sei que é difícil… Mas você precisa entender.
Lily suspirou profundamente antes de ler o nome do próximo capítulo:
– Capítulo XXXII – Osso, carne e sangue.
Hey leitores mais queridos do FeB! Infelizmente eu não tenho conseguido escrever tanto quanto gostaria. Então, por hora vamos continuar com os capítulos a cada duas semanas, já que não quero ter que arriscar que vocês tenham que esperar muito mais do que isso.
- MionGinnyLuna: Você tem toda razão! A Mione realmente já sabia que o Harry sabia sobre os pais do Neville, então fiz uma pequena mudança no capítulo. Obrigada pela ajuda!
- Cibeli Cardoso: Vi você no grupo sim! Fiquei feliz em te receber por lá! Acho que Alice vai ficar realmente abalada na parte da enfermaria em OdF. Saber já foi difícil para ela, imagina ler exatamente quão ruim eles estão...
- Luiza Snape: Não quero nem pensar no final de EdP ainda. Não tenho ideia de como eles vão reagir ao saber que Snape matou Dumbledore...
- Carolina Black: Acho que lembro de você sim... Mas ta tudo bem, eu te desculpa... Mas primeiro você vai ter que me explicar porque você falou do Nyah, eu tenho um perfil lá, mas eu não posto essa fic no Nyah! Eu não vou desistir da fic, não se preocupe!
- Nicole Marra: Sempre fico feliz ao saber que alguém fez um perfil no FeB só para comentar a minha fic! Eu me esforço ao máximo para me manter o mais fiel possível a tudo que sabemos sobre os personagens (eu até tenho uns shipps malucos, mas não acho que eles se encaixem nessa história)... Eu não pretendo desistir mesmo, e sei que vai demorar um bom tempo para chegar ao fim. Mas espero que você (com todos os meus outros leitores) me acompanhe até o final. Eu nunca escondi de ninguém o que eu acho do Severo, para mim o ato de arrependimento dele não é o bastante para redimir ele do que ele fez por boa parte dos livros. Ele foi cruel com Harry, Neville e Hermione diversas vezes, e não acho que se deva tratar uma criança do jeito como ele os tratava em nenhuma circunstancia... Ele se arrependeu, mas não mudou nem um pouco e descontou a amargura dele em crianças... Mas eu entendo o outro lado também (só continuo não gostando dele). Eu estou ansiosa para escrever sobre o monstro no peito do Harry e as reações da Gina e do Rony ao monstro!
- Juhh Potter Malfoy: Os livros foram ficando cada vez mais sombrios e mais dificeis... Mas se tudo der certo, vamos ter um final feliz... O capítulo da penseira foi muito complicado para mim, eu fiquei bem abalada na parte que você ressaltou e fico feliz que tenha conseguido transmitir isso para você! Eu sempre choro no priori incantatem, então te entendo perfeitamente bem. Eu já escrevi a morte de Sirius, e foi muito difícil para mim, eu chorei tanto quanto choro lendo o livro enquanto escrevia... Sei que Lily e Tiago interragiam mais no inicio, mas como você mesma disse, os livros estão cada vez mais pesados, fica difícil ter um tempo para o romance (mas existe uns momentos para romance).
- Julia Angelini: Não se preocupe, eu entendo a sua relação agridoce. Acontece comigo na hora de escrever, ás vezes fico tão inspirada que escrevo até de madrugada, em outros momentos eu não consigo nem olhar para a cara da fic. Espero que você não fique chateada comigo pelo modo como lido com Dumbledore... Eu tenho meus problemas com ele, mas espero que isso não faça você se desinteressar pela fic considerando que ele é seu segundo favorito. A morte do Sirius é a parte mais difícil que eu escrevi até o momento, espero conseguir transmitir tudo o que eu senti enquanto escrevia.
- Regiane Helena: Não é vergonha dizer que chorou, eu chorei escrevendo, minha beta chorou corrigindo e algumas outras pessoas choraram lendo. Na verdade eu fico muito feliz em fazer vocês chorarem, porque significa que consegui transmitir todos os meus sentimentos para o capítulo. E você devia saber que são leitores como você que mantem minha inspiração e minha vontade de escrever! Muito obrigada pelo apoio de sempre!
- Samara Lima: Eu entendo que ás vezes é mais gostoso ler direto, sem ter que me esperar postar capítulos, então compreendo que tenha acumulado capítulos, eu costumo fazer o mesmo quando leio, não gosto de esperar. Infelizmente não sou a JK... Se eu fosse eu seria rica e não ia precisar parar de escrever nunca na minha vida (e não teria que esperar o mês virar para consertar o encanamento da minha cozinha que ta vazando) e se eu me correspondesse com ela, eu seria uma pessoa ainda mais feliz...
- Pequena Potter: Obrigada! ;)
- Izabella Bella Black: Eu tenho muitas dúvidas em relação a maneira como Dumbledore escolhe agir... Tenho certeza que deixo essas dúvidas aparecerem na fic o bastante. Se outra pessoa tivesse sobrevivido à maldição da morte, ainda assim, não teria nenhuma relação com a ligação entre Harry e Voldemort, já que ela só existe porque Harry é um horcrux... Ainda não sei como eles vão reagir às memórias de Snape, mas tenho certeza de que Snape e Lily vão ficar bem abalados. Como Snape acabou se tornando um ótimo duelista quando adulto, acho que ele tomou aquelas aulinhas... Eu também acho o futuro de Alice e Frank o pior, eles não estavam mortos, mas também não estavam vivos, eles estavam em um limbo. Acho que Bellatrix sabia pelo menos alguma coisa sobre a imortalidade de Voldemort, mas não acho que ela soubesse sobre as horcrux especificamente, afinal, para o Régulo ter descoberto, Voldemort não devia ser muito discreto em relação à imortalidade dele. Também acho que Harry merecia conhecer a história toda desde o inicio, mais uma vez, tenho dúvidas em relação a algumas atitudes de Dumbledore...
- Tatiana Thays: Acho que vai ser ainda pior para o Frank e a Alice no capítulo em que Harry vê eles no hospital, porque eles vão saber exatamente como eles estão. Você disse que o Crouch matou um primo dele, no momento não consigo me lembrar de jeito nenhum dele matando um primo... Eu conheço as conecções entre as famílias bruxas por causa das árvores genealógicas que a JK divulgou uns anos atrás, é fácil de achar na wikipédia. Rony, Hermione, Neville e Gina tem suas próprias razões para não gostar do Snape, e para não achar que ele mereça uma segunda chance, ele foi realmente ruim com eles durante todos os anos em que eles estiveram em Hogwarts, e isso foi depois de ele ter se arrependido, ele não tinha motivos para ser cruel com a Hermione e o Neville do modo como ele foi. Os Longbottom podem até estar vivos, mas eles não vivem há muitos anos. O Dumbledore tem atitudes que realmente me deixam irritada com ele... Não sei ainda como me sinto em relação a ele.
- Day Caracas: Eu sei o que eu sei das outras árvores genealógicas porque elas são ligadas com a dos Potter e dos Black. Na verdade, a dos Crouch, Weasley, Longbottom e etc está junto com a dos Black... Acho que o Olho-tonto ser o infiltrado pegou todo mundo de surpresa, não tinha como adivinhar o final desse livro. Os Longbottom vivem, mas não vivem, eu acho isso pior do que a morte, até mesmo para o Neville. Eu estou realmente me esforçando para pensar em como eles vão resolver tudo isso sem influenciar demais a parte em que Harry sai como herói do mundo bruxo... Mas ainda não sei ao certo, tenho certeza de que uma das minhas muitas ideias sobre isso vai dar certo com a história.
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Comentários (11)
Nunca me incomodaria com o jeito que você lida com o Dumbledore! Cada um pensa de um jeito, gosto dele pela quantidade de sabedoria que ele tem nas mãos e como sabe transmiti-la bem, mas não abandonaria a fanfic por causa do jeito que você pensa dele de jeito nenhum! Adoro como você lida com as situações e isso inclui lidar com o Dumbledore.Mas sobre o capítulo, fiquei até com pena da Lily quando ela achava que ia dar tudo certo e ia ficar tudo bem, afinal, isso é Harry Potter, nunca fica bem. Muito ansiosa para o próximo, que é onde o bicho pega. Gosto muito de ler o retorno de Voldemort, sou um pouco esquisita. Enfim, até o próximo. \( ̄▽ ̄;)/
2016-02-21