Palavras finais e necessárias

Palavras finais e necessárias



Quando voltou na hora do almoço, a garota ainda dormia. Ron contou a novidade para os amigos que estavam à procura dela, passando inclusive na casa dos sogros no fim do expediente, mas pediu a todos para ir vê-la somente na semana seguinte, não atormentá-la com visitas, pois ela precisava de descanso para recuperar-se. Passou igualmente no trabalho dela, avisando que ela talvez demorasse a voltar lá. O chefe não reclamou; ela era paga por reportagens, mesmo.


Ron chegou em casa de noite e foi ver a esposa. Ela passou por ele a caminho do banheiro e não o cumprimentou. Ron começou a pensar que, talvez, eles não estivessem de bem como ele chegara a pensar anteriormente. Talvez ela não o tivesse perdoado ainda; poderia ter preferido ir para casa para não afligir os pais, ou não ser aborrecida com perguntas cujas respostas ela sabia que eles não entenderiam. Poderia mesmo ter dito aquele “Eu te amo” por gratidão, ele também já o fizera, muitas vezes, embora realmente a amasse.


Deixando isso de lado, Ron foi resolver uma questão prática. Pouco depois subiu ao quarto carregando uma bandeja, ricamente abastecida com sanduíches, suco e um prato de sopa. Encontrou Hermione na cama, mas sentada, escrevendo furiosamente, a expressão séria. Ficou ainda mais apreensivo por ela não ter lhe feito qualquer sinal de reconhecimento ou simpatia, mesmo quando ele entregou-lhe a bandeja, em silêncio.


Depois de comer calada por um tempo, inicialmente observada por Ron, que se sentara em uma cadeira um pouco distante e depois pegou um livro, a moça botou a bandeja de lado e dirigiu-se ao garoto, serenamente.


— Imagino que Wilfred tenha estado aqui, não? – Ron anuiu. – Ele te contou tudo?


— Até o momento em que vocês foram postos em calabouços separados.


Hermione suspirou e começou a contar:


— Bem, eles me torturaram. Queriam saber quem eu era e por que estava ali. Graças a Deus eles não usaram Crucio, mas tinham métodos horríveis também. Nunca me deixaram sem comida, e por isso mesmo eu não comi, nem mesmo bebi água até quando pude aguentar; sabia que eles deviam ter colocado uma poção da verdade ali. Escondi a aliança, pra que não pudessem achar o par dela e desse modo saber quem eu era – ao dizer isso, Hermione tirou do pescoço uma corrente que inicialmente parecia não estar ali. Ron lhe dera essa corrente havia muito tempo, tinha um pingente com um hieróglifo e, agora, uma aliança de ouro. Hermione tirou a aliança dali, devolvendo a corrente ao pescoço e colocando o anel no colo, não no dedo. Ron notou esse gesto com tristeza. Ela continuou: – Fiquei morrendo de medo que levassem minha varinha ao Olivaras, ele saberia de tudo, sempre identifica uma varinha. Mas aparentemente não fizeram isso. Não sei quanto tempo passei lá, era escuro, e eu dormia e me acordavam, me interrogavam, eu dormia de novo, parecia uma eternidade... Quanto tempo foi? – perguntou ela, com uma curiosidade levemente indiferente.


— Aproximadamente uma semana.


— Numa das vezes me disseram que Wilfred tinha fugido e me bateram muito, como se eu fosse responsável por isso – Hermione contava tudo num tom impessoal e inexpressivo, mas pareceu achar graça nessa última circunstância. Ron estava indignado, rosto vermelho, a raiva chispando nos seus olhos, ele apertava os braços da cadeira com os nós dos dedos brancos. Hermione prosseguiu. – Deve ter sido um pouco depois disso que eu bebi água e contei tudo. Eles ficaram muito felizes por eu ser nascida trouxa... E já estavam preparando a tal cerimônia. Aí você me salvou – ela calou-se por um tempo, pensativa. Ron a observava, sofrendo só por pensar em como ela havia sofrido. De repente, ela fitou-o. – Ron, por favor, você teria como pedir para botarem aurores vigiando a casa dos meus pais? Ou ao menos para protegerem ela com feitiços? Temo por eles...


Ela parecia muito preocupada. Ron apressou-se em tranquilizá-la.


— Vou providenciar isso hoje mesmo. Amanhã falo com o chefe do QG, e mesmo que ele não faça nada, vamos organizar um grupo para patrulhá-los, como fizemos para te procurar – assegurou ele, determinado.


— Bem, o que mais você quer saber? – questionou ela, mais aliviada.


— Reed disse... – começou ele, cauteloso, temendo tocar num ponto sensível – que vocês ouviram a reunião... e ela os deixou muito chocados.


O rosto de Hermione se ensombreceu.


— Estavam planejando sua primeira ação – disse ela, gravemente. – Iam queimar um orfanato trouxa... com Fogomaldito – ela falou, olhando em frente, as narinas infladas de indignação, o rosto vermelho. Ron boquiabriu-se, sem palavras para exprimir seu sentimento em relação a isso. – Mas um deles lembrou que Voldemort morara em um por muito tempo, uma mulher, eu acho, então eles transferiram o alvo para um asilo – a voz dela estava embargada e seus olhos marejaram. – Não queriam chamar atenção, sabe, seu objetivo era apenas praticar, por isso não iam pegar “trouxas importantes”. Queriam apenas praticar! – ela repetiu, num brado, engolindo o choro e fitando Ron com ar de desafio, como se ele quisesse ou pudesse apresentar uma explicação para isso. Mas ele estava tão estupefato e desolado como ela, e só pôde fitá-la de volta, mordendo os lábios. Se Lewis Granger visse a filha nesse momento, teria se reconhecido em um confronto que tivera com a irmã Carolyn havia muitos anos. Hermione disse: – Mas eu não vou deixar eles fazerem isso. Vou contar tudo, toda a verdade. O mundo bruxo há de saber. É preciso contar isso logo, enquanto ainda há lembrança forte de Voldemort na memória do povo. Vou publicar uma reportagem, o mais tardar segunda. Saberão tudo, com detalhes. É uma pena que tenham tirado o filme da máquina de Wilfred – disse, com ferocidade.


— Você não poderá fazê-lo, Hermione – disse Ron, timidamente. – Censuraram o Profeta.


— E eu ligo para o Profeta?! – ela deu de ombros. – Publico no Pasquim, no Semanário das Bruxas, até por conta própria, se for necessário. Harry tem bastante dinheiro, peço para ele financiar, se necessário. Ele não iria negar-se.


Ron achava que isso ia atrair muita atenção negativa para ela, e preocupou-se, mas não disse nada. Era uma preocupação mesquinha. O que Hermione se propunha a fazer era o mais correto, apesar de ser perigoso. Era dever dele protegê-la, e ele o faria incondicionalmente; já havia falhado uma vez, não aconteceria de novo.


Como o silêncio seguinte se prolongasse indefinidamente, Ron saiu do quarto e, lançando feitiços protetores de reforço na casa, saiu: foi cumprir a promessa que fizera a Hermione, de proteger a casa dos sogros naquele mesmo dia. Cercou-a com todos os feitiços que conhecia e voltou, cansado. Hermione dormia, quando ele entrou no quarto para pegar um pijama e uma coberta – e foi dormir no sofá novamente.


No meio da noite, a moça acordou e afastou as cobertas. Um reflexo da lua fez a aliança cintilar – Hermione pegou-a e a pôs no bolso. Arrumando os pergaminhos que estavam espalhados, a garota desceu as escadas para beber água.


Ia voltando para o quarto, quando entrou na sala. Viu o esposo dormindo no sofá e sentou-se ali, na beiradinha. Acordou-o, acariciando seu rosto.


— Ron... Ron, o que faz aqui? Vem dormir lá em cima.


O garoto, atordoado, demorou a entender o que ela dissera. Então sorriu; agora sim sabia que estavam de bem.


— Você está bem esquisito com essa barba; mas até que não ficou ruim – ela disse, casualmente.


— Ora, olha só! Eu nem percebi que não a tinha tirado – espantou-se, passando a mão no rosto. – Isso é o que dá não ter você por perto.


Ele afastou o cobertor e girou o corpo.


— Contou a Reed sobre o prêmio por serviços especiais prestados à escola? – perguntou ele, lembrando-se, sentado ao lado dela. Hermione deu um sorriso maroto.


— Ah... eu tenho direito de me orgulhar do meu marido... o meu herói... meu grifinório... meu goleiro... – brincou ela. Ron olhou-a, apaixonado. Beijou-a na boca e apertou-a contra si. Hermione, apesar de ainda muito fraca, não ofereceu qualquer resistência quando o rapaz começou a beijar-lhe o rosto, o pescoço e o colo, distribuindo carícias por todo o seu corpo. Apenas olhou-o, com doçura no olhar e um sorriso terno. Ron carregou-a para o quarto mais uma vez, arrastando atrás de si a coberta enrolada em sua perna.
 
Notas finais: 
E é isso :) O tema dos Neocomensais foi bem pouco explorado, eu sei, mas deixo a ideia livre para qualquer outra pessoa que for escrever (e que use os ships do Cannon - se eu encontrar alguma fic Dramione por aí com esse tema vou dar piti que nem o Draco => "¬¬ Papai vai saber disso!"
Quem sabe um dia eu reabra a fic, se tiver inspiração para isso, mas no momento este é o final.
Espero que você tenha gostado.
Caso tenha, por favor deixe um review, e/ou favorite, e se achar digna, escreva uma recomendação! É assim que mais leitores chegarão à fic e terão os momentos de diversão que você (quem sabe) teve.
No mais, fiquem atentos porque logo começarei a postar "O trauma de Ron", que acontece num período um pouco depois dessa história. Ouso dizer que se você gostou dessa, pode gostar daquela ainda mais (perdão pela falta de modéstia).
Beijões para todos que acompanharam, e mais uma vez obrigada!

o/ Nox! 

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