Capítulo3: O Paradigma da Ince
No sonho de Hermione, ela estava na Câmara secreta. Na verdade, ela nunca colocara os pés lá... Mas tanto ouvira sobre o assunto de Gina e Harry que certas vezes sentia como se tivesse compartilhado a experiência com eles. Estava em pé num canto, escondida, enquanto Harry enfrentava o basilisco; só que não era o jovem Harry que fazia isso, era o Harry adulto que conhecia, e por algum motivo, o Harry do sonho ainda usava o bigode e cavanhaque que o Harry de verdade havia tirado anos atrás (ele finalmente ficara cansado das piadas de que ele parecia com Mephistopheles). A cobra gigante serpenteou e avançou e Harry fugiu de seu alcance, bramindo a espada cheia de jóias de Godrico Gryffindor, com suas vestes esvoaçando em suas costas. Uma mulher estava deitada inconsciente no chão, mas no lugar de Gina era Cho, vestida em seu uniforme azul e laranja de Quadribol. De repente, o basilisco fixou seus olhos brilhantes em Hermione; ela gritou horrorizada, pois ao invés de ter os olhos amarelos e estreitos do rei das serpentes, o basilisco tinha amigáveis olhos azuis. Enquanto ela olhava, seu longo focinho retraiu e sua pele verde empalideceu… De uma vez, ela olhava para o rosto de Rony Weasley na cabeça da serpente. Hermione esticou a mão para tocar sua bochecha, mas antes que pudesse alcançar, houve um barulho de vento e de metal contra carne, e a cabeça do basilisco caiu. Seu corpo desabou no chão, revelando Harry atrás dele, a espada, pingando sangue, pendurada em uma mão. Ele olhou para a serpente no chão que possuía o rosto de Rony e gritou, a espada caindo no chão.
Hermione acordou assustada com uma camada oleosa de suor desagradável sobre coating todo seu corpo e respirando pela boca. Ela sentou com o corpo trêmulo, puxando o cobertor contra o peito. Sua cabeça latejava cada vez mais... Piscou e olhou a sua volta. O latejar não estava só em sua cabeça, alguém estava na porta da frente, batendo como se estivesse com um martelo.
Hermione jogou as pernas fora da cama e, colocando seu robe por cima dos ombros, abriu a porta de seu quarto e correu para a galeria. Seu quarto era oval e ocupava o segundo andar em uma das três torres da mansão. Ele abria para a galeria do segundo andar, um cômodo comprido, com móveis confortáveis, aberto em um lado onde, olhando para baixo, se via o jardim de inverno recoberto por vidro. O quarto de Laura era do outro lado da galeria; a porta de seu quarto estava aberta e Hermione podia ouvir seus passos descendo rapidamente a curva da escada principal. A porta da ala leste do segundo andar escancarou e Justino, sem camisa, saiu apressado, esfregando os olhos e levantando a calça do pijama. -Queraioséisso? - resmungou. Ouviram Laura abrindo a porta. Hermione desceu as escadas voando, sua camisola de seda flutuando atrás dela.
- Qual é o significado disto, batendo assim na nossa porta no meio da noite? - Laura exigiu, estridente. Hermione ficou ao lado dela. À porta, estava um bruxo alto, molhado da chuva (bedragggled), segurando uma vassoura em uma mão, seu chapéu e capa encharcados pela chuva fria e suja que caia forte do céu noturno. - O que você quer?
-Há uma Dra. Granger aqui? - o mensageiro disse.
Hermione deu um passo à frente, apertando o roupão contra si. -Eu sou a Dr. Granger. - o bruxo lhe entregou um bilhete molhado, deu meia volta sem dizer mais nada, montou sua vassoura e saiu voando. Hermione abriu o bilhete. Justino tinha alcançado o fim das escadas e ele e Laura observavam enquanto Hermione lia a mensagem.
-O que foi? - Laura perguntou, seu tom apressado. Hermione suspirou e amassou o bilhete, apertando com um punho.
-É o Harry - ela disse - ele morreu.
Lupin estava sentado numa cadeira incrivelmente desconfortável, esperando. Era o único que mantinha a compostura com um esforço consciente, e não tinha muita certeza se conseguiria se controlar quando visse Hermione. O corpo de Harry estava numa enfermaria, coberto com um lençol, esperando o exame do legista para determinar a causa exata de sua morte... Claro que não era a enfermaria deles. Assim que a morte foi declarada o circo inteiro foi transferido para um prédio civil com médicos bruxos, então quando seus companheiros de casa chegassem, não veriam os prédios altamente confidenciais e o pessoal clandestino. Argo vira depressa para encontrá-los, preocupada como sempre em manter o segredo sobre a posição de Harry. Lupin já não ligava mais. Nada ali poderia dar uma pista a eles mesmo. Hermione e os outros sabiam que Lupin e Harry trabalhavam juntos às vezes, então a presença dele ali não pareceria estranha. Como se isso importasse agora que Harry se fora. Lupin tinha um pouco de vontade de deixar escapar a verdade para que os amigos de Harry ao menos tivessem o conforto de saber como ele passara os últimos anos de sua vida.
Depois que Harry perdera a consciência no corredor, Lupin e Argo o levitaram até a ala médica onde os médicos começaram a trabalhar nele no mesmo instante, sacando as varinhas e poções e gritando feitiços e instruções uns para os outros. Harry ficou deitado, imóvel e sem responder, sua pele ficando cada vez mais pálida. Os médicos começaram a entrar em pânico quando a respiração dele ficou cada vez mais curta e finalmente parou. Finalmente tentaram a respiração artificial, como os trouxas, mas nada adiantou... o coração dele parou de bater e ele morreu, foi simples assim. Lupin ficou de pé, paralisado no canto enquanto os observava colocando o lençol sobre o rosto sem vida de Harry. Argo havia saido apressada do quarto para despachar um mensageiro para a casa de Harry, sem confiar essa notícia a uma coruja interceptável. Irritava Lupin saber que, mesmo presenciando a morte de um amigo, seu primeiro pensamento ainda era manter os segredos, apesar de entender porque ela se sentia assim. Quando a noticia de que Harry estava morto se espalhasse, a tristeza coletiva que seguiu a morte de Dumbledore pareceria um piquenique no parque.
Vozes alteradas no corredor o tiraram de sua cadeira enquanto a porta se abria e Hermione entrava dando passos largos, encapuzada em uma atitude agressiva e de liderança e com uma expressão imparcial. Logo atrás estavam mais duas pessoas que dividiam a casa com Harry, parecendo chocados e cheios de tristeza.
Hermione parecia apenas impaciente e nem um pouco surpresa em ver Lupin ali. -Remo - ela disse -Onde ele está?
-Hermione...
-Preciso vê-lo. Agora. - seu tom era de que não aceitaria um não.
-Não tenho certeza se é... - começou Pfaffenroth.
-Vocês não entendem - Hermione continuou seca -Quem quer que você seja e qualquer que seja o poder que acha que tem aqui, você vai me levar até o corpo dele imediatamente ou então "lamentar" vai ser o mínimo que você vai sentir.
Argo parou por um momento e deu um passo para o lado, deixando Hermione passar. Ela voltou a dar passadas rápidas e largas, mal esperando alguém lhe indicar o caminho.
O grupo chegou na enfermaria, mas a cena emocional, cheia de lágrimas que Lupin estava temendo não aconteceu. Ao invés de entrar em colapso ao ver o corpo enrolado no lençol, Hermione apenas parou por um momento e depois continuou andando até ele, puxando o lençol de uma vez só. Os outros, chocados, ficaram na porta. Hermione se curvou sobre o corpo de Harry, colocando a orelha sobre sua cabeça, apalpando seus ombros com as pontas dos dedos… Lupin percebeu que ela o estava examinando por algum motivo. -Hermione, o que é isso tudo? - perguntou, dando um passo à frente.
Ela abriu uma das pálpebras dele e olhou lá dentro, sem indicar que tivesse ouvido Lupin. Laura se aproximou pelo outro lado da cama, suas lágrimas escorrendo livremente. -Herm, ele se foi. Não faça isso consigo mesma.
-Deixe que ela olhe, se é o que ela precisa -Justino disse.
-Não pode ser saudável - Laura falou ríspida. -É melhor deixar qualquer investigação para os peritos.
Justino se virou para Lupin. - O que aconteceu?
-Não sei. Num minuto ele estava bem, no outro estava apertando a testa, sentindo muita dor e depois apenas desmaiou.
-Alguma idéia do que pode ter causado?
-Ele não está morto - essas quatro simples palavras, as primeiras que Hermione dissera desde que entrara na enfermaria, acabou eficazmente com todas as outras conversas.
Lupin apenas olhou para - Como é?
-Ah, você me ouviu! Ele não está morto, Remo. Suspeitava disso, por isso precisava vê-lo. Foi preparado para enganar qualquer um que olhe, mesmo médicos, a não ser que saibam o que procurar.
-Do que está falando? - Laura disse. - Olhe pra ele! Está morto!
-Não Laura. Ele está num estado hipossomático necrominético auto-induzido – Ela olhou a sua volta nos rostos deles, todos com uma expressão quase idêntica de choque.
-Como é? - Justino disse.
- Um estado hipossomático necrominético auto-induzido. É um tipo de transe. Sei disso porque o ajudei a escrever o feitiço que causa esse estado. É uma defesa mágica contra ataques mentais. Se a mente dele for exposta a uma mágica poderosa o suficiente para causar algum dano, o feitiço entra em ação automaticamente e o cérebro e corpo dele funcionam meio que de uma forma restrita até que o perigo passe. - ela se curvou sobre ele. - Ele vai sair dessa sozinho em algum momento, mas posso acordá-lo agora. - ela puxou um banco para o lado da cama e puxou a varinha.
Os quatro observadores ficaram em silêncio enquanto olhavam Hermione pôr uma mão sobre a testa de Harry e colocar a varinha sobre o peito dele, movendo-a devagar, em pequenos números oito. Ela olhou para o vazio, para um ponto na parede oposta, seus olhos se estreitando enquanto se concentrava, murmurando baixinho. Sua varinha começou a deixar um rastro de luz amarela e quente, enquanto a sacudia no ar, olhou para Harry. Abaixou a varinha até a pele dele, continuando a fazer oitos sobre seu corpo; as linhas brilhantes entraram na carne e se espalharam, iluminando-o com um brilho quente. Pequenos pontos de energia apareceram no ar em volta deles e foram sugados até a varinha de Hermione, de onde flutuaram até Harry, aumentando em número e velocidade até que em poucos momentos tinham se transformado em uma enchente de luz, correndo do espaço em volta deles até o corpo. Hermione parecia desgastada, respirava rápido enquanto o brilho desaparecia.
Ninguém se mexia, prendiam a respiração esperando que algo acontecesse. Hermione levantou a cabeça e tirou a varinha do peito de Harry. -Acorde, Harry. - disse baixinho. Obediente, o peito dele levantou e ele respirou fundo, a cor voltando a sua pele. Hermione suspirou aliviada, guardou a varinha e tirou a mão da testa de Harry. A cicatriz dele estava vermelho escuro, destacando-se no meio da pele pálida que a circundava. Os outros se aproximaram, maravilhados. O pulso batia na base do pescoço dele, e enquanto observavam, as pálpebras dele se mexeram e ele abriu os olhos.
-Minha nossa - Justino falou.
-Pode me ouvir? - Hermione perguntou a Harry, sua voz baixa e calma. Ele balançou a cabeça que sim devagar, seu olhar entrando em foco. -Sabe seu nome? - ela perguntou.
Ele engoliu. -Potter... - falou rouco. Limpou a garganta, e quando falou novamente parecia muito mais consigo mesmo. -Potter, Harry Tiago.
-Certo. Sabe quem sou eu?
Um pequeno sorriso chegou aos seus lábios. - Hermione. - ele virou a cabeça um pouco e olhou para ela. -Acho que funcionou.
-Claro que funcionou, seu lerdo.
Laura se endireitou e olhou para Lupin e Argo. -Certo, agora quero algumas respostas. Quem são vocês e como isso aconteceu? Quer dizer... - ela continuaria, mas Justino a segurou pelo braço. - Justino! Isso é ridículo! Ele não estão nos dizendo nada, devíamos...
-Eu explico mais tarde - ele disse baixinho. Lupin ficou olhando, desconfiado e Justino olhou para Hermione. Eles sabem, ele pensou. Eles sabem do trabalho de Harry, mas Laura não sabe.
-Acho que é melhor deixar o Chefe descansar - ele interferiu, tentando mandar instruções telepaticamente para Pfaffenroth, que nunca tinha funcionado antes e não funcionou nesse momento. Felizmente, ela pareceu concordar e virou para deixar o quarto... ela provavelmente tem mais o que fazer. Ele pensou, depois se repreendeu pelo antipático (porém possivelmente verdadeiro) pensamento.
Hermione sentou no banco. -Vocês podem ir, vou mais tarde. Vou ficar com ele - ela disse. Justino concordou e puxou Laura, protestando o tempo todo, para o corredor. Lupin seguia atrás; a porta se fechou e ele se recostou na parede, alivio tomando seu corpo da cabeça aos pés.
Hermione ajudou Harry se a sentar, colocando travesseiros nas costas dele e conjurou pijamas para que vestisse. Isso feito, sentou em silêncio por um tempo, pensando qual seria a melhor forma de começar essa conversa. Harry não olhava para ela, ela tinha a sensação que ele estava com medo do que poderia ver no rosto dela se olhasse com cuidado.
-Você está bem? - ela finalmente perguntou.
Ele fez que sim com a cabeça. - Estou muito cansado, mas fora isso, bem. Pelo menos sabemos que o feitiço funciona.
-Eu poderia viver sem ter descoberto do jeito mais difícil - ela disse. -Mas acho que o feitiço precisa de alguns ajustes. E se eu não estivesse aqui? Você seria dado como morto e provavelmente seria enterrado vivo antes de sair dessa.
-Não é algo que eu queria experimentar.
-O que te atacou?
Ele balançou a cabeça, olhando pela janela. - Não tenho certeza.
-Lupin disse que a dor começou em sua cicatriz. Isso não acontecia desde... - ela não terminou a declaração, não precisava. Os dois sabiam que a dor na cicatriz era muito comum quando os capangas de Voldemort estavam perto.
-Deve ter sido um mal muito forte para desencadear esse tipo de reação - ele parecia querer falar mais, mas não poderia sem expor o seu segredo. Outro silêncio se prolongou antes que Harry remexesse desconfortável em sua cama. Ela não disse nada, não queria facilitar as coisas para ele. Finalmente, ele respirou fundo e a olhou nos olhos.
-Imagino que você esteja cheia de perguntas - ele disse.
-Como o que?
-Ah, não sei... "o que é esse lugar? Como eu parei aqui? Para onde eu vou quando saio de casa durante dias? O que raios aconteceu com minha antiga Firebolt?"
Ela concordou com a cabeça. -Bem, eu vou pular todas essas perguntinhas e ir direto pra pergunta de dez mil libras, certo? - Harry concordou. Ela respirou fundo e se preparou. -Harry... Você é um espião?
Depois das cento e tantas vezes que se imaginou fazendo essa pergunta a ele, achou que podia esperar qualquer reação possível, mas nunca considerou que poderia não haver nenhuma. Ele apenas ficou sentado, olhando calmamente para ela, as palavras ainda pairando no ar como o cheiro desagradável de pipoca queimada. Finalmente, ele virou um pouco a cabeça e ela pôde ver os músculos do maxilar dele contraindo e descontraindo. Ele voltou a olhar pra ela, um pequeno sorriso sarcástico em seu rosto. -Eu particularmente não gosto desse termo. Preferimos ser chamados de 'bruxos da inteligência'.
Mesmo tendo noventa e nove porcento de certeza que Cho estivesse dizendo a verdade, ouvi-lo dizer teve um efeito estranho em Hermione. Sua última, teimosa e remanescente percepção dele como um garotinho agora se quebrava como um prato de vidro. Antes, ela podia observá-lo crescendo em tamanho, sua voz ficando mais grave, a barba crescendo quando ele não a fazia e seus traços ficando mais quadrados... Mas em algum ponto, na mente dela, ele ainda era o garoto que conhecera no trem, nadando nas roupas velhas de Duda e que não entendia qual era seu lugar no mundo onde ia entrar. O garoto que precisava levar bronca dela por deixar o dever para última hora, que ignorou seus alertas para que não fosse a Hogsmeade escondido, que caminhara bravamente onde outros temiam passar simplesmente porque não sabia como ser um covarde.
Mas esse garoto foi embora... E pela primeira vez, ela tinha certeza disso. Harry era um homem adulto, com responsabilidades de adulto, e provavelmente nem se lembrava como era ter doze anos, quando sua grande preocupação era vencer a Sonserina no quadribol... Mas ele ainda não sabia como ser um covarde.
Agora que seu segredo fora revelado, Harry parecia cansado e extremamente triste, como se tivesse perdido algo muito importante. - Devia saber que não conseguiria esconder de você - ele sussurrou.
-Você conseguiu - ela disse. -Eu não tinha idéia.
Ele franziu a testa -Como você...
-Cho me contou - ela disse, tentando sem sucesso manter a amargura longe de sua voz. A presença não passou despercebida por Harry. Ele se inclinou para frente e a olhou fixamente, muito sério.
-Hermione - ele disse, em tom de bronca. -Por favor, me diga que não acreditou nem por um segundo que eu contaria a ela e esconderia de você.
-E em que mais eu poderia acreditar?
-Você tem idéia de quantas pessoas ela conhece ou com quantos ela namorou no Ministério? Ela pode ter descoberto sozinha... ou descobriu com certeza, porque eu certamente nunca contei a ela. Nunca contei a ninguém.
-Contou a Lupin - ela disse.
Harry sorriu. -Bem, ele trabalha pra mim. Não podia esconder dele.
O queixo de Hermione caiu, e depois ela apenas balançou a cabeça suspirando. -Ah, Harry. Há tanta coisa que não sei sobre sua vida.
Ele apoiou as costas, balançando a cabeça em concordância. -Eu sei, e lamento muito. Mas agora acabou. Agora que você sabe, deve saber de tudo. Qualquer coisa que queira me perguntar, prometo dizer a verdade.
Hermione pensou por um momento. Depois de dias pensando e confusa, de repente estar em frente a respostas para todas as perguntas que tinha era um pouco desconcertante... Não tinha certeza por onde começar. -Então... Você é mesmo um espião? -ela conseguiu dizer.
Harry não pareceu ligar para repetição, nem corrigiu o termo usado pela segunda vez. -Certo. Trabalho pra Divisão de Inteligência da Federação Internacional de Bruxos.
-Não é para o Ministério?
-Não. Eles não fazem muita espionagem. Estão muito ocupados nos escondendo dos trouxas para se preocupar com o que acontece em segredo no mundo mágico.
-Quem você espiona? Outros bruxos?
-De certa forma. Noventa por certo do que fazemos envolve manter as forças das trevas sob controle. Passo a maior parte do tempo procurando por atividades de magia negra e bruxos que tenham passado pro outro lado. Quando os encontro, dou um jeito neles.
Ela sentiu um frio na espinha. -Dá um jeito neles? Como exatamente?
Ele se remexeu na cama. -Está perguntando se já matei alguém - ela hesitou e depois fez que sim. -Sim, já matei. - ele disse, olhando diretamente para ela. -Mas só quando não pude evitar. Minha principal preocupação é impedir que os praticantes de magia negra se organizem numa força que possa ser uma verdadeira ameaça. Quando encontro um bruxo das trevas, primeiro tento assustá-lo pra que se afaste disso. Muitos deles apenas são sedentos de poder e inseguros, não precisa muito para fazê-los sair... ao menos temporariamente. Senão eu os rendo e prendo em um lugar onde não possam causar mal algum.
-Em Azkaban?
Harry riu. -Ah, não. Azkaban é apenas para relações públicas e assustar crianças. Quando prendo um bruxo das trevas, ninguém irá encontrá-lo novamente. Por isso temos que ter certeza de que eles não podem ser reabilitados quando os prendemos. - falou. -Mas há vezes em que as coisas não saem como o planejado. Se eles lutam, não tenho escolha a não ser revidar. Se isso acontece... bem, eles geralmente perdem. - ele disse isso sem rastro de culpa, apenas lamentando que já tenha chegado a esse ponto.
Hermione tanto queria quanto não queria continuar esse tópico. Preferiu "não" naquele momento. -Há quanto tempo faz isso? - perguntou baixinho.
Harry desviou o olhar. -Fui recrutado quase um ano depois que nos formamos - o queixo de Hermione caiu. -Eu sei, eu sei...
-Oito anos? - ela exclamou. -Você conseguiu esconder isso de mim por oito anos?
-Não foi fácil, acredite. Não só porque você é inteligente demais pra seu próprio bem...
-Não me elogie, é golpe baixo!
-...Mas também porque eu queria te contar, todos os dias - continuou. -Eu nunca escondi nada de você antes, e tinha horas que minha carreira não parecia real. Como poderia ser, se você não sabia sobre ela? - Hermione suspirou um pouco mais calma. -Lembra do nosso primeiro apartamento?
-Como poderia esquecer aquela coisa de quatro andares... Mas era um bom lugar. O jardim do terraço fazia a subida quase valer a pena.
-Naquele primeiro ano quase fiquei louco. Tive tantas ofertas de emprego que não conseguia organizá-las e não tinha idéia do que queria fazer. E o pior era que nenhuma daquelas ofertas tinham a ver comigo ou minhas qualificações... todos só queriam meu nome e a maldita cicatriz. Então, um dia, enquanto você estava na escola recebi uma visita...
Harry se levantou e, espreguiçou. A parte de trás de seu pescoço estava quente do sol. Poderia ter usado um feitiço para regar o jardim, mas isso teria sido rápido demais... qualquer coisa pra ocupar seu tempo era bem-vinda esses dias. Ele virou pra descer e lavar as mãos, e então gritou assustado.
Logo atrás dele estava uma mulher. Tinha altura mediana com cabelos lisos para trás e um rosto forte, sem expressões. Ela estava apenas olhando pra ele. Não tinha idéia de há quanto tempo ela estava ali. - Santo Deus! - exclamou. -Você me assustou!
-Você é Harry T. Potter? - ela perguntou, calma como se estivessem se encontrado num parque.
-Hã... sim.
Ela estreitou os olhos e o observou mais cuidadosamente. -Tem alguma identificação? - sem dizer nada, Harry levantou sua franja e mostrou sua cicatriz. A mulher olhou para ela com uma sobrancelha levantada. - Isso deve ter doído. Como conseguiu?
Harry apenas piscou, completamente abismado, e deixou seu cabelo cair novamente sobre sua testa. -Você não... - limpou a garganta. -Você não sabe quem eu sou?
-Bem, se você for Harry T. Potter, então sim, eu sei. Por quê, essa cicatriz deveria significar algo pra mim?
-Significa pra maioria das pessoas. Eu sou... - ele hesitou novamente, não estando acostumado a explicar isso. -Eu sou famoso dentre os bruxos.
-É mesmo? Não saio muito. E tento manter o menor contato possível com os bruxos comuns.
Harry sorriu, gostando disso. -É um prazer te conhecer. - ele disse, realmente sentindo isso. Ele tentou e não conseguiu se lembrar quando tinha conhecido um bruxo que não sabia quem ele era. Mesmo Hermione, nascida-trouxa, já tinha lido sobre ele em seus livros. -Então, quem é você?
-Meu nome é Pfaffenroth. Vim te oferecer um emprego.
-Que tipo de emprego? - ele ainda não tinha ouvido nada sobre a oferta e já era mais intrigante que qualquer outra que estivesse lá embaixo.
A mulher limpou a garganta e começou a andar de um lado para o outro devagar, as mãos atrás das costas, numa forma bastante profissional. -Trabalho para a Federação Internacional de Bruxos. Sou chefe da Divisão de Inteligência.
-Inteligência?
-Isso mesmo.
-Como assim, igual a 007? - ela apenas o olhou, aparentemente sem entender a referência. Harry reformulou. -Espiões?
-Preferimos nos chamar de 'bruxos da inteligência'. Tenho uma vaga no Departamento de Contra-Inteligência e Operações Secretas. Interessado?
Harry sentou na ponta do telhado, surpreso. -Você quer que eu seja um es... bruxo da inteligência, é isso? Bem, isso com certeza é novidade. - olhou-a. -Se não sabia quem sou, por que veio me procurar?
Ela enfiou a mão no bolso e puxou um cartão, mostrando a ele. Ele pegou e viu que era uma carta de tarot. O Rei de Copas, mais precisamente. Virou-a... nas costas estava escrito, com uma letra bem feita e em tinta preta, o nome dele. -O que é isso?
-É uma carta do nosso baralho de tarot encantado que mantém listado os bruxos que têm aptidão para nosso tipo de trabalho. Acredito que um instrumento semelhante controla as admissões de Hogwarts, uma pena que registra o nome de todas crianças nascidas com poderes mágicos. Esse baralho vem do mesmo adivinho que encantou a pena. Quando preciso recrutar um novo agente, pego o baralho e faço uma leitura. Uma das cartas sempre tem um nome escrito. Ontem, o baralho me deu seu nome.
-E então você veio até aqui, sem saber nada sobre mim?
-O baralho nunca me guiou de forma errada antes. Eu mesma fui escolhida por ele, anos atrás.
-Então não tenho escolha, é isso?
-Claro que tem uma escolha. Isso não é uma ordem direta. Tem o direito de recusar, sem conseqüências. Uma pessoa tem que querer fazer esse trabalho para ter sucesso. É difícil, cansativo e perigoso. Não quero você se não tiver inclinação. Sei que tem talento. Tem idéia do por que do baralho ter te selecionado?
-Bem, sim! Derrotei Voldemort ano passado!
Pfaffenroth fez que sim com a cabeça. -Ah, foi você? Sou horrível com nomes. Tenho certeza que já devo ter ouvido o seu uma vez ou outra. Bem, então foi por isso.
Ele olhou para ela. -Qual a pegadinha?
-Sem pegadinhas. Se estiver interessado, venha a esse endereço amanhã de manhã. - disse, entregando um cartão a ele. -Vai ser integrado imediatamente e seu treinamento começará. Pode manter sua ocupação secreta, mas não é uma exigência. Muitos de nossos agentes preferem fazer isso, para não por em risco família e amigos. - ela lhe ofereceu um pequeno e rápido sorriso. -Espero te ver amanhã. - e se foi, aparatando num piscar de olhos.
-Então você aceitou o emprego por que Pfaffenroth não tinha ouvido falar de você?
-Não exatamente. Admito que foi um alívio ser escolhido porque era capaz pro trabalho e não porque meu nome é Harry Potter. E achei a possibilidade intrigante. Me dei bem em Hogwarts, mas sempre achei que minhas únicas habilidades eram quadribol e lutar contra o mal. Se podia ganhar dinheiro com uma delas, fiquei feliz com a oportunidade.
-Não acredito que ela não sabia quem você era. Um espião que não sabia quem derrotou Voldemort?
- Descobri depois que Argo na verdade faz parte da administração. Ela não faz trabalhos de campo há alguns anos. Quando disse ao pessoal da Estratégia que ela não sabia, eles apenas começaram a rir. Estavam me vigiando há tempos. Tinham milhares de perguntas sobre Voldemort.
-Lupin te chamou de "Chefe"... você é o chefe?
-Não sou o chefe, mas um chefe. Parece que Argo tinha razão, sou muito bom nesse trabalho, tão bom que três anos atrás fui nomeado "Chefe Bruxo da Contra-Inteligência e Operações Secretas". Temos seis departamentos, cada um com seu bruxo chefe, mas como meu departamento é o maior e mais ativo, posso usar apenas o nome "Chefe". E se algo acontecer a Argo, eu assumo o comando do DI. Quanto a Lupin, bem... o Baralho não o escolheu, fui eu. Uns anos atrás quando estava na Romênia, encontrei com ele Estava trabalhando como caçador de vampiros, mas não achava muitos serviços, ninguém o contratava. Ele estava quase passando fome. Não consegui evitar de lembrar como ele era um bom professor de DCAT e como ele conhecia magia negra, então o ofereci um emprego no meu departamento. Argo não ficou muito feliz, mas ela se animou quando ele salvou a vida de dois outros bruxos em seu primeiro serviço. Ele é muito bom. Fico impressionado que o baralho não o tenha escolhido.
Hermione sorriu. -Fico feliz que tenha feito isso. Sempre me preocupei muito com ele... não é culpa dele ser um lobisomem.
-É uma das coisas que mais me orgulho.
Ela abaixou o olhar para suas mãos. Tinham chegado à pergunta mais difícil. -Harry... por que você nunca me contou?
Ele suspirou. -Não sei se posso explicar.
-Tente.
Ele acenou com a cabeça, parecendo mais cansado que nunca. -Certo. - ele sentou-se ereto e segurou suas mãos entre as dele. - O trabalho que faço provavelmente não é como você está imaginando, todas as perseguições, lugares glamurosos e vitórias gloriosas sobre o mal. Tenho que entrar e penetrar entre o mal e entre aqueles que o servem. É de partir o coração e tem horas que nem me sinto mais eu... horas que nem me sinto mais humano. Mas quando volto pra casa, lembro quem eu sou e por quem luto para proteger, e então me sinto humano novamente. Não podia dizer, porque se você soubesse de meu trabalho, a escuridão contra a qual tenho que lutar todos os dias te tocaria também. Você estaria manchada com tudo que tento esquecer quando vou pra casa. Eu tinha que ser capaz de ter você e os outros olhando pra mim sem saber o tipo de pessoa com quem ando dia após dia em meu trabalho. - ele pausou e olhou para o lençol. - O homem que deu a maior parte de meu treinamento era um bruxo maravilhoso e muito poderoso. O nome dele é Eleutherios Mamakos, mas todos o chamávamos de Lefty. Ele me ensinou muitas coisas, mas a mais importante foi que todos precisam de um lugar sagrado, intocado pelas forças negras. - ele a olhou nos olhos. -Você era meu lugar sagrado, Hermione.
Ela piscou, lutando contra as lágrimas, sem conseguir falar, enquanto o olhava nos olhos por alguns segundos... Tempo suficiente para que isso se tornasse desconfortável. Os dois desviaram o olhar. -Harry... Não sei o que dizer... - ele ficou em silêncio, olhando para as mãos unidas dos dois. -Agora que eu descobri, está perdido!
Isso teve uma reação. Ele levantou a cabeça rapidamente, os olhos brilhando. -Não! Nem pense nisso! Estou feliz que tenha descoberto a verdade, feliz! Por mais que precisasse manter minha vida em casa separada de meu trabalho, era horrível ter que mentir o tempo todo, e não poder contar nada do que estava fazendo. Era bom voltar pra casa e ter um ar inocente, mas vai ser melhor poder voltar pra casa e te contar por onde andei e o que estava fazendo! - Hermione sorriu. -Se quer saber a verdade, em algum lugar de minha mente, sempre quis que descobrisse de algum jeito, mesmo sem conseguir te contar diretamente.
-E os outros?
-Cho já sabe, não é mesmo?
-Bem... E Justino meio que sabe também.
-Certo, então são quatro de seis. É melhor contar a Jorge e Laura também. Não faz sentido esconder só deles dois.
-E talvez... - ela parou no meio, incerta. Harry olhou para ela intrigado.
-Talvez o que?
-Talvez a gente possa te ajudar - ela terminou, sem conseguir olhá-lo nos olhos. Harry sorriu.
-O que você quer dizer é que talvez você possa me ajudar.
-Não foi isso que eu disse.
-Não, mas foi o que quis dizer.
-Não me diga o que eu quis ou não dizer, Harry!
Ele continuou, inabalado -Devia ter esperado por essa.
-Por que?
-Porque sim! Você odeia seu emprego, está desiludida com seus estudos e sente que está perdendo tempo, num escritório empoeirado no meio de livros velhos e empoeirados e de pessoas ainda mais empoeiradas.
Hermione ficou olhando pra ele de queixo caído. -Como... Como você sabe disso? Ninguém sabe disso! - ela falou. Era o segredo mais profundo dela, um segredo que mal admitia pra si mesma, quanto mais pra os outros.
-Me dê um pouco de crédito, Hermione, eu trabalho com segredos. Você pode enganar os outros, mas não a mim. Nunca a mim.
Ela levantou abruptamente e foi para a janela, os braços cruzados sobre o peito. -É verdade - ela disse. -Eu odeio aquilo. Estou completamente entediada. E esse era o emprego dos meus sonhos, a carreira que eu sempre quis. Uma vida escolar, de pesquisas e desafios intelectuais - deu uma risada amarga. -Grande piada comigo, não é? Acabou que toda essa vida de estudos e todos os desafios intelectuais não são tão interessantes a não ser que exista algum uso pra eles. - ela virou e olhou pra ele. - Eu sei. Sempre me perguntei porque o Chapéu Seletor me colocou na Grifinória. Esperava ir para a Corvinal.
-Com o resto dos "intelectuais"?
-Exatamente. Bem, agora eu sei que apenas realizações intelectuais não são o suficiente pra mim. E é sua culpa, seu besta! - ela disse, dando um soco no ombro dele. -Você me corrompeu com todas suas aventuras, missões no meio da noite e heroísmo.
-Talvez tenha sido por isso que ele te colocou na Grifinória. Pra você ser corrompida.
Ela suspirou. -Pode me culpar se acho a idéia de te ajudar interessante?
-Não, não a culpo. Só acho que não entende o que exatamente está propondo.
Ela se sentou no canto da cama. -Me esclareça.
Harry colocou os dedos embaixo do nariz e refletiu por um momento. -Quando comecei meu treinamento, Lefty disse pra mim "É o seguinte Potter, lição número um: A primeira coisa que tem que aceitar é que nunca vai ter certeza de nada, nunca mais. O mundo da Inteligência existe dentro de um paradigma da incerteza. É uma norma por aqui. Palpites, evidências circunstanciais, uma dica de terceira mão de uma fonte de segunda categoria... é com esse tipo de fato que lidamos".- ele olhou para ela. -Você pode querer aventura, mas se há uma coisa importante na sua personalidade é que você precisa ter certeza. Precisa ter as respostas certas. Não é algo ruim, mas é uma coisa que nunca vai ter no meu trabalho - ele tirou o lençol, e colocou as pernas no lado da cama, levantando para pegar as roupas de uma pilha num banco ali perto. Hermione não o contrariou... E como podia? Ele estava absolutamente certo. -E mesmo que esse não fosse o caso, eu nunca aceitaria.
Isso, ela podia contestar. -Ah, mesmo? E como exatamente essa decisão seria sua? Como poderia me impedir?
Ele apenas olhou para ela. -Eu poderia te impedir.
-Acredito que eu seja uma mulher adulta.
-Sem nenhuma experiência, sem treinamento e me desculpe por dizer isso, mas sem idéia do que está falando. Não vou te colocar em perigo. Já me coloco em perigo suficiente por nós dois. - ele colocou a camisa e correu a mão pelos cabelos.
Hermione não disse nada. Não tinha certeza de como discutir isso, ou mesmo se queria. Tinha perfeita noção de que o trabalho de Harry era um dos milhares que pareciam mais interessantes do que realmente eram. -Certo, esqueça que falei nisso. Mas realmente acho que vou procurar outro emprego.
-Isso, eu apoio. - ele sorriu pra ela. -Fico feliz que tenha descoberto - disse baixinho. -odeio esconder as coisas de você.
-Vou me lembrar disso da próxima vez que quiser saber quem comeu meu sorvete - os dois riram, então esticaram os braços e se abraçaram. Hermione enlaçou um braço com o de Harry enquanto deixavam o quarto. -Por Deus, Laura e Justino devem estar se perguntando por que demoramos tanto.
-Ah, tenho certeza que eles apenas pensaram que estavamos transando. - disse, relaxado. Hermione parou e o olhou completamente chocada.
-Como é? Por que eles pensariam isso?
Ele a olhou confuso. - Bem... A maior parte das pessoas acham que transamos em períodos mais ou menos regulares. Não sabia disso?
Ela apertou o queixo e colocou as mãos na cintura, numa postura que ele imediatamente identificou como "indignada" -Eu com certeza nunca soube disso! Que cara de pau e que pretensão! Francamente, duas pessoas não podem ter um relacionamento íntimo, não-romântico, sem as pessoas ficarem fazendo insinuações descabidas? Dá pra pensar que esse povo não tem mais o que fazer!
-Na verdade, eles provavelmente não têm. E tem que admitir que não é uma suposição tão descabida. Sendo sincera, o que você pensaria de um homem e uma mulher que moram juntos a oito anos, em plena vida adulta?
-Eu certamente não sairia fazendo suposições descabidas sobre o que eles fazem ou não juntos! Todos sabem que somos amigos e só! Morarmos juntos sempre foi financeira e geograficamente conveniente, e prefiro dividir a casa com você do que com um algum estranho que ache na rua! Sem falar no pequeno detalhe que nós dois namoramos várias pessoas durante esses oito anos!
Eles voltaram a caminhar pelo corredor para o saguão onde seus companheiros de casa os esperavam. -Viu, é exatamente disso que eu estava falando. Você tem que pensar sujo pra ser um espião... Você não duraria dois segundos. Sempre procura a explicação mais bonita para todas as coisas.
Ela suspirou e voltou a andar, uma expressão desapontada em seu rosto. -É, acho que sou a esquisita por confiar tanto.
Harry riu e colocou um braço no ombro dela, seu bom humor renasceu como o sol. -Esquisita você pode ser, mas sabe que te amo do jeito que é.
Ela olhou pra ele. -Viu, são comentários como esse que fazem as pessoas pensarem que estamos transando.
-Ah, deixe que eles falem. Nos deixam mais coloridos, não acha?
-Não precisa de mais cores, Sr. Chefe Bruxo Espião Besta ou como quer que se chame esses dias.
Ele a parou no corredor mais uma vez. -Hermione... Percebe que essa é a primeira vez em meses que temos uma boa discussão?
Ela sorriu. -É mesmo. Espero que eu não esteja sem prática..
-Ah, é como voar numa vassoura. A gente nunca esquece.
Eles seguiram pelo corredor, o vôlei verbal voando como bolas de tênis. Hermione se sentia leve como uma pluma. Esperava se sentir traída, por fora ou alienada quando confrontasse Harry sobre sua vida secreta, mas ela se sentia livre... Como se tivesse seu Harry de volta. Ele por sua vez parecia mais relaxado como há muito tempo não estava, mas o que não tinham discutido ainda estava com eles. As perguntas sobre o que exatamente atacou Harry e o que isso significava pairava sobre suas cabeças como uma negra nuvem de chuva no meio de um céu azul... E quanto a ela, Hermione já tinha decidido que, fosse necessário, mergulharia de cabeça para ajudá-lo. Não importava o que ele dissesse.
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