Oitavo Capítulo
CAPÍTULO VIII
Embora o céu prenunciasse chuva, Harry não deu atenção. Muito menos, deu ouvidos aos alertas do casal anfitrião quanto a viagens ao interior do País de Gales. Corriam rumores de descontentamento popular, reclamações acerca dos dirigentes ingleses. Ignorando tudo isso, Harry deixou para trás uma boa comida, um ótimo vinho e o ambiente de um castelo amplo e confortável para pegar a estrada. Por quê? Nem ele sabia.
Agora, em vez de junto a uma luxuosa lareira, com uma taça na mão, alheio a tudo senão a seu próprio prazer tremia sob o aguaceiro. E o único motivo coerente era sua obsessão absurda por certa feiticeira. Os anfitriões alertaram-no sobre ela também, sempre de forma metafórica e indireta, claro. Recordaram velhas histórias sobre os Granger, que supostamente fugiram da Inglaterra para as terras distantes do País de Gales várias gerações antes para continuar suas estranhas práticas nas colinas remotas. Místicos, videntes, curandeiros... ou algo pior? Especulavam, enquanto Harry desdenhava. Claro, não acreditava naquelas bobagens.
Mas os anfitriões tiveram razão ao alertar sobre a chuva. Aparentemente, esta começara à frente, pois, quanto mais se embrenhavam, mais enlameadas as estradas ficavam. Era difícil avançar, mas onde se abrigariam? Não se via nada além de monumentos antigos e rochas maciças íngremes com picos nevados ao longe.
Puxando as rédeas, ele freou seu garanhão Hades e esperou até Hermione surgir no meio do comboio. Estava tão ensopada quanto ele, mas mantinha o semblante sério costumeiro. Harry não desperdiçou solidariedade. Não fora ela a pressionar para partirem naquela manhã, mais determinada do que nunca a seguir viagem sozinha, se não a atendessem? O motiva de ele ter concordado? Harry atribuía a seu cérebro abaixo da cintura.
— Tem certeza de que esta é a estrada? — gritou ele.
Ela assentiu e ele meneou a cabeça, descrente. Tinha pouca fé na memória de uma mulher que estava longe daquelas colinas desde pequena. Estreitando o olhar, esquadrinhou a área ao redor sob a garoa fina.
— Não passa de uma trilha de tropeiros, provavelmente usada para levar ovelhas ao mercado — opinou.
Hermione, claro, não respondeu. Evitava-o ao máximo, muitas vezes tomando a frente da comitiva, embora ele ordenasse mais de uma vez para que não fizesse isso.
Harry já tinha problemas demais sem ter que ir procurá-la eventualmente, e abominava o clima que não melhorava. Se Hermione era de fato a última de uma longa linhagem de bruxos, bem podia melhorar as condições de viagem.
— Não pode fazer parar? — provocou ele, enxugando o rosto, indicando o céu.
Foi recompensado com uma expressão surpresa, que ela rapidamente disfarçou.
— No País de Gales chove mais no inverno do que na primavera — explicou Hermione, totalmente composta.
— Não me diga — resmungou Harry, e imaginou se haveria mais alguma coisa importante que a moça não lhe contara, além da reputação bizarra da família. Arrepiou-se com a ideia, mas pôs de lado o receio ao ouvir um grito à frente. As carroças tinham atolado. De novo.
Harry praguejou baixinho enquanto fazia Hades se aproximar do local. Só queria uma bebida, mas, mesmo assim, desmontou, entregou a montaria a um ajudante e se uniu aos demais nos esforços para desatolar os veículos da lama.
Mas não adiantou. Embora a chuva diminuísse, o solo continuava escorregadio. Harry desconfiava de que o irmão Ronald teria levantado cada veículo com um dedo, de repente ciente de sua total inépcia, além de uma sede terrível. Finalmente, desistiu de deslocar a carroça à frente.
— Basta! — Rugindo de raiva, ordenou aos homens que transferissem o essencial para as montarias.
Rapidamente, os criados começaram a carregar os cavalos com esteiras e alimentos, pois todos no comboio estavam ansiosos para se livrar de tudo o que poderia atolar no caminho. Todos, exceto Hermione. Embora aceitasse transportar alguns itens em seus alforjes, não se esforçou para esconder a contrariedade. Como sempre. Ante o olhar severo, Harry só ergueu a sobrancelha, concentrado em avaliar sua figura, sem dúvida aprovando a forma como a capa molhada se moldava ao corpo esguio. Demonstrando indignação, Hermione conduziu o cavalo num passo mais ligeiro, como que fugindo dele. Com irritação, Harry a alcançou e segurou pelo braço.
— Pare de me acariciar! — protestou ela, furiosa.
— Quando eu começar a acariciá-la, você saberá — replicou Harry, lutando contra o impulso de passar da ameaça à ação. A chuva cessara, mas Hermione ainda estava molhada e a visão de sua pele brilhante e das roupas coladas ao corpo o excitava. Controlou-se. — Agora, volte. Já lhe disse para ficar perto dos homens.
— Como se recusou a mandar um batedor, eu mesma farei o reconhecimento da trilha — decidiu Hermione. Mas algo surgiu em seu olhar. Medo? Pânico?
Harry piscou incrédulo. Não conseguia imaginar a sóbria Hermione com medo de alguma coisa. Como o duque, ela parecia estar acima dessas falhas mortais. Na verdade, a única coisa que a tornava humana era a paixão que ele descobrira. Era isso o que a fazia fugir dele? Ou seria outra coisa? Ainda desconfiava de que havia um motivo para a pressa, mas ela mantinha os segredos bem guardados. Muitos segredos...
Harry estreitou o olhar com a ideia.
— Você não vai a lugar algum — decretou. — Por mais que despreze a tarefa, meu pai ordenou que eu a escoltasse e isso significa assegurar que chegue ao destino inteira. Depois disso, você poderá vagar pelo país o quanto quiser, tentando se matar.
Hermione lhe lançou aquele olhar desdenhoso, como se duvidasse de sua capacidade de liderar o comboio ou de mantê-la a salvo. Harry enrijeceu o maxilar: em resposta.
— Batedores são treinados para explorar, para encontrar rotas e para se manterem ocultos dos inimigos.
Ele fez pausa para apreciar suas belas formas femininas mais uma vez, até empalidecer com o escrutínio. Então, talvez fosse ele o que ela temia. Tanto melhor, pensou, curvando os lábios.
— Não vejo espada ou malha sobre essas vestes lamentáveis de que você gosta. Como espera matar um cão selvagem se for atacada? — questionou. — E quanto aos rumores de revolta? Homens maus não pararão para perguntar qual a sua ancestralidade ou fidelidade, principalmente se forem um bando de salteadores, determinados a roubar e matar. Talvez até desconfiem de que é uma moça, embora, admito, seja difícil discernir, e duvido de que vá achar o trato deles tão agradável quanto o meu.
Furiosa, Hermione tentou se desvencilhar, mas Harry avançou com Hades. Contrariando qualquer lógica, sentiu vontade de puxá-la para seu colo, retirar-lhe aquela touca pavorosa, soltar-lhe os cabelos e tomá-la num beijo úmido, hábil e ardente.
Hermione deve ter visto o brilho em seu olhar, pois se soltou com um protesto áspero e conduziu o cavalo para longe dele. Observando-a, Harry respirou fundo e tentou controlar o desejo que parecia dominá-lo de forma inconveniente e exigente naqueles dias. Levou alguns instantes para subjugar as necessidades do corpo, enquanto Hermione afastava-se. Quando ele finalmente se viu sob controle, Hermione já desaparecera além da colina.
Harry praguejou baixinho. Poucos metros atrás, os homens ainda transferiam o restante dos mantimentos das carroças atoladas para as montarias, e ele de repente sentiu o cansaço dominar seu corpo. Desejou tanto ter bebida à mão que até sentiu o gosto do vinho. Hesitou, com água na boca, ao ver os cantis especiais de vinho sendo transportados. Podia aproveitar e pegar um deles para lhe fazer companhia durante a cavalgada...
Voltando-se novamente na direção que Hermione tomara, franziu o cenho. Devia deixar seu fardo recalcitrante ver por si mesma o quanto era perigoso se aventurar sozinha por aquelas estradas. Talvez, então, ela valorizasse mais seus esforços em escoltá-la. Infelizmente, duvidava de que algo pudesse resgatar sua lamentável imagem diante daqueles magníficos olhos castanhos. Mas Hermione corria riscos, de morte, inclusive. Se algo lhe acontecesse, o que diria a seu pai? Por mais irritante que a considerasse, não queria que nada de mal lhe acontecesse. Muito bem, talvez devesse esclarecer isso, nada que ele mesmo não faria a ela.
As ameaças de que ele lhe falara eram reais, bem como a possibilidade de ela machucar a montaria cavalgando por aquele terreno. Vagamente, estava ciente do som de água corrente, e sua preocupação redobrou. Podia ser apenas um rio o que ouvia, mas chuvas como as que enfrentavam às vezes destruíam estradas e já ouvira histórias sobre homens, cavalos e carroças sendo arrastados.
Embora pedras grandes sempre marcassem o caminho numa região desolada como aquela, a neve e as cheias podiam fechar qualquer estrada, dificultando discernir a trilha. Também já ouvira histórias sobre pontes inteiras que se romperam sob a força de águas violentas e, até então, a estação se revelava uma das piores de que se tinha notícia. De repente, tomado por um pressentimento, Harry incitou Hades avante.
Quando chegou ao topo da colina, viu que sua ansiedade não fora em vão. Um rio que poderia ser um fio de água no verão naquele momento era uma torrente de neve derretida com pedaços de gelo. O caudal, talvez alimentado pelas águas recolhidas de montanhas distantes, arrastava arbustos e galhos das margens, que colidiam contra a ponte.
Algumas peças de rocha já haviam se deslocado e seguiam com o fluxo a jusante.
Onde estava Hermione? Estreitando o olhar, Harry praguejou novamente, mais alto, ao ver a figura solitária debruçada sobre o cavalo. Embora o animal corajosamente tentasse manter-se na superfície escorregadia da ponte, era assolado por todos os lados pela água e outros itens. Se a rapariga idiota não fosse atingida por algum material, poderia ser varrida pôr um banho de água mais forte.
O coração disparou e Harry levou a mão em concha à boca para gritar um alerta, mas não foi ouvido devido ao barulho das águas. Só podia observar, tomado de horror, quando um tronco maciço ergueu-se, seguindo direto para cima de Hermione. Gritou de novo quando o tronco de repente afundou e bateu no arco da ponte, rompendo-se com força impressionante.
A cena colocou Harry em ação. Com um brado que lembrava os gritos de batalha dos irmãos, ele conduziu Hades até a ponte. Aparentemente com mais juízo que Hermione, o garanhão estacou junto ao rio, mas finalmente obedeceu, torcendo a cabeça em desacordo enquanto combatia as águas que ameaçavam varrê-los de cima da ponte. Harry incitou o cavalo na direção de Hermione que escorregava pela inclinação até a outra margem.
E Hades foi rápido, os cascos pesados proporcionando mais firmeza do que o outro cavalo. Na verdade, foi como se voassem sobre a superfície escorregadia da ponte num piscar de olhos, rápido demais para Harry notar algo além da estrutura de blocos de pedra... até ficar ciente do estrondo. Acima do barulho das águas e das colisões de arbustos e galhos contra a ponte, ouviu-se o som aterrorizante de pedras separando-se dos apoios, bem como a sensação de terremoto, como se a terra abaixo deles se erguesse... e desaparecesse.
Com o medo permeando seu ser, Harry incitou Hades para frente, enquanto o animal buscava apoio. Num piscar de olhos, viram-se ao lado de Hermione. Harry esticou-se, agarrou-a pelo braço, tirou-a da sela e instalou-a no colo enquanto o garanhão praticamente voava sobre o último trecho em declive, até a terra firme. Mantendo a velocidade, o animal prosseguiu pela trilha enlameada, enquanto o barulho ensurdecedor dizia a Harry que haviam escapado por pouco com vida.
Finalmente, Hades diminuiu o passo, até parar junto a um bosque. Ofegante, Harry olhou por sobre o ombro e viu o cavalo de Hermione, incentivado pelo garanhão a galopar e escapar, pastando não muito longe. Mas, atrás da montaria de Hermione, uma cena o deixou horrorizado. A ponte que haviam cruzado desaparecera. Desaparecera completamente. Somente os apoios em cada margem pareciam intactos. O restante da estrutura de pedra maciça fora arrastada pela torrente, como se não passasse de uma pena sobre a água.
Harry estremeceu quando a noção exata do perigo tornou-se clara. Treinara para a batalha com exercícios pesados e perigosos e até lutara contra os inimigos dos irmãos, mas estes caçoavam ao vê-lo sair sempre sem um arranhão em sua forma perfeita. Nunca antes chegara tão perto de perder a vida e, de repente, o fato melancólico e triste tornou-se precioso.
Com a percepção, Harry voltou à atenção a Hermione. Apesar de tudo, estava vivo e ela também. O terror que o assolara cedera, substituído por uma onda intensa de alívio que o fez arrancar-lhe da cabeça a touca horrorosa. Enquanto ela o fitava, pálida e com os olhos arregalados, ele lhe tomou o rosto nas mãos e exigiu sua boca, num ato feroz de possessão.
Harry sentiu o leve sobressalto e, então, a resposta, quente, ardente e quase tão agressiva quanto a sua. Com um gemido rouco, intensificou o beijo, envolvendo-a com um braço, puxando-a contra si. Apesar das anáguas e saias e da posição desajeitada dela em seu colo, Harry sentiu a pressão das formas flexíveis contra si e quis gritar e gemer com uma excitação tão poderosa como há muito não sentia.
Teriam continuado naquela troca selvagem, incapazes de fazer algo mais, e desinteressados em fazer menos, não fosse por Hades. O animal rebelde movimentou-se e, finalmente, os dois se separaram e encararam-se, ofegantes. O pessoal do comboio os chamava cada vez mais próximos, mas Harry não dava atenção. Tragado pelas profundezas castanhas, sentia-se afogar, como se houvesse sucumbido ao caudal, com a ponte. A vida que conhecia parecia ser varrida, enquanto se sentia sugar por um turbilhão. Seu mundo se desfazia, sua própria essência se transformava em algo novo e assustador, mas mesmo assim...
Trêmulo, Harry desviou o olhar quando Hades deu alguns passos. Dois homens se aproximaram, estacando quando viram a ponte perdida. Vestidos de forma simples pareciam camponeses ou aldeões e murmuravam rezas e imprecações contra a fúria do rio. Acompanhando os olhares, Harry reavaliou a destruição, bem como seus soldados na outra margem que gritavam em vão, pois não se ouvia nada ante o barulho da corredeira.
Harry prendeu a respiração subitamente quando se deu conta da importância da situação. Os soldados não podiam alcançá-lo, nem ele podia se reunir à companhia. Ele e Hermione estavam isolados, a menos que houvesse outra forma de cruzar o rio. Olhando para os dois camponeses, chamou-os.
— Vocês aí!
O mais alto assentiu, como se se lembrasse da presença dos estranhos.
— Sim, senhor? Os senhores estão bem? --- Com a pergunta, Harry sentiu um novo estremecimento, e só com esforço evitou que a sensação o dominasse antes que Hermione, ainda em seus braços, pudesse perceber.
— Não nos ferimos, mas nos separamos de nosso comboio. Há outra ponde que possamos cruzar? Estamos indo na direção norte.
O camarada negou.
— Não, senhor. Por aqui, não. Talvez ao sul. --- O patrício deu de ombros, com descaso, enquanto Harry ouvia incrédulo. De repente, teve vontade de rir das expressões dos homens que o fitavam com seriedade.
Claro que não havia outra ponte. Era só o que faltava para completar aquela jornada infernal! Por um segundo, Harry sentiu-se perdido e automaticamente imaginou o que seus irmãos fariam. Sem eles, sentia como nunca suas grandes limitações. Se pelo menos Ronald estivesse ali, com certeza o guerreiro famoso criaria asas e voaria até seus homens! Harry sentiu novo acesso de riso, porém se conteve, pois aqueles simplórios podiam pensar que o fidalgo enlouquecera. Mesmo que pensassem, que importava? Talvez estivesse mesmo enlouquecendo. Se não morresse de sede antes.
A necessidade urgente de uma bebida abateu-se com tanta violência que Harry sobressaltou-se. Horrorizado, percebeu que seu estoque de vinho estava na outra margem, com o resto do comboio. Hades trazia uma esteira e algum alimento, bem como seus pertences pessoais, mas nada de bebida, exceto um cantil de água. E uma rápida olhada em torno não revelou sinais de hospitalidade.
Lutando contra a sensação de pânico, Harry tentou se concentrar na próxima ação. Mantendo o garanhão parado com um movimento inconsciente de coxas, não via escolha.
— Bem, acho que teremos que nos encontrar em Llandeilo — concluiu, embora não soubesse quanto ao sul a tal cidade se localizava.
Mal ele acabara de se pronunciar, a mulher em seu colo ficou irrequieta.
— Não pode estar querendo voltar quando estamos tão perto! — protestou Hermione.
— Tão perto? — repetiu Harry. — Não vejo nada aqui, a não ser um lugar ermo. Quantos quilômetros? Horas ou dias?
Ela lhe lançou aquele olhar e Harry enrijeceu o maxilar.
— Um dia de jornada, talvez mais, com esse tempo — informou Hermione. — Mas, com certeza, até o senhor vê que...
— Cuidado — murmurou Harry, franzindo o cenho. — Ou posso me esquecer de que acabo de salvar a sua pele.
Hermione empalideceu e contraiu os lábios. Por um instante, ele temeu que ela argumentasse. Muito bem, talvez ela tivesse conseguido atravessar a ponte antes que ruísse, sem a ajuda dele, mas então estaria isolada ali, à mercê daqueles dois camaradas e talvez algo pior. A mulher devia se sentir grata, em vez de rude. Ora, ela devia...
Harry interrompeu os pensamentos quando ela franziu o cenho. Hermione desviou o olhar, como que recuperando a compostura e, então, para seu eterno espanto, a expressão se desfez e ela lhe agarrou o braço.
— Por favor, Harry. Estamos tão perto. Eu juro!
Não meu senhor, mas Harry. Embora se considerasse imune aos artifícios femininos, Harry vacilou, pois não se tratava de um pedido arrogante,
Numa solicitação dissimulada. A sóbria e rígida Hermione praticamente lhe implorava. Tudo bem, talvez não fosse o tipo de súplica que ele sempre desejara da parte dela, mas com certeza progredia em relação ao comportamento usual.
E, se estavam tão perto quanto ela dizia, haveria abrigo decente à frente, com vinho, comida e uma cama aconchegante... Harry não deixou seus pensamentos vagarem longe naquela direção. Mesmo assim, se fossem até Liandeilo para juntar-se ao comboio, mais que dobrariam a jornada para chegar a casa dela. E para quê? De qualquer forma, viajariam sozinhos e sem apoio, a maior parte do tempo. Embora Harry tivesse um saudável respeito pela própria pele para temer os perigos inerentes, não negava a súbita excitação de pensar em Hermione dependente somente dele.
— Muito bem — concordou, curvando os lábios. Então, voltou-se para os homens que aguardavam em silêncio na outra margem. Após uma série de gesticulações, baixou Hermione ao chão, desmontou, pegou uma pedra e arranhou uma rocha.
“Vão para casa”, escreveu ele, apesar do aperto no peito com a ordem. Embora pudesse mandá-los esperar em Llandeilo, Harry não fazia ideia do tempo que levaria para levar Hermione ao castelo de seu pai. E sempre havia a possibilidade de ele encontrar outra rota para voltar a Hogwarts, uma que não o obrigasse a se desviar tanto para o sul. Naturalmente, sem eles, teria de voltar para casa sozinho, uma perspectiva desencorajadora, mas também podia contratar alguns soldados para acompanhá-lo. Enquanto isso, não fazia sentido mandar o pessoal vagar por ali, principalmente se havia mais enchentes a jusante.
Seguro, Harry largou a pedra, sabendo que pelo menos alguém, sabia ler. Quando teve certeza de que haviam entendido a mensagem e cumpririam a ordem, voltou-se para Hermione, que, para variar, parecia satisfeita com a decisão. O aspecto familiar de raiva desaparecera do belo semblante. Apesar da expressão impassível, ela parecia nervosa e tensa. Como deveria, pensou Harry sentindo triunfo. Não disporia de servas para ajudá-la e protegê-la, nem de homens ao redor para salvá-la, caso as provocações dele levassem a atividades mais divertidas. Ela estava à sua mercê, e Harry tentou não sorrir convencido.
Mas logo ficou claro que, apesar da tensão aparente, Hermione não era frágil. Ela ergueu o queixo, endireitou os ombros e o encarou.
— Obrigada — murmurou, simplesmente, mas com sinceridade.
Embora, após o que tinham passado, preferisse uma maneira mais efusiva de gratidão, Harry aceitou o que lhe era oferecido.
Deu de ombros, de repente, ciente dos motivos ocultos que influenciaram sua decisão. Embora não se importasse com o desdém daquela mulher, tampouco nutria alguma admiração inconveniente por ela. Não era igual aos irmãos, cobertos de honra e glória. Voltando-se, observou os homens e suprimentos desaparecerem no topo da colina além do rio caudaloso.
Então, lembrando-se da sede implacável, voltou-se para os camponeses, que ainda estavam por ali, pasmos com o acontecido.
— Há alguma pousada por perto? --- Quando o mais baixo fitou-o como se estivesse doido, Harry reprimiu um grunhido de frustração.
— Uma cervejaria, então? — apelou. Mas os dois só se entreolharam mais uma vez, e Harry sentiu o pânico crescer com a sede. Com certeza, devia haver uma taça de vinho em algum lugar naquela terra esquecida!
— O senhor das terras. Onde ele fica? — indagou Harry.
Os camponeses apontaram para a trilha e Harry exalou um suspiro, antevendo um fogo aconchegante, um salão, um anfitrião agradável e vinho circulando generosamente. Ficaria bem, pensou o sorriso convencido transparecendo. Se chegassem ao castelo do senhor daquelas terras, tudo ficaria bem.
Olá galera...
Desculpe a demora!!
Espero que gostem
bjsss
Comentem!!!
Comentários (2)
Eu tenho uma curiosidade enorme sobre a Hermione. Quanto ao Harry bem que em algum momento vc possa presentea-lo com uma Hermione dançando um ritmo cigano bem sensual. Acho que ela surpreendera ele.
2013-09-20Perfeitoooooo....o romance ta ficando bom :D
2013-09-20