O sumiço de Hermione



Mais ou menos três semanas depois, o nível de irritação e desgosto de Ron chegou ao limite. Ele conhecia Hermione bem o suficiente para saber que ela não o proibira de procurá-la em vão, mas agora achava que o que quer que ela pudesse fazer não pioraria a situação.


Na sexta-feira seguinte a isso, Ron tomou coragem e, antes de ir para o trabalho, passou na casa dos Granger em Londres. A mãe de Hermione abriu a porta. Olhou-o desconfiada.


— Bom dia, Sra Granger. Ahn... Hermione está? – cumprimentou o rapaz, constrangido.


— Ela não está em casa? – estranhou a mulher. Ron preocupou-se.


— Até onde eu sei, não – respondeu. – Por quê?


— Hermione saiu ontem levando a mala, de manhã. Não disse para onde iria, mas supus que naturalmente voltaria para Hertfordshire – a sogra de Ron começava a alarmar-se. O rapaz não estava menos preocupado, mas tratou de acalmá-la.


— É possível que um contratempo a tenha impedido de chegar lá; nesse caso ela pode ter pernoitado na casa de Ammy e George, ou na de Harry e Gina. É até possível que já esteja de volta em casa, na verdade eu saí muito cedo hoje.


— Vou ligar para Ammy, perguntando – disse Ann Granger, apertando a blusa, nervosa. Ron sugeriu que não fizesse isso.


— Não há necessidade, vou encontrar Harry e Ammy no trabalho, eu falo com eles. Pode estar certa de que a menor notícia dela chegará à senhora imediatamente. Não há de ser nada, aposto como estamos nos preocupando a toa. Bem eu vou indo.


— Escreva! – cobrou a mãe de Hermione, enquanto ele se afastava.


O garoto aparatou no Ministério. Estava inquieto, embora repetisse sem cessar os argumentos que usara para acalmar a sogra. Esperou impaciente pela chegada dos colegas. Ammy passou por ele olhando para o outro lado. Ron barrou-a.


— Escute, será que a Hermione não foi na sua casa ontem...?


— Não a vejo desde quarta – respondeu, secamente. – Por quê?


— Nada não; só queria falar com ela – ele fitou o chão, pensativo.


Ammya segurou na ponta da língua a dezena de frases sarcásticas e ferinas que tinha para dizer ao garoto; observava-o, desconfiada. Comentou:


— Hermione me falou que tinha te dito onde estaria.


— Mas ela disse igualmente para não ousar procurá-la – retrucou Ron, meio automaticamente, entrando em seguida no seu cubículo para fugir do exame de Ammy.


Saiu de novo logo depois, indo procurar Harry. O amigo ainda não havia chegado. Ron esperou-o com impaciência crescente, e quando ele chegou, arrastou-o para o cubículo.


 — Hermione está na sua casa? – perguntou, sem rodeios.


— Não! – respondeu Harry, espantado.


Ron afundou na cadeira, com o rosto nas mãos.


— O que houve? – perguntou Harry, curioso, recostando-se na mesa.


Ron permaneceu em silêncio um instante; hesitava. Em seguida fez um resumo da história, omitindo os detalhes mais constrangedores.


— ... e eu fui procurá-la esta manhã, e a mãe dela disse que ela tinha saído com a mala ontem de manhã. Não está em casa, ou com a Ammy, e você acaba de me dizer que não está com vocês também – Ron suspirou, perturbado.


Harry também estava muito apreensivo, mas acalmou Ron.


— O que nós temos que fazer é escrever a todos os conhecidos dela, sem alarmá-los, é claro, para ver se a localizamos. Ela também pode ter viajado, Ron, já aconteceu antes, sabe, ela trabalha como jornalista. Você não sabe no que ela estava trabalhando agora?


— Faz muito tempo a última vez que conversamos direito sobre isso – desculpou-se o garoto, forçando a memória. – Não vinha sendo muito atencioso nos últimos dias, acho que ela estava seguindo a pista de um caso envolvendo trouxas, que o Ministério tentou abafar porque implicava uma família tradicional... Nada na nossa área, creio, era mais coisa para a área do papai. Mas não consigo lembrar nomes, nem mais detalhes. Só que eu acho que era coisa regional, nada pra viagens longas, não.


— Você tem que ir ao trabalho dela – aconselhou Harry.


— Farei isso – disse Ron. – Obrigado.


— De nada. Qualquer notícia, avisa – pediu Harry, saindo.


Na hora do almoço, Ron dirigiu-se diretamente para o Profeta Diário. Na recepção:


— Por favor, poderia me informar se a Hermione Weasley se encontra? – o rapaz perguntou à recepcionista, que ainda era Lucy, mas estava encerrando o expediente. A mulher olhou-o, desconfiada, e ele se apresentou. – Eu sou Ronald, o marido dela.


— Então é você o ciumento execrável? – questionou a mulher, observando-o com curiosidade.


— Hermione falou isso de mim? – perguntou Ron, corado, distraindo-se por um instante.


— Não, acho que foi uma amiga que veio vê-la esses dias, uma ruiva, não muito alta, olhos claros... – Lucy já se animava com a fofoca. Ron chamou-a de volta ao assunto.


— Ela está, a Hermione?


— Não – disse a outra, em tom seco, levemente ofendida pelo corte de Ron. – Veio ontem com uma mala. Depois ela e Willie saíram, e não voltaram no almoço, que eu saiba nem no fim do expediente, e nem hoje de manhã também. É possível que a mala dela ainda esteja na sala – informou a mulher, indicando o corredor que levava para o interior do prédio. Ia se retirar, mas Ron impediu-a.


— Espera. Sabe qual era a pauta dela? – a moça deu de ombros.


— Isso aí é com o diretor. Ele não saiu ainda. Se correr, pode alcançá-lo. É um velho gordo com cara de leão-marinho – confidenciou, indo embora.


Havia um mapa do prédio na parede atrás do balcão. Ron estudou-o por um instante, gravando-o na cabeça – não era muito complexo. Correu para a diretoria. Encontrou o bruxo ainda no seu escritório, preparando-se para sair.


— Com licença; será que pode conceder-me um momento...? – pediu Ron.


— Certamente – o homem voltou a sentar-se, com ar dúbio. Tinha leve impressão de já conhecer esse rapaz, mas não se lembrava de onde. – Mas quem é o senhor?


— Ronald Weasley, sou esposo de uma de suas repórteres, a Hermione – apresentou-se Ron, apertando a mão do outro e sentando em frente a ele, recusando com um gesto o chá que o bule do diretor lhe oferecia, a um aceno da varinha deste. Começou: – Acontece que minha esposa... não é vista desde quinta de manhã por seus conhecidos, e... como ela não mencionou a ninguém que viajaria a trabalho, e no entanto sua mala ao que parece está aqui... achei que pudesse talvez obter do senhor alguma informação que ajudasse a descobrir o paradeiro da minha mulher.


O homem encostou as pontas dos dedos, recostando-se na cadeira.


— Entenda, Sr Weasley, que dou o máximo possível de liberdade aos meus repórteres, pois só assim podem me trazer boas histórias – retrucou o homem (“Liberdade demais, até”, pensou Ron, lembrando-se de Rita Skeeter), – de modo que por vezes não sei por onde andam. Eu simplesmente lhes dou a pauta... e os solto – o velho fez um gesto com as mãos, como empurrando alguma coisa. Continuou: – Isso é até um procedimento arriscado de minha parte, pois o Profeta cobre os gastos com viagens... – o homem deu uma risadinha desagradável, a qual Ron respondeu com um sorriso torto. Passou a mão pelos cabelos, nervoso, antes de perguntar:


— Não pode ao menos me dar uma pista, dizer do quê ela andava atrás?


O outro o olhou, espantado, inclinando-se para frente.


— Não tem lido o jornal, Sr Weasley? – questionou.


— Não tenho tido tempo – respondeu Ron, secamente, corando de leve. Na verdade, havia muito tempo que ele não lia jornais, acostumara-se com o relatório diário de Hermione a respeito de tudo. E como nos últimos tempos não falara muito com a esposa...


O chefe de Hermione voltou a recostar-se.


— O Profeta orgulha-se de uma cobertura imparcial dos fatos, e temos por princípio trazer toda a verdade ao público, mesmo aquela que o Ministério se esforça por esconder – citou o bruxo, meio friamente. “Não era assim no tempo de Voldemort”, Ron pensou, mas não disse nada, só olhou o homem com ar irônico. O outro não deu importância e prosseguiu: – Pois bem; há pouco mais de um mês, um rapaz de uma família tradicional andava em um distrito trouxa e foi atingido por uma bola jogada por um grupo de crianças. Aparentemente ela escapara da mão de um dos moleques, mas o rapaz não perdoou: à vista das crianças, enfeitiçou a bola transformando-a em balaço. Ela começou a perseguir o garoto e quebrou-lhe duas costelas, sabe como são os balaços... E o rapaz desaparatou, novamente à vista de todos. O Profeta publicou uma nota a respeito, citando o nome do rapaz... e a família dele nos processou – os olhos do velho brilhavam de raiva. – Pra melhor mostrar que não tememos esse tipo de coisa, começamos a cobrir amplamente o caso, tornando-o o assunto principal do jornal, já não havia muitos outros, mesmo... Dividimos as pautas; eu, particularmente, conhecendo as origens de Hermione – o homem desviou o olhar por um instante; as orelhas de Ron ficaram vermelhas e ele crispou os punhos – sugeri que ela ficasse com a parte trouxa do caso, investigar a família do menino, escrever sobre ele, as consequências na comunidade... Mas ela pediu para investigar o rapaz, o Zabini. Isso correspondia a ficar no olho do furacão, mas como Hermione é uma das nossas melhores profissionais, pode escolher o que faz. Parece que ontem de manhã ela descobriu nova pista, e foi segui-la... Com certeza trará uma super história, mas o triste é que não poderemos usá-la, porque hoje de manhã decidiram o processo a favor deles, e nós fomos censurados. É realmente uma pena – ele suspirou.


Ron torceu os dedos por uns minutos, pensativo.


— E ninguém sabe qual seria essa pista? – perguntou, por fim.


— Só o Reed; mas ele foi com ela.


O rapaz sentiu uma pontada ao ouvir isso, embora já soubesse do fato. Lembrou-se de uma frase que o Petter, primo da Ammy e rival de George, costumava usar: “Quem não dá assistência abre espaço para a concorrência”. Por um instante a idéia de Hermione e Reed juntos no sentido mais trágico da palavra invadiu a mente de Ron, mas ele expulsou-a a pontapés. Exortou-se para confiar na esposa e procurá-la para poder tê-la de volta sob sua guarda logo. Levantando, pediu:


— O senhor não teria uns números atrasados do jornal para me emprestar?


— Eu até poderia arranjá-los, mas estarão todos assim – ele apontou a varinha para uma pilha de jornais um deles veio voando e parou na frente de Ron. Exceto pelo título e algumas reportagens esparsas, era um borrão preto. – Como eu disse, fomos censurados. O senhor não encontrará mais essas reportagens em lugar nenhum. Sinto muito.


Ron agradeceu, pediu desculpas pelo incômodo e saiu dali desolado. Não aproveitara quase nada da entrevista, e agora tinha que voltar ao trabalho. Zabini... onde Ron já ouvira esse nome? Claro! Ele estudou com um Blás Zabini, não lembrava se no mesmo ano, mas estava certo que o garoto pertencera à Sonserina. Em que enrascada será que Hermione se metera?


 

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