Torpor




  1. Torpor


As brevíssimas férias de inverno chegavam ao fim, mas de algum modo pareciam ter durado mais do que qualquer férias de verão. Regulus olhava pela janela do trem para evitar de se juntar ao animado bate-papo que fazia estremecer as paredes da cabine do Expresso. Amifidel falava sobre uma garota que conhecera nos Alpes Franceses e que já lhe havia mandado três cartas extremamente perfumadas, sendo que a primeira, apenas duas horas após o último encontro deles.


- ... Ela então disse que seu maior sonho era saber sobre Hogwarts e sobre nossas aulas de Poções com o famoso H. Slughorn, de quem a professora dela sempre falava. Quando eu disse que ele era o Diretor de nossa Casa, seus olhos se encheram de lágrimas e ela não me deixou sozinho nem mais por um segundo. Conversávamos sobre tudo, as passagens secretas de Hogwarts, as escadas que nos atrasam para as aulas... Quando contei sobre nosso clube...


- Como assim? Você contou sobre nosso clube?! – Regulus perguntou, olhando para Amifidel com uma expressão zangada.


- Calma! Não falei nada sobre o novo, só sobre o velho, as excursões no meio da noite e as passagens secretas... Ela não queria saber exatamente o que fazíamos lá, contentou-se em saber que era um clube de duelos e disse que ela também participava de um em Beauxbatons. – explicou Amifidel, olhando de Regulus para John e deste para Jack.


De todos, o único que pareceu mesmo se importar com o fato de Amifidel tocar no assunto do clube tão levianamente foi Regulus. Muito provavelmente porque era o único dos quatro que sabia que estava prestes a ser aceito por Rosier no novo clube. Ele levantou-se e caminhou até a porta da cabine, abriu-a e escorou-se na porta de maneira que permanecesse aberta, com o corpo meio dentro e meio fora da cabine. Amifidel continuava a mostrar fotos e ler as cartas da garota em voz alta. Regulus respirou fundo: melhor assim, enquanto todos estavam distraídos com Amifidel ele não corria o risco de acabar falando sobre seus experimentos com Severus, colocando tudo a perder.


Distraidamente, ele olhou sua imagem refletida no visor da porta da cabine em frente. Seus olhos ainda guardavam as olheiras das noites mal dormidas por conta de todas as experimentações que ele e Severus haviam feito. Ele soltou um longo bocejo. Na última noite ele não havia dormido mais do que uma hora, mas tinha valido a pena, finalmente Severus havia conseguido descobrir a palavra que potencializava o efeito abafador para evitar que suas mensagens fossem notadas e interceptadas por outras pessoas em outras lareiras. Abaffiato era, com certeza, um feitiço muito interessante e útil, era de se admirar que ainda não havia sido inventado.


As vozes de dentro da cabine pareciam ainda mais animadas, Regulus olhou para os amigos, que agora olhavam com muito interesse uma foto que estava na mão de Amifidel. Rapidamente, Regulus se virou para o amigo e tomou-lhe a foto das mãos, retornando em seguida para o seu posto segurando a porta entreaberta.


- É essa a garota? Uau! Ela é mesmo linda! – ele disse, admirado, no mesmo instante que Alice passava com as amigas, fingindo não nota-lo. Mas ele reconheceria aquele rabo de cavalo e aquele modo de andar em qualquer lugar. – Alice? – ele chamou, jogando a foto de volta para Amifidel para sair apressado atrás da garota.


O corredor pareceu estar subitamente lotado e poucos instantes depois era quase impossível distinguir os cabelos de Alice no meio de tantos outros que iam e vinham esbarrando seus corpos nele. Ele sentia uma leve dor de cabeça por conta do sono que se somava às vozes vindas de todos os lados, deixando-o tonto.


- Agora sei como Kreacher estava se sentindo... – ele comentou em voz alta, enquanto caminhava pelo corredor sem saber ao certo onde queria chegar. Já não havia sinal algum de Alice no mar de cabeças que ele observava à sua frente.


- O que você está dizendo, Black? – a voz de Rachel cortou o ar poucos instantes dela trombar seu ombro contra ele. – Quem é Kreacher? Tsk tsk. Cada dia que passa você parece mais estranho...


Ele não se deu ao trabalho de responder, mesmo porque sua cabeça começava a latejar de tal maneira que nem tinha mais certeza se a cabeleira loira à sua frente era mesmo Rachel ou uma alucinação. Foi quando Severus surgiu ladeado por Avery e Mulciber no meio da multidão e passou por ele, sussurrando em seu ouvido:


- Parabéns. Você conseguiu.


Regulus só teve tempo de esboçar um breve sorriso antes de escorar-se na parede do corredor para não cair no chão. Então tudo ficou escuro e só o que ele conseguia ouvir eram vozes ao longe e o barulho do trem. Ele não se lembrava como havia chegado ali, e duvidou que tivesse realmente saído do lugar, uma vez que sentia o rosto colado no vidro gelado da janela do trem. Antes mesmo de abrir os olhos, concluiu que Severus, Alice, Rachel e a garota da foto, tudo aquilo não tinha passado de um sonho. Mas ele não poderia estar mais enganado.


A risada alta de Sirius o forçou a abrir os olhos de repente. O que o irmão fazia ali na sua cabine? Assim que abriu os olhos percebeu que a pergunta era outra: o que ele fazia ali, sentado ao lado de Sirius, em frente a Remus Lupin e Peter Petigrew? Não teve tempo de perguntar. A porta da cabine abriu-se de sopetão e James Potter entrou.


- Olha só quem acordou! – disse James, rindo.


Sirius e os outros viraram-se para olhar para ele.


- Bom dia, irmãozinho! Dormiu bem? – Sirius soltou uma gargalhada, - eu estava comentando com Remus que essa garota vai acabar te matando se não deixar você dormir uma mísera noite nas férias de verão...


- Garota? – ele perguntou, confuso. Então lembrou-se que havia dado a entender a Sirius que estava saindo com uma garota quando ele o viu em frente à lareira na primeira noite que foi à casa de Severus. – Sirius, não era para você sair contando para todo mundo sobre ela... – ele disfarçou.


- Está bem, está bem. É melhor você ir para sua cabine se trocar, irmãozinho. Já estamos quase chegando... A não ser que você queira vestir um de meus uniformes emprestado. – disse Sirius, rindo-se. Os outros lhe fizeram coro.


- Da Grifinória? Não obrigado, sou alérgico. – ele respondeu sorrindo marotamente, levantando-se e saindo para o corredor apressado.

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