Sonserina x Corvinal
Os dias que se seguiram foram bastante agitados. Emma havia marcado treinos diários para o time, disputando inclusive o campo com Richard Broadmore, que por algum motivo cedeu o campo para Emma após dois minutos de discussão. Rupert Greengrass, que passava por eles naquele momento disse que poderia jurar que Emma havia azarado Richard, usando a varinha discretamente por baixo de sua roupa. Dados os novos acontecimentos no Clube de Duelos, a possibilidade de Emma ter usado algum feitiço para tirar o time da Corvinal de campo era entendida como um grande feito e foi comemorado pelo time num treino bastante produtivo. Regulus, aliás, capturara o pomo cinco vezes durante o treino de meia hora, levando a equipe ao delírio. Quando o sábado chegou, todos tinham certeza da vitória. Todos, menos Regulus, que começou a se sentir um pouco inseguro.
Subiu as escadas para o salão principal onde seus amigos o aguardavam para o café da manhã. A luminosidade do salão agrediam seus olhos sonolentos. Quase não havia conseguido dormir à noite e o som das conversas e dos talheres parecia mais alto que o normal. Andou por entre as pessoas com a visão focada em uma vaga na mesa da Sonserina, ao lado de Amifidel, sem se aperceber das palavras de incentivo e desejos de boa sorte que muitos lhe falavam ao passar.
Sentou-se à mesa sem pedir licença, os amigos o receberam com entusiasmo que ele respondeu com um sorriso amarelo pra lá de sonolento, sem palavras. Não tinha certeza se iria conseguir comer alguma coisa naquele dia, mas não queria mostrar-se fraco diante dos outros e disfarçou sua falta de apetite e nervosismo servindo-se de tudo o que estava ao seu alcance, formando uma espécie de barricada de alimentos em sua frente. Amifidel, Jack e John falavam alto e gesticulavam bastante, descrevendo os movimentos espetaculares de Regulus durante os treinos. Regulus tentava não olhar para os amigos e escondia-se atrás dos ovos com bacon que devorava como se esta fosse sua última refeição. Foi quando, Sirius aproximou-se e falou, sorrindo:
- Só você mesmo para me fazer ficar tão próximo a um ninho de cobras...
- Sir! – Surpreso ao ver Sirius ali, Regulus ficou sem saber o que dizer. Então viu que o irmão escondia alguma coisa em suas mãos, atrás das costas. Isto o despertou: – O que você tem aí, Sir?
- Vovô Arcturus enviou hoje cedo...
- Minha vassoura?!
Sirius entregou o embrulho para o irmão, que o abriu com entusiasmo.
- E ele mandou uma cartinha; mamãe também. – E dizendo isso, entregou dois pergaminhos.
- Porque será que não mandaram direto para mim? Que estranho!
- Acho que eles queriam garantir que eu falasse com você antes do jogo... Bobagem! Eu viria aqui de qualquer jeito para lhe desejar boa sorte... – falou, passando a mão na cabeça do irmão mais novo, deixando-o encabulado. Então observou a quantidade de comida que Regulus estava prestes a comer: - Seria bom se eu tivesse trazido uma poção digestiva junto, acho que você vai precisar...
- É, acordei com um pouco de fome hoje...
Foi quando a coruja de Simone e Sophie chegou e entregou uma carta particularmente perfumada para Regulus. Ao pegar o pergaminho cor-de-rosa e sentir seu perfume, Regulus não teve nem tempo de abri-lo para ver o que dizia, o cheiro o enjoou de tal forma que ele saiu correndo em direção a porta de saída. Mas infelizmente não teve tempo e acabou vomitando ali mesmo todo o café da manhã. Sirius veio logo atrás dele para acudi-lo e o levou para a ala hospitalar, carregando consigo a vassoura e as cartas, que enfiou em um bolso de qualquer maneira para poder segurar o irmão pelo braço, um pouco sem jeito.
- Pode me soltar, Sir. Estou bem.
- Não, vamos ver se Madame Pomfrey tem algo para você. Que mamãe não fique sabendo, mas... que vençam as cobras!
Regulus olhou para o irmão, perplexo:
- Não acredito, Sirius Black! É você mesmo que está aí? – ele disse, sacudindo a cabeça do irmão.
- Eu sempre vou apoiar você, maninho.
- Eu também, Sir. Uma vez Black, Black para sempre! E nada mais importa, não é?
Sirius deu uma gargalhada e respondeu, enquanto abria a porta da ala hospitalar para o irmão:
- Não, claro que não. Nem mesmo o fato de que falei para todo mundo que fui eu que o ensinei a jogar quadribol!
- E isso eu não posso negar, apenas posso dizer que você se sai muito melhor na teoria do que na prática, não é mesmo?
- Hum, Hum. Com licença, meninos. Aqui deve se respeitar o silêncio curativo dos enfermos. O que aconteceu com vocês, fora todo este entusiasmo? – Madame Pomfrei havia chegado. Então os garotos lhe explicaram o que havia acontecido e vinte minutos depois já estavam indo para o campo.
- Bom jogo, maninho. Vê se não dá moleza para Rachel e o Richard, hein?
- Pode deixar. Agora vou me trocar, Sir. Te vejo mais tarde.
E dizendo isso, correu em direção aos vestiários, onde encontrou Emma furiosa por seu atraso e também pela presença de duas garotas vestidas de azul que pularam em seu pescoço assim que ele chegou: Sophie e Simone.
- Uau! – ele sacudiu a cabeça como quem tenta colocar as ideias no lugar – Nossa! Que surpresa vê-las aqui... Como?
- Como assim? – perguntou Simone.
- Enviamos a você um pergaminho hoje cedo avisando que havíamos conseguido permissão para vir, acabamos de chegar e... Você não leu?
- Ah, a carta... – ele respondeu, tirando-a do bolso ainda lacrada e totalmente amassada. Então olhou para as meninas, sem jeito: - eu não estava passando muito bem esta manhã... Mas fico muito contente que tenham vindo...
- Tá, tá... Mas agora temos um jogo para ganhar... Será que vocês podem deixar meu apanhador colocar seu uniforme? – disse Emma, nervosa.
- Meninas, esta é Emma, capitã do nosso time.
- Ah, ouí... Você já havia falado sobre ela antes... É tão bonita quanto você descreveu... – disse Sophie, tentando amenizar o desconforto da situação. Emma sorriu em resposta e disse:
- Prazer em conhece-las. Agora, se me dão licença, precisam mesmo ir...
- Olhem lá, Sir está vindo. Bom jogo! – disse Simone, deixando o vestiário, puxando Sophie pela mão, correndo ao encontro de Sirius, que quase caiu quando as duas se atiraram sobre ele num forte abraço. Regulus que assistia a cena da posta dos vestiários, riu com satisfação. Era muito bom ter as amigas ali. Tinha certeza que tudo daria certo.
- Black!!!
Gritou Emma. Ele correu para se trocar. O uniforme verde e prata cintilava e se ajustava perfeitamente ao seu corpo magro. Muito bom estar aqui e vestir este uniforme, pensou Black. Os outros jogadores o olhavam ansiosos, querendo apressá-lo ao mesmo tempo que diziam palavras de incentivo. Então Sirius veio à porta mais uma vez, com Simone pendurada em seu pescoço, trazendo a vassoura:
- Acho que você vai precisar disso, maninho.
- Obrigado, Sir. – ele disse, sorrindo ao mesmo tempo que franzia as sobrancelhas, ao notar o beijo que Simone dava na bochecha de seu irmão enquanto se afastavam de volta às arquibancadas. ‘Então Sirius tem uma namorada’, pensou Regulus, caminhando em direção ao centro do campo, junto com o restante do time. Sentia-se feliz pelo irmão e sorria quando deu de cara com Rachel. Seu sorriso ganhou um tom desafiador e ele sussurrou:
- Prepare-se. O pomo é meu.
Rachel ficou vermelha de raiva e seu corpo se contraiu inteiro, contendo as palavras que gostaria de dizer. só conseguiu soltar um:
- Não! – em voz bastante alta, que chamou a atenção da professora que anunciava o início do jogo:
- Qual o problema, Ms. Broadmore?
- Nenhum, não senhora. Só me empolguei um pouco, disse: ‘vão... quer dizer: vamos lá’!
A professora não pareceu satisfeita com a resposta, mas não comentou mais nada. Olhou para o céu azul e indicou:
- Em suas posições, goles no ar! - E apitou o início do jogo.
O jogo começou com entusiasmo. Richard Broadmore, agora capitão do time da Corvinal, não parecia ter esquecido o incidente em que Regulus acidentalmente havia provocado a queda de Rachel, sua irmã, durante o jogo contra Grifinória na temporada passada. Sempre que Regulus se aproximava de Rachel, Richard lhe atirava um balaço. Regulus esquivava-se. Após o quarto balaço enviado por Richard, ele ficou lamentando que apanhadores não pudessem carregar um taco, pois tudo o que mais queria era poder devolver aquele balaço.
O vento zunia em seus ouvidos e ele olhava satisfeito a multidão de alunos excitados nas arquibancadas. Seus companheiros de time esforçavam-se mais que podiam e estavam marcando muitos pontos. Rupert marcava pela oitava vez consecutiva, deixando o time da Corvinal realmente nervoso, pois perdiam o jogo por uma diferença de 80 pontos. Foi quando Richard lançou um balaço que veio zunindo direto para a mandíbula de Rupert, que tombou, nocauteado. Emma, que estava por perto, acudiu o garoto e gritou para Regulus:
- Agora é com você!
Então Regulus começou a escanear o campo voando o mais rápido possível, sem conseguir ver onde estava o pomo. Para seu alívio, Rachel também parecia longe de pegar qualquer coisa. Ele estava fazendo uma volta em torno do campo, voando acima de qualquer outro jogador para ter uma visão mais ampla quando... oh, não! Um balaço! Ele esquivou-se dando um looping que o fez desequilibrar levemente, então: outro balaço! Este segundo passou zunindo pela sua orelha esquerda. Richard Broadmore parecia determinado em derrubá-lo da vassoura a qualquer custo. Regulus se viu obrigado a voar mais rápido e mudar de direção a todo instante, suando frio ao tentar se esquivar dos balaços de Richard, que a essa altura do jogo pareciam ter se multiplicado, pois mal ele conseguia se recompor sobre a vassoura e já precisava desviar novamente. Quando um balaço especialmente furioso o atingiu em cheio nas costas, tirando-lhe todo o ar que ele viu um brilho dourado cintilar próximo da cauda da vassoura de Avery, batedor de seu time. Então ele voou em direção a ele. O único problema foi que Rachel também o avistara e pareou o voo com o dele, tentando ultrapassá-lo. Então Black, estrategicamente saiu do caminho, voando o mais rápido que pode para ficar na frente de Avery. Neste momento, Richard mandou novamente um balaço contra Regulus, que gritou para o companheiro de equipe:
- Avery, rebate! Atrás.
Avery rebateu o balaço para trás, desequilibrando Rachel, que desta vez não caiu da vassoura, mas ficou pendurada nela pelas mãos, enquanto Regulus pegava o pomo em sua frente, rindo debochadamente:
- Eu te avisei.
E, diante da galera que explodia em gritos de alegria, ele ajudou Rachel a subir na vassoura, num ato de cavalheirismo que lhe lembrava seu pai. Os dois desceram juntos ao gramado. Ele, triunfante, erguia o pomo o mais alto que podia. Ela, bufando, dava-lhe as costas enquanto arrancava pedaços de grama que chutava pelo caminho enquanto corria para fora do campo. Então ele não pode ver mais nada, ele fora engolido por uma multidão verde e prata que gritava seu nome.
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