A Primeira Coruja



Amanhecia e o sol tocava de leve o rosto cansado de um menino de onze anos que parecia, ao ver de todos, mais velho. Remo Lupin dormia profundamente no gramado em frente à casa. Não se sabia por que ele dormira ali – nem mesmo ele sabia – mas parecia gostar; suas feições cansadas relaxavam e ele parecia muito mais com um garoto de onze anos ao fazê-lo.


Quando o sol brilhou mais intensamente e o ponteiro maior do relógio trouxa – pendurado na cozinha da mãe – apontou para o oito, uma coruja surgiu nos céus e, com um pio baixo, se empoleirou ao lado de Remo, que ainda dormia. A coruja passou a bicá-lo, na esperança de que pudesse acordá-lo. Segundos depois, Lupin abria os olhos.


Ao ver a coruja-das-torres, Remo levou um susto. Só podia ser engano. Nunca recebera uma carta antes. Nenhum bruxo deixava seus filhos brincarem com ele, tinham medo que pudesse transmitir uma horrível doença as suas crianças. Olhavam-no com nojo e o tratavam como pária. Por essa razão, nunca imaginou que uma coruja trar-lhe-ia uma carta antes, mas ali estava ela. Remo puxou o pergaminho depressa, com medo de, caso viesse a demorar, a coruja percebesse o engano e levasse o pacote embora.


Observando melhor a carta, percebeu que possuía o selo de Hogwarts e que estava endereçada a... Ele! Não era um engano! A felicidade invadia-o, mesclando-se a incredulidade pelo inédito fato: Hogwarts nunca recebera alguém com uma doença como a dele antes.


Cheio de esperanças desenrolou o pergaminho e constatou o óbvio: era mais um dos muitos alunos da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Excitado, entrou em casa e subiu as escadas correndo, parando para tomar fôlego apenas quando já estava a porta do quarto dos pais. Entrou e se meteu entre os dois, na cama, gritando feliz:


– Ela chegou! Ela chegou! Ela chegou!


– Quem chegou querido? – Perguntou, docilmente, sua mãe.


– Não é quem. É o quê – e abrindo um sorriso maior ainda, continuou – Uma carta de Hogwarts acaba de chegar.


– Mas o que Hogwarts quer conosco? – Agora era seu pai quem falava, preocupado, olhando para a mãe.


– Não é com vocês. É comigo.


Remo entregou a carta de admissão a seus pais, que a leram sem dizer uma só palavra. Terminada a leitura, entregaram a carta ao filho e se entreolharam, preocupados. Um silêncio desconfortável pairou sobre eles.


– Remo... Querido... Bem... – A mãe foi quem quebrou o gelo – Eu receio que...


–... Que eu não poderei ir – adivinhou o garoto.


– É... – A Sr.ª Lupin olhou-o com tristeza evidente; a felicidade de seu filho era a sua e, vê-lo triste, matava-a por dentro.


–Por quê? – Remo insistia, mesmo sabendo que esta seria uma atitude inútil, entretanto tinha o direito de saber o motivo de não poder ir.


– Simplesmente por não ser seguro Remo! As outras crianças... Pelas barbas de Merlin! – Seu pai vociferou.


– Mas é Hogwarts! Você mesmo diz que é o lugar mais seguro que existe!


– Eu sei. Mas não nesse caso.


O tom imperativo do pai dizia que aquela era sua decisão final. Dificilmente mudaria de ideia.


Em poucos minutos seus pais destruíram seu maior sonho: ir para Hogwarts. Ele lera tudo o que pudera sobre o internato e decorara todas as passagens importantes de “Hogwarts: Uma História”, e agora não poderia ir. Era o fim de um sonho.

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