Capitulo 9



Capitulo 9

                                                    XXX--XXX

 


Hermione olhou para o telefone mudo por diversos momentos silenciosos. Como conseguira transformar a situação naquele caos com algumas sentenças incompletas? Não queria que ele fosse lá. Nunca mais queria vê-lo. Isso é mentira.


 


Cuidadosamente, pôs o telefone no gancho. Eu quero vê-lo, admitiu, tenho desejado isso há dias. Apenas que estou com medo de vê-lo. Virando-se, olhou cegamen­te ao redor da cozinha. O cômodo estava quase na completa escuridão agora. A mesa e a cadeira eram sombras escuras. Ela andou até o interruptor, evitando obstáculos com o conhecimento de anos. O ambiente se iluminou. Assim está melhor, pensou, se sentindo mais segura na luz artificial. Café, decidiu, precisando de algo, qualquer coisa, para ocupar as mãos. Farei um café fresco.


 


Hermione pegou o coador e começou uma preparação passo a passo, mas seus nervos continuavam à flor da pele. Em alguns mo­mentos, esperava que estivesse calma nova­mente. Quando Harry chegasse, ela diria o que precisava, então eles se separariam.


 


O telefone tocou e ela tremeu de susto, quase derrubando a xícara que estava segu­rando. Censurando-se, pôs a xícara sobre a pia e atendeu.


 


— Olá, Hermione — soou a voz de Pop alegremente do outro lado da linha.


 


— Pop... você ainda está no parque? Que horas são?, perguntou a si mesma, distraída, e consultou o relógio de pulso.


 


— Foi por isso que telefonei. George passou por aqui. Jantaremos na cidade. Eu não queria que você ficasse preocupada.


 


— Não ficarei. — Hermione sorriu quando a tensão ao redor de sua cabeça foi um pouco aliviada. — Suponho que você e George têm muitas histórias de pescaria para trocar.


 


— Ele tem mais histórias do que eu, desde que se aposentou — declarou Pop. — Ei, por que você não vem até a cidade, querida? Nós a convidamos para jantar.


 


— Vocês dois só querem uma plateia — acusou ela e seu sorriso se aprofundou com a risada de Pop. — Mas passo esta noite, obrigada. Pelo que me lembro, sobrou um pouco de espaguete na gela­deira.


 


— Eu levarei sua sobremesa. — Aquele era um velho costume. Desde que Hermione podia lembrar, se Pop jantava sem ela, lhe trazia algum doce na volta. — O que você quer?


 


— Sorvete de frutas — decidiu ela ins­tantaneamente. — Divirta-se.


 


— Irei me divertir, querida. Não trabalhe até muito tarde.


 


Quando desligou o telefone, Hermione se perguntou por que não havia contado ao avô sobre a visita iminente de Harry. Por que não mencionara Jessica ou os incríveis planos que elas haviam feito? Isso terá de esperar até que possamos conversar, disse a si mesma. Realmente conversar. Somente assim, saberei como ele se sente de verdade... e como tudo isso irá afetá-lo.


 


Isso é provavelmente uma ideia ruim. Hermione começou a se preocupar, passando uma das mãos pelos cabelos em agitação. Como posso ir para Nova York e...


 


Seus pensamentos foram interrompidos pela luz brilhante dos faróis contra a janela da cozinha. Ela esforçou-se para se recompor, indo deliberadamente ao armário a fim de fechá-lo antes de se dirigir para a porta de tela.


 


Harry pisou no degrau da porta no mo­mento que ela alcançou a maçaneta. Por um instante, em silêncio, eles se estudaram através da tela. Hermione ouviu o suave bater das asas de traças na luz do lado de fora.


 


Finalmente, ele girou a maçaneta e abriu a porta. Após entrar e fechá-la calmamen­te, estendeu o braço para lhe tocar o ros­to. Sua mão permaneceu ali enquanto os olhos viajavam pelo rosto de Hermione.


 


— Sua voz soou triste ao telefone.


 


Hermione umedeceu os lábios.


 


— Não, não, estou bem. — Ela deu um passo atrás, de modo que a mão dele não tocasse mais sua pele. Lentamente, prendendo-lhe os olhos, Harry abaixou a mão.


 


— Desculpe-me ter perturbado você...


 


— Hermione, pare com isso. — A voz dele era calma e controlada. Hermione o olhou, um pouco perplexa, um pouco desesperada. — Pare de fugir de mim. Pare de se desculpar.


 


As mãos de Hermione se agitaram antes que pudesse controlar o movimento.


 


— Estou fazendo café — começou ela. — Estará pronto em um minuto. — Teria se virado para pegar xícaras e pires, mas ele segurou seu braço.


 


— Não vim aqui para tomar café. — A mão forte deslizou para baixo até lhe circular o pulso. A pulsação de Hermione vibrava contra os dedos de Harry.


 


— Harry, por favor, não torne isso mais difícil.


 


Alguma coisa brilhou nos olhos dele en­quanto ela observava. Então desapareceu, e sua mão foi liberada.


 


— Desculpe-me. Estou tendo dificuldade nas últimas duas semanas em lidar com o que aconteceu da última vez que a vi. — Ele enfiou as mãos nos bolsos. — Eu gostaria de compensar isso para você.


 


Hermione meneou a cabeça, perturbada pela gentileza na voz dele, e se virou para o pote de café.


 


— Não quer me perdoar, é isso?


 


A questão a fez virar-se de novo, os olhos confusos e angustiados.


 


— Não... quer dizer, sim, é claro.


 


— É claro que você não quer me perdo­ar? — Havia um pequeno sorriso nos olhos de Harry, e o charme estava ao redor da boca. Ela pôde se sentir desmoronando,


 


— Sim, é claro que o perdoo — corri­giu Hermione, e desta vez, virou-se realmen­te para o café. — Aquilo está esquecido.


 


Ele colocou as mãos sobre seus ombros, e ela saltou.


 


— Está? — Harry a girou até que estivessem frente a frente. O relance de humor nos olhos dele havia desaparecido. — Você parece não suportar meus toques. Não gosto de pensar que assusto você.


 


Ela fez um esforço consciente para relaxar sob as mãos másculas.


 


— Você não me assusta, Harry — mur­murou Hermione. — Você me confunde. Constantemente.


 


Ela viu a sobrancelha dele se arquear, como se estivesse considerando aquilo.


 


— Não tenho nenhuma intenção de confundir você. Sinto muito, Hermione.


 


— Sim. — Ela sorriu, reconhecendo a sinceridade simples. — Sei que você sente.


 


Ele a puxou para mais perto.


 


— Podemos nos beijar e fazer as pazes, então?


 


Hermione começou a protestar, mas a boca sensual já estava na sua, leve e gentil, fazendo seu coração disparar violentamente. Harry não fez nenhuma tentativa de apro­fundar o beijo, apenas mantendo as mãos leves sobre seus ombros. Contra todos os avisos da mente, ela relaxou contra o corpo forte, convidando-o a se apoderar de tudo que quisesse. Mas Harry não fez nada.


 


Ele a afastou, esperando até que Hermione abrisse os olhos antes de lhe tocar os cabelos. Sem falar, virou-se e andou até a janela. Hermione se esforçou para preencher o novo vazio.


 


— Eu queria falar com você sobre sua irmã. — Ela ocupou as mãos com o coador, agora barulhento. — Ou, mais preci­samente, sobre o motivo pelo qual Jessica me procurou.


 


Harry virou a cabeça, observando-a ser­vir café em duas xícaras. Foi até a geladeira e pegou o leite.


 


— Tudo bem. — Parando ao lado dela agora, despejou leite em uma das xícaras e, com o gesto afirmativo da cabeça de Hermione, na segunda.


 


— Por que não me contou que estava mandando meu trabalho para sua irmã?


 


— Achei melhor esperar até que tivesse a opinião dela. — Harry se sentou ao lado de Hermione e segurou a xícara com ambas as mãos. — Confio em minha irmã... E pensei que você confiaria mais na opinião de Jessica do que na minha. Fará a exposição? Jessica e eu não tivemos tempo de conver­sar antes de você ligar.


 


Hermione se movimentou na cadeira, estu­dou seu café, então o fitou diretamente.


 


— Ela é muito persuasiva. Eu estava concordando antes que me desse conta.


 


— Ótimo — disse Harry simplesmente e bebeu.


 


— Eu queria agradecer-lhe — continuou ela numa voz mais forte — por ter arranjado as coisas.


 


— Eu não arranjei nada — respondeu ele. — Jessica toma suas próprias decisões pessoais e profissionais. Apenas lhe enviei as esculturas para obter uma opinião.


 


— Então eu lhe agradeço por isso, por ter tido uma atitude que eu poderia nunca ter tomado por uma centena de razões, as quais me ocorreram cinco minutos depois que ela saiu daqui.


 


Harry deu de ombros.


 


— Tudo bem, se está determinada a ser grata.


 


— Estou — disse ela. — E estou com medo. Realmente apavorada com o pensamento de colocar meu trabalho numa exposição pública. — Hermione deu um suspiro trêmulo com a admissão. — Posso desprezar você quando tudo isso acabar e os críticos de arte acabarem com minha autoestima, então é melhor aceitar a gra­tidão agora.


 


Harry se aproximou, e o coração de Hermione disparou de alegria, tão certa estava de que ele a tomaria nos braços. Ele meramente lhe acariciou o rosto com as costas da mão.


 


— Quando estiver no auge do sucesso, pode me dar sua gratidão novamente. — Ele sorriu, e o mundo pareceu entrar em foco. Até aquele momento, não percebera o quanto tudo vinha sendo enfadonho sem Harry.


 


— Estou tão feliz por você ter vindo — sussurrou ela e, incapaz de resistir, passou as mãos ao redor dele, pressionando o rosto no ombro largo. Após um momen­to, Harry descansou as mãos de leve em sua cintura.


— Lamento pelas coisas que falei... sobre o empréstimo. Eu não penso assim realmente, mas digo coisas horríveis quando fico nervosa.


 


— Esta é a sua vez de ser penitente? Ele a fez rir.


 


— Sim. — Hermione sorriu e inclinou a cabeça para trás. Os braços permaneceram rodeando-o. Ele a beijou, então a afastou. Relutantemente, ela o deixou sair de seus braços. Harry se levantou silenciosamente, olhando-a.


 


— O que está fazendo? — perguntou ela com um sorriso.


 


— Memorizando seu rosto. Já comeu?


 


Hermione meneou a cabeça, perguntando-se por que se surpreendia que ele continu­asse a confundi-la.


 


— Não, eu ia esquentar algumas sobras. — inaceitável. Quer uma pizza?


 


— Mmm, eu adoraria, mas você tem companhia.


 


— Jessica e Rob levaram as crianças para jogar golfe em miniatura. Eles não sentirão minha falta. — Harry estendeu as duas mãos. — Vamos.


 


Os olhos dele estavam sorrindo, e o co­ração de Hermione foi derretido.


 


— Oh, espere — começou ela mesmo enquanto punha a mão nas dele. Rapida­mente, escreveu um recado para Pop no quadro-negro ao lado da porta de tela.


 


SAÍ COM HARRY


Era o suficiente.

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