Cinco.
O dia estava nublado. O céu não sabia se chorava ou se sorria, e as pesadas nuvens negras abafavam o sol quentinho que se escondia com vergonha de brilhar.
Severus e Lily estavam deitados na grama, observando as folhas envelhecidas que se desprendiam das árvores e rodopiavam no vento. Ele vestia os mesmos trapos de sempre; ela usava o novo vestido que sua tia lhe dera. Nenhum dos dois se importava com isso.
Os cabelos de Lily se espalhavam como chamas na grama de verão. Severus adorava aquelas cores. Lily nunca tomaria conhecimento desse fato. Severus sempre se arrependeria de nunca tê-lo dito.
Apenas mais duas semanas e eles retornariam para o quarto ano na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Só de pensar nisso os corações já palpitavam de excitação.
– Espero que esse ano seja mais tranqüilo – Lily suspirou olhando para o céu negro e sem esperanças – McGonagall quase me pegou nas ultimas provas.
– Espero pelo dia que você irá reconhecer a sua inteligência, Lily – Severus sorriu – Não sei por que você se preocupa tanto com isso – e corou.
Severus adorava elogiar Lily, e sempre dava um jeito de ressaltar todas as suas qualidades. Lily raramente percebia isso. Severus achava Lily a garota mais perfeita do mundo. Lily considerava Severus o melhor amigo do mundo.
Os dois passavam tardes a fio naquela grama, observando o rio correr. Muitas vezes as águas movimentavam-se com tranqüilidade, já outras, com fúria. Naquele dia, elas brilhavam paradas.
– Duvido que você consiga fazer a pedra pular mais de três vezes – Lily desafiou
Os dois agora estavam de pé. Os braços tocavam um no outro. Severus estava arrepiado. Lily era indiferente ao fato.
Ele jogou a pedrinha. Uma. Duas. Três. E daí ela afundou.
Lily sorriu. Era um sorriso maroto.
Ela jogou a pedrinha. Uma. Duas. Três. Quatro. Afundou.
Severus resmungou algo ininteligível. O cabelo preto caia sobre seus olhos.
– Lily...
– Sim?
As bochechas dele coraram.
Severus parecia um pimentão.
Lily encarou-o com seus grandes e redondos olhos cor de esmeralda. Severus desviou o olhar para seus sapatos. Lily segurou sua mão e deu um passo a frente. Severus sorriu envergonhado.
– Lily! – Petunia chamava, de braços cruzados e olhar severo no alto da rua
Lily sorriu pra Severus e saiu correndo em encontro de sua irmã mais velha. O vestido rodopiava contra o vento. Os cabelos queimavam como fogo.
Severus permaneceu na beira do rio observando a linha do horizonte. Felizmente, naquele momento, ele não sabia que nunca sentiria o gosto dos lábios de Lily. Ali, uma chama esperançosa brotou em seu íntimo.
Ele pegou uma pedrinha e jogou contra o rio.
Uma. Duas. Três. Quatro.
Cinco.
Afundou.
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