Único
Fogos mágicos ribombavam no céu cinzento sobre o campo de quadribol, formando enormes canhões em negro e laranja.
O primeiro ímpeto deles foi se abraçar como todos na torcida em que estavam: ela sentiu a vibração em seu peito mudar de tom ao encostar no dele, e ele sentiu a excitação de fim de jogo se abrandar.
Afastaram-se logo, sorrindo sem graça. A euforia pós-jogo se parecia demais com as antigas festas na Torre da Grifinória para que eles ignorassem. Ele propôs parar em algum lugar para tomar uma cerveja amanteigada e ela aceitou de pronto, e ele a fez rir como só um outro cara, por acaso muito parecido com ele, já havia conseguido, num passado remoto.
Eles não haviam mais se visto desde então. Agora riam de tristeza da coincidência de terem se encontrado num jogo de quadribol e conversavam sobre esquemas táticos para não falarem sobre as próprias vidas.
Ele a olhava pela primeira vez sem filtros, e ela evitava olhá-lo nos olhos. Aceitou novamente sem relutar, no entanto, quando ele a convidou para ver a loja que ele pretendia reabrir sozinho na semana seguinte.
*
O Beco Diagonal voltava a ter vida. A Gemialidades Weasley não. O único dono remanescente parecia lutar, como o próprio lugar, para resgatar uma alegria genuína perdida. Para sempre, ela adivinhou. E sabia que, no fundo, ele também sabia.
O silêncio constrangedor e a proximidade perturbadora acabaram por fazer acontecer o primeiro beijo. O primeiro desesperado beijo de uma série de outros, subindo uma pequena escada que dava para um pequeno quarto e onde explodiram, novamente, em laranja e negro, muralhas sobre os dois.
Ela se encontrava com o que de verdadeiro e concreto restava de Fred, e ele se encontrava com a centelha de alma do irmão que ainda vivia em si, em algum lugar: sempre fora como se eles fossem um.
Uniu-se a ela como se eles fossem um. Os três. Os dois que juntos não davam um.
Só fuligem e lascas do que restou da explosão.
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