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   Eu sabia o quanto Amos era ridículo, mas naquele dia estava de parabéns.
Não sabia bem o que dera em mim, só quis socá-lo, talvez até a morte.
Aquela cena me repugnava o estômago de certa forma que senti vergonha até de mim mesmo.

 
    Nós, jogadores de futebol, costumamos ir para balada depois das vitórias, ou até mesmo derrotas, do nosso time.
Eu e Sirius costumávamos virar noites e mais noites nas festas. Nunca namorávamos, o propósito que fizemos era de ser solteiro para sempre, pegar quem quiséssemos, ficar por uma ou mais algumas noites, mas nunca nos envolvíamos com ninguém.
Mulheres são complicadas demais e elas nunca se dão bem com esse tipo de fama dos jogadores em geral. Mas, nesse propósito tinha algo implícito: fazíamos isso para não magoarmos ninguém, nem a nós mesmos. Era incrível como aquilo sempre me pareceu ser bom e normal.


    Lily era a namorada de Amos. Logo depois que ele entrou no time os dois começaram a namorar.
Eu mal havia reparado nela antes disso. Pra mim mais uma das garotas inteligentes e sortudas que trabalhavam na administração do clube. A maioria das pessoas de lá eram velhas, com certeza mais de 80% homens, e as poucas mulheres que restavam trabalhavam como secretarias, faxineiras, cozinheiras, lavadeiras.
Porém, Lily era gerente de Marketing e Propaganda.
Ela, Marlene e Dorcas se chamavam atenção por serem jovens e trabalharem em meio a tantos homens, destacando sempre os cargos, que eram excelentes.
O próprio presidente fazia questão de que elas participassem das reuniões sempre, dava as melhores recomendações e orgulhava-se das três.

Mas Lily era mesmo incrível.


Às vezes Amos a levava para o campo.
Era claro que gostava de mostrar a todos a pérola que ele havia retirado da ostra. Lembro-me que seus olhos de um verde esmeralda brilhavam e seus cabelos ruivos que mais pareciam chamas bem compridos esvoaçavam num ritmo perfeito. Suas bochechas ficaram coradas ao se deparar num campo de futebol com tantos homens olhando.
Mas eu percebi seu sorriso, como era lindo.


Tinha um quê de inocência, pureza, leveza.


Enquanto ela tentava disfarçar sua vergonha, eu olhava pra ela e me perguntava como nunca percebi tal beleza.



Lily com certeza era uma garota doce e admirável.

Coisa que descobri semanas mais tarde, quando me interessei em saber mais da parte administrativa do clube.

Passei também a acompanhar o namoro entre Amos e ela. Parecia um ótimo e belo casal.


Porém, eu tinha inveja. Não entendia por que, mas eu queria muito estar no lugar daquele idiota.

Idiota, sim. Por que a garota se dedicava a ele de forma inigualável. Era visto em seus olhos o amor que nutria por Amos, e era óbvio que ela era inocente o suficiente pra confiar nele. E eu odiava o fato dessa inocência ser destruída aos poucos por um imbecil que mentia descaradamente pra aquela garota tão maravilhosa e encantadora.




Amos adorava botar um belo par de chifres nela.


E eu, por ir sempre às noitadas com os jogadores via tudo.

No início eu ignorei. Achava que ela logo descobriria e se separassem. Tinha a esperança de alguém contar a ela, e ela se vingasse, metesse o pé na bunda daquele burro, e quem sabe eu pudesse me apresentar de uma forma diferente do que nos conhecíamos.

Porém o tempo passou e nada aconteceu. Amos e Lily continuavam juntos, e ela parecia cada vez mais apaixonada.

Como aquilo partia meu coração.

Já era visível a minha frustração, tanto que Sirius percebeu cedo que havia algo de errado comigo.
 

–James? Será que dá pra voltar pro nosso planeta? - Era percebível a falta de paciência de Sirius. 

- Eu to ouvindo.

- Não entendo você. O que foi? Aquela garota linda e loira tava quase se jogando pra cima de você.


- É. Não to afim hoje. To cansado.


- Eu não tô te reconhecendo. Sinceramente, o que aconteceu?


- Nada. Sério, só não quero companhia hoje.


- Desculpa então. - Sirius pareceu ofender-se.


- To falando dessas mulheres, seu burro.


- Essas mulheres que te satisfazem, garanhão. Que foi? Cansou de mulher? Quer pegar homem agora? O Amos de repente, já que você o vigia o tempo todo.


- Amos é repugnante. Não sei como Lil‘s ainda ta com ele...


- Lil‘s? Ai... nunca vi você chamando nenhuma garota pelo apelidinho dela.


- Ela é minha amiga. - Bebia uns goles de cerveja enquanto cravava meus olhos em Amos que dançava com uma qualquer.


- Você não tem amigas. Tem ex peguetes, ex ficantes e muitas garotas revoltas com você.

Sirius fitou por uns instantes Amos. Parecia que algo se esclarecia em sua mente.


- Espera. Ta apaixonado? Sério? - Sua expressão era de completo espanto. - Não, James. Você só pode ta de brincadeira!


- Você ta tirando conclusões sozinho, Sirius. 


- Então olhe pra mim e diga que é mentira.



Fiquei calado. Em hipótese nenhuma eu queria admitir paixão por uma garota que morre de amores por outro. Tomei mais uns goles e pedi outra cerveja. Quando me virei, vi Amos beijando uma loira. Acho que meu rosto ficara tão vermelho quanto os cabelos dela, e quando fechei os pulsos a fim de arrumar uma briga nada esperada com aquele idiota, Sirius me puxou pra fora da boate.

 

- Ta ficando maluco? O que pretende com isso?


- Esse cara é um babaca!


- James, você faz isso toda semana.


-Eu... é diferente.


- É porquê você não tem namorada, mas também não deve se meter na vida dos outros.



Nesse momento Amos também saiu da boate. Tinha duas garotas consigo. Ele estava completamente bêbado e se aproveitava delas. Vi entrarem num carro, ambas as garotas, uma morena e a loira que estava querendo ficar comigo, tiraram a calcinha e deram pra ele. Aquela cena me dava dó, sentia repugnância daquele sujeito que voltaria no dia seguinte e encontraria Lily lá, feliz e completamente satisfeita por poder vê-lo. Aquilo era abominável.


- Esquece essa Lily. - Disse Sirius. Ele provavelmente sentiu o mesmo que eu, pois tinha uma expressão de pena.


- Eu vou embora. De táxi, O.K? Até amanhã.



Eu não conseguia dormir, meus olhos ardiam.
Às vezes me surpreendia com uma lágrima que insistia em cair, e eu me sentia ridículo demais.




 

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