Toda a Verdade... Ou quase!
5º capítulo – Toda a Verdade... Ou quase!
“O tempo tende a nos fazer cair no marasmo da rotina, nas tristezas diárias, na infelicidade eterna. Lutei bravamente contra um destino inevitável. Vejam bem, não estou dramatizando, sei que sou uma das filhas privilegiadas de Londres, a herdeira de uma fortuna... Eu sei de tudo isso. Sempre soube. Eram os fatos inegáveis da minha vida, sempre ali, para todos verem. O que eu não sabia, e descobri por mim mesma, foi que ser uma filha desregrada em Paris seria a luz no fim do meu túnel. Acredito que é por isso que tenho tentado evitar minha volta... Acho que tenho medo de desaparecer... De me tornar o que deveria ter me tornado desde o começo. Cá entre nós... Tenho medo de me apaixonar de novo. Pela mesma pessoa. Não é segredo nenhum que Terrence pode me destruir... Mas apenas se eu permitir isso.”
Scarlett Sorley
Ela se sentia acordada quando dava o primeiro passo antes de corrida. Todos os seus músculos esticavam-se, tensos, esperando o momento certo. Ela respirou fundo algumas vezes, sentindo todo aquele ar puro do Hyde Park. Ajeitou os óculos de sol especiais para corrida, o tênis super colorido da Nike. A cada quilômetro acumulado ela pensava apenas em controlar a respiração, em colocar-se no movimento perfeito... Não era difícil perceber que Scarlett amava correr.
Era uma manhã de quarta-feira como não se viam há tempos. Um céu perfeito, sem nuvens, no tom dos olhos de Pansy e Lexie Parkinson.
-Scarlett! – o corredor que vinha no sentido contrário chamou seu nome e voltou – Nunca te vi correndo nesse horário.
-Tad! – ela sorriu, daquele jeitinho que Gina lhe ensinara... Sorriu com todo o rosto, até mesmo os olhos – Eu estava correndo em outro parque, mas hoje decidi vir pra cá.
-Bem melhor – ele comentou enquanto dava uma rápida olhada no relógio esportivo – Olha, tenho que ir embora... Não quer sair para jantar? Nós dois, Ginevra e Theodore?
-Claro – ela concordou – Me mande uma mensagem.
-Combinado – ele sorriu antes de se afastar.
Ela recomeçou sua corrida. Respira. Passo. Respira. Passo. Tão controlada que parecia difícil acreditar na antiga Scarlett, o anjo vingativo de Hogwarts. A amargurada. Não há remédio como o tempo.
***
Ginevra entrou no prédio apenas lançando um sorrisinho para o porteiro. Ela gostava dessa parte do “ser bonita”, uma pena que a beleza também trouxesse tantos ônus. Ela viveria apenas com o bônus sem pensar duas vezes.
Bateu três vezes seguidas na porta, impaciente. Blaise a abriu, um olhar irritado lhe disse tudo o que ela precisava saber.
-Bom dia, querido – deu um sorrisinho e entrou no apartamento.
-Ninguém chamou no interfone – ele ignorou a saudação e seguiu atrás dela – O que você está fazendo aqui tão cedo? Veio infernizar a vida de mais alguém ou se reserva a estragar apenas a do Draco?
-Cuidado Blaisinho, eu posso começar a pensar que você está com ciúmes – ela o olhou com um sorriso malicioso e abriu a geladeira – Agora faça o favor de acordar Dominique e Hermione enquanto preparo o café da manhã.
-Veio nos envenenar? – ele cruzou os braços e apoiou as costas na parede.
-Tentador... Mas não! – Ginevra foi abrindo armários e pegando o que precisava. Ela sabia onde tudo ficava, já que vivia por lá, visitando o irmão, as amigas, ou apenas irritando Blaise – No entanto, pode deixar que anotarei a dica para um momento posterior.
-Por que você é tão má? – perguntou, verdadeiramente curioso.
-Por que tão chato? – rebateu no mesmo ritmo de sempre, impiedoso – Vamos lá Blaise, eu não tenho tempo a perder.
-Gina? – Rony bocejou enquanto entrava na cozinha – Vocês dois brigando logo cedo?
-Vim buscar as meninas – Gina explicou, lançando um sorriso tão doce e inocente ao irmão, que Blaise revirou os olhos e saiu de lá – Vamos ver alguns apartamentos ao redor da cidade. O que você quer de café da manhã?
***
Pansy entrou na sala de Draco sem se anunciar, como sempre fazia. Naquela manhã em especial ela parecia à beira de um ataque de nervos. Daqueles de tirar qualquer um de perto.
-Acabei de receber uma carta, Draco – ela puxou uma cadeira e se sentou. O cabelo preso em um coque perfeito, o terninho azul marinho, Pansy era a viva imagem da advogada bem sucedida.
-Sobre? – ele cruzou os braços e se apoiou no encosto da cadeira.
-Cormac quer processar você – ela jogou a carta em cima da mesa – Que história é essa de você tê-lo socado na cara? Na minha festa de noivado! – completou com um tom ainda mais irado – Não conversamos dezenas de vezes sobre brigas? Você não disse milhares de vezes que não ia cair no joguinho dele?
-Eu não tive culpa – ele suspirou, irritado – Terrence pode testemunhar a meu favor.
-Sim, eu falei com ele e Blaise – Pansy parecia levemente incrédula – Blaise não sabia de nada... Já Terrence me disse o que aconteceu. Eu não acredito que você brigou por ela, Draco.
-Não foi por ela – ele bateu a mão na mesa, irado – Eu disse que não ia voltar a ser o garoto estúpido de dezessete anos.
-Você já voltou a ser! – ela gritou e se levantou – Vou resolver isso, senhor Malfoy, não se preocupe. Não darei esse prato cheio para a imprensa.
Draco a observou partir em uma nuvem de fúria. Ele apoiou as mãos no rosto e fechou os olhos, tentando se concentrar em alguma coisa. Qualquer coisa. Não tinha sido por ela, murmurou. E mesmo em pensamentos ele sabia que era um péssimo mentiroso.
***
Lexie estacionou seu novíssimo BMW branco na entrada do galpão que a Burberry tinha alugado para as fotos. Era um trabalho imenso, maior que qualquer outra marca que ela já tivesse sonhado pegar. A alta costura não passava de um mundinho fechado e ela demorou quase dois anos só para conseguir os contatos certos.
-Alexandra – Willian chamou assim que ela entrou – Estávamos esperando você. Temos um imenso problema.
***
Faith terminou de escrever a matéria sobre o time da Alemanha e mandou para seu chefe. A hora do almoço parecia tão distante quanto o inverno, suspirou. A porta de sua pequena sala foi aberta com violência pelo furacão Dakota.
-Escuta só! – ela disse toda animada enquanto se sentava em uma cadeira – Acabei de receber um convite único.
-Diz logo!
-Miguel Corner me chamou para jantar – Dakota jogou o celular na mesa – Olha as mensagens que ele me mandou. Uma melhor que a outra.
-E você vai? – Faith perguntou com um sorriso. Dakota era sempre tão animada com encontros.
-Mas é claro! Vamos fazer compras hoje na hora do almoço – ela pegou o celular e se levantou – Melhor terça-feira da vida!
Na saída Dakota cruzou com o temível Arthur, o redator chefe, o grande boss, o Satã (segundo alguns). Faith suspirou quando percebeu que ele estava daquele jeito assassino de sempre, provavelmente estava ali para despedi-la.
-Arthur, posso ajudá-lo? – abriu um sorriso.
-Faith você tem uma missão – ele não se sentou, não sorriu de volta, não a cumprimentou – Tad Nott não quer dar entrevistas, para ninguém. Precisamos saber o porque da compra do time, apurar boatos e falar da vida dele. O cara é um babaca e um playboy, mas atrai publicidade.
-Eu faço esportes Arthur, não acho que perguntar se ele namora tenha alguma cois...
-Faith! – ele a cortou grosseiramente – Já mandei as jornalistas atrás dele, ninguém conseguiu nada. Mandei homem, mulher, todos... Sobra você. Dane-se que sua parte cobre apenas esportes, consiga uma entrevista e depene o cara. Quero saber tudo sobre ele, seu prato favorito, os escândalos sobre o falecido pai, que número ele calça, tudo. Você tem uma semana – ele apontou um dedo – Consiga isso e consigo que você faça as viagens que tanto quer, acompanhando a Taça de Quadribol durante todo o campeonato. Pense nisso.
-Droga... – ela resmungou baixinho quando ele saiu batendo a porta.
Oportunidade de ouro, entrevistado nem tanto.
***
-Meredith disse que o Wroth ligou no escritório perguntando sobre o fim da obra – Terrence se queixou enquanto ele e Harry entravam no Ministério da Magia – O cara é um completo babaca.
-Não estou surpreso Terren, estamos falando do Matthew Wroth, o mesmo idiota que andava atrás da Lexie em Hogwarts – Harry sorriu para alguns conhecidos – Só não acredito que ele realmente virou um político.
-Família de políticos – Terrence explicou – Cara, a Daphne está me dando uma canseira. Me liga o dia todo.
-Aposto que ela pensa que vocês são namorados – Harry riu.
-Deus me livre! – ele exclamou, horrorizado.
Noah sorriu quando os avistou.
-Como vão? – ele mudou a pasta de mão para cumprimentar os dois – Passeando?
-Na verdade viemos ver como vai a obra – Terren mexeu distraidamente no cabelo enquanto falava, uma mania que Scarlett achava adorável.
-Ah sim, eu vi. Vocês estão fazendo um ótimo trabalho – Noah olhou o relógio de pulso – Preciso ir, mas me liguem depois. Vamos marcar um jantar.
-Fechou – Terrence sorriu – Vou avisar o Draco.
-Combinado – Noah sorriu para os dois e seguiu caminho.
-O que ele faz mesmo? – Terren perguntou confuso.
-Que perdido – Harry riu – Ele trabalha no mercado financeiro. Você sabe, ganha em cima do dinheiro alheio.
***
-Não sei não! – Gina murmurou enquanto saia de um dos quartos. Ela foi até Hermione e Dominique, que estavam inspecionando a cozinha – Achei o lugar um pouco escuro demais.
-Pensei o mesmo – Dominique apoiou as mãos no quadribol – Que saudades do nosso apartamentinho em Milão.
-Era incrível mesmo – Gina concordou, um leve suspiro escapou – Escuta... O prédio do Rony não tem um apartamento vago?
-Acho que sim – Hermione franziu o cenho, tentando lembra-se – No terceiro ou segundo andar.
-E estamos rodando Londres sem nem pensar em olhar lá? – Dominique revirou os olhos e saiu atrás da corretora, que estava na sacada falando ao celular.
-E você e Blaise? – Gina perguntou com uma vozinha provocadora – Estão dando uns pegas naquele sofá horroroso?
-Claro que não! – Hermione olhou escandalizada para ela – Não que eu não tenha pensado nisso... – concluiu com um sorrisinho divertido.
-Nerd pervertida – Gina brincou – Lembra quando vocês me procuraram, naquela festa, pedindo que eu ajudasse a destruir o namoro de Harry e Pansy? Hoje penso nisso e acho tão absurdo o fato de que eu, de fato, poderia ter acabado com aquele namoro.
-Você fez o que tinha que fazer para sobreviver Gina. Algumas pessoas coexistem, outras se permitem existir realmente... Elas não têm medo de abrir as asas e saltar do alto de um prédio.
-Não sei se eu teria a mesma coragem hoje – ela confessou.
-Você ainda é uma rainha, sabe disso. E na hora certa, quando precisar agir, voltará ao que era antes. Do mesmo jeitinho. Ou não. Pode ser que você volte um pouco pior.
As duas se olharam e trocaram um olhar cúmplice, divertido. Lá fora, Londres era a barulhenta cidade de sempre... Lá dentro, o silêncio parecia gritar mais alto que qualquer buzina.
***
Várias pessoas folheavam desesperadamente pesados livros com fotos de modelos. Agnés, a temível estilista, e Willian, o diretor, a olharam com expectativa. Ela mudou a bolsinha com a câmera e os encarou de volta, imaginando se sorrir seria uma boa coisa no momento.
-Qual o problema? – perguntou séria, tentando passar profissionalismo.
-Vê tudo isso? – Agnés agitou os braços para os lados – Preparamos tudo, cenários, iluminação... Mas não encontraram uma modelo sequer que se encaixe nos meus padrões.
-Agnés não seja ridícula – Willian a olhou irritado – Já te disse que todas as que você citou não estavam disponíveis. Trouxe dez mulheres incríveis, juntamente com dez modelos homens maravilhosos.
-Willian, eu não me importo – ela o fulminou com os olhos – Essas meninas são ótimas coadjuvantes, eu preciso de uma protagonista.
Lexie observou as dez meninas, sentadas longe dali, papeando e mexendo em seus celulares. Típicas modelos. Cinco delas ruivas, nenhuma original.
-Por que tantas ruivas? – perguntou curiosa.
-Acho que ruivas cairão bem com essa coleção – Agnés explicou – O tom de vermelho será o ingrediente final na composição com as roupas mais sóbrias. Claro que, quando pensei nisso, pensei apenas em verdadeiras ruivas.
Willian revirou os olhos e cruzou os braços, irritado. Lexie sabia, no fundo de seu coração, que não era a melhor das suas idéias, mas ela também sabia que não tinha outra opção. Pegou o celular na pequena Chanel e entrou no facebook. Adicionar a rainha tinha sido mais um de seus momentos, e aconteceu em uma das suas infinitas visitas para Scarlett, em Paris.
Ela pegou a foto de capa, aquela que em que a irritantemente bonita Ginevra usava um vestido de verão azul claro, um desses vestidos esvoaçantes, saltos imensos e o cabelo ruivo, naquele tom único, voava livremente com o vento. De fundo, como não poderia deixar de ser, a Torre Eiffel.
-Que tal essa? – mostrou o celular para Agnés e Willian.
-Deus meu! – eles arfaram – Esse vermelho é verdadeiro? – Agnés estava, pela primeira vez, sem palavras.
-Sim – Lexie se segurou para não revirar os olhos – É um tom diferente, e olha que ela tem uma dezena de irmãos ruivos... Nenhum com essa exata cor de cabelo.
-Precisamos dela! – Willian sorriu. Todos concordaram.
***
Colin entrou no Pasquim depois de quase meia hora procurando. Ficava no Beco Diagonal agora, mas era tão escondido que ele quase pegara o rumo do Gringotes, com aqueles duendes odiosos. Duas secretárias baixinhas estavam paradas ao lado de um imenso bebedouro roxo com pequenas luzes amarelas. Tão Luna que ele não pode conter o sorriso.
-Precisam de ajuda? – ele perguntou.
-Sim, por favor – uma delas respondeu, piscando os olhos excessivamente – Isso é muito alto e, no momento, não temos nenhum homem na redação.
Em um segundo o galão de água estava posicionado no lugar correto, e as duas funcionárias eram só sorrisos para ele.
-Para de cobiçar minhas funcionárias, Creevey – Luna disse com um sorrisinho enquanto surgia.
-Minha adorável Luna Lovegood – ele se aproximou e beijou a mão dela – Agora a senhora Zac Smith.
-Sim, bem... – ela riu – Vamos entrar, não quero você aí seduzindo todas as funcionárias – brincou.
Conversaram por quase uma hora, falando do passado, do futuro. Por fim, Colin entregou algumas matérias e se comprometeu a assinar uma coluna de crítica política, que sairia toda quarta e todo domingo.
***
Hayden estava usando jeans e uma camisa azul clara quando recebeu Zéllie e Spencer na BBC. Ele tinha ido ver a edição final do primeiro episódio de “Hayden Goes to Heaven”, que estrearia no final do mês. O bom de estar em uma emissora tão competente quanto a BBC, é que o céu realmente era o limite. Tudo do melhor, do salário ao câmera.
-Alguém está todo profissional – Zéllie cantarolou enquanto o beijava levemente no rosto – Viemos te visitar, já que você disse que era permitido.
-Eu vim porque estou de férias e entediado – Spencer deu de ombros, arrancando suspiro de algumas mulheres por ali.
-Nos dê um tour – Zéllie pediu enquanto segurava a mão de Spencer – Estamos curiosos. E... Spen... – ela lançou um rápido olhar ao redor – Eu sei que você não pode evitar ser tão loiro, alto e lindo, mas evite seduzir todas as mulheres daqui.
-Sua ridícula – Hayden revirou os olhos – Sem ofensas, mas sabemos que sou bem mais bonito.
-Os dois são lindos – Zéllie o corrigiu – No entanto, há uma diferença. Você é um babaca Hayden, e nem seus lindos olhos azuis escondem ou anulam esse fato.
-Vamos logo – Spencer riu e saiu puxando Zéllie pela mão – Quero conhecer o grande mundo por trás da televisão.
-Não sou um babaca! – Hayden reclamou como uma criança de quatro anos. Por fim, resignado, começou o tour.
***
Gina desceu do táxi no local indicado por Lexie. Era um armazém gigantesco, com aspecto de local abandonado que a assustou até a morte. Seu celular tocou no mesmo instante, era Lexie.
-Você me mandou para o lugar errado – ela reclamou.
-Não é não – ouviu Lexie suspirar – Estou te vendo daqui.
Gina estreitou os olhos e viu a pequena figura de Alexandra Parkinson. Toda vestida de preto e vermelho, quase parecendo uma fotógrafa famosa. Elas se cumprimentaram e entraram no galpão. Lá dentro parecia outro mundo. Modelos andavam por todos os cantos, luzes eram ativadas, painéis montados.
-Bem melhor, não? – ela perguntou com um sorrisinho sarcástico – Escuta, é como eu te expliquei por telefone. Vão te pagar em dinheiro e roupas, vamos trabalhar hoje e mais dois dias. Você sabia que o seu tom de ruivo é a coisa mais rara do mundo? E obrigada por vir em cima da hora.
-Sem problemas, eu estava vendo apartamentos com a Hermione e a Dominique. E sim, meu cabelo é diferente de todos da minha família. Parece apenas com o da minha avó – Gina deu de ombros – Não vejo a hora de ver as roupas – ela sorriu animada.
-Você é uma discípula consumista da Scarlett – Lexie balançou a cabeça, inconformada - Agora é só esperar você ser aprovada.
-Não se preocupe com isso – Gina sorriu e ergueu uma sobrancelha – Nós sabemos que sua chefe vai me amar.
E ela amou.
***
Pansy estava conversando com a secretária de Draco quando ele voltou do almoço. Parecia estressado, como sempre ficava depois de um almoço de negócios.
-Não sei porque insistem tanto em comer enquanto falam de dinheiro – ele reclamou para Pansy, que o seguiu para dentro da sala – Eu ficaria satisfeito com uma reunião em qualquer outro horário.
-Imagino que seja como o golfe nos domingos – ela replicou – Você não gosta, mas os empresários gostam. Então apenas agüente e seja simpático.
-Bem – ele se sentou e a encarou – Imagino que você não estava me esperando para uma lição de vida, estou certo?
-Deuses, que insuportável – Pansy respirou fundo – Conversei com o advogado do Cormac e o convenci de que eles não têm nada, o que é a mais pura verdade. Claro, subornei alguns funcionários do meu noivado.
-Tudo resolvido? – Draco abriu o primeiro sorriso do dia – Excelente.
-Por agora, você quer dizer – Pansy se inclinou levemente na direção dele – Agora me faça um favor e para de descontar sua frustração no resto do mundo, e também, pare de brigar na rua como um moleque. Pensei que suas aulas de boxe fossem para aliviar esse seu temperamento.
-Primeiramente – ele ergueu um dedo – Luto MMA e boxe, e em segundo lugar – outro dedo erguido – Você me pediu dois favores.
Pansy bufou e revirou os olhos.
-Tudo bem nervosinha – ele riu – Isso não vai se repetir. Eu juro.
-Espero Draco – ela se levantou e caminhou até a porta – Você ainda tem uma reputação e manter, não vamos estragar tudo por uma mulher – e então ela tinha ido embora.
Draco precisava, urgentemente, acabar com essa coisa de deixar Pansy ter sempre a última palavra.
***
-Ok, vamos começar – Lexie ligou o rádio e se dirigiu para Ginevra – Vamos começar com poses bem naturais. Quero o seu estilo rainha de antigamente, provavelmente o estilo de sempre, se é que você me entende.
-Que música inspiradora – Gina riu – Jura que colocou Bitch, das Plastiscines? Isso é uma piada ou um insulto.
-O que posso dizer? – Lexie deu um sorrisinho maldoso – É apenas inspiração, se é que me entende. Bitch vai ser a nossa trilha sonora.
E as fotos começaram.
I‘m a bitch when I brush my teeth
I‘m a bitch walking down this street
I‘m a bitch when I paint my lips
I‘m a bitch when people look at me
Gina se sentiu uma verdadeira rainha, enquanto fazia caras e bocas para a câmera, rodeada por dez modelos maravilhosos e usando roupas que sequer tinham sido lançadas ainda. Ela sorriu para Lexie e piscou.
***
Faith colocou o celular na mesa e o observou por uns bons quinze minutos. Sem que ela se desse conta, as luzes do seu escritório piscaram algumas vezes. Às vezes ela sequer percebia toda a energia que a percorria como um carro de corrido passando a mil quilômetros por hora. Era assustador. E revigorante.
O celular tocou alto, assustando-a. O sorriso animado de Miguel Corner apareceu.
-Olá melhor jornalista do mundo – ele saudou brilhantemente.
-Não vou listar você como “O melhor batedor da temporada” – ela avisou, um sorriso divertido nos lábios.
-Bem, você vai mudar de idéia quando eu te contar uma coisinha.
-Diga!
-Por acaso... – ele enrolou, divertido – Algum passarinho me disse que você vai ter que fazer uma entrevista com o todo poderoso por aqui, o Nott. Por acaso, hoje eu sei que ele está aqui sem fazer nada. E ele vai continuar por aqui por mais umas três horas.
-Deuses! Dakota te ligou, não foi? – ela acusou.
-Ela ouviu sua conversa com o ridículo do Arthur – Miguel revirou os olhos – Agora venha aqui e diga que estou te esperando. Vamos arranjar um encontro casual e fazer você me acompanhar na Taça de Quadribol.
-Você sabia que eu não ia ligar, não é? – Faith sorriu.
-Esqueceu que eu estava em Hogwarts? – ela o ouviu rir suavemente do outro lado – Vamos resolver isso e então sua amiga vai me achar ainda mais incrível.
-Estarei aí em vinte minutos.
***
-I´m a bitch, I. T. C. H – Lexie e Gina cantavam a plenos pulmões enquanto cruzavam as ruas de Londres naquele início de noite.
Lexie dirigia como uma louca, Gina não podia parar de sorrir. Na porta do prédio, enquanto ainda cantavam aos berros, viram Scarlett. Que as olhou, chocada.
-Preciso de um calmante – explicou suavemente enquanto corria para longe das duas loucas.
-Quer entrar? – Gina sorriu – Vamos sair para jantar mais tarde, se estiver no clima.
-Não, vou me preparar para amanhã – Lexie explicou – Te pego amanhã, nove horas.
-Combinado – Gina abriu a porta e saiu do carro – E obrigada por tudo, hoje foi muito divertido Branca de Neve Malvada.
-O prazer foi meu, Rainha Malévola – ela piscou antes de sair acelerando.
***
Tad estava revisando o contrato de Huxley quando a escutou lá embaixo. Talvez fosse por conta de toda a magia negra que ele e ela tinham usado, contaminados irremediavelmente, mas a verdade é que ele sempre pode dizer quando ela estava entrando em algum lugar.
Da imensa janela de seu escritório, ele viu quando ela foi recebida por Miguel Corner, toda sorrisos quando ele abriu a porta para ela. Vários minutos se passaram, os dois apenas ali conversando. Até que ele a levou para dentro do prédio.
Em dois minutos Tad estava lá embaixo, procurando-a discretamente.
-Faith – sorriu quando a viu indo em direção ao campo, Miguel ao seu lado, é claro – Veio conhecer as novas instalações? Ainda não estão prontas, mas eu ficaria feliz em te mostrar o que já está.
-Tad – ela sorriu, um daqueles sorrisos cheios de segredos que ele aprendera a conhecer no pouco tempo que passaram juntos – Eu adoraria. Miguel acabou de me falar que tem que ir embora.
-Isso mesmo – o batedor folgado deu de ombros – Me liga depois Faithie – piscou enquanto ia.
Ela o encarou atentamente, os olhos azuis faiscando.
-Não estou te atrapalhando? – perguntou.
-Se estivesse, eu falaria – Tad sorriu – Agora me fala o motivo da sua tão bem escondida tristeza.
-Ainda espertinho, não é? – ela o acompanhou pelo longo corredor – Problemas no trabalho. Só isso.
-Nunca é só isso – ele parou de andar e se virou para ela – Pode confiar em mim.
-É o meu chefe – ela suspirou, chateada – Eu deveria cobrir toda a Taça Mundial de Quadribol, mas agora Arthur decidiu que eu não contribui o suficiente para isso. Eu inventei uma entrevista aqui só para sair de lá.
-Faith – ele falou, sério – Se tiver qualquer coisa que eu possa fazer para ajudar.
-Não, tudo bem – ela mudou a bolsa de braço – Eu vou dar um jeito. Lembra da Lola Welch, a Corvinal, ela é relações públicas, e está cuidando de um jogador da Irlanda. Eu vou marcar uma entrevista.
-Você não precisa daqueles irlandeses estúpidos – Tad olhou irritado pra ela – Esse tal Arthur tem me ligado todos os dias, então ele obviamente quer a minha entrevista. Negocie com ele, diga que se ele te der a viagem, eu dou a entrevista pra você.
-Tad, eu sei que se você recusou é porque não quer... – ela começou.
-Eu disse sério Faith – ele abriu um sorriso acolhedor – Você vai viajar. Isso está resolvido. Agora vamos, quero te mostrar o projeto para as novas cabines.
Perto dali, encostado em um armário, Miguel riu, incrédulo. Ele sempre soube que Faith era boa, só não sabia que ela era tão boa assim.
***
Draco fez uma série de chutes e socos no imenso saco de areia. As enormes janelas de vidro da academia mostravam a noite londrina a todo vapor. Ele já tinha corrido sete quilômetros e ainda estava cheio de energia, cheio de dúvidas. Talvez devesse ligar pra ela, conversar qualquer bobeira, levá-la para jantar. Propor casamento.
Deuses! Chutou com força o saco, ele era um idiota. A cada novo soco uma nova imagem de Ginevra Weasley, em sua glória ruiva, zombando dele.
Seu celular tocou desesperadamente por dez minutos até que ele percebesse.
-Astória, o que foi? – atendeu entediado.
-Draco! – ela berrou, histérica – Acidente – choro alto – Daphne e Terrence – gritos de desespero.
-Calma! – ele gritou, nervoso – Estou indo te buscar. Para de gritaria. Vinte minutos.
Desligou e correu para seu apartamento. Precisava tomar um banho rápido e ver o que tinha acontecido com o melhor amigo. No elevador ligou para Blaise, que pra variar não atendeu. Acabou ligando para Rony.
-Fala Malfoy! – Rony atendeu bem humorado.
-Weasley, Terrence sofreu um acidente – explicou rapidamente – Imagino que esteja aí. Estou indo.
-Vou cuidar dele Malfoy – Rony garantiu e desligou.
***
-Amei esse restaurante – Ginevra sorriu para Tad – Muito obrigada pelo jantar. Ah, e por ajudar Faith. Ela me contou tudo.
-Não foi nada demais – ele deu de ombros suavemente – Ela precisava e eu podia ajudar – o manobrista chegou com o carro de Tad no mesmo instante em que Scarlett atendia o celular.
-Gina! – ela olhou, pálida e trêmula – Era a minha mãe. Terrence está no hospital.
-Calma – Theodore pegou as chaves do carro – Vamos pra lá.
Em um minuto os quatro estavam indo para o hospital bruxo. Theo parou de qualquer jeito, preocupado com o jeito ansioso e assustado de Scarlett. No banco de trás, Gina e Tad estavam em silêncio.
Gina aceitou a mão de Tad para descer do carro, e no mesmo instante foi ofuscada por um farol alto. Ela olhou feio, a pessoa desligou o farol.
-Não acredito... – murmurou irritada enquanto via Draco e Astória chegando juntos – Não namora ela, não é?
-Que feliz coincidência – Tad riu e passou o braço sobre o ombro de Gina – Vem, vamos lá pra dentro.
***
Draco sentiu todo o sangue gelar quando a viu. Os quatro estavam muito bem arrumados, provavelmente vindo de algum jantar. Encontro duplo, que patético. Ele puxou Astória e os dois foram rapidamente para a recepção.
Uma multidão estava ali. Um inferno na Terra.
-Draco – Blaise o chamou de canto – Está tudo bem, não se preocupe. Foi uma batida de carro, mas está mais parecendo um acidente de trem – ele olhou a abarrotada recepção – Se você quiser subir, ele está no quarto.
-Tudo bem – ele tirou o som do celular e seguiu Blaise pelas portas brancas.
Tad e Theodore estavam ali, conversando com os Greengrass. Tão políticos, Draco pensou com ironia. Alguns anos atrás e Tadwyn era a ovelha negra de Londres, o viciado em Magia Negra. Agora era só mais um querendo fazer parte da sociedade.
-E aí – Rony surgiu de uma porta e começou a acompanhá-los – Deixei a Daphne sedada porque não podia mais suportar ela me perguntar se estava deformada.
-Está? – Draco perguntou com descaso.
-Nem um pouco – Rony riu – Terrence quebrou uma perna e sofreu alguns machucados, nada grave. Imagino que estejam indo pra lá agora.
-Mas é claro, espertão – Blaise riu.
-Bem, manda alguém sair então, porque aquela enfermeira má está aqui e você sabe que é duas visitas por vez – Rony tremeu com fingido horror – Ela é a encarnação do mal.
A porta do quarto estava aberta, então mesmo Rony ainda não tendo respondido a Blaise, sobre quem é que estava no quarto com Terren, ele soube. Sapatos de saltos altíssimos pretos, vestidinho preto e o cabelo ruivo mais bonito que ele tinha visto a vida inteira. Ela se virou quando eles entraram.
-Draco – Terren sorriu cansado – Estou vivo cara.
-Posso perceber – Draco brincou, os olhos fixos em Ginevra – E então? – ele perguntou, como se apenas não pudesse evitar – Namorando o Nott agora?
-Não seja babaca, Draco – Scarlett o olhou com desdém – Foi apenas um jantar.
-Namorando a Astória? – Gina ergueu uma sobrancelha.
Rony, Terrence, Blaise e Astória assistiram a interação dos dois como se fosse um jogo. Um jogo que eles não viam há tempos, e que tinham esquecido como era divertido.
-Isso não seria da sua conta – ele retrucou, endurecendo o rosto e cruzando os braços – Não é mesmo, rainha má?
-Você é tão idiota – ela fechou os olhos com força e suspirou alto, depois, ignorando-o completamente, voltou-se para Terrence – Estou muito feliz por ver que não foi nada demais Terren. Eu já vou, mas te ligo amanhã.
Draco observou quando ela foi até a cama de Terren, dando um suave beijo no rosto dele. Depois, com uma singela olhada para Scarlett e um murmúrio avisando que a esperaria lá fora, foi embora.
-Já volto – ele avisou em um fôlego, despencando atrás dela e arrancando risadas de todo mundo no quarto – Ginevra! – chamou quando ela apressou o passo – Não adianta fugir.
-O quê? – ela parou de supetão e o encarou – Eu não fujo, seu idiota sem coração! – ela andou três passos na direção dele, o dedo em riste, irritada – Quem você acha que é pra me tratar assim na frente dos outros? Você teve seis anos pra me procurar Malfoy, seis malditos anos!
Tonight, you can fly with broken wings
the past is away
and I know how it gets
its cold, its pryde
we hardly get trough the nigt
enter trough the sun
-Você também teve os seis anos, ou esqueceu? – ele olhou magoado pra ela – Foi você que terminou tudo, foi você que preferiu sua coroa.
-Eu tinha dezesseis anos – ela falou num suspiro – Dezesseis anos... Você pode me culpar por ter agido daquela maneira?
Ele não respondeu, apenas a encarou em silêncio. Ele não sabia o que dizer, não sabia como voltar e apenas arrumar tudo aquilo, dar um jeito. Passou as mãos no cabelo, nervoso, irritado, decepcionado. Com ele mesmo, com ela, com a vida e o maldito destino que insistia em fazê-los bater de frente, como duas malditas paredes de concreto. A cada nova trombada, lascas voando por todos os lados, pequenas feridas nele, nela.
-Adeus Draco – ela falou enquanto se virava e ia embora.
We put our selves on fire oh oh oh
we put our selves on fire oh oh oh
we put our selves on fire oh oh oh
Deixando-o ali, parado no meio do corredor do hospital. Sozinho. Patético. Deprimido.
***
CINCO ANOS ATRÁS...
Draco desligou a ligação com Blaise e se jogou na cadeira de tomar sol, afundando na macia almofada e sequer sentindo aquilo contra a pele. Ele sempre ficava um pouco amortecido quando ouvia falar dela. Estavam todos em Ibiza, aproveitando o verão europeu em seu esplendor. Agora, para a surpresa de meio mundo, Ginevra e Scarlett eram companheiras de apartamento e melhores amigas. O mundo era uma pequena e ridícula coisa.
-Olá Draco – Annelise chamou com seu sotaque australiano – Trouxe uma bebida pra você. Uma das invenções do Terrence.
Draco Malfoy já tinha virado figura carimbada nos longos verões europeus, então agora ele estava aproveitando para conhecer o verão nos Hamptons, com mansões gigantescas e muita festa. Era uma vida luxuosa, nada que ele não estivesse acostumado.
-Você é mesmo uma coisinha adorável – ele sorriu pra ela.
From the start to the end
where we began
the whispers and the lies
dead and alive
oh its cold its pryde
we hardly get trough the night
enter trough the sun
the sun
Ele fechou os olhos quando ela sentou em seu colo, sussurrando coisas indecentes e prometendo a melhor noite da vida dele. Draco ficou tentado a dizer que jamais seria a melhor noite, simplesmente porque ela não era a mulher que ele queria ter naquele momento. Então ele decidiu não pensar tanto naquilo.
Talvez ele estivesse fugindo dela, afinal Ibiza era o seu território. Mas não, ele gostava de pensar que as coisas apenas estavam tomando um rumo diferente do que ele tinha imaginado antes. Talvez apenas não fosse ser... Talvez ele devesse dar uma chance para Annelise e sua boca esperta... Talvez ele devesse se dar uma chance de esquecer Ginevra Weasley e tentar ser feliz.
Talvez... Talvez... Talvez tudo isso fosse verdade, ou uma fração dela. Possivelmente era apenas uma grande mentira. Uma que ele usaria para se enganar, e fingir, no fundo de seu coração, que algum dia poderia gostar de alguém como gostava dela.
We put our selves on fire oh oh oh
we put our selves on fire oh oh oh
we put our selves on fire oh oh oh
(Enter Through the Sun – Young Empires)
N/A - Mais um! ;)
Comentários (2)
Meeeeeeeeeu Deeeeeeeus! Preciso ler mais!!! Agora!!! Essa fic é tão, mas tão, boa!! <3
2014-11-08Sua fic é meio maluca mas eu estou gostando!!!
2014-10-21