Epílogo
QUATRO ANOS DEPOIS
Naquela noite, a casa dos Weasley estava em festa. Aproximadamente 50 pessoas, entre amigos e parentes, estavam reunidas em comemoração a primeira reportagem de capa que Rose Weasley havia conseguido. As vozes animadas se misturavam enquanto os petiscos circulavam pelo local por magia. No lado esquerdo da sala, garrafas de uísque de fogo, hidromel e cerveja amanteigada também estavam disponíveis para os convidados.
– Eu ainda não acredito que você está aqui. – Resmungou Harry Potter, abraçando a filha mais nova, recém chegada de Hollywood.
Ao seu lado, Ronald sorria calmamente, enquanto Draco Malfoy e Blásio Zabine seguravam uma gargalhada diante da ação exagerada do homem. Sobre os ombros do pai que a apertava fortemente, Lilian enxergou a mãe se aproximando e avermelhou diante do olhar incessante que Anthony Zabine lhe lançava. Toda aquela temporada longe de casa a tinha feito esquecer o quanto ele ainda a afetava.
– Pai, por favor, olha o mico... – Lilian disse baixinho, sentindo a face se ruborizar ainda mais diante de todos aqueles olhares curiosos.
– Mico nada! – Disse Gina Potter ao se aproximar. – Nós não víamos você há mais de seis meses Lilian Luna Potter! Deixe de ser ingrata e venha dar um abraço na sua mãe também.
Anthony balançou a cabeça em meio a um sorriso e virou o rosto para voltar a conversar com Albus, que gesticulava na sua frente.
Um pouco distante da cena, Hermione sorria enquanto observava a sobrinha se soltar dos braços pegajosos de Harry e andar cambaleante na direção de Gina, que estava a cada dia mais parecida com Molly Weasley. A menina ruiva, assim como sua própria filha, tinha traçado seu próprio caminho, deixando seus pais chorosos pelos constantes momentos de ausência.
Mas era sempre assim: uma mãe nunca criava os filhos para si e, sim, para o mundo.
– Rose está demorando. – Ronald constatou ao seu lado, deixando seu lado emotivo para trás e encarnando o papel de pai ciumento, que ele sempre fazia tão bem.
– Não comece com os exageros Ron. – Disse ela, repreendendo-o antecipadamente. – Ela ia encontrar Scorpius no treino para contar a novidade pessoalmente.
Vale ressaltar é claro, que aquela era uma festa surpresa, e que Hermione Weasley muito se orgulhava de ter conseguido preparar tudo sozinha e em menos de seis horas. Rose, certamente, ficaria nas alturas e choraria muito, visto que Hermione, como a boa mãe que era, havia notado o constante estado de nervos da filha, provavelmente proveniente do estresse de uma sala de redação.
– Espero que eles não resolvam desviar o caminho.
Dessa vez Hermione se deu ao trabalho apenas de revirar os olhos, abstendo-se de dar uma resposta ao marido. Resolveu ocupar seu tempo indo verificar se seus convidados estavam bem servidos e, claro, conversando com Gina e, também, com Astoria, que se tornou muito próxima dos Weasley depois que Rose e Scorpius assumiram um namoro de verdade.
Por falar em Rose e Scorpius, bem... Ninguém naquela casa desconfiava, mas naquele momento, ambos estavam travando uma discussão milenar há poucos metros dali, mais precisamente nos jardins.
**
– Não OUSE continuar mentindo para mim Hyperion! – Gritou a ruiva para o namorado, minutos depois de aparatar nos jardins de casa.
– Eu não estou mentindo, Rose! – Scorpius gritou de volta. – Inferno, me deixe explicar!
Ambos estavam com os ânimos tão alterados que sequer percebiam a movimentação anormal na casa da garota. Rose, especificamente, parecia estar prestes a estourar como um balão, tamanha era a sua raiva.
– Não, você não pode explicar o que eu vi!
– É claro que eu posso!
– É claro que não! – Retrucou ela, já com os olhos marejados. – Eu tinha coisas importantes para lhe contar hoje, sabia? – Choramingou ela, sem conseguir reprimir as lágrimas que se formavam. – Aí o que eu encontro quando vou fazer uma surpresa pra você no seu treino? Meu namorado, sozinho, com uma mulher magnífica, trancafiado no vestiário!
Scorpius passou as mãos pelos cabelos loiros completamente nervoso. A Weasley, por sua vez, enxugou o rosto rapidamente com as costas das mãos, girando nos calcanhares e marchando em passos largos na direção de sua casa.
– Qual é Rose! – Reclamou ele ao vê-la andando rapidamente à sua frente. – Vamos conversar!
– Eu não quero conversar com você!
Ao ouvir os passos dele atrás dela, Rose correu alguns metros na ânsia de chegar a porta de sua casa antes que ele lhe alcançasse para que ela pudesse trancafiá-lo do lado de fora. Porém, ao abrir a porta e se precipitar para dentro da sala, a mão grande e máscula de Scorpius a segurou pelo pulso.
– Rose...
– Me solta! – Gritou ela, sem perceber que seu grito e descontrole aparente tinha chamado a atenção das pessoas que por ali circulavam. – Eu odeio você!
Em seguida, ela se desvencilhou do aperto de Scorpius e virou-se em direção a escada, assuntando-se com todos aqueles olhares a encarando. Subitamente, seu choro irrompeu mais uma vez, e sem que ninguém tivesse a menor chance de ir falar com ela, Rose Weasley correu escada acima, trancando-se em seu quarto.
Frustrado, Scorpius Malfoy fechou a porta atrás de si e afundou-se na primeira poltrona vazia que encontrou.
**
Nem Hermione previu o que veio a seguir.
Quando Ronald Weasley se aproximou de Scorpius Malfoy logo após sua filha ter subido escada acima aos prantos, Harry e Draco se posicionaram em ataque para parar o Weasley, ao mesmo tempo em que Hermione prendia a respiração. Porém, para surpresa de todos, Ronald não desferiu gritos e nem socos ao genro (ou ex, ninguém parecia entender).
– É melhor você ir conversar com ela.
Scorpius levantou os olhos um pouco surpreso, enquanto Albus Potter – que até aquele momento esteve dividido entre uma conversa com Anthony e olhares na direção de Dominique Weasley, que conversava com um rapaz – sentia-se insatisfeito por seu tio ter se tornado mais maleável com o amigo.
– Como? – Questionou Scorpius.
Ronald Weasley revirou os olhos em uma imitação perfeita de sua esposa.
– Não seja estúpido. – Resmungou. – Você fez sujeira com a minha filha e não vai jogá-la para baixo do tapete, entendeu? Suba logo antes que eu me arrependa e arrebente a sua cara.
Mais assustado do que grato, Scorpius levantou-se de onde estava sentado e se dirigiu para as escadas.
**
No andar de cima, Rose nem havia se dado ao trabalho de trancar a porta do quarto. Assim que chegou ao lugar, jogou-se na cama, deixando que as lágrimas estúpidas que borravam a sua visão escorressem pela sua face e encharcassem o travesseiro.
É claro que Scorpius e ela já tinham brigado outras vezes, mas naquele final de tarde, tudo fora diferente.
Eles não discutiram por causa do fã clube idiota que Scorpius tinha desde que se tornara titular no Puddlemere United ou pelas propostas indecentes que algumas fontes faziam para Rose em troca de informações. Não brigaram por besteiras, por uma história mal contada em uma capa de revista ou porque Rose sentia ciúmes de todas as garotas que se aproximavam do namorado.
Não. Daquela vez, nada disso tinha acontecido. Daquela vez, Rose Weasley tinha um motivo, umbom motivo. E, possivelmente, era por isso que ela se sentia tão destroçada. E parecia que, apenas agora, no silêncio do seu quarto, é que ela era capaz de se dar conta do real significado daquele fato. E do quanto doeu pegar Scorpius quase em flagra.
Ele, por sua vez, subiu as escadas lentamente, tentando não fazer barulho. Precisava explicar a situação a Rose, apenas não sabia direito o que dizer. Aquela era a única verdade.
Andou pelo corredor devagar, com o coração batendo a mil contra o peito. Enquanto caminhava, forçou a memória, mas não conseguiu se lembrar de nenhum momento que tenha se sentido tão angustiado como se sentia agora. Nem quando Rose e ele foram desmascarados, há pouco mais de quatro anos.
E ouvir os soluços baixos dela não contribuíram para que ele se acalmasse.
Rose, é claro, percebeu quando alguém abriu a porta de seu quarto, mas sequer se mexeu. Ela também tinha certeza de quem era. Talvez, saber que Scorpius viria tenha sido o real motivo de ela não ter trancado a porta.
– Rose, me deixa explicar, por favor. – Pediu ele com a voz controlada e mansa. Aparentemente estava calmo, mas por dentro, seu peito parecia prestes a explodir.
Ela permaneceu em um silêncio perturbador, fazendo Scorpius sentar-se na cama, ao seu lado. Ele tentou tocar a sua face, enxugar as suas lágrimas, mas Rose o impediu.
– Pode parecer estranho, mas não é nada disso do que você está pensando. – Ele disse sentindo-se um estúpido logo depois que percebeu a frase que tinha usado.
Rose emitiu um riso gutural, sem acreditar no argumento dele.
– Eu vou dizer o que aconteceu, Scorpius, porque foi isso o que eu vi. – Ela disse lhe lançando um olhar duro e levantando-se da cama, se colocando a andar. – Eu vi o meu namorado, depois do treino, sozinho e trancado em um maldito vestiário com uma mulher linda, vadia e atirada que eu nunca vi na vida!
– Eu já disse que tudo isso tem uma explicação, só me deixe falar!
– Então me explique o porquê daquela vulgaridade toda estar quase em cima de você, sorrindo daquela maneira! – Ela berrou perdendo as estribeiras. – Caramba, ela estava quase te beijando! O que aconteceria se eu não chegasse a tempo, hein?
– Não aconteceria nada, ta legal! – Scorpius disse levantando as mãos e tentando se aproximar dela, que se esquivou para perto da porta. – Eu nunca trairia você!
Rose fungou, contendo um riso irônico e as novas lágrimas que ameaçavam a sua sobriedade.
– Vai querer me convencer de que ela não estava dando em cima de você, Hyperion? – Ela questionou, elevando a voz. – Ela estava quase sentada no seu colo!
– Talvez ela estivesse, mas eu não iria ceder e você sabe disso!
– Como eu posso acreditar nisso? – Ela questionou retoricamente. – Foi você quem a carregou para aquele vestiário, seu treinador mesmo me garantiu!
Scorpius amaldiçoou mentalmente Carl Sparks. Aquele maldito velho...
– Mas eu tinha um motivo! – Berrou ele desesperado. – Por favor, Rose. Me ouça!
Ele estava praticamente implorando, mas Rose estava magoada demais para ouvir a razão, de maneira que se aproximou da porta e a abriu.
– É melhor dar o fora antes que eu pegue a minha varinha. – Ela falou sentindo o peito se comprimir. – Vá embora, por favor.
Scorpius a olhou sem acreditar. Rose, em contrapartida, tinha a porta aberta, mas se recusava a olhar Scorpius, encarando o chão o tempo todo. O desespero se apoderou do homem e ele se aproximou dela, sem que Rose tivesse a chance de reprimi-lo.
A verdade? Ele estava cansado de ser paciente com aquele lado mimado da sua namorada.
– Me solta, Scorpius!
– Não. – Ele responde a puxando para perto dele e fechando a porta novamente. – Você já me acusou o suficiente, agora é a minha vez de me defender dos seus absurdos.
– Não me faça gritar, Scorpius – Ameaçou ela enquanto tentava se livrar dos braços de Scorpius, que a tinha prensado contra a parede. – Meu pai não vai gostar de...
– Ela era uma representante de uma joalheria, ta legal?! – Ele elevou a voz, seu rosto a centímetros do dela. Rose interrompeu sua ameaça com um sorriso de escárnio.
– Então a piranha tem profissão? – Ela questionou, tentando se livrar do corpo de Scorpius, praticamente fundido ao seu de tão próximo.
– Por favor, cale a boca Rose. – Ele disse, mas sua voz não saiu áspera. – Ela era representante de uma joalheria, por isso estava lá. Por isso eu a chamei.
– Que bonitinho. – Ironizou a ruiva. – Ia comprar um broche novo pro seu uniforme e precisou de consultoria personalizada?
Cansado de joguinhos, Scorpius suspirou pesadamente e se afundou contra o pescoço da ruiva, que arrepiou-se involuntariamente enquanto tentava se esquivar.
– Eu queria pedir você em casamento essa noite, caramba! Será que é tão difícil entender?
Como se tivesse sido atingida pelo feitiço de petrificação, Rose parou de se debater e encarou Scorpius estática. Ele se afastou um pouco apenas para observar a boca entreaberta pelo espanto e os olhos e bochechas úmidos pelas lágrimas que antes caiam.
– Agora você fica quieta, não é? – Questionou, remendando seu discurso logo em seguida antes Rose acordasse do transe e não o deixasse concluir. – Mas essa é a verdade, aquela mulher era a representante de uma joalheria. Eu a chamei lá depois do treino para que, com privacidade, eu pudesse escolher a aliança que eu ofereceria a você hoje.
– Por que não foi a uma joalheria, então? – Questionou ela imediatamente, sem se dar por vencida.
Scorpius sorriu com ironia pela primeira vez aquela noite, o que fez Rose encolher os ombros e tentar recuar.
– Me diga como eu seria capaz de comprar uma aliança de noivado em uma joalheria sem que, na manhã seguinte, milhares de capas de revistas do mundo bruxo estragassem a surpresa?
É claro, ele era Scorpius Malfoy. Mais do que o apanhador do Puddlemere United, ele era um símbolo. Tinha se tornado ídolo adolescente e uma importante personalidade do quadribol mundial e, consequentemente, um dos alvos preferidos das revistas de fofoca do mundo bruxo.
Aquele era um argumento válido. Tão válido que Rose Weasley se calou. Os olhos, mais uma vez, se encheram de lágrimas, só que agora, ela não fez questão nenhuma de reprimi-las. Scorpius não pestanejou ao puxá-la para si, envolvendo-a em um abraço acolhedor que ela não se viu capaz de recusar.
– Me desculpe. – Ela disse com a voz fanha contra o peito do namorado, que já sorria aliviado. – Eu não queria, eu não...
– Não se preocupe. – Ele disse lhe beijando a testa e a obrigando a encará-lo nos olhos. – Você não tinha como saber, eu teria agido da mesma maneira se estivesse na mesma situação.
– Eu fui uma estúpida, Scar... Deveria ter ouvido você.
– Você não foi estúpida, está bem? – Garantiu ele a puxando para se sentar na cama. – Só foi a mesma ciumenta de sempre.
Rose se permitiu sorrir um pouco, desviando os olhos diante do olhar insistente de Scorpius. Ela tinha os lábios comprimidos e a vontade de se desmanchar em lágrimas aparentemente estampada em seu rosto. Quando se tratava de Scorpius, ela nunca conseguia se controlar e, aparentemente, nos últimos dias, tudo apenas piorou.
– E então? – Perguntou ele enfiando as duas mãos nos bolsos da calça preta que usava e a tirando de seus devaneios.
– Então o quê? – Os olhos azuis metálicos de Rose questionaram curiosos e confusos.
– Você aceita?
Foram necessários alguns segundos para que ela conseguisse entender o que se passava ali. Assim que percebeu, imediatamente a ruiva, que estava com os cabelos desgrenhados e os olhos inchados, levou as mãos à boca em sinal de espanto.
– Você... está falando sério? – A voz falhou, sem acreditar que depois de toda aquela cena ele ainda estava ali, disposto a fazer aquela proposta.
Scorpius sorriu maroto, aquele mesmo riso que tanto a encantava, e tirou do bolso uma caixinha preta de veludo, a abrindo e deixando a mostra um belo anel de diamantes.
– Sinceramente? Não armamos toda essa confusão de graça, Weasley! – Ele retrucou, aproximando-se dela e se ajoelhando a sua frente. – Casa comigo? Me deixa controlar as suas crises de perto, por favor?
Emocionada e com toda a classe Weasley, Rose se jogou sobre Scorpius, o derrubando no chão e caindo sobre ele.
– Sim, sim, sim, mil vezes sim! – Gritou ela, sem conter as lágrimas e os soluços, o apertando com força e o impedindo de se mexer.
– Que tal você sair de cima de mim, mocinha? Não que eu não goste dessa posição, mas, sabe, eu preciso enfiar esse anel no seu dedo antes que você surte outra vez.
Ela riu contra o pescoço dele e, relutante e mais vermelha que um pimentão, ela se afastou, sentando-se no chão. Na sua frente e entre sorrisos aliviados, Scorpius se levantou, tirando da pequena caixa o delicado anel, colocando-o com um cuidado extremo na mão direita de Rose, beijando-a nos lábios em seguida.
– Eu prometo pra você que eu vou ser a melhor mulher do mundo. – Ela disse logo depois, se aconchegando nos braços de Scorpius que a tinha presa pela cintura.
– Você já é a melhor mulher do mundo, meu docinho de abóbora. – Ele disse zombando dela e tentando calar seus protestos com um beijo que ela negou.
– Docinho de abóbora, é? – Ela estreitou os olhos. – Vou mostrar pra você o que o docinho de abóbora é capaz de fazer.
Sem deixar tempo para Scorpius responder, ela o atacou, beijando sua boca de forma voraz e sendo plenamente correspondida. Diante da aprovação dele, ela o apertou ainda mais contra seu corpo, arranhando a nuca de Scorpius, que a incentivava a continuar através de beijos em regiões estratégicas do pescoço e em outras partes do corpo que ele sabia que ela adorava. O mundo poderia explodir que eles nem ao menos perceberiam.
Isso é claro, até um pensamento inoportuno tomar conta da mente de Scorpius, o fazendo rir contra os lábios da ruiva, que parecia muito entretida tentando arrancar a velha camiseta dele.
– Seu pai vai me matar. – Ele resmungou entre risos, abrindo espaço para que ela conseguisse tirar a peça de roupa que tanto ansiava, deixando a mostra o peitoral branco e bem trabalhado pelo quadribol.
– Podemos pensar nisso depois? – Ela perguntou, sorrindo genuinamente para ele. – No momento eu não quero me preocupar com o meu pai, quero só aproveitar esse momento maravilhoso.
Pouco importava para Rose o que seu pai pensaria. Ela sequer conseguia se lembrar mais da mulher que tentou roubar o seu namorado. Era como se nunca tivessem discutido. Naquele momento, tudo o que ela queria e precisava era provar a Scorpius o quanto o amava e precisava dele.
Bem, e Scorpius estava gostando daquela demonstração de afeto, principalmente depois que Rose o fez deitar no chão, posicionando-se sobre ele.
Porém, sua razão tentava o chamar de volta para a realidade porque por mais que ele quisesse enfiar suas mãos por debaixo da malha de Rose para sentir sua pele, aquilo era muito arriscado. Seria um homem morto se seu sogro resolvesse abrir a porta para ver se ele e Rose tinham se entendido e os flagrasse naquele tipo de reconciliação.
E foi por isso que ele tentou afastar a ruiva. Precisou de uma força de vontade enorme, é claro, principalmente porque Rose investia em partes, hã, sensíveis, do corpo dele.
– Rose, é sério. – Ele tentou chamá-la de volta a razão enquanto ela atacava seu pescoço, deslizando as mãos delicadas pelo corpo dele. – Tá todo mundo lá embaixo. Seu pai está lá embaixo. – Ele frisou a última parte desesperado.
– Não é como se nunca tivéssemos feito isso antes, Scar... – Ela ronronou.
– É, mas nunca estivemos tão perto de sermos pegos como estamos agora. – Explicou Scorpius, delicadamente puxando Rose para o lado. – E, além do mais, seu pai não precisa saber o que nós fazemos antes do casamento, não acha?
Ela pareceu frustrada de início, porém, logo depois, a sua expressão de alterou drasticamente, deixando Scorpius desconfiado. Quase que do nada, Rose Weasley lhe presenteou com aquele sorriso que ela sempre distribuía quando aprontava alguma coisa. Ele estreitou os olhos na direção dela e perguntou:
– O que foi que você andou fazendo?
Rose sentiu as bochechas avermelhares e abaixou a cabeça, tentando encontrar as palavras certas para iniciar aquele assunto.
– Então... É mais fácil perguntar o que nós fizemos. – Ela falou com a voz visivelmente travessa, o que confundiu Scorpius ainda mais.
– Rose o que...
– Lembra que eu comentei que tinha coisas importantes pra te contar hoje?
Uma sombra de compreensão passou pelo rosto dele.
– Ah, sim. Eu fiquei sabendo sobre a sua primeira matéria de capa. – Ele comentou sorrindo orgulhoso. – Sua mãe me mandou um patrono no meio do treino que assustou todo mundo e quase me derrubou da vassoura. Esse foi um dos motivos que me fez adiantar o pedido de casamento que eu tinha programado só pra semana que vem.
Rose riu, mas mesmo assim continuava com uma expressão misteriosa estampada no rosto.
– Isso também, mas, bem... Eu tenho outra coisa pra te contar, sabe?
A estranheza tomou conta de Scorpius quando ele viu a sua ruiva abaixar os olhos de uma forma como ela nunca tinha feito. Era como se ela... Como se ela sentisse medo.
– Ei, vem cá! – Ele falou, puxando-a, dessa vez, para se sentar entre as suas pernas. – Sabe que pode me contar qualquer coisa, não sabe?
Rose inspirou profundamente, se acomodando no peito descoberto de Scorpius, que havia se escorado na cama para ficar mais confortável. Em uma rápida reflexão, ela notou que, talvez aquilo que ela estava prestes a contar a ele tenha sido o real motivo do desespero que sentiu diante da possibilidade de uma traição. E Scorpius também teve essa descoberta esfregada na sua cara assim que a mão trêmula de Rose se colocou sobre a sua.
– Eu não consigo falar. – Ela sussurrou como se aquela frase explicasse tudo. – Vou ter que mostrar a você.
Scorpius encarou com estranheza aquele ato, mas assim que percebeu o trajeto silencioso que em que a mão de Rose guiava a sua, tudo se tornou claro em sua mente e em seu coração.
– Por Merlin. – Ele sussurrou assim que sua mão foi posicionada sobre o ventre da mulher. – Você...
Ela inspirou.
– Eu sei que somos muito jovens, que acabamos de ficar noivos e que íamos transar há poucos minutos atrás. – Ela constatou com a voz falha outra vez. – Mas, bem... Seu filho é um intrometido e não me pediu permissão para se acomodar aí dentro.
Diante do silêncio dele, Rose virou-se para encará-lo. E quando os olhos azuis se chocaram com os cinzas, a emoção tomou conta dos dois lados.
– Você está grávida. – Ele murmurou em um dos raros momentos de sua vida em que baixou a guarda. – É por isso que você anda tão temperamental!
Rose riu entre as lágrimas e protestou, sendo calada por um beijo atrapalhado de Scorpius, que ainda não tinha decidido se queria rir ou sucumbir ao choro provocado pela emoção.
– Agora sim, seu pai me mata! – Ele comentou risonho, ainda sem acreditar no rumo que aquela noite, que tinha tudo para ser catastrófica, tomou.
– Não, ele não deixaria o neto sem o pai. – Ela consolou, abraçando-o um pouco mais. – Eu amo você.
Ela já tinha dito aquilo milhares de vezes, mas nenhuma vez era igual à outra. Carregado daquele sentimento tão novo e tão velho ao mesmo tempo, ele beijou a testa da noiva, respondendo:
– Eu também amo você, Rosie. Mais que a minha própria vida.
E a mão dele permaneceu dançando sobre a barriga dela boa parte daquela noite.
**
– E então, qual é a sensação de estar vivo? – Rose perguntou algumas horas depois, quando apenas os mais próximos estavam na casa e ela e Scorpius tinham se isolado em um canto da sala de estar.
Ele riu pra ela, a puxando para se sentar em seu colo.
– Vou confessar que foi melhor do que eu imaginava.
A noite, de uma maneira geral, tinha sido proveitosa. Após os dois resolveram tudo, desceram para a comemoração que Hermione tinha preparado com tanto zelo. Depois de quase um ano, Dominique, Albus, Anthony, Lilian e os dois conseguiram se reunir e colocar a conversa em dia e matar um pouco da saudade de estarem todos juntos. Até mesmo Lysander estava se esforçando para ser agradável e havia se enturmado com o grupo, junto de Hugo.
Com Dominique na França, Lilian nos Estados Unidos e Rose e Scorpius sempre correndo de um lado para o outro, reuniões como aquelas eram quase raras e, quando aconteciam, eram muito bem aproveitadas.
Os dois tinham planejado comunicar sobre o casamento primeiro aos pais, em um local separado, mas o plano foi por água abaixo assim que Dominique enxergou o estranho brilho nas mãos de Rose:
– Pelas barbas de Merlin! Isso na sua mão é uma coleira?
O que não havia ficado claro com o grito de Dominique acabou sendo confirmado com a empolgação de Lilian:
– Isso não é uma coleira, Domi, é um grande, caro e polido diamante! Você vai se casar e não me contou?
Rose e Scorpius nunca se sentiram tão embaraçados quanto naquele momento. Todos os olhares se dirigiram para eles, mas, estranhamente, Ronald não surtou com o casamento de sua pequena garotinha.
– Desde o dia em você o apresentou na casa da sua avó, eu sabia que era ele. – Ele disse de forma simples, arrancando sorrisos cúmplices de todos aqueles que se lembraram daquele Natal há quatro anos. – Vocês podem ter começado do jeito errado, mas, de alguma maneira, eu sempre soube que seria ele quem iria tirar você de mim.
Rose chorou mais um pouco com o discurso do pai, mesmo que ele tenha sido interrompido por Harry, que disse que Ronald apenas não tentou nada contra o garoto porque ele próprio não tinha sido corajoso o suficiente para falar com o pai de Hermione antes de pedi-la em casamento. Draco e Blásio o alfinetaram a noite toda por causa disso.
Depois de contar sobre o casamento, não foi necessário muito para que a gravidez de Rose viesse a tona. Dessa vez, a culpa foi do próprio Scorpius, que proibiu a noiva de beber o champanhe oferecido no brinde e teve que explicar os reais motivos para tal decisão. A notícia uniu Astoria e Hermione em um choro compulsivo: seus maridos nem tiveram tempo de questionar muito sobre o assunto.
No final, tudo deu certo e Scorpius, para a infelicidade de Albus – que adorava ver o circo pegar fogo – acabou a noite vivo e sem nenhum osso quebrado.
Na poltrona da sala de estar, sentada sobre as pernas de Scorpius, Rose acariciava silenciosamente a leve saliência de seu ventre.
– Disfarça, mas dá uma olhadinha pra sua direita. – Scorpius comentou em seu ouvido.
Ela, então, virou-se devagar e viu Lilian e Anthony na varanda de sua casa, trocando alguns pequenos beijos em meio a sorrisos e conversas. Rose sentiu-se feliz.
– Finalmente. – Murmurou a ruiva. – Sabia que ela se daria por vencida assim que descobrisse que Anthony batizou seu novo modelo de Luna.
– Também, que mulher em sã consciência desperdiçaria a chance de ficar com um homem que colocou o seu nome do meio na vassoura mais veloz do mundo? – Ironizou Scorpius.
Rose concordou silenciosamente, aproveitando a sensação de ter, agora, a mão de Scorpius fazendo o mesmo trajeto que a sua.
– E Dominique e Albus? – Questionou Scorpius.
– O que tem?
– Por que é que eles não ficam juntos de uma vez? – Ele reclamou, observando os dois amigos discutindo por alguma besteira há alguns metros dele.
Rose ficou pensativa.
– Não sei. – Admitiu ela. – Talvez Domi tenha razão e eles simplesmente não funcionem como um casal.
– Talvez seja isso. – Concordou, observando o amigo segurar Dominique pelo abraço e a arrastar na direção da porta do fundo da casa. – Ou talvez eles só sejam cabeça-dura demais para admitirem que foram feitos pra ficar juntos.
Rose lhe lançou um olhar cheio de significados.
– Como nós?
– É. – Concordou ele. – Como nós.
Resolvidos a mergulhar na bolha de intimidade que compartilhavam, beijaram-se outra vez com carinho e com cuidado. Foram interrompidos apenas por um bocejo cansado de Rose, que escapou por seus lábios sem que ela pudesse engoli-lo.
– Está com sono, não é? – Preocupou-se Scorpius.
– Não sou eu. – Ela resmungou. – É o seu filho.
Scorpius riu lentamente.
– Nosso filho.
Rose sorriu.
– Sim, nosso filho.
Ficaram em silêncio mais alguns minutos, até ela ter um pensamento um pouco maluco.
– E se nos os ajudássemos?
– Ajudasse a quem? – Confundiu-se Scorpius.
– Dominique e Albus! Nós poderíamos pedir a ajuda de Anthony e Lilian e juntar esses dois! – Ela disse empolgada, arrancando risadas do noivo.
– Acho que é melhor não. – Ele disse, sorrindo diante da expressão desmoronada de Rose.
– Por que não?
Scorpius sorriu maroto.
– O destino sempre dá um jeito. – Ele explicou. – Nós vivíamos em pé de guerra na época da escola, até que ele resolveu nos unir. Agora vamos nos casar e precisamos comprar uma casa logo, pra podermos preparar o quarto verde e prata do meu garotão!
Rose fechou a cara.
– Verde e prata? – Questionou ela. – Você está insinuando que o meu filho vai ir para a Sonserina?
– Foi só uma ideia. – Disse ele. – Uma ideia muito boa diga-se de passagem.
–Ora, cale a boca. Não comece com expectativas pra cima da minha criança. – Ela resmungou protetoramente. – E outra coisa, quem lhe disse que é um menino?
– E não é? – Se confundiu o rapaz.
Rose revirou os olhos.
– Como eu vou saber? – Ela perguntou. – Só vamos ter certeza daqui a algumas semanas, quando eu for ao medibruxo. Feitiços não são tão evoluídos assim, Scorpius.
Ele a encarou de forma desafiadora.
– Eu aposto que é um menino. – Ele falou sorrindo de canto. – O que me diz?
Rose Weasley estreitou os olhos na direção dele.
– Eu não vou apostar sobre o meu bebê! – Ela respondeu ultrajada.
– Qual é Rose? É só uma aposta inofensiva sobre o sexo dele! – Implorou Scorpius. – Metade da grana fica pra ele, é claro.
Ela o olhou sem conseguir acreditar.
– Você está mesmo falando sério?
– É claro! – Respondeu ele animado. – E mais, eu sugiro 300 Galeões, só pra deixar a coisa toda ainda mais interessante e sugestiva. – Ele piscou.
– Está ficando louco? – Ela perguntou entre risos. – Eu sou jornalista, não ganho essa grana toda, não!
Scorpius sorriu enviesado, pronto para dar o bote final e lançar seu último argumento:
– Está preocupada em não poder pagar a aposta? – Zombou ele de forma convencida. – Não confia na sua intuição materna?
Rose mordeu os lábios e o olhou indignada. Aquilo tinha sido um golpe de baixíssimo nível, e qualquer mulher que fosse mãe concordaria com ela.
– Está bem, está bem! – Resmungou ela dando-se por vencida. – Mas nem eu, muito menos você, vamos lucrar com isso!
– Qual é Rose? Metade da grana fica pro vencedor da aposta e a outra metade pro meu garotão!
Sem acreditar na falta de senso paterno do noivo, Rose o estapeou nos braços.
– É errado querer faturar em cima de uma criança, Hyperion! – Ela reclamou. – Se for assim, eu não vou fazer parte disso. E ainda vou contar tudo pra minha mãe a pra sua também.
Ponto para Rose Weasley. Scorpius tinha sido atingido também.
– Okay, espertalhona. – Deu-se por vencido. – O que você sugere então, futura senhora Malfoy?
Rose sentiu um estranho frio percorrer a sua espinha ao sentir aquela agradável sensação de Déjà Vu.
– Eu sugiro um acordo, Malfoy.
Scorpius riu travesso, sorrindo mais uma vez de lado.
– Um acordo Weasley? Se for me pedir pra namorar você outra vez, esqueça. – Ele falou, arrancando uma gargalhada da mulher.
– Não seja bobo, Scar. Estou falando sério! – Ela falou ainda rindo, embora lançasse um olhar desafiador ao futuro marido. – Você acha que o bebê é um menino e eu acho que ele é uma menina, certo?
– Corretíssimo.
– Okay. Então o acordo seria o seguinte: aquele que vencer a aposta abrirá uma conta no Gringotes para o bebê no valor de 300 Galeões.
Scorpius precisou de alguns segundos para assimilar a ideia de Rose.
– Está querendo dizer que eu não vou ganhar um único galeão se vencer essa aposta? – Ele perguntou incrédulo.
Rose sorriu satisfeita.
– É como eu disse, não vamos lucrar em cima do nosso filho.
– Rose, por favor! Qual é a graça? – Ele perguntou inconformado enquanto a mulher ria. – 75% para a conta no Gringotes e o restante pro vencedor, que tal?
– Nada feito! – Ela resmungou se levantando da poltrona. – Por que você é tão intransigente e chorão, Malfoy?
– Por que você tem que ser tão maluca e mandona Weasley?
Ela riu mais um pouco, sem conseguir segurar outro bocejo.
– Essa criança ainda vai sugar todas as minhas energias. – Ela resmungou com a voz mansa pelo sono.
Scorpius balançou a cabeça e se aproximou dela, a enlaçando pela cintura e beijando sua testa.
– Vem, vamos aproveitar que seu pai está distraído vencendo o meu pai no xadrez e vamos fugir para o seu quarto.
Ele sorriu maroto, depositando um beijo molhado no pescoço da ruiva e a puxando pelas mãos em direção à escada.
– Você não pode dormir aqui! – Ela reclamou enquanto era arrastada.
– E quem falou em dormir? – Scorpius questionou sugestivo, já no alto da escada, recebendo um tapa na nuca da noiva.
– Eu não vou transar com você hoje! – Ela falou indignada e estreitando seus olhos na direção dele. – Não vou me vender, Malfoy, esqueça. O acordo está valendo e vai ser como eu disse.
Scorpius soltou um muxoxo inconformado, abrindo a porta do quarto para que ela entrasse.
– Eu nunca devia ter aceitado aquele acordo de quatro anos atrás, Weasley. – Ele reclamou, sendo presenteado por ela com um sorriso falsamente inocente.
– Sinto muito meu amor. Tarde demais.
O que ninguém ainda parecia ter entendido é que todos os acordos entre Rose Weasley e Scorpius Malfoy sempre estariam fadados ao fracasso. E esse último, assim como todos os outros que vieram depois, não fugiu a regra.
O destino, mais uma vez, curtiu com a cara dos dois e os surpreendeu:
Eram gêmeos.
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