Capítulo 8 - O que deu na Ambe
2 de Setembro de 1995.
Amber, definitivamente, estava andando tempo demais com a Sarah. Ou o culpado de tudo era Harry? Desde que entrou em Hogwarts ela começou a fazer coisas das quais não fazia em Beauxbatons. Não que ela nunca tenha perdido a paciência com algum aluno, mas não se lembrava de já ter respondido mal algum professor. Nunca tinha levado um Howler de Marlene (ela realmente a deixou preocupada com a Segunda Tarefa) e nunca tinha levado uma detenção.
O que mais ela faria? A única dignidade que lhe restava era não ter explodido nenhum caldeirão desde o começo do período letivo e esperava que isso não acontecesse nunca.
Ela não podia negar que estava “P” da vida com Harry por ter gritado com ela. Ela sabia que o temperamento forte não facilitava, mas ele se conteve diante da professora, por que não se conteve diante dela?
Ela jogou o guardanapo de pano em cima do seu prato mal tocado e afastou da cadeira.
— Aonde você vai? — perguntou Sarah, inconformada que alguém pudesse negar a comida de Hogwarts.
— Estou sem fome — murmurou Amber, caminhando para fora do Salão Principal.
Aquele era mesmo o primeiro dia de aula? Amber tinha a grande sensação de que já haviam se passado semanas! O ano passado? Pareciam ter sido séculos desde que ela e Sarah desceram do trem de Hogwarts, com apenas um casaco por cima das cabeças, protegendo-as da tempestade. Apenas duas desconhecidas.
Ela parou por um momento, admirando a chuva pelas vidraças. Definitivamente não sentia fome, mas não queria voltar para o Salão Comunal. Sentia saudades do ano anterior, não por causa das matérias, já que isso não lhe era nenhum problema. Muito menos por causa dos professores, porque as aulas de Moody sempre lhe deram calafrios. Apenas sentia saudades da época de paz, ela sabia que Voldemort estava a solta, mas não tinha se tornado tão oficial quanto agora.
Apartir do momento em que Harry saiu do labirinto com Cedric morto e disse a todos que Voldemort tinha voltado, Amber sabia que dali em diante as coisas iriam piorar.
Ela conteve seu impulso de correr para o corujal, seria crueldade demais enviar uma coruja nessa chuva. De qualquer forma, Oliver estaria “fora de contato” por uns tempos, seria perda de tempo. Ela sabia que isso aconteceria, mas tentou não pensar nisso durante o ano passado, ela adiou por tempo demais, parecia que só agora a ficha havia caído.
Ela ouviu vozes vindo do começo do corredor, olhou para trás e viu alguns alunos saindo do Salão Principal. Já estava ficando tarde... Ela voltou a andar, dessa vez em direção ao Salão Comunal. Não era uma opção muito agradável a ela, mas não tinha muita escolha.
— Mimbulus Mimbletonia — disse, antes que a Fat Lady perguntasse, e entrou no buraco do retrato.
Quando entrou, viu Hermione dando uma bronca nos gêmeos por terem aprontado.
— Onde você estava? — sibilou Harry, quando a avistou.
— Andando por aí... — respondeu Amber, secamente, então se virou para Rony e perguntou — O que os seus irmãos aprontaram dessa vez?
— Estavam dando alguns dos experimentos deles para os primeiranistas — respondeu Rony, segurando o riso pela cara de indignação do melhor amigo.
Mas ele voltou a se encolher na poltrona quando viu que Hermione estava se aproximando. Amber se levantou, prevendo uma discussão e subiu para o dormitório.
— Ajuda com o dever aqui — pediu Sarah, da porta do dormitório do 4º ano.
— Vocês são muito folgadas — resmungou Amber, entrando no quarto.
— Nós não teríamos dever de casa se não fosse pela velha da Trelawney... — resmungou Ginny, escrevendo no pergaminho.
— Parem de reclamar. Pelo menos não é o ano dos OWL’s de vocês...
— Como foi com a nova professora? — perguntou Sarah, copiando o que Ginny escrevia.
— Horrível! Não podemos usar magia em sala de aula.
Ginny arregalou os olhos e Sarah derrubou a pena.
— Mas que va... — começou Sarah.
— Não deveriam estar tão surpresas! — interrompeu Amber — Sabemos que ela trabalha para o Fudge.
— Quando eles perceberem o engano que estão cometendo... — murmurou Ginny, escrevendo furiosamente.
— Calma! Assim você vai furar o pergaminho — disse Sarah, bocejando.
— Ainda por cima, levei detenção por culpa do Harry... — resmungou Amber.
— Espera um pouco! Você levou detenção? Você?
— O idiota do Harry foi se meter com ela, dizendo sobre o que aconteceu ano passado... Eu perdi a paciência com a “rosadinha” e entrei na discussão...
— O que está acontecendo com você?
— Será que as duas podem me deixar fazer o meu dever de casa em paz? — rosnou Ginny, fuzilando-as com o olhar.
— Virou nerd agora, foi? — provocou Sarah.
— Não, apenas odeio Divination e quero acabar com esse dever logo de uma vez.
— Eu já vou subindo mesmo... — disse Amber, abrindo a porta do quarto — Boa noite!
— Parece que você não foi a única a deixar o dever para a última hora... — murmurou Sarah, ao ver Hermione no final da escada.
— Bem, quando decidi subir ela e o Rony já começaram a discutir...
— Por que eles não admitem que se amam logo de uma vez?
Ginny pigarreou sonoramente.
— Acho que alguém pegou o seu mal humor... — murmurou Amber, subindo as escadas.
— Eu ouvi isso! — gritou Sarah, ainda no batente da porta.
— Cala a boca, cacete! — gritou Ginny, de dentro do quarto.
***
3 de Setembro de 1995.
— Quanto tempo será que vai durar essa chuva? — perguntou Sarah, na manhã seguinte, olhando para o teto do Salão Principal.
Amber simplesmente deu de ombros, enquanto se servia de mais suco de abóbora. Ginny olhou com uma sobrancelha levantada para Amber.
— O que? — perguntou Amber, finalmente.
— Por que não se sentou com seu irmão? — perguntou Ginny.
— Não vai me dizer que brigaram por causa da Umbridge — disse Sarah.
— Eu só estou dando um gelo nele para ver se ele para de descontar nos outros a sua frustração.
— E esse gelo acaba...?
— Assim que começarem as aulas da tarde.
— Eu quero saber quando um certo trio vai parar de ficar se ignorando... — disse Ginny, olhando para Sarah.
— Eles parecem perfeitamente bem sem mim — disse Sarah, secamente.
Mal acabou de dizer essas palavras e se levantou para sair do Salão Principal, evitando qualquer tipo de aproximação por parte dos gêmeos.
— Eu não sei mais o que faço com esses três! — disse Ginny, exasperada.
— Não se meta. A Sarah pode ser muito cabeça-dura — aconselhou Amber.
— Pelo que eu entendi foi uma briga completamente idiota. Tipo a sua com o Harry.
— Olha, o Harry é meu irmão. E eu sei que ele ainda sente mágoa por eu não ter contado a ele a verdade, por ele ter tido de descobrir pela Rita Skeeter.
— É, ele estava bem transtornado... Mas ele já superou.
— Será mesmo? Ele pode ter ignorado, mas uma hora ou outra isso ainda vai vir a tona.
— Você continua sendo a única parente dele que presta. E por que você fica se remoendo de uma coisa que aconteceu ano passado? Já aconteceu! Não tem como mudar! O melhor que você pode fazer para compensar isso é passar mais tempo com o Harry. Entendo que você tem sua vida, mas vocês, às vezes, ficam muito afastados um do outro.
— O nosso temperamento não é fácil... E o Harry tem a mania irritante de descontar nos outros quando está muito irritado.
— Todo mundo está nervoso... Nós, temendo por o que Você-Sabe-Quem vai fazer e, eles, sem saber em qual lado acreditar.
— Sabe, o Ministério da Magia não pode ficar se gabando por serem melhores do que o Ministério trouxa só por serem bruxos. Eles são exatamente iguais: todos corruptos.
A sineta para a aula tocou.
— Se eu não puder convencer a minha melhor amiga, convencerei o meu irmão — disse Ginny, decidida, colocando a mochila no ombro.
— Não acho que seja tão difícil... Ontem ele tentou falar com a Sarah de todos os jeitos possíveis...
— Acontece que o meu irmão é do tipo impulsivo e depois orgulhoso, sabe. No começo ele até correu atrás da Sarah, mas, como ela ignorou-o, ele vai fingir que não está acontecendo nada.
— Não sabia que se podia ser as duas coisas ao mesmo tempo...
— Pois é...
Elas se despediram em frente a escadaria, cada uma seguindo para um lado.
***
A aula de Spells e Transfiguration foram um desastre. Spells nem tanto, já que Amber já sabia o Feitiço Convocatório de cor e salteado, mas teve uma grande dificuldade para executar o feitiço de desaparecer. Por esse motivo, a professora McGonagall chamou-a, ao fim da aula, após dispensar os alunos.
— Senhorita Potter, tem algo de errado? — perguntou a professora McGonagall, preocupada.
— Me desculpe, professora. Muita coisa na cabeça... Irei me concentrar, prometo — disse Amber.
— Tudo bem... Pode ir.
Amber pegou a mochila e começou a caminhar para a saída.
— Ah, sim! Senhorita Potter! — chamou-a novamente a professora McGonagall.
— Sim, professora? — perguntou Amber, virando-se.
— Aparentemente, houve uma mudança de planos quanto a sua detenção.
— Como assim?
A professora McGonagall olhou severamente para Amber.
— Eu sei que está distraída, mas é o ano dos OWL’s... Precisa aprender a estudar sob pressão.
— Me desculpe, professora. Não vai se repetir, mas o que mudou na minha detenção?
— Aparentemente, a senhorita já tinha uma detenção.
Amber olhou chocada para a professora.
— Impossível! Nenhum professor me disse nada, eu não fiz nada de errado! Fora a aula da professora Umbridge que me descontrolei e hoje que fiquei um pouco... — disse Amber, rapidamente.
— Quer se acalmar, por favor? — cortou-a a professora McGonagall — A senhorita não poderá realizar a detenção com a professora Umbridge já que já está de detenção com o professor Snape.
Amber continuou olhando abobada para a professora McGonagall. Ela não se lembrava de ter dito e nem feito nada de errado em Potions. Se ela tivesse ficado de detenção, o professor Snape, certamente, teria gritado aos quatro ventos. Se bem que ela mesma duvidava disso... Mas mandar recado pela professora McGonagall? Ele teve o dia anterior inteiro para lhe avisar. Por que só agora?
— Está dispensada — disse a professora McGonagall.
Amber saiu da sala de aula, ainda tentando descobrir o que fez de errado para ser colocada em detenção por dois professores no mesmo dia. Aparentemente, ela tinha sido liberada da detenção com a professora Umbridge, já que a professora McGonagall não mencionou uma remarcação de data.
Isso estava muito estranho...
***
— Parece que não fomos só nós quem não fizemos o dever de Potions — disse Rony, admirado, ao ver Amber se sentar com ele e Harry na biblioteca.
— Tem que certeza de que ainda é segundo dia de aula? — perguntou Amber, fracamente — Parece que se passaram umas duas semanas...
— Nem me fale... — murmurou Harry.
O silêncio durou por uns 15 minutos, o tempo que Amber terminou a sua redação. Rony tentou convence-la a lhe dar a resposta, mas ela nem dignou-se a responder. Já Harry nem tentou, já conhecia a irmã o suficiente para saber que ela não se convencia tão fácil quanto Hermione.
— Por que a McGonagall te chamou? — perguntou Harry, tentando puxar assunto.
— Perguntar se eu estava bem... — respondeu Amber, vagamente.
— Hermione deve estar bem feliz. Hoje foi a única a conseguir fazer o... — começou Rony, mas parou ao ver o olhar de Harry.
— Eu fiz algo de errado em Potions? — perguntou.
— Não — respondeu Harry, estranhando.
— Fora o fato de ser irmã do Harry... — disse Rony, mas logo se retratou quando viu o olhar dos dois dirigidos a si: — Não que tenha algo de errado com você, Harry, mas você sabe que o Snape te odeia. Por que? O que o Snape fez?
— A professora McGonagall me disse que não poderei comparecer a detenção da professora Umbridge, porque o professor Snape já tinha me posto em detenção.
— Que estranho! — disse Harry.
— Completamente! Estou tentando entender até agora...
— Não tente... Aquele lá tem o prazer de acabar com os alunos — disse Rony — Só nunca fez isso com a Hermione.
Amber sorriu abertamente, colocando o material dentro da mochila.
— Achou mesmo que me comparando a Hermione eu iria me irritar e te dar as respostas? — perguntou, casualmente.
— Eu tinha que tentar, né... — disse Rony, fechando a cara.
— Vocês tem sorte de ter a Hermione, porque se colocassem os seus planos em prática já estariam mortos desde o 1º ano.
— Obrigado pela confiança! — ironizou Harry, também guardando os materiais.
— Vamos logo! Já vai tocar o sinal...
— Espera um pouco — pediu Rony, aumentando a letra no pergaminho.
— Depois você faz isso!
— Depois? Já viu quantos deveres temos?
— Isso é porque vocês deixam tudo para a última hora!
Os três foram correndo beliscar o que restava do almoço e, assim que tocou a sineta, desceram até a beira da Floresta Proibida com Hermione para a aula de CMC.
Amber não tinha nada contra a professora Grubbly-Plank, ela era extremamente justa quanto aos pontos dados a cada aluno por uma resposta correta e ensinava bem, mas sempre que perguntavam sobre Hagrid a professora era extremamente desagradável.
***
Amber passou o resto da tarde sem dirigir a palavra a Hermione. O motivo?
Eles tinham acabado de sair da aula de CMC: Harry estava visivelmente irritado e seu temperamento parecia estar refletindo em Amber, mesmo que ela escondesse melhor.
Assim que se aproximaram das estufas para a aula de Herbology, a porta se abriu e Ginny e Sarah saíram, juntas com outros alunos do 4º ano. Amber não conseguiu evitar gargalhar com a aparência de Sarah (ela parecia ter saído de uma guerra civil), assim como Rony, Hermione olhou reprovadora para ela e Harry tentou esconder o riso.
— Oi — disse Ginny para eles, como se a aparência da melhor amiga fosse completamente normal, mas seu rosto provava que ela já tinha rido muito dentro da estufa, assim como os outros colegas de turma.
— Mais uma detenção? — arriscou Amber.
Sarah ergueu os polegares, sorrindo abertamente. Ginny revirou os olhos, divertida, e puxou a amiga pelo braço, juntas se afastaram.
Depois, Luna se aproximou deles e disse que acreditava em Harry. Então, Hermione agiu completamente grosseira com ela.
— Não precisava ter sido grosseira com ela — disse Amber, furiosa.
— Fala sério! Harry consegue um apoio melhor do que... — começou Hermione, incrédula.
— Pois saiba, Granger — continuou, com a voz mais alta — Que Luna é minha amiga e não vou admitir que fale dessa maneira com ela. Estamos entendidas?
E, antes que uma Hermione chocada pudesse responder, ela deu as costas para ela e seguiu para onde a professora Sprout se encontrava, sob os olhares da maioria dos seus colegas de classe.
Harry também se irritou um pouco com Hermione, mas não da mesma forma que ela. Afinal, ele não conhecia Luna, apenas tinham se sentado na mesma carruagem e visto um animal que ninguém mais podia ver.
Amber não a defendia apenas por ser amiga da Ginny, mas, o pouco tempo que passaram juntas, Luna provou ser uma ótima pessoa. Ela já havia presenciado bastantes zombações no colégio trouxa e sempre odiou esse tipo de comportamento infantil. Qual era o problema de ser diferente?
Por estes motivos, voltou a se sentar com Sarah e Ginny na hora do jantar.
— Pensei que tinha parado de dar gelo no Harry — disse Sarah.
— Estou dando gelo na Hermione — respondeu Amber, secamente.
— Daqui a pouco você vai dar gelo na metade do mundo...
— Qual será a minha detenção?
— Provavelmente, o Snape vai mandar você organizar ou limpar alguma coisa na sala dele. Aparentemente, os alunos são os faxineiros dele...
— Eu não sei se iria preferir ter detenção com o Snape ou com a Umbridge... — disse Ginny, falando pela primeira vez desde o começo do jantar.
— Eu prefiro o Snape — disse Amber, olhando para a mesa dos professores — Tenho a sensação de que a Umbridge é bem pior do que parece...
— Estranho. Pensei que Snape tinha ido para alguma missão da ordem, já que não estava aqui no café da manhã — sussurrou Sarah.
— Já é esquisito eu ter levado detenção do professor Snape, seria mais ainda se ele não estivesse lá para aplicar.
— É, ele é igual o Filch. Adora ver os alunos limpando as coisas — disse Ginny.
Quando o relógio de Amber marcou 16:50, ela se despediu das amigas.
— Eu adoraria saber como é que o relógio dela funciona aqui — foi a última coisa que ela ouviu Ginny dizer, antes de se afastar completamente das duas, em direção às masmorras.
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