Simples & eficaz
- Simples e eficaz
A noite sem lua escurecia as janelas, e a luz que vinha das tochas da biblioteca transformavam as ramificações de gelo nas vidraças em folhagens douradas. O vento zunia do lado de fora parecendo gritos, fazendo sobressaltar os poucos que ainda insistiam em folhear livros ou cochilar sobre eles.
Já era quase hora do jantar quando a barriga de Regulus roncou alto. Regulus e Alice haviam consultado uma centena de livros. Em nenhum deles havia uma dica sequer a respeito de como desbloquear o feitiço do Ministério. Regulus estava ficando cada vez mais preocupado. Era frustrante. Theodor, Jack, John, Crouch, Avery e Mulciber haviam passado pela biblioteca e pego alguns livros. Snape estava também lá, atrás de uma grande pilha de livros, já fazia algumas horas. A barriga do menino roncou pela segunda vez.
- Desculpe. – ele disse, sem jeito.
- Não tem problema, Reg. Eu também estou com fome. Que tal a gente fazer uma pausa? O jantar já deve estar sendo servido... – disse Alice, olhando para ele com ternura. Regulus se perdeu por alguns instantes, distraído no olhar dela.
O rosto redondo de Alice havia se transformado nas últimas horas, se antes ela era apenas uma amiga, agora era a menina mais bonita do mundo, com feições delicadas e marcantes, cuja voz parecia acaricia-lo a cada palavra proferida. Regulus sacudiu levemente a cabeça, saindo de seu breve transe para responde-la.
- Acho uma boa ideia. Depois eu volto aqui para ajudar o Severus. Você já fez demais pela gente, quer dizer, por ele.
Alice tomou o engano de Regulus como prova de sua amizade por Severus e achou isso tocante, olhou para ele e lhe lançou um beijo. Sentia-se muito orgulhosa de seu namorado. Depois ela levantou-se, pegou alguns livros e começou a guarda-los de volta às estantes, Regulus apressou-se em ajudar.
Eles desciam sem pressa as escadas para o salão principal, Regulus segurando a cintura de Alice com força e delicadeza, como quem conduz uma parceira de dança. Os bolsos de Regulus ainda estavam pesados com os doces que haviam comprado na Dedos de Mel, lembrando-lhe que apesar de parecer ter passado uma eternidade, ainda era dia dos namorados.
- Tanto trabalho para nada! – Alice lamentou – se bem que eu aprendi muito hoje, sobre feitiços que nem imaginava existir!
- Eu também. – ele disse, desanimado.
- Se ao menos a lareira ficasse aqui perto...
- Como assim? O que poderíamos fazer se ela fosse perto? – ele perguntou, curioso, quase tropeçando na escada.
- Poderíamos trocar alguns tijolos e cimentar os novos com pó de flu. Não é assim que você disse que se ativa uma lareira?
- Alice! Você é um gênio! – ele disse, tirando o próprio cachecol para “laçar” o pescoço da garota e aproximar seu rosto do dele. Ele deu um sorriso maroto de depois lhe deu um beijo na boca com entusiasmo.
- Reg! – ela disse, afastando levemente o rosto do dele, sorrindo – você esqueceu que não temos como fazer isso? Não podemos simplesmente sair da escola e ir consertar uma lareira que deve ficar a mil quilômetros daqui!
Regulus abriu a boca para falar, mas desistiu. Teria que inventar alguma coisa para disfarçar o seu entusiasmo. Ele pegou ela pela mão e voltou a descer as escadas. Um quadro na parede lhe chamou a atenção. Ele retratava uma velha bruxa limpando sua casa com um pano enfeitiçado, que se rebelava e espalhava a sujeira por todo o lugar. Regulus sorriu.
- Nós não, mas posso mandar meu elfo doméstico fazer isso. Ele adora fazer coisas por mim, vai adorar ajudar.
Alice sorriu.
- Parece uma boa ideia...
Nesse momento os dois chegaram ao salão principal. Os alunos jantavam em grande animação, talvez contagiados pelas bolhas de sabão que ainda flutuavam sobre eles. Ela olhou para ele com um olhar tristonho. Aquela era a hora dos dois se separarem, cada um ir para a mesa de sua casa.
- Bem, hora de jantar. – ela comentou, olhando para as mãos dos dois que ainda mantinham os dedos entrelaçados.
- É... por um momento esqueci que você não iria jantar comigo... – ele disse, tristonho. – nos vemos mais tarde, então.
Nesse momento Severus passou por eles, andando apressado e parecendo aborrecido.
- Talvez seja melhor você contar as boas novas ao seu amigo. Ele também merece ser feliz como a gente. Nós podemos nos encontrar amanhã.
Regulus puxou Alice para perto de si e a abraçou, falando-lhe no ouvido.
- Obrigado por ser tão compreensiva. Nos vemos amanhã na aula, então.
Alice olhou em seus olhos e sorriu, tirando em seguida o cachecol da Sonserina que aquecia seu pescoço e colocando no pescoço dele. Regulus sorriu e a beijou novamente na boca, levando os alunos que jantavam à loucura. A grande maioria assoviou alto, bateu palmas e fizeram coro:
“Mais um casal em Hogwarts,
Todo mundo namora em Hogwarts,
Do diretor a lula gigante,
Da professora ao chapéu falante,
Grifinória, Corvinal, Lufa-lufa e Sonserina
Onde há amor, em namoro termina!”
Alice, vermelha até a ponta do dedão do pé escondido pelos sapatos de couro, correu para sua mesa, um tanto envergonhada. Regulus sorriu para todos, brincando de reger o coro com uma mão, enquanto com a outra jogava feijõezinhos de todos os sabores para os outros estudantes. Ele estava quase em sua mesa quando uma pessoa vestida de azul dos pés à cabeça lhe deu um encontrão, derrubando sobre ele um copo de suco de abóbora, “acidentalmente”. Ele olhou para trás para ver quem era. Rachel sumia no meio da multidão que ainda cantava, jogando corações vermelhos de papel para o ar.
Regulus se virou e rapidamente encontrou um lugar para sentar entre Severus e Crouch. Crouch o fuzilava com o olhar.
- Enquanto todos se preocupam com o clube, o garotão resolve começar a namorar. Pensa que somos seus escravos?
- Alguém aí quer doces? – Regulus perguntou, ignorando Crouch. Após distribuir alguns doces, sentou-se, cochichando no ouvido de Severus, - conseguimos.
O rosto de Severus se iluminou e ele abriu um largo sorriso. Regulus olhou para a mesa da Lufa-lufa, de onde Alice os observava, sorrindo, enquanto suas amigas conversavam, muito animadas, ao redor. O sorriso de Severus selava, com chave de ouro, sua mentira. Alice não teria dúvidas que tudo o que fizeram tinha sido por amor.
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