Capítulo 13: O Habitante do Pr





Allegra observava enquanto alguns de seus bruxos jogavam Harry, amarrado e encapuzado, numa cela e fechavam as barras com força. Ela fez um gesto para que saíssem e sentou num banco encostado na parede oposta. Harry apenas ficou ali com as mãos atrás das costas.


-Não está me enganando, Potter – Allegra disse, parecendo se divertir com toda situação. Harry avançou alguns passos até parar a poucos centímetros das barras, depois tirou vagarosamente as mãos de trás das costas, livres das algemas que as seguravam há apenas alguns segundos e as jogou pelas barras e elas fizeram barulho contra o chão de pedra aos pés dela. Ele levantou as mãos e tirou o capuz da cabeça.


Allegra riu. –Paredes de pedras não fazem uma prisão, nem barras de ferro uma gaiola – ela disse. Levantou e brincou com as algemas com a ponta da bota. –Sabia que isso não podia te segurar, mas isso vai – falou, apontando para as barras da cela. –Estão tão enfeitiçadas que nem mesmo você pode escapar. Não recomendo nenhuma tentativa de fuga. Não posso deixar que se machuque antes de ter a chance de te submeter à Passagem.


Harry segurou as barras com força e olhou pra ela. –Está feliz aqui, Allegra?


Ela olhou calma de volta pra ele. –Certo, pode parar com as tentativas de alcançar o bem que tem certeza que deve estar lutando pra se libertar dentro de mim, se ao menos você pudesse alcançá-lo! – gritou, melodramaticamente colocando as costas da mão contra a testa. –Poupe-se do trabalho. Pode falar bonito comigo, pode tentar ser compreensivo, pode até me ameaçar... Nada que disser pode me levar pra longe de meu mestre.


Harry deu um passo pra trás com uma expressão triste. –Então você o merece.


-Vou tomar isso como um elogio, apesar de saber que disse na intenção de uma ameaça. – Ela se encostou contra as barras da cela. Harry recuou mais um passo. –Sabe, essa deveria ser a parte onde a ex-amante malvada, tendo aprisionado o herói numa teia, tenta-o sexualmente e mostra seu corpo escultural numa tentativa de, ahem, colocá-lo pra cima. Então sua fala seguinte seria algo como "Se afaste de mim, sua vadia terrível, nunca vai receber nenhuma satisfação de mim". Depois eu iria jogar meu cabelo, dar uma risada maligna, mostrar meu decote despudoradamente e te prometer uma morte longa e lenta cheia de aranhas e ferros em brasa e, ah, não sei... Areia movediça, talvez. – sorriu feliz pra ele.


Harry balançou a cabeça. –Está se divertindo?


Ela deu de ombros. –Ah. Tem seus momentos.




Quinn observava Hermione andando em círculos no meio da câmara, a uma distancia segura da cripta. –Acho que está sendo um pouco precipitada – comentou.


-Precipitada? Precipitada? Allegra levou Harry; não podemos entrar na cripta sem ele, ela vai fazer a coisa dela à meia noite, pegar as tábulas, fazer a passagem e esse vai ser o fim do mundo que conhecemos sem falar do fim de Harry. Me perdoe por ter necessidade de um pouco de urgência.


-Urgência sem um plano de ação é desperdício de energia.


-Tenho um plano de ação. Vou atrás dele.


-Você vai atrás dele?


-Bem... Você vem comigo.


-E você e eu, sozinhas, vamos nos infiltrar no esconderijo secreto de Allegra, libertar Harry e salvar o mundo, é isso?


Hermione parou de vez, encarando Quinn com as mãos na cintura. –Tem alguma idéia melhor? Adoraria ouvir! – Quinn não disse nada. –Então fique quieta! O que, está com medo de um pouco de ação? Pensei que fosse uma boa executora!


-Eu era uma boa executora, e parte de ser uma boa executora envolve saber quando está em menor número!


Hermione se aproximou dela, uma mão esticada. –Quinn, não te conheço tão bem. Mas tenho que me perguntar se você tem idéia do que é compartilhar de verdade sua vida com alguém. Estar presente em cada momento importante, cada triunfo, cada tragédia e estar tão perto dele que é difícil dizer onde você termina e ele começa – respirou, seus olhos brilhando, as palavras saindo rápidas e agitadas. –Bem, eu sei como é. Tive sorte suficiente pra ter alguém que é tão essencial em minha vida quanto o ar que eu respiro e depois tive sorte o suficiente pra me apaixonar por ele! – a última frase saiu quase num grito. Recuou um pouco e se recompôs e quando voltou a falar, disse suavemente. –Posso entender sua hesitação. Não tem nenhuma obrigação de vir junto, mas eu vou. Não Posso ficar aqui sem fazer nada. Ficaria maluca. –voltou a andar em círculos. Quinn a seguia com os olhos.


-Hermione, você sabe que estou com você a viagem toda.


Hermione sorriu de lado pra ela. –Eu sei.


-Qual seu plano.


Hermione enfiou a mão no bolso e tirou o localizador de aparatação que Sorry lhe dera. –Entrar escondido – falou.


Quinn fez um gesto pro localizador. –Então aparatamos pro esconderijo de Allegra usando o localizador de Sorry como guia.


-Sim.


-Muitos ventos vão ter que soprar a nosso favor pra isso funcione – Quinn disse, contando esses fatores nos dedos. –Sorry tem que estar dentro do esconderijo, onde quer que seja e não em Broken Spoken, Oklahoma, comprando cafés gigantes pra equipe toda. O localizador tem que estar funcionando certo, o que de maneira nenhuma é garantido. Vamos ter que conseguir passar sem sermos notadas pelos bruxos de Allegra quando chegarmos lá. E tenho certeza que sabe que estes localizadores vão nos colocar a 10 metros da localização de Sorry e pelo que sabemos, a 10 metros de distância podemos estar num rio ou alguma coisa assim.


Hermione suspirou. –Bem, eu sei nadar. – ela olhou ao redor. –Acho que não há hora como o agora. Estou tão ansiosa que parece que vou sair de mim.


Quinn concordou, embainhando a varinha. Hermione segurou o localizador de aparatação. –Pronta?


Quinn hesitou por um momento. –Deixa eu ver isso – disse. Hermione entregou o localizador a ela. –Eu era encarregada de localizadores no meu esquadrão. Eles podem danificar muito facilmente, melhor checar antes de confiar nossa integridade física a isso. – examinou visualmente por um momento depois pegou a varinha e disse um feitiço sobre ele. O localizador brilhou azul em resposta, o que pareceu satisfazê-la. –Parece bom – entregou de volta a Hermione.


-Certo, vamos – ela disse, colocando a mão de palma pra cima com o localizador no meio. Quinn colocou a mão sobre ele enlaçou os dedos com o de Hermione para que elas duas tocassem o localizador. –Agora.


As duas mulheres sumiram. Hermione fechou os olhos com força enquanto desaparatavam, os mantendo fechados enquanto se sentia rematerializar. Havia chão sob seus pés e ar a sua volta; ao menos não estavam no meio de um lago. Sentiu a mão de Quinn apertando a sua com força.


Cautelosamente abriu os olhos, um e depois o outro. Quinn estava na frente dela com os olhos também fechados. –Psss – Hermione sibilou. –Pode olhar agora. – Quinn os abriu, largando a mão de Hermione.


Hermione olhou a sua volta. Havia um túnel estreito feito de uma pedra bruta com um teto arqueado. Estava iluminado por tochas nas paredes a cada seis metros, aproximadamente. Quinn suspirou. –Ah que ótimo. Isso é tão diferente do túnel úmido de pedra em que estávamos.


Hermione virou em circulo. –Onde estamos? Acha que é o esconderijo de Allegra?


-Se for, estou muito desapontada com ela. É tão clichê e gótico. – inclinou a cabeça. –Está ouvindo alguma coisa?


Hermione aguçou os ouvidos. –Não – remexeu na mochila de Harry, pra qual também tinha transferido o conteúdo da própria mochila, e tirou a bússola de Cho. Sorriu, aliviada. –Estamos no lugar certo... Olhe, a frente da bússola está verde... Isso significa que Harry está próximo. –Pegou a capa da invisibilidade de Harry. –Venha, cuidado nunca é demais. –Quinn veio pra seu lado e Hermione jogou a capa sobre as duas.


As duas mulheres começaram a andar vagarosamente pelos cantos do corredor, seguindo a bússola de Hermione o melhor que podiam. –Onde quer que estejamos, está ficando cada vez mais sombrio – Quinn sussurrou. Hermione fez que sim com a cabeça, em completa concordância. As paredes eram úmidas e em alguns lugares cheia de musgos. Não viram outra alma viva por vários minutos. Finalmente a passagem começou a subir sutilmente e o som de vozes começou a chegar a elas. –Shh – Quinn sussurrou. As duas pararam e ficaram ouvindo. –Parecem cinco ou seis pessoas. – Aproximaram-se um pouco mais e a iluminação ficou mais forte.


O corredor se abria numa varanda que ficava sobre um cômodo, meio circular. Quinn e Hermione vieram até a borda e olharam sobre ela. Meia dúzia de bruxas e bruxos se movimentavam, arrumando cadeiras e mesas. Perto do outro lado do salão escavado, estava uma plataforma circular elevada; sobre ela uma cadeira comum de madeira e costas alta, com pulseiras e tornozeleiras de ferro. Hermione teve um calafrio. –Cruel – murmurou.


-Onde ela quer esta coisa? – um dos bruxos perguntou do outro lado da sala.


-Não sei. Acho que é para as tábulas, então provavelmente perto da cadeira. – o primeiro bruxo arrastava um pedestal de madeira pelo cômodo. –Onde está Carlisle? – o segundo bruxo disse. –ele é o especialista.


-Ainda está na Filadélfia. Allegra o deixou por lá, responsável pelas catacumbas.


Hermione piscou. –Ele... Ele não está aqui? – disse. Quinn devolveu o olhar confuso. –Se ele não está aqui, como nós viemos pra cá?


-Não sei... talvez estivesse aqui e tenha acabado de sair.


-Estamos aqui há cinco minutos, essa é uma coincidência muito grande. – tirou o localizador do bolso. –O que fez com essa coisa quando estávamos na Filadélfia?


-Nada! Apenas o chequei!


-Pode ser uma armadilha se nos trouxeram pra cá de propósito. – Hermione disse, franzindo a testa.


-Armadilha ou não, Harry está aqui, certo? – Hermione concordou. –Então não temos muita escolha. Vamos, temos que ir.




Harry estava sentando de pernas cruzadas no chão de sua cela, experimentando uma combinação estranha de stress e tédio extremos. Sendo o único ocupante das cinco celas que podia ver, não tinha companhia nenhuma a não ser o bruxo que estava vigiando na porta. Allegra não estava mentindo sobre os feitiços em volta da cela; ele tentou um feitiço de abrir nelas e a resposta quase fritou seu braço. O guarda não tentou detê-lo, provavelmente porque sabia que o valor da punição seria muito mais efetivo pra prevenir fugas do que qualquer tentativa de aviso que pudesse dar verbalmente.


Passos se aproximavam; vários deles. Harry levantou e encarou a porta enquanto Allegra entrava, acompanhada por quatro de seus bruxos usando capas verde-escuras iguais, com cordinhas prateadas nas bordas. Harry inclinou a cabeça na direção deles. –Quem são esses, sua guarda de honra? – perguntou.


Allegra sorriu. –Só alguns de meus ajudantes – ela apontou a cabeça na direção de Harry. O guarda na porta levantou e puxou uma grande chave dourada do bolso de sua capa. Colocou na fechadura e a porta da cela inteira brilhou vermelho por um momento e então se apagou. Um dos bruxos de Allegra abriu a porta e puxou Harry pelo braço, colocando correntes em seus pulsos quando fez isso. –Estas são correntes encantadas... inquebráveis – Allegra disse. –Então nem tente. – Virou e saiu. Dois de seus bruxos pegaram Harry pelos braços e marcharam com ele pra fora do cômodo, os outros dois bruxos levantando as pernas. A mente de Harry corria, pensando como escapar. Podia quebrar correntes comuns, mas não as encantadas... Pelo menos não nessa situação. Sentado calmamente em sua sala com tempo pra se concentrar, podia. Mesmo que conseguisse quebrá-las, estava eficientemente cercado.


Depois de uma longa viagem por vários corredores úmidos e mal iluminados chegaram a um salão circular escavado com uma plataforma elevada no fim. Mais ou menos uma dúzia de bruxos estava presente, esperando. Allegra subiu na plataforma e fez um gesto imperial com um braço; os bruxos segurando Harry o manobraram ate o meio do chão, de frente pra ela. Tiraram a corrente, porém mantiveram o aperto forte em seus braços e ombros –Este é seu salão do trono? – ele perguntou com sarcasmo. –Montando uma corte pra seus leais servidores?


-Sirvo a meu mestre.


-Voldemort nunca conseguiu me matar da dozes vezes que tentou, o que te faz pensar que você vai conseguir?


Ela o ignorou, olhando em volta para os arredores. –Este é meu pequeno esconderijo. O que achou?


Harry olhou em volta. –Legal. Caseiro. Podia ter uma demão de pintura e umas luzes – ele a encarou novamente. –Por que me trouxe aqui embaixo? Ainda não pode me submeter à passagem, não pode pegar as tábulas antes das cinco da manhã.


-Verdade. Mas temos negócios a resolver antes do ritual estar pronto.


Harry de repente se sentiu muito triste olhando pra ela e ouvindo a maneira relaxada com a qual ela falava de sua derrota iminente. –Ainda te restou algum sentimento, Allegra?


Ela desceu pro nível dele e ficou em sua frente. –Ah, vamos falar do passado, não é? Legal.


-Não, eu realmente quero saber.


-Por que esse interesse repentino em mim?


-Sempre estive extremamente interessado.


-Porque quer me ver presa e punida pelo que fiz com você.


-Quero te ver punida pelo que fez a muitas pessoas. Não é por minha causa.


-Ah, é sim, Harry. – ela falou, se inclinando pra frente, os olhos brilhando. –Sempre foi por sua causa. É o grande Harry Potter e todos idolatram o chão em que pisa.


Ele balançou a cabeça. –Não insulte minha inteligência. Não está fazendo tudo isso porque tem inveja de qualquer poder que ache que eu tenho.


-Só quer saber porque estou fazendo isso tudo porque vai se sentir melhor por ter um motivo. Quer saber se é porque quero poder, ou o controle ou a habilidade de cancelar o natal se eu quiser ou talvez minha mãe nunca tenha me amado. Bem, talvez não haja razão. Talvez eu apenas goste. Talvez eu seja uma má pessoa.


-Você não se acha uma má pessoa.


-Como sabe?


-Ninguém acha, mesmo quando claramente é uma.


-Sempre tenta achar alguma coisa boa em todo mundo, Harry. É uma mania que felizmente não tenho.


-Em algum momento você gostou de mim? – disse, a pergunta repentina a pegou de surpresa. Ele tinha se perguntado isso pelo menos um milhão de vezes durante os anos e pensou que talvez pudesse ter uma resposta verdadeira agora. –Ou foi tudo fingimento?


Ela suspirou. –É difícil dizer onde a realidade termina e o ato começa, pra dizer a verdade. – sorriu friamente. –Sabia que se queria te derrotar, teria que te conhecer. Então te seduzi. Não foi difícil. Era apenas uma criança, contente com todas novidades de seu novo emprego na DI e ansioso pra embarcar numa viagem visionária como um adulto de verdade. Não podia esperar pra se provar... E não apenas no emprego. Era o aluno mais entusiasmado nos treinos e era ansioso e desajeitado na cama.


Harry apenas balançou a cabeça, uma sobrancelha muito arqueada. –Você tem algum tipo de manual padrão do mal? "Capítulo 3: Como desencorajar seu oponente atacando sua masculinidade". Felizmente não preciso de sua aprovação de minhas habilidades sexuais... Na verdade, adoraria saber que fingiu todas as vezes. Sempre odiei a idéia que fiz parte de seu tempo comigo mais prazerosa.


Allegra resolutamente o ignorou, mas ele podia ver que sua falta de reação às provocações dela a desarmaram. Ela continuou. –Naquela época, via em seus olhos um vigor juvenil e uma pressa de tentar qualquer coisa. – olhou pra ele –Não vejo mais essa pressa agora. Não é contente nem ansioso. Viu coisa demais e foi magoado demais.


-Não se gabe. Nunca te amei.


-Se você diz. Mas fiz de você um verdadeiro adulto, Harry. Nem mesmo você pode negar isso. Não seria o homem que é se não fosse por mim.


-Talvez não. – Levantou a cabeça e a olhou nos olhos. –Talvez fosse um melhor.


Ela subiu na plataforma, de volta ao comando. –Hoje vou te submeter à passagem. Vai ser uma pena perder uma pessoa como você no mundo, de um ponto de vista puramente acadêmico, afinal você é único, mas os benefícios ganham de longe para os riscos.


-Me arrastou até aqui pra ouvir outro monólogo vilanesco? Me poupe, já ouvi de tudo.


-Não, tenho outro propósito. – pegou a espada que estava encostada contra a cadeira na plataforma e displicentemente a passou pelo chão de pedra. –Estou fazendo isso por vários motivos.


-Pra desfazer todos feitiços que já fiz pra que Voldermort retome seu completo poder.


-Era o que se espera, não é?


Ele piscou. –Mas... Pensei que...


Sorriu pra ele. –Quem te disse isso? Seu amigo Sorry? – Harry ficou encarando, toda cor escapando de seu rosto. –Ah, sim, sei tudo sobre isso. Se pensou que podia me enganar com essa coisa de agente duplo então deve ter uma opinião realmente muito ruim de mim. Mesmo com a ajuda de Li ele não conseguiu escapar.


Harry estava sem fala. Uma bola fria de ferro estava se formando no fundo de seu estômago. Se ela sabia sobre Sorry, o que mais sabia? –Por que você não...


-O sedei e deixei em milhões de pedacinhos? Ele é útil demais pra se perder. Enquanto achar que está me enganando vai continuar um fabuloso trabalho de pesquisa sobre a passagem pra mim. Está tão interessado quanto eu naquelas tábulas... E no caso estar torcendo que ele tenha traduzido alguma coisa errada pra que eu não possa completar o ritual, lamento de desapontar. Tenho outro perito na Passagem trabalhando independentemente, um que Sorry não sabe.


Harry balançou a cabeça; -Você planeja com cuidado, não é?


-Seguro morreu de velho. Mas estávamos discutindo a Passagem. De acordo com o documento que descobri meses atrás que iniciaram toda essa busca, o ritual só vai reverter os feitiços que o bruxo tenha feito intencionalmente. Então sua vitória infantil está imune.


-Que pena. Seu mestre deve ter ficado bastante desapontado.


-Meu mestre é indiferente a Voldemort. Sua passagem terá outros efeitos que nos beneficiarão. – Harry de repente se sentiu no meio de uma peça onde todos sabiam o texto menos ele. –Vejo pela sua expressão que presumiu que meu mestre é Voldemort. – A boca de Harry abriu e se fechou algumas vezes. –É desaconselhável presumir em sua área de trabalho. Quando eu disse que servia a Voldemort?


A mente de Harry correu. Ela sempre se referiu a ele como "meu mestre". Ele apenas pensou que... Idiota, deu bronca em si mesmo. Você realmente presumiu. –Quem então? – conseguiu dizer.


O sorriso dela se alargou. –Não, acho que não. – Deu língua pra ele. –Devia saber. –O coração de Harry batia forte. Não tinha certeza se podia suportar outra surpresa. Allegra tinha mais cartas do que ele esperava. –Agora. Toda hora nos distraímos, mas tenho um propósito aqui. – começou a andar pra frente e pra trás pela plataforma, passando a espada pelo chão sincronizada com o barulho de seus saltos contra as pedras. –A passagem que vou fazer em você nesta manhã é difícil mesmo na melhor das circunstâncias. O fato de ser você em quem estou tentando fazer exarceba as dificuldades. Então preciso que faça uma coisa pra mim. – parou e o fixou com um olhar firme. –Para o ritual ter sucesso, você precisa estar no enquadramento mental correto. Então preciso que você se submeta por vontade própria e sem resistência.


Por um momento, Harry pensou que ela estava brincando... Mas logo viu que não estava. Deu um pequeno riso abafado. –Espere sentada.


-Acredite, vai deixar as coisas bem mais fáceis pra você.


Harry apertou o queixo, maravilhando que ela podia manter a ilusão que ele concordaria em se render. –Allegra, está maluca se pensa que vou me submeter sem resistência.


Ela piscou pra ele. –Pode achar que não, mas vai. – olhou pra um de seus bruxos próximos a porta e acenou brevemente com a cabeça pra ele. Ele virou e saiu do salão. Todos esperaram... Harry estava começando a ter uma sensação muito ruim.


Alguns momentos depois o bruxo voltou pro salão, seguido de outro bruxo arrastando alguma coisa atrás dele, alguma coisa que estava lutando. Quando entraram no salão do trono, Harry sentiu o sangue esfriar. –Ah não –suspirou.


Era Hermione.


Ela estava amordaçada, com as mãos frouxamente amarradas a sua frente e parecia frustrada e agitada. Os olhos vagavam ansiosos pelo salão. O bruxo a arrastou até a plataforma e a colocou diante de Harry. Allegra se moveu pra ficar atrás dela, colocando um braço amigavelmente sobre seus ombros. Hermione apenas olhava pra frente, todo seu corpo tenso.


Harry sentia como se seu cérebro tentasse voar pelas bordas. Não conseguia concentrar, tudo que podia fazer era olhar pra Hermione lá, amarrada enquanto ele estava inutilizado e cercado por bruxo do Círculo. Allegra podia fazer o que quisesse com ela, qualquer coisa. Ele suspeitava que sabia o que ela quis dizer quando deu certeza que ele ia se submeter. –Está tudo bem – sussurrou para Hermione.


Allegra correu um dedo pelo queixo de Hermione. –Olhe quem achamos passeando por aí – ela disse. –O amor não é lindo? Ela veio aqui pra te salvar, imagino. Teria sido melhor se ficasse em casa. A amiga dela escapou, mas logo vamos encontrá-la. Nem se iluda com pensamentos de resgate. A professora Cashdollar pode ser uma boa Executora, no entanto essa sala está cercada por bruxos e bruxas suficientes para azará-la até perder os sentidos. – olhou pra Hermione cujo maxilar estava tão apertado que Harry se perguntou se seus dentes não iam quebrar. –Obrigada por vir – disse suavemente. –Me deu a arma perfeita pra usar contra Harry.


Num ímpeto de raiva, Harry tentou correr pra frente, mas o bruxo que o segurava puxou com tanta força que quase arrancou seus braços. –Deixe-a ir – grunhiu, tentando soar muito mais ameaçador do que se sentia.


Allegra deu um grande show fingindo considerar isso com cuidado. –Humm. Não, acho que vou mantê-la aqui. – deu a volta pra ficar atrás de Hermione, se apoiando sobre seus ombros. –O que faria para salvá-la, Harry?


Ele olhou nos olhos de Hermione, cada músculo tenso e seu coração batendo pesado contra as costelas. Não disse nada. Allegra já parecia saber que ele faria qualquer coisa para salvá-la.


-Estou disposta a deixá-la ir inteira, a professora Cashdollar também... Se você se submeter à Passagem por vontade própria. – esticou a mão e apertou a bochecha de Hermione com um brilho nos olhos. Estava gostando disso.


Os olhos de Harry iam do rosto de uma mulher para o da outra. Hermione balançou a cabeça que não pra ele, enfaticamente. Ele olhou pra ela... O que espera que eu faça? O olhar perguntava.


-Me dê sua resposta, Harry! – Allegra exclamou.


-Eu aceito – respondeu através dos dentes cerrados. Hermione fechou os olhos. Apenas ganhe um pouco de tempo, ele pensou. Tempo pra pensar. –Aceito, vou me render... Desde que prometa não machucá-la.


Allegra sorriu. –Concordo – deu a volta ao redor de sua prisioneira, examinando-a. Hermione apenas ficou parada, olhando séria pra frente. –O que você vê nela, afinal?


Harry não conseguia desgrudar os olhos dela, mal ousando acreditar que Allegra já tinha terminado com eles. –Não espero que entenda.


-Olhe pra mim – ela disse, dando um passo pro lado e abrindo bem os braços. Vestia roupas de veludo pretas que se ajustavam na pele como pintura. –Sou um nocaute! Sou sexy! Sou quente! Não me olhe assim, houve um tempo que você também achou isso. – Harry apenas olhava duro pra ela. –E agora olhe pra ela – Allegra disse, ao lado de Hermione e apontando na direção dela. –Falando sério, Harry. Ela está usando bermuda! E Chambray! E olhe pro cabelo dela... tão ondulado e comum. Não tem um corpo tão ruim, na verdade. Colocaria nela um vinil preto que deixaria você louquinho. –sorriu pra ele. Harry estava esperando a outra bomba explodir. Ela o levara até a caverna o que mais poderia querer agora?


Mas Allegra não tinha terminado com ele, pelo que parecia. Olhava de um para o outro, avaliando o olhar que trocavam. –Quanto tempo desde a primeira vez que os dois idiotas aí fizeram o monstro de duas costas? – pensou por um momento. –Hum. Eu chuto que não mais que uma semana. Ainda têm essa aura de paixão nova ao redor de vocês. Não estava aí quando a encontrei pela primeira vez na Detenção. – desceu da plataforma, deu a volta em Harry e depois subiu de novo, fazendo tudo sem pressa. –Devia estar me agradecendo na verdade. Nada como uma crise iminente para fazer alguém reconhecer sentimentos há muito tempo enterrados. – ao ouvir isso, Harry olhou pra ela, surpreso. –Ha. Pensou que eu não sabia, não foi? Via o olhar em seus olhos quando falava dela, o que era todo o maldito tempo. – a voz dela ganhou um tom de chacota. –Hermione isso, Hermione aquilo, e blá blá blá a maldita Hermione era Deus na terra. Melhor amiga o cassete. – ficou perto de Hermione novamente, displicentemente brincando com uma mexa de seu sedoso cabelo negro e batendo a parte reta da espada contra sua coxa. Suspirou e deu os ombros. –Uma pena, de verdade. Devia ser mais esperto e não ter me dado uma vantagem tão deliciosa.


Harry lançou a ela o olhar mais fatal que conseguiu. –Não ousaria – Allegra estava olhando pra ele com olhar especulativo que ele não gostava nem um pouco. Uma sensação gelada de medo passou por sua barriga. Estava dolorosamente ciente de Hermione, em pé, silenciosa e provavelmente assustada, bem no canto de seu campo de visão. –Por favor – ele disse baixo, decidindo que não podia manter essa fachada desafiante numa situação tão delicada. Geralmente se um inimigo tentava intimidá-lo para que se rendesse, ele mantinha uma política firme de nem piscar. Mas agora... Apenas não podia. Não podia arriscar provocar Allegra e que ela machucasse Hermione. –Por favor, deixe-a em paz. – engoliu seco, tomando uma decisão rápida e surpreendentemente fácil. –Eu imploro se quiser – disse em voz grave. Um pequeno sacrifício de seu orgulho não era nada se acalmasse a mulher a sua frente... A mulher que, no momento, era completamente imprevisível pra ele.-Prometeu não machucá-la se eu concordasse em me entregar.


Allegra caminhou até atrás de Hermione. –Sim, eu lembro. Mas sabe de uma coisa? Eu menti.


E com isso, esticou a mão, tirou a mordaça da boca de Hermione e então enfiou a espada através das costas dela.


Todo o ar saiu do peito de Harry como se alguém tivesse enfiado um anzol em sua garganta e puxado de vez. Queria gritar, mas não podia pela falta de ar, sentia como se alguém usando botas de ferro tivesse lhe dado um chute no estômago. Hermione respirou uma grande massa de ar, suas costas se curvando como um arco, a ponta da espada saindo de seu peito e o sangue escorrendo da ferida para encharcar a frente de sua blusa. Sobre seu ombro, o rosto de Allegra apenas sorria incessantemente. Harry sentiu sua mente tentando escapar dele como um pássaro amarrado tentando alcançar os céus. Por um momento, pensou que a visão do corpo dela, um corpo que ele segurara em seus braços e tocara com grande gentileza, perfurado por um pedaço de metal afiado fosse deixá-lo louco. Se segurou com grande esforço; era como tentar segurar uma corda escorregadia. Lutava contra os bruxos que o seguravam, seu rosto congelado com a boca aberta num grito sem voz. Allegra puxou a espada e Hermione caiu na plataforma; num puro requinte de crueldade ela deu um pequeno aceno para os bruxos segurando Harry e eles o soltaram... Numa parte distante, ainda coerente da mente de Harry, pensou que não era o suficiente matar a mulher que ele amava, ela tinha que ter certeza que morresse nos seus braços.


Harry se apressou até a plataforma e ficou de joelhos ao lado dela, puxando-a para seu colo, um pânico enchendo sua mente e lhe tirando a capacidade de qualquer pensamento consciente. –Ah, Deus... Hermione – falou rouco. –Ah não... – ela olhava pro rosto dele, sangue escorrendo por sua boca. Ele pressionou a mão contra o ferimento no peito apesar de saber em alguma parte de sua mente que era inútil, sentindo o sangue saindo do ferimento nas costas e manchando sua calça. A mão dela levantou devagar até o rosto dele e parou em sua bochecha. Harry a segurou ali, o ar seco raspando enquanto entrava e saia da garganta, horrorizado demais para reagir. Allegra estava sobre eles, a espada sangrenta a seu lado, observando.


Harry olhou nos olhos de Hermione. –Não -Sussurrou ao vê-los fechando. –Não, não me deixe... Por favor, Hermione. – Ela apertou o corpo dela contra o peito. –Não, não não não... – pressionou a testa contra a dela como se pudesse passar a vida do próprio corpo. Um suspiro trêmulo escapou da garganta dela e ela estremeceu uma vez e então ficou mole. Harry a segurou mais forte, um choque vazio e desespero enevoando sua mente. Olhou sério pra Allegra, seu próprio rosto manchado de sangue. –Por que? – gritou. –Ela não era ameaça nenhuma pra você, por que?


Ela se curvou e o olhou nos olhos. –Não foi porque ela era uma ameaça pra mim e sim porque ela era querida pra você


-Eu a amava – falou entrecortado.


-Então azar dela, não foi? – esticou a mão pra baixo e alisou o cabelo de Hermione. –O que te resta pra viver, Harry? Ela era a última coisa, não era?


Ele levantou o olhar pro rosto dela, a dor expulsa de sua mente por uma raiva homicida que caiu sobre sua visão como um véu vermelho. –Vou te matar – sua voz baixa, rouca e mortal. –Vou sair daqui ou morrer tentando. E então virei atrás de você e só vou parar quando te achar e vou te ferir até que implore pra te matar... Mas não vou. Vou deixar assim por meses e anos e quando finalmente terminar vou alcançar seu peito e arrancar seu coração... Do mesmo jeito que fez comigo. – completou sua voz se arrastando na última frase.


-Palavras corajosas. Pode até fazer isso. Mas não a trará de volta.


Harry a encarou por um momento, mas o peso arrebatador do que acabara de acontecer era muito pra ele e seu rosto se retorceu. Inclinou a cabeça até o ombro de Hermione, uma mão se enganchando nos cabelos dela, seus ombros balançando com soluços silenciosos que eram inadequados pra expressar a tristeza que caia sobre ele. Allegra fez um pequeno gesto para os bruxos que o seguravam antes e eles avançaram e o tiraram de Hermione, seus braços segurando o corpo como se fosse um grampo. –Não – Harry repetia baixo. Sua mente tentava escapar disso e não podia pensar ou agir ou fazer qualquer coisa enquanto o colocavam de pé e começavam a levá-lo do salão. Seus pés não se moviam sozinhos, os bruxos de Allegra o arrastavam como se estivesse morto... E, na verdade, era como se sentia.


Allegra olhou até que ele tivesse saído, depois falou para os outros bruxos do salão. –Se livrem disso – disse, apontando para o corpo a seus pés. –Não vamos ter problemas para controlá-lo agora.




Eles jogaram Harry em sua cela, batendo as barras e deixando-o sozinho com o mesmo guarda de expressão de pedra. Harry andava de um lado para outro, suas mãos fazendo gestos sem significado no ar, primeiro puxando os cabelos e depois apertando a capa e depois esfregando as manchas de sangue na camisa e mangas. Seu peito se mexia com grandes quantidades de ar como se tivesse corrido cem metros rasos.


Parou e deixou a cabeça cair; seu queixo tremia e ele sentia a tristeza subindo nele como magma num vulcão que ia entrar em erupção e rasgá-lo em pedaços. Ele a viu em sua mente, rindo, dançando, sorrindo pra ele num travesseiro, iluminada ao fundo pela lua. Fechou as mãos em punhos, as mãos que ainda lembravam da textura da pele dela, pressionando-as contra o rosto para apagar a imagem da vida deixando os olhos dela.


Esfregou a cicatriz com a palma da mão enquanto caminhava. Deixei que ela morresse, Rony, ele pensou. Deixei que você morresse, e agora deixei que ela morresse. Falhei com vocês dois de todas maneiras. Tinha dois melhores amigos. Tinha o substituto de um irmão e tinha uma mulher que amava e agora só eu existo. Sozinho com nada mais além de minha vingança.


Começou a tremer e suas pernas cederam sob ele; sentiu seus joelhos no chão de pedra da cela. Jogou a cabeça para trás e gritou sua dor para o teto, todo seu corpo vibrava em simpatia ao desespero que corria em seu sangue numa maré venenosa. Sua voz se calou e ele parou sentado, enterrando o rosto nas mãos e esperando pelas lágrimas que se recusavam a vir ao contrário de como tinham vindo livremente por Rony... Mas isso era pior, muito pior para que algumas lágrimas pudessem expressar. Rony era seu melhor amigo. Hermione era... Ela era uma coisa que não consigo colocar em palavras, pensou. E ela era tudo o que eu tinha. Curvou-se para frente até sua testa repousar contra as pedras, seu corpo dobrado ao meio com os braços apertados contra a barriga como se para se segurar fisicamente. Rony não tinha morrido em seus braços e ele não teve que sentir a vida do amigo saindo do corpo como tinha sentido a dela, sabendo que uma parte dele tinha morrido junto.




Hermione e Quinn, as duas escondidas sob a capa da invisibilidade, se esgueiravam pelo corredor. –Olhe a bússola – Quinn sussurrou.


Hermione a pegou. –Maldição, voltou a ficar branca. – Na última meia hora a bússola mudara de verde para branco e depois verde novamente e agora estava mais uma vez branca. –Não podem estar movendo-o tão longe tantas vezes.


-Podem estar mantendo-o numa localização protegida que o feitiço localizador não pode ver.


Hermione concordou com a cabeça; -Sim, isso é possível. – Olhou ao redor. –Onde diabos estamos agora? – na jornada por esse... o que quer que fosse, tinham visto masmorras e grandes salões de encontro e o que pareciam câmaras residenciais e vários cômodos cheios de celas. Agora estavam de volta a outro corredor úmido e mal iluminado. Passaram por algumas pessoas nos corredores, mas parecia que esse era um lugar muito grande o número de membros do Círculo relativamente pequeno.


Quinn estava olhando em volta, franzindo a testa. –Sabe, tenho uma idéia de onde podemos estar.


-Onde?


-Pode ser Lexa Kor.


Hermione franziu a testa. –A antiga prisão?


-Sim. Foi abandonada quando Azkaban foi construída, acho que uns seiscentos anos atrás.


-Lembro de ter ouvido falar, mas não lembro onde é.


-Ninguém sabe. No dia que Azkaban abriu as portas, Lexa Kor desapareceu da face da terra. Num dia lá estava, no vale, e no outro dia só havia lá algumas ovelhas. Ninguém sabe o que aconteceu.


-Então como viemos para aqui? E onde é aqui?


-Algumas pessoas acham que Lexa Kor foi roubada por bruxos das trevas e colocada num buraco.


-Difícil. Qualquer um pode pegar um ponto no espaço e expandir além de seus limites físicos – Hermione disse, lembrando do banco de trás do antigo Ford Anglia dos Weasley. –Mas é necessária muita magia para fazer um buraco grande o bastante pra guardar um castelo inteiro.


-Mas pense nas vantagens. Se escolhessem um ponto pequeno o bastante para expandir, uma vez que o castelo estivesse no buraco, estaria virtualmente invisível! Não aparecia no mapa e não seria acessível a não ser que você soubesse como Aparatar até lá. – olhou em volta. –É, acho que estou certa. E posso conseguir me lembrar da planta, tenho um livro sobre isso. – ela virou, olhou pela janela e andou de um lado a outro do corredor por um momento, arrastando Hermione consigo. –Acho que estamos perto da parede exterior a oeste.


-Seria útil se soubéssemos onde estamos indo.


-Temos que tentar ir até as principais áreas públicas... Allegra provavelmente vai escolhê-las como quartel general e sala de reunião. E aquele salão escavado que vimos logo que chegamos aqui, aquele era o palco de execução! Idiota, devia ter descoberto isso antes – ela pegou a mão de Hermione. –Venha. Por aqui.


Apressaram-se pelos corredores, Quinn guiando. Chegaram numa junção em forma de Y e pararam por um momento. Quinn pensava qual caminho deveria tomar quando as duas levantaram os olhos assim que um som horrível chegou a seus ouvidos. Era um grito, um terrível grito cortante que parecia vir das profundezas da alma de uma pessoa; era um som de sofrimento absoluto. Hermione ofegou, sentindo um frio se espalhar. –Foi Harry – sussurrou.


-Tem certeza? – Quinn sussurrou em resposta.


-Absoluta.


-Meu Deus, esse grito! Nunca ouvi nada assim!


-Eu já – Hermione disse sombria. –Já o ouvi fazer esse som uma vez. Não posso imaginar o que pode tê-lo feito gritar assim agora. – olhou pra Quinn sob a capa, ansiedade claramente visível em seus olhos. –Vamos. Temos que chegar até ele.


-Parecia vir desta direção. – Quinn disse, apontando para o corredor da direita. Hermione concordou e rapidamente passaram pela junção em Y, a necessidade de se apressar equiparando-se com a necessidade de serem o mais silenciosas possível.


A mente de Hermione corria enquanto passavam por um corredor após outro. O que ela estava fazendo a ele? Pensou. Tortura? Algum tipo de feitiço de ataque que está deixando-o maluco e tendo visões? Tentou não pensar sobre isso e apenas se concentrou em chegar até ele.


Finalmente chegaram a uma grande porta dupla. Quinn ficou na frente da porta. –Acho que essa é enfermaria. Podemos passar por ela, vai nos poupar tempo – encostou o ouvido na porta. –Não ouço nada.


Hermione olhou pra cima e pra baixo no corredor e elas empurraram a porta; rapidamente entraram e fecharam a porta. Era um cômodo grande, deprimente com camas e mesas de metal alinhadas. O ar parecia ecoar com os gritos dos feridos, dos torturados, dos desesperançados. –Vamos logo – Hermione sibilou. –Esse lugar é estranho. –Segurou o braço de Quinn e elas se apressaram pelo chão. Hermione mantinha a cabeça baixa, sem querer olhar a seu redor, então quando Quinn deu um pequeno grito e parou de repente ela quase deu um pulo de surpresa. –O que? –sussurrou.


Os olhos de Quinn estavam arregalados de choque. –Olhe! – sibilou, apontando para o que parecia ser uma mesa de autópsia.


O queixo de Hermione caiu e ela colocou a mão sobre a boca para evitar o grito que subiu em sua garganta. Deitado na mesa estava um corpo... O corpo dela. –Ah meu Deus! – disse tremula. –Aquela... Sou eu!


Quinn saiu debaixo da capa e se aproximou, finalmente esticando um dedo pra cutucar a perna do corpo. –Bem, é de verdade... E realmente parece você. – Hermione se forçou a avançar. O corpo usava roupas iguais a que ela usava no momento, exceto pelo fato dela não estar coberta de sangue. –Ela foi esfaqueada – Quinn disse, apontando pra um ferimento no peito do corpo. Encarou Hermione por sobre a mesa. –Acho... – ela suspirou. –Acho que sei porque Harry estava gritando.


Em sua surpresa, Hermione nem tinha pensando o que isso significava, mas a verdade do que Quinn disseram achou um espaço em sua mente bem depressa. –Ah, não – sussurrou. –Allegra a matou na frente dele pra que pensasse que eu estava morta! – levantou os olhos pra Quinn com uma expressão aflita. –Nunca pensei que ela pudesse fazer algo tão horrível a ele.


-Ah, claro que não. Só porque ela atacou pessoas inocentes, matou aquelas que se voltaram contra ela e planeja desfazer a própria existência de seu namorado não é razão pra se pensar que ela pudesse fazer algo tão ruim


Hermione queria se sentir irritada pelo sarcasmo de Quinn, mas devido à verdade de seu argumento, não conseguiu. –Harry estava certo – murmurou. –Eu não duraria um dia nesse negócio. Sempre procuro pela explicação mais leve.


Quinn cutucava o braço do corpo. –Como você acha que ela fez isso?


-Bem, não pode ser uma poção Polissuco, requer que a pessoa esteja viva. No segundo que essa mulher morresse, voltaria a ser ela mesma. Deve ser um feitiço glamour, podem ser colocados em qualquer coisa.


Quinn pulou como se tivesse acabado de lembrar alguma coisa e enfiou a mão em um dos muitos bolsos de sua capa e puxou óculos grande e incrivelmente feios no estilo dos anos 70, com lentes prateadas como uma fina película de mercúrio.


-O que é isso?


-Antigo truque de executora. São óculos para glamour. Coloque-os e pode ver através de qualquer glamour. – colocou no rosto, olhando para o falso corpo de Hermione. –Sim. Glamour. Dos grandes.


-Quem é?


-Não a reconheço. Mas aqui, veja você mesma. Outra função dos óculos para glamour. Apenas toque o objeto mascarado enquanto os usa... – colocou a mão sobre o braço e o glamour dissipou. -...E tudo é revelado. – A mulher sobre a mesa era uma estranha para Hermione. Parecia ter uns 35 anos e usava vestes bruxas vermelhas escuras. –Provavelmente alguém que não pulou alto o suficiente quando Allegra disse "sapo". – Quinn tirou os óculos para glamour e balançou a cabeça triste. –Por que ela faria isso? Pra que esse subterfúgio?


Hermione, sua expressão intrigada, balançou a cabeça pra indicar que não sabia. –Aqui está uma perguntar melhor... Como ela sabia o que eu estou usando agora? Está correto até o buraco na minha capa. Isso só aconteceu há algumas horas, nas catacumbas. – se encararam, o mesmo pensamento passando pelas duas, depois as começaram a olhar sorrateiramente ao redor do cômodo.


-Estamos sendo observadas?


-Não sei, mas as perguntas continuam a se aglomerar, não é? Como chegamos aqui se Sorry está na Filadélfia? Como Allegra duplicou minha aparência? E como aprisionou Harry pra começo de conversa? – ela olhou pra companheira com os olhos estreitados. –Alguma coisa que queira me dizer, professora Cashdollar?


Quinn encarou de volta, seu olhar firme. –Alguma coisa que queira me perguntar, Drª Granger?


Por um longo momento, as duas mulheres ficaram se olhando silenciosamente cada uma de um lado do corpo à frente delas. Finalmente Hermione levantou a capa, chamando Quinn. –Venha, vamos encontrar Harry. Vamos nos preocupar com resto depois.




-Shh... Consegue ver alguma coisa?


Quinn vagarosamente olhou pelo canto da porta. –Um guarda.


-Está vendo Harry?


Outra olhada. –Sim. Cela do outro lado.


-Como ele está? Parece bem?


-Depois. Vamos nos preocupar com o guarda primeiro.


-Deixe comigo. – Hermione levantou a varinha e as duas se esgueiraram simultaneamente no corredor longo e estreito até que estavam a mais ou menos meio metro de distância. Hermione esticou a varinha e estupurou o guarda antes mesmo dele perceber que estavam ali. –Accio! – sussurrou, apontando para o bolso dele com a varinha. Uma grande chave dourada voou da capa dele para sua mão.


Quinn a segurou com força pelo braço. –Agora, tenha calma. Não queremos causar confusão e alertar todo o prédio. E você também não quer alarmar Harry. Ele já teve choques demais hoje. Apenas vá com calma.


Hermione concordou com a cabeça. Andaram calmamente até a porta da cela de Harry. Por um momento, Hermione apenas ficou de pé olhando pra ele, lágrimas surgindo nos olhos dela. Ele estava de joelhos no chão no meio da cela, curvado numa bola com a cabeça repousando no chão e os braços ao redor da barriga. Depois de alguns segundos, o peito dele relaxava num claro reflexo de uma dor intensa. Hermione enfiou a chave na fechadura e porta inteira da cela brilhou e depois se abriu. A cabeça de Harry se ergueu rapidamente enquanto a porta abria e depois fechava novamente, pelo que parecia sozinha.


Hermione se preparou e então tirou a capa. Os olhos de Harry se estreitaram até fendas raivosas; deu uma respirada cortante e recuou tropeçando até se encostar no outro canto, pressionando os pés contra a parede e olhando pra ela. Hermione tentou não olhar pro sangue que manchava as roupas dele.


-Harry – falou suave, dando um passo pra frente e esticando a mão. Ele tentou recuar mais, porem não podia.


-Quanto mais acha que posso suportar? – ele disse através dos dentes cerrados, a raiva claramente presente em suas palavras.


Ela piscou para que as lágrimas não caíssem e deu outro passo na direção dele. Quinn ficou bem pra trás, sem querer complicar ainda mais as coisas. –Querido... Sou eu. Hermione.


Ele balançou a cabeça uma vez, enfaticamente. –Hermione está morta. – disse numa voz monótona, sem vida. Doía nela ouvir isso. –É um truque. Outro truque. O que mais você quer? – resmungou, como se pudesse falar com Allegra através dela. –Tirou a última coisa que eu amava. Não pode se satisfazer com isso?


Hermione retorceu um pouco o rosto, mas continuou a avançar em sua direção. Ele estava se segurando por uma linha muito fina. –Harry, apenas relaxe. Sei o que passou nas últimas horas... Porque sei o que eu passaria se fosse comigo. Apenas ouça minha voz. Quinn e eu viemos aqui procurar você. Ouvi seu grito. Vi o corpo. – disse, falando clara e deliberadamente. –A mulher que ela matou. Usou um glamour para fazer com que se parecesse comigo. –As sobrancelhas de Harry remexeram e ele franziu a testa, as palavras penetrando na máscara de choque que ainda persistia no rosto dele. –Ela matou uma desconhecida disfarçada de mim. Queria que você pensasse que eu estou morta. – durante este discurso ela vinha se aproximando até que parou bem na frente dele. –Mas Harry, eu não estou morta. Estou bem aqui, estou bem. – Harry piscou pra ela; podia ver que ele queria acreditar, mas não tinha certeza que não era outro esquema cruel de Allegra e não queria se arriscar.


-Como posso saber? – murmurou, a fúria anterior evaporando e deixando apenas uma tristeza nua em seu lugar.


-Você vai saber. – ela esticou o braço e segurou uma das mãos dele. –Olhe pra mim. Apenas se deixe acreditar. – pressionou a mão no lado esquerdo de seu peito, cobrindo-a com suas duas. –Sinta as batidas de meu coração. Saiba que sou eu. – levantou uma das mãos e colocou no rosto dele. Ele contorceu o rosto, mas não se afastou. –É verdade. Ela não pode te enganar com uma impostora, porque você me conhece melhor que qualquer pessoa no mundo. Disse que me amava. Se realmente me ama, então deve saber mais que apenas minha voz e meu vinho preferido. Conhece minha alma, e a conhece como nenhuma outra além da minha. – abaixou sua mão do rosto para o peito dele, sentindo a batida rápida de seu coração sob a pele. Ele a olhou nos olhos e ela pôde ver esperança neles. Apenas aguardou, sabendo que sentiria a verdade por si só.


A mão livre dele se ergueu para tocar o rosto dela com hesitantes pontas de dedos... Mas assim que roçaram na pele ele puxou a mão como se a bochecha dela queimasse. Ela sorriu encorajando e ele tocou a face dela novamente. –Não estou vendo coisas, estou?


-Não. Eu sou real. – os olhos dele se fecharam e deu um suspiro do fundo do peito. Hermione não podia mais suportar. Jogou os braços ao redor do pescoço dele e puxou sua cabeça contra seu ombro. Harry ficou assim tenso por um momento, depois sentiu seu corpo relaxar e a apertou contra seu peito, enlaçando os braços ao redor dela tão forte que ela podia sentir as costelas gemendo em protesto, mas não se importava. Ele tremia como uma folha ao vento. Hermione acariciou a nuca dele com uma mão. –Shh – ela sussurrou. –Está tudo bem. – ela nunca esperava estar confortando-o assim.


Ele recuou, segurou a cabeça dela entre as mãos e começou a dar beijos por todo seu rosto. Ela ficou parada e o deixou, segurando os antebraços dele. Ele a abraçou novamente, mais apertando que antes, uma mão acariciando os cabelos. Ele a folgou para que pudesse olhar seu rosto. –Quando te vi de pé ali tive certeza que estava maluco. –disse, a voz rouca. –Eu vi enquanto ela enfiava uma espada em suas costas.


Hermione fechou os olhos, horrorizada. –Deve ter sido horrível.


-Não tem idéia. Foi como se alguém tivesse me virado pelo avesso. –se inclinou para frente até que suas testas se tocaram. –Ela queria que me rendesse, e eu teria me rendido. Não me restava nada quando me tirou você. Não me importava o que aconteceria com o mundo se ela conseguisse me submeter à passagem. – suspirou. –Me senti... Me senti fraco e sozinho e assustado. – olhou-a nos olhos e ela viu que estes sentimentos ainda estavam lá.


-Foi assim que me senti quando percebi que ela tinha te levado – disse, alisando os cabelos bagunçados dele, tirando-o da sobrancelha. Ela o apertou mais uma vez e o beijou firmemente. –Tudo bem. Está pronto pra retornar sua mente pra tarefa adiante?


Ele sorriu. –Me dê um segundo. Sinto como se tivesse corrido uma maratona. – envolveu-a em seus braços mais uma vez, repousando a bochecha contra o cabelo e a segurou por um longo momento. Suas mãos passaram pelas costas e ombros dela como se testasse se era real. Finalmente recuou. –Certo. Estou pronto.


Quinn avançou e ficou ao lado deles. –Acho que Persephone não vai conseguir nos encontrar aqui.


Harry procurou algo em sua capa. –Ela já veio e já foi, na verdade. Trouxe a resposta da bibliotecária... Lamento, não estava com a cabeça muito boa pra olhar. – abriu o envelope.


Hermione olhou em volta ansiosa. –Não devíamos sair daqui?


Harry balançou a cabeça que não. –Acredito que não, é mais difícil sermos pegos aqui. Se começarmos a vagar pelos corredores logo encontraríamos alguém, mas até que alguém decida me visitar, estamos a salvo aqui. – abriu a carta da bibliotecária. –Prezado Roman – começou a ler.


-Quem é Roman? – Hermione disse, franzindo a testa.


Harry olhou pra ela, meio sem jeito. –Hã... esse é meu codinome.


Quinn e Hermione trocaram um olhar divertido. –Ainda estou esperando pra aprender o aperto de mão secreto. – Hermione disse.


-Posso ler isso, por favor? – limpou a garganta e continuou. –Ela disse "Estou muito curiosa sobre onde recebeu esse feitiço que me enviou e quem poderia tê-lo te mandando durante seus ataques. Ninguém deveria conhecê-lo. É um artefato dos Progenitores, os primeiros humanos a expressarem poderes mágicos e se tornarem bruxos. Não está nos livros de feitiços, pois não pode ser preservado... Desaparece de qualquer lugar onde esteja escrito em 48horas. Eu o copiei pra você para que tivesse tempo de estudá-lo."


-Interessante – Hermione murmurou. –È uma maneira de se impedir que um feitiço caia em mãos erradas.


Harry continuou. –É um encanto poderoso, difícil de executar e de controlar. Os dois bruxos que o fazem devem ser opostos de alguma maneira específica, velho e jovem, por exemplo, mas ainda assim ligados. Parentes, ou parceiros Executores ou alguma outra ligação. Precisa de concentração e controle mágico extraordinários para se fazer o feitiço sem se machucar. Se feito corretamente, esse feitiço impedirá que qualquer inimigo dentro do alcance visual ou vocal de quem usa essa magia de fazer mal a qualquer um.


-Permanentemente? – Hermione perguntou, surpresa. Feitiços de impedimento eram extremamente cheios de truques e difíceis. Até o mais eficaz tinha efeito temporário.


-Não – Harry disse, olhando o resto da carta. –Ela diz que o efeito não é permanente, mas sua duração depende da ligação entre os dois bruxos que estão fazendo o feitiço. Ainda assim, qualquer meio de se atingir vários bruxos de uma vez só é uma vantagem. – guardou o papel e olhou pra ela. –Acha que conseguiríamos?


Ela levantou uma sobrancelha. –Você e eu?


-Somos opostos. Homem e mulher. E diria que somos fortemente ligados.


-Como o feitiço é feito?


Ele vasculhou as páginas onde a bibliotecária copiou o feitiço. –O encanto está em estrofes que devem ser falados simultaneamente por cada bruxo. Depois das três estrofes, os dois bruxos se dão as mãos e dizem a quarta estrofe juntos. É isso. – ele entregou o feitiço a ela.


-Vai precisar de uma cópia também para que possamos aprender.


-Eu já sei – ele disse. –Veio de minha cabeça, se lembra? Agora que já lembrei uma vez, parece que não consigo esquecer.


Ela abaixou os olhos para o feitiço, lendo em voz baixa as palavras para si. Depois de algumas repetições, entregou o pergaminho de volta a Harry. –Certo, decorei.


Harry não a questionou, conhecendo muito bem a habilidade dela pra decorar coisas. Dobrou o bilhete da bibliotecária e colocou em um dos bolsos da parte interna da capa. –Certo, vamos lá.


-Onde estamos indo? – Quinn perguntou.


Harry mordeu o lábio. –Devemos tentar encontrar o centro de controle para que o feitiço neutralize o máximo deles possível.


-Como vamos fazer isso? – Hermione perguntou. –Não vão apenas ficar parados e nos deixar dizer todas essas estrofes.


Harry pensou por um momento. –Vamos ficar embaixo da capa da invisibilidade e sussurrar as palavras do feitiço. Com sorte, eles não vão saber que estamos lá até que tenhamos terminado. Depois que estiverem neutralizados vamos precisar estuporá-los rapidamente para que não tenham chance de escapar... Não vão poder usar magia contra a gente, mas ainda vão poder nos bater se não tivermos cuidado. Vamos aparatar todos eles de volta pra DI e deixar que cuidem de tudo.


-Parece tão fácil.


-Sempre parece. – Harry disse. –Por alguma razão, nunca é. – apertou a mão de Hermione e fez um gesto com a cabeça na direção de Quinn. –Vamos.


Viraram para porta da cela. O guarda ainda estava nocauteado. Harry ficou ao lado das barras e ouviu por um momento. –Não ouço ninguém no corredor. Parece que está limpo.


Ele abriu a porta da cela e depois parou. –Qual o problema? – Hermione disse.


Os olhos dele iam de um lado para o outro como se procurasse alguma coisa. –Não sei. Tive a impressão de ter sentido alguma coisa. – Hermione ficou perfeitamente parada e tensa, mas seus ouvidos não captavam nada alem de silêncio. O corredor parecia estar vazio, exceto pelo guarda adormecido.


Quinn olhava através das grades com os olhos estreitados. –Estou com uma sensação ruim.


-Eu também – Harry concordou. O ar no corredor do lado de fora da cela de repente começou a brilhar como o espaço logo acima de uma estrada quente. Harry recuou, empurrando Hermione para trás de si. A cor começou a aparecer no brilho e em alguns segundos, Allegra estava na frente deles, cercada por meia dúzia de seus bruxos seguidores. Ela sorriu para ele.


-Ah, a cara que você fez, Harry. Sempre acha que é o único que consegue ficar invisível. –A expressão dela ficou muito azeda quando viu Hermione ali. –Ah, é você.


-Viva e muito bem, obrigada – Hermione disse furiosa.


-Espero que esteja feliz, arruinou uma mentira meticulosamente planejada.


-Por que? – Harry disse pelos dentes cerrados. –Pra que, além de seu próprio divertimento?


Ela balançou a cabeça pra ele. –Não me divirto com o sofrimento. Só não me preocupo com ele. E pra que, bem acho que isso é obvio. Poderia concordar em se submeter, mas nunca o faria. Queria te desesperançar tanto que daria boas-vindas à morte. Que jeito melhor?


-Como sabia que nosso relacionamento mudou? – Harry perguntou.


-Tenho minhas fontes. Agora, de volta pra sua cela. – ela estendeu a varinha e a chave da porta voou da mão de Hermione pra ser segura facilmente pelas mãos enluvadas de Allegra. –Não vai a lugar nenhum. E qualquer que seja o feitiço que está planejando usar em mim, não vai funcionar enquanto estiverem aqui. As celas são protegidas por um campo anti-feitiços. – Harry suspirou e recuou. –Logo voltarei pra Filadélfia e pegarei as tábulas.


-Agora que sei que Hermione está viva, não há jeito de me submeter por vontade.


-Vou dar um jeito nisso. – colocou as mãos na cintura. –Mesmo que a passagem não funcione, vai ser uma vitória suficiente te matar. – ela avançou na direção dele, um ódio brilhante queimando em seus frios olhos azuis. Harry recuou, totalmente ciente de sua vulnerabilidade numa cela onde estava sem ajuda mágica e em relação de seis pra um. –Seu tipo representa uma ameaça significante para nós. Voldemort sabia e tentou te eliminar assim que nasceu, e todos sabemos como isso acabou. Deixa meu mestre, e na verdade eu também, muito nervoso ter um bruxo como você andando livre por aí.


-Do que ela está falando? – Hermione sussurrou atrás do ombro dele.


Ela sorriu. –Olha só, você não contou a ela. Acho que não contou a ninguém, contou? Acho que alguém vai ter muito o que explicar depois. – suspirou. –Já que temos um tempo pra matar, tem uma pessoa aqui que queria que conhecessem. – deu um passo pro lado e deixou que uma figura avançasse, uma que até agora tinha ficado nas sombras. Ele veio até a porta da cela e a luz cobriu seu rosto. Era Geraldo.


Hermione ofegou chocada e tentou correr pra frente. Harry a segurou pelos braços e a segurou pra trás. –Você! – ela gritou. –Quem é você? QUEM É VOCÊ? – Harry segurou pelos dois braços, logo acima dos cotovelos, e a manteve contra seu peito; ela lutou contra ele, numa tentativa de alcançar Geraldo e talvez arrancar fisicamente a mascara de seu rosto se pudesse.


Geraldo avançou para olhar pro rosto vermelho de raiva dela. –Parece tão decepcionada, Hermione. Não nos divertimos quando estávamos juntos?


Ela parou de lutar e apenas olhou firme pra ele, respirando forte. –Só queria saber com quem passei um tempo divertido.


Geraldo olhou pra Allegra. –O que acha?


Ela deu de ombros. –Não pode mais importar.


Geraldo virou novamente para Harry e Hermione, Quinn olhando do fundo, todos os três o observando com a respiração presa. A expressão de Geraldo não mudou quando um rasgo se iniciou na parte de cima de sua cabeça e passou por todo seu corpo enquanto ele deixava o glamour se dissipar. Ao ver sua verdadeira aparência, Hermione se apoiou contra o peito de Harry, um grito apertado saindo de sua garganta. Podia sentir Harry ficar tenso atrás de si, seus dedos apertando um de seus braços até quase doer. –Oh...meu..DEUS! – ela gritou ao ver o homem desmascarado.


Era Draco Malfoy.


Ele parecia... Mais forte. Como se estivesse no mundo há muito tempo, tendo muito pouco do conforto de um lar. Era da altura de Harry, mas muito esguio e cheio de músculos desenvolvidos. Usava jeans preto de cintura baixa, botas de solado grossas e uma camiseta roxa. Uma corrente grossa presa em seu cinto fazia um arco sobre sua perna e desaparecia no bolso; veias proeminentes apareciam sob a pele dos antebraços. Um porta-balas de couro estava sobre o peito, a varinha em um dos buracos perto do esterno. A pele antigamente alva, agora estava escurecida por um bronzeado e seu rosto estava estreito e anguloso com bochechas murchas e uma boca com ar cruel. Seus olhos eram como pedaços de gelo cinza, dando um firme olhar. Seu traço mais marcante, entretanto, era o cabelo. Tinha escurecido do platinado que era para um loiro escuro e estava abaixo dos ombros, torcidos em centenas de pequenas tranças, cada uma finalizada por pequenas contas negras brilhantes. Ele ficou parado esperando as reações, parecendo nada mais que um completo bandido.


Harry olhava pra ele em puro choque. Devagar, deliberadamente, soltou os braços de Hermione e avançou até ficar de frente ao antigo inimigo, que acreditara estar morto. Por um momento eterno, olhou pra ele, mas tinha que fazer alguma coisa, mesmo que não fizesse diferença agora. Harry se inclinou para trás e deu um murro no queixo de Draco o mais forte que pôde, o que era muito forte. A cabeça de Draco foi para trás, mas ele nem cambaleou. Olhou de volta para Harry, um sorriso irônico em seu rosto e um pequeno fio de sangue escorrendo do canto da boca. –Queria fazer isso há uns quinze anos, não é, Potter? – sua voz estava grave, como se em algum momento tivesse exercitado a laringe até engrossá-la.


-Draco, seu bastardo! – Hermione disse, avançando. –Se divertiu? Espero que tenha se divertido se fingindo de Geraldo.


-Ele era um completo chato, na verdade – disse, relaxado, olhando as unhas. Sorriu pra ela, um brilho malicioso aparecendo em seus olhos cinza. –Porém você tem mais energia do que eu poderia prever... especialmente para uma sangue-ruim. – Harry se apressou para frente, como se fosse atacá-lo de novo, mas Hermione o segurou e puxou para trás. Draco olhava de um para o outro. –Bem, olhe você dois. Não é aconchegante? – se aproximou de Harry, -Lembra daquela noite que fui buscá-la pra festa da empresa?


-Como poderia esquecer – Harry disse.


-Você devia ver como estava. Sentado e só desejando todo tipo de dor e morte pra mim. Estava na sua cara. E quando ela desceu as escadas... Você realmente estava linda, falando nisso... Seus olhos quase pularam da cara. Eu já sabia que ela te amava pelo jeito que falava de você incessantemente – ele disse, revirando os olhos ao dizer a última palavra. –Mas só nesse momento percebi que era mútuo. – deu os ombros. –Acho que antes tarde do que nunca. Pena que não terão anos e anos para aproveitar a relação de vocês... Mas vão ter o resto da vida pra passarem juntos. – inclinou a cabeça e olhou atrás deles, um pouco de vida aparecendo em seus olhos pela primeira vez ao fazer isso. –Quinn, vamos. Já fingiu o suficiente.


Harry e Hermione olharam, chocados, enquanto Quinn passava rápido por eles e se apressou até os braços abertos de Draco. Eles se beijaram ardentemente como se estivessem separados há muito tempo... O que, Hermione supôs, era a verdade. –Eu sabia – Hermione disse, sua voz baixa e cheia de uma mistura de tristeza e raiva. –eu só não queria acreditar. Gostava demais de você para acreditar.


Quinn olhou pra eles. –Eu lamento, de verdade. Meu trabalho era só te trazer aqui.


Hermione concordou. –O localizador. Seu conhecimento desse prédio. Minha aparência no falso corpo. Até meu relacionamento com Harry.


Harry falou para Allegra. –Teve acesso direto a minha vida durante meses, primeiro através dele e depois por ela.


Allegra veio pra frente, colocando uma mão sobre o ombro de Draco. –Ele é um soldado valioso. Anos atrás, encenamos a morte dele, de modo que pudesse assumir qualquer identidade que quisesse e ninguém, nem mesmo o Círculo, saberia sua identidade. Ajudando a te entregar pra mim, conquistou sua vida de volta. Pode tomar seu lugar no santuário interno. Talvez possa tomar o lugar do próprio pai... Lúcio não é mais tão útil quanto costumava ser. E a professora Cashdollar ganhou no mínimo uma associação no Círculo. – sorriu para seus protegidos. –Vamos deixá-los sozinhos. – disse, fazendo uma reverência para Harry, que ficou parado envolvendo Hermione com seus braços e com gotas de suor se formando em sua testa. –Da próxima vez que nos falarmos, tudo estará pronto. Se tem alguma coisa a acertar, sugiro que seja agora. – Com um movimento em suas vestes ela desapareceu, seguida por Draco e Quinn, depois pelo resto de seus capangas de vestes. O guarda, que tinha sido reavivado, fechou e selou as portas, deixando Harry e Hermione abraçados no meio da cela.


Ela apertou a camisa dele entre os dedos, sua cabeça rodando em círculos exaustos e chocados. –Draco – ela sussurrou. –Harry, eu dormi com ele.


-Shh. Tente não pensar nisso.


-Não consigo evitar! Parece que vou sair de mim! E Quinn! Meu Deus, Harry, nós confiamos nela! Dissemos tudo! Allegra sabe de tanta cosia! – olhou no rosto dele e viu que ele também tentava controlar a situação e tinha pouco sucesso.


-Não podemos confiar em ninguém – ele disse irritado. –Só temos a nós. Espero que seja suficiente.


-Harry... Como vamos sair dessa?


Ele suspirou e a abraçou mais forte. –Não sei. – Depois de uma longa pausa, repetiu num sussurro. –Não sei.

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