Praise of a Killer
Disclaimer: Harry Potter não me pertence e tudo que vocês reconhecem pertence a J.K. Rowling. Essa história também é inspirada em “A Shattered Prophecy”, do Project Dark Overlord.
Chapter Six - Praise of a Killer
- Isso é tão injusto! – Damien reclamou.
Ele estava sentado á mesa da Grifinória, tomando café com seus companheiros de casa, mas seu humor incomum o impedira de desfrutar daquilo.
- Eu sei que é uma droga, cara, mas o que você pode fazer? – Ron disse antes de derrubar meia dúzia de panquecas no prato e lambuzá-las com calda de mel.
- Eu não acredito que eu vou perder! – Damien continuou. – Estive esperando semanas para ir ao jogo da Copa Mundial. Papai prometeu ir e me levar e agora ele simplesmente decide não aparecer! Quero dizer, nem mesmo uma coruja para dizer que teve que cancelar.
- Ainda choramingando sobre isso, Damien. Sinceramente, é só um jogo. Seu pai tem coisas mais importantes para fazer, sabe. – Hermione disse enquanto ela e Ginny sentavam-se próximas a Ron e Damien.
- Só um jogo? – o menino indagou. – Você obviamente não sabe muito sobre Quadribol, Hermione. Não é de estranhar, já que não é algo que se possa aprender num livro.
A monitora quintanista fingiu não escutar a última parte do que seu jovem amigo disse. Ela se serviu de um pouco de torrada ao invés disso.
- Tenho certeza que apareceu algo importante para o Sr. Potter. – Ginny o consolou. – Afinal de contas, ele não é de perder um grande jogo também.
“Essa é realmente uma boa razão”, pensou Damien.
Por que seu pai perderia o jogo? Ele era quase o maior fã de Quadribol de todos os tempos, tanto que foi nomeado o melhor artilheiro da Grifinória em seus tempos de escola. O troféu ainda estava na sala de troféus no corredor do terceiro andar.
Damien só vira James uma vez desde que ele retomara as atividades de auror. Ele parecia bem cansado e desgastado, mas o menino sabia que ele nunca reclamaria. Amava ser um auror. O jovem suspeitava que seu exausto pai provavelmente ainda estivesse dormindo, completamente esquecido da Copa Mundial.
- Se algo importante surgiu, ele deveria ter mandando uma coruja. – ele murmurou. – Ao menos eu ia saber que não devo esperá-lo.
Ron tirou os olhos do prato e viu a expressão sombria do amigo. Damien era três anos mais novo que ele, mas eram amigos desde criança. Já que os pais dos dois eram membros da Ordem, eles se encontravam regularmente. Molly e Lily reuniam-se com frequência na casa uma da outra e incentivavam os filhos a serem amigos. Como resultado, os garotos se tornaram tão bons amigos que o ruivo não se importava do mais novo andar com ele e seus amigos em Hogwarts. Ele estava acostumado a tê-lo por perto.
- Se anima, cara! – Ron disse. – Tenho certeza que o Sr. Potter vai te compensar. Há vários jogos por vir.
Com um suspiro, Damien assentiu. Ele voltou ao café da manhã, empurrando as panquecas de um lado para outro do prato.
- O que devíamos fazer hoje? – ele perguntou a Ron de repente.
- Vamos ver Hagrid e então talvez treinar Quadribol? – o amigo sugeriu.
- É, legal. – o menino respondeu, um pequeno sorriso enfeitando seu rosto. – Se eu não posso assistir ao jogo, posso muito bem jogar um.
- E você, Ginny, topa um jogo? – Ron perguntou à irmã.
A ruiva levantou os olhos de sua conversa sussurrada com Hermione.
- O quê? Ah, hum… não, não obrigada. Eu tenho que ir à biblioteca. – ela respondeu ficando um pouco vermelha quando um rubor apareceu em suas bochechas.
Os dois garotos trocaram um olhar antes de ambos suspirarem e revirarem os olhos.
- Ginny, desista já! Você não vai encontrá-lo! – Ron tentou.
- Que seja, Ronald! Cuide da sua vida. – ela vociferou para ele.
O ruivo suspirou. Ele se divertira ridicularizando e provocando a garota sem sentido pelos últimos dois meses, mas agora estava começando a sentir pena dela.
- Você nunca vai encontrá-lo. – ele destacou, ganhando um olhar mordaz em retorno. – Bem mesmo sabe se ele já frequentou Hogwarts.
- Eu devo minha vida a ele, Ron. – Ginny devolveu. – Eu tenho que ao menos tentar encontrá-lo para agradecê-lo.
O irmão não sabia o que dizer sobre aquilo.
Ginny voltou-se para Hermione. Ela odiava quando o irmão a ridicularizava, mas odiava especialmente quando ele fazia graça sobre esse assunto. “Ele não entende!”, dizia a si mesma toda vez. “Ele não estava lá”.
Ron faltara à última visita a Hogsmeade, há pouco mais de dois meses. Ele tomara um balaço na cabeça e estava se recuperando na ala hospitalar. Ginny fora ao vilarejo com o resto dos alunos de Hogwarts. Lembrava-se daquele dia perfeitamente. Tinha começado maravilhosamente, comprara em todas as suas lojas favoritas antes de ir a um pequeno café com Hermione e alguns de seus amigos. Seus pais e irmãos mais velhos tinham combinado de encontrá-la para almoçar. Ela estava rindo com eles, curtindo a história de Charlie sobre o último dragão de que estava encarregado, quando houve uma terrível explosão do lado de fora, tão forte que sacudiu o café.
Em pânico e apavorada, Ginny foi agarrada por Bill e Charlie, que a acolheram num ciclo protetor. Bill, Charlie, Arthur e Molly ficaram ao redor dela, protegendo-a.
- Fique aqui, Ginny. – Bill lhe disse.
- Fique perto da gente! – Charlie conduziu Hermione em direção à irmã, e ficou na frente das duas garotas.
Pandemônio eclodiu quando descobriram que Hogsmeade estava sob um ataque de Comensais da Morte. Diversos Comensais arrombaram a porta e começaram a atacar os ocupantes. Gritando de medo, Ginny e Hermione abaixaram-se para se proteger, Molly protegendo-as o melhor que podia.
- Molly, tire as garotas daqui! – Arthur gritou enquanto duelava com o homem mascarado.
Todos os adultos no café estavam fazendo o melhor para se defender dos Comensais da Morte. Incluindo Bill, Charlie e Arthur.
Molly segurou as mãos das duas garotas e correu para a porta dos fundos. A maior parte das pessoas no café estava correndo em direção à saída. Ela, Hermione e Ginny lutaram por entre a multidão e saíram num beco. Correram em direção a Hogwarts, tentando alcançar a segurança da escola.
De repente havia três homens mascarados bloqueando o caminho. Molly soltou Ginny e Hermione, puxando sua varinha.
- Corram! – ela disse à filha.
Relutantemente, conquanto aterrorizada pela segurança da mãe, Ginny se virou e correu, Hermione ao seu lado. As duas correram lado a lado, tentando encontrar um caminho para chegar à segurança.
Um feitiço passou pela ruiva, errando por pouco sua cabeça. Olhando para trás enquanto corria, ela viu dois Comensais da Morte a perseguindo. A amiga a puxou numa nova direção e elas correram para um antigo prédio abandonado. As duas atropelaram a porta mal lacrada e correram escada acima, procurando um lugar à sombra para se esconder. Ginny escutou a explosão atrás de si e sabia que os Comensais as tinham seguido.
Sem tempo para pensar, as duas garotas aterrorizadas correram para o topo do prédio, pensando apenas que tinham que fugir dos Comensais.
Quando alcançaram o topo, perceberam que não tinham onde se esconder. Estavam presas. Ginny virou-se para a porta quando ela foi escancarada e dois Comensais entraram no telhado. Olhando maliciosamente e rindo delas, os homens conseguiram agarrá-las quando foram atingidos por trás. A ruiva gritou de alívio ao avistar o irmão, Charlie, vindo em seu socorro.
O ruivo estava duelando com dois homens sozinho, já que nenhuma das duas estava com as varinhas. Era norma da escola deixar as varinhas em Hogwarts durante as visitas a Hogsmeade. Muitos alunos no passado fizeram o uso errado delas, então agora foram proibidos de levá-las durante as visitas ao vilarejo.
Ginny e Hermione recuaram o máximo que podiam para que não fossem atingidas pelo fogo cruzado de maldições. A ruiva estava muito ocupada assistindo e temendo pela segurança do irmão, então ela não viu a maldição Cruciatus atingir a parede e quicar em sua direção.
- Ginny! Mexa-se!
O grito de Hermione e sua visão periférica captando o jato veloz de luz vermelha fizeram a garota recuar para fora do caminho da maldição. Infelizmente, ela já estava perigosamente perto da beira do telhado e tombou.
Por um golpe de sorte, conseguiu agarrar um arame que pendia da borda do telhado. Agarrou-se por sua vida, mas podia ver que o arame fino não era forte o suficiente para aguentar seu peso. Gritou por Charlie, por Hermione, para que eles ajudassem, mas antes que alguém pudesse vir ao seu auxílio, o arame que protegia sua vida estalou.
Ginny foi despencando. Seu grito de terror fez Hermione e Charlie gritarem. A ruiva fechou os olhos, não querendo ver o chão e sua morte correndo ao seu encontro. Mas antes que pudesse atingir o solo, foi subitamente agarrada por um par de mãos fortes. Sua cabeça bateu contra um peito forte e a garota instintivamente jogou os braços ao redor da pessoa e agarrou-se a ela. Podia sentir o vento correndo por seu rosto e sabia que estavam voando.
Ela forçou os olhos castanhos a ficarem abertos para olhar para a pessoa que salvara sua vida. Olhos esmeralda encontraram os dela e ela sentiu-se imediatamente atraída por eles. Afastou as lágrimas dos olhos, sem saber se foi o vento ou sua quase morte que as trouxera. Seu herói misterioso tinha a face coberta por uma máscara prateada e, fora seus olhos, nada estava visível. Ela percebeu que estavam voando numa vassoura e a velocidade na qual estavam indo era fenomenal. Não conseguia abrir a boca para falar. Havia muito ar pressionando contra ela. Moveu o rosto para a direção contrária ao vento e em vez disso enterrou o rosto no peito do seu salvador. Mesmo na situação atual, sentiu-se estranhamente confortada pelos braços fortes ao redor de sua cintura e o calor de seu corpo próximo ao dela.
Ginny só se deu conta de onde estava quando sentiu os pés tocarem o solo e ela foi gentilmente removida da vassoura. Suas pernas não suportariam seu peso, não importava o quanto ela quisesse que elas aguentassem. Acabou apenas sentando no chão, respirando com dificuldade, tentando fazer o coração, que estava batendo freneticamente, desacelerar.
Olhou para cima e percebeu que estava sentada do lado de fora dos portões de Hogwarts. Podia ver alguns professores à distância, rapidamente caminhando até ela.
- Você está bem?
Ginny olhou para a voz, percebendo que era seu herói misterioso quem falara. Não conseguiu impedir o sobressalto que lhe escapou, a voz dele soava tão jovem. Pensara que ele fosse muito mais velho, já que salvou sua vida e voou como um jogador profissional de Quadribol. A voz dele era gentil, mas inegavelmente forte. Antes que ela pudesse responder, o garoto olhou e viu os professores correndo na direção deles. Sem outra palavra, ele montou na vassoura e saiu do chão.
- Espere! – a garota gritou, mas era tarde demais.
O garoto com os olhos esmeralda brilhantes se foi. Ginny não estava sequer ciente quando a Professora McGonagall e a Professora June a alcançaram e conduziram-na de volta ao castelo.
Desde então a ruiva se tornara obcecada por seu herói. Ela passara horas apenas conversando com Hermione, e com qualquer outra pessoa que a escutasse, sobre ele, sobre quão lindos seus olhos eram, como seus braços eram fortes, como sua voz era suave. Hermione se sentiu muito triste por ela. Podia ver quão encantada Ginny ficara por esse garoto misterioso, e porque não deveria? Afinal de contas, ele salvara sua vida. Decidiu que iria ajudá-la de qualquer forma que pudesse a tentar descobrir a identidade dessa “maravilha-de-olhos-verdes”.
A ruiva estava convencida de que o rapaz deveria ter vindo a Hogwarts em algum momento, a julgar pela voz, ele só podia ser um pouco mais velho que ela. Ginny não conseguia afastar a sensação de que já vira aqueles olhos verdes antes. Pensou que talvez ele fosse um aluno mais velho que vira nos corredores da escola ou alguém que estudara nos tempos de Bill ou Charlie e fora à Toca em algum momento.
Ela ficou cada vez mais desesperada na busca por ele, passando cada momento disponível revirando os antigos anuários na biblioteca, procurando por ele, por aqueles olhos esmeralda brilhantes. Hermione tentara apontar o fato de que a amiga não vira o rosto do rapaz, não sendo capaz de reconhecer sua foto, mas a garota rejeitara aquilo, insistindo que reconheceria os olhos dele no momento que os visse novamente.
- Então, Hermione. – Ginny começou, ignorando o irmão no momento. – Você vem comigo para a biblioteca?
- Claro. – a amiga respondeu, sorrindo para ela. – Podemos tentar procurar novamente se você quiser.
- Gin, você já considerou a possibilidade de que esse cara seja muito feio? – Ron perguntou, um sorriso maroto no rosto.
A ruiva girou para encará-lo.
- O quê?
- Talvez seja por isso que ele estivesse usando aquela máscara. – Ron explicou, sorrindo ao ver a expressão de raiva no rosto da irmã.
Ginny mergulhou para a varinha, tirando-a da bolsa. O ruivo levantou as mãos e balançou a cabeça, fazendo gesto de que não quis dizer aquilo.
- Eu juro, Ronald! Diga isso de novo e eu vou te enfeitiçar até o próximo século!– a irmã o avisou.
Ron apenas riu, divertindo-se por tê-la irritado tanto.
- Vamos, Ginny. – Hermione disse, fazendo a garota irritada levantar-se.
Antes que as duas pudessem deixar o salão, uma Lily Potter com os olhos muito inchados e preocupada entrou correndo, olhando freneticamente para a mesa da Grifinória. Ela avistou Damien imediatamente e correu até ele, quase derrubando as duas garotas no chão.
- Ah, desculpa garotas… desculpa! – ela murmurou antes de virar-se para o filho.
- Damien, venha comigo! Rápido! – ela disse, ignorando completamente os demais grifinórios que a olhavam com desconfiança.
- Bom dia para você também, mãe. – o menino respondeu com um sorriso descarado.
Ele viu o rosto preocupado da mãe e as bochechas manchadas de lágrimas e o sorriso escorregou de sua face.
- Mãe, o que há de errado? – ele perguntou enquanto erguia-se da cadeira.
- Professora Potter, está tudo bem? – Ron perguntou.
Lily ou não o escutou ou o ignorou completamente.
- Damien, venha comigo, agora! Nós temos que partir! – ela repetiu, gesticulando para que ele se aproximasse dela.
O menino levantou-se do assento e, sem palavras, seguiu a mãe para fora do salão, sem se virar para ver os olhares preocupados nos rostos dos amigos.
Quando mãe e filho estavam no hall de entrada, Lily tirou uma bolinha colorida.
- Portus. – ela sussurrou. – Damy, agarre a bola, sai em cinco segundos.
O menino fez o que lhe foi dito e três segundos depois sentiu um puxão familiar no umbigo quando ele e sua mãe foram transportados para fora de Hogwarts.
Os pés de Damien tocaram o chão e ele momentaneamente perdeu o equilíbrio. Endireitou-se antes de olhar ao redor, apenas para seu coração afundar até a boca do estômago. Ele estava parado em St. Mungo’s.
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- Mão, o que está acontecendo? Por que estamos no St. Mungo’s? – Damien perguntou, tentando não surtar, mas a preocupação nos olhos de sua mãe e suas mãos trêmulas estavam deixando o garoto muito nervoso.
- Venha comigo. – ela sussurrou para ele e, tomando-o pela mão, dirigiu-se aos elevadores do outro lado do saguão. Quando estavam dentro do elevador, o jovem perguntou novamente à mãe o que aconteceu.
- É o seu pai. – Lily disse baixinho. – Ele foi ferido na noite passada.
Damien sentiu o coração parar. Seu pai já fora ferido antes, sendo auror, era um risco da profissão, mas nunca antes ele tinha visto a mãe tão perturbada. Isso o fez pensar no pior.
- O que aconteceu com ele? – ele perguntou, querendo apaziguar seus medos.
- Ele foi ferido em serviço durante um duelo. – Lily estava tentando seu melhor para manter a voz firme, mas não conseguia esconder a preocupação completamente.
- Que serviço? – o menino perguntou, sabendo que a mãe entenderia a verdadeira perguntar, Auror ou Ordem.
- O primeiro. – ela disse já que nunca dizia as palavras “Ordem da Fênix” quando fora de muros seguros. Sabia que o filho sempre se referia à Ordem como o segundo trabalho de James.
As portas do elevador abriram, permitindo que Lily e Damien corressem para fora, indo para o quarto número cinco. Eles não estavam de modo algum surpresos ao ver um Sirius muito cansado e descontente sentado ao lado de James. Damien soltou um enorme suspiro de alívio ao ver o pai sentado na cama, conversando animadamente com o amigo. Ele parecia pálido, como se ficava após perder muito sangue. Havia uma bandagem em volta de seu pescoço e uma em seu braço. Mas além de parecer muito cansado, seu pai parecia estar bem.
James olhou para os dois recém-chegados e o rosto se abriu num sorriso. Sirius também parecia que tinha ido até o inferno e voltado, mas ele deixou a bela face se abrir num sorriso ao avistar Lily e Damien.
- Olá, gente. Entrem. – James chamou e estendeu a mão para segurar a da esposa quando ela correu para seu lado.
O menino ficou parado na porta, encostando-se nela para se firmar. Seu coração partiu-se um pouco ao avistar o pai e o tio parecendo abatidos.
- Ei, filhote, entre. – Sirius gesticulou, dando-lhe um de seus sorrisos habituais.
Damien entrou lentamente e sentou ao lado do pai.
- Animem-se! Eu estou bem. – James riu.
- Bem! Você chama isso de bem! Meu Deus, James! Você podia ter sido morto...! – Lily parou de repente, percebendo que o filho estava com eles. Ela olhou para ele pedindo-lhe desculpas. – Damy, sinto muito. Eu não devia ter te tirado da escola daquela maneira. Eu tinha descoberto sobre seu pai e agi sem pensar.
Damien olhou para a mãe.
- Está tudo bem, mãe. Estou feliz que me trouxe. Apenas não grite com o papai, ele parece que passou pelo inferno.
- Ah, obrigado, filho, eu vou me lembrar disso! – sorriu James, tentando parecer ofendido. O menino sorriu de volta para ele.
- Então, vão nos contar o que aconteceu com vocês dois? – Damien perguntou, já adivinhando a resposta.
- Não podemos, filhote, ultrassecreto e tudo, claro que você entende. – Sirius respondeu numa voz entediada que ele sempre usava para responder às perguntas do garoto sobre a Ordem.
Damien olhou para o pai.
- Pai?
James sorriu para o filho novamente.
- Sério, Damy, é uma coisa muito chata, nada interessante.
Damien bufou um pouco, sentando de novo com os braços cruzados sobre o peito. Os três adultos começaram a conversar, principalmente sobre o Ministério e quantos dias os dois podiam tirar de licença médica. O menino estava começando a ficar muito entediado. Alguns minutos depois, Lily o pediu para ir até à praça de alimentação no primeiro andar pegar algumas bebidas. Ele alegremente se levantou e saiu.
Assim que o garoto saíra do quarto, a ruiva conjurou um feitiço silenciador e virou-se para os dois.
- O.K., desembuchem. O que aconteceu ontem à noite?
Um olhar de vergonha atravessou o rosto de ambos.
- Bem, eu acho que não há outra forma de dizer isso... hum... nós meio que subestimamos o inimigo. – respondeu um Sirius envergonhado.
- O que quer dizer com “subestimamos”? Havia muitos Comensais da Morte? Quantos eram? – Lily perguntou tentando imaginar cinco aurores lutando com um exército de quinze Comensais ou mais. Isso certamente explicaria os ferimentos.
- Um. – respondeu James, sem olhá-la nos olhos.
- Um? – repetiu a ruiva.
- Sim, um. – responderam juntos.
- Eu não entendo. Como um Comensal da Morte pôde lutar contra cinco aurores e colocar dois deles no hospital? – ela perguntou.
- Quatro. – disse uma voz baixa que surpreendentemente pertencia a Sirius.
- Como? – Lily perguntou, envergonhada pela baixa na Ordem nas mãos de um Comensal da Morte.
- Liam e Kingsley estão aqui conosco. – o amigo respondeu.
- Kingsley? – a ruiva indagou com uma sobrancelha arqueada. - Kingsley Shacklebolt? O auror de um metro e oitenta e tanto que três Comensais da Morte não conseguiriam controlar, aquele Kingsley? – ela perguntou sem acreditar.
Ambos apenas assentiram.
- O que diabos aconteceu? – ela perguntou.
- O maldito garoto aconteceu! – vociferou Sirius, sem conseguir aceitar muito bem o fracasso.
- O garoto? Que garoto? – Lily perguntou intrigada.
- O garoto de Voldemort. – James respondeu baixinho.
A ruiva parou, seu corpo enrijecendo com as palavras do esposo. Silenciosamente, ela se virou para encarar o marido.
- O quê? – ela perguntou com uma voz quase mais alta que um sussurro.
- Voldemort tem um filho. – James repetiu.
Lily não disse nada, mas seu choque e surpresa eram evidentes.
- Pelo menos foi isso que o outro Comensal da Morte disse. – Sirius acrescentou.
A amiga olhou para ele.
- Mas vocês disseram que havia apenas um Comensal da Morte? – ela perguntou confusa.
- Havia, no começo, de qualquer forma. – Sirius explicou. – Quando chegamos no armazém, vimos apenas um Comensal da Morte, escondido num canto. Do nada, esse moleque chega e faz o Comensal quase mijar nas calças. – o amigo fez uma careta, franzindo o nariz e as sobrancelhas em desgosto. – Covarde maldito! – ele murmurou, referindo-se a Hunt. – Ele estava implorando e rastejando por sua vida. Ele nem mesmo tentou atacar o garoto.
- Garoto? – a ruiva repetiu, os olhos verdes arregalados em descrença. – Espere, vocês todos estão aqui, no hospital, por causa de um garoto?
- Eu sei o que parece… - James começou. – ...mas é uma história muito diferente. Ele parecia um garoto, soava como um garoto, mas Lily, ele não era um garoto.
- O que quer dizer? – ela perguntou, sentindo um nó de medo no estômago.
- Ele era… fenomenal. – James disse, sem ter outra palavra para descrevê-lo. Olhou para Sirius para vê-lo balançando a cabeça em concordância, embora um tanto a contragosto. O auror continuou. – A forma que ele duelava, ele era tão rápido. Às vezes era apenas um borrão. Ele estava fazendo magia sem varinha e o escudo dele! Merlin, Lily, eu nunca vi algo como aquilo antes. Ele podia levantá-lo com um simples aceno da varinha e cobria-o da cabeça aos pés! – ele balançou a cabeça. – Não havia nada em sua luta que sugerisse tratar-se de um garoto.
- E não era apenas o duelo bruxo, ele estava chutando nossos traseiros da maneira trouxa. – Sirius acrescentou. – Sério, Lily, aquilo foi a coisa mais estranha. O filho do Lorde das Trevas usando luta trouxa para nos atacar.
- E ele não se intimidou nem um pouco por estar sendo confrontado por cinco aurores adultos. Ele apenas limpou o chão com a gente. – James disse com um pequeno rubor nas bochechas pálidas.
A ruiva estava escutando boquiaberta.
- Por que o Comensal da Morte estava com medo dele? – ela perguntou, sem entender aquela parte.
- Ele sabia que o garoto viera para matá-lo. Ele sabia no momento que o viu. – James respondeu.
- Ele o fez? – ela perguntou. – Ele o matou, quero dizer.
- Ele o matou bem na nossa frente. – o esposo respondeu. – Ele era tão poderoso, Lily, não havia nada que eu pudesse fazer. Ele me atirou no ar sem varinha e a forma que ele lidou com Hunt, foi tão frio! Ele apenas o matou, sem preocupação alguma, sem remorso, nada!
- Por que você está surpreso? – Sirius perguntou. – Ele não sabe o que é remorso. Ele é a semente do mal!
James não disse nada, mas seu coração disparou ao ouvir as palavras do amigo. Sua expressão deve ter mostrado a angústia, pois sentiu a esposa tocar sua mão.
- O que foi? – Lily perguntou.
- Eu não sei. – o auror respondeu sincero. – É só que há alguma coisa sobre ele que me deixa... inquieto.
- Inquieto? Como assim? – ela perguntou.
James olhou para ela e então para Sirius, perguntando-se se ele devia dizer o que estava em sua mente.
- Não faz sentido. – ele disse por fim. – Nada sobre o garoto faz sentido algum. Ele reagiu raivosamente quando eu o chamei de Comensal da Morte. Suas palavras exatas foram “Eu não sou um Comensal da Morte imundo!”. Isso faz sentido? – nem a esposa nem o amigo disseram nada. Ele continuou. – E quando ele estava lutando, não usou nenhuma Imperdoável, apenas feitiços padrões. Ele na verdade não matou ninguém, a não ser Hunt. Isso também não faz sentido. Voldemort gosta de números. Seus ataques deixam centenas de mortos e feridos. Comensais da Morte matam e torturam tantos quantos podem. Mas esse garoto, ele apenas lidou conosco e pegou o Comensal. Ele não causou nenhuma outra baixa.
- Ele poderia ter causado! – interferiu Sirius com um aceno de cabeça na direção de James. – Você teve sorte que... que... a faca, lâmina, coisa estrelada que ele jogou em você não cortou muito fundo, caso contrário...
O homem não conseguiu terminar. Ele desviou o olhar, afastando a imagem do amigo deitado numa poça de seu próprio sangue.
- Eu sei que ele tentou me matar, mas não acho que ele realmente quisesse. – o auror disse ao amigo. – Ele mandou que eu saísse do caminho. Foi só quando eu o ataquei que ele revidou. Quero dizer, eu lhe causei um corte bem feio...
- Por que diabos você está criando desculpas por ele? – exclamou Lily. – Ele tentou te matar e você está falando como se ele tivesse sido forçado a fazer isso!
James fechou a boca e abaixou a cabeça. Por que ele estava criando desculpas? Ele vira a raiva claramente nos olhos do garoto. Sabia que o jovem o atacara com a intenção de matar, mas algo dentro dele apenas não queria acreditar naquilo. Além disso, havia o fato de que o rapaz parecera um pouco familiar para ele. O auror não sabia como era possível, mas sentia que o conhecia de algum lugar. A voz dele causara calafrios de reconhecimento em seu corpo. Ele não queria admitir, mas a voz do adolescente lhe lembrou de Damien.
- Eu acho que apenas não quero acreditar que uma criança pode ser tão má. – ele lhes disse.
Lily consolou o marido e Sirius olhou para o chão, imerso em pensamentos. Ele entendia o que o amigo queria dizer. Não era apenas perturbador, mas um tanto desolador ver um garoto tão jovem no campo de batalha e tirando a vida de outros tão impiedosamente.
Nesse instante, Damien reapareceu no quarto, carregando várias bebidas nos braços. Ele assimilou a visão da mãe, seus braços ao redor de seu pai, que parecia derrotado e cansado. Seu tio também parecia aborrecido.
- Está tudo bem? – ele perguntou enquanto despejava as guloseimas na cama do pai.
- Bem, está agora que você trouxe sapos de chocolate e delícias gasosas! – disse o pai servindo-se de cada um de seus doces favoritos e olhando para o menino com os olhos arregalados e um sorriso para combinar.
Damien suspirou enquanto cada um dos adultos agarrava os seus doces favoritos. Ele pegou um sapo de chocolate e rasgou a embalagem. O sapo pulou para fora e pousou na cama de James. O menino observou o pai agir como uma criança de cinco anos, pegando o sapo em uma mão e jogando o outro punho no ar, gritando e agindo como se tivesse conseguido uma façanha impossível.
Sinceramente, ele não achava que o pai jamais fosse crescer.
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