Capítulo 15: Partidas e Chegad



21 de agosto de 2007... Dois meses depois




-Droga – Harry resmungou, lutando com sua gravata pelo espelho.


-Não está reta – seu reflexo comentou.


-Ei, você quer fazer isso?


-Não posso, só tenho duas dimensões.


-Então fique quieto! – as pontas ainda estavam desiguais. Ele puxou do pescoço e tentou novamente.


Hermione saiu do closet com a roupa de baixo e um vestido em cada mão. –Qual dos dois?


Olhou pra ela pelo espelho. –Por favor, não me pergunte isso. Vou escolher o errado e você vai ficar com raiva de mim.


-Não, sério. Qual dos dois? – um era verde escuro e outro azul-real. Essa era a única diferença que ele conseguia notar. E um era um pouco mais comprido.


-Vai ficar linda em qualquer um dos dois.


Ela sorriu. –Essa é a resposta certa. – soltou um beijo pra ele e voltou pro armário, que era grande o suficiente pra ter a função de vestiário também.


Hermione levou suas coisas pra o Cloister mais ou menos uma semana depois da Coisa com Allegra, como passaram a chamar. Não era exatamente morar juntos, já que moravam juntos há anos e Harry disse que não tinha sentido em adiar. Havia espaço mais que suficiente pros dois, o quarto era enorme, tinha seu próprio banheiro e um closet do tamanho de uma pequena casa. Harry não era exatamente um maníaco por roupas, suas coisas tomavam mais ou menos um quarto do espaço disponível.


O antigo quarto de Hermione estava agora ocupado por Sorry, que ficaria com eles até decidir se voltaria para Groenlândia. Apesar dele e Laura terem um relacionamento íntimo, em respeito aos outros, não dividiam um quarto... Laura afirmava que era porque tinha dificuldades de dividir a cama com alguém, apesar de Hermione suspeitar que era porque Sorry roncava como um porco. Considerava-se uma mulher de sorte, pois ela e Harry dormiam silenciosos.


O nó estava muito desalinhado. Harry o desfez novamente, resmungando. –Aqui, deixe que eu faço isso – Hermione disse, saindo do closet. Ela tirou a gravata de seda cinza com flores azuis de seu pescoço, a alisou e colocou sob a gola dele, seus dedos rápidos e experientes torcendo-a num nó perfeito.


-Como ficou tão boa nisso? – ele perguntou.


Ela suspirou. –Abel sempre queria que eu desse o nó na gravata dele, e sempre tinha que sair perfeito. Acho que o fazia se sentir superior, como o Homem da Relação.


Harry riu. –Como se ele precisasse de algum incentivo pra se sentir superior – ele não falou nada enquanto ela terminava de dar o nó, levantando-o na altura certa. –O que você via nele? – finalmente perguntou.


-Bem, imagine a imagem que ele passa. Conhecido, impressionantemente rico, confiante, suave, bonito... E no inicio ele era dedicado, lisonjeiro. Admito que me fazia sentir especial.


-Vamos ver... Sou conhecido, sou rico, tento ser confiante, com certeza não sou suave, e não posso dizer se sou bonito...


-Ah, é dez vezes mais bonito que ele. Claro que não sou o juiz mais objetivo. – ela disse, sorrindo. –Além disso, você é um adulto. Abel Kilroy ainda é um menininho no corpo de um homem... Dando chiliques e querendo as coisas de seu jeito. – ela esfregou os ombros do terno dele. –Esse é meu terno favorito – disse.


-Meu também – era de garbadine azul escuro, com finas linhas brancas. Ele freqüentemente o usava com suspensórios, como hoje, para os concursos de danças. Sorriu pra ela. –Você está linda.


Tinha escolhido o vestido azul marinho, sem mangas, que ia até o meio da canela, com um decote e saia rodada. Estava com o cabelo preso e usava uma gargantilha prateada. –Obrigada – inclinou a cabeça pra cima e o beijou. –Estou um pouco nervosa.


-Eu também. – Nessa noite aconteceria o Baile Anual de Amigos e Antigos Alunos de Hogwarts, que acontecia anualmente no final do verão antes dos alunos chegarem. Todos moradores da casa compareceriam ao evento, esperando ver os amigos e antigos professores também.


Voltar a Hogwarts era sempre um pouco constrangedor pra Harry e Hermione, principalmente porque todas as lembranças de Rony os confrontavam em cada lugar. Eles iriam ao baile pela primeira vez em três anos; um ou outro não pode ir nesse tempo devido a outros compromissos e nenhum dos dois queria ir sem o outro. Esse ano também não era provável que fosse um retorno pacifico.


As notícias que o famoso Harry Potter, cujo nome de tempo em tempo era mencionando em conjunto com a frase "solteiro mais disponível", não estava mais tão disponível se espalharam no mundo bruxo como cerveja amanteigada num jogo de Quadribol. O fato que a outra metade desse casal ilustre era a quase tão famosa melhor amiga Hermione Granger deixava a notícia ainda mais sensacional, e deu aos românticos de todo o mundo uma rodada de suspiros felizes. Comentado com mesmo entusiasmo era o rumor que esses dois novos amantes tinham derrotado o Círculo todo sozinhos. A estima do heroísmo de Harry subiu a um novo nível e Hermione foi elevada até quase o mesmo status na opinião pública. Os nomes de Draco e Quinn eram mencionados raramente, o que era eminentemente satisfatório para ambos, e a especulação que Harry estava empregado em alguma profissão de combate ao mal corria solta.


As pessoas mandavam corujas pra eles de todo mundo. Hermione era assediada no trabalho e seus amigos eram empilhados de perguntas sempre que se atreviam a sair entre outros bruxos. Os jornalistas apareciam na porta da frente de Bailicroft... Laura estava famosa por dizer que estavam enganados, que essa na verdade não era a casa de Harry e que Bailicroft na verdade uma combinação de bordel com mortuário, chamado "Na cama e no freezer"


Depois de alguns repórteres irados e uma visita muito confusa das autoridades sanitárias locais, Harry e Hermione concordaram em dar uma entrevista ao repórter mais respeitável do Profeta Diário, Davis Willpott. Eles declararam a relação abertamente e agradeceram a todos pelo interesse, concordando que era algo que vinha se formando há tempo. O comentário feito pelo entrevistados sobre a existência de apostas ao redor do mundo foi respondido com uma risada. Harry admitiu que era empregado da Federação do Corpo de Executores (apesar de ter se recusado a falar algo mais especifico) e que um grupo da organização que incluía ele próprio e Hermione obteve sucesso na captura de um bom número de membros do Círculo. Quando perguntados sobre o destino da líder deles, a vilã Allegra Blackburn-Dwyer, Harry só disse que ela estava desaparecida.


Willpott não perguntou sobre o rumor de Harry ser um tipo previamente desconhecido de bruxo, com poderes especiais e Harry não mencionou o assunto.


E assim as cartas do provérbio estava sobre a mesa do provérbio. Os rumores se acalmaram consideravelmente... Era tudo notícia velha agora... Mas Hermione não sabia ao certo que tipo de recepção esperar quando chegassem em Hogwarts. Não queria fazer uma grande entrada como uma estrela do rock, mas supôs que as pessoas que estariam lá apenas ficariam felizes por eles.


-Sabe como conseguimos? – Harry estava dizendo, enlaçando os dedos atrás das costas dela.


-Conseguimos o que?


-Viver juntos como amigos todos esses anos.


Ela suspirou. –A negação é uma coisa poderosa.


-Não apenas uma sentença da gramática.


-Não mesmo. – ela deu os ombros. –Acho que nunca pensei em você desse jeito. – ela sorriu, sua mão descendo pelas costas dele pra sentir um pouco de seu dorso. –E agora não consigo parar de pensar em você desse jeito.


Ele riu. –Não se assanhe agora. Acabei de ajeitar essa gravata.


-Sabe, acredito de verdade que estou no caminho de me transformar numa maníaca sexual.


-Como posso te ajudar a percorrer o resto do caminho? Quero ser um companheiro que dá apoio. – ele disse, se inclinando para dar um cheiro no pescoço dela.


-Pensei que tivesse acabado de ajeitar sua gravata – ela disse, seus olhos fechando enquanto seus braços envolviam o pescoço dele por si só. –Os outros estão nos esperando.


-Humm-mmm – ele disse abafado contra a pele dela.


-Sabe, nunca... Tive esse problema... Com Horácio ou Rufus ou Abel... – Hermione sussurrou, as frases entrecortada pelos beijos que dava levemente nele. –Já estaria... empurrando-os pela porta... Sabe que odeio me atrasar.


-Talvez eles não valessem o tempo extra – ele murmurou.


Ela deu um sorriso malicioso pra ele, tirou seus óculos do rosto, segurou sua cabeça entre as mãos e deu-lhe um profundo beijo apaixonado que durou no mínimo quinze segundos. Quando finalmente o soltou, ele tinha uma expressão bem aérea e desligada. –aham – ele suspirou.


-Pronto. Era isso que eles não valiam. – recolocou os óculos no rosto dele, satisfeita consigo mesma. –Venha, querido. Vamos nos atrasar. – ela o segurou pela mão, pegando as vestes do cabide, e o guiou para fora do quarto.


Ele se recuperou quando chegaram ao topo da escada principal, puxando a mão dela pela dobra de seu cotovelo. –Viu? – ela murmurou. –Posso ser sedutora quando quero.


-Não vai me ouvir discordar. Mas se não quer se atrasar fez tudo errado... Você me beija desse jeito e tudo o que consegue é me fazer querer te agarrar, te jogar por cima de meu ombro, te trancar no quarto e fazer o que quiser com você.


-Céus, que coisa Neandertal de sua parte – ela disse, dando uma pequena cotovelada nele.


-Ai!


Desceram a escada principal; o resto da comitiva estava esperando no vestíbulo. Hermione sorriu ao ver todos tão elegantes; estava se sentindo bonita essa noite, esse era seu vestido preferido e até combinava com o terno de Harry. Há muito tempo imaginou como seria entrar no Salão Principal de Hogwarts ao lado de um belo par, só não imaginara que seria Harry. Sorriu pra ele, admirando novamente como era bonito... Apesar de não poder dizer ao certo quando ficara assim. Ele não ganharia nenhum concurso de beleza na escola, sendo bem magro e desligado, mas Hermione tinha observado que os garotos que eram nerds ou atrapalhados geralmente se tornavam os homens mais bonitos... E em boa parte pelo fato de não se acharem assim.


Laura e Sorry estavam próximos, junto à porta, falando baixo. Cho segurava a mão de seu par, um de seus companheiros de time no Minotauro só que ainda não tinham se conhecido. Justino e Jorge não estavam à vista, mas podiam ser ouvidos, parecia que estavam numa discussão envolvendo caçarolas e panelas e assadeira de torta de cereja.


-Estamos prontos? – Hermione disse, tirando a capa do cabide. Harry pegou de sua mão e segurou pra que pudesse colocar os braços; ela sorriu com essa demonstração de cavalheirismo.


-Jorge e Justino estão tentando acomodar todos bolos e tortas naquela cesta – quando Cho disse isso, uma grande cesta flutuou da cozinha, seguida por Jorge e Justino. Usando qualquer desculpa pra testar suas novas receitas, Jorge se voluntariou pra contribuir com as sobremesas do jantar em Hogwarts. Eles provavelmente esperavam que levasse uma ou duas tortas, mas Jorge não era de fazer as coisas pela metade.


-Meu Deus... Deixe-me colocar um feitiço para estabilizar isso. – Hermione disse, se apressando. –Vai cair... Ninguém quer comer bolo amassado.


Harry avançou pra cumprimentar o amigo de Cho. –Oi, sou Harry Potter – ele disse, esticando a mão.


O homem sorriu. –Hã, sim, sei quem você é – respondeu, apertando a mão de Harry e rindo um pouco ao pensar que ele poderia não conhecer. –Sou Joe McCarthy – parecia canadense.


-McCarthy! Como em...


-Sim, aquele Yank maluco. Se for comunista, juro que não ligo.


-Bem, prazer em conhecê-lo, e não acho que eu seja comunista.


-Joe é um de nossos batedores – Cho disse.


-Eu sei. Assisto seus jogos de vez em quando. – Harry disse, piscando pra ela.


-Estamos prontos pra ir? – Justino disse, batendo as mãos.


-Onde está... Como é o nome dele? – Harry perguntou a ele, balançando a mão no ar como se procurasse o nome. –O cara que você disse que estava...


Justino fez uma careta. –Ah, está falando do Clive? Ele teve outro compromisso inadiável e me deu o bolo. Não importa – ele disse alegre. –Eu o conheci na academia. Caras que você conhece na academia não valem nem um nuque... mas ele tinha um peitoral ótimo. – Justino suspirou nostálgico como se tivesse sido negado o desejo de apreciar esse peitoral, mas não se distraiu por muito tempo. –Vamos?


A comitiva saiu pelo pórtico, pegando suas vassouras. Harry emprestou a Sorry sua Jetstream já que ele não tinha uma vassoura no país... Não era como se Harry fosse precisar dela onde estava indo.


Saíram voando no céu noturno, oito silhuetas em vassouras e um homem solto contornados um pouco contra a lua.




Pra dar as boas vindas aos antigos alunos pro baile, Hogwarts estava toda decorada. A estrada que levava até a estação de Hogsmeade estava enfeitada com arcos de ferro pra ocasião, cada um coberto por pequenas luzes brilhantes, de modo que quando alguém passava em uma das várias carruagens que iam de um lado pro outro, parecia que estava passando em um brilhante túnel folhado. O castelo mesmo estava iluminado por milhares de velas e tochas, os saguões e corredores enfeitados por laços e fitas com as quatro cores das casas. Era uma noite perfeita, nem muito quente nem muito fria. O céu estava claro como cristal e uma pequena brisa balançava os pendões pendurados nas torres do castelo.


No salão principal, as quatro longas mesas das casas foram substituídas por pequenas mesas, reunidas em pequenos grupos pra dar uma sensação de unidade de casa, o centro do salão deixado vazio pra conversas e danças. Uma pequena orquestra trazia a musica e mais pro lado uma grande mesa de buffet recheada com aperitivos e bebidas.


No saguão, as grandes portas francesas que davam para os jardins dos fundos ficaram abertas, para que os convidados pudessem caminhar e sentir a fragrância de lá. Os jardins estavam perfeitamente mantidos, as árvores e arbustos cheios de pontinhos de pequenas luzes.


No mínimo quinhentas pessoas eram esperadas para o baile formal todos os anos, e um ex-aluno era escolhido para ser mestre de cerimônia. Esse ano, Gui Weasley ganhou a honra, mas seus serviços só começariam de verdade na parte do jantar e dança.


Harry e Hermione estavam conversando com os Longbottom perto das mesas da Grifinória. A entrada deles provocou cochichos e uma pequena rodada de aplausos; Gui se levantou apressado e mandou a orquestra tocar uma fanfarra imediata. Harry, constrangido, olhou pra ele meio se divertindo, meio de bronca enquanto ele e Hermione foram inundados com uma tempestade de abraços, apertos de mãos e congratulações. Por sorte, a confusão durou pouco e ficaram livres para aproveitar a festa. Jorge levou Sorry e Laura para um tour no castelo enquanto Cho e seu acompanhante ficaram num grupo separado com seus colegas jogadores de quadribol, entre os quais alguns alunos de Horgwarts estavam representados.


A conversa logo foi alegremente interrompida. –Tio Harry! - Veio uma vozinha aguda que se atirou pra frente bem mais rápida que sua dona. A garota de quatro anos Charlotte Black saltitou até eles em seus sapatos de couro com seu vestido vermelho voando, os braços esticados, num pedido irresistível. Harry se curvou e a pegou, jogando-a para cima antes de colocá-la em seu ombro. Rindo, a pequena Charlie enganchou seus braços em volta do pescoço dele.


-Aqui está minha elfa favorita – Harry disse com um sorriso, aceitando o beijo na bochecha.


-Me faz voar! – pediu animada, apontando para o teto.


-Certo – Harry disse. –Estique seus braços agora. – Não era necessário, é claro, mas era parte do jogo. Ela esticou os braços pra lado. Hermione ficou olhando enquanto Harry estreitava os olhos se concentrando e a soltou. Ela ficou flutuando no ar, rindo. Vagarosamente, ficou alguns metros acima da cabeça dele, os olhos seguindo-a quando ela virou de vagar pra fazer pequenos "oitos" no ar.


-Cuidado - Hermione sussurrou. –Não a deixe cair.


-Alguma vez deixei? – sussurrou em resposta. Charlotte riu e vibrou, balançando os braços enquanto "voava" na altura da cabeça dos adultos, Harry não a deixou ir muito alto nem muito longe.


Sirius entrou marchando até eles, seus olhos em Charlotte. –Papai, pode me ver? – Charlotte gritou. –Estou voando!


-Estou te vendo, querida. – Sirius disse.


-Tio Harry está me fazendo voar!


-Bem, é bom que o tio Harry não te derrube se sabe o que é melhor pra ele. – Sirius disse, olhando pra Harry com um brilho nos olhos.


-O Tio Harry teria menos chances de derrubá-la se o papai não distraísse ele. – Harry disse.


-Mais alto! Mais alto!


-Não, já está bom. – Harry disse. Charlotte vagarosamente desceu até os braços de Hermione, batendo palmas. Harry virou para Sirius, sorrindo. –Trouxe Ian?


-Não, ele é meio novo para festas. Está em casa com a babá. – Cordelia Hunter, a esposa trouxa de Sirius veio com dois copos de ponche e entregou um a seu marido enquanto se inclinava pra beijar a bochecha de Harry e depois de Hermione.


-Desculpe por não termos vindo dar um oi antes – ela disse sorrindo. –Parecia que vocês já tinham gente demais ao redor sem nós.


Harry revirou os olhos. –Juro que não sei o que esse povo fala tanto.


-Ah, nada tenho certeza – Sirius disse. –Como se já não fosse famoso antes, agora você derrotou parte do grupo de bruxos das trevas mais famosos do mundo.


-Não é como se tivesse feito isso sozinho – Harry protestou. –Além disso, "derrotar" é uma palavra forte demais e não fico muito confortável denominando o que aconteceu assim.


-Está bom por enquanto – Sirius disse baixo. –Você e eu sabemos que com os rumores que Voldemort está se reerguendo novamente, qualquer vitória que a gente consiga é bem-vinda.


-Mamãe? – disse Charlotte, que estava conversando com Hermione. –Posso mostrar a tia Mina meu livro novo? – quando era bebê, Charlotte não conseguia dizer o nome de Hermione direito e decidiu que "Mina" era uma alternativa aceitável. Achando que era irresistivelmente fofo e meio que torcendo que o apelido pegasse, Harry uma vez a chamou assim... E nunca mais fez o mesmo. Só Charlotte podia chamá-la assim.


-Você não o trouxe, amor – Cordelia respondeu.


-Ah – Charlotte disse, fazendo beicinho decepcionada consigo mesma por ter esquecido um item tão importante. Harry e Hermione eram os padrinhos de Charlotte e levavam a responsabilidade a sério, servindo freqüentemente de babás pra e ela e seu irmão de dois anos Ian, cujo padrinho aparecia com fervor equivalente quando a fase da lua permitia. Charlotte logo aprendeu a relacionar tia Mina com livros e por ser uma leitora compulsiva mesmo sendo nova, sempre ficava ansiosa pra dividir seus livros novos com Hermione. Charlotte olhou em volta, depois pra Hermione de novo. –Onde está seu docinho, tia Mina? – Harry sorriu. "Docinho" era a palavra que Charlotte usava pra descrever o companheiro de outra pessoa, pois essa era a palavra que mais ouvia seus pais usarem em casa. –Ele disse que traria uns bonequinhos mágicos para meu trenzinho.


Hermione percebeu que Charlotte estava falando de Geraldo. A última vez que tinha cuidado de Charlotte tinha sido em maio, logo antes da coisa de Allegra, e Geraldo fora com ela. Charlotte gostou bastante dele, provavelmente porque ele ficou no chão e brincou com ela e seu amado trenzinho com a mesma solenidade com a qual ela via seu passatempo. Hermione mal podia acreditar que tinha sido Draco quem fizera todas essas coisas. –Ah, querida... Geraldo não é mais meu docinho.


A cara de Charlotte caiu, numa engraçada demonstração de decepção. –Ah, que pena –falou, com um constrangimento e simpatia quase iguais a de um adulto. –Vai precisar de um docinho novo. – ela disse, no mesmo tom que um mecânico diria que um carro precisa de uma marcha nova... Direto e sem deixar qualquer alternativa.


-Bem... Tio Harry é meu docinho agora – Hermione disse, olhando pra Harry. Charlotte olhou de um para o outro, franzindo as sobrancelhas enquanto pensava nessa informação.


-Mas... Pensei que ele já era! – ela disse, a idéia que a tia Mina pudesse ter mais de um docinho não a perturbava nem um pouco. Sirius riu, esticando os braços pra pegar a filha do colo de Hermione.


-Já está na boca das crianças, hein Harry.


-Hermione! Harry! – veio uma nova voz. Minerva McGonagall se apressava até o pequeno grupo, sorrindo. Snape vinha atrás dela, parecendo completamente azedo. –Ah, me desculpe. Estava ocupada com alguns detalhes de última hora, acabei de chegar na festa.


Hermione abraçou a antiga amiga calorosamente. –Não perdeu muita coisa... Só algumas entradas exageradas.


Minerva olhou de um de seus alunos pra outro, eles estavam de mãos dadas de frente pra ela. –Devo dizer... Realmente parece certo ver vocês dois juntos. Sempre...


Harry levantou a mão para interrompê-la, sorrindo. –Não diga, me permita. Sempre soube, só estava esperando a gente perceber, sabia que éramos feitos um para o outro e temos certeza que está muito feliz. – Minerva piscou algumas vezes, incerta de como responder. –Perdoe minha intromissão, é só que já ouvimos isso umas oito mil...


-Não, dez mil vezes no mínimo – Hermione disse.


-Certo, umas dez mil vezes. Pelo menos uma vez queria ouvir alguém dizer "Nunca suspeitei, estou completamente chocado e acho que vocês não vão dar certo juntos".


Snape arqueou a sobrancelha. –Bem, eu nunca suspeitei.


Harry o cumprimentou inclinando a cabeça. –Obrigado, Snape. Sabia que podia contar com você.


A conversa continuou por algum tempo enquanto informações da batalha recente eram trocadas, pedidos de Charlotte por mais vôos eram recusados, e comentários sobre a festa e seus convidados fluíam como água. Eventualmente, Minerva foi chamada pra ver algo sobre a geléia de framboesa, Snape saiu pra atormentar Gui, Sirius e Cordelia foram pra um salão de festa especial que foi separado pra acolher as crianças que estivessem presentes e os Longbottoms foram visitar os antigos lugares da infância, deixando Harry e Hermione sozinhos pela primeira vez desde que chegaram ali.


Hermione foi até a mesa do buffet e fez um prato com os aperitivos; sem nem perceber o que fazia, escolheu coisas pra ela e pra Harry. Ele veio até ela e sem dizer nada lhe entregou um copo de ponche de rum, seu favorito, enquanto ele tomava cerveja amanteigada. Ela olhou pro copo, depois para o prato que segurava e começou a rir enquanto iam para uma mesa ali perto.


-Qual a graça?


-Olhe pra isso, Harry. Escolho aperitivos pra você e me traz a bebida certa. Não acha que estamos acostumados demais um com o outro?


Harry sorriu. –Era de se esperar. Depois de quinze anos devo ser capaz de prever qual a cor da calcinha que está usando.


Ela estreitou os olhos, sentindo um desafio. –Qual meu filme favorito?


-Uma janela para o amor.


-O nome de solteira de minha mãe?


-Graves.


-O nome do gato que tinha quando era criança?


-Oliver Cromwell.


-Minha cor favorita?


-Azul.


-Qual era o último nome de Horácio?


-Robbins.


-Quando a maldição me visita?


-Geralmente pelo dia 12, mais ou menos.


-Meu cantor predileto?


-Sting.


-Quem era meu Python preferido?


-Eric Idle.


-Quem é minha pessoa preferida?


-Eu, espero.


-Tirando você. E Rony. E minha família.


-Então vou ter que dizer Dr. Rousseau de Stonehenge. Ou talvez Laura. – ele esperou a próxima pergunta, mas ela apenas relaxou na cadeira e sorriu. –Passei?


-Ah sim. Você passou. Minha vez?


-Não precisa.


-Por que não?


-Porque você me conhece melhor que eu, como nós dois sabemos. Nenhuma demonstração é necessária.


Ela sorriu pra ele, toda sua afeição clara em seu rosto. –Quer dar uma volta?


Como resposta, ele apenas levantou e lhe ofereceu a mão.




Eles andaram pelo jardim, passando pelo campo de Quadribol, pela antiga cabana de Hagrid, agora ocupada pelo atual guarda-caça de Hogwarts. Harry parou e olhou pra ela por um momento.


-Lefty te lembra Hagrid, não é?


Harry fez que sim. –Hagrid foi a primeira pessoa mágica que conheci. Acho que sempre pensei nele como meu guardião pessoal, porque ele entrou de vez e me tirou dos Dursley.


Hermione suspirou. –Perdemos amigos demais, Harry.


Ele não respondeu nada por um momento. –Depois que Cedrico morreu, não sabia como agüentaria se mais alguém tivesse o mesmo destino... E Cedrico mal era meu amigo.


-Teve que crescer rápido.


-Todos tivemos.


Eles ficaram ali por alguns minutos, depois Hermione segurou o braço dele e o olhou no rosto. –Quero ir até lá. – ela disse.


Ele concordou, sem precisar perguntar o que ela queria dizer. Colocou o braço em volta da cintura dela e voaram pelo céu noturno, a massa escura da Floresta Proibida passando silenciosamente sob seus pés. Hermione sentiu um frio passar por seu corpo enquanto voavam sobre ela; segurou Harry com força, sentindo a pulsação em seu pescoço contra sua bochecha.


Desceram numa clareira, o lugar de uma memória que assombrava seus pesadelos e envenenava seus pensamentos acordados. Harry ficou paralisado no mesmo lugar enquanto Hermione ia até onde achava que o corpo dele estivera, apesar de nunca ter visto. –Ele morreu aqui? – perguntou, a voz mal passando de um sussurro. –Ou apenas foi deixado aqui?


-Ele morreu aqui. Seu sangue estava no chão.


-Onde?


-Exatamente onde está.


Hermione olhou para o chão como se ainda pudesse ver as impressões que o corpo deixara na grama. Esticou a mão sem levantar os olhos. Harry, com muito esforço, avançou e segurou sua mão. Ela levantou os olhos pra ele. –Me diga. Conte o que viu.


Ele balançou a cabeça que não. –Não. Não queria que soubesse na época e ainda não quero.


-Preciso saber, Harry. Por favor, não pode me proteger disso. Tenho que dividir esse momento com você. – ele não respondeu nada. –Perguntou uma vez se algum dia seríamos só nós dois ou se o fantasma de Rony estaria sempre presente. Preciso ver o que você viu, ou talvez nunca fiquemos livres.


Harry a olhou por um longo momento, depois piscou e mordeu o lábio. Finalmente concordou, passando a olhar pro chão onde estavam. Segurou as duas mãos dela com força, quase fazendo doer. Ela apenas esperou enquanto procurava pelas palavras para descrever.


-Eu vi um flash branco... Lembra como estava a lua? Vi alguma coisa e sabia, apenas sabia que era ele. Vim até ele... Parecia apenas uma pilha de trapos na grama. – disse com a voz tremula. –Virei-o de costas e foi aí que me ouviu gritar. Saí correndo.


-O que você viu? – insistiu.


-A... A garganta dele estava cortada. O sangue parecia preto sob a luz da lua. O cabelo estava todo bagunçado e seus olhos estavam abertos olhando para o céu e eu não podia acreditar que nunca mais veria seu sorriso, e não falaria com ele ou almoçaria com ele ou jogaria xadrez com ele, nunca mais. – hesitou e parecia repugnado em continuar.-E tinha... o rosto dele... – interrompeu no meio, sua garganta trabalhando. Hermione esperou. Olhou-a nos olhos de novo. –Na testa dele havia isso – falou, levantando uma mão para apontar sua cicatriz. O queixo de Hermione caiu. –Estava entalhado na pele.


-Ah meu Deus, Harry.


-Era uma mensagem pra mim, pra me fazer saber que essa morte, esse sangue, estava em minhas mãos. Se ele tivesse escolhido outro melhor amigo, estaria fazendo seu trabalho de aritmancia no salão comunal naquele momento. – fechou os olhos, as lágrimas se espremendo por suas pálpebras pra escorrer por seu rosto. –Tudo o que podia pensar era que você não podia ver. Se visse aquela marca, talvez me odiasse.


-Nunca poderia te odiar. – respondeu, mas pensou se isso era realmente verdade.


-Ouvi você vindo, te segurei e impedi que visse e fechei meus olhos e tudo que via na minha mente era você deitada no chão com sua garganta cortada e aquela marca cravada em sua testa. Sabia que Rony estava morto e que não podia fazer mais nada por ele e meu coração estava partido, então tudo o que podia fazer era me apoiar em você.


O queixo de Hermione tremia enquanto a imagem do que ele tinha descrito passava vividamente por seus olhos. Ela caiu de joelhos e colocou as mãos no chão, seus dedos passando pela grama. Harry apenas ficou ao lado dela, anestesiado, observando enquanto ela colocava as mãos no rosto e seus ombros começavam a tremer. O som do choro saía dela e era levado pela pequena brisa que passava pelo cabelo dele. Realmente era uma noite linda. Cruelmente linda. Como a natureza é desinteressada, Harry pensou vagamente. Estamos aqui com memórias horríveis, sentindo falta de nosso melhor amigo e mesmo assim está uma noite linda.


Harry se ajoelhou devagar e a puxou pra perto; ela se apoiou contra ele com gratidão e chorou em seu peito. Ele sentiu as lágrimas subindo pela própria garganta; dessa vez, não tentou impedi-las. Sentou pesadamente sobre a grama, puxando-a com ele, e se deixou chorar pela perda que não podia sumir. O tempo vai curar, ouviu muitas vezes. O tempo só colocou uma distância entre ele e sua dor, a dor de verdade continuava a mesma, tão vívida quanto no dia que foi criada.


Quando a sentiu tremendo em seus braços, percebeu que desde aquela noite nunca tinham lamentado por ele juntos, não de verdade. Tinham falado sobre isso em termos remotos, empíricos. Tinham ficado lado a lado no funeral, mas tudo pareceu falso e estilizado pra ele. Cuidaram dos problemas emocionais um do outro... E ainda assim nunca tinham apenas chorado juntos desde aquela noite, nunca tinham compartilhado a dor de forma significativa. A tristeza em comum juntara os dois ainda mais que antes, e ao mesmo tempo fez que se concentrassem mais em si mesmos. Fez com que se mantivessem à distância de um braço, mantendo o ar de amizade e a ilusão de intimidade enquanto mantinham os sentimentos guardados na solidão.


Ficaram ali por um longo tempo. Eventualmente suas lágrimas terminaram e seus soluços se aquietaram, a brisa secando as lágrimas das bochechas. Harry ficou sentado de pernas cruzadas na grama, segurando-a em seu colo, a cabeça dela em seu peito e seus braços ao redor da cintura dele. O aperto no peito de cada um sumiu e ficaram sentados em silêncio, exaustos, porém limpos.




Hermione caminhava pela beira do lago, respirando fundo a fragrância do ar noturno e se sentindo mais livre e leve do que se sentia há anos. Podia ouvir os passos de Harry alguns metros atrás de si e as ondas gentilmente quebrando nas bancadas de areia do lago. A luz da lua brilhava sobre a superfície, fazendo-o parecer prateado e luminoso.


A catarse mútua na clareira foi o último passo de uma longa estrada na qual tinha entrado anos atrás. Não importava o quanto estava feliz com ele ou quanto o relacionamento deles era forte, o fantasma de Rony ainda os assombrava incansavelmente. Ela sempre esteve consciente de sua presença, não entre eles, mas a sua volta. Bailicroft estava há quilômetros de Hogwarts, entretanto em algum lugar da mente e do coração deles nunca tinham saído daquela clareira. Aquilo fora o início do fim, o fim de suas infâncias. Aquela noite pela primeira vez ela olhou nos olhos de Harry e viu um adulto a olhar de volta, e viu o peso que havia sido colocado sobre suas costas. Ela soube, soube de verdade pela primeira vez, que qualquer que fosse o destino dele, ela seria uma parte... Porque não suportaria não ser.


Sentados na grama, falaram sobre isso pela primeira vez, e a descobriram que tinham percepções notadamente similares de como as coisas mudaram depois da morte de Rony. Ela sentiu um peso saindo do coração dela enquanto as palavras passavam por seus lábios... Sua culpa, seu desespero, a aceitação de sua própria morte.


Ela nunca conseguiria lembrar quem fez o primeiro movimento, mas de repente não estavam mais falando, mas se beijando, com suavidade e depois com um ardor crescente. Incrivelmente, e talvez inevitável, acabaram fazendo amor bem ali na grama. Ela nunca esqueceria quando olhou nos olhos dele e a testa dele repousou contra a sua, as estrelas brilhando sobre ele, a grama fria sob sua pele. Os gritos deles ecoavam nas árvores e Hermione se sentiu exorcizada, que o próprio chão estava exorcizado da morte que o assombrou e que assombrava os dois também.


Agora que caminhava de volta pro castelo iluminado, sorriu. Harry a seguia mais distante, mas podia sentir sua presença. Os dois estavam ocupados nos próprios pensamentos e emoções no momento, e ela estava grata pelo tempo pra se recompor.


Ouviu Harry parando e virou. Ele estava de pé na beira do lago olhando pra sua superfície, as mãos nos bolsos ainda segurando o paletó. Sua expressão era pensante. –O que foi? – perguntou.


Ele olhou pra ela. –Você pode olhar uma coisa pra mim? – ele enfiou a mão no bolso interno de seu paletó, tirou um pequeno objeto e jogou pra ela.


Pensando que fosse algum objeto mágico sobre o qual precisasse de sua opinião, ela pegou... Apesar de achar a hora estranha. Era uma pequena caixa achatada, do tipo que poderia guardar uma medalha ou um amuleto. Ela abriu e seu queixo caiu.


Havia um anel dentro dela.


-Ah – ela suspirou, tirando cuidadosamente o anel e segurando-o para olhar. A armação brilhava dourada e a pedra estava tradicionalmente colocada... Apenas um grande diamante. Ela queria dizer alguma coisa, mas parecia ter perdido a habilidade de falar.


Harry foi até ela devagar até que pudesse esticar a mão e tirar o anel dos dedos paralisados.-Estava em Nova Iorque mais ou menos um mês atrás, num caso – disse baixinho.-Estava caminhando pela 5ª avenida quando passei pela Tiffany's. Meus pés meio que me carregaram até lá sozinhos. – sob o olhar abismado dela, se apoiou sobre um joelho a sua frente. A mente de Hermione girou quando ele olhou pra ela, segurando sua mão na dele e segurando o anel com a outra.


Quando ele voltou a falar sua voz estava rouca. –Toda manhã quando abro meus olhos, penso que não posso te amar mais – disse. –Passo todo dia como sempre. Vou pro trabalho, viajo, venho pra casa, falo com você e te abraço, leio, como, e durmo. E no outro dia acordo novamente e te vejo dormindo a meu lado e fico impressionado de descobrir que te amo ainda mais... E mais uma vez penso que deve ser o limite, que dessa vez não posso te amar ainda mais. E então repito todo processo. Ainda estou esperando o dia que vou acordar e te amar apenas tanto quanto te amava na hora que fui dormir. Não acho que esse dia vai chegar. – sorriu pra ela, seus olhos brilhando. Hermione sorriu em resposta, sentindo os joelhos tão firmes quanto gelatina. –Quando penso no meu futuro, a única coisa constante é que você está lá. Não posso imaginar a vida sem você.


Um som escapou da garganta de Hermione, uma mistura de risada e soluço. As lágrimas já escorriam constantemente de seus olhos.


-Casa comigo? – ele sussurrou, seus olhos cheios de esperança e sem um pingo de nervosismo. –O que acha?


Hermione caiu de joelhos, abaixando até a altura dele, e colocou uma mão em cada lado de seu rosto. –Acho que sou a mulher mais sortuda do mundo – disse suavemente.


-Aceita então?


-Sim, Harry, eu aceito. – seu sorriso se alargou ainda mais, o caminho que as lágrimas fizeram ainda brilhando.


Ele respirou aliviado e seus ombros relaxaram, um sorriso brilhando em seu rosto. Abraçaram-se forte, trocando um beijo quente e animado. –Uau – ele murmurou. –Não acredito nisso.


Ela riu. –Como se achasse que eu poderia dizer não.


-Deixe eu te contar um segredinho. Nós homens damos um grande show, mas somos muito inseguros. Não pense que algum homem da historia da humanidade alguma vez propôs casamento sem um grande aviso de néon na testa dizendo "Seu idiota, ela nunca vai responder sim".


Ela riu e o abraçou novamente, sentindo como se coração pudesse literalmente explodir. –Ah, Harry, seu tonto. Eu realmente te amo – ela se afastou. –E agora eu vou contar um segredinho. Toda mulher, a partir do momento que aprende o conceito de casamento, sonha com o dia que vai receber o pedido e de como será perfeito. Bem... Isso foi mais bonito e tocante do que poderia imaginar. – ele sorriu e corou um pouco. –E há quanto tempo está ensaiando?


-Bem... Comecei a formular as primeiras versões quando estava saindo da Tiffany's. Falando nisso – ele disse, segurando o anel que havia sido esquecido. Ele pegou a mão esquerda dela e deslizou o anel em seu dedo. –Aqui. Isso torna oficial.


Ela olhou pro anel brilhando em seu dedo. –É realmente lindo. Sem falar extravagante. – ela olhou mais de perto pra grande pedra em seu dedo. –Pelo fantasma de Merlin, isso é mesmo um diamante?


-Espero que sim, se não for, fui horrivelmente assaltado.


-Deve ter custado uma fortuna.


-Eu posso pagar. Além disso, não consigo pensar em nada com que gostaria de gastar mais que você.


Ela balançou a cabeça; -Não posso acreditar.


-Não me diga que foi surpresa.


Ela levantou os olhos pra ele. –Isso foi uma enorme surpresa.


Ele inclinou a cabeça e a olhou confuso. –Então você pensou que eu estava apenas namorando você casualmente enquanto não encontrava minha alma gêmea verdadeira?


-Não, claro que não. Só não esperava isso tão cedo. É bem... rápido.


-Entendo. Acho que quinze anos não é tempo mais que suficiente pra nos conhecermos... – ele disse aéreo.


-Ah, pare. Sabe o que quero dizer. Só estamos juntos há alguns meses.


Ele passou a mão na bochecha dela suavemente. –E fica melhor a cada dia. Geralmente tenho duvidas sobre muitas coisas, mas não sobre isso. Levantou e ofereceu a mão, que ela segurou. Caminharam novamente de volta para o castelo, os braços enlançados nas cinturas do outro.




Quando reentraram no castelo, os convidados estavam começando a se dirigir paras mesas em preparação para o jantar. Trocaram um breve olhar, e por um acordo misterioso, Hermione colocou a mão esquerda no bolso. Estava explodindo de vontade de contar a Laura e Gina e a todo mundo, mas por enquanto se conformava em manter esse conhecimento só para eles. Segurou a mão de Harry com força. Marido, marido sua mente repetia várias e várias vezes, sem acreditar. Ele vai ser meu marido.


Ele a cutucou. –Olhe.


Ela seguiu seu olhar e encontrou Draco, que eles não tinham certeza se compareceria. O mundo bruxo sabia que sua lealdade tinha mudado, mas ele foi extremamente tímido sob as luzes da fama e se recusou a falar com qualquer um publicamente. Usava um modelo bastante preto, calças e uma camisa de gola alta, e seus cabelos estavam para trás e presos num rabo. Parecia agitado. Quinn sussurrava acalmando em seu ouvido, mas ele não parecia ser confortar. Harry e Hermione se aproximaram. –Draco – Harry disse, apertando sua mão. –Não tínhamos certeza se viria.


-Quase não vim – respondeu tenso.


-Tive que ameaçá-lo com maltratos físicos – Quinn acrescentou.


-Bem... Estamos felizes que tenha vindo – Harry disse, sem parecer muito feliz.


-Cuidado, Potter, você pode distender algum músculo. – Draco disse. –Não preciso de seu apoio.


-Não, mas ser civilizado não machuca, não é?


-Não sei – Draco disse, parecendo incerto. –Talvez machuque.


Quinn e Hermione, conversando, entraram na frente deles no Salão Principal. Gui Weasley estava colocando em frente a um pódio num palco perto da orquestra; durante a sobremesa, era costume apontar alguns ex-alunos por feitos notáveis. Quinn foi para a mesa dos professores, Draco seguindo-a.


Harry e Hermione foram pra mesa que já estava três quartos completa, só pelos Weasley: Molly e Artur, Carlinhos e sua família, Fred, Jorge, e Gina. Percy não pôde comparecer e Gui ficaria sentado mais na frente com acesso mais fácil para o palco. Laura e Sorry, aparentemente apontados como Grifinórios honorários por Molly Weasley, já estavam acomodados na mesa e pareciam se divertir muito. Muitos abraços e cumprimentos animados depois abriu-se espaço na mesa para os dois recém chegados. Harry acenou para Sirius e Cordelia, sentados mais pra frente com Lupin e outros bruxos e bruxas que ele não reconheceu.


A conversa passeava na mesa como uma bola de pinball, todos participando de três ou quatro conversas ao mesmo tempo enquanto tentavam passar a cestinha no meio da mesa. No meio de tudo, Harry notou que Hermione tinha sorrateiramente trocado o anel para sua mão direita e virado a pedra pro lado da palma da mão.


Logo os primeiros pratos apareceram e todos começaram a comer, mantendo a conversa, mas agora falando entre as garfadas de pato assado e batatas. Comentários sobre os acompanhantes das pessoas, perguntas sobre especulações de promoções e demissões, discussões impressionados sobre a aparição de Draco Malfoy nesta reunião, elogios ao filhos de várias pessoas, lamentos sobre amigos ausentes e especulações sobre reconhecimento.


Gina viera sozinha e não parecia nem um pouco triste com isso; ela, Molly e Hermione conversavam a três apesar de estarem distantes na mesa. Artur perguntava a Harry infinitamente sobre os acontecimentos recentes e falava o que lembrava sobre revoluções das trevas. Carlinhos estava ocupado com seus filhos, enquanto Laura e Sorry riam ruidosamente com os gêmeos que recontavam historias cômicas de suas aventuras na escola.


Harry mal trocou duas palavras com Hermione durante todo jantar, já que os dois estavam muito concentrados em suas conversas, mas ele estava completamente consciente da presença dela... Ainda mais porque ela ficava passando o pé na perna dele. Durante o jantar, perguntou se ele queria uma tortinha de frutas, já que ela não gostava muito. Quando ele virou pra responder e a olhou nos olhos, teve que sorrir ao ver o segredo dos dois no fundo dos olhos dela.


Finalmente quando as sobremesas eram consumidas e chocolate quente enchia as xícaras, Gui levantou e foi até o palco. Sua voz magicamente amplificada se espalhava pela festa. –Boa noite a todos! – ele disse animado. –Sou Gui Weasley, classe da Grifinória de 1988 e gostaria de dar boa vindas a todos aqui no Baile Anual de Ex-Alunos e Amigos – todos bateram palmas.


-Primeiro, gostaria de agradecer a Professora McGonagall por me escolher para conduzir este show, apesar dela possivelmente estar meio nervosa agora, se perguntando o que eu vou fazer. – todos viraram para McGonagall, que não parecia nem um pouco nervosa. Gui tinha um ar rebelde, mas gostava das tradições de Hogwarts e não ousaria desrespeitar uma delas. Além disso, Gui sabia que provavelmente não ia gostar de passar a vida como uma caixa de lenços.


-Vamos começar hoje com reconhecimentos a alguns ex-alunos – Gui continuou. –Primeiro, Mildred Sterncastle, que fez a todos nós um grande favor, inventando a Pena-que se corrige... Especialmente pra mim, que nunca consegui escrever direito. – Todos bateram palmas e Mildred levantou pra se curvar agradecendo. Gui continuou a ler a lista de sucessos realizados pelos egressos... Bruxos que escreveram livros, bruxas que curaram maldições. Apesar dela não ser uma ex-aluna de Hogwarts propriamente dita, mencionou o sucesso de Quinn em completar dois anos como professora de Defesa Contra Artes das Trevas, um recorde em Hogwarts. Também mencionou o heroísmo de Draco, o que arrancou uma onda de altos aplausos e fez o homem em questão corar com vários tons de vermelho.


-E agora – continuou –Uma coisa importante. Algumas palavras de nosso mais novo Ministro da Magia, um cara que eu gosto de chamar de pai. Artur Weasley.


Todos bateram palmas entusiasmados enquanto Artur levantava e ia até o palco, ao lado de seu filho mais velho. –Hum... Obrigado a todos, estou feliz de estar assumindo este posto. O Ministro Fudge me ajudou muito em minha carreira no Ministério... – Harry teve que engolir uma risada com isso... Fudge raramente ajudava alguém que não fosse ele mesmo. –E tenho uma responsabilidade muito grande pela frente. Obrigado. – ele deixou o palco sob mais aplausos animados.


-E agora – Gui continuou. –Algumas palavras do nosso mais ilustre ex-aluno... Vice-Chanceler Sirius Black. Sirius?


Sirius levantou e se juntou a Gui no palco enquanto a festa batia palmas. –Obrigado, Gui. Trago a todos os cumprimentos do Chanceler.


-O Chanceler não pôde comparecer hoje? – Gui disse, sorrindo. Uma risada geral se espalhou na multidão com isso... Porque ninguém realmente esperava que o Chanceler da Federação Internacional de Bruxos comparecesse. Ele nunca fora visto. A identidade dele (ou dela) era mantida em segredo. Apenas Sirius, supostamente, já o vira. Todas negociações eram feitas através do Vice-Chanceler, que representava o Chanceler em qualquer lugar onde sua presença fosse apropriada... pra falar a verdade, eles só tinham a palavras de Sirius e daqueles que o precederam no escritório do Vice que essa pessoa realmente existia. Harry se perguntava em que ponto foi feito essa estrutura, mas ela existira desde a fundação da Federação, há no mínimo vários milhares de anos, e, portanto era difícil de contestar.


-O chanceler está muito ocupado – Sirius disse com um sorriso sarcástico. Essa era a única resposta que dava quando perguntavam porque o Chanceler nunca comparecia esses eventos, ou a qualquer tipo de evento. Harry imaginou o quanto Chanceler podia realmente ser ocupado, uma vez que Sirius fazia todo trabalho. Sirius olhou para os outros ex-alunos. –Boa noite a todos. Como um membro orgulhoso da classe de 1976, é meu prazer comparecer a este baile com minha família. Foi um ano interessante no mundo bruxo. Geralmente o posicionamento do Chanceler é não dar crédito a rumores, mas não vejo razão para ignorá-los. – os convidados estavam em completo silêncio, concentrados nas palavras de Sirius. –todos sentimos a presença do mal nos rodeando novamente nos últimos anos. Tendemos a pensar que as forças das trevas só se revelam quando têm oportunidade... Mas na verdade, sempre estão conosco. Nós só sentimos sua presença na proporção de sua determinação em derrotar aqueles cujo trabalho é se opor a elas. Voldemort... E me recuso a ter medo de dizer seu nome... se foi. Isso é certo, têm minha palavra sobre este assunto. Mas aquilo que ele representa, o que ele defendia, nunca desaparecerá, e sempre haverá aqueles que seguirão esta causa. Esses bruxos que seguiam a escuridão recentemente, sofreram uma derrota esmagadora pelas mãos daqueles entre nós que lutam contra eles incansavelmente, alguns deles estão aqui. Nesse momento, peço a meu afilhado, Harry Potter, que se junte aqui e receba seu reconhecimento.


Harry piscou e sentou tenso na cadeira, surpreso. Não esperava nada nesta noite, mas Sirius claramente tinha outros planos. Olhou para Hermione e deu de ombros, depois levantou e passou pelas mesas até o palco, aplausos inundando-o, junto com alguns assovios e gritinhos.


Sirius falou com ele em voz baixa quando se aproximou. –Acho que algumas palavras podem ajudar um pouco a moral, não acha? – Harry concordou com a cabeça nisso. –Harry luta com o mal desde antes de conseguir segurar uma varinha. – Sirius disse. –Não preciso enumerar seus feitos para vocês. Harry?


Harry ficou no palco, seu coração batendo forte contra as costelas. Falar em público nunca foi exatamente seu forte. –Hã, olá. Não me preparei para isso, então, por favor, tenham paciência. Agradeço pelos elogios, mas nem de longe sou a única pessoa que se opõe ao Círculo e seus compatriotas que têm o mesmo pensamento. Existem muitos, muitos bruxos e bruxas e corajosos que lutam contra as trevas, com grandes ou pequenos atos. Alguns deles estão sentados nesse salão. Alguns deles ainda estão lá fora, lutando neste momento. Eles merecem sua gratidão. Vou aceitá-la em nome deles. Vale também um reconhecimento especial para Quinn Cashdollar, professora de Hogwarts –disse, permitindo que a platéia aplaudisse Quinn, que levantou e sentou tão rápido que pareceu um passo de dança estranho. –E é claro, Draco Malfoy, que chocou muitas pessoas com seu heroísmo, inclusive eu. –Draco ficou sentado tenso como se encarasse um esquadrão de fuzilamento, enquanto a platéia aplaudia, incapaz de ao menos levantar e agradecer. –Meu amigo Remo Lupin, que me ensinou muito durante os anos e continua a me impressionar com sua coragem. –mais aplausos. –E por último, mas com certeza não menos importante, a Drª Hermione Granger, que não é tão nova nesse negócio de combater o mal quanto vocês pensam. – Hermione levantou e inclinou a cabeça para agradecer a ovação. Cruzou o olhar com o de Harry e fez um pequeno movimento com a mão, passando o polegar sobre o anelar esquerdo... ele percebeu que ela recolocara o anel no lugar certo. Ninguém parecia ter notado exceto ele. Harry franziu a sobrancelha, a pergunta em seus olhos. Tem certeza? Ela fez que sim com a cabeça. Harry sorriu e limpou a garganta. –Agora... – ele continuou. –A maioria de vocês sabe que há algum tempo eu desempenho o papel de namorado de Hermione, com muita alegria, mas acho que deviam saber que este não é mais o caso. – Um sussurro chocado se espalhou pelos convidados. As pessoas olhavam incertas. Hermione mordeu o lábio para segurar a risada. –Acredito que devo abandonar esse título agora que ela concordou em se casar comigo.


O barulho que se seguiu a esta declaração fez o ouvido de Hermione doer. Ela apenas ficou lá sorrindo e poderia ficar assim um bom tempo, mas Harry, que depois de jogar essa bomba desceu do palco e deu largos passos pelas mesas até o lado dela, a puxou pela cintura, fez com que se curvasse para trás num movimento dramático e a beijou como Rudolph Valentino. Hermione se deu conta do absurdo que era estar beijando Harry no meio do Salão Principal de Hogwarts, em frente a centenas de amigos e colegas de escola, todos batendo palmas e dando gritos, mas não ligava. Ela correspondeu ao beijo, e se alguém ousasse mencionar que ela estava se fazendo de palhaça, dando um espetáculo, ela diria pra ir pentear macacos.


Os dez minutos seguintes passaram num borrão. Foram imediatamente cercados por amigos e familiares abraçando, parabenizando e querendo ver o anel. Quando Sirius chegou até Harry, tinha um sorriso estranhamente torto, apertou sua mão. –Parabéns, filho. –disse, um brilho de umidade em seus olhos. Ele virou abruptamente e saiu, deixando Harry e Cordélia olhando-o com expressões confusas.


-O que foi? – ele perguntou baixinho.


Cordélia olhava seu marido, a sobrancelha franzida. –Honestamente não sei.


Hermione mostrou a mão esquerda enquanto Laura, Justino, Molly e Gina olhavam para o anel e faziam os apropriados "aahs" e oohs". –Nossa senhora, que pedra – Laura disse. –Sua mão vai ficar torta de usar isso.


Hermione corou. –É bem extravagante, não é mesmo? Me sinto Grace Kelly... ou no mínimo Imelda Marcos.


-Esse anel não é lindo, Sorry? – Laura disse enfaticamente quando ele olhou por cima do ombros dela. –Que maravilha que nossos amigos estão noivos! – continuou, enfatizando bem cada palavra, seus motivos completamente transparentes. Hermione riu, sabendo que Laura estava apenas aproveitando para atormentá-lo.


Sorry arqueou a sobrancelha. –Minha nossa, querida, o que você pode estar querendo dizer? –disse..


Laura riu, soltou a mão de Hermione e a abraçou com força. –Estou tão feliz por você. – sussurrou em seu ouvido.


-Obrigada – Hermione murmurou. Ela olhou pra Harry por cima do ombro de Laura, de pé perto de Cordelia e que recebia apertos de mão e socos no ombro por cada amigo que se aproximava. Ela não viu Sirius.


Depois de um tempo, o tumulto se desfez e todos começaram a reunir seus pertences para que o salão pudesse ser rearranjado pras festividades após do jantar. Harry entregou a capa de Hermione, se inclinando para sussurrar em seu ouvido. –Vou sair por uns minutos, volto já – ela concordou com a cabeça e ele virou, atravessou o salão e subiu as escadas. Ela o olhou se afastar, franzindo a testa, depois deu de ombros e voltou para festa.




Harry encontrou Sirius no salão comunal da Grifinória, de pé ao lado da lareira acesa, olhando para a chama com as mãos nas costas. Sem dizer nada, Harry parou ao lado dele.


Esperou pacientemente. O que quer que estivesse perturbando Sirius, ele diria em algum momento.


Depois de um tempo, ele o fez. –Desculpe por sair tão de repente – Sirius finalmente falou.


-Ah, foi de repente? Eu nem notei.


-É só que... – parou.


-O que foi, Sirius? – Harry perguntou, o mais gentil que pôde.


-Quando a beijou daquele jeito... Bem, subitamente eu apenas... Senti uma horrível falta de Tiago e Lílian. Sinto falta deles constantemente, claro, mas nunca senti uma vontade tão grande de vê-los nesses anos, não até hoje. – Sirius levantou a cabeça e olhou pra Harry... Pela primeira vez, Harry podia ver os anos agindo no rosto de Sirius. Havia alguns pequenos pés de galinha nos cantos de seus olhos e fios cinza em seu cabelo. –Olho pra vocês e os vejo – disse com a voz um pouco rouca. –Você mal os conheceu, mas eram a única família que eu tinha. Sei que também sente falta deles, mas... Não me entenda mal, mas você sente falta de ter tido pais. Eu sinto falta de Tiago e Lílian. Sinto falta das risadas dele, do sorriso dela, do modo que tinham de se comunicar um com o outro sem dizer nada. Sinto falta de apenas ficar sentado conversando com eles, me sentindo completamente aceito. Eles se amavam muito e não tinham medo de mostrar. Muitas vezes Tiago apenas agarrava e a beijava, do jeito que você beijou Hermione hoje. Tiago teria amado isso. Se eu fechar os olhos, posso vê-lo aqui conosco hoje, rindo e batendo palmas e se gabando de como era o filho dele ali.


Harry sentiu seu peito apertando e de repente, o fato do homem a seu lado ter realmente conhecido seus pais tomou lugar de um jeito inegável. Ele sabia disso antes, claro, mas nunca tinha percebido o que isso significava.


Sirius virou e o encarou, colocando uma mão sobre seu ombro. –Ficariam tão orgulhosos de você, Harry –disse com uma voz engasgada, uma lágrima escorrendo pelo canto do olho. –Estariam orgulhosos do que você fez, e de como vive... Estariam orgulhosos do homem que é, sei disso porque eu me orgulho. –sorriu. –Estou tão orgulhoso de você.


Harry sorriu, mais comovido do que poderia expressar em palavras. Esticou as mãos e abraçou Sirius, um gesto que era tanto pra seus pais quanto pra Sirius, através de quem eles viveram na vida de Harry.


Os dois homens se afastaram e ficaram lado a lado, pensando.


-Sirius... Você sabe que é uma parte importante de minha família.


-E você é da minha.


-Então pode ficar a meu lado no altar? – perguntou baixo. Sirius virou pra olhá-lo com um sorriso se espalhando no rosto. –Vai ficar ao meu lado quando eu casar com Hermione? Quer ser meu padrinho de casamento?


Sirius suspirou. –Ah, Harry, estou tocando. Mas... Pensei que quisesse outra pessoa lá em cima. Alguém com cabelo vermelho, talvez?


-Você quer dizer, pra substituir Rony? – Sirius respondeu que sim. –Pensei nisso. Mas nesse dia, quando acontecer, bem... Vou estar casando com minha melhor amiga no mundo todo, a mulher que amo mais do que minha vida. Quero que as pessoas que mais importam em minha vida estejam lá comigo.


Sirius sorriu e concordou com a cabeça. –Nesse caso, estou honrado – Harry deu um tapinha no ombro dele, sorrindo. –Vai ter mais alguém comigo lá?


-Acho que sim. Remo, se ele aceitar. Jorge, talvez.


-Você sabe que está entrando no meio do inferno, não é?


Harry franziu a testa. –Como assim?


-Harry, como um homem que já passou por isso, deixe-me te avisar que o estágio de planejamento para o casamento provavelmente vai gerar mais discussões entre você e sua amada do que já tiveram durante todo seu relacionamento. Não dá pra dizer quantas noites dormi no sofá. Então não vá fazendo muitos planos - como por exemplo quantos padrinhos vai ter - sem consultar Hermione primeiro.


-Bem, eu a pedi em casamento há uma hora. Duvido que já tenha começado os planejamentos.


Sirius sorriu. –Ah, Harry. Sua ingenuidade é reconfortante. Ela provavelmente está planejando isso desde os oito anos. – riu ainda mais ao ver a expressão de Harry de "animal caçado na mira", depois parou. –Ouça, já que estamos tendo esta conversa significativa, tem uma coisa que quero te perguntar a um tempo. Acho que este é o momento certo.


-Certo.


Sirius trocou o peso de pé e hesitou antes de finalmente falar. –É difícil dizer isso, mas preciso. Meu trabalho é... Bem, pode não ser tão perigoso quanto o seu, mas só pra te dar uma idéia, recebi uma dúzia de ameaças só na semana passada. – Ele levantou as mãos ao ver a expressão alarmada de Harry. –Muito raramente a ameaça é real –disse, reassegurando. –Mas nunca se sabe. Cordelia e eu não somos bezerrinhos, começamos nossa família relativamente tarde. –respirou fundo. –O que eu quero dizer, Harry, é que... bem, Cordelia e eu gostaríamos de designar você e Hermione como guardiões legais de nossos filhos se algo acontecer conosco.


-Ah, Sirius, nada vai acontecer...


-Isso é o que todos pensam. Ninguém acha que algo pode acontecer a si. Mas só por precaução... se não pudermos, queremos que criem nossos filhos.


Harry quase não conseguia encontrar as palavras para responder. –Eu... Vamos fazer o melhor. Acho que posso falar por Hermione também.


Sirius parecia imensamente aliviado. –Obrigado. Queríamos pedir a algum tempo, mas nunca achamos a oportunidade. Agora que está se aquietando, faz ainda mais sentindo.


-De alguma forma, não acho que me casar com Hermione seja o mesmo de me "aquietar" – Harry disse com um sorriso.




Voltaram para o salão principal e encontraram a festa a toda. A orquestra tocava todos os ritmos e as pessoas dançavam, conversavam, tomavam ponche e comiam chocolate e tortas. Como sempre, os olhos de Harry procuraram Hermione. Ela dançava com Sorry e tinha um largo sorriso no rosto. Acenou pra ele assim que entrou no salão.


O som começou a diminuir e Harry cruzou a pista de dança até onde Hermione e Sorry dançavam. –Posso cortar? – perguntou, estendendo a mão. Sorry recuou se curvando um pouco. Hermione deu um caloroso beijo em sua bochecha quando ele saia da pista. A orquestra passou para uma valsa lenta e Harry gentilmente a puxou para seus braços, a cabeça dela repousando sobre seu ombro e as mãos unidas dos dois repousavam no peito dele, sobre seu coração.


Laura e Gina olhavam da mesa onde estavam sentadas com Justino e Jorge. Gina sorriu enquanto olhava os dois amigos dançando lentamente, exalando um ar de completa felicidade. –Eles parecem se amar tanto – disse suspirando.


-É – Laura disse. –Quase dá vontade de vomitar, não é? – todos riram.


-Eles são tão felizes quanto parecem? – Gina perguntou.


Laura revirou os olhos. –Passe uns dias em Bailicroft e vai descobrir.


Gina sorriu. –Barulhentos?


-Não é muito por isso – Jorge disse. –O quarto é bem isolado, o que ajudaria muito se ao menos eles ficassem apenas lá!


-Uma vez os peguei na biblioteca – Justino disse. –Ele estava pressionando ela contra a estante. Bem quente. Fiquei muito aliviado porque não me viram... Se bem que acho que não notariam se o Armagedom acontecesse bem ali.


-Eu os ouvi no observatório semana passada – Laura completou. –Eca.


-Peguei o hábito de entrar em qualquer cômodo cobrindo os olhos com as mãos, só por precaução – Jorge disse, rindo.


-Indo com tudo, não é? – Gina disse. –Acho que era de se esperar.


-Só queria que eles passassem da fase do "não conseguem tirar as mãos um do outro" e "fazer sexo no jardim". Estão começando a me deixar com inveja. –Jorge disse.


-Ele nunca foi assim comigo – Gina pensou. –Humm.


-Sem ofensas, Gina, mas acho que faz diferença quando se está com a pessoa que realmente ama. – Jorge disse, um pingo de sarcasmo em sua voz.


-Não me ofendeu. Não amava Harry nem ele me amava. E não ajudava o fato de eu ter ciúmes de Hermione metade do tempo.


-Você tinha ciúmes dela? – Laura perguntou, fascinada.


-Ah, com certeza. Estava bem claro pra mim, e pros homens com quem Hermione namorou, posso acrescentar, que eles vinham em primeiro lugar na vida um do outro. Ela tinha o melhor dele, e o que restasse, ele oferecia pra mim. – virou pra olhar o casal na pista de dança, movendo em fácil sincronia um com o outro e conversando suavemente. –Eles têm uma ligação que ninguém poderia se intrometer, mesmo naquela época, e são tanto uma parte um do outro que nunca poderiam ser separados.


Ninguém disse nada por um momento, considerando este fato inegável. A valsa lenta terminou e ficaram olhando quando Harry levantou a mão de Hermione e a beijou, seus lábios demorando nos nós dos dedos enquanto ele a olhava nos olhos.


-Ei, sem amassos na pista de dança – Gui disse, de cima do palco. Todos riram, Hermione ficou vermelha. Harry olhou pra Gui com uma sobrancelha erguida.


-Tem idéia melhor, espertinho?


-Sim. Acho que é a hora de agir ou se calar. Ouvimos contos extravagantes de suas habilidades na pista de dança, vamos ver! – um coro de vozes concordou e as pessoas começaram a abrir espaço na pista, deixando Harry e Hermione sozinhos.


Ele olhou pra ela. –Quer fazer isso?


-Se você quiser – respondeu, dando uma piscada.


Harry foi até a orquestra, falando com o maestro. –Vocês conhecem "Switchblade 327"? O maestro fez que sim e todos viraram suas partituras enquanto Harry voltava para o lado de Hermione, se abaixando para dobrar a bainha de sua calça.


Ela olhou pra ele em dúvida. –Tem certeza? Não fazemos essa desde as finais gerais britânicas!


-Ganhamos com ela, não foi?


-Sim, mas é tão difícil! Estamos sem prática.


O maestro levantou sua batuta e Harry a conduziu para a posição inicial. –Nós podemos. Apenas não pense, a gente vai lembrando.


Ela deu de ombro, aquiescendo. A música começou com um riff rápido de guitarra, e como se fosse uma deixa, eles começaram a dançar. Hermione sentia as rápidas batidas da percussão guiando seus passos, seus pés se moviam por si só. O queixo dela estava fechado com um pouco de força; esta era uma dança muito rápida e difícil, mas nesta noite parecia fácil. Estava perifericamente ciente das pessoas ao redor da pista de dança e batendo palmas com o ritmo, mas tudo o que realmente via era Harry enquanto rodavam ao redor um do outro. Ela virou na frente dele dando uma estrela sobre os braços esticados dele, esse momento de leveza fazendo ela sentir a mesma adrenalina de sempre. Enlaçou os dedos atrás do pescoço dele, que a jogou por cima de seu quadril, pela esquerda depois direita, depois a jogou pra cima no ar, enquanto ela jogava as pernas para cima, na direção do teto.


Ela radiava um largo sorriso enquanto voavam pelos passos como se tivessem feito isso ontem. Grandes "oohs" vinham da platéia enquanto executavam os movimentos habilidosos que tinham causado tantos machucados na época que foram aprendidos. Sem machucados essa noite... Harry a segurou depois de cada giro, suas mãos se encontravam sem erros, e seus pés estavam seguros sobre a escorregadia pista de dança.


Seus amigos e colegas batiam palmas, a banda tocava, e ela sentia como se pudesse voar numa nuvem de alegria e adrenalina. Seu anel novo de noivado brilhava em seu dedo, e qualquer preocupação e problemas que tivessem sobre qualquer coisa, estavam muito distantes de sua mente.




O contingente de Bailicroft ficou até tarde na festa. Harry e Hermione, depois que entraram no clima, dançaram sem parar. Tango, rumba, swing, foxtrot... dança após dança, se moviam entre seus colegas e amigos certo e confiantes.


Não voltaram pra mansão até as quatro da manha. Depois que a festa de Hogwarts foi declarada encerrada, um grande grupo de ex-alunos apenas a transferiram para o três vassouras e beberam cerveja amanteigada suficiente para suprir um pequeno país. Fazendo o máximo de barulho possível, ficaram até quase serem fisicamente expulsos e relutantemente encerraram a noite com muitos abraços e despedidas.


Assim que passaram pela porta da frente, os habitantes da casa tomaram seus rumos separados. Jorge e Justino foram para a cozinha dizendo alguma coisa sobre refrigerante, Cho e seu par foram para o quintal olhar as estrelas e provavelmente mais, Sorry e Laura foram até escadas dos fundos para o quarto dela e Harry e Hermione fizeram uma corrida pela escada principal.


Ela tomou a frente no saguão superior, mas ele a segurou pela cintura e a colocou para trás. Hermione deu um tapa na mão dele, rindo e sentindo como se tivesse doze anos, quando de repente Harry se abaixou e da forma que tinha ameaçado mais cedo, a jogou por cima do ombro. –Ei! – ela gritou. Essa posição era bastante debilitante. Não conseguia espaço suficiente para escapar... Além disso, era divertido, de um jeito meio "dama em perigo". Ele saiu em direção às escadas do Cloister. –Sou perfeitamente capaz de andar, você sabe!


-Ha! Não vai escapar desta vez mulher audaciosa! – ele disse numa voz profunda, de dramática


-Me solte, seu homem vil.


-Mim acha que a moça protesta demais.


-Ah, destino cruel! – Hermione gritou, teatralmente colocando a mão sobre a testa. –Como poderei voltar para minha silenciosa vila nas montanhas depois da vergonha de minha desgraça? – Harry chutou a porta do Cloister, rindo feito um maluco como os vilões dos filmes de Errol Flynn. –Pode tomar meu corpo, bandido, mas nunca terá meu coração!


Ele a jogou na cama e se inclinou sobre ela, sorrindo gentilmente, deixando todas brincadeiras de lado. –Que pena. Essa é a melhor parte.


Ela puxou a cabeça dele e o beijou, sentindo-se agressiva. Sem aviso, o empurrou pelos ombros com força e o colocou de deitado de costas. Antes que ele pudesse reagir, estava sentada sobre ele, montada em sua cintura e prendendo os braços dele na cama com um brilho malicioso nos olhos. -Mulher audaciosa, hein? – murmurou. Ele sorriu. –Acha que conhece audácia? Se prepare. - Caiu em cima com vigor, determinada a dar trabalho ao feitiço silenciador em volta do Cloister.




-Isso é bonito.


-Isso bebe sangue, se me lembro bem.


-Mas olhe pra folhagem. Bem colorida. – Laura franziu a testa para bromélia em um vaso. –Bebe sangue mesmo? Parece uma flor tão boa, bonita.


Hermione andou pelo labirinto de mesas da "Melhores Flores e Ervas de Broomthorn", um dos maiores herbários bruxos de Londres. Laura estava procurando por um fungo para o jardim e Hermione veio junto... Nunca era cedo demais pra começar a pensar em flores para o casamento. Por mais que odiasse a se apressar e começar a planejar cedo demais... Ele nem tinham marcado uma data ainda... Sua animação estava conseguindo vencê-la. Laura era sua parceira de crime nessa aventura, na verdade, ela a incentivava incansavelmente.


-Agora, qualquer buquê que a gente prepare, definitivamente deve incluir algumas flores que tragam sorte – Laura estava dizendo.


-Nunca vi nenhuma que não tivesse cheiro de alguma coisa estragada ou em decomposição. Além disso, é só superstição.


Alcançaram um mostruário com os fungos e Laura deixou de lado o assunto do casamento e pegou sua lista. Hermione a viu procurando pelos potes e pacotes de Madame Broomthorn cuidadosamente selecionados e organizados.


-Olá, Hermione – veio uma voz atrás dela. Ela virou, assustada, a mão subindo pra garganta.


-Rufus! – suspirou. –Minha nossa, você me assustou!


-Desculpe - respondeu sorrindo. –Achei que fosse você.


Ela retribuiu o sorriso. –E era. Bem, olá! Já faz um tempo, não é mesmo?


-Sim, faz. Você está bonita.


-Você também – e era verdade. Tinha deixado crescer um bigode, que combinava com ele. –O que te traz aqui?


Ele olhou confuso pra ela por um momento. –Bem, por ser herbologista, venho aqui várias vezes por semana.


Hermione corou. –Ah, é claro. Que tola eu fui – uma pausa constrangida. –Como tem passado?


-Não posso reclamar. O trabalho está bem – olhou pra trás dela de onde Laura os observava com interesse.


-Ah, me perdoe – Hermione disse, lembrando sua educação. –Essa é Laura Chant, divide a casa comigo. Laura, este é Rufus Frost. Nós já namoramos. – apertaram as mãos. Rufus parecia que ia falar alguma coisa, mas depois parou, seus olhos fixos no ombro dela. Hermione olhou pra baixo... Ele estava olhando pra sua mão esquerda, onde ela segurava a alça da bolsa. Ela se encolheu um pouco.


-Você casou – ele disse baixo.


-Não – ela respondeu. –Noiva.


-Ah – ele forçou um sorriso e tentou parecer feliz. –Parabéns. Alguém que eu conheça?


Hermione fez uma careta. –Sim... – ela o olhou nos olhos e viu apenas a pergunta ali. Ela deu um suspiro profundo. – Rufus, estou noiva de Harry. – apertou os lábios e acenou a cabeça. –Acho que você, de todas as pessoas pode dizer "eu te disse".


Ele riu amargo. –Sabe, quando te vi aqui, quase não vim falar com você. Mas te ver... bem... Tinha que vir aqui. Pensei que ia puxar conversa, talvez conseguir um convite para jantar. – Hermione desviou os olhos, constrangida. –Eu devia saber.


-É bem recente – ela disse baixo. –Só estamos...


-Você sempre foi tão firme. – ele a interrompeu. –Apenas amigos, só isso. Tão certa, tão insistente. Ele também.


-Estávamos errados.


Ele a olhou nos olhos. –Você o ama então?


-Sim, muito. Acho que você sabe que sempre amei.


-Então fico feliz – ele sorriu, e era genuíno. –Eu te disse – falou baixo. Inclinou-se para frente e deu um beijo em sua bochecha, rápido e inocente, depois virou e foi embora.


Laura parou ao lado dela. –Nossa, essa foi inesperada.


-Pobre Rufus – Hermione disse, ainda o olhando ir embora. –Ele sempre acreditou que eu amava Harry.


-Devia ser contra a lei seu ex-namorado estar certo sobre alguma coisa.


Hermione riu. –Sim, devia mesmo. Mas nesse caso, vou deixar pra lá.




Harry estava sentado numa grande mesa oval em uma das muitas salas de reunião da DI, contando pessoas. Eram esperadas doze, todos seis chefes de divisões e seus vices. A cada vez que contava, faltava um e se dando um tapa na testa mentalmente, percebeu que tinha esquecido de contar a si mesmo. Concentre-se Potter, falou consigo. Estava em um dia daqueles.


Desenrolou um pergaminho e os outros viraram pra ele na expectativa. Olhou pra seus rostos, esperando que dissesse o porquê desta reunião. Ele limpou a garganta. –Bem. Obrigado a todos por comparecerem a esta reunião que não tem propósito. – disse. –Argo quer nos incentivar a ter uma reunião semanal, apesar de eu não ter idéia do porque ela de repente achou que a reunião normal dos funcionários não ser mais suficiente.


-Ela está vasculhando nossas salas – disse Henry Ubingado. Todos riram.


-Que pena – Harry disse. –Deixei meu botton com "Beijos para Voldemort" bem à vista de qualquer um.


-Já que estamos todos aqui – Henry continuou. –Posso aproveitar para discutir um pequeno problema de pessoal. - Como chefe da divisão de Estratégia, Henry era responsável pelos novos recrutas, determinando onde trabalhariam e seriam treinados depois que Argo fazia o primeiro contato. –Isso deve te interessar. – falou, colocando a mão no bolso e puxando uma carta. Uma carta do Baralho, Harry notou. Henry a colocou sobre a mesa e a deslizou até a frente de Harry, que a pegou.


Ele leu o nome na parte de trás, sem nenhuma expressão. –Isso é brincadeira? – perguntou arqueando uma sobrancelha.


-Não que eu saiba.


Harry balançou a cabeça depois colocou a carta novamente na mesa, onde todos podiam ver o nome escrito: HERMIONE GRANGER.


-Você se opõe, Harry? – Remo perguntou.


-Não, de forma alguma! Ela seria uma ótima adição... Só estou impressionado com a hora. Está querendo deixar o emprego e eu tinha feito algumas perguntas sobre ela vir pra cá.


-Apenas algumas perguntas? – Grace disse sorrindo.


-Francamente, queria evitar comentários que eu estava mexendo os pauzinhos por minha companheira – Harry disse.


-Companheira? – Lefty disse, suas sobrancelhas grossas se juntando em sinal de divertimento.


-Foi o termo que concordamos – Harry disse piscando. –Noivos parece tão.. antiquado. Mas acho que essa preocupação é desnecessária agora. Se o Baralho a escolheu, ela está dentro, independente do que eu possa fazer.


-Onde acha que devo colocá-la? – Henry disse. –Assumindo que ela vai aceitar um cargo.


-Qualquer lugar menos a CIOS – Harry respondeu rápido.


-Claro que não. Isso é proibido mesmo, não a colocaria em sua divisão.


-Gostaria de ficar com ela – disse a Bibliotecária, uma pequena e etérea presença em sua cadeira erguida. –Ela tem uma mente aguçada para pesquisa.


-Sim, mas ela pode não querer ficar o tempo todo na biblioteca – Harry disse. –É disso que ela está tentando se afastar.


A porta da sala de conferência se abriu, interrompendo-os. Argo entrou com largas passadas, parecendo estranhamente feliz. –Bom dia, tropa – ela disse.


-O que te trás aqui, chefa? – Harry disse. Ele só a chamava assim quando estava irritado com ela.


-Uma boa maré, eu acho – ela deu a volta na mesa e parou ao lado da cadeira de Lupin. –Remo Lupin, estou feliz em te informar que recebeu uma promoção para patente de Capitão das Forças Executoras da Federação, e se aceitar, para Bruxo Chefe da Infiltração e Reconhecimento.


Remo olhou pra ela com o queixo caído.Olhou para Grace, a chefe atual da I&R. –Mas... O que...


-Estou me aposentando – Grace disse com um sorriso. –Me ofereceram um emprego como consultora, e pra ser franca, o salário é melhor. Estou deixando o posto vago. Acho que você é a escolha ideal, Remo.


Remo sorriu, a surpresa dissipando. –Bem, agradeço a confiança. – ele apertou a mão de Grace.


-Você aceita então? – Argo disse.


Lupin levantou. –Aceito. – Apertaram as mãos para selar o acordo, depois ele virou pra apertar a mão de Harry.


-Parabéns, Remo. Você merece. Mas isso me deixa sem um vice.


-Isso vai ser resolvido, Major. – Argo disse misteriosamente, o fato dela ter usado a patente dele destoava um pouco da atmosfera geralmente informal da DI. –Mas agora realmente preciso roubar Remo para alguns procedimentos de segurança. –Lupin foi para porta, apertando mãos enquanto passava e Argo o seguiu para fora.


Os agentes restantes se sentaram novamente, os olhos atraídos pela cadeira vazia. –Bem- Harry disse depois de um tempo. –Isso meio que termina essa reunião sem propósito, não é? Dispensados.




Naquela noite Harry voltou pra casa mais ou menos às seis horas e foi até onde ficava o correio coruja, mas não havia nenhum. Ele encontrou Hermione na sala de estudo, fazendo algumas notas de um livro que estava aberto à sua frente; ele se jogou numa cadeira bem estufada embaixo da janela. –Quantas corujas hoje? – perguntou.


-Só três. Parece que está se acalmando. – nos dias depois do baile, eles foram inundados com bilhetes de parabéns de todos seus colegas de sala e amigos. Já fazia mais de uma semana e a inundação estava acabando.


Ele a olhou por um momento, pensando consigo mesmo. O cabelo dela estava preso num rabo, algumas mechas tinham escapado e faziam cócegas em suas bochechas. Seus estreitos óculos retangulares estavam na ponta de seu nariz e seus dentes mordiam de leve seu lábio inferior, do jeito que ela fazia quando se concentrava. –Tenho uma coisa pra você. – ele disse.


-O que é? – ela manteve os olhos no livro.


Ele colocou a mão no bolso e jogou a carta do Baralho na mesa dela, que olhou sem reação por um momento, depois virou pra ele. –Certamente isso não é sério.


-É sério sim.


-Você não seria tão horrível pra fabricar isso.


-Com certeza que não – ele sorriu. –Bem vinda ao clube.


Hermione sorriu, pulou pra se inclinar sobre a cadeira dele e jogou os braços ao redor de seu pescoço. –Você não mexeu nenhum pauzinho, não foi? – ela disse, recuando.


-Meu amor, você foi escolhida por um baralho de cartas de Tarot encantado. Eu não saberia que pauzinho mexer.


-Quando posso começar?


-Venha comigo amanhã e vamos começar os procedimentos.


Ela se apoiou nos calcanhares, o rosto corado de animação. –Ah, não posso acreditar nisso! – o sorriso dela hesitou um pouco. –O treinamento é terrivelmente horrível?


-Não é nenhum passeio no parque. Temo que vá ter que aprender algumas coisas que não são ensinadas nos livros – ele sorriu ao ver a expressão ansiosa dela. –Você também vai ter que aprender a fazer coisas que você sempre evitou.


-Como bater nas pessoas?


-Isso entre outras coisas.


Ela aquiesceu, pensando nisso. –Vou poder trabalhar com você?


Ele franziu a testa. –Ah não, não diretamente. Seria contra as regras ter você sob meu comando direto. E mesmo que não fosse, não ia querer você em minha divisão.


Ela pareceu desapontada com isso. –Não ia querer?


-Ah, não é porque não acho que você seria excelente lá – se apressou para completar. –É só que... Bem, eu tenho que poder dar ordens aos agentes de minha divisão. Ordens que eu sei que podem colocá-los em perigo. Não posso hesitar. Tenho que estar preparado para mandar alguém pra própria morte se necessário. Se fosse você, talvez não pudesse fazer isso. Não poderia fazer meu trabalho direito se tivesse que te dar ordens.


-Entendo – ela disse. –Posso ao menos almoçar com você?


Ele sorriu. –É claro. E ainda vamos poder colaborar numa mesma missão, mas não vou ser seu superior direto. – ele se inclinou para frente e a beijou. –Estou aliviado que o Baralho te escolheu. Estava afoito, querendo colocar você lá dentro sem parecer que estava favorecendo minha namorada – ele disse sorrindo. –Desculpe, companheira.


-Isso aí – ela levantou e se apoiou na ponta da mesa. –Vou ser uma espiã – falou, testando a frase com um tom pensativo.


-ahn... Agente da inteligência – ele corrigiu.




-Agora, drª Granger, vou te fazer uma série de perguntas. Responda o mais verdadeiramente e o mais rápido possível. Algumas podem parecer estranhas, mas são necessárias. – disse o bruxo sentado do outro lado da mesa. Ele era sério e parecia cansado, mas seus olhos eram aguçados. Ela estava com a impressão que isso era algum procedimento de segurança, apesar de ninguém ter explicado o propósito.


-Certo.


-Seu nome completo?


-Hermione Jane Granger.


-Que ano se formou?


-1998 em Hogwarts, 2002 em Stonehenge.


-Possui um carro?


-Sim.


-Gosta de filmes estrangeiros.


-Só os com legendas.


-Tem irmãos?


-Não.


-Qual o nome de seu irmão?


-Não tenho um.


-Quantos anos tinha quando iniciou sua vida sexual?


-Dezesseis.


-Qual a primeira memória de sua infância?


-Ter ido pra um parque e passado mal de tanta jujuba.


-Tem um parceiro significante?


-Sim.


-Prefere molho holandês ou bernaise?


-Nenhum dos dois.


-Tem medo de voar?


-Em aviões, não. Em vassouras um pouco.


-Conhece um homem chamado Remo Lupin?


-Sim.


-Qual o nome das montanhas que separam a Ásia da Europa?


-Montes Urais.


-Quantos estados há nos EUA?


-Cinqüenta.


-Escolas mágicas no Reino Unido?


-Uma.


Isso continuou por quase uma hora. Hermione tentava manter a mente vazia e responder rápido a cada pergunta. Quando o inquiridor finalmente parou, ela relaxou e suspirou aliviada. Ele pressionou um pequeno botão sobre a mesa e a porta abriu. Lupin e Henry Ubingado entraram. –Então? – Henry perguntou.


-Concordo com você, acho que ela se encaixa na VCI. Suas respostas indicam processos cognitivos rápidos, compreensão, sinceridade e lógica.


-Bom – Henry disse, sinalizando para Hermione. Ela levantou e o seguiu pra fora do pequeno cômodo sem janelas.


-O que é VCI? – ela perguntou.


-Vigilância e Captação de Informações. – Lupin explicou. –Eles lidam mais diretamente com informação da inteligência, coletando e analisando. Achamos que o melhor lugar pra você é lá. Tem muito trabalho de campo envolvido. Observações, tocaias, etc. Vai estar com os agentes que são realmente "espiões" num uso mais tradicional do termo já que são eles que fazem a espionagem de verdade.


Hermione concordou, satisfeita. –Onde está Harry?


-Ele saiu, disse que ia encontrar alguém no campo de golfe.


-Ah sim, eu esqueci. Alguma novidade sobre o vice dele?


-Ainda não. Estamos todos um pouco ansiosos com isso, não preciso esconder de você.




Harry se apoiou sobre seu taco e observou Doug Granger dando a tacada, a bola desviando como sempre fazia. –Estou te dizendo, tem que abrir a postura um pouco. – ele disse.


Doug balançou a cabeça, resmungando, e se afastou da linha inicial. Colocaram as sacolas no ombros e saíram andando pelo campo. Claire Granger e sua irmã Júlia estavam à frente deles, já a caminho para segunda tacada. -Malditos tacos – ele disse.


-Ah sim. É sempre culpa do taco. – Harry disse sarcástico.


-Cuidado, espertinho. – Doug disse sorrindo. –E não deixe que eu te pegue enfeitiçando a bola pro buraco novamente. – Estavam no último buraco do jogo e Harry ainda não tinha reunido a coragem pra contar a Doug porque o chamara ali. Hermione concordara que ele desse a notícia pra seu pai, que era o único que ainda não sabia. Ela não resistiu e contou a mãe, que jurou manter em segredo até que Harry conversasse com Doug. Era meio antiquado, mas parecia certo.


Harry diminuiu o passo pra aumentar a distância entre eles e as mulheres. –Doug... tem uma coisa que preciso discutir com você.


-É? – Doug perguntou, distraído, tentando achar a bola do lado esquerdo da grama mais alta.


Harry parou, forçando Doug a fazer o mesmo e olhar pra ele. –Bem, aqui está. O fato é que... Bem, eu gostaria de casar com Hermione.


Doug apenas ficou olhando pra ele por um momento e depois limpou a garganta. –Entendo. Não devia estar falando com ela sobre isso?


-Harry sorriu. –Já pedi a ela.


-E qual foi a resposta?


-Ela disse sim.


Doug riu, balançando a cabeça. –Nesse caso, não devia ter perguntado a mim antes?


Harry jogou as mãos pra cima, exasperado. –Queria que fosse eu que te contasse, certo?


Doug riu. –Só estou brincando com você. – ele ficou sério. –Me ouça agora, Harry. Hermione é minha única filha e um pai sempre protege sua garota. Passei noites acordado me perguntando sobre os homens que ela namorava, como eles a tratavam, se eles a faziam feliz. –colocou uma mão sobre o ombro de Harry. –Nunca perdi um segundo de meu sono me perguntando essas coisas sobre você, Harry. Quando Hermione disse a Claire que ia morar em Londres, dividindo a casa com um homem, e ela mal tinha 18 anos, bem... A única razão de termos permitido é porque era você. – ele olhou pro rosto de Harry. –Mas tenho que perguntar uma coisa, porque penso nisso há meses. Você realmente a ama? Ou é apenas a inércia e está se conformando com uma amiga?


-É uma pergunta justa. –Harry disse. Olhou para o campo, apertando os olhos por causa do sol, e quando falou, a voz era baixa. –Quando acordo no meio da noite, antes de conseguir dormir de novo, sempre fico sentado e apenas a olho dormindo por alguns minutos. Observo sua respiração, e a expressão pacífica em seu rosto, e sinto algo apertando meu peito. Às vezes machuca de verdade. – virou pra olhar seu futuro sogro. –Isso é o quanto eu a amo, Doug. Não tinha certeza disso quando eu e ela ficamos juntos pela primeira vez, sei que ela não tinha também. Não sabia o que ia acontecer conosco ou o que significava, ou até mesmo se era real. Mas depois que os dias passaram e viraram semanas, bem... Nunca tive tanta certeza de nada em minha vida.


Doug fungou, parecendo que ia chorar. –Isso é o suficiente pra mim. – Sorriu depois esticou os braços e deu um caloroso abraço em Harry. –Fico feliz que ela tenha te escolhido.


Harry sorriu. –Acho que nenhum de nós dois teve escolha.




Alguns dias depois, Harry estava em sua sala, entediado, trabalhando numa pilha enorme de pergaminhos sobre a expedição arqueológica que estava sobre sua mesa. Ele jogava os papeis sobre o ombro, separando em outras pilhas: "Guardar", "jogar fora" e "outro".


Uma batida na porta. –Entre!


A porta se abriu e Lupin entrou. –Surpresa, Harry. Tenho um presente pra você.


-Uma secretária? – Harry disse sem muita esperança. –Ou talvez um picador de papel.


-Ehh. Perto. É seu novo vice.


Harry se animou, feliz com a chance de ter alguma ajuda. –Ótimo! Mande ele... Ou ela.. Entrar.


Lupin deu um passo pro lado, chamando alguém que estava no corredor. Quando Harry viu seu novo assistente entrar, seu queixo ficou tenso e seus olhos ficaram frios.


O novo assistente era jovem, tinha mais ou menos a idade de Harry. Ele parecia um ser único, pra não dizer pior, parecendo um fugitivo de um show dos Sex Pistols. Calças de couro rasgadas, uma blusa de corrente, uma jaqueta preta batida, e botas de motoqueiro que tremiam o chão onde ele pisava. Seu rosto era angulado e parecia uma doninha, com estranhos olhos prateados e sobrancelhas claras. Seu cabelo, que pareciam ter sido cortados com tesouras de jardineiro, estavam de pé em mechas selvagens, pintadas com todas as cores do arco-íris. Sua orelha direita era furado por todo lobo, um grande brinco preso no nariz, preso por uma corrente que ia até a outra orelha. Ele também usava brincos na sobrancelha, lábio, e na ponta do nariz. Ele sorriu, mostrando os dentes perfeitamente brancos, levantando a mão em cumprimento. –Alô, Harry! – disse, a voz com um sotaque tão forte que quase parecia um dialeto. –Qual é aí, hein?


Harry abaixou a cabeça e olhou feio pra esta estranha figura. –Ah. Meu. Deus. – ele disse.




Argo estava olhando desatenta para sua agenda da semana quando a porta da frente de seu escritório foi aberta com força, sem cerimônias, revelando um Harry Potter que parecia muito zangando. Ele deu largas passadas até a mesa e começou a andar de um lado para o outro, furioso demais para formar palavras no momento.


-Posso inferir a partir de seu comportamento que já conheceu seu novo vice – disse em tom normal.


-Ele não é meu novo vice – Harry conseguiu dizer. –Não daria àquele homem nem um minuto, mesmo que ele me implorasse.


-Tsc tsc Harry. Esse veneno não combina nada com o grande Harry Potter, mestre do universo.


Ignorando o sarcasmo, Harry colocou as mãos na mesa dela e se inclinou para olhá-la nos olhos. –Ouça o que digo. Eu não posso trabalhar com Napoleon Jones.


-Bem, você vai trabalhar.


-Não posso.


Argo o olhou também. –Acabei de dizer que você vai. É melhor começar a internalizar o fato se pretende continuar em seu emprego atual.


-O que ele está fazendo aqui mesmo?


-O Baralho o escolheu, é claro.


Harry riu pelo nariz e começou a andar de um lado para outro novamente. –Acho difícil de acreditar.


-Não vejo porque.


-Eu te digo porquê! – exclamou, gesticulando selvagemente. –Acha que sabe alguma coisa sobre ele? Deixe que eu faço as honras! Um tempo atrás ele era um mercenário, um bruxo de combate contratado que não tinha lealdade ou honra pra manter, e que venderia a própria avó por um galeão fácil. Então, pra minha eterna desgraça, ele acabou como um Regulador registrado, ainda não descobri como. Ele arruinou não uma, nem duas, mas três de minhas operações. Semanas de planejamento e trabalho escorrendo pelo ralo só porque ele decidiu se intrometer, com a varinha em punho, bem quando estávamos apertando o cerco! Achando que era papel dele chutar uns traseiros só porque deu vontade. – parou de andar nesse momento e apontou para Argo. –Não me importo se o Baralho o escolheu, não confio nele nem um centímetro a mais da distância que eu posso cuspir. Aceitar ele aqui é um terrível erro, Argo. Ele vai nos trair num piscar de olhos se uma cenoura grande o suficiente for colocada na frente dele.


Argo não pareceu surpresa por essas revelações. –Ele me garantiu que a lealdade dele é certa. O Baralho não o escolheria se não fosse adequado.


Harry jogou as mãos pra cima. –Certo. Mas não vou trabalhar com ele.


Argo levantou devagar, seus olhos brilhando. –Você vai fazer o que te mandam, Potter, ou te colocarei numa corte marcial por insubordinação. Não pense nem por um segundo que seu nome ilustre me obriga a te dar qualquer moleza. Ele é seu novo vice. Viva com isso.


Eles ficaram nessas posições por um momento, até que Harry finalmente abaixou os olhos, sabendo que não conseguiria ganhar essas a não ser que estivesse disposto a desistir de seu posto. Virou pra sair. –É melhor que esteja certa sobre isso – ele disse. Quando chegou na porta, virou novamente para ela. –E não ache que não sei que essa é sua vingança por meus atos durante A Coisa com Allegra.


Argo deu um sorriso doce. –Porque, Harry. Estou ofendida que você acredita que sou capaz usar motivos tão baixos. –acenou pra ele. –Tchauzinho.


Ele balançou a cabeça, resmungando consigo mesmo, e saiu sem dar tchau, batendo a porta com força.




Harry entrou apressado em casa, jogando o casaco no chão enquanto tirava rudemente os braços das vestes. Hermione passou caminhando placidamente até a cozinha, os olhos no livro. –Cuidado, querido, está assim vai assustar as corujas.


Harry esticou o braço e a puxou pela mão quando passou, abraçando-a com força. Ela colocou os braços em volta dele, franzindo a testa. –O que foi?


Ele suspirou fundo. –Ah, nada muito importante – disse, relaxando. Recuou e olhou pra ela. –Apenas um daqueles dias. Melhor agora.


-Bem, venha então. Chegou bem na hora do jantar. – Deixou que ela o guiasse pelo corredor dos fundos até a grande cozinha. Todos já estavam ao redor da mesa, passando os pratos um para o outro. O amigo de Cho, Joe, estava visitando novamente e Gina veio para o jantar, então, junto com Sorry eles eram nove e deixavam a mesa estranhamente cheia. Harry sentou e aceitou um copo de sidra, já se sentindo melhor. As conversas se acumulavam e ele não dizia nada, apenas contente em ficar sentado quieto e se recompunha enquanto deixava os pensamento sobre Napoleon Jones, Argo, Allegra e outras milhares de coisas ruins se retirarem para um canto distante de sua mente.


-Nunca vai acreditar o que...


-Eu vi a coisa mais interessante...


-Não, não conseguiria estar lá para...


-Ela está sendo absolutamente irritante e eu não...


Ele se escorou na cadeira e deixou a atmosfera o envolver, suspirando e se sentindo feliz por ter um lar como esse. Estou muito longe daquele armário sob as escadas, pensou, olhando em volta da mesa. A criança sem família e sem alguém que se importasse, e agora aqui estou. Amigos que me recebem bem, uma família que transcende a mera relação de sangue. E, a maravilha das maravilhas, ela disse sim de verdade.


Nesse momento, Hermione olhou pra ele; ela deve ter visto algo no rosto dele porque sua expressão se suavizou e se inclinou para sussurrar em seu ouvido. –Eu te amo.


Harry sorriu, seu coração suspirando enquanto ela voltava a conversar com Justino. Olhe só isso, pensou. Ela me ama. E sabe... Acho que acredito nela.




Hermione estava de pé em frente ao espelho do banheiro, olhando seu reflexo. Ela e Laura foram fazer compras na hora do almoço na semana anterior e não tinha certeza como, mas Laura a convencera a comprar, pela primeira vez na vida, uma peça que podia ser classificada como um lingerie sexy. Levou dias para reunir coragem pra vestir a maldita peça... Não era tão ruim, de verdade. Era uma camisola simples vermelha escura de seda com alças finas; ia até a metade das coxas. Laura de fato tinha bom gosto... As roupas de dormir de Hermione eram apenas camisas de algodão e de moletom para o inverno. Harry nunca dera nenhuma indicação que achava que faltava algo em seu guarda-roupa, mas Laura garantiu que qualquer homem adorava um lingerie sexy e que Harry não seria diferente.


-Me sinto boba – Hermione insistiu, mas Laura estava irredutível. Agora, usando a peça, ela realmente se sentia boba, mas tão boba quanto pensara. A cor combinava com ela, e o formato acentuava sua silhueta. Será que tenho coragem sair com essa coisa?


Ela ouviu um "ahum" do outro lado da porta. –Hã, seria muito rude se eu perguntasse o que está fazendo aí? – Harry falou.


Ela respirou fundo. –Vou sair em um minuto. – ouviu os passos deles no chão de madeira do quarto enquanto ele recuava. Respirou entre os dentes e puxou o cabelo, se perguntando qual seria o procedimento. Eu faço a maquiagem? Parece idiota quando estou indo deitar. Eu apenas abro a porta e faço uma pose? Vou parecer alguém rejeitado para os Contos da Cripta. Isso é pra ele babar, não começar a rir.


Ela ficou lá discutindo consigo mesma durante muito tempo, mas Harry não interrompeu mais. Finalmente, respirou, apagou as velas do banheiro, abriu a porta e saiu para o quarto, dando um sorriso hesitante.


Esperou por uma reação. Não recebeu nenhuma.


Aproximou-se e viu que Harry não estava olhando pra ela. Estava de pé, no meio do quarto, olhando para um pedaço de papel em sua mão. Era um correio coruja, percebeu. Deve ter acabado de chegar. Chegou mais perto. –Harry? – finalmente falou.


Ele olhou pra ela, mas não pareceu realmente vê-la. Seu rosto estava pálido, seu queixo contraído. –É melhor sentar – disse.


O coração dela gelou no peito e fez o que ele pediu, sentando dormente na borda da cama, todas preocupações sobre o lingerie esquecidas.


Ele suspirou. –Precisa ouvir isso. – E começou a ler a carta que tinha nas mãos:


"Prezado Harry,


Por favor, permita que eu dê os parabéns por seu recente noivado. As alegrias do casamento são o paraíso na terra, apesar de eu não estar falando por experiência pessoal. Sua noiva é uma mulher e tanto, como comprovamos recentemente. Tenho certeza que serão muito felizes. Allegra mandaria seus parabéns novamente, mas no momento está um pouco indisposta." Com a menção do nome de Allegra, Hermione ficou tensa, suas mãos se enlaçando com força em seu colo. Ele continuou. "O que quer que a Drª Granger tenha feito, foi muito eficiente em incapacitar a srtª Blackburn-Dwye, o que tenho certeza que não é um feito pequeno. Pode te interessar saber que no momento ela se encontra presa num tipo de limbo temporal, existindo no mundo, mas fora de sintonia com ele e incapaz de desfazer isso de alguma forma. Vai dar trabalho trazê-la de volta, mas vamos cuidar disso. Fico com calafrios de pensar como vai estar seu humor quando retornar.


Você continua a me impressionar, Harry. Sei que duvida de minha existência. Se não duvidasse, eu estaria muito descontente comigo mesmo. Realmente, depois de alguns dias você conseguirá racionalizar esta carta. Algum dia nós nos encontraremos e todas suas perguntas serão respondidas.


Não procure por mim logo. Não espere Allegra por enquanto. Temos coisas a fazer. Mas com todas incertezas com que vive, esta é uma certeza... Nossos caminhos irão se reencontrar. Por favor, aceite meus melhores desejos por sua felicidade.


Sinceramente,
O Mestre."


Ele olhou vazio pra ela, a carta pendurada em sua mão. Ela olhou pro rosto dele com os olhos arregalados. –Pelo fantasma de Merlin – ela sussurrou.


-Eu sei.


-Isso é o que eu acho que é?


-Uma ameaça? Com certeza.


-Quando isso chegou?


-Alguns momentos atrás.


-Quem poderia ser?


Harry balançou a cabeça. –Não tenho nem idéia. – Sua visão clareou e ele pareceu vê-la pela primeira vez, seus olhos passando pela camisola. –Ah, querida... Eu lamento, foi uma hora terrível, não foi?


Ela olhou para si, se sentindo tão boba quanto achou que se sentiria. –Ah não, não é nada.


Ele se sentou ao lado dela e beijou seus dedos. –Você é linda, não importa o que use.


Ela se inclinou contra ele, deixando a cabeça repousar em seu ombro. Ficaram sentados em silencio por algum tempo. –Nunca termina, não é?


-Não.


-O que acontece agora?


-Agora, continuamos com nossas vidas. Você vai começar com seu treinamento, e eu vou tentar mudar meu novo vice. Vamos marcar uma data e começar a procurar roupas e músicas e damas de honra e não vai demorar muito até que tudo termine.


-Termine não, apenas comece.


Ele sorriu contra a cabeça dela. –Srª Potter.


Ela limpou a garganta. –Aham. Drª Granger.


-Claro. Eu posso ser o Sr. Granger então?


-Ah, gostei muito disso. Realmente combina com você. – eles riram juntos, esse som banindo qualquer sombra que tivesse no quarto com eles.


Ele suspirou. –Lembra quando te disse que era meu espaço sagrado?


Ela sorriu. –Claro que sim. Ainda sou?


Olhou pra ela, impressionado. –Você não sabe, não é?


Ela o olhou nos olhos. –Sei o quê?


-O quanto é preciosa pra mim.


Ela colocou um dedo sob o queixo dele. –Me mostre.




Na calada da noite, em um bosque sombrio num monte remoto no continente distante num vasto oceano, na superfície de um planeta solitário, cinco bruxos formavam um círculo, de mãos dadas, as vozes altas evocando os deuses da magia, quem quer que fossem.


Uma luz vibrante no centro do círculo se espalhou e aumentou com suas palavras, feixes de luz escapando para testar o ar. Crescia e pulsava.


Um dos bruxos de repente se separou e pulou na luz; desapareceu e os outros diminuíram o círculo. A entoação ficava cada vez mais alta, mais rápida. A luz vibrante ficou mais forte. –Está aumentando! – gritou uma voz do círculo de mãos. –Mais!


Outro bruxo se jogou na luz que ficou ainda mais larga. –Varinhas! – veio uma nova voz. Os três bruxos restantes puxaram as varinhas e apontaram-nas para o centro. Eles gritaram as palavras, palavras sem sentido, as vozes unidas como uma. Um grande barulho encheu o bosque e a luz vibrante piscou brilhando e se extinguiu de vez. No lugar onde estava, uma figura solitária surgiu sobre o chão úmido.


Um dos bruxos se apressou e se curvou para a figura. –Está bem? – perguntou com urgência.


Allegra balançou os cabelos tirando-os dos olhos, que brilhavam vermelho com ódio. –Potter – ela rosnou.


FIM

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