Colegas de quarto




  1. 80. Colegas de quarto


Era inacreditável que finalmente haviam chegado as férias de Natal. Regulus organizava sua mala calmamente, não havia muito para levar para casa, o que ele mais queria já estava lá: a gosma que roubara de Slughorn, o pó de Flu e a biblioteca do seu pai. Isso era tudo o que ele iria precisar para o Natal.


Depois do episódio das paredes pichadas, as meninas pareciam ter sumido. Regulus sorriu ao lembrar da reação de Rachel quando ele havia lhe desejado “boa noite” há cerca de meia hora, na saída do salão principal, após o jantar. Ele aguardava parado à porta que Alice aparecesse, queria pelo menos lhe desejar um “feliz natal”, já que partiria na manhã seguinte e eles não haviam encontrado tempo de fazer mais nada juntos. Ou ela o estaria evitando, como as outras? Não, Alice, não. Então Rachel apareceu no meio de um pequeno grupo de meninas da Corvinal e ele não resistiu. Soltou um “Boa noite, Rachel.” Sua voz escapou de seus lábios estranhamente melosa ao mesmo tempo que seus olhos faiscavam de provocação e contentamento ao ver que a garota havia ficado vermelha. Ele sorriu para ela e a linda menina loira tropeçou, depois olhou para ele com raiva e sugeriu que ele deveria ir contar flocos de neve ao invés de persegui-la daquele jeito.  Ele riu bastante, tanto que quando Alice apareceu ele mal conseguia falar, tampouco explicar a origem de tanto riso.


Agora que tinha passado, ele não tinha muita certeza do porquê havia dado boa noite a Rachel. Na verdade, nem queria lhe desejar boa noite, apenas achou que seria engraçado falar alguma coisa para ela agora que ele sabia da senha do saco de estrume. Ele não poderia perder a chance de provoca-la, poderia? Além do mais, sentia falta das meninas. Elas estavam muito envergonhadas por ele saber as coisas que falaram dele e muitas evitavam até mesmo olhar ou estar no mesmo ambiente que ele, o que ele lamentava, pois era, no fim das contas, divertido estar na companhia de tantas meninas. Ainda mais quando Slughorn havia exigido que ele voltasse a cumprir a detenção. Mil vezes as estufas e as meninas do que Slughorn e seu tedioso material a ser etiquetado. Sem falar em Jack e John que agora o culpavam por eles terem passado a vergonha de usar baldes e esfregões para limpar as paredes do castelo. Dumbledore só havia devolvido as varinhas dos garotos quando o castelo já estava livre de toda bosta de dragão.


Regulus olhou para os colegas de quarto. Eles também faziam as malas, mas não olhavam para ele.


- Ei, caras! Vamos esquecer toda a confusão... é Natal... – ele arriscou.


- É Natal e ficamos fora da festa de Slughorn por sua causa... – reclamou John.


Regulus balançou a cabeça para os lados. Não conseguia entender como eles conseguiam distorcer as coisas de modo a fazer parecer que ele era o culpado quando na verdade eles eram quem haviam enfeitiçado o saco de bosta de dragão. Por outro lado, sentia pena de John. As meninas realmente nem pareciam notar que ele existia. E Jack só seguia o que John fazia. Ele não poderia sentir raiva de alguém que nem ao menos tinha as próprias ideias, poderia?


- Está bem, me desculpem. Se soubesse que era tão importante para vocês, teria chamado todos para mexer nas estufas...


- Quem é que está falando nas estufas? Não queríamos mexer nas estufas! Já temos aulas suficientes de Herbologia! Você é que fica atrás da professora Sprout! Eu estou falando da festa de Natal de ontem!


Regulus revirou os olhos. Aquilo era mesmo enfadonho.


- Agora já chega! Olhem aqui! Estou cansado dessas discussões! – Regulus explodiu – Não é minha culpa se Slughorn não chamou vocês para a festa! E não é minha culpa se as meninas gostam de ficar perto de mim... eu só sou educado com elas, vocês deveriam tentar... Não é minha culpa se nós fomos pegos na lareira, todos havíamos concordado com o plano e eu não obriguei ninguém a entrar lá comigo! Não é minha culpa se vocês resolveram enfeitiçar o saco de bosta de dragão para me pregar uma peça e acabou dando errado! E não é minha culpa se nenhum de nós entrou no clube ainda. Eu, pelo menos, estou me esforçando para isso! Ou vocês acham que eu amo Herbologia? Eu só me aproximei da professora Sprout porque não encontramos nada em lugar algum que pudesse impressionar Rosier e achei que talvez pudesse haver alguma coisa nas estufas, sei lá... a Professora Sprout às vezes entra lá e some... poderia haver uma passagem secreta...


- E você encontrou alguma coisa? – perguntou Amifidel.


- Ainda não. Mas também não tive oportunidade com as estufas cheias de meninas e fazendo toda aquela bagunça por causa do saco de estrume falante...


- Você bem que se divertiu com as meninas lá... – disse John num tom provocante.


- Isso não importa! O que importa é que eu quero saber o que vocês têm feito para ajudar a gente a entrar no clube!? Ou vocês acham que enfeitiçar um saco de estrume vai deixar Rosier impressionado o suficiente?


Jack, John e Amifidel trocaram olhares desconsertados. Era verdade que Amifidel não havia lançado nenhum feitiço para prejudicar seu amigo, mas tampouco havia impedido os amigos de fazê-lo e isso lhe pesava na consciência.


- A gente tem agido como idiotas, Reg. Essa é a verdade. E foi por inveja de você... – disse Jack, arrependido e envergonhado por tudo que haviam feito.


Regulus cruzou os braços e ficou olhando para ele. John completou os pensamentos de Jack:


- Quando Crouch sugeriu que poderia ser uma boa ideia enfeitiçar o saco de estrume para afastar as garotas de você, todos nós concordamos. E enquanto você aquecia estrume de dragão a ideia se espalhou como cheiro de bomba de bosta pelos corredores. Ninguém estava contente de ver as meninas suspirando por você pelos cantos ou se gabando que você estava sendo gentil com elas e coisas assim. A gente queria que elas se afastassem, que tivessem certeza que você não era assim tudo de bom como elas acreditavam... e o feitiço virou contra os feiticeiros. Literalmente. Foi mal. Desculpa, cara.


Regulus sorriu.


- Tudo bem, cara. Todo mundo tem direito de errar, não?


Os outros concordaram e pediram desculpas mais uma vez. A conversa assumiu um tom mais ameno depois disso.


- Planos para o Natal, Reg? – perguntou Amifidel.


- Ah, não sei... Encontrei com Sirius no corredor hoje cedo e ele disse que não ia passar o natal em casa... É estranho pensar em ir para casa e não ter Sirius lá, sabe... ele pode ser o maior babaca da Grifinória, mas ainda é meu irmão e quando estamos em casa às vezes é até divertido. Pelo menos é melhor do que só ficar com os velhos... – comentou, pensando em voz alta. Não achava que os outros fossem compreender, a rivalidade entre Sonserina e Grifinória parecia estar sempre à frente de tudo. Sirius podia até olhar para ele com desprezo quando estava junto de Potter e dos outros, mas ele não havia participado de toda confusão nas estufas. E Isso significava muito para Regulus.


Subitamente Amifidel pareceu muito interessado em parear suas meias e Jack parecia ter perdido algo no fundo de seu malão, então mergulhou na confusão das roupas emboladas e sumiu. John tossiu, se deitou e anunciou:


- Vou dormir. Vejo vocês amanhã no trem.


Ninguém comentou nada e o silêncio que se seguiu foi constrangedor. Regulus e os outros foram dormir quase imediatamente a John, grunhindo “boas noites” uns aos outros, cada qual perdido nos próprios pensamentos.

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