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Astoria sentia–se culpada por estar ali.


 


Todos diziam que ela tinha que esquecer aquela história, que ela tinha que esquecer a vadia da Weasley e seguir sua vida. Todos diziam que ela tinha que conhecer outras pessoas, dar uma nova chance ao amor. Todos diziam que ela devia parar de se torturar. E ela sabia que eles estavam certos.


 


Na verdade não, não estavam. Eles poderiam até saber como era se apaixonar, mas não sabiam como era se apaixonar por Gina. Podiam até saber como era sofrer por alguém, mas não sabiam como era sofrer por Gina.


 


No entanto, sobre uma coisa eles estavam certos: Tori não estava tentando esquecer aquela história, não estava tentando esquecer a vadia da Weasley. Tampouco estava tentando seguir sua vida.


 


Ela não estava em danceterias estúpidas tentando conhecer garotas bêbadas com as quais jamais teria um relacionamento, aliás, nem se lembraria o nome  no dia seguinte. Astoria também não estava saindo com amigas que tinham amigas solteiras (que poderiam estar um pouco menos bêbadas do que a garota da danceteria).


 


Astoria não estava dando uma nova chance ao amor. Estava apenas dando uma nova chance à dor. E a Gina.


 


Quantas chances Gina precisasse. Quantas chances Gina precisasse para machucá–la, quantas vezes fossem necessárias.


 


O que esses seus amigos diriam se soubessem onde ela estava nesse exato momento?


 


Nem com a garota da danceteria, Emily, talvez, talvez, fosse o nome dela. Muito menos com a garota um pouco menos bêbada.


 


Rejeitara ambas para invadir a Sala de Coletivas do jornal onde trabalhava – o Profeta Diário – às três e meia da manhã com apenas uma cópia de uma fita daquelas usadas em cinemas trouxas.


 


Daquelas que poderiam projetar as mais lindas cenas, que, nesse caso, eram de uma noite entre ela própria e seu amor, afundando toda a plateia para dentro da história projetada naquela grande parede branca.


 


Só que a plateia estava vazia dessa vez.  E escura.


 


Apenas a figura pálida e ainda mais magra de Astoria encolhida em posição fetal parecia respirar cada movimento do casal do filme.


 


Uma mistura perigosa de dor, saudade e excitação passava por seu corpo, dando a impressão de que ela estava afundando no chão.


 


A cada suspiro, a cada gemido, a cada toque, Astoria morria e vivia um pouco.


 


– Eu nunca deveria ter aprendido a usar uma câmera de vídeo.


 


...sussurrou para si mesma com a garganta seca.

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