Tempestades... Estilhaçada.




"Amor é quando é concedido participar um pouco mais. Poucos querem o amor, porque amor é a grande desilusão de tudo o mais. E poucos suportam perder todas as outras ilusões" - Clarice Lispector, "A imitação da rosa‎" - Página 12.



Será que tudo o que eu vivi ao lado dele teve pelo menos um fundo de verdade? Será que eu não fui o suficiente? Não fui boa o bastante?, pergunto a mim mesma com uma dor profunda em meu coração, amarga. Clássico, não é? Perguntas, perguntas, e mais perguntas. Acho que não sei fazer nada além disso, é tudo o que eu tenho, suposições. Apenas suposições. Arg! Tudo é tão confuso. Tão complexo. Tão doloroso. E o pior de tudo é que ele é o culpado: Harry Potter. Será que ele não sente remorso? É, parece que não.


Tantos sonhos, tantos planos, tantas esperanças. Tudo arruinado. E o que restou de mim? Nada, admito, estou despedaçada. Agora sou apenas mero fantasma da Hermioneantiga, que não existe mais. Há! Nem sei quem sou mais. Estou quebrada, e nada posso fazer para me concertar. Ou posso? É por isso que estou aqui?


O céu tem um ar triste e melancólico. As nuvens carregadas cobrem a visão que tenho das estrelas, mas ainda sim posso ver a lua cheia em alta, mostrando todo o seu esplendor.


Inclino minha cabeça para trás, tentando ter segundos de paz e tranquilidade, mesmo sabendo que não é a hora nem o lugar para tal ato. A luz do luar bate em meu rosto deixando-me mais pálida do que já estou. Entorto a minha boca, e por um momento sei que estou sorrindo, mas então ele se esvai, deixando somente seu rastro invisível para trás. Mal sabia eu que este sorriso era cheio de um sentimento que desconhecia. O que será?


Fecho meus olhos e por um momento aproveito o luar que parece fazer leves caricias em meu rosto, compadecendo ao meu sofrimento. Dou passos um tanto vacilantes, admito, sempre avante, nunca olhando para trás. Sinto minhas pernas bambas, sei que posso desabar a qualquer momento e a insegurança corre em minhas veias. Será que eu consigo?


Olho para a casa dos gritos que está, lá longe, parada no mesmo lugar desde a última vez que há vi, meu  amargo e previsível  destino. Tão longe, mas ao mesmo tempo tão perto. Uma rajada de vento vem em minha direção, bagunçando levemente meus cachos já desgrenhados, e, infelizmente, trazendo o frio consigo. Aperto meu casaco contra minha pele a fim de me esquentar. Tentativa mal sucedida. O frio não faz a mínima questão de ir embora, e o meu casaco já não é o suficiente para esquentar-me. Quando tudo se tornou tão frio?


Continuo a andar sem realmente ver o que está a minha volta, perdida em meio aqueles pensamentos covardes e confusos.


‘‘Tem varias definições. Este é impulsivo, muito usado como objeto para se obter controle. Bastante destrutivo e perigoso. Ele faz você perder o dom da escolha, te leva para o caminho mais sombrio, e na maioria das vezes acontece por culpa sua, por um erro seu. Faz você perder a melhor chance de sua vida, mexe com o seu psicológico. Traz insegurança, fragilidade, tristeza, e indecisão. Te impede de fazer o que mais quer, e o único jeito de enfrentá-lo é com uma dose enorme de coragem e determinação. Ele é um monstro, que vem acompanhado de seus piores pesadelos e de grandes decepções. Cuidado, 4 palavras, grande significado. Medo.’’


Admito, estou com medo. Medo do que eu irei encontrar dentro daquela casa, medo de me machucar, medo de sofrer, medo de enfrentar a realidade. Sei que ainda nutro sentimentos pelo Harry, sei que fiquei muito magoada com ele, mas como posso fazer esse sentimento idiota sumir? Ainda não descobri uma saída para o meu problema, mas descobrirei alguma hora, talvez...


Eu ainda gosto de pensar que tudo não passa de um pesadelo, mesmo não sendo. Quando eu passar pela porta daquela casa tudo vai se tornar mais real. Tudo vai acabar definitivamente, meus sonhos, minhas esperanças, e talvez, com sorte, o meu amor. Todas as minhas vãs esperanças de que seja um pesadelo em vez da realidade vão desaparecer. Será que eu realmente quero isso?


Tenho medo do que verei assim que passar por aquela porta, tenho suposições do que irá acontecer lá dentro, e todas elas irão me magoar. Verei através da dor a mais pura realidade, e eu me pergunto: será que quero realmente a realidade?


Por mais que eu lute contra, sei que há aquele lado bom – e idiota – meu que ainda pensa que tudo é mentira, que entra em conflito com a realidade que estou vivendo, que ainda diz que há um fundo de bondade em tudo, inclusive neles. Sei que é mentira, sei que é apenas mais uma ilusão, mas como evitar? Não posso apagar de um dia para o outro as lembranças boas que vivemos: o dia em que Harry me pediu em namoro, eu correndo atrás do Rony mais uma vez porque ele roubou os meus livros, os conselhos da Gina, e vários outros. Como ignorar lembranças tão boas?


Tenho medo do que irei enfrentar daqui por diante... Será que consigo?


‘‘ É a mais forte e vil decepção que existe. É quando os seus sonhos vão por água abaixo da pior forma possível. Por várias vezes te deixa sem chão, mas com o tempo, talvez, te fortaleça. O desencantamento decorrente de uma experiência bastante negativa e, ao mesmo tempo, profunda. Ocorre quando nos enganamos sobre algo ou alguém, que em um momento qualquer, acreditamos. Há explicações diversas para essa única palavra em vários lugares espalhados pelo mundo, inclusive em poemas, livros e afins. Cada um com uma opinião diferente deste sentimento tão aberto porém enigmático, mas que sempre levam a um único fim. Que fim? Você terá que descobrir. Desilusão.’’


Cada vez mais perto daquela maldita casa, e cada vez mais longe ao mesmo tempo. Tão contraditórios, tão paradoxo são os sentimentos, não é? Cada fibra do meu ser me manda ir embora daqui, sumir por uns tempos, mas alguma coisa desconhecida me manda seguir em frente, enfrentar tudo de cabeça erguida. Não sei por que estou aqui, não sei porque estou me aventurando no desconhecido, e realmente não sei porque continuo andando em direção à aquela maldita casa, mas aqui estou eu, não é?


A cada passo que dou, olhando sem realmente ver nada que não fosse aquela casa de aparência decadente no final da rua, parece ser a meu último, não por fraqueza, e sim por indecisão. Vacilante, vi, com grande curiosidade, uma estonteante mulher de lindos cachos loiros e olhos azuis jogada no chão frívolo e sem vida de uma calçada qualquer como se não fosse nada além de lixo, em frente a um bar que não me dei o trabalho de decorar o nome. Ela chamou minha atenção, e logo percebi seu estado, tanto pelo riso estérico e totalmente bêbado da mesma, quanto pela garrafa de alguma bebida desconhecida por mim em sua mão. Totalmente bêbada. Chego mais perto da tal loira, decidida a perguntar o porquê de seu estado decadente. Ela falava frases desconexas como ‘‘ ele me deixou... Irc... Ficou com aquela vagabunda... Enganada... Idiota... Irc… Traída’’. Percebi de imediato a sua situação, que, por coincidência, era até um pouco parecida com a minha. Traída pelo marido ou namorado, clássico, não?


Me imaginei no lugar dela, vestindo um lindo vestido verde oliva, jogada na calçada e afogando as mágoas na bebida, dizendo para quem quiser ouvir que foi traída, desiludida. Senti uma certa conexão com aquela mulher risonha por culpa da bebida, mas também senti repúdio. Nós estávamos na mesma situação, fomos traídas por alguém que prometeu nos dar o mundo sem dizer uma única palavra, apenas com gestos gentis e românticos, nos levou ao céu e depois nos jogou no inferno. Fomos magoadas e decepcionadas. Entendo sua atitude, mas acho que nunca iria me deixar se abater ao ponto de tentar afogar a dor na bebida. Desiludida, sim, mas mostrar minha fragilidade, nunca. Nunca agiria que nem ela, e por isso somos tão diferentes.


Balancei a cabeça em sinal de reprovação e ao mesmo tempo compreensão, dando um sorriso triste a jovem mulher, e continuei meu caminho, mas uma vez perdida em minhas emoções e pensamentos. Queria ajuda-la, mas sua escolha foi ficar naquela calçada, o que posso fazer?


‘‘Termo utilizado para definir extrema desordem ou contrariedade de pensamentos. Mais utilizado quando há situações caóticas. Normalmente acontece quando nós não sabemos de algo, quando não há concentração, ou quando há alguma coisa estranha acontecendo a seu redor. Há sintomas como curiosidade, perdição, e desespero, em casos raros. É uma simples palavra que não causa mal, apenas um pequeno incomodo, mas cuidado, se a situação se agravar, misturada a outros sentimentos, pode ter efeitos destruidores. Confusão.’’


Paro em frente a Casa dos Gritos, e, confusa, me pergunto como cheguei aqui tão rápido. Começo a estremecer e, levada pelo medo, me pergunto se aqui é realmente onde quero estar.


Suspiro, olhando o longínquo, através das paredes daquela casa horrenda.


Medo e confusão não são uma boa mistura, afirmo com imensa ironia enquanto os pelos de minha nunca se eriçam. Não por frio, sim por algo desconhecido por mim até agora. Na verdade, percebo neste momento, muitas coisas são desconhecidas por mim, e ainda me chamam de sabe-tudo, que ironia!


Olho para a porta, pensativa. Tudo o que estava entre mim e aquela porta somente eram alguns degraus feitos de madeira escura, agora podre, assim como a maioria da casa. Tentando aguçar minha visão, vejo algo diferente. Que estranho! Por que a Casa dos Gritos tem um aura cinza em volta de si? Será algum feitiço?


Franzindo o cenho, fecho os olhos, tentando sentir em vez de olhar o diferencial daquela casa mal-assombrada. Sinto algo adentrando meus poros lentamente e me regozijando por dentro. Magia, percebo logo de cara. Mas não qualquer magia, esta é diferente, especial. Sinto o seu poder e é maior do que tudo que já senti antes. Fico surpresa com a minha constatação, mas não posso evitar de ficar encantada. É tão forte, tão bruta e pura, tão amedrontadora, tão única. A casa exalava magia, mas, pelo que eu podia sentir, não era própria. A magia que está exalando da casa é algo que vem de dentro, não de qualquer pessoa, mas vinda de algum objeto, para mim, desconhecido. Não é de nada que eu conheça, e isso me assusta. Seu poder é enorme, posso sentir de longe, o que poderia fazer este objeto em mãos erradas? Sem pensar, assustada por tamanha magia, dou um passo para trás. Então, de repente, a imagem de um pequeno colar toma forma em minha mente.


‘‘Ato de permanecer firme num objetivo. Ato de perseguir seus ideais, o que é importante a você, suas certezas na vida. Condição mental de superar a frustração e continuar perseguindo o objetivo a que se propuseram. Palavra grande, de grande e, na maioria das vezes, bom significado. Determinação.’’


Vejo uma trovoada cair, iluminando os céus e causando um estrondo tão alto que me faz pular no lugar. É tão de repente que não tenho como não me assustar. Dou outro passo para trás, esquecendo minha curiosidade momentânea pelo poder estranho, assustada. O céu que já estava escuro, se transformou em um cinza azulado denso e misterioso. A lua ainda estava a vista, tornando este espetáculo da natureza ainda mais belo de ser visto. Vejo outro raio cair, iluminando o cinza azulado do céu, me fazendo estremecer. Apesar de ter superado o meu medo quando criança, ainda sentia um incomodo quando ouvia aquele estrondo causado pela queda dos raios. Eles me davam breves recordações de minha infância, coisas que eu não conseguia entender ou me lembrar, isso me frustrava.


Finas gotas parecendo cristais de tão límpidas começaram a cair lentamente do céu. Logo a chuva se tornou intensa, me molhando por completa. Relâmpagos eram constantes no céu. Uma eminente tempestade. O frio aumentou e a única coisa que ainda me trazia algum calor era o casaco, agora pesado e molhado, que estava protegendo o meu corpo.


Tremendo de frio, finalmente tomo alguma atitude quando sinto o frio congelando os meus ossos. Em vez de correr em direção a casa procurando algum abrigo, como toda a pessoa normal deveria fazer, comecei a andar em direção a uma árvore qualquer que havia visto por alto perto da casa. Senti as finas gotas em minha pele e aquele frio violento, mas não me apressei, já estava molhada mesmo.


Chego rapidamente na árvore que vi por alto quando estava andando em direção a casa, e, assim que me encontro debaixo da mesma, me encolho em seu tronco procurando algum calor inexistente, ficando em posição fetal.


Olho a chuva cair e molhar tudo a sua volta, e de repente não sinto mais frio. Sinto dor. Cada gota que caia contava a sua história, cada machucado, cada dor, cada felicidade momentânea, cada decepção, cada amor, rompido ou não, estava lá, refletido em sua água límpida que neste momento parecia mais navalhas extremamente afiadas do que água. Aquelas eram as minhas histórias, meus machucados, minhas felicidades momentâneas, minhas decepções. Quem diria que era simplesmente água?


Eu não, doía tanto.


Eu vi a minha vida refletida naquelas gotas de chuva, vi como sempre fui submissa, sempre fiel, amorosa e preocupada com aqueles que não mereciam, deixando de lado aqueles que realmente retribuíam todo o pouco cuidado que tive com eles. Fred, George, meus pais, e até o Malfoy – que sempre me odiou – estavam lá. Como pude ser tão cega?


De repente tudo o que passei nesses últimos dias apareceram naquelas águas cristalinas refletindo com exatidão a minha dor, e eu soube na hora em que vi a minha pessoa jogada no chão do quarto deles chorando que ter vindo até aqui era um erro. Um erro que eu deveria cometer. Olhei para as minhas lagrimas que caiam livremente pelo meu rosto e depois olho para a chuva que caia lá fora. Não são tão diferentes!, penso em um momento de total falta de lucidez e percebo que as pequenas gotas de chuva, brilhantes a luz do luar, eram, nada mais, nada menos do que lagrimas. Os céus estavam chorando. Chorando por mim.


Não pude aguentar mais. Lagrimas que mais pareciam torrentes caiam no chão com cada vez mais intensidade, meus olhos ardiam pelo choro repentino, e meus soluços poderiam ser ouvidos até em Hogsmeade, provavelmente como um apelo desesperado de uma mulher sofredora, o que de fato era, mas eu não me importava. Extravasar. Eu precisava extravasar, mas o silêncio parecia infindável.


Por que eles tiveram de estragar tudo o que tivemos de bom, deixando somente as memórias ruins? Qual é o prazer sádico que eles têm de me fazer infeliz? O que eu fiz de mal? Será que eu sou tão ruim assim que até a minha existência os incomoda?


Olho novamente para a fina chuva que caia dos céus, mal sabia ela que acontecia uma guerra sem vencedor no meu interior. Aos poucos, a chuva foi parando, e o choro também. E naquele momento, enquanto eu esperava a chuva finalmente passar para que eu possa cometer um terrível erro, fiz uma promessa que lutaria com todas as forças que tenho para cumpri-la. Nunca mais irei chorar por ninguém, seja o que for, o que quer que aconteça, nunca mais!


Uma certeza ainda tinha restado, presa em escombros, esquecida pela vida, por mim, enquanto as outras no mais mínimo toque se foram, me deixando a resmo sem a menor consideração.


Apesar de todos os machucados que acumulei, não posso deixar passar em pune tudo o que me fizeram. Não posso sucumbir a dor e a tristeza que há em meu coração tão ferido e machucado. Eu tenho que ser forte, lutar por mim, quem sabe começar uma vida nova, mas para isso tenho que enfrentar meus medos e decepções para, enfim, ser feliz comigo mesma e conseguir seguir em frente. Essa certeza havia caído no esquecimento, misturada em um turbilhão de sentimentos que até agora não consegui identificar todos, mas ela soube se sobressair, finalmente chamou a minha atenção. Talvez tenha sido ela que me trouxe até aqui, talvez... Mas agora, já tomei minha decisão.


Levanto-me repentinamente obstinada, com uma decisão que poderia mudar tudo tomada. Iria entrar naquela casa e iria saber a verdade, custe o que custar. Caso fosse, iria enfrenta-los com toda a minha força. Chega de ser fraca. Chega de ser a pequena boneca de porcelana. Chega!


Observo a garoa que caia a minha frente, que, de tão fraca que estava, era quase invisível. Percebo que chegou a hora e respirei fundo, olhando a casa dos gritos que não estava mais longe do que, no máximo, vinte passos. Lentamente saio da segurança e conforto que provinha daquela árvore, que tanto me protegeu da chuva, sentindo a leve garoa em minha pele. E Logo percebo o que não tinha dado a devida atenção antes: o local em que me encontrava.


Nem tinha percebido que, em meio aquela tempestade, tinha ido em direção a um mal cuidado porém belo jardim. Ele me dava calafrios, apesar de sua eminente porém escondida beleza. Não me dei o trabalho de analisa-lo por muito tempo, poucos segundos apenas. Era sombrio e velho, tinha aparência decadente, com um belo chafariz no centro. Era grande, com a grama que parecia não ser cortada a séculos, rosas de cor vermelha e lilas, murchas por falta de cuidados, eram distribuídas de maneira uniforme por todo o jardim, e havia uma árvore enorme – a que me escondi da chuva – que se sobressaia a tudo por seu tamanho e por estar no centro do jardim junto ao chafariz. Vi o chafariz velho, apesar de imponente, que se encontrava perto da árvore, e, de alguma maneira, por culpa de uma que razão que ainda desconheço, aquela vista me encantou. Logo balancei a cabeça, não dando tanta importância quanto deveria, uma vez que já estava obstinada a cumprir o meu objetivo de ter vindo aqui.


Ando obstinada e a passo largos em direção a casa com fama de mal-assombrada, não vendo nada a meu redor. Meu olhar estava centrado somente em uma única imagem, que estava cada vez mais próxima, infelizmente.


Ah, doce Casa dos Gritos, por que tem que ser assim?


Logo minha atenção foi presa na porta cor mogno, corroída pelo tempo e com cheiro de mofo.


Olho para cima e vejo a Casa dos Gritos, que também estava, para a minha total falta de surpresa, igual a porta: mal cuidada, com cheiro de mofo, e corroída pelo tempo. Uma perfeita casa assombrada. Há, se eles soubessem...


Hermione, agora não é hora para fraquejar. Enfrente seus medos, recupere sua dignidade, e honre-se! É hora de não ser mais boazinha, não mais...


Toco a maçaneta com extremo cuidado, mesmo parecendo a única ali em boas condições. Com uma grande lufada de ar abro a porta lentamente, ouvindo-a ranger. Assim que coloco meus pés no assoalho, que range também, minha boca se escancara. Fico totalmente chocada. O que fizeram com a Casa dos Gritos?


A sala estava limpa e bem organizada, o que para mim foi uma grande surpresa já que imaginava um lugar sujo e fedido, com cheiro de mofo e caindo aos pedaços. Nada foi como o esperado. As paredes eram pintadas de um marrom avermelhado e o teto, em vez de estar caindo aos pedaços, para a minha surpresa, estava bem cuidado, com um lustre de cristais – com certeza transfigurado – a enfeita-lo. Os moveis davam um contraste a sala, modernos e rústicos ao mesmo tempo, passando a ideia de tranquilidade, paz, e conforto a qualquer um que passasse por aqui. A lareira, que se localizava na parede central, estava apagada, mas mesmo assim tinha o seu próprio toque. Dava o ‘‘je ne sais quoi’’ *que faltava a este lugar.


O clima que habitava na sala era o de romance, infelizmente. A sala, apesar de muito bem decorada, era um lugar fechado, as janelas eram lacradas, e a única luz presente era a de velas aromáticas que se encontravam no chão, aparentemente fazendo trilha para ‘‘alguém’’, e dando as pétalas de rosas vermelhas um ar mais romântico, as iluminando de um jeito único. O assoalho, mesmo velho e rangindo, estava bem limpo, mesmo eu quase não o vendo já que as pétalas estavam sobre ele.


O clima da casa era tão romântico que senti enjoos por um momento. Tive um relampeio do que iria encontrar lá em cima. Não era nada bom, isso posso afirmar, e com essa constatação, meu coração se apertou.


Respirei fundo e ignorei a dor, seguindo a trilha de pétalas e velas que havia pelo chão. Olhei as escadas para onde a trilha tinha a sua continuação e não exitei em segui-la, mas parei no meio do caminho, estática com a força de uma pergunta que sequer tinha passado pela minha cabeça até agora.


Quem será que está aqui? E se eles tentarem fazer alguma coisa contra mim? E se tentarem apagar novamente a minha memoria?


Continuo a andar, fazendo o resto do caminho no automático, e sem perceber, presa mais uma vez em meus pensamentos, tropeço. Mas que...


Olho para o colar em que tinha tropeçado, surpresa. Como ele foi parar aqui?penso, curiosa ao ver o pequeno colar feito de finas correntes de ouro branco cravejadas de pequenos diamantes, com um pequeno pingente em formato de coração feito de rubi. Fico enfeitiçada por sua beleza. Quando não deve ter custado?


Sem perceber pego o colar em minhas mãos, hipnotizada. Uma sensação de reconhecimento toma posse de mim assim que o coloco em torno de meu pescoço. Por que esse colar é tão familiar para mim?, pergunto a mim mesma, sentindo que em meu pescoço é o lugar em que ele deveria ter ficado a vida toda. Ele é meu, de alguma forma sei, sinto, que ele foi feito para mim, exclusivamente para mim. Que estranho!


Dando passos leves e cuidadosamente calculados fui seguindo em frente, o silêncio sendo minha companhia mais fiel.


Pé sobre pé, pé sobre pé, pé sobre pé.


Esqueço como andar assim que escuto sons estranhos e abafados quebrando o silêncio que achava  queria  que fosse infindável. Quanto mais perto chegava da origem destes tais sons estranhos, com mais clareza podia escuta-los.


Não eram barulhos. Eram gemidos.


Perco uma batida. Minhas pernas se tornam gelatinas. Tudo o que posso escutar agora é o som de meu coração se estilhaçando mais uma vez, e de novo, e de novo, e de novo. Nunca acaba. Não tem fim. Quanto mais luto para juntar os pedaços estilhaçados no chão, mais eles se quebram. Pior, se quebram em minhas mãos. Quase posso sentir fisicamente cada pedaço se estilhaçando em minhas mãos, quase posso sentir eles perfurando minha carne, quase posso ver o sangue em meus cortes. Eu estou ferida, como me curar de novo?


E a realidade cai como uma bomba mais um vez, destruindo qualquer coisa que ainda houvesse em mim. Me sinto oca. Vazia. Por que ele tinha que me fazer sentir como se nada tivesse restado em mim?


Os céus estão chorando, eu estou assistindo


Recolhendo lágrimas em minhas mãos


Somente o silêncio em seu fim


Como se nunca tivessemos tido uma chance


Você tem que me fazer sentir como se


Não tivesse restado mais nada de mim?


Vejo a trilha de velas e pétalas acabando no fim do corredor. Vejo um porta, e imediatamente sei que aquela é especial. Não é só pelos seus entalhes feitos a mão, que são simplesmente magníficos, mas sim porque não sabia o que iria encontrar quando a ultrapassasse. Ou sabia?


Meu corpo começa a se tremer por inteiro. Minhas mãos, apesar do frio, suavam pela antecipação do que viria a seguir. Minha cabeça dava giros e meu estomago parecia uma montanha russa. E a dor? Essa me acompanha desde que tudo começou, por que me abandonaria agora afinal?


Pego a varinha que está no bolso de minha calça jeans tremendo levemente e a aperto com bastante força. Começo a andar lentamente, escutando os gemidos cada vez mais altos. A raiva borbulha lentamente em todo o meu ser, me queimando por dentro e por fora.


Chego no fim do corredor e exito ao olhar a porta, mas impulsionada pelo desconhecido abro a porta com um floreiro de minha varinha. A cena, mesmo sabendo que iria a ver mais cedo ou mais tarde, me choca. A verdade é que nem em mil anos estaria preparada para ver isso. Nunca, nem nos meus mais terríveis pesadelos. Aquilo era terrível!


Era pura tortura.


Assim podia ser classificado a minha situação naquele momento. Ver seu – ex, se depender de mim – namorado estocando dentro daquela que você considerara sua melhor amiga e grunhindo palavras sem sentido não é a visão mais inspiradora do mundo. Que vadia!, penso ao ver ela gemendo cada vez mais alto a cada estocada.


Eles parecem ter adivinhado que eu estaria aqui. A cada gemido, a cada grunhido, a cada estocada, me sentia mais oca e infeliz. E o pior é eu não conseguia fazer nada, estava estática, e o dom da fala infelizmente se foi. Eu apenas conseguia ver, não conseguia me mexer, não conseguia virar a cabeça. Era o inferno na Terra, eu estava queimando em brasas e nada podia fazer.


A raiva que estava sentindo tomava formas alarmantes. Estava confusa e ao mesmo tempo queria vingança. A mais fria e doce vingança. Queria tortura-los lentamente e mata-los a forma trouxa, queria que eles sentissem o que eu estava sentindo. Minha mão coçava, minha raiva poderia ser vista a quilômetros de distancia, mas a dor, há, essa era descomunal. Quem sou eu agora? Nem eu sabia mais.


Não suportei mais olhar, fechei meus olhos. Sentia nojo. Nojo do dia que senti aqueles lábios sobre os meus, nojo do dia em que aquelas mãos tocaram em mim, nojo das nossas aventuras, nojo das minhas – ex – amizades, nojo do dia em que eu os conheci. Maldito dia, maldita Hogwarts, maldita eu que me deixei levar. Droga!


– Nossa, hoje você estava animal, Harry. Foi incrível. Tudo isso foi saudades de mim? Devia te deixar na seca mais vezes. – ouvi uma voz feminina cheia de malicia que chamou minha atenção. Abri meus olhos e fiz cara de nojo. Gina Weasley estava deitada ao lado de Harry Potter com um lençol branco cobrindo o seu corpo e um sorriso satisfeito e malicioso brincando em seu rosto. Uma perfeita vagabunda na minha opinião!


– Claro, Gina. É melhor ficar com você, do que com aquela... – Harry se virou para ela, com aparência sombria e misteriosa, mas não terminou a frase já que ela o interrompeu. Ele suspirou de alivio; mas por quê?


– Claro que sim, amor. Eu sou muito mais do que aquela sem sal algum dia foi e é, além do que... – Ela continuou falando, mas eu não escutei uma só palavra. Não estava aguentando mais, minha paciência estava no limite, minha cabeça estava explodindo, minha raiva se transformando em ódio.


Tudo era culpa deles. Tudo o que eu sofri e sofro hoje foram eles que causaram. Eles fizeram isso comigo. Transformaram-me nessa boneca de porcelana que ainda era de manhã. Dependente, frágil, facilmente manipulável. Essa era eu. Hermione Granger era assim. Não é mais.


Sentia um misto de sentimentos. Desprezo. Raiva. Decepção. Ódio. Rancor. Era um paradoxo imperfeito. E de repente eu não me importava mais. Eles já tinham me levado tudo, o que mais poderiam fazer?


E, sem perceber, todos os resquícios de bons sentimentos por eles que eu ainda sentia, mesmo não querendo, simplesmente sumiram, dando lugar a algo mais forte.


Eu irei me reerguer. Irei sair desse poço sem fundo. Irei conseguir o que este paradoxo pede desesperadamente. Vingança.


E aqui, uma nova Hermione Granger surgiu.


– Sectumsempra.




Você pode pegar tudo o que eu tenho


Você pode quebrar tudo o que eu sou


Como se eu fosse feita de vidro


Como se eu fosse feita de papel


Vá em frente e tente me derrubar


Eu vou me levantar do chão


Como um arranha-céu


Como um arranha-céu



*Usamos essa frase para dizer que uma pessoa tem algo especial, mas sem dizer o que é. "Essa pessoa tem um je ne sais quoi".


N/A: Me desculpem pela enorme demora, antes de me matarem, me deixem explicar. Eu estava sem ideias para esse capitulo, e quando eu consegui o escrever por inteiro, a gala-seca aqui acabou apagando... Bah, eu tive que o rescrever tudo de novo e estou em época de prova, lembrem que se eu não tirar notas boas ficam sem fic, e artsophos, não deu muito tempo para o escrever, mas finalmente apaguei. Tia, tia, o que é artsophos? Na minha escola todo o ano em setembro cada turma faz uma peça de teatro falando de algum assunto em todas as salas, que, se você participar, ganha 4 pontos para todas as materias. Imagine, os ensaios, procura de patrocinios, decorar fala, preocurar roupa. A minha fala sobre a historia de Horfeu e Euridice (assim que se escreve?) da mitologia grega. Imaginem? Não tendo tempo nem para mim...
* Gente, essa fic, como sempre, está centrado nas emoções da Mione, mas o proximo vai ser mais ação, mais porradal, e enfim... Chega de espoler né? Me desculpem se não gostarem, juro que fiz o meu melhor.
* Gostaram da nova capa? Feita pela maravilhosa L O V E F E V E R... Linda né?
* Quero comentarios, se não posto só em outubro... É uma promessa!!! BEIJOS LINDAS, QUERO COMENTARIOS E RECOMENDE AOS AMIGOS, SE GANHAR NOVOS LEITORES FAÇO UM BONUS.

RiemiSam: Linda, a vingança dela vai demorar um pouquinho, essa é uma pequena parte, mas vai ser de arrazar. Eles vão comer na mão dela, isso eu te prometo e sua ideia foi muito bem vinda viu kkkkkk Depois desse capitulo tenho certeza que virão outras... Beijos linda, me desculpe me demora viu!!! 

Compartilhe!

anúncio

Comentários (1)

  • RiemiSam

    Acho que é mais fácil lidar com inimigos do que com falsos amigos. Pelo menos dos inimigos a gente pode esperar tudo enquanto que com falsos amigos é tudo feito traiçoeiramente. Herms vai pisar na goela desse zé povinho com salto 15 loboutin. Hermione POWER Super Fuderosa. Eu aguardo..rs

    2013-09-13
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.