O Aniversário
Já havia anoitecido naquela pequena cidade. O frio estava mais forte, e o vento soprava tão alto que até mesmo algumas crianças que dormiam em suas casas poiam jurar que eram fantasmas.
Nathan Frake ( um menino alto, com ombros largos, cabelos escuros, olhos pequenos, nariz comprido, boca larga e pele clara) acabara de sair de uma pequena loja de doces, com a encomenda que havia pedido a alguns dia atrás em suas mãos: um lindo bolo de morango com cobertura de glacê. Ele havia gastado todo seu salário na encomenda daquele bolo, que estava bem caro. Mas era para uma boa causa: era o aniversário de seu irmão, Kevin. Nathan sempre levantava cedo para ir trabalhar empilhando coisas em um mercadinho e sempre voltava tarde. Não conseguiu nem mesmo dizer "parabéns" ao irmão, pois Kevin estava dormindo naquele horário.
Nathan sabia que Kevin devia estar bem desapontado em uma hora daquelas, pois o dia já havia passado e com certeza nada de interessante havia acontecido: nenhum parabéns, nenhum presente. A mãe deles vivia deitada em uma cama ( ela tinha uma doença grave, que Nathan sempre esquecia o nome) e Kevin teve que abandonar os estudos para cuidar da mãe. Sempre que Nathan pensava naquilo, vinha um aperto no coração. Saber que o irmão largou os estudos para cuidar da mãe não era algo facil para aceitar.
Nathan estava a uma quadra de sua casa. O bolo estava pesado, e suas mãos tremiam de tanto frio ( ele precisava comprar luvas novas, pois as velhas estavam curtas demais). Nathan nunca conseguia comprar algo pra si mesmo. Ele tinha sempre que gastar todo seu salário com comida, conta de luz e de água, entre outras prioridades. Tudo era melhor quando o seu pai ainda estava em casa. Ele trabalhava e isso não deixava Nathan com tantos compromissos. Ele podia se preocupar com si mesmo.
O seu pai havia fugido da cidade pois não aguentava mais viver naquela situação: trbalahando duro e ter que gastar dinheiro com os remédios da esposa. Fugiu de uma vez, dizendo as seguintes palavras para Nathan: "Não suporto mais viver aqui, neste inferno. Qualquer coisa é melhor que viver com vocês!".
Nathan deixou escapar uma lágrima. Aquelas palavras nunca mais sairam de sua mente. Não queria que a mãe e nem o irmão soubessem do que o pai havia feito, então ele disse para eles que o pai havia morrido em um incêndio - já que ele era um bombeiro.
Nathan sabia que seu dever era cuidar daquela familia. Nunca ter a covardia de abandoná-los. Nunca pensou em abandonar ninguém.
Quando Nathan se deu conta, seu rosto estava cheio de lágrimas. Limpou o rosto das lágrimas e enfim, estava abrindo o portão de sua casa. O jardim não era mais o mesmo: anos atrás, quando sua mãe ainda estava bem, ela cuidava cautelosamente do jardim, cada flor, cada matinho que crescia. Agora, as flores estavam murchas e os matinhos já haviam crescido, ficando secos e feios.
Nathan ficara triste.
Mas tinha uma coisa que sempre lhe deixava feliz: o sorriso de Kevin.
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Kevin Frake terminara de lavar toda a louça, varrer a casa, tirar a poeira do quarto de sua mãe, lavar e passar todas as roupas. Sua mãe já estava dormindo, então ele já podia ter um momento de descanso. Foi para o seu quarto ( que era de fato, o lugar mais bagunçado de toda a casa) e pulou em cima de sua cama. Como sempre, o momento que ele havia acabdo praticamente todos os trbalhos domésticos era o seu favorito.
Mas ele nunca conseguira ficar totalmente sossegado. Odiava o fato do seu quarto estar bagunçado. Nunca tinha tempo de arrumá-lo. O tempo que ele tinha pra arrumar o quarto era o tempo de seu descanso.
"De hoje não passa, é hoje que arrumo esse quarto!" - pensou ele.
Então, ele começou pela pilha de brinquedos que ele tinha. Nunca mais usou, mais nunca havia saido dali. Pegou cada ursinho, cada carrinho, boneco e abriu a porta do guarda-roua para enfiar ali dentro. Mas logo viu que ali já era o lugar das suas roupas sapataos e principalmente de seus antigos brinquedos.
Olhou ao redor, procurando algum lugar para guardar os brinquedos. Seu velho baú. Kevin enfiou os brinquedos ali, e nenhum caiu pra fora.
Ainda tinha seus antigos livros e cadernos - que usara anos atrás em sua antia escola.
Pegou cad livro e caderno e colocou cuidadosamente, um por um, em sua estante. Lembrou da escola. Como era um lugar divertido. Tantos amigos, tantas coisas legais para se aprender...
"Como devem estar meus antigos amigos?" - se perguntou.
Enfim, seu quarto estava organizado, a poeira que havia por ali ele limpava no dia seguinte.
Kevin pulou em sua cama novamente e encostou sua cabeça no travesseiro. Era seu aniversário e o dia continuava normal, como todos os outros. A mesma rotina chata de sempre.
Kevin suspirou, sentou-se em sua cama e puxou debaixo de sua cama, um album de fotografias. Abriu em uma página em que já havia decorado onde estava. A página em que tinha as poucas fotos do pai.
Passou a mão na foto em que ele mais gostava: a foto em que estva ele e o pai, tomando sorvete, sem frente a grande sorveteria que havia fechado no mês passado. Na foto, os dois estavam rindo, mostrando o sorriso contagiante que se conseguia ver nitidamente que Kevin tinha o sorriso do pai. E isso lhe agradava muito. Sabia que seu pai tinha sido um herói, que morreu em um incêndio.
Kevin sorriu enquanto algumas de suas lágrimas pingavam na foto.
Escutou o barulho das chaves de Nathan abrindo a porta da sala. Enfiou o album debaixo de sua cama e desceu as escadas rapidamente.
-Nathan! Nathan! - dizia Kevin, alegremente.
Antes de Kevin chegar a sala de estar, Nathan escondeu o bolo atrás do vaso de flores murchas, em cima de uma mesinha.
Nathan e Kevin se viram, e os dois se abraçaram como sempre faziam todas as noites, depois que ele retornava do trabalho.
-Parabéns, maninho! - disse Nathan, bagunçando o cabelo do irmão.
-Obrigado... - Kevin olhou para o relógio de ponteiros que ficava na parede da sala. - Por que hoje chegou tarde?
-Por causa que eu estava esperando uma encomenda. - respondeu ele.
-Que encomenda?
E então Nathan pegou o bolo que estava atrás do vaso de flores murchas. Primeiramente, Kevin abriu um largo sorriso, e olhou para o irmão.
-Muito obrigado! Eu pensei que eu não teria um bolo hoje... - o sorriso de Kevin se apagou. - Você deve ter gastado todo o seu salário nesse bolo... E as nossas despesas? As contas, remédios da mamãe...
-Kevin. - Nathan olhou para o irmão com firmeza. - Esse bolo não custou muito. Ainda sobrou uma boa parte do meu salário. Pode ficar tranquilo.
-Sério? - indagou Kevin.
-Sério. Acredite em mim. - afirmou o irmão. - Agora vamos comemorar seus 11 anos.
Mas aquilo era mentira. Nathan tinha gastado todo seu salário naquele bolo, mas não queria que o irmão soubesse. Pois o irmão mereceia aquele bolo, se Kevin descobrisse a verdade, mandaria devolver o bolo para ainda terem dinheiro para pagar as despesas.
Então naquela noite, os dois irmãos se deliciaram comendo aquele bolo tão gostoso, cantaram parabéns e Kevin fez um pedido: "Que eu tenho mais chances."
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