Chalé das Conchas II

Chalé das Conchas II



    Dois dias depois do enterro do Dobby, eu já estava me sentindo muito melhor. Já podia andar sem nenhuma ajuda, meu corpo não doía tanto. Apenas meu braço estava marcado com uma cicatriz, aquela escrita "Sangue ruim"; não quis remove-la, era como se aquilo me mostrasse o porquê de seguir com essa guerra.


    Harry estava quieto demais. Quase não saía do quarto que nós três dividíamos, e quando saía ia direto à lápide de Dobby. Ontem disse algo sobre Gringotes e Griphook, mas sem detalhes, o que me deixava um pouco irritada. Era tanto a pensar, a entender... Onde Voldemort estaria agora? Onde está a próxima horcrux e como iremos achá-la? Não podíamos mais acampar e nos esconder quando Voldemort sabia dos nossos planos. O pior de tudo isso, era manter o "tudo isso" em sigilo, tendo que esconder de todos naquela casa, quando o que todos mais queriam era ajudar.


    Eu estava sentada na praia, tão absorta em meus devaneios que não notei a presença de Ron sentando-se ao meu lado. Ele vinha sendo amável, disponível, preocupado, como nunca foi antes. Estava sempre disposto a estar comigo, fosse para me ajudar a levantar ou só perguntar se eu estava bem. Confesso, isso estava mexendo comigo! Ano retrasado, quando ele começou aquele namoro estúpido com a fútil Lavender, as esperanças de que ele sentiria algo por mim se liquidaram. Depois, quando ele foi envenenado e voltamos a nos falar na ala hospitalar de Hogwarts, a esperança reapareceu, principalmente quando Harry me deu a atender que Ron ficava contente quando eu ia ve-lo. Ano passado, nos nossos acampamentos caçando horcruxes, ele dava sinais sutis de que se importava comigo de uma forma diferente, como em Grimmauld Place, quando encheu meu saco de dormir com todas as almofadas e segurou minha mão até dormirmos - isso me deixou com borboletas no estômago! Sem dizer quando ele nos encontrou, quando destruiu o medalhão; comecei a sonhar com aquela história de ouvir minha voz e a bolinha de luz atravessar seu peito. Era a minha voz que ele ouviu, isso realmente significava alguma coisa!


    - Hey... Como você está? - Ele estava lindo, apesar das pequenas cicatrizes oriundas da Mansão Malfoy.


    - Você anda me pergutando isso bastante, sabe? - Eu disse entre um sorriso.


    - Desculpa por te incomodar, eu só estou preocupado... - As orelhas dele tinham ficado vermelhas. Ele baixou a cabeça e mexeu na areia com as mãos.


    Ótimo, Hermione! Realmente ótimo! Ele todo prestativo e eu o afasto, como sempre. Com um ímpeto de coragem vindo sei-lá-de-onde e uma vontade imensa de consertar a situação, me aproximo dele e encosto minha cabeça em seu ombro.


    - Me desculpa! Eu sempre te afasto, sempre, mesmo quando eu te quero próximo de mim... - Ron levantou a cabeça e me olhou surpreso - Acho que você nunca esperou ouvir isso de mim, não?


    Eu sempre fui fria, mesmo quando queria demostrar algum carinho por ele. Nunca deixei que ele soubesse dos meus sentimentos, e mesmo que eles estivessem escancarados, eu os disfarçava.


    - Na verdade, não mesmo - Ron ria agora, o que me aliviou bastante. Ele já não devia estar tão magoado comigo. Ficamos uns intantes calados. Eu mantinha minha cabeça em seu ombro. Não era uma atitude comum entre nós, estar tão próximo um do outro assim, mas estava tão bom que recusei à minha vergonha e fiquei ali, sentindo o cheiro dos cabelos dele.


    - Hermione?


    - Sim?


    - Preciso te falar umas coisas... - Ron parecia encabulado de novo. Quando levantei a cabeça para olhá-lo, ele continuou olhando para frente, parecendo não querer me encarar.


    - Estou ouvindo, Ron. - Meu coração saltava de expectativa. Ele diria mesmo o que esperava ouvir há quatro anos?


    - Eu... Eu fiquei com muito medo. Pensei que nunca mais veria você. - Ele limpou a garganta, mas me pareceu muito que sua voz estava ficando embargada.


    - Ah, Ron...


    - Por favor, me deixe terminar, sim? - Disse, finalmente me olhando. Seu olhar era pofundo e cheio de significados. - Quando eu estava no porão com o Harry e ouvi seus gritos... Foi terrível! Eu precisava te tirar de lá, eu precisava fazer alguma coisa, mas eu estava preso sem nem uma varinha! - Ron tinha lágrimas brotando nos cantos dos olhos. Limpei as que caíram e senti um nó crescendo em minha garganta. - Quando eu te vi caída no chão me desesperei. Aquele monstro da Bellatrix estava inclinada em cima de você, com uma faca... Ela ia te matar, Hermione! - Sua voz falhou e as lágrimas caíram pra valer.


    Ele chorava tanto que o abracei. Foi um abraço apertado, um apelo para que ele parasse de chorar, de sofrer, de lembrar daquilo. Eu nunca imaginei que ele se sentia assim! Ele retribuiu o abraço, mas estava frágil. Encostou a cabeça na volta do meu pescoço, soluçava e tremia.


    - Ron, me escuta! Se eu estou a salvo hoje, foi por sua causa. O que me manteve forte naquele momento foi ouvir você gritando meu nome, e por algum motivo eu sabia que você viria me buscar. Você me salvou de uma dezena de comensais da morte! - Eu já beirava as lágrimas e isso foi o máximo que o nó na minha garganta me deixou falar. Nunca tinha visto Ron nesse estado. Apesar de inseguro, ele sempre foi muito forte. Já tinha o visto chorar, mas naquele momento ele estava mais frágil que nunca. Esperei que ele se acalmasse.


    - Eles te machucaram tanto... Você parecia morta quando viemos pra cá. E eu... Eu não... Não tinha te falado o que realmente importa.


    - Eu estou aqui, estou bem! Agora você pode me dizer.


    - Você já deve imaginar, Hermione. - Ron estava escarlate, mas sustentava meu olhar. Estava nervoso, eu podia perceber isso. - Tudo o que eu tenho feito, desde aquele maldito baile de inverno, é pra te mostrar o quanto você importa pra mim. Mas como eu sou um trasgo, eu te magoei em cada momento possível. - Ele baixou a cabeça e tomou fôlego, muito parecido quando iria jogar quadribol pela Grifinória. - Eu tenho vontade de socar aquele cara idiota, é, o Vitinho mesmo, toda vez que ele te envia alguma carta, porque eu sei que na primeira mancada que eu dei, ele aproveitou e se aproximou de você. Devia ser eu a dançar com você aquela noite, e foi tudo culpa minha não ter acontecido isso. E quando, incrivelmente, você me convida para um baile, eu ignoro você, te magoo e beijo a Lavender. Sem contar quando eu abandonei você e o Harry no meio do nada e nem consigo voltar... E precisou você estar em perigo mortal para eu tomar coragem e te dizer isso!


    Fiquei atônita. Não esperava que ele dissesse nada daquilo! Na verdade, não esperava essa situação toda.


    - A verdade, Hermione - Continou, segurando minha mão - é que eu gosto de você. Não só como amiga, como alguém mais especial ainda. O que eu quero te dizer, é que eu amo você.


    Ele me olhava profundamente nos olhos, que agora denunciavam toda a emoção que eu estava sentindo. Estava quase chorando, com um sorriso bobo no rosto. Meu coração saíria pela boca a qualquer momento!


   - Ron, eu... - Quando eu ia dizer tudo o que eu sentia por ele, Harry chegou ofegante dizendo que tinha um plano sobre como achar a próxima horcrux.


    Acho que nunca cheguei tão perto de estuporar Harry na vida.




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Gente, eu sei que tá meio podrinha, mas me veio esses momentos na cabeça e resolvi escrever. Comentários são muito bem vindos, viu? ;) 

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