De uma vez por todas



Mais tarde eles continuaram o passeio. Viram um laguinho, e combinaram nadar nele na manhã seguinte, aproveitando o calor. Passaram pelos campos plantados, por um bosquezinho, foram até os limites da fazenda e voltaram para casa. Chegaram ao anoitecer; pouco depois os primos de Hermione voltaram de Lanceston. Todos ficaram algum tempo na varanda (depois do delicioso jantar de dona Dorothy), mas não foram dormir muito tarde porque era assim no campo.


— Vocês perderam um passeio e tanto – comentou Patrick para Ron, quando estavam se aprontando para dormir, todos os garotos no mesmo quarto.


— Por que não quiseram ir? – perguntou Hercule, irmão de Patrick e Louise. Era um rapaz louro, como os cabelos escorridos e os olhos castanhos, bastante calado e pensativo.


— Estávamos meio cansados da semana – respondeu Ron, tranquilamente, arrumando a cama e tirando a camisa para dormir.


— E vocês ficaram aí aguentando os coroas? – questionou Patrick, espantado. Ron deitando-se e arrumando o travesseiro, respondeu:


–– Fomos dar uma volta, ficamos olhando as ovelhas.


— Olhando as ovelhas, sei... – ironizou Roderick, malicioso.


— Cala a boca, pirralho! Mais respeito com a sua prima – repreendeu Andrew, dando uma travesseirada no irmão.


— Amanhã vamos cavalgar. Quer ir junto? – convidou Hercule.


— Se for de tarde seria legal – Ron respondeu, num bocejo.


— Boa noite – falou Andrew, apagando a luz. Um a um eles responderam, e aos poucos a sala estava cheia de roncos.


Antes das 6 da manhã, Hermione esperava Ron na varanda.


— Dorminhoco! – zombou, quando ele apareceu, esfregando os olhos e bocejando.


Ron resmungou alguma coisa ininteligível.


— Quê? – Hermione questionou.


— Tô com fome – ele repetiu, um pouco mais claramente. Hermione riu. Mostrou uma bolsa ao seu lado.


— Aqui está nosso café da manhã. Mas você só vai descobrir o que é quando estivermos lá – Hermione levantou-se de um salto e pôs-se a caminhar rapidamente. Ron seguiu-a. A brisa matutina no rosto fê-lo acordar direito.


— Seus primos me convidaram para cavalgar – Ron contou, quando eles estavam, chegando no laguinho. – Eles são legais. Com exceção do Andrew; ele é certinho demais, me lembra o Percy – Hermione riu.


— Você nunca vai perdoá-lo por aquela história de quando éramos crianças, não é?* – Hermione questionou, colocando a bolsa com a comida no chão. Ron corou; não respondeu nem olhou pra ela.


— E a comida? – perguntou, para mudar de assunto.


— Está aqui, ora – Hermione disse, tirando a blusa e a bermuda, por baixo dos quais usava um biquíni vermelho comportado. – Mas eu prefiro cair na água antes. Abre o apetite – e ela juntou ação às palavras.


— Meu apetite não precisa ser estimulado, mas você teve uma boa ideia – falou Ron, tirando a blusa e os sapatos e entrando na água atrás dela.


Hermione não sabia exatamente nadar, mas boiava e dava umas braçadas. Além disso o lago era raso e ela não temeu ir para o meio dele.


— Toma cuidado – falou Ron, antes de mergulhar, lembrando do rochedo.


— Ah, pode deixar – respondeu Hermione. – Aqui não tem perigo mesmo. E vou me cuidar, porque não estou a fim de falar alemão hoje. *


— Espero mesmo que não – Ron mergulhou e nadou até Hermione, puxando-a de leve pelo pé.


 Ai! – ela desequilibrou-se e caiu de costas na água. Levantou engulhando. – Haha, muito engraçado – ironizou, aborrecida, cuspindo água.
 


— Ah, Hermione... Foi só uma brincadeirinha – Ron riu, puxando-a para si.


— Não teve graça – resmungou Hermione. – E se matasse? Todo o teu trabalho teria sido em vão...


— Que exagero, Hermione. Você mesma disse que aqui não tem perigo – Ron murmurou, com um sorriso doce.


— Ah... – ela desviou o olhar. – Não faça de novo – falou, enlaçando os braços no pescoço dele.


— Não vou fazer – e Ron beijou-a.


Hermione, em seguida, nadou até a margem. Com o corpo e os cabelos pingando, pôs-se a arrumar os alimentos que trouxera sobre um pano com o auxílio da varinha (após verificar se seus parentes não estavam por perto).


— Nossa, que fome – Ron ia saindo da água. – Eu poderia até comer um javali.


— Hogwarts, Hogwarts, Hoggy Warty Hogwarts, teach us something please...* – cantarolou Hermione, numa associação mental com o javali, servindo suco em um copo de plástico e estendendo-o para Ron.


— Saudades de Hogwarts – comentou Ron, tomando um gole de suco.


— Eu também. Mas tinha mais antes – falou Hermione, pegando uma pêra e deitando-se na grama, relaxadamente.


— É verdade... Todas aquelas aventuras... – recordou Ron.


— Aventuras nunca nos faltam. E o pior é quando elas têm uma parte ruim, como essa do seu polonês – discorreu Hermione, observando o peito branco do noivo por entre as pálpebras semicerradas e tendo um arrepio.


— Nossa, nem me lembre. Foi horrível – Ron grunhiu, devorando um sanduíche enquanto observava Hermione.


— Mas passou... – Hermione estendeu a mão e acariciou o queixo dele. – E eu descobri que você é ainda mais nobre do que eu imaginava – elogiou.


— Que é isso, Hermione! Eu faço qualquer coisa por você. Sabe disso – ele disse com simplicidade, encabulado.


Ron terminou de comer e engatinhou até ela, beijando-a ardentemente. Hermione agarrou-o, retribuindo com ardor. Eles ficaram assim durante um longo tempo. Ron sussurrou alguma coisa no ouvido dela, beijando seu pescoço em seguida.


— Olha quem fala... – ela riu, escorregando uma mão pelas costas dele.


— Eu realmente sou um cara sortudo – murmurou Ron, beijando o queixo dela, enquanto as mãos escorregavam pelas laterais de seu corpo, freando-se na cintura.


— Sorte não existe, Ron – brincou a garota, acariciando o peito dele. – É o seu cruel destino ficar comigo – ela retrucou, rindo e sussurrando perto do ouvido dele: – Pra sempre... Ahaha...


— Oh! Fui capturado! – ele fez cara de espanto, entrando na brincadeira. – Prendeu-me com seus encantos – exclamou, galante.


— Assim eu derreto... – Hermione sorriu e corou. – Te amo – ela puxou-o para perto.


— ... puxa... – Ron selou-lhe os lábios, de leve. – Eu também te amo, Hermi – acrescentou, baixinho, tocando novamente os lábios dela com os seus e iniciando um beijo lento e quente. Hermione correspondeu e o beijo foi esquentando mais do que devia.


— Para! – ela exclamou, empurrando-o ao sentir seu ombro queimar no local em que Ron o beijara. Ela sentou-se com o rosto vermelho, e afastou-se para um lado, enquanto Ron rolava para o outro. – Precisamos nos casar – ela constatou, abanando-se com a mão.


— Tirou as palavras da minha boca. E nem digo como – Ron sorriu pra ela e ajoelhou-se ao lado do laguinho. Mergulhou a cabeça nele, para refrescar. – Vamos marcar a data de uma vez? Acha que conseguimos arrumar tudo em, ahn, cinco semanas? – ele sugeriu, com os cabelos pingando.


Hermione pensou um pouco.


— Dar eu acho que dá, Ron, mas tem uns problemas... – ela falou. – A casa, por exemplo; eu parei de pagá-la...* – Hermione desculpou-se.


— Não faz mal; eu continuei – ele falou. Hermione ergueu as sobrancelhas. – Eu ainda tinha esperanças, sabe... – murmurou. – E acho que já pagamos parcelas suficientes para nos mudarmos para lá. Quitamos o resto já em casa – ele falou.


— Você não precisava ter gastado com esse anel – censurou Hermione, olhando o anel de noivado. – Eu gostava do velho. Ainda mais agora que sabemos que esse aqui será só pra cinco semanas.


— Fica com os dois. Estou com o velho na minha mochila – ele falou, abraçando os ombros dela e entregando-lhe um sanduíche. – Acontece que como você teve o pior de Ron Weasley também merecia o melhor que ele pode dar – o rapaz falou, com simplicidade. Hermione olhou-o ternamente. – Vamos, coma, Hermione Granger-quase-Weasley! Temos muito que fazer nas próximas semanas, você vai precisar de toda a energia que puder obter.


A moça riu. Eles passaram a manhã ali, combinando com praticidade todos os detalhes para o casamento, entre um mergulho e outro. Nunca tinham conversado sobre isso antes. Mesmo Ron não tivera pressa: eles sabiam que saberiam quando chegasse a hora. E efetivamente.


— Eu e Ron decidimos marcar o casamento para dia 8 do mês que vem – anunciou Hermione, na hora do almoço, dirigindo-se aos pais, mas na verdade falando para todo mundo.


— Há algum motivo especial para apressar? – questionou o avô dela, olhando desconfiado para a neta. Esta corou, bem como Ron. Lewis Granger olhava para eles com ar sério e alarmado.


— Não – disse Ron. – Acontece que nos desentendemos bastante há algumas semanas e queremos cortar esses problemas de uma vez por todas.


— Casamento não encerra desentendimentos, filho – disse sabiamente o velho Owen, com um aceno de mão. – Cria mais ainda.


— Ora, seu velho mal-agradecido... – resmungou dona Dorothy, rindo, enquanto servia uma concha de feijão para ele.


— Eu não disse? – o velhinho falou, fazendo todos rirem.


Talvez o avô de Hermione estivesse certo, de alguma maneira. Um papel e uma festa não seriam capazes de acabar com os problemas, e se continuassem nas suas profissões arriscadas, Ron e Hermione teriam inimigos em dobro, já que os inimigos de um se tornariam do outro também.


“Mas quem se importa?”, pensou o ruivo, abrindo um sorriso alegre, tipicamente seu, abraçando a garota que amara desde a infância. “Nós damos um jeito... juntos.”

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*Algumas explicações finais sobre alusões do capítulo:
1. O primo Andrew de Hermione era muito afeiçoado a ela, e quando eles eram pequenos, disse que iria se casar com ela. Coisa de criança, sem consequência, mas desde que o Ron descobriu isso, morre de ciúmes, hehehe.
2. O rochedo e falar alemão se refere a uma outra história que tínhamos escrito, anterior a essa, em que a Hermione cai de um rochedo e sofre alguns efeitos colaterais. Quem sabe eu poste aqui um dia, quando tiver paciência para poli-la.
3. "Hog wart", pra quem nunca teve paciência de procurar, significa "ferida de javali". Ela canta o hino de Hogwarts ali.
4. Caso não tenha dado pra perceber, no começo do capítulo eles já eram noivos, e desde um bom tempo, antes de romper por causa das ameaças do polonês. Durante esse tempo, estavam pagando uma casa para morarem quando casassem. E Ron tinha dado a ela o anel de noivado da mãe dele.
***
Enfim, é isso! ^_^ Peço desculpa por alguma criancice, já escrevemos essa há um tempinho, então pode ter escorregado alguma ideia pouco madura... que eu não tive coragem de mudar, com medo de estragar o conjunto, como dizem: panela que muito mexe, fede.
Meus cumprimentos a todos os leitores que chegaram até aqui, e eu gostaria de pedir um review final, com o que vocês apreciaram (ou não) da história, e quem acha que vale, pode deixar também uma recomendação.
Convido-o(a)s a ler também "Neocomensais", que se passa após essa aqui, embora não em sequência direta, isto é, há um intervalo de tempo entre as duas. E na minha opinião, aquela é melhor. :)
Um abraço e muito obrigada por terem lido! ^^ Até mais. 


 

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