Amor aos Pedaços
11º capítulo – Amor aos Pedaços
"O amor é aquela coisa inevitável que te atinge como um trem descarrilado, te joga pra fora da pista, pra fora da linha... Te lança no ar, te faz pairar por dias, perdida, incompreendida, sofrendo, sorrindo. É uma dor maravilhosa, é uma maravilha dolorosa. O odiamos na mesma intensidade que amamos. Inevitável, inescusável, impensável... O melhor sentimento do ser humano."
Delilah Creevey
Delilah andou pela rua principal do Beco Diagonal com tranquilidade, mal dando atenção aos tipos esquisitos que a encaravam das esquinas. Nenhuma loja estava aberta, apenas os pubs e alguns poucos restaurantes. Ouviu o relógio do Gringotes, de longe, badalar uma única vez. Uma da manhã, sorriu, o melhor horário para se descobrir as coisas.
-Oi gata, quer dar uma volta comigo? - um garoto falou enquanto se aproximava perigosamente dela - Juro que te levo pra dar uma volta na lua.
-Que tal você melhorar suas cantadas Dennis? - ela riu do primo - Trouxe o que eu pedi?
-Sim - ele suspirou pesadamente - Um fardo minha prima, é isso que você é.
Ignorando-o, Delilah pegou a bolsa preta com seu melhor vestido. Ela sabia exatamente onde ir para conseguir informações.
***
Gina acordou zonza, sentindo dor no corpo e não sendo capaz de pronunciar uma palavra sequer. Sentia mãos em seus braços, beijos em seu rosto, lágrimas que caiam em seu pescoço... Não via direito quem era, tão confusa, dopada de remédios. Mas ela sentiu quando ele pegou sua mão.
Dedos longos, elegantes, mão firme, gelada, acalmando sua pele. Fechou os olhos, ainda incapaz de falar, mas apertou levemente a mão dele.
-Eu amo você... - o ouviu murmurar em seu ouvido.
E então ela estava dormindo novamente.
***
Pansy e Harry saíram de mãos dadas do hospital, ignorando alguns repórteres que ainda estavam por lá. Tinha começado a chover em algum momento, e o carro estava longe. Harry pediu que ela esperasse e correu até o veículo.
-Hei, Srta. Parkinson - uma loira, possivelmente repórter, se aproximou - É verdade que o quadro de Ginevra Weasley estabilizou?
Pansy suspirou, irritada.
-Sim, ela acordou. Está ótima.
-Muito obrigada - a menina sorriu - E você confirma o rumor de que foi um atentado contra Draco Malfoy?
-Absolutamente! Foi uma bala perdida, uma discussão em um bar trouxa - Pansy a encarou com seriedade - Não inventem notícia, minha querida.
Harry buzinou. Pansy encarou a menina com aversão, depois se virou e foi embora.
***
-Bem, foi intenso hoje. - Blaise falou enquanto se jogava no sofá de casa, puxando Hermione com ele - Você está bem?
-Agora sim - ela sorriu levemente, apoiando a cabeça no ombro dele.
Blaise a pegou pelos braços, colocando-a sentada no colo dele. Os dois não falaram nada por alguns segundos, e foi ela quem deu o primeiro passo para que se beijassem.
-Acho que eu realmente gosto de você... - ele murmurou entre um beijo e outro.
-Eu também... - ela murmurou de volta.
***
A música era quase ensurdecedora, e várias pessoas cambaleavam pelo bar, bêbados demais para andar em linha reta. Delilah parecia uma visão em roxo, o cabelo loiro quase branco, os olhos azuis puros, tão inocentes. Dennis estava na porta, de olho, protegendo-a de qualquer coisa que pudesse aparecer.
Ela foi até o bar e pediu um copo de whisky de fogo, não o seu favorito.
-Oi coisinha linda - um cara se aproximou, sorriso de predador - Posso te pagar uma bebida?
-Claro - ela sorriu para ele.
***
Dominique entrou em um bar distraída, querendo apenas correr do apartamento. Já tinha entendido que Rony estava totalmente apaixonado pela insossa Elisha, o que ainda era totalmente inconcebível para ela. Mas estava acontecendo, então paciência.
Em Hogwarts, lembrou-se, era divertido vê-lo arrastar-se atrás dela, sempre o prestativo Rony. Ela gostava dele um pouco, não que fosse loucamente apaixonada, mas gostava. Bem, agora nada ia acontecer.
Ela sempre se viu como uma garota esperta, uma francesinha absolutamente acima da média. E por isso mesmo soube que era o momento de simplesmente desistir.
O bar era barulhento, e parecia divertido. Ela sorriu.
-Sozinha por aqui? - alguém perguntou.
Ela se virou para encontrar Theodore Nott, o infame Theo. Ex de Scarlett, ex de tantas outras... Irmão de Tad Nott, o próprio diabo.
-Correndo de casa - ela sorriu - Não quero atrapalhar Hermione e Blaise.
-Esses dois... - Theo riu divertido - Quem diria, Zabini e Granger, a dupla mais improvável de todos os tempos. Mas não fique aí, vem na minha mesa. Estou com uns amigos.
Ela sorriu agradecida e o seguiu. Nada como um grupo barulhento de lindos jogadores de quadribol para levantar a moral de uma garota.
***
Faith entrou em casa sem fazer barulho, não queria acordar Zéllie e Dakota. Continuava sentindo arrepios em sua pele, como se um cabo de energia estivesse passando por seu corpo, deixando-a elétrica. A chuva tinha piorado muito, o relógio marcava mais de quatro da manhã.
Pensou em Tad, todo concentrado, escutando-a divagar sobre um possível atentado, concordando com a investigação... Se oferecendo para ajudar.
"Ele sempre sabe o que fazer com você..."
Ela congelou, reconhecendo a voz arrepiante que tomara conta de sua vida por alguns poucos meses. Tad parecia aflorar tudo o que havia de pior dentro dela.
"Talvez ele só mostre a você sua verdadeira face."
Sim, ela suspirou, talvez. Pegou o celular e ligou para Tad. Estava desligado, constatou com um novo suspiro. Continuou rondando pela casa, tão enérgica... Era difícil ficar parada. Delilah ainda estava na rua, conversando com o pior tipo de gente do Beco Diagonal.
***
Terrence abriu a porta do apartamento de Scarlett, guiando-a lentamente para dentro. Um enorme bilhete de Max estava na mesa de centro, ele estava fazendo uma viagem de emergência para a empresa (obra de Draco, certamente).
-Então o quê? - Terrence segurou o bilhete com seriedade - Esse cara está morando aqui com vocês duas?
-Não necessariamente - Scarlett suspirou enquanto se dirigia até a cozinha, totalmente decidida a ignorá-lo.
Ela abriu a geladeira e encarou tudo por alguns segundos, incapaz de dizer se estava com fome ou sede. Talvez, concluiu, estivesse apenas cansada. Um banho seria uma ótima idéia.
-E vocês eram um trio ou algo assim em Paris? - Terrence indagou enquanto invadia a cozinha, o bilhete ainda em mãos - Você saiu com ele?
-Não Sr. Grant! - ela cruzou os braços enquanto se virava para encará-lo - Mas Gina o namorou, já que isso te interessa tanto. Você vai escrever uma biografia sobre ele?
-Só estou querendo cuidar de você - ele olhou irritado para ela, que já estava saindo da cozinha - Scarlett! Para de me ignorar!
-Terrence que inferno! - ela gritou enquanto se virava para encará-lo furiosamente - O que diabos você quer de mim? Qual o seu maldito problema? Por que não me deixa em paz?
-Porque eu amo você, sua idiota! - ele a fuzilou com os olhos enquanto caminhava apressadamente até ela, prensando-a contra a parede da sala e beijando-a como se ela fosse o ar que o mantinha vivo.
E talvez fosse mesmo.
***
Já estava amanhecendo quando Delilah e Dennis finalmente entraram em casa. Colocaram os pacotes com o café da manhã que tinham comprado, e se dirigiram até a cozinha. Comeram em silêncio por alguns minutos, absorvendo a noite insana.
-Você precisa contar para Faith tudo o que aconteceu - ele finalmente comentou.
-Sim, vou esperar mais uma hora para ligar - ela se mexeu, desconfortável. O vestido brilhava contra os poucos raios de sol que entravam pelas janelas da cozinha - Eu apenas não... Não estou convencida.
-O que não te convenceu? Eles te falaram que tinham errado a encomenda... A bala era para Draco Malfoy, não foi um acidente.
-É claro que não foi um acidente - ela o encarou com seriedade - Eu apenas não vi derrota nos olhos daqueles homens. Eu não sei Dennis... Algo está errado. A informação veio com muita facilidade, tudo muito simples.
***
Draco entrou no escritório quatro e meia da tarde. Ginevra tinha acordado apenas para almoçar, depois voltou a dormir. Os médicos diziam que era normal, que a bala atingiu uma região perigosa, que ela teve sorte... Ele ainda sentia seu coração parar sempre que a via deitada, imóvel, naquele quarto estéril.
Teria ficado lá, mas Pansy parecia histérica, exigindo a presença dele na sala de reunião as quatro em ponto. Precisou tomar um banho depois do hospital, então atrasou meia hora.
Suas assistentes estavam em polvorosa, provavelmente tinham acompanhando todo o drama pelos jornais. Ignorou os recados e abriu a porta da sala de reunião principal, a que ficava no andar de Pansy.
-Finalmente Malfoy! - Harry Potter reclamou no instante em que Draco entrou.
Draco parou, chocado. Terrence, Harry, Tad, Colin e Pansy estavam ali, aparentemente para conversar com ele.
-E esse circo aqui? Qual o motivo? - Draco puxou a cadeira da ponta e se sentou - Eu preciso voltar ao hospital.
-Não foi um acidente Malfoy! - Tad jogou uma pasta na direção de Draco, deslizando-a pela mesa.
-Nós colocamos alguns investigadores, também conversamos com os aurores - Harry jogou outra pasta para Draco - Foi um atentado.
Draco segurou as pastas, abrindo-as, ainda chocado.
-Quem faria isso? - ele encarou a todos - Por que no mundo alguém ia querer matá-la?
-Não ela Draco - Terrence o encarou seriamente - Gina não deveria ter sido atingida.
Colin apoiou os cotovelos na mesa e respirou fundo, absorvendo-o o silêncio de todos, o olhar chocado de Draco Malfoy.
-Você era o alvo.
***
-Olá! - Scarlett abriu um imenso sorriso assim que Gina abriu os olhos - Eu sei que você talvez estivesse esperando um cara loiro, bilionário e chato, mas ele teve uma reunião - ela continuou falando sem parar.
Gina apenas piscava, mal entendendo o que estava acontecendo.
-Você tem balões, flores, chocolates, frutas, velas - ela foi listando enquanto se levantava - Várias pessoas importantes mandaram coisas, provavelmente queriam cair nas graças do Draco - Scarlett revirou os olhos - Fico tão entediada com esse lance de dinheiro - sorriu ao olhar Gina, que continuava estática.
-Scarlett... - ela suspirou - Você é tão...
-Maravilhosa, eu sei! - ela piscou para a amiga - Seus pais e irmãos estão lá fora. Falando nisso, os gêmeos estão um arraso - Scarlett pegou uma bandeja com cartões e começou a ler.
Ginevra a escutou em silêncio por quase quinze minutos, deixando-a falar da loucura dos repórteres, e jornais, e fotos, e pessoas.
-Você está excelente - Scarlett garantiu, sentando-se novamente na poltrona que ficava ao lado da cama - Já vieram alguns médicos, enfermeiras, todos garantiram que não há sequelas. Fique tranquila.
Gina fechou os olhos por alguns segundos, sentindo a cabeça doer. Lembrava-se da dor, e do olhar de Draco. Aquele olhar, nunca o esqueceria. Ele estava assombrado, desesperado. Ela se sentia assim também, agora que estava consciente. Lembrou-se da briga que tiveram poucos minutos antes do tiro.
Scarlett continuava falando animada, elétrica.
-Ah... - ela inseriu na conversa, como se não fosse nada demais - Eu e Terrence dormimos juntos.
-Scarlett! - Gina riu, incrédula - Pausa, volta, e me conta tudo.
***
Delilah não contou para Dennis que pretendia voltar ao Beco Diagonal, mas fez isso. Abriu a porta da sala discretamente e saiu para a rua. Faith estava esperando na esquina, em seu conversível vermelho gracinha.
-Oi - sorriu quando entrou no carro - Obrigada pela carona.
-Não é só uma carona - Faith falou enquanto ajeitava os óculos de sol no rosto - Eu sinto também que algo está errado, discordei dos relatório e dos aurores. Vou com você Delilah, vamos investigar juntas.
-Espero então que você ainda consiga usar um pouquinho daquela magia insana - Delilah comentou brincando - Vamos ter que nos aprofundar um pouco, nada de Beco Diagonal para bruxos bonzinhos.
-Sim - Faith sorriu enquanto acelerava o carro - Hoje vamos visitar o lado negro da força.
-Você é tão nerd! - Delilah reclamou com uma risada.
***
-Você precisa parar com isso. Agora! - Elisha olhou irritada para Rony - Eu estou ótima, por favor vá embora!
-Não vou, tenho o dia de folga - Rony a olhou com um sorrisinho irritante e ligou a TV - Lexie está dormindo no Colin, não vou te deixar sozinha.
-Ela está lá porque você está aqui! - Elisha parou na frente da TV, possessa com a tranquilidade dele - Rony... Apenas vá!
-Não vou embora - ele falou calmamente - Te disse, vou cuidar de você. Sou um médico, pode ficar tranquila.
Ela cruzou os braços, incrédula com a infantilidade dele.
-E sua irmã? Você também precisa cuidar dela - Eli ergueu uma sobrancelha, o sorriso da vitória já se formando nos lábios - Não pode ficar me azucrinando.
-Gina? - Rony riu despreocupado - Ela já está ótima, internada apenas por precaução. Sem falar que Malfoy mandou trazer um médico da Suécia para checá-la - ele esticou as pernas, apoiando-as na mesinha de centro - Sejamos sinceros, ela está muitíssimo bem cuidada. Já você, minha bela Elisha, precisa de olhares atentos.
-Olha Ronald - ela começou - E se eu estiver esperando alguém? Uma visita que quero receber SO-ZI-NHA! Você vai me atrapalhar.
-Por favor Eli - ele sorriu relaxado - Essas visitas são o principal motivo para minha presença - Elisha o encarou de boca aberta, chocada com o descaramento dele - Acostume-se, não vou embora.
***
Draco entrou no hospital com um imenso buquê de rosas vermelhas. Já tinha mandado entregar, ao longo do dia, tulipas, orquídeas e lírios. O médico que ele contratara já estava voltando para a Suécia, e tinha garantido que ela estava mais do que bem, para alívio dele.
Já passava das oito da noite quando ele finalmente saiu do escritório. Vários aurores apareceram, as notícias corriam. Ele teve que contratar três guarda-costas enquanto a investigação não terminava, e estava pensando seriamente em deixar um com Ginevra.
Parou na porta do quarto, tentando descobrir se alguém estava com ela.
***
Gina fechou os olhos por algum segundo, exausta do dia que tivera. Um milhão de pessoas passou no hospital para visitá-las, enfermeiras e médicos não paravam de entrar. Scarlett tinha voltado para ajudá-la a tomar um banho e dormir, já que só seria liberada no dia seguinte.
-Draco mandou um milhão de flores - Scarlett sorriu.
-Sim... - Gina suspirou e abriu os olhos - Acho que... Acho que quero voltar para Paris.
-O que está dizendo? - Scarlett a encarou, incrédula - Pensei que estivesse acertando as coisas por aqui...
-Não está sendo o verão que eu esperava - Gina sorriu levemente - Você sabe disso. Pelo menos as fotos da Burberry renderam muito dinheiro, e acabei fechando um contrato com eles. Não que eu pretenda continuar tirando fotos, é só algo para me ajudar enquanto não emplaco como pintora.
-Você precisa parar de fugir, Gin - Scarlett suspirou e segurou a mão da amiga - Você e Draco precisam conversar.
-Não, você não entende Scarly - ela murmurou - Não há o que arrumar... Acho que perdemos o ponto, ultrapassamos o limite. Entende?
-Você está tão errada nisso! - um Draco Malfoy irritado entrou pela porta como um furacão, assustando as duas - Tão errada que não sei, sequer, por onde devo começar.
-Olha... - Scarlett começou - Agora não é um bom momento para brigar, você não...
-Saia Scarlett! - Draco falou e jogou o buquê os braços dela - Arrume um vaso para isso. Ou apenas jogue fora.
Com os olhos arregalados, e a esperteza de sempre, Scarlett sumiu do quarto.
-Precisamos conversar, não acha? - ele se sentou na poltrona.
***
-Aqui está minha loirinha fugitiva! - Terrence sorriu enquanto abria os braços e agarrava uma apressada Scarlett - Fugindo novamente?
-Do seu melhor amigo - ela sorriu, aceitando o abraço sem dramas - Acho melhor cancelar a visita de agora, os dois estão tendo uma conversa bem tensa.
-Tudo bem - ele sorriu, tão aliviado com a aceitação de Scarlett que não sabia sequer o que fazer - Vou te levar para jantar. Escolha qualquer restaurante da Europa.
Ela sorriu e revirou os olhos.
-Não quero jantar com você, Sr. Grant - disse com um sorrisinho safado - Quero arrastá-lo para o meu apartamento. Precisamos aproveitar, porque amanhã Ginevrinha já está lá.
-Você manda! - ele falou enquanto a puxava pelo braço, andando apressado em direção a saída do hospital.
***
-Qual a porra do seu problema? - Draco olhou enfurecido para Ginevra, que permanecia sentada na cama, braços cruzados, queixo erguido com teimosia - E não adianta me olhar com essa cara de Rainha Má, acho que nós dois sabemos que eu aguento o que você tem de pior.
-Não quero você Draco, aceite isso! - ela respirou pesadamente - Não venha me dizer seus absurdos, falando que acabei com a sua vida, que desapareci. Foi exatamente o contrário, você sumiu e...
-Eu me lembro do que você disse - ele falou baixo, quase como se não acreditasse em suas próprias palavras - Você me procurou depois de Hogwarts, não foi? O que aconteceu na minha casa?
-Nada de grandioso - ela deu de ombros, fingindo não se importar - O passado é passado Draco, não devemos mexer nele.
Ele a ignorou, ainda concentrado em lembranças passadas, quase incrédulo.
Staring at two different views on your window ledge
Coffee is going cold, it‘s like time froze
There you go wishing, floating down our wishing well
It‘s like I‘m always causing problems, causing hell
I didn‘t mean to put you through this, I can tell
We cannot sweep this under the carpet
-Eu fui até sua casa - ele confessou - Procurei por você.
-Sei que você e meu pai conversaram - Ginevra suspirou, sentindo o corpo doer, cansado - Ele me contou recentemente. Isso não importa Draco, não mais... Perdemos o ponto, você sabe disso.
-Não acredito em você - ele se aproximou da cama - Alguma coisa aconteceu na minha casa, eu vou descobrir... E você está errada, tão errada... Não existe ponto a ser passado, momento a ser perdido...
Ele segurou uma das mãos dela, olhos fixos no verde esmeralda Weasley, no cabelo com mil tonalidades de fogo, na pele pálida com pequenas sardas, no nariz minúsculo e nos lábios perfeitos... Olhos fixos nela, disposto a tentar mais uma vez, disposto a enfrentar qualquer coisa ou pessoa...
-Eu amo você Ginevra - falou com seriedade, um tom mais baixo que o normal, quase como se não conseguisse falar em voz alta - Amo mais do que deveria.
I hope that I can turn back the time
To make it all alright, all alright for us
I‘ll promise to build a new world for us two
With you in the middle
-Para! - ela puxou a mão de volta, quebrando o contato - Você nunca me amou! - ela tinha lágrimas nos olhos - Apenas acreditou em uma lenda que te contaram, acreditou que amaria uma garota ruiva, e amou a primeira que viu.
-Eu sabia que você tinha conversado com a minha mãe - ele pegou as duas mãos dela, segurando com firmeza para que Gina não pudesse puxá-las de volta - Te darei um tempo, não muito, já aviso, mas um tempo. Talvez você consiga perceber sozinha, mas se não conseguir forçarei a verdade.
Gina soluçou, irritada com as lágrimas que não paravam de cair. Agora que tinha dito em voz alta parecia ainda mais real. Todo o amor que ele proclamava, tudo o que sentiam um pelo outro... Talvez não passasse de fumaça.
Draco puxou a poltrona para ainda mais perto da cama e se sentou.
-Pensei que fosse me dar um tempo - ela observou de canto de olho, o rosto virado quase que totalmente para a janela.
-Claro que vou - ele sorriu, calmo - Mas isso não significa que vou tirar você da minha vista. Porque eu nunca mais vou fazer isso Ginevra - a encarou com seriedade - Nunca mais vou tirar os olhos de você. Não depois de quase te perder.
***
Faith sentia a energia correr por todo seu corpo, escondida debaixo de sua pele. Talvez fosse a fumaça verde e roxa que saia dos canos daquele lugar, ou o cheiro de incenso e lavanda. Alguma coisa naquele pub escuro e luxuoso, frequentado pelo pior tipo de bruxos e bruxas, trazia a tona sensações há muito esquecidas.
Delilah estava sentada no balcão, conversando com um cara um pouco mais velho, muito bem vestido, e extremamente suspeito. Willa já tinha deixado mil mensagens em seu celular, assim como Dennis.
Ela as ignorou com sabedoria. Queria correr dos problemas.
-Oi lindinha, quer dançar? - um cara se aproximou dela, alto o suficiente para que ela tivesse que erguer o rosto.
Ele tinha "problemas" escrito por todos os cantos, junto com olhos azuis magnéticos e um sorriso de tirar o fôlego. Talvez fosse o fato dele ser tão parecido com Tad, ou até mesmo as mãos suaves que a percorriam com habilidade, mas por algum motivo ela esqueceu tudo.
Principalmente o real motivo que a tinha levado até aquele pub obscuro e cheio de bruxos infames.
***
Tad estava saindo de um jantar com sua acompanhante da noite, Aspeth. Eles já tinham feito loucuras em NYC, perdidos em festas e drogas, tudo não muito tempo atrás, mas que honestamente parecia ter acontecido em outra vida.
-Você está tão aéreo - ela suspirou - Aposto que está pensando em alguma mulher.
-Como pensar em outra quando tenho você aqui? - ele piscou, charmoso - A modelo mais linda do mundo, e a mais carente também.
-Por favor! - ela sorriu, revirando os olhos com delicadeza - Não sou carente.
Eles saíram conversando, ignorando com maestria os fotógrafos que não paravam de lançar perguntas sobre o possível namoro dos dois. Em New York eram notícia velha, cansados de serem vistos juntos, mas aqui... Londres era tão mais séria que um jantar seria quase uma certeza de compromisso.
Não que fossem namorar. Nem hoje, nem nunca.
***
-Senhor Malfoy - alguém bateu com suavidade na porta.
Draco deixou Gina dormindo e se levantou. Saiu do quarto fechando a porta com cuidado, preocupado em não incomodá-la. Louis o encarava com seriedade, uma fortaleza de músculos e raciocínio rápido, tudo o que um segurança deveria ter.
-O que houve? - Draco cruzou os braços, olhos fixos no segurança que tinha contratado e que o acompanharia para todos os lados, pelo menos por um tempo.
-Cormac Mclaggen esteve aqui para vê-la - Louis comentou - Já o mandei para casa, mas posso dizer que ele vai voltar.
-Ele não vai se aproximar dela - Draco falou irritado. Pensar nos dois juntos o deixava insano - Preciso dar um jeito nesse moleque.
-Algo está errado - o segurança continuou, a voz grave enchendo o corredor - Eu reconheço alguém culpado quando vejo, e o menino é um poço de culpa e temor, Sr. Malfoy. Talvez fosse melhor colocar alguém fiscalizando-o.
-Contratei alguns investigadores, para chegar ao fundo desse ataque, vou colocá-los de guarda quanto a ele - Draco voltou os olhos para a porta do quarto fechada - Preciso saber quem ordenou o ataque, e ter certeza de que meus problemas nunca mais cheguem até ela.
***
Um celular tocou em algum lugar do quarto escuro, acordando-o imediatamente. Tad levantou-se sem jeito, trombando no pé da cama e em alguma mesinha.
-Alô!
-É o Tad Nott? - uma mulher perguntou - Preciso de ajuda.
-É ele - o coração de Tad trovejou dentro do peito, pensando em mil possibilidades - Quem está falando? Quem precisa de ajuda?
-É a Delilah - a ligação estava ruim, música ensurdecedora tocava do outro lado - ... Faith... Desmaiada... - a voz dela estava saindo falhada, deixando-o mais desesperado a cada minuto - Não sabia o que fazer...
-Onde vocês estão? - ele gritou, pouco se importando com a possibilidade de acordar Aspeth - Eu estou indo.
Delilah gritou o endereço e desligou. Tad correu pelo quarto, acendendo a luz e começando a se trocar imediatamente. Aspeth reclamou quando foi acordada e praticamente chutada pra fora da casa, ele nem mesmo piscou para a expressão de ódio no rosto dela.
Cortou a cidade como um raio, dirigindo de maneira insana, doente de preocupação. Não foi difícil encontrar o bar, ele já o conhecia há muito tempo, era o preferido de seu falecido pai. Um dos piores comensais da morte que a Grã-Bretanha viu.
-Meus olhos só podem estar me enganado - uma voz desdenhosa disse as suas costas enquanto ele entrava no bar - Tadwyn Nott finalmente digna-se a aparecer.
Tad sabia quem era o antes mesmo de se virar. Os dois haviam sido amigos em outra vida, outra fase, outra época. Amigos que aterrorizaram Durmstrang, viciados em Magia Negra, perigosos, manipuladores, cruéis.
Quando Tad foi descoberto, depois das duas mortes que ainda assolavam sua alma, Alex DeLarge desapareceu. Evaporou. Em algum ponto Tad se convenceu de que o garoto estava morto, possivelmente mais uma vítima sua, mais um prego levando-o ao inferno.
-Alex. - ele se virou lentamente, incrédulo, possesso - Alex DeLarge, pensei que estivesse morto.
Alex riu alto, com gosto, chamando a atenção de todos. Uma risada má e arrepiante, quase ofuscando toda a beleza daquele rosto angelical. Um rosto tão parecido com o de Tad, que todos pensavam ser irmãos.
-Eu fui esperto Tadwyn - Alex falou com escárnio - Não ficaria lá para que me pegassem, não tomaria a maldita "cura" que sei que empurraram em você e na linda jornalista que conheci essa noite.
Tad congelou com a menção de Faith. Escutou, incapaz de fazer qualquer movimento, incapaz de dizer qualquer coisa.
-Uma linda coincidência, não é mesmo? - Alex comentou com uma falsa calma - Assim que senti a magia dentro dela soube que vinha de você. É claro que eu saberia Tad, você entende isso, não é? Afinal, você também me contaminou com Magia Negra. A única diferença - Alex se aproximou ainda mais e baixou o tom de voz - É que eu ainda a tenho, correndo dentro de mim, consumindo minha alma, me deixando mais forte que você.
***
-Malfoy! - Draco atendeu o telefone naquela madrugada, ainda sentado na incômoda poltrona, observando Ginevra dormir.
-O que foi Nott? - Draco revirou os olhos, ignorando absolutamente o tom de urgência.
-Nós temos um imenso problema - Tad parecia sem fôlego, incrédulo, quase aterrorizado - Alex Delarge está em Londres. Ele drogou Faith e Delilah, estou com as duas no carro. Malfoy... - ele respirou fundo - Preciso de ajuda.
***
SEIS ANOS ATRÁS...
Draco atravessou o jardim sudoeste com passos rápidos, um pouco irritado com o frio daquela noite de primavera. Desde que Ginevra Weasley assumira o posto de terrorista de Hogwarts o tempo parecia fora de controle.
Cruzou as ruínas do que um dia tinha sido uma enfermaria, mas hoje era o berçário de diversas criaturas minúsculas e nojentas. Ele traria Scarlett ali no dia seguinte, apenas para irritá-la. Talvez isso a fizesse esquecer um pouco dos mil garotos com os quais ela parecia estar saindo no momento.
Talvez, ele se pegava pensando vez ou outra, ela e Ginevra fossem mais parecidas do que ele ousava admitir. Gina nunca estava sozinha, o que o deixava insano cada vez que mentalizava isso.
-Você está atrasado - Tad falou mal humorado, os braços cruzados, costas apoiadas em uma árvore que parecia tão antiga quanto o tempo.
-Eu não me atraso Nott - Draco o olhou com arrogância - Você é que se adiantou.
-Sim, certo - Tad revirou os olhos, impaciência escorrendo de seus poros - Conversei com Ginevra hoje, ela já sabe de tudo. Sobre a Magia Negra, as mortes, Faith... Você precisa ficar de olho nela, conhecendo-a como conheço sei que vai se precipitar e acabar se machucando.
-Vou tomar conta do que é meu - Draco o encarou com arrogância - Não se preocupe com ela, isso não é mais seu trabalho.
-Ah, não se preocupe você - Tad zombou - Eu soube desde o início que te enlouqueceria com isso, sempre soube que no fim ela voltaria para você. Ou você forçaria seu caminho até ela. Veja bem, Draco - ele continuou falando - Escutei sobre a lenda dos predestinados, toda a família Black falava sobre o jovem mestre Malfoy e uma ruiva que o destruiria. Eu tinha esquecido isso, até que cheguei aqui.
Os dois meninos se encararam em silêncio, remoendo lembranças e ódios passados, alguns até mesmo presentes.
-Sei sobre Alex DeLarge - Draco soltou depois de alguns segundos - Ninguém mais o cita, pensam que está morto, mas você sabe melhor, não é?
-Não sei nada sobre ele - Tadwyn endureceu a postura, quase raivoso - Você não estava lá Malfoy, não viveu isso na própria pele.
-Vivi dentro de casa! - Draco o cortou - Descobri todos os seus segredos Tad, todos eles. Alex pode ser um bastardo, e talvez por isso o desaparecimento dele tenha sido tão bem encoberto, mas não se engane, ele não está morto. E se eu estiver correto, o que eu certamente estou, quando ele te encontrar vai odiá-lo tanto, mas tanto, que seu único recurso vai ser vir até mim - Tad o encarava no mais completo silêncio, a alma tão gelada quanto seu corpo, pensamentos a mil - Não se esqueça disso Tad, você abandonou DeLarge, o bastardo pobre que corria atrás de você como um cachorrinho. Ele ainda vai voltar para se vingar, mesmo que tenha que cavar um túnel de onde está agora, certamente em algum buraco no inferno.
Draco se afastou apressado, irritado. Não queria pensar nas palavras de Tad, zombando de tudo o que ele acreditava ter com Gina Weasley, sua doce e malévola rainha. Talvez ele fosse mesmo um imbecil, ponderou a contragosto, por acreditar em histórias contadas tantos anos atrás.
Lying down beside you, what‘s going through your head?
The silence in the air felt like my soul froze
Am I just overthinking feelings? I conceal
This gut feeling I‘m tryna get off me as well
I hope we find our missing pieces and just chill
We cannot sweep it under the carpet
E sim, podia ser a maior mentira de Cedrella Black, mas ele apenas sabia que não era. Não podia ser, não quando ele se lembrava exatamente do momento em que colocara os olhos nela pela primeira vez.
Na época o cabelo de Ginevra não era uma mistura de tons que iam do sol até o fogo, eram apenas de uma cor vibrante escura, quase o tom dos vinhos tintos que seus pais tanto amavam.
Só os olhos, ah os olhos, tinha o mesmo brilho de antes. A mesma sagacidade, a mesma intensidade.
I hope that I can turn back the time
To make it all alright, all alright for us
I‘ll promise to build a new world for us two
With you in the middle
Ele só desejava, do fundo de seu coração, que um dia tudo desse certo. Não seria ainda, ele apenas sabia, mas seria logo. O dia que o mundo não seria mais o mesmo, porque um Malfoy e uma Weasley estariam juntos.
O que não importaria de forma alguma, porque para eles dois, continuariam a ser Draco e Ginevra.
Juntos.
Não importa o quê.
(With you in the middle)
(With you in the middle)
(With you)
(You)
(DJ Snake - Middle ft. Bipolar Sunshine)
Comentários (2)
Eu queria tanto que vc voltasse.... Eu li todas as suas fics e amei todas.. As vezes a gente fica muito tempo longe daqui, mas sempre acaba voltando uma vez ou outra para reviver as coisas boas. Volta pra terminar Lili, vc nunca deixa nada pela metade.
2018-12-03Aguardo ansiosamente pelos próximos capítulos! Haha o que aconteceu com elisha?
2017-06-30