Capítulo Único
Passos ligeiros faziam a grama achatar-se. Os risos infantis tomavam conta do lugar e os adultos ali presentes, alegravam-se ao ver seus filhos se divertindo tanto.
Lílian Potter encarava seu pequeno com brilho nos olhos, estava sentada em um dos bancos da praça e acenava para o filho toda vez que ele a via e abria um sorriso de ponta a ponta.
Ao seu lado estava uma mulher, muito bonita e com um rosto que mostrava severidade, mas que se iluminava ao ver sua criança sentada e concentrada no objeto em mãos.
Aquela mulher, Narcissa Malfoy, encontrava-se lá por pedido do filho e não queria que o marido imaginasse que havia levado Draco para um lugar “sujo e com pessoas medíocres”, nas palavras do próprio Lucius.
— Olá, sou Lílian Potter. — Disse a ruiva virando-se para a loira.
— Narcissa. Narcissa Malfoy. — Falou com um tom imponente, mas com um sorriso doce na face.
— Qual é o seu? — Indagou Lily olhando para aquele mar de crianças.
— O que está sentado, lendo um livro. — Respondeu encarando o filho com ternura. Seu pequeno estudioso, dez anos nas costas e não largava os livros. — E o seu?
Um gritinho se fez ouvir e, sem saber onde colocar a cara, Lílian respondeu:
— Aquele que acaba de cair sobre seu filho. — Sorriu sem jeito.
Draco Malfoy passou os dedos pequenos pelos cabelos platinados, tentando tirar a franja que caia sobre seus olhos e o impedia de ler aquele livro que pegara na biblioteca de seu pai.
Havia pedido para mãe o levar naquela praça que via todos os dias a caminho da escola por que queria brincar, mas como nenhuma daquelas crianças pareciam querer contato com ele, resolveu que ler seria a melhor coisa a se fazer.
Estava distraído com a história contada naquelas páginas amareladas, quando um grito chamou sua atenção. Olhou para cima e arregalou os olhos ao ver um borrão marrom cair sobre si.
O impacto o vez gemer de dor e pequenas lágrimas brotarem de seus olhos cinzentos. Quando encarou a pessoa que estava em seu colo, corou.
Os orbes esverdeados, os cabelos castanhos e a pele clara lhe deram seu primeiro conceito de beleza. Que anos depois, mostrou-se ser o único.
— Me desculpa. — Pediu o menino caído, levantando-se em seguida.
— Não foi nada... — Sussurrou ainda corado.
O moreno limpou a roupa suja e explicou que havia escalado aquela árvore para pegar a bola de seu amigo Neville, que alguns meninos mais velhos haviam jogado lá em cima.
— Aqueles idiotas gordos, quando eu crescer mais um pouco eles irão se ver comigo. — Resmungou sentando-se ao lado de Draco, que já havia voltado a ler — ou ao menos tentado.
— Minha mãe diz que violência só gera mais violência. — Disse sem tirar os olhos da página.
— A minha também diz isso, mas não gosto que mexam com meus amigos. — Argumentou. Uma pequena pausa se instalou entre eles. — O que está lendo?
— N-não é da sua conta! — Respondeu fechando o livro e corando ainda mais pela aproximação.
Ao ver a reação desengonçada do loirinho, o moreno riu. Gargalhou gostoso e quando finalmente parou estendeu a mão, sorrindo.
— Sou Harry, e você?
Draco encarou a mão estendida, sentindo a face ainda arder pela vergonha. Meio a contragosto apertou a mão do Potter e se apresentou:
— Draco Malfoy.
As duas mulheres, ao longe, viam aquela cena com um sorriso terno adornando a face de cada uma. Quando se deram por satisfeitas, vendo que estava tudo bem com o dois, voltaram a conversar.
Enquanto isso, com os meninos, Harry via o menor ler, ainda curioso sobre o que se tratava e meio elétrico, querendo voltar a brincar com seus amigos, mas não querendo deixar Draco sozinho.
Vira quando ele havia chegado com a mãe e como todas as outras crianças o ignoraram. Provavelmente pelas vestes tão limpas e finas, mas Harry não conseguia deixar os outros sozinhos.
— Harry! Vamos, volte pra cá! — Ouviu a voz de seu amigo Ron, a chama-lo.
O moreninho se levantou rápido demais e quando Draco notou isso, pensou que ele não queria ficar ao seu lado. Gostou da presença do outro, mas não iria impedi-lo de ir embora.
— Espera um pouco, Ron! — Pediu sorridente. Olhou para baixo, encarando um Draco carrancudo. — Vem, vamos brincar.
Sem esperar uma resposta, Harry segurou a mão do menor e o puxou. O rosto corado de novo e o livro esquecido naquela árvore, agora ambos corriam felizes.
Naquela época Draco não sabia o que estava por vir, mas quando mais tarde lembrou-se desse dia notou algo que o fez sorrir.
Sua mãe sempre dizia que o amor era difícil de encontrar e que só havia uma pessoa no mundo que o faria achar esse sentimento. Contudo, naquele dia, ironicamente, o amor havia caído em seus braços.
Como um presente divino.
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