Sobre Escolher Bem os Amigos

Novamente acordo sentindo o olho de fogo rondando o mundo em que estou e me encolho embaixo da capa. Preciso encontrar uma forma de mudar a situação em que estou, mas tudo que ouço é o vento sussurrando em meu ouvido:

-Espere mais um pouco. Eles estão vindo.

Só posso respirar fundo e acreditar, enquanto sinto um peso que não estou carregando me enfraquecer. Fecho os olhos e vejo a criança carregando o anel. Seu fardo está ficando mais pesado, se eu puder, não me oponho a ajudar a carregar.

Depois desse meu pensamento, o mundo parece ficar mais leve, como se fosse isso que estivesse esperando de mim todo o tempo. Talvez ele realmente esteja desesperado por ajuda. Vou fazer meu melhor para ajudar.

 

HPSAHPSAHPSAHPSA

 

O mundo está gritando! Há um calor insuportável me dominando e choro de crianças em meus ouvidos.

As árvores estão queimando e os homens estão matando. Não sei onde ou porque, mas sei que dói muito sentir tudo isso acontecer.

 

HPSAHPSAHPSAHPSA

 

O mundo está com raiva. Depois do que vem acontecendo não posso culpá-lo. Mas há algo se aproximando cada vez mais. Entre o peso, o calor e os gritos, eu vejo o rei encontrar o mago branco e o vento me diz que estão chegando até mim.

São eles que estou esperando, estou esperando o rei e o mago, mesmo sem saber como sei que são o rei e o mago. Eles estão perto e, quando chegarem, estarei pronto para lutar junto a eles.

 

HPSAHPSAHPSAHPSA

 

Há alguém parecido com um elfo doméstico junto ao menino com o anel. Não sei se isso é bom ou ruim, o mundo me sussurra que ele também não sabe.

 

HPSAHPSAHPSAHPSA

 

Eles estão aqui! Eu os vi andando até a cidade, caminhando até o lugar que eu não ouso entrar sem saber o motivo.

Agora eu sei a razão.

O olho estava ali, rondando todo o lugar. Meu novo amigo, o espírito desse mundo me impediu de cair em suas mãos. Mãos de fogo que dominam uma mente poderosa e indecisa.

O mundo canta quando o olho vê a luz e é expulso do local.

Ele ainda pode olhar, mas seus braços não mais atingem essas terras.

Por enquanto...

 

HPSAHPSAHPSAHPSA

 

As pessoas estão saindo da cidade e andando para algum lugar. Todas as pessoas. O vento me empurra nessa direção e em meio a aldeões assustados e poderosos guerreiros eu sigo o caminho que eles trilham sem saber pra onde vou. Sou estranhamente bem recebido pelas pessoas, mas o mundo me pede para me conter.

Depois de tanto tempo isolado, não é difícil ser educado e distante.

Ninguém me questiona e eu me assusto ao perceber que eu não questiono o mundo também.

 

HPSAHPSAHPSAHPSA

 

A criança está assustada. Mas, ao fechar meus olhos, vejo o coração de quem a capturou. Respiro tranquilo e sigo meu caminho. A estrada não vai ser fácil, mas todos temos que seguir em frente.

Aos poucos me aproximo do rei, aquele que tenho visto sem ver e o vejo falar e sorrir com os amigos, uma mulher e um anão. Mas agora também sei seu coração, dentro dele só há a saudade e uma mulher com orelhas pontudas que não está aqui.

Espero que ele a encontre de novo. Todo rei precisa de uma rainha.

A calma não dura muito, algo vem em nossa direção. São as criaturas que venho enfrentando. Pessoas começam a correr, outras começam a lutar. Protejo alguns dos que fogem e me distraio do rei por tempo suficiente para ele sumir.

Enquanto seu amigo, que agora sei ser um elfo, segura um colar e lamenta, o vento me sussurra para não me preocupar e seguir.

Seguir é o que todos fazemos.

Até que chegamos ao nosso destino. Chegamos ao Abismo de Helm.

 

HPSAHPSAHPSAHPSA

 

Os elfos falam em partir. É bom, finalmente, saber do que chamar aqueles seres tão belos. Seus corações estão divididos, eu posso sentir e a decisão deve ser feita. Não consigo saber qual será, só espero que seja a melhor possível.

 

HPSAHPSAHPSAHPSA

 

A criança está em perigo. Frodo, o vento me diz.

Fico distraído com o retorno do rei, Aragorn é seu nome. Há um palpável alívio das pessoas que o recebem, mas ele traz notícias de um exército inimigo se aproximando e o rei daquele povo tenta se organizar. Escuto sua conversa com algum desprezo. Não é hora pra arrogância. Entre a vido do seu povo e pedir ajuda não deveria haver uma opção.

Agora entendo o motivo de pensar em Aragorn como Rei. É o único que reconheço como tal nesse lugar.

 

HPSAHPSAHPSAHPSA

 

Eles me dão uma espada e eu olho os rostos ao meu redor. Eles não têm esperança. Mas meu coração está cheio dela enquanto sinto o chão me segurar e olho para o rei que escolhi seguir nesse lugar. Ele se importa, ele se preocupa e ele traz aliados que chegam ao som de uma corneta. Há um gigante exército se aproximando, mas nós temos uma aliança que torna esse mundo feliz.

Homens e elfos vão lutar juntos novamente. E é exatamente isso que começamos a fazer.

Com um ataque imprudente de nosso lado o horror começa e não é nada comparado com o que já passei em minha vida.

Há flechas, há gritos, há escadas na muralha, há uma explosão e há uma voz me dizendo para proteger quanto eu puder, pelo maior tempo possível. Eu sinto o mundo chorar pelo sangue derramado, eu sofro pela criança com armadura que vejo morta no chão. Eu escuto o Rei comandar o exército de elfos, eu sinto o mundo me impulsionar para luta enquanto homens me puxam para recuar.

Eu sinto a flecha atingir o elfo amigo do Rei e a dor que isso lhe traz. Meus olhos estão cheios de algo e não consigo enxergar, mas ouço sussurros me dizendo para continuar. Eu sei que vou morrer aqui, mas também sei que isso não importa, pois só vou acordar em outro lugar.

O mundo está gritado comigo, não me deixando desistir. Eu não entendo o que está havendo, por que estão me puxando para trás? Por que não me deixam lutar? É o que o mundo quer que eu faça. Ele é meu amigo, preciso ajudá-lo. Alguém diz que estou sangrando, mas eu não fui ferido. Eu não consigo ver nada, meus óculos não estão aqui.

Quando sou puxado para o castelo que noto que meus óculos se quebraram e meus olhos estão sangrando. Não são lágrimas que estão os enchendo, é sangue. Sou empurrado para perto do Rei e ele me segura e me leva até alguém que me abraça, mas eu preciso lutar, é o que o mundo me diz.

Escuto um grito horripilante longe daqui, são árvores gritando e se reunindo, mas eu não sei onde ou como. Não consigo entender nada. O olho de fogo está procurando a criança, o anel está pesando, meus olhos estão sangrando, há uma trombeta tocando, o sol está nascendo, o mago branco está chegando e eu sinto a esperança se renovar. Eu ouço a luta ficar mais forte, eu ouço os homens vencendo a luta e os inimigos fugindo.

Eu sinto as árvores batendo inimigos aqui e em outro lugar. O mundo está se revigorando e no meio da comemoração eu vejo, sem usar meus olhos feridos, Frodo e o anel.

Em algum lugar no meio da escuridão eu sinto o mundo sorrir, eu sinto o olho queimar e eu ouço Frodo dizer:

-Frodo não teria chegado longe sem Sam.

E eu também sorrio, sem saber bem o porquê. Os inimigos ainda não perderam, mas acho que é tudo nesse mundo vai ficar bem. Talvez eu acorde nele e consiga seguir em frente mesmo não podendo lutar mais nessa batalha.

Isso me conforta até que eu escuto a voz que não é uma voz, aquela que me acompanha desde que cheguei e que me guiava para a batalha que lutei, a voz do mundo que parecia me aceitar:

-Se não pode me ajudar, não volte a respirar meu ar!

E isso é tudo que sei antes de mais nada saber.

 

HPSAHPSAHPSAHPSA

 

-Há quanto tempo, Harry Potter!

Ouvir novamente a voz de morte depois de tudo isso foi assustador e eu só pude perguntar, ainda confuso:

-O que aconteceu? Eu sei que esse mundo não queria me expulsar, mas no fim...-Minha garganta se fechou e eu não soube como continuar. Não precisei.

Morte me encarou e deu a explicação que partiu meu coração:

-Você está errado. O mundo encontrou a melhor forma de lhe machucar. Ele lhe fez sensível ao sofrimento dele e lhe chamou para a guerra sabendo que seu bom coração não permitiria que você não lutasse. Toda dor que sentiu foi o fardo que o mundo não queria carregar, ele não precisou já que você aceitou tão facilmente sofrer em seu lugar.

-O mundo me usou? -Perguntei sentindo algo estranho no meu estômago, por mais clichê que parece, eu acho que são as partes quebradas do meu coração.

-Sim.

-Pensei que fôssemos amigos! -Sorri me sentindo triste e idiota.

Ficamos um pouco em silêncio, até ele perguntar me olhando atentamente:

-Você está bem?

-Vou ficar! -Respondi sabendo que acreditar nisso é tudo que me resta.

Continuei a falar logo depois, tentando esquecer tudo isso de alguma forma e voltar a um tipo de terreno comum com Morte:

-Por que me enviou pra lá?

-Pensei que você podia sentir falta de um lugar mais mágico. Ou quem sabe, de enfrentar um Senhor das Trevas.

-É claro, porque da primeira vez foi tão divertido!-Falei de forma sarcástica.

Morte só acenou concordando e disse, totalmente, sério:

-Foi mesmo.

-Você sabe que quando eu disse que foi divertido eu estava sendo sarcástico, não é? -Perguntei meio assustado.

Morte apenas sorriu, aquele sorriso sinistro que sempre me dava nos nervos antes, mas agora só me fez sorrir também. Afinal, de alguma forma, ver aquele sorriso de novo e voltar ao nosso jogo de palavras me fez sentir um pouco melhor e eu percebi que, nessa viagem maluca, eu sempre tive um amigo. O mesmo amigo que esteve presente em toda minha vida, por mais irônico que isso possa ser!

 

FIM DE SENHOR DOS ANÉIS.

 

Espero que tenham gostado!

O motivo de toda a depressão foi a própria energia do mundo querendo usar o Harry como um sacrifício, mas acho que vocês já entenderam isso.

Adoraria que vocês comentassem dizendo o que acharam.

Por favor, façam isso!

Acho que é tudo por enquanto.

Nos vemos no próximo mundo que Morte escolher para Harry!

Até lá.

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