Somos amigos, afinal



Quero desejar a cada um dos leitores um ano de 2014 maravilhoso, e aos que lerem posteriormente, desejo sempre muita paz e saúde, porque o resto podemos alcançar com nossos esforços.
Tudo de bom a todos!
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Mais um Natal havia chegado e novamente ela tinha aquela sensação estranha dentro de si. Era complicado continuar naquela situação, mas não sabia mais o que fazer para que ele percebesse o que ela sentia. Era tudo tão confuso e ela achava a todo momento que ele não se importava o mínimo com ela.


Como todos os anos até ali, passaria as férias na casa dele. Seria como sempre: lhe daria um presente significativo e em troca receberia mais um livro. Não que não gostasse de livros, não era isso, mas essas coisas, esses pequenos detalhes lhe deixavam deprimida ao imaginar que ele não gostava dela, não como ela esperava.


A notícia de que o pai dele havia sido atacado no Ministério a pegou de surpresa. Se pudesse, já soubesse e os campos de Hogwarts permitissem, teria aparatado para lá no momento em que soube do acidente, mas a professora Minerva a impediu e lhe restava apenas esperar pelo momento em que o encontraria finalmente chegasse.
 



 


Tudo estava em perfeita ordem, e Hermione observou que o sr. Weasley estava melhor do que lhe contaram, ou do que ela imaginou. Após algum tempo, todos acabaram se dispersando e a senhora Weasley os mandou de volta para casa.


Já na Toca, Ron, que havia ficado distante o dia inteiro, se aproximou daquele jeito sem jeito que tanto a envolvia pela primeira vez naquele dia e falou baixo, em um tom de voz que ela pouco ouvia, mas que fazia os pelos de sua nuca se eriçarem:
 


– Como foi a viagem pra cá? - perguntou meio sem jeito tentando iniciar um assunto qualquer.


– Péssima. Nunca mais quero viajar no noitebus. - ela respondeu ainda arrepiada.


– Eu sei… Não é legal mesmo.


– É sim…


– Eu… Ér, bem… Obrigado por ter vindo.


– Não precisa agradecer, Ron. Eu teria vindo imediatamente se tivesse ficado sabendo antes. A professora Minerva e o professor Dumbledore acharam melhor que eu esperasse amanhecer para vir, para não movimentar ainda mais a escola…


– Eu sei…


– Mas eu teria vindo imediatamente ficar com você. Eu fiquei tão preocupada... - sentiu as bochechas esquentarem e parou abruptamente o que falava - Eu amo muito sua família e jamais poderia estar bem sabendo que estavam passando por algo tão difícil. Foi ótimo que Harry tenha sonhado, quer dizer, não é ótimo...
 


Hermione começou a falar tão rapidamente que sua face avermelhou ainda mais. Ron achava belíssimo quando ela ficava nervosa dessa forma e tinha uma vontade tremenda de lhe abraçar e beijar, mas ele enterrava esse pensamento no mais profundo de sua alma porque não era o que ela queria. Ela era sua amiga, o via como um amigo, talvez um irmão, e ele não iria macular os seus sentimentos, sua única possibilidade de estar por perto, tentando lhe beijar.
 


– Eu entendo o que quer dizer. - ele não pode deixar de sorrir e ela o acompanhou relaxando um pouco.


– Eu sei que sim. E como você está com tudo isso?


– Assustado... - ele respondeu depois de respirar profundamente - Eu sempre imagino que alguma coisa de ruim vai acontecer, mas saber que aconteceu com sua família, com as pessoas que você ama, é muito complicado.


– Eu imagino…


– Me senti impotente porque não pude fazer nada, mas como você mesma disse, foi uma benção que o Harry tenha visto o que houve, ou então…


– Nem complete essa frase, Ron, por favor... - ela tinha a expressão séria, amedrontada - Não vai acontecer mais nada, estamos juntos... - nesse momento ela não exitou se aproximar e segurar de leve a mão do garoto que sentiu a face e todo o corpo queimar com aquele simples toque - Estamos todos bem.


– Sim, é verdade... - ele falou sorrindo torto e apertando um pouco mais a sua mão - Obrigado por estar aqui.


– Não precisa agradecer. Amo sua família como se fosse minha. - ela sorriu e ele se apressou em lhe abraçar, um abraço rápido, de gratidão, mas que representou muito para os dois.
 


Hermione podia sentir o pulsar do coração dele, estava tão acelerado quanto o seu, mas ela não sabia se era de nervosismo, assim como ela, ou de vergonha que um de seus irmãos os vissem daquela forma. Ela nem mesmo sabe quanto tempo aquele abraço durou, mas foi o suficiente, o melhor presente de Natal que ela poderia ter recebido do amigo.
 


– Vamos lá em cima? - ele perguntou ainda envergonhado - Quero te dar o seu presente.


– Claro! - ela concordou sorrindo - Vai na frente que vou passar no quarto da Gina e já pego o seu.


– Tá bem. Te espero lá.
 


[...]
 


Hermione caminhou pelo corredor do terceiro andar com aquele embrulho nas mãos. Um grande embrulho, aliás, e estava animada para ver a expressão do ruivo ao abrir o presente. Sabia o quanto tudo aquilo era significativo para ele e queria que ele lembrasse dela sempre que usasse seu presente. Sorriu com aquele pensamento tão bobo, apaixonado e infantil, mas era o que queria, o que seu coração mais desejava, fazer parte de sua vida.
 


– Ron? - chamou abrindo um pouco a porta do quarto o encontrando sentado sobre sua cama.


– Entra, Mione. - ela entrou enquanto ele levantava e em seguida fechou a porta.


– Seu presente. - ela se adiantou caminhando até ele que se surpreendeu com o tamanho do embrulho.
 


Ron o pegou entre suas mãos e o embrulho já não parecia tão grande aos olhos dela. Ele se sentou novamente sobre sua cama e sorriu para ela enquanto tentava, da forma mais delicadamente possível, desembrulhar o laço que ela tinha feito, para não o prejudicar. Infelizmente, porém, suas mãos desastradas não conseguiram tal proeza e em questão de segundos o embrulho estava desfeito, os papeis rasgados e Ronald Weasley encantado, com um brilho fascinante em seus olhos.
 


– É… É realmente pra mim? - ele perguntou fascinado.


– Sim. Lógico que sim. - Hermione respondeu, mas não conseguiu conter seu sorriso de satisfação alimentado pelo dele.


– Nossa, Mione, são as melhores luvas que eu já vi! - ele contemplava o presente envolto em um mundo particular, as colocando em seguida. Hermione sabia o quanto ele adorava Quadribol e depois dos testes, pensou que esse poderia ser o melhor incentivo para ele - Obrigado, Mione, de verdade.


– Tudo bem. Espero que a use e gaste muito segurando todas as goles que puder - ela se arrependeu quase que instantaneamente do comentário ao ver que ele ficou um pouco amarelado, enjoado talvez.


– Tudo bem - falou sem muita certeza - Agora o seu.
 


Hermione realmente não tinha muitas esperanças de que ganharia algo além de um livro. Inclusive, a caixa laranjada sobre a cama dele era no formato de um livro. Ele deixou as luvas sobre a cama depois de as tirar e pegou com todo o cuidado aquele embrulho sobre a cama. Era pequeno para um livro convencional, talvez um livro de bolso, pensou. Se distraiu e voltou ao tempo quando percebeu que ele estendia o embrulho para ela, que ao contrário dele, conseguiu liberar a fita rapidamente e sem nenhum amassado, ficando totalmente surpreendida desta vez.
 


– Ron… - ela estava surpresa.


– Não gostou? - ele pareceu preocupado.


– Claro que gostei. Um perfume…


– Sim, e tem um diário junto com ele, e esse não é encantado. - falou preocupado.


– Nossa, Ron. Isso deve ter sido muito caro.


– Não se preocupe com isso, Mione. Você merece o melhor... - sentiu a face esquentar novamente - E eu já estava cansado de repetir sempre o mesmo presente no Natal e no seu aniversário. Acho que você merecia algo diferente.


– Obrigada, Ron… - ela falou realmente sem graça - Foi você mesmo que escolheu?


– Sim. É trouxa.


– Trouxa?


– Sim - ele sorriu satisfeito ao chamar a atenção da garota - Pedi que o papai me acompanhasse quando fomos a Hogsmeade, antes disso tudo. Fomos até Londres e comprei em uma perfumaria no Centro da cidade.
 


Hermione parecia perplexa. Atônita. Estava encantada que Ron tivesse tido tanto trabalho apenas para comprar seu presente. Certamente, havia gastado todas as suas economias, além de ir a Londres, local que ele detestava pelo constante movimento. Se sentiu especial, realmente se sentia especial.
 


– Eu vou experimentar agora mesmo. - falou por fim, sorrindo muito ao borrifar um pouco do líquido em seu pescoço, sentindo o aroma envolver sua face. - É maravilhoso! - falou fechando os olhos ao aspirar o cheiro agradável.


– É sim... - ele falou se aproximando, não resistindo ao aroma, a expressão dela, seus olhos fechados, seus lábios levemente abertos.


– Sim... - ela abriu os olhos e viu que Ron estava muito perto dela, a cabeça dele descia lateralmente até seu pescoço e ela sentiu o toque de seu nariz pontudo em seu pescoço quando ele aspirou o aroma e ela sentiu a pele queimar.


– Muito melhor em você... - falou com o nariz ainda tocando sua pele e ela prendeu a respiração ao sentir que ele voltava para lhe olhar nos olhos - Feliz Natal, Mione.
 


Sua voz estava tão perto que ela sentiu o coração parar. Os pelos de seu corpo reagiram instantaneamente ao som da voz dele, àquela sensação de proximidade, de intimidade, de cumplicidade. Soltou o ar pesadamente antes de lhe responder, mesmo que ele não tenha se afastado um único centímetro. Ela também não recuara.
 


– Feliz Natal, Ron - percebeu que ele observava seus lábios e ela passou a fazer o mesmo - Obrigada. Foi o melhor presente que recebi.


– Não precisa agradecer, Mione... - sua voz ainda era baixa, mais grossa e envolvente que nunca, agora - Você merece sempre o melhor do melhor.


– Obrigada.
 


Ela prendeu a respiração novamente, não havia como ser diferente. Ele se aproximava ainda mais enquanto olhava seus lábios com profundidade ao mesmo tempo que a olhava nos olhos. Ela não sabia o que pensar, o que fazer ou como reagir. Sentia seu corpo paralisado e tudo parecia acontecer em câmera lenta. Sentiu os lábios dele pressionarem sua bochecha, muito próximo de seus lábios. Chegou mesmo a sentir os lábios dele nos seus de tão próximos que ficaram.


Quando ele se afastou, ela ainda tinha os olhos congelados, o corpo ainda estava tenso e ele pensou que, talvez, tivesse feito a coisa errada. Arrependimento bateu em seu peito e ele desejou ter um vira-tempo naquele instante para poder refazer aquele segundo que se passou.
 


– Mione, eu… Me desculpe por isso, eu…


– O que? - ela perguntou ainda um pouco aérea.


– Eu não queria, quer dizer…


– Não houve nada, Ron... - ela respondeu, seu peito doendo por realmente não ter havido nada, mas recuperando seu controle - Somos amigos e é perfeitamente natural que amigos troquem beijos afetuosos, não é?


– É… Acho que sim. - ele concordou mais entristecido com a explicação que com a situação.


– Bom, vamos descer. Quero mostrar meu presente a Gina e ao Harry.


– Sim… Vamos sim… - ele a acompanhou, mas parou depois de dois passos. Ela segurava a maçaneta da porta quando virou para ele e o olhou.


– O que houve, Ron?


– É… Bem….
 



Ele se aproximou repentinamente, e com uma mão retirou a mão dela da maçaneta, fechando novamente a porta. Sua outra mão envolveu a cintura fina e delicada de sua amiga e a aproximou, colando seu corpo no dele. Seus olhos se encontraram novamente e novamente Hermione prendeu sua respiração e seu coração quase parou quando sentiu os lábios de seu amigo, agora, finalmente, pressionarem os seus.

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