XX
Quase dois dias depois – 31 de Dezembro: Próximo ao horário do baile.
Lidar com o coração nunca era fácil. É por isso que as pessoas nunca escolhem quando e por quem vão se apaixonar, porque se dependesse delas mesmas, provavelmente, ficariam sozinhas para sempre por nunca se sentirem prontas para amar.
E Anthony Zabine era uma dessas pessoas. Apesar da pouca idade, desde criança dizia para quem quisesse ouvir que nunca teria nada sério com garota alguma e que casaria apenas depois dos 30, isso se chegasse a se casar algum dia.
Porém, a irritante, prepotente e mimada Lilian Luna Potter mudou seus pensamentos. Por ela, Zabine acreditaria no amor. Por ela, Zabine pensaria em ficar com uma garota só. E por ela (e com ela) e ele aceitaria se casar.
Mas amar era uma droga, porque nem sempre você tem recebe a graça de ser correspondido. E era por isso que sentia inveja de Scorpius naquele momento: porque mesmo que o amigo estivesse com a sabe-tudo Weasley por causa de um acordo, ele sabia que os dois terminariam juntos. Anthony tinha a teoria de que quando um garoto e uma garota brigam muito um com o outro há muita tensão sexual acumulada entre os dois. Aparentemente, estava certo quanto a Rose e Scorpius. Mas e quanto a ele e Lilian? Por que a sua teoria não podia se encaixar?
Amar já era difícil por natureza. Amar Lilian Luna Potter tornava tudo ainda mais complicado.
Tivera uma conversa longa com Albus na manhã daquele dia e estava disposto a tentar conversar com Lilian, tentar dizer a ela tudo o que ele estava sentindo. Pelo menos ele não precisaria conviver com o fardo de nunca ter tentando de verdade ficar com ela.
E foi com esses pensamentos que Zabine se encarou no espelho de seu quarto uma última vez, ajeitando a gravata borboleta e o terno que o deixava parecido com um pingüim. Naquela noite o baile de fim de ano do ministério ocorreria. Talvez os fogos de artifício da meia noite criassem um ambiente propício para uma declaração. Ou talvez ele voltasse para casa ainda mais frustrado do que vinha se sentindo nos últimos dias.
Mas mesmo assim valia a pena tentar.
Porque por ela, Zabine arriscaria qualquer coisa.
**
– Vamos logo, Lilian! – Ela ouviu os gritos impacientes de Albus do andar debaixo. – Falta só você aqui!
E pela terceira vez naquela hora, ela não se importou.
Lilian estava pronta desde as seis horas da tarde, o problema não era esse. Ela apenas não se sentia preparada para enfrentar a vida fora do seu quarto depois de todos aqueles dias.
Desde que brigara com Rose, as coisas não ficaram fáceis. Hugo esteve com ela em todos aqueles dias, mas não era a mesma coisa. Sentia falta de sua melhor amiga, mas era orgulhosa demais para dar o braço a torcer e pedir desculpas à Rose pelas coisas que fez.
Outra coisa que a vinha preocupando era a sua relação com Hugo. Eles não tinham assumido nada para a família ainda, mas mesmo assim seu pai e seus irmãos já vinham se mostrando contrariados com a idéia, alegando que Hugo era seu primo e que relacionamentos eram estranhos entre parentes.
Aquela era uma desculpa furada, ela sabia, porque relacionamentos entre primos no mundo bruxo era algo totalmente normal e que seu pai e seus irmãos, provavelmente, não gostariam de qualquer garoto que ela apresentasse como namorado. Mas ela, várias vezes naquele dia, se pegou pensando em dar a Hugo essa mesma desculpa.
Era ridículo, porque a sua mente gritava a todo o momento que ela estava sendo idiota por se sentir tão insegura, afinal, era apaixonada pelo primo desde criança não era?
Mas então porque não conseguia se ver mais daquela mesma maneira?
Lilian Luna Potter tinha medo da resposta.
Isso porque seus sentimentos por Hugo Weasley começaram a estagnar depois da discussão que travou com Anthony Zabine há alguns dias.
– LILIAN! Não me obrigue ir até aí e arrastar você escada à baixo! – Dessa vez ela distinguiu a voz de Gina. Riu com um humor da impaciência da mãe.
– Estou descendo!
Ela respondeu de forma decidida, pegando a bolsa de contas e dando uma rápida conferida no visual. Sua mãe, provavelmente, implicaria com o fato de ela estar usando preto na virada do ano, mas quem, além de Gina Potter, se importava com isso?
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– Você não tem família, não? – A voz de Rose Weasley soou estridente quando apareceu na sala de estar de sua casa na noite do dia 31 de dezembro daquele ano.
Trajando um vestido azul curto e com os cabelos ondulados e ruivos presos de um lado só, ela encarava o visitante daquela noite sem acreditar no que seus olhos viam. Lorcan Scamander não pareceu se importar com o acesso de raiva da amada, de modo que apenas se aproximou da ruiva.
– Vim acompanhá-la ao baile. – Lorcan tomou a mão dela para beijá-la, mas Rose recusou o gesto de forma brusca. Encarou a mãe por cima dos ombros do Scamander que sorria sem graça, pedindo desculpas silenciosas.
– Achei que você tinha entendido que eu tenho namorado, Lorcan. – Ela falou sem paciência, atravessando a sala e indo sentar-se ao lado da mãe, fazendo questão de largar a bolsa de mão no assento vago ao lado.
– Mas eu não estou o vendo. – Respondeu Scamander enquanto ajeitava a gravata laranja que contrastava ridiculamente com o terno Pink que usava.
– Não está o vendo porque ele não está aqui. – Rose respondeu petulante. – Porque você não cuida da sua vida, pra variar um pouco Lorcan, e me deixa em paz?
Ela ouviu a mãe a repreender, mas não se importava. Estava cansada de Lorcan e suas investidas e, para complicar ainda mais seu dia, Scorpius não tinha dado sinal o dia todo. Começava a achar que havia assustado o garoto com a sua repentina declaração. Talvez Malfoy ainda não estivesse maduro o suficiente para falar de sentimentos.
– Porque o papai demora tanto? – Ela resmungou para si mesma.
Ronald apareceu logo em seguida, conversando sozinho enquanto tentava, inutilmente, ajeitar a gravata que Hermione insistiu que ele usasse. E ele não parecia nada animado em ter que dividir uma mesa com Draco Malfoy.
– Inferno sangrento, Hermione! Será que você pode me ajudar com isso aqui? – Ele perguntou irritadiço, desistindo de dar o nó na gravata. Instintivamente, seus olhos vagaram pela sala e ele franziu o cenho ao ver o afilhado parado em sua sala como um dois de paus. – O que é que você faz aqui Lorcan?
Rose pensou em uma resposta bem mal criada para dar, porém, seus pensamentos foram interrompidos pelo som da campainha que ecoou. Antes que alguém se prontificasse, ela se ofereceu para atender.
– Deixa que eu abro! – Ela respondeu, afinal, ela estava dando tudo para não precisar ficar no mesmo ambiente que Scamander.
Involuntariamente riu dos resmungos que o pai fazia e se afastou, andando em direção a porta.
Qual foi a sua surpresa ao abri-la e dar de cara com Scorpius Malfoy em terno, gravata e buquê de flores.
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Scorpius Malfoy estava controlando a vontade imensa de rir enquanto observava Rose Weasley encará-lo como se estivesse vendo um fantasma. Mas se concentrou em manter a seriedade, porque se ele conhecia bem aquela granada ruiva, ela iria enchê-lo de tapas quando descobrisse que ele não falou com ela naquele dia de propósito.
– O que você está fazendo aqui? – Ela perguntou um pouco confusa, o que Scorpius achou uma graça.
– Eu vim buscar a minha namorada para o baile. O que mais estaria fazendo parado como um idiota na sua porta? – Ele retrucou irônico, recebendo de Rose um beliscão leve no braço.
– Você é um idiota. – Ela resmungou. – Por que sumiu? – Ela questionou mal encarada.
– Queria ver se você sentia saudades. – Ele perguntou zombeteiro. – Deu certo?
Rose estreitou os olhos violentamente na direção dele.
– Fez de propósito Malfoy?
– O que você acha Weasley?
O sorriso presunçoso que brincava em seus lábios irritava Rose Weasley profundamente, embora ele nem tivesse noção disso. Em silêncio, Malfoy entregou o arranjo de flores do campo para Rose e se preparou para os gritos e ofensas que, provavelmente, ela dirigiria a ele, mas, para sua surpresa, Rose Weasley abriu mais a porta e o mandou entrar.
Scorpius franziu o cenho diante da atitude de Rose.
– Pretende me seqüestrar para depois me torturar no seu quarto? – Ele questionou em voz baixa, certificando-se de que ninguém ouviria e de que ela entenderia o sentindo duplo da pergunta.
– Não seria uma má idéia. – Ela respondeu enquanto lutava para apagar o vermelho de suas faces rubras. – Mas Lorcan está ali na sala, então nós vamos entrar de mãos dadas e fazer de conta que somos um casal feliz e sem assuntos pendentes.
Scorpius se aproximou dela lentamente, enlaçando-a pela cintura.
– Achei que já fossemos um casal feliz. – Ele falou roçando seus lábios nos dela.
– E nós somos! – Rose respondeu, mordiscando o lábio inferior do loiro em seguida. – Apenas não pense que eu vou esquecer o fato de você não ter dado notícias durante um dia inteiro.
– Isso significa que você sentiu saudades? – Scorpius perguntou erguendo a sobrancelha.
– Não seja tão convencido Malfoy. – Ralhou Rose entre risos, puxando-o pela mão em direção a sala.
– Não seja tão mandona Weasley!
**
O salão de festas do Ministério da Magia de Londres estava impecavelmente bem arrumado. A decoração em prata e branco dava uma certa leveza ao lugar, acentuada pelas velas adornadas por antigos castiçais sobre as mesas ou flutuando próximo às paredes. Pessoas importantes do mundo todo, em geral políticos e empresários, deveriam se encontrar naquele salão durante aquela noite para festejarem a chegada do ano novo.
E Draco Malfoy e sua esposa eram uma dessas pessoas.
Eram quase oito horas quando eles chegaram ao local. Se dirigiram a recepção, onde deram seus nomes e um simpático garçom os acompanhou até a mesa que dividiriam com os Weasley e Potter. Draco não fazia questão nenhuma de chamar “o Eleito” para se sentar em sua mesa, mas, aparentemente, o ranzinza Weasley só se sentaria com eles se Harry Potter estivesse presente de modo que, para satisfazer os caprichos de Astoria, lhe restou apenas aceitar a exigência. E rebater convidando Blasio Zabine para se sentar com eles.
– Melhore essa cara, Draco, por favor. – Resmungou Astoria enquanto sustentava um sorriso e cumprimentava alguns conhecidos.
– Minha cara está ótima, Tori. Veja, estou até sorrindo! – Ironizou recebendo um olhar duro da esposa em troca.
Em seguida, se aproximaram do local indicado, onde Ronald Weasley e sua família, juntamente com o clã do perfeito Potter já estavam. Não havia ninguém sentado, todos conversavam amenidades enquanto um drink circulava.
– Boa noite. – A voz de Draco se sobressaiu assim que chegou, fazendo com que os presentes o olhassem.
Um clima um pouco desconfortável se formou, mas foi facilmente dissipado quando Astoria se precipitou para cumprimentar Hermione e Gina, engatando uma conversa animada sobre as pessoas presentes no evento.
Foi Potter o primeiro a se pronunciar.
– Aceita um drink, Malfoy?
– Pode ser. – Ele respondeu dando de ombros.
Em seguida, todos se sentaram na mesa preparada para oito lugares.
– Onde as crianças vão se sentar, Gina? – Harry Potter questionou a esposa.
Draco observou Gina revirar os olhos e sorriu quando percebeu que pouca coisa mudou no comportamento dela desde Hogwarts.
– Nós não temos mais crianças, Harry. Albus está no último ano em Hogwarts, James estagiando no seu departamento no ministério e Lilian quase namorando. – Ela enumerou, fazendo as mulheres prenderem o riso, enquanto os homens, por causa de algum pacto silencioso, permaneciam solidários a situação de Harry. – Mas respondendo a sua pergunta, eles estão sentados no final do salão. – Ela completou, apontando para um ponto especifico.
– Quase não há luz lá, Hermione! – Ronald se intrometeu na conversa. – Vou ir até e mandar Rosie se sentar com aquele garoto cheio de dedos onde eu possa enxergar!
Instintivamente, ela o segurou pela manga da camisa.
– Não, você não vai. Rose já é adulta o suficiente para jantar longe dos olhos dos pais, não acha?
– Eu concordo com o Ron. – Harry tentou argumentar. – Não custa nada pedir para eles se sentarem mais perto de nós.
– Nem pense nisso, Potter. – Gina sibilou na direção dele. – A resposta continuará sendo não.
Os dois homens murcharam os ombros, mas não sem antes ajeitarem as cadeiras de uma forma que pudessem observar as filhas. Draco achou aquilo engraçado e comentou com Astoria:
– Entende o porquê de eu ser feliz por só termos um menino? Deve ser complicado para um pai se tornar fornecedor.
Astoria deu um tapa de leve no braço do marido por causa da piada, mas logo tratou de se recompor para receber Blasio, que acabara de chegar para se juntar a eles. As caras de Ronald e Harry pioraram ainda mais, mas o que eles poderiam fazer, não é?
**
Assim que adentraram no local, Rose e Scorpius sentiram os olhares curiosos queimarem em suas costas. Algumas pessoas comentavam, outras, nada discretas, apontavam enquanto cochichavam. Malfoy e Weasley não se importaram, pelo contrário, se divertiram com a situação.
– Albus e Dominique estão ali! – Rose observou enquanto, apontando para uma mesa mais ao fundo do salão.
Sem falarem uma palavra, seguiram para o local. Os primos pareciam discutir, mas não puderam saber sobre o que era, porque ambos se calaram quando os viram se aproximar.
– Vejam só, o casal mais inesperado do mundo bruxo, segundo o Profeta Diário! – Albus comentou sarcástico, levando um tapa na cabeça de Dominique e sorrisos de Rose e Scorpius.
– Sobre o que falavam? – Rose questionou enquanto se sentava ao lado de Dominique, puxando Scorpius para a cadeira ao seu lado.
– Nada demais. – Dominique respondeu dando de ombros. – Albus só estava tentando controlar tudo novamente, como sempre.
– Eu não estava tentando controlar nada. – Albus rebateu. – Apenas acho muito infantil da sua parte se mudar para a França, só isso!
– Então você acha infantil eu correr atrás dos meus sonhos? – Ela perguntou irritada, fazendo Rose se sobressaltar. – Eu não vou perder a oportunidade de fazer Moda em uma faculdade renome em Paris porque o meu primo acha que não vale à pena!
Albus pareceu espumar de raiva, tanto que Scorpius se viu tentando a se aproximar do amigo e pedir calma.
– Não banque a esperta pra cima de mim Dominique. Você está fugindo dos seus problemas, como sempre acontece! – Albus falou enquanto passava as mãos pelos cabelos raivosamente.
– Eu não estou fugindo de nada Albus. – Dominique estreitou os olhos na direção dele. – Apenas estou dizendo que, quando acabar o sétimo ano, vou para Paris. Quer você queira, quer você não queira!
– Então está bem! Então faça o que quiser! – Explodiu Albus.
– Ótimo! – Devolveu Dominique, cruzando os braços sobre o peito, fazendo com que Rose percebesse que ela estava claramente tentando segurar o choro.
– O que seria se uma reunião de família sem uma discussão? – Rose virou-se na própria cadeira para dar de cara com James segurando Abbie pela mão. – Família unida, que coisa linda.
– Quer calar a boca, James? – Ela ouviu o sussurro indignado de Abgail.
– Qual é Abbie? – Devolveu James, puxando a garota para a mesa e sentando-se com ela junto com os outros. – Vão me contar o que aconteceu ou não? – Questionou encarando o irmão e a prima logo em seguida.
A resposta foi unânime e em alto e bom som para que todos entendessem.
– NÃO!
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As horas se passaram e logo Hugo e Lilian se juntaram aos outros seis na mesma mesa. Apesar de arrependida, Lilian ainda estava receosa e por essa razão sentou-se longe de Rose, entre Abgail e Hugo. Passado o calor por causa da discussão entre Albus e Dominique que ninguém entendeu nada – como sempre acontecia quando o assunto era os dois – todos conversavam animadamente.
– ... Afirmo e repito para quem quiser ouvir: tio Rony e papai são piores que dois carrascos com os estagiários! – Reclamou James pela milionésima vez naquela noite.
Entre piadas e risos, a noite foi passando e o jantar já era servido, quando duas pessoas se aproximaram da mesa.
– Olá pessoal. – A voz cantada e falsamente simpática era irreconhecível, de modo que Rose virou-se abruptamente apenas para dar de cara com Lysander Scamander dentro de um vestido apertado e lilás.
– Estava demorando. – Ela ouviu Dominique resmungar de onde estava. – O que quer Scamander? Não vê que isso é uma reunião de família?
– É que eu vi uma cadeira vaga, achei que, de repente, poderia me sentar com vocês. – Ela falou, olhando sugestivamente para o lugar vago entre Hugo e Albus.
Rose, Lilian, Dominique e Abgail contraíram a face, insatisfeitas com a situação. Todas já tinham respostas bem mal educadas na ponta da língua, mas foi Albus o responsável por despachar a incomodada visitante.
– Na verdade eu estou guardando esse lugar para Anthony. Ele está pra chegar.
Sem se dar por vencida, Lysander ainda insistiu.
– Zabine é da família agora, Potter?
– É mais da família do que você. – Lilian surpreendeu, pingando veneno. – Não percebeu ainda que não é bem vinda?
– Credo Potter, não precisa ser tão mal educada. – A loira revidou, formando um falso beicinho nos lábios. – Sinceramente, Hugo, não sei o que você faz com essa menina.
Lysander saiu rebolando da mesa e, por incrível que pareça, o silêncio reinou no lugar. Lilian olhava incrédula para Hugo.
– Você não vai dizer nada?
Weasley parecia estar saindo de algum tipo de transe porque se atrapalhou inteiro para responder.
– Dizer o que Lilian?
Aquilo foi o que bastou para que a pequena Potter jogasse o guardanapo sobre a mesa e se retirasse, alegando que precisava ir ao banheiro. A conversa, aos poucos voltou, mas Lilian não, de modo que Rose começou a se preocupar.
Como Scorpius travava uma conversa animada com James e Albus sobre quadribol, ela aproveitou para se debruçar sobre a mesa e conversar em voz baixa com Dominique e Abbie.
– Lilian está demorando. Será que aconteceu alguma coisa?
Dominique disse que não, mas os olhos de Abgail se acenderam em um sinal claro de que ela tinha visto algo. Algo que traria problemas, certamente.
**
Assim que a namorada de James disse a Rose que viu Lysander entrando no banheiro pouco tempo depois de Lilian entrar, ela se retirou da mesa, sendo seguida por Dominique. Sabia que estavam brigadas, mas também sabia que Lysander estava ferida com o fim do relacionamento com Hugo e não sabia do que a loira seria capaz.
Assim que entraram no corredor que levava aos banheiros, uma furiosa Lilian Luna Potter saiu do local. Os cabelos vermelhos estavam totalmente bagunçados e a face dura, como se estivesse se preparando para atacar alguém. A garota não notou as primas, ou se notou, fingiu muito bem, de modo que Rose a segurou pelo braço.
– Lilian, o que aconteceu? – Foi Dominique quem perguntou, preocupada com olhar raivoso da outra.
–Preciso acertar minhas contas com Hugo! Me solta Rose, mas que droga!
Os gritos de Lilian chamaram a atenção de algumas senhoras que conversavam próximas da entrada do corredor, de modo que Rose precisou segurar seu braço com mais força, forçando-a a encará-la.
– Primeiro se acalma e me conta que diabos a Lysander te disse que deixou você desse jeito!
Uma sombra passou pelos olhos de Lilian, que encarou Rose ainda mais raivosa.
– Como você sabe que Lysander estava no banheiro? – A ruiva questionou, completamente fora de si, fazendo Dominique revirar os olhos. – Estava sabendo novamente das coisas e não me contou? Eu já devia ter imaginado. E em pensar que eu estava quase indo te pedir desculpas!
– Eu não fiz nada Lilian! É tão difícil entender que eu apenas quero ver você bem?
Lilian riu de forma irônica.
– Desculpe, mas é difícil acreditar em alguém que mente descaradamente pra família o tempo todo! Me solta garota! – Resmungou Lilian, tentando tirar a mão de Rose de seu braço.
Rose sentiu as bochechas avermelharem.
– Não fale daquilo que você não sabe, Lilian!
– E do que eu não sei? – Retorquiu Lilian. – Que você mente para todo mundo? Que você desfila por aí com um cara que é pago para ser seu namorado? Ora, faça-me o favor! Nem mesmo Lorcan ficaria com você se soubesse como é de verdade.
– As coisas mudaram! Você não sabe o que está falando!
– É claro que eu sei. Ou você quer que eu refresque a sua memória e a lembre do acordo que fez com Scorpius Malfoy? – Lilian perguntou sem ser capaz de controlar a língua. – Tudo isso porque você não tinha coragem de enfrentar seu pai e dizer que Lorcan era esquisito!
– Cale a boca! – Gritou Rose, começando a perder o controle. – Você ficou longe por dias, as coisas não são mais assim! Saberia se estivesse falando comigo!
– Acha mesmo que seus pais não vão descobrir? – Lilian questionou, fora de si. – Pelo menos eu vou poder dizer que eu avisei você. Avisei que essa história de contratar um namorado era loucura! Porque eu sim fui sua amiga. Enquanto você escondia coisas importantes de mim, como o fato de Hugo e Lysander terem terminado por minha causa!
– Você está descontrolada Lilian. – Se meteu Dominique. – Se controle!
– Eu não vou me controlar, e sabe por quê? Porque estou cansada dever todo mundo tentando me fazer de idiota! – Lilian gritou com os olhos vermelhos. – Todos mentem pra mim. – Ela falou e, com puxão brusco, se desvencilhou de Rose. – E Hugo vai se arrepender por também ter feito isso!
Em seguida, Potter saiu correndo pelo corredor, sendo seguida de perto por Rose e por Dominique.
**
– Por que elas demoram tanto? – Anthony, que havia chegado à mesa pouco depois que as garotas saíram, perguntou.
– Devem estar pintando a cara e falando mal de nós. – James respondeu bebericando um pouco do vinho servido em sua taça. – Coisas de mulher, sabe.
O cutucão que levou da namorada o fez gemer. Prestes a pedir para Abbie um pouco mais de carinho, James se interrompeu quando viu a irmã caçula andando na direção deles como um tornado. E, pela segunda vez na vida, sentiu medo da irmã – a primeira aconteceu quando ele, acidentalmente, claro, jogou pela janela alguns DVD’s dela.
– Será que você pode me explicar o que é isso?! – Lilian, completamente furiosa, perguntou, jogando violentamente sobre Hugo um pergaminho amassado.
As pessoas das mesas próximas se viraram para ver o que acontecia, mas Lilian não sentiu vergonha, pelo contrário, continuou parada à frente de Hugo com as mãos na cintura.
Meio desorientado, o irmão de Rose abriu o que ela havia jogado nele e sentiu o próprio sangue congelar nas veias ao mesmo tempo em que via a irmã e Dominique se aproximarem ofegantes de onde estavam.
– Lil’s eu...
– Você nada! – Lilian berrou. – Você é um cretino Weasley, como pode fazer isso comigo? – Ela perguntou, as lágrimas escorrendo já livremente por seus olhos.
– Eu ia conversar com você depois do baile, tente entender o meu lado.
Lilian riu ironicamente.
– O seu lado? Você se corresponde com a maldita Scamander pelas minhas costas, diz que ainda a ama e que vai encontrar um jeito de terminar comigo e eu é quem tenho que te entender?!
– Você mesma falou que deveríamos ir com calma!
– Mas isso não significava que você poderia ir correndo atrás da vaca da Scamander quando bem entendesse! – Berrou Lilian.
Hugo levantou-se na tentativa de tentar acalmar a prima. Tentando argumentar com a Potter, mal percebeu quando Dominique tirou de suas mãos o pergaminho que segurava para tentar entender o que acontecia. Rose se aproximou da prima para ler, da mesma maneira que Anthony e Albus esticavam seus pescoços para lerem também, enquanto James e Abbie tentavam, inutilmente, acalmar os ânimos de Lilian e Hugo.
**
O jantar estava sendo quase agradável. As piadas infames, obviamente, existiam. E Hermione e Astoria acreditavam que seria difícil fazer com que seus maridos parassem de implicar um com o outro, embora acreditassem que uma convivência civilizada podia ser possível.
Naquele momento, estavam todos sentados discutindo quadribol. O assunto não era harmonioso, porque Ronald Weasley continuava sendo torcedor fanático do Chuddley Cannons, ao passo que Draco preferia as Harpias – e levou um tapa de Astoria ao tentar destacar os “atributos do time”.
– Você não pode falar muito do Laranjão. – retrucou Ronald malvadamente. – Seu filho me contou que é torcedor Chuddley Cannons também!
Draco retrucou e Harry se meteu na história, fazendo com que Blasio fosse obrigado a tentar acalmar os ânimos enquanto as mulheres fingiam não ver.
E foi apenas porque Hermione, observadora como sempre, notou uma pequena confusão perto do lugar onde seus filhos estavam que eles perceberam a discussão que seus filhos travavam.
– Ronald! – Hermione falou assim que avistou a cabeleira de Hugo tentando se livrar dos tapas que Lilian distribuía nele. – Acho que é melhor irmos ver o que estava acontecendo.
Os homens, imediatamente, pararam de discutir e se viraram para onde Hermione apontava. Todos eles, incluindo Astoria e Gina, observavam estáticos a cena que parecia um pandemônio.
Enquanto Hugo tentava se livrar dos tapas de Lilian, Rose tentava afastar a prima do irmão, ao mesmo tempo em que James, Albus e... Anthony estavam segurando Hugo para que o garoto não fugisse de Lilian. Scorpius gritava com Rose, que gritava de volta, enquanto Dominique e Abbie mandavam todo mundo calar a boca.
Hermione foi a primeira a se levantar, seguida das mulheres. As três marcharam na frente, enquanto seus maridos, ainda atordoados, tentavam entender o que acontecia.
E o salão inteiro se encheu de silêncio diante do grito daquela que tinha sido a garota mais mandona da história de Hogwarts:
– O QUE É QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI?
**
A cena então congelou. Porque ninguém foi capaz de mover um músculo depois do grito de Hermione.
Àquela altura, ninguém sabe como, Albus e James estavam segurando Hugo, enquanto Anthony se preparava para socá-lo. Abgail socava James para que ele soltasse o primo. Lilian e Rose estavam com as mãos nos cabelos uma da outra enquanto Scorpius tentava afastar a namorada da prima sem usar a força e Dominique puxava Lilian pela manga do vestido que ela própria tinha rasgado.
– Estão esperando o que para recuperar a dignidade de vocês e soltarem uns aos outros? – Gina perguntou olhando diretamente para os filhos.
Rose e Lilian sentiram as faces se aquecerem e foram as primeiras a se soltarem. Permaneceram de cabeça baixa, morrendo de vergonha da cena que protagonizaram e por terem chegado aquele ponto. Dominique soltou a ponta do vestido de Lilian murmurando um encabulando “desculpe”, ao mesmo tempo em que Scorpius amparava Rose em seus braços sem deixar de olhá-la de forma dura.
– Não me faça ir até aí e arrancar suas orelhas fora, Anthony. – A voz grossa de Blasio ecoou e, pela primeira vez, todos viram o garoto baixar a cabeça e andar alguns passos para trás.
– Albus e James, por favor, soltem o primo de vocês. – Hermione pediu, reunindo o resto de paciência que tinha.
Astoria não disse nada, mas gostaria de dar uns bons tapas em Scorpius por ter se metido naquela briga que, certamente, seria a capa do Profeta Diário do dia seguinte.
– Vão esperar uma convocação do Primeiro Ministro para explicarem o que aconteceu? – Harry Potter perguntou quando finalmente entendeu o escândalo em que seus filhos se envolveram.
Uma voz solitária ecoou por todo o salão:
– Lilian chegou do banheiro batendo em Hugo, que admitiu que se correspondia as escondidas com Lysander deixando Lilian ainda mais irada. Rose tentou puxar Lilian, que chamou Rose de mentirosa por alguma razão e as duas se agarraram. Scorpius é um maricas e não conseguiu separar Rose, enquanto Dominique tentava segurar Lilian. Hugo estava quase escapando e Albus e James resolveram segurá-lo para que Anthony o socasse. E a namorada mandona do James gritava com todo mundo, mas como ninguém ouvia, resolveu bater em James para ver se ele largava Hugo.
Os adultos agradeceram a Lorcan pela explicação detalhada com um olhar, enquanto os adolescentes se questionavam de onde ele tinha surgido.
– Dedo-duro. – Resmungaram Lilian e Rose ao mesmo tempo, trocando olhares encabulados.
– Mais alguém está querendo levar um soco. – Albus falou mais alto do que pretendia, levando um olhar duros dos pais.
O salão inteiro observava a cena. Os mais jovens estavam excitados com a briga de família, fazendo apostas entre si, enquanto os mais velhos, em sua maioria, se viam horrorizados com aquela barbárie toda. Foi Ronald, para o orgulho de Hermione, quem retomou as rédeas da situação.
– Por favor, voltem ao que estavam fazendo. Peço desculpas pelo incomodo que as crianças causaram e garantimos que não vai se repetir. – Ele falou em alto e bom som. – E elas receberão um castigo bem severo por esse escândalo. – Ele murmurou, por fim.
Os murmurinhos recomeçaram e, aos poucos, os estranhos que ninguém tinha notado que estavam observando, se afastaram. Draco trocou um olhar com Ronald, Harry e Blasio e murmurou com a voz fria e arrastada.
– A festa acabou para todos vocês. Vamos embora.
– Quero deixar claro que estou profundamente magoada com os três. – Gina falou olhando para cada um dos filhos. – Vocês simplesmente jogaram pelo ralo toda a educação que eu dei a vocês.
– Não sei mais o que esperar de vocês dois. Principalmente de você, Rose. – Hermione resmungou olhando para Hugo e Rose que abaixaram a cabeça. – Achei que você e Lilian tinham maturidade para resolverem suas diferenças como adultas, mas vejo que me enganei. O que mais devo esperar de você, Rose?
A ruiva se encolheu ainda mais nos braços de Scorpius diante do xingão da mãe. Ela estava com um pedido de desculpas já ensaiado na ponta da língua, porém, outra voz a interrompeu.
– Mentiras, tia Hermione.
Rose encarou Lysander mortalmente, mas a loira tinha um sorriso sacana no rosto, daqueles que sempre indicavam que ela tinha uma carta na manga.
– Garota, não leve a mau, mas não é o momento oportuno pra isso agora. – Draco murmurou cansado.
– Mas eu tenho uma coisa pra contar, e garanto que é de seu interesse.
– Lysander, seja lá o que for dizer, seja rápida, por favor. – Ronald disse de mal grado.
O sorriso de Lysander se alargou e Rose sentiu as pernas tremerem. Scorpius parecia nervoso também, porque ambos trocaram olhares assustados.
Mas não tinha como ela saber nada sobre o acordo, ou tinha?
– Não vou falar tio, eu vou mostrar. – Ela falou enquanto tirava da bolsa a varinha. – É só uma pequena conversa que eu ouvi perto do banheiro pouco antes dessa confusão começar.
E então Lilian, Dominique e Rose arregalaram os olhos quando Lysander balançou a varinha e, através de uma fina neblina amarelada, a voz da caçula dos Potter foi ouvida:
“- E do que eu não sei? Que você mente para todo mundo? Que você desfila por aí com um cara que é pago para ser seu namorado? Ora, faça-me o favor! Nem mesmo Lorcan ficaria com você se soubesse como é de verdade.”
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