Só porque ela pediu...



         
Tiago terminou sua refeição e vagou sem rumo pelo castelo. Quando se deu conta, já eram mais de oito da noite. O toque de recolher soaria logo. Embora estivesse cansado de quebrar as regras de horário e nunca ser pego, não lhe pareceu prudente ficar fora da cama depois da hora. Seu estado de ânimo não lhe inspirava a fazer nada que não fosse ficar em seu canto no dormitório.


O problema seria apenas aturar os marotos interessados em saber o que havia se passado com ele, mas sendo Tiago Potter, logo encontrou uma maneira de não ser importunado pelos amigos. Andou calmo até o retrato que era a passagem para o salão comunal da grifinória e disse a senha. Subiu até seu dormitório e, para sua sorte, viu a porta aberta. Entrou rapidamente.


- Mas o que será que há com o Pontas? Sumiu assim, do nada! Nem no jantar apareceu!


- Ora, Remo! Você sabe que ele tem outros modos de conseguir comida. De fome aquele doido não morre! E se o conheço bem, deve estar zanzando pelo castelo, torcendo para achar o seboso e dar umas azarações nele. – Disse Sirius


- Você deve estar certo. Eu espero, ao menos... Ele ainda vai ser pego fora da cama e aí, é detenção na certa. Ele precisa parar com esse hábito! – Falou Remo, mais monitor que maroto.


- Aluado, tome vergonha nessa cara! Você também ama passear oculto pela capa. À noite, então... Ver o céu, as estrelas... Encontros na torre de Astronomia... – Repreendeu o maroto, para depois adotar um tom sonhador à voz.


- Queria entender por que você e o Pontas só pensam em garotas...


Tiago riu baixinho, embora, sem perceber, tenha corado.


- Não é uma verdade, meu amigo Aluado... Pensamos em quadribol, mas acima de tudo nos seres mais perfeitos da criação... Nós! – Zoou Sirius


- Ai, ai... Você essa sua megalomania... – Comentou Remo, negando com a cabeça, em um tom de decepção


- Minha o que? Fala como gente normal, Aluado!


- Mania de grandeza seu analfabeto! Vou te dar um dicionário de presente. Não me diga que não sabe o que é analfabeto? – Disse Remo irritado ao ver o amigo abrir a boca na possível intenção de questionar algo.


- Não! Isso eu sei, Sr. Eu-Sei-De-Tudo-E-Não-Me-Questione. Só queria avisar que o correto seria mania de perfeição, pois é isso que eu sou... Perfeito, bonito, esperto, elegante, charmoso, talentoso... Ai, uma interminável lista de elogios. – Brincou Sirius, passando a mão pelos cabelos, imitando o gesto de Tiago


- Vai catar cocos, seu cão sarnento! – Disse Remo sorridente, tacando em Sirius um travesseiro.


Iniciou-se uma batalha, almofadas voavam e travesseiros eram arremessados com força e precisão pelo quarto. Tiago desviava dos potentes arremessos dos amigos enquanto tentava chegar até sua cama. Quando finalmente a alcançou, fechou o cortinado com uma única puxada. Deitou-se, ainda coberto pela capa e encontrou sobre a cama dois travesseiros que não lhe pertenciam: o primeiro era fino e tinha a fronha branca contendo bordado em dourado, o nome Remo Lupin, o outro era uma almofada vermelha que tinha o leão da Grifinória estampado.


“Foram arremessados para cá durante a guerra de travesseiros” pensou Tiago, um pouco mais feliz, ainda assim, frustrado.


Jogou-os de volta para o chão e retirou de debaixo da cama seu malão, d’aonde removeu uma caixa azul, de metal. Na tampa havia suas iniciais, T.P, em dourado. Abriu-a. Dentro dela, estavam dezenas de papéis de carta, na maioria dos pais, algumas peças de xadrez de bruxo, cartas de bruxos famosos, adquiridas através dos sapos de chocolate que comprava, entre outras coisas que, se fossem olhadas por pessoas que não ele, seriam tidas como lixo. Retirou os cartões e as peças de xadrez, removeu uma ou outra carta após analisar o remetente. Separou uma em especial e lá no fundo da caixa, achou o que desejava... Um camafeu de ouro. Lembrou-se de como se sentira estúpido quando embarcou pela primeira vez no expresso de Hogwarts e recebera isso da mãe...


“Para quando sentir saudades de casa, Ti. Lembre-se que seu pai e eu estamos com você... Sempre. Te amo meu garotinho! Meu pequeno desordeiro. Se cuide e não destrua Hogwarts, filho. – Beijou-lhe os cabelos arrepiados e entregou-lhe o camafeu com todo cuidado e carinho.” Tiago nunca retirara-o de dentro da caixa de metal. Estava seguro lá e impedia-lhe de passar uma boa vergonha... Um camafeu? Coisa de garotinha. Sirius muito riu de Tiago quando descobriu “sem-querer” o camafeu no malão do amigo, mesmo que no fundo sentisse inveja de não ter um com uma foto da família. Um símbolo de amor!


Hoje, o dia estava complicado para o maroto. Sentira saudades do colo da mãe e dos abraços do pai. Queria-os perto de si e recordou-se do camafeu com que fora presenteado. Abriu-o e viu duas fotos, uma de sua mãe e outra do pai. Ela estava linda, como sempre (na visão de Tiago), Samantha Potter usava um longo vestido azul-claro e os cabelos caiam soltos sobre seu ombro. Aparentava ter seus 40 anos, pois trazia no colo um bebê enrolado em mantas azuis, era o maroto! O pai, William Potter, por sua vez, estava jovial como Tiago nunca o vira em vida. Usava vestes normais, camisa e jeans, diferente dos ternos escuros que eram de seu feitio. Seus olhos eram acinzentados e os da esposa esverdeados, a mistura perfeita ao ver do maroto Potter.


Fechou o camafeu, sentira as lembranças lhe invadirem. Os olhos tornaram a arder e umidecer, mas ele foi mais forte. Engoliu o choro, inspirou profundamente e prendeu a respiração. Sentiu uma única lágrima teimosa lhe escapar e molhar suas bochechas. “Droga! Controle-se, Tiago. São apenas fotos! Não são eles! Eles estão mortos! Pare de chorar, você não é bebê! Controle-se!” Repetiu para si diversas vezes. Acalmou-se. Olhou a carta que separara, lhe fora escrita dois verões atrás, por seu avô Albert.


Tiago,


Meu neto querido, como vai? Espero que bem... Como vai Hogwarts? Pelo que seu pai me contou, você faz um grande sucesso entre as garotas, hum? Não sou tão desinformado assim, meu jovem! Fiquei sabendo do seu “desafio ruivo” e quer saber? Tenho a solução para seus problemas... Não! Sei o que está pensando, mas não é nenhuma poção maluca ou um feitiço adoidado. Sei que talvez não seja queira nesse momento, mas procure não a perturbar tanto o juízo e quem sabe ela lhe note? Já passei pela sua idade e sei que agora o conselho dos velhos não é o mais “maneiro”, contudo, se algum dia precisar de um método eficaz, recorra sempre ao que o seu coração mandar... Creio que esta possa ser a última correspondência que troco com você Tiago. Tenho sentido que em breve vou poder descansar... Espero que seja muito feliz com essa garota que você tanto ama... Abraços carinhosos do seu avô...


Albert Rudolph Potter


 


Era um bom conselho, mas o que o coração de Tiago queria? “Lily, eu quero a Lily”! Então assim seria... Ele decidiu mudar por ela, e iria até o fim com isso... Lily Evans veria quem ele realmente era! Sorriu determinado, uma nova esperança surgiu no maroto, ele guardou os papéis na caixa e separou seus cartões de sapos de chocolate, quando ainda estava organizando as peças de xadrez sobre a cama, sentiu o cortinado de sua cama ser aberto e deu um pulo, assustado! Com isso, a capa deslizou de seus ombros e caiu embolada nos pés de Sirius, que tinha “arrombado a cama” do amigo, segundos atrás.


- Eu não falei, Aluado? O Pontas já está aqui de volta.


-Sim, eu voltei! Podem disparar os fogos de artifício, estourar os balões...


- Menos!! – Zoou Sirius. – Por que sumiu? Tava com quem, Sr. Tiago Pontas Potter? – Falou o maroto com um sorriso levado. Piscou discretamente para o amigo. – Era com a Luanne, da corvinal?


Remo, que estava trocando o lençol de sua cama, virou a cabeça tão rapidamente que seu pescoço estalou, seus olhos estavam arregalados e parecia ansioso por uma resposta de Tiago.


- Ahm? Ah, quer dizer... Como você descobriu, Almofadinhas? Cara, eu achei que ninguém desconfiava. Eu a chamei no fim da aula e combinamos de nos encontrar na Torre de Astronomia. Merlin, ela é... Não é a Lily, mas até que...  – Aluado, espantado, sentiu o rosto ficar vermelho de raiva e inveja, depois adquirir um tom de lilás e, logo em seguida, estar quase da cor de uma beterraba. Seus punhos estavam cerrados e seus dentes roçavam uns nos outros freneticamente, numa espécie de bruxismo. – É brincadeira, Aluado! Mas por que ficou TÃO roxo? Ciúme é? Aluado tá apaixonado!!!! – Cantarolou Tiago, tirando graça do amigo.


- Ahh, vai achar o que fazer Pontas! – Devolveu ele, corado. – De qualquer forma, por que sumiu? Onde você estava?


- Precisava pensar, Aluado. Queria ficar só... Cara, por mais que eu conheça a Lily há anos e saiba qual vai ser a reação dela aos pedidos para sair, me magoou muito a briga de hoje... Eu cansei! Amanhã as coisas vão ser diferentes...


- O que pretende fazer, Pontas? - Perguntou Sirius


- Você verá...


-Olhe lá eim, Pontas. Não vai se arrepender depois, porque você já sab... Ei!!!! Meu travesseiro, Almofadinhas! Mas que droga, troquei as fronhas hoje, Black!!!!! Porcaria! – Reclamou Remo, retirando seu travesseiro do chão e tirando a poeira com um aceno de varinha.


Os amigos riram e conversaram por algum tempo, logo depois foram dormir, pois passava das 22 horas.
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N/A:  E então? Como estou me saindo? Essa é minha primeira long-fic, então... Não sei realmente se está boa. Comentários são bem vindos. *-*

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