Irmãos



Após terminar de passar a limpo sua carta, que foi cuidadosamente examinada por Sirius, Regulus a prendeu em Schwarzie, sua coruja das torres, que parecia, como ele, um tanto contrariada, mas seguiu em direção ao Grimmauld Place, 12. Regulus tentou alienar-se da bagunça que o irmão e seus amigos faziam na cabine, mas ao que tudo indicava, tamborilar na janela com o olhar distante não o fazia deixar de ouvir o que estava acontecendo a poucos centímetros de si.


Subitamente, Remus deixou de lado seu livro, abriu a porta e pegou Sirius pelo braço e saiu para o corredor. Uma vez fora, fechou a porta com força. De dentro da cabine não se conseguia ouvir o que os dois conversavam, mas pelos gestos podia se supor que não era algo muito amigável. Regulus observava pelo canto do olho a discussão, enquanto James segurava Peter pela blusa para que não colasse o rosto na porta, curioso. James segurava um sorriso nos lábios, porém pareceu ligeiramente preocupado quando Sirius sacou sua varinha e a apontou contra o rosto de Lupin, que ficou impassível por alguns instantes até que os dois caíram na gargalhada, Sirius abaixou a varinha e entrou abraçado ao amigo na cabine do trem, comentando:


- Como sempre você tem razão, meu amigo.


E olhando para o irmão, ele acrescentou:


- Regulus, me desculpe. Me excedi.


E pegando o pergaminho que o irmão mantinha amassado em sua mão, releu a carta e disse:


- Vamos dar uma volta pelo trem. Venha.


Regulus o seguiu, sem olhar para os outros e deixou a cabine. Sirius continuou:


- Me desculpe, às vezes eu me empolgo. Na verdade fiquei muito orgulhoso quando li a carta que você estava escrevendo para mamãe. (Regulus lhe olhou incrédulo). Ah, sim, fiquei orgulhoso porque percebi o que você é muito observador, coisa que nunca havia visto antes, quando estávamos em casa... Você fez uma descrição muito boa minha e dos meus amigos naquela carta. Também tenho a impressão que Peter lamberia a sola dos meus sapatos se eu permitisse... Mas no fundo ele é um cara legal.


Regulus continuou mudo e mal olhava para o irmão enquanto andavam pelos corredores do trem.


- Queria que você continuasse acreditando em suas impressões, meu irmão. Essa coisa toda de sangue-puro não é bem assim como nossos pais contam. O que conta é a essência de cada um, olhe para Lupin, ele é mestiço para dizer o mínimo e é, como você pode notar, o cara mais decente entre nós.


Regulus, então, parou de andar e encarou o irmão. Abriu a boca, mas desistiu antes de falar e voltou a andar.


- Daqui a algumas horas você vai ser selecionado em Hogwarts. Não importa para que casa você vá, não importa o quanto estúpido eu pareça, você será sempre meu irmão e tenha certeza que poderá contar comigo sempre que quiser... Olha, não sou muito bom com as palavras, cara. Você sabe... Mas... Bem... É isso.


Neste instante eles chegam à porta do último vagão antes da locomotiva. Na porta estava escrito: “não é permitida a entrada de pessoas não autorizadas”. Regulus olhou para o irmão, que disse, confiante:


- Regulus Arcturus Black, eu, na qualidade de seu irmão mais velho, autorizo sua entrada neste vagão.


- Sirius, você não cresce!


Diz Regulus, sorrindo pela primeira vez desde que partiram de King’s Cross.


Sirius abriu a porta e eles entraram. Estavam na cabine de serviço do trem. Uma senhora de nariz pontudo e cabelos negros escondidos sob uma toca de uniforme estava sentada olhando pela janela.


- Com licença, madame. Eu sou Sirius e este é meu mais novo irmão Regulus. Eu sei que em poucas horas estaremos em Hogwarts, mas (diz Sirius baixando a voz) meu irmão ainda está com aquela fome chamada saudades de casa... Sabe como é longe de casa a primeira vez... Será que a senhora não teria algo...


Não foi necessário terminar a frase, a senhora olhou para Regulus com carinho e convidou:


- Venha, querido, sente-se aqui. (Disse, apontando para uma mesa com duas cadeiras, onde o condutor fazia suas refeições). Tenho um bolo de caldeirão especial de cenoura roxa, suco de abóbora e bolinhos recheados com flores de cerejeira e geleia de maçã.


Regulus olhou para o carrinho de comida se perguntando se havia visto alguma destas coisas quando ela havia passado vendendo guloseimas.


- Ah, não, nada do que lhe falei está à venda. São especiais. Tenho certeza que vai adorar. Sentem-se os dois.


Sorrindo ternamente, ela acenou sua varinha e fez o bolo, o suco e os bolinhos, bem como copos, pratos e talheres para os dois flutuarem para a mesa. Os dois se sentam e Regulus serviu-se. Sirius ficou calado, sorrindo e observando o irmão comer. Regulus perguntou:


- Que foi?


- Nada. Só estava lembrando da gente quando era pequeno brincando de se esconder com o Kreacher, você se enrolando todo nas cortinas da Dona Walburga... Você era tão pequeno! Sabe, senti sua falta ano passado lá na escola.


- Mas agora eu estou aqui, Sir.


- É, está...


Respondeu Sirius vagamente, já antecipando que este seria o último encontro dos dois em que não haveria coisa alguma os separando.

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