O pedido de desculpas e o novo
- 71. O pedido de desculpas e o novo plano
Os quatro garotos entraram no salão Principal em silêncio. Regulus abaixou a cabeça, ele estava se sentindo envergonhado. Na noite anterior ele havia sido aplaudido e agora todos sabiam que ele era um ladrão. Pelo menos era o que ele pensava. Ele era uma vergonha para a família Black, a esta altura seu tetra-tetra-avô já teria ocupado a moldura de seu retrato no Largo Grimmauld e teria enchido a cabeça de sua mãe com preocupações.
Conforme ele ia caminhando em direção a mesa da Sonserina, ele não notou os olhares reprovadores que ele estava esperando. Na verdade, alunos de várias Casas o cumprimentavam com alegria. Ele então, arriscou olhar para a mesa dos professores. Haviam poucos lá. A maioria deles estava passeando em Hogsmeade. Para o seu desespero, Kettleburn e Sprout estavam sentados lado a lado, cochichando. Falando dele, provavelmente. Não para elogiar, mas lamentar sobre a decepção desta manhã.
- Ami, John, Jack, podem ir. Eu preciso fazer algo antes de me sentar.
Ele respirou fundo e caminhou até a mesa dos professores. Sem encarar o professor, ele falou:
- Professora Sprout, Professor Kettleburn. – ele cumprimentou-os com um aceno de cabeça e continuou – com sua licença, Professor Kettleburn, eu gostaria de lhe falar.
O professor o olhou com ar preocupado. Pediu licença para a professora Sprout, levantou-se e chamou Regulus para que o seguisse. O garoto seguiu o professor, cabisbaixo, os olhos fixos nas muletas do professor que produziam um som oco no chão de mármore. Os dois entraram em uma pequena sala à direita da porta de entrada do Salão Principal. As janelas estavam cobertas por cortinas grossas de veludo roxo e havia no local uma mesa redonda de madeira com cinco cadeiras de espaldar alto. Parecia ser uma sala de cerimônias ou talvez. O professor puxou uma cadeira e sentou-se, depois indicou uma cadeira para o garoto, em absoluto silêncio. Regulus sentou-se em sua frente. Kettleburn pegou sua varinha e apontou para a porta, que se fechou sem bater. Ele olhou para o aluno, franzindo a testa. Regulus abaixou sua cabeça, seus olhos úmidos de vergonha não conseguiam encarar o professor.
- Agora você pode falar, Black.
- Me desculpe, Professor. Eu sinto muito por ter traído sua confiança. Sinto muito por ter invadido seus aposentos e ter roubado pó de Flu. Eu não pensei nas consequências disso e me sinto completamente arrependido pelo que fiz.
O professor o escutava em silêncio. Então perguntou:
- Alguém o obrigou a fazer isso?
- Não, professor. Eu mesmo tive a ideia e fiz...
Os dois ficaram em um silêncio constrangedor. Regulus sabia que devia mais explicações, então tomou fôlego e mentiu:
– Hoje todos iríamos para Hogsmeade. Eu apenas pensei que iria impressionar muito uma certa garota se ela não me visse sair da escola, mas me visse chegar no povoado. Achei que ela iria ficar curiosa para saber como consegui e isso ia me render muitas horas de conversa às sós com ela... – ele levantou ligeiramente a cabeça para checar a reação do professor.
As feições embrutecidas do professor se abrandaram e ele sorriu. Aparentemente os professores de Hogwarts eram mais suscetíveis a acreditar em histórias de amor do que em qualquer outro tipo.
- Black, embora seja proibido aos alunos usar a rede de flu, eu teria permitido a você usar a minha lareira se você tivesse me pedido.
- Teria? – perguntou, franzindo a testa.
- Sim, nada disso seria necessário. Gosto de sua sinceridade e aprecio sua disposição em fazer qualquer coisa em prol do amor. Então, desta vez eu vou perdoá-lo. Mas gostaria que isso não voltasse a acontecer. – terminou Kettleburn, com um sorriso ainda mais afetuoso.
- Sim, senhor. Prometo que não vou mais invadir seus aposentos. Me desculpe mais uma vez.
- Gostaria de lhe pedir mais uma coisa, Black.
- Pois não.
- Gostaria que você não comentasse sobre esse episódio com ninguém. Conversei com Slughorn e com o diretor e eles concordaram em manter segredo. Não quero que a escola toda saiba da suscetibilidade de invasão dos meus aposentos. E nem que o nosso herói deixe de ser respeitado. Todos temos direito de errar.
Regulus abaixou a cabeça mais uma vez. Sentiu-se ainda mais envergonhado ao ver a preocupação do professor em preservar sua reputação. Preferiria ter sido castigado.
Kettleburn deu um tapinha em suas costas e levantou-se.
- Todos nós cometemos erros. Professor Dumbledore acredita qye vocês não estavam pretendendo fazer nada de grave; ele disse que devia ser somente curiosidade. Não fique assim. Vamos!
Regulus sorriu timidamente. Isso era mais do que ele poderia esperar. Outro dia de sorte.
- Professor, a professora Sprout sabe?
- Não, ela não sabe de nada. Como eu disse, isso ficou entre Slughorn, o diretor e eu.
- Obrigado, professor. A aluna de que lhe falei é da casa dela, sabe?
- Fique tranquilo, Black. Seu segredo está seguro comigo. – o professor piscou-lhe um olho e depois deu-lhe as costas e saiu. Regulus o seguiu novamente e voltou para a mesa da Sonserina sorrindo. Sentia-se aliviado por ter sido perdoado e agradecido por Kettleburn ser um homem tão bom. Mas este sentimento durou pouco.
- Um mês de detenção, hein?! Todas as noites! Como vamos fazer? – comentou Jack, olhando para os outros, antes mesmo que Regulus se sentasse.
Regulus abriu a boca para falar palavras encorajadoras, mas ao passar a perna sobre o banco para poder sentar, sentiu sua rainha branca cutucando por dentro do bolso da calça. Alice. Foi como se um feitiço o atingisse e subitamente ele não conseguia mais sustentar seu corpo, largou-se sobre o banco, sentando-se de qualquer jeito.
Disfarçadamente ele se virou para olhar a mesa da Lufa-lufa às suas costas. Alice não estava lá. Era provável que estivesse em Hogsmeade com suas amigas, que também não estavam ali. Um sentimento de vazio tomou conta do seu peito. Sentia-se culpado, não pensara em Alice sequer uma vez antes de se meter a roubar e usar o pó de flu. E agora precisava contar a ela sobre a detenção. O que a amiga diria? Quanto tempo os dois ficariam sem se falar por conta de um erro seu? “Você é tão burro, tão inconsequente, e negligente, Reg. Você deveria ter estudado mais antes de ter feito aquilo. você pensou mesmo que um professor de Hogwarts pudesse ser tão descuidado? Estúpido! Ingênuo!”, dizia uma vozinha dentro de sua cabeça.
Colocou a mão no bolso e sentiu a rainha se mexer e tirou a mão rapidamente como se tivesse levado um choque elétrico.
- O que foi?
- Não foi nada, Ami. Preciso contar algo a vocês, depois do almoço, pode ser?
- Se não for demorar. Marcamos uma partida de Gobstones contra os alunos do segundo ano da Grifinória. John, você não contou pro Reg? Vamos apostar uns sapos de chocolate...
- Sapos de chocolate? – perguntou John em um tom jocoso - só se for você. Eu vou apostar um galeão contra o Brown. Vou ganhar fácil. Ele é um tosco. Você vem com a gente ou não, Black?
- Ahn, não tô a fim hoje, não. Estourem muitas bolinhas na cara dos caras. Depois tirem umas fotos e distribuam pelas paredes dos corredores. Isso vai valer mais do que 10 galeões.
Regulus riu, imaginando os rostos manchados de tinta dos garotos da Grifinória. Ele pensou que só seria divertido se fossem jogar contra seu irmão e sua turma, mas jogar contra alunos do segundo e do primeiro ano nem chegava a valer a pena. Regulus correu os olhos em volta para ver as possíveis vítimas de seus amigos e acabou encontrando o olhar do professor Kettleburn, que lhe ergueu uma taça, como se em sua homenagem.
O garoto sorriu amarelo, ele sentia um grande constrangimento pelo ocorrido. Não por ter roubado o pó de flu, mas por ter sido descoberto e ter sido pego em flagrante pelo diretor de sua Casa. Pelo menos havia conseguido disfarçar suas verdadeiras intenções. Ele sabia que tinha tinha tido sorte, pois Dumbledore não tinha ido conversar com ele. O pequeno Black sabia que teria dificuldades em esconder suas intenções do diretor. Agora ainda havia esperança de entrar no clube. Ele sabia que Rosier não os perdoaria se tivessem sido obrigados a falar a verdade.
A peça de xadrez remexeu em seu bolso mais uma vez. Gostava tanto da companhia de Alice e agora ficariam um mês inteiro sem poder conversar direito, sem jogar xadrez. Ele colocou a mão sobre ela como se a acariciasse e a pequena rainha se aquietou.
Quando tirou a mão do bolso, notou que a ponta de seus dedos estava verde. Havia um resto de pó de flu em suas vestes. Ele bufou, desapontado consigo mesmo. Parecia um plano perfeito. Como foi que ele fora descoberto? Seria a tal cabeça de dragão? E a lareira? Quem poderia imaginar que estivesse desativada? De qualquer forma, ele deveria ter analisado mais a lareira antes de testá-la. Mas como? Que tipo de teste seria necessário para saber se uma lareira funcionava? Nunca tinha ouvido falar em lareira que tivesse sido desativada. Deveria haver um jeito. Ele prometeu a si mesmo que iria conseguir fazer a lareira funcionar e não seria pego, era uma questão de honra, agora. E se ele conseguisse, seria um feito ainda maior aos olhos de Rosier e ele teria respeito do pessoal do clube quando fosse admitido. Essa ideia o animou um pouco.
Regulus olhou para o teto do Grande Salão. Uma neve tímida parecia cair do lado de fora, cintilando na luz igualmente tímida dos fracos raios de sol que ousavam penetrar as densas nuvens. Distraído, por um instante ele esperou que os flocos de neve começassem a cobrir as mesas. Mas isso não iria acontecer, já que aquilo não era real era apenas um reflexo do céu do lado de fora. Então ele se sobressaltou! Neve! E fez as contas. Só agora lhe ocorrera que estavam a menos de um mês para o Natal. Se Slughorn os obrigasse a cumprir os trinta dias de detenção, não seria apenas um mês, mas cerca de um mês e meio no castigo, já que teriam as férias de inverno neste intervalo. Isso era terrível por dois motivos: o primeiro era que cada semana que passava era uma semana a mais que Crouch, Snape e os outros tinham de treinamento e aprendizagem no novo clube – e ele não. Outro ponto muito importante que dizia contra as férias de inverno era o fato de que o pai de Alice não gostava que ela recebesse cartas de meninos. Aquilo lhe doía por dentro e fazia com que cada minuto que ele pudesse passar com ela agora se tornasse mais importante. Afinal, ela era a sua melhor amiga, não era? Ele justificava a si mesmo. Regulus terminou rapidamente seu almoço em silêncio, então inclinou-se em direção aos seus companheiros de quarto:
- Não tenho tempo agora de explicar, mas não comentem nada sobre o que aconteceu esta manhã com ninguém e evitem conversar entre vocês sobre isso. Slughorn já abafou o caso e Kettleburn pediu sigilo. Depois explico melhor. Agora tenho que ir. Vejo vocês mais tarde. Acabem com aqueles leões. Façam eles miar como gatinhos... quero ver as fotos depois! – ele riu.
- Deixa com a gente, Reg. – disse Ami.
Regulus levantou-se e saiu. Precisava encontrar Alice.
Comentários (1)
Luhna, Sheila, Jane e todos mais que estão lendo minha fic, Olá!Primeiro gostaria de agradecer pelos comentários, eu realmente estou muito contente em receber este feedback de vocês, é muito legal. Espero que outros se animem.Em segundo lugar, preciso me desculpar pela demora em postar este capítulo - que, além de tudo, não é dos mais emocionantes. Eu estou viajando e ficou complicado ter tempo para sentar e escrever. E, na realidade, o capítulo estava imenso, com quase dez páginas, então resolvi cortá-lo ao meio. Acho que ficou melhor assim, embora a parte divertida e mais emocionante tenha ficado no próximo capítulo... (Okay, espero que não achem que isso é uma propaganda enganosa.... hehehehe, mas o encontro da Alice com o Regulus ficou bonitinho, embora não seja ainda um "encontro".... vou fazer alguns ajustes nele e postar na próxima sexta, prometo).Aguardo mais comentários!!! Mil desculpas mais uma vez!!
2014-01-23