Metamorfose
À noite, durante o jantar, Regulus evitou olhar para a mesa da Grifinória, não queria ver o irmão. Jantou rapidamente e foi para a sala comunal, sozinho. Ao chegar na sala, encontrou Severus no sofá próximo à maior janela, lendo. Estavam sozinhos na sala, os outros ainda não haviam voltado do jantar e, ao que parecia, Severus não quis ir jantar aquela noite. Pensou em se aproximar, mas desistiu no meio do caminho, não sabia ao certo o que iria falar. Sentou-se a um canto, em uma poltrona ao lado de uma pequena mesinha, onde havia uma caveira de prata. Pegou a caveira na mão e ficou examinando-a por alguns instantes. Rodou e rodou a caveira em sua mão, depois a colocou na altura dos olhos, encarando suas órbitas vazias. No fundo das órbitas, viu seus olhos negros refletidos. Isto, de alguma forma, lhe pareceu engraçado e ele começou a gargalhar.
Severus, ao outro lado da sala, levantou a cabeça e olhou por cima do livro. Ao ver Regulus pareceu aborrecido, fechou o livro e começou a andar em direção ao dormitório.
- Hei! Não! Espere... Queria falar com você...
Disse Regulus, de susto, levantando-se da cadeira e olhando para Severus que já lhe dava as costas. Severus parou, voltou-se lentamente e o encarou erguendo uma sobrancelha. Olhos negros em olhos negros, desafiante:
- Alguma piada sem graça que seu irmão se esqueceu de fazer?
- É sobre isso que eu queria falar...
Mas ao ver Severus dando-lhe as costas novamente, ele se apressou em dizer:
- Não gosto da atitude do meu irmão. Não sei o que há entre vocês, mas acho lamentável o que vi hoje. Quero pedir desculpas por ele...
Severus se virou para encará-lo novamente e disse:
- Esqueça isso, não quero suas desculpas.
Antes que Regulus conseguisse piscar, Severus estava andando novamente. Ele correu atrás do outro e disse:
- Espere. Professor Slughorn disse que você é brilhante em poções...
- Olha garoto, não me leve a mal, mas hoje não quero conversar. Me procure outra hora...
E dizendo isso, Severus abriu a porta que levava ao dormitório e sumiu corredor a dentro. Deixando Regulus sozinho na sala. Ele começou a vagar entre as poltronas, olhando as tapeçarias e os objetos espalhados por toda sala.
Havia toda uma aura obscura em torno da sala comunal da Sonserina, com todas aquelas tapeçarias antigas mostrando cenas de grandes feitos de antigos membros da casa, a mobília escura decorada com caveiras de prata por todos os lados, somados a isso a presença do Barão Sangrento, com seu permanente mau-humor. Para Regulus tudo aquilo não passava de uma grande brincadeira, pois ele havia crescido em um ambiente assim: seus pais eram um tanto obcecados por artefatos estranhos. Desta forma, aquilo tudo nunca o assustou, como pretendiam os veteranos da casa nos primeiros dias.
- O que faz sozinho aqui, rapaz?
A voz estrondosa do Barão Sangrento o pegou desprevenido. Ele sentiu um arrepio crescendo em sua nuca, ao que não deu bola, e respondeu:
- Não estou sozinho, estou com o senhor e acho que acabamos de começar a conversar...
- E pelo seu tom de voz, estamos terminando também...
Disse o Barão, dando-lhe as costas e quase sumindo por uma parede lateral. Regulus apressou-se:
- Oh, me desculpe. Não queria chatear o senhor. Fique por favor. Estou esperando meus amigos voltarem do jantar... Eu, bem, comi rápido demais hoje...
O Barão, ao contrário do que se esperaria, voltou.
- Recebo alunos aqui há mais tempo que você possa imaginar, os vejo entrar meninos e sair desta escola homens. Mas para sair, você terá que entrar primeiro.
Dizendo isso, ele deixou a sala. Regulus ficou olhando atônito o local da parede onde o Barão sumiu, e resmungou:
- Cara doido. Que coisa sem sentido.
Dizendo isso, desistiu de esperar pelos outros e foi se deitar.
Deitou-se na cama sem trocar a roupa e adormeceu rapidamente. Estava escuro e ele perambulava pelo castelo, como se voasse. Chegando ao terceiro andar, avistou o Barão Sangrento ao final do corredor e ele parecia uma cobra tentando arrancar a cabeça de um leão. Quando finalmente a arrancou, Regulus percebeu que ele próprio era o leão e sentiu seus braços unindo-se ao seu corpo, suas pernas se fechando, grudadas por um feitiço adesivo permanente lançado pela voz de sua mãe, que vinha de todas as direções. Subitamente foi guindado pelos tornozelos e pendurado de ponta-cabeça por cordas invisíveis. Ele então começou a rodopiar cada vez mais rápido e quando percebeu suas roupas foram sumindo ao mesmo tempo que eram trocadas por escamas reluzentes esverdeadas. Então ele se percebeu em frente a um espelho e sua imagem era de uma grande cobra verde, uma cobra que parecia feliz e a voz do Barão sangrento começou a ecoar em sua cabeça: “para sair, você terá que entrar primeiro”. Acordou no meio da noite, assustado. Estava suando muito, seu corpo totalmente enrolado nos cobertores impedindo que ele se movesse, como se fosse uma lagarta em seu casulo. Por alguns instantes pensou mesmo que suas pernas e seus braços poderiam estar colados em seu corpo. Então rolou para um lado e para o outro e caiu da cama.
Amifidel acordou assustado, os outros também. Jack Laughton pegou a varinha:
- Lumos.
Regulus olhou para seus companheiros de quarto um pouco sem graça, desejando que todos sumissem e que não o vissem naquele estado lamentável. Depois as palavras do Barão vieram mais uma vez em sua cabeça e ele olhou para os outros, que estavam apreensivos devido a sua expressão de poucos amigos. Então ele lembrou de seu sonho maluco e falou rindo:
- Vocês não vão me ajudar a sair daqui?
- Hum... Acho que não ...
Respondeu Amifidel trocando olhares marotos com os outros. Então deram as costas para Regulus e fingiram que iam para suas camas. Regulus ainda não conseguia se mover e começou a gritar:
- Hei, me tirem daqui. Me ajudem, caras!
- Você que pediu... quando eu contar três – Então Amifidel, Jack e John pegaram nas extremidades do cobertor de Regulus e o desenrolaram como se abrissem um pergaminho, deixando o amigo rolar no chão. Uma vez solto, não se podia dizer quem começou, mas um travesseiro atingiu Regulus na cabeça ao mesmo tempo que ele lançava seu próprio travesseiro contra Amifidel. E outro travesseiro atingia em cheio as costas de John Münch. Em pouco tempo estava feita a guerra e os travesseiros pareciam ter se multiplicado e batiam cada vez com mais força, de modo que os garotos já haviam montado trincheiras com suas camas e atacavam uns aos outros furtivamente, rindo alto e gritando alegremente. Meia hora depois o Rosier rompia porta adentro acompanhado do professor Slughorn, que fora recepcionado com uma travesseirada no nariz e imediatamente sacou sua varinha e suspendeu todos os travesseiros no ar, olhou para os quatro alunos do primeiro ano e fez os travesseiros atingirem todos ao mesmo tempo, como a descarga de uma metralhadora, fazendo-os cair sentados no chão. Depois ordenou:
- Sugiro que arrumem esta bagunça e voltem a dormir. Em poucas horas quero vocês atentos a minha aula... E da próxima vez que resolverem guerrear de madrugada, ou me acordem antes de começar para que eu possa me juntar a vocês, ou não façam tanto barulho, pois a senhorita Narcissa reclamou que vocês interromperam o sono de beleza dela. Todos para as camas, agora.
No dia seguinte parecia, finalmente, que Regulus havia entrado para Sonserina: estava brincalhão com todos, conversando e fazendo travessuras. Todos pareciam estar satisfeitos com sua mudança, embora sua prima Narcissa, aluna do 6º ano, lhe lançasse olhares severos.
Comentários (3)
HahahahGostei desse professor ai...
2015-04-01Obrigada! :D
2013-07-28'Me acordem antes de começarem para que eu possa me juntar a vocês'Muito engraçado : D Sono de beleza...
2013-07-13