Não
Capítulo 20: Não
N/A1: Tem uma N/A 2 no final que eu gostaria que lessem ^^ Eu dedico esse capítulo à Dani Sly que sempre tem as reviews mais maravilhosas, à Babi e a Anna por se mostrarem entusiasmadas por cada vez que eu dizia que tinha escrito mais um pouco, à Grazi que além de querer saber o que eu já tinha escrito é minha psicóloga oficial e isso me deu incentivos extras para escrever e ao Bruno que me ajudou numa noite em que particularmente eu estava sem inspiração
"A vida é mais simples do que a gente pensa; basta aceitar o impossível, dispensar o indispensável e suportar o intolerável." (Kathleen Norris)
Draco fechou os punhos e cruzou os braços em frente ao peito. Não sabia se a vontade maior era de abraçá-la ou de esganá-la. Dirigiu um olhar atento de cima abaixo à advobruxa e ao perceber a grande barriga que ela ostentava um brilho de raiva perpassou por seus olhos. Se outrora por algum momento tivesse cogitado ser cortês e perguntar se ela não iria convidá-lo a adentrar a casa, agora queria mandar qualquer sinal de polidez às favas.
Ao ver o Malfoy se aproximar perigosamente de si, a ruiva recuou, receosa. Ele entrou sem cerimônias e bateu a porta atrás de si:
-Finalmente nos reencontramos, Virginia. –ele falou friamente –Pensou que poderia escapar de mim? Pensou que eu era idiota e nunca descobriria o quanto é traiçoeira e falsa moralista?!? –apontou o dedo em riste para ela, que foi cada vez mais recuando, até que caiu sentada no sofá.
-Draco, eu posso explicar... –ela tentou argumentar, mas o loiro não permitiu.
-Você não tem que me explicar nada! Está tudo muito óbvio para mim. Você nunca me amou, sua cretina! Você me enganou, me usou da pior forma possível, brincou com a minha confiança, com os meus sentimentos... –foi dizendo de forma enérgica, mas foi perdendo a força no final por ser delicado tal assunto para ele.
-Não, Draco! Eu te amei e eu te amo! Você tem que acreditar em mim...
-Cale a boca! –exclamou, nervoso, levando uma de suas mãos a envolver o pescoço alvo e delicado dela –Então, foi divertido me fazer de idiota, Virginia? Porque eu acho que nesses sete meses você já teve tempo mais que suficiente para rir de mim. É hora de pagar a sua dívida. Você é culpada e não vai ter julgamento que te salve, advobruxa. Você fez o aborto e fugiu de mim. Fiquei que nem louco atrás de você e você...Já foi abrir as pernas pra outro e ainda me denunciou na imprensa. É só uma questão de tempo pra quererem me meter em Azkaban. Está feliz agora?
Nos olhos de Gina havia uma dose extrema de temor e ao mesmo tempo de confusão. Ele tinha entendido tudo errado...
-Draco...Eu não tenho outro e não fui eu quem te denunciou. –ela relatou, tentando fazer com que ele acreditasse no que ela falava, mas as palavras dela apenas fizeram com que o loiro apertasse com mais força o pescoço dela.
-Mentirosa! –ele acusou –Você está grávida novamente. Quer que eu acredite em cegonha??? Você foi pra cama com outro! Quem é que vive com você nessa casa? Quero saber pra quem você foi abrir as pernas...
A ruiva concentrou-se e juntou toda a sua força em sua mão direita, que desferiu um tapa no lado esquerdo do rosto de Draco. Ele soltou-a e ergueu-se, massageando o local atingido:
-Oh, dói ouvir a verdade, Virginia? Dói saber que é uma vagabunda que não vale o chão que pisa? –falou venenosamente e seus olhos mostravam fúria. Lágrimas brotaram dos olhos castanhos da advobruxa:
-Dói ser acusada injustamente pelo homem que eu amo. –ela respondeu, com uma expressão de profunda tristeza.
-Pára de insistir nisso! Você é uma vadia e eu sou um corno estúpido, essa é a verdade! Mas você sabe que eu não perdôo, Virginia. E eu não vou te perdoar. –garantiu sombriamente, agarrando-a pelos braços e puxando-a do sofá.
-Me solta, Draco! O que você vai fazer?!? –indagou, preocupada.
Draco ignorou a resistência dela e puxou-a para fora da casa. Uma BMW preta estava estacionada em frente à casa:
-Entra no carro. –Draco exigiu, sua voz parecia letalmente calma.
Gina sabia que aquilo significava perigo e que não era uma boa idéia ficar na companhia dele naquele estado, portanto foi tentando ganhar tempo que disse:
-Não. Draco você precisa se acalmar e...
-ENTRA NA PORRA DO CARRO! –ele explodiu e quando ela hesitou, ele mesmo abriu a porta e empurrou-a lá dentro.
Logo em seguida ele entrou do outro lado e deu a partida. Saiu cantando pneu, em alta velocidade. A primeira coisa em que a ruiva pôde pensar foi em colocar o cinto de segurança. A seguir respirou fundo, limpando as lágrimas que insistiam em turvar sua visão e dirigiu-se ao loiro:
-Draco, me escuta. Você está cometendo um erro. Eu não te traí em nenhum dos casos que você está pensando. –tentou chamá-lo à razão.
-Eu não quero ouvir. Você mente. É uma cobra venenosa da pior espécie.
-Olha, eu vou ser sincera com você. Completamente sincera, como eu nunca cheguei a ser com você.
-Finalmente resolve se revelar como é! –um riso de escárnio escapou dos lábios dele.
A advobruxa ignorou o comentário dele:
-No começo, quando eu comecei a trabalhar para você. Eu...realmente estava querendo te entregar para a justiça. Queria te ver apodrecer em Azkaban, admito.
Draco sorriu, um sorriso que não demonstrava felicidade. Era um sorriso de demência, que deformava seus lábios finos querendo dizer que ele estivera certo, que deveria buscar vingança:
-Está ficando interessante. –admitiu -Pode continuar.
-Eu cheguei a escrever um dossiê sobre os crimes que você cometeu. Pretendia usá-lo para te botar atrás das grades. Mas então as coisas mudaram. Eu fui me envolvendo por você, me apaixonando. Ficava com a consciência pesada, comecei a vacilar na minha decisão de te mandar pra Azkaban. E então quando soube que estava grávida...Aquilo foi decisivo. Mais do que nunca eu sabia que não deveria mais cogitar te denunciar com aquele dossiê. Então eu o queimei. Isso foi antes de você me pedir para fazer o aborto.
-Virginia, você admite ter feito o tal dossiê. A denúncia foi sobre a minha relação com o De La Torre. Você era uma das únicas pessoas que sabia disso. Quem além de você poderia ter me delatado?
-Eu não sei! Mas eu não fui! Eu juro que não fui eu, Draco! Pode me dar veritaserum se não acredita na minha palavra.
-Tsc, tsc. Eu não vou cair nessa. Além do mais, ainda tem o fato de você ter ido pra cama com outro. Não tem perdão pra nenhuma das suas duas faltas. –ele disse entredentes e acelerou loucamente o carro.
-DRACO, PÁRA!!! –ela gritou e não surtiu efeito, percebeu então que ele estava dirigindo na direção da falésia –DRACO!!!!!!!!!!!!!!!!!! PÁRA ESSE CARRO! EU TE AMO, EU NÃO FIZ O ABORTO! ESSE FILHO É SEU!!!!
No entanto, era tarde demais. Antes que Draco pudesse contestar as palavras de Virginia o carro despencou da falésia em direção ao mar. A ruiva gritava com toda sua força. Ela não queria morrer, não queria deixar que seu bebê morresse junto com ela. Porém, sabia que era tarde demais, que não havia nada que pudesse fazer, que aquela queda provavelmente a mataria.
Malfoy entrou em estado de transe. As últimas palavras de Gina ecoando em sua mente. Teria mesmo ela não feito o aborto? Estaria ela falando a verdade nos dois casos? A dúvida o corroia e aqueles poucos segundos de queda pareceram uma eternidade para ele.
SPLASH! O carro caiu na água e não tardou a afundar. A água salgada entrava rapidamente no carro e ao sentir a temperatura fria desta, o loiro pareceu acordar de seu transe. Olhou para a mulher ao seu lado. Ela estava desacordada e sangue escorria de um ferimento localizado no canto esquerdo da testa dela. Desespero se apossou do Malfoy. O que é que ele tinha feito? Naquele instante ele soube que por mais que sua mente teimasse em querer duvidar, seu coração tinha a certeza.
A certeza de que aquela era a mulher que ele amava, que o que viveram era verdadeiro e que de forma alguma ele poderia deixá-la morrer. Aquele momento epifânico o fez perceber que Blás estivera certo, o amor não é um sentimento que vai embora de uma hora para outra. Ele a amava, era fato. Pôs-se então a agir, tentando consertar a burrada que havia feito. Àquela altura, apenas a parte perto do teto não tinha sido invadida pela água, o que ele sabia ser questão de segundos para acontecer. Sem mais perder tempo, respirou fundo, tomando todo fôlego que conseguiu, e apertou o botão para soltar o cinto de Gina.
“Mas que inferno! Essa merda não quer soltar!” ele praguejou, ainda tentando abrir “Merlin, por favor, me ajude. Não estou pedindo por mim, mas por ela e o bebê.” O desespero diante da possibilidade de não conseguir assolou-o.
Após mais dois segundos de luta, conseguiu desabotoar o cinto. “Merlin, eu te amo!” pensou, com euforia. Draco pegou sua varinha com uma mão para usá-la caso a porta desse sinal de resistência – ele sabia que não teria fôlego para sempre. Contudo, a porta abriu com relativa facilidade. O loiro agarrou o corpo de Gina da melhor forma que pôde e usou magia para levá-los mais rápido à superfície. Foram segundos de agonia aqueles em que estavam subindo, o loiro estava prestes a não mais agüentar segurar sua respiração.
Foi quando o ar fresco bateu em seu rosto. Ele respirou profundamente. E com toda certeza nunca parecera tão maravilhoso encher os pulmões. A seguir encontrou-se num dilema, sabia que aparatar com uma mulher no final da gestação não era aconselhado. Mas ele pensou que tinha que arriscar, além do mais não seria uma longa aparatação. Ele aparatou dentro da casa da ruiva e a deitou no sofá. Em seguida chamou Hermione Granger pela lareira, a única pessoa em quem ele pensou na hora. A morena prestou os primeiros socorros à Gina, fazendo-a expelir toda água que tinha engolido, no entanto, ela continuava desacordada. Foi levada ao hospital St. Mungus por Hermione e Draco foi atrás.
“Foda-se se a justiça está atrás de mim. A Gina não pode morrer, nem o bebê.” Ele pensou, querendo se assegurar que tudo daria certo.
O loiro ficou na sala de espera e rapidamente ligou para Blás:
-Alô. –o moreno disse do outro lado da linha.
-Blás, sou eu, o Draco. Eu preciso que você venha agora mesmo pro hospital St. Mungus. –falou em tom de urgência.
-Nossa, mas o que foi que aconteceu, cara? Você tá bem? –perguntou, preocupado.
-Não faça perguntas agora. Depois eu te explico tudo. Venha de uma vez. Tchau. –e desligou o telefone sem maiores explicações.
Pouco depois Hermione se aproximou de Draco:
-Eu quero saber o que foi que aconteceu em Dover, Malfoy. –exigiu saber.
-Nada que seja da sua conta, Granger. –Draco resmungou.
-Como assim não é da minha conta, Malfoy? A Gina é minha melhor amiga e minha cunhada. O que foi que você fez com ela? Você bateu com a cabeça dela em algum lugar e tentou afogá-la na banheira?
-NÃO! Eu...eu tava puto da vida! A Virginia tinha prometido que ia fazer um aborto e depois some. Eu fico meses querendo achá-la e não acho. E daí eu sou denunciado por algo que praticamente só ela sabia. Então eu fico sabendo onde ela está e vou pra lá, querendo fazê-la pagar por me denunciar. Então a vejo com um barrigão. Logo pensei que ela estava grávida de outro, que tinha me chifrado logo após fugir. Então eu a forcei a entrar no carro e dirigi. Eu não estava raciocinando direito, estava cego pela raiva e pelo ciúme. Então eu joguei o carro da falésia e nós caímos no mar. E então ela tinha batido a cabeça e estava desacordada e eu percebi que não podia deixar que ela morresse...Apesar de tudo, ela é a mulher que eu amo... –narrou, de cabeça baixa.
Para a surpresa do loiro, Hermione abraçou-o:
-Malfoy, você é um idiota. Você entendeu tudo errado. Não foi a Gina quem te denunciou, ela me disse e também eu sei que ela queimou há meses um dossiê que tinha feito contra você. E você não foi traído, ela não fez o aborto. Eu sou testemunha, ela não conseguiu. Ela te ama. Ela quer ter esse filho. –disse e então soltou o loiro.
-Merlin! O que foi que eu fiz? –ele enterrou o rosto nas mãos –Se ela morrer a culpa é minha, se o nosso bebê morrer a culpa é minha. –disse com a voz abafada.
Nesse instante um curandeiro veio correndo até os dois:
-Dra. Weasley, a Srta. Weasley acordou e está em trabalho de parto. Ela está chamando desesperadamente por um tal de “Draco Malfoy”. Traga esse homem até ela antes que ela nos enlouqueça.
-Eu sou Draco Malfoy. –o loiro disse e o semblante do curandeiro demonstrou alívio.
-Ai, ai. Parto prematuro. –Hermione disse em tom preocupado.
-Isso é muito ruim? –o loiro quis saber, enquanto caminhava junto com a medibruxa e o curandeiro.
-Quanto mais prematuro, maior a chance de complicações durante o parto e maior as chances do bebê nascer mais fraco e até mesmo falecer. Mas faltava pouco para completar 9 meses. O que me preocupa é não saber a extensão dos danos que a batida na cabeça que a Gina teve.
Logo chegaram à sala em que o parto seria realizado:
-Draco! –Gina exclamou ao vê-lo.
-Eu estou aqui. –e então percebeu que ela parecia pálida demais –Eu acredito em você. Me perdoe.
Ela estendeu a mão para que Draco a segurasse:
-Sim...Ahhhhhhhh! –gemeu de dor –Eu perdôo. –e apertou a mão do loiro com força.
A respiração dela estava acelerada. Hermione aproximou-se:
-Posicione-se, Gina. Agora respire de forma curta e faça força.
A ruiva fez força enquanto apertava tanto a mão de Draco que já estava ficando dormente, mas ele não ligava. Sabia que ela estava sentindo dor e era para conceber o filho deles, era mais do que justo que ele tivesse sua mão esmagada por ela. O rosto dela estava vermelho e suado, tamanho era o esforço que fazia.
-Força, querida. Eu estou aqui com você. Você vai conseguir. –Draco falou, tentando de alguma forma incentivá-la.
Um pequeno sorriso surgiu no rosto dela, mesclado a uma expressão de dor. Ela estava concentrada. Ela sentia o apoio de Draco. Era cada vez mais difícil de fazer força, sua visão estava ficando turva, mas ela ia conseguir. Ela tinha que conseguir...
Foi quando um choro agudo preencheu o ar. Gina sorriu, tombando a parte superior do tronco e a cabeça na cama. Sentia-se leve e ao mesmo tempo não parecia sentir muito. Estava de olhos abertos, mas parecia enxergar cada vez menos. O mundo parecia estar se fechando a sua volta. A sensação de dever cumprido a invadia:
-Alex...nosso filho, Draco... –foi a última coisa que ela disse antes de fechar os olhos.
PIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII! A máquina acusava que o coração de Virginia tinha parado de bater. A equipe entrou em alvoroço, tentando reanimá-la. Draco mais do que rápido se viu sendo levado para longe dela, contra sua vontade. Tinha sido preciso dois medibruxos fortes para arrastá-lo para fora dali:
-Não pode ficar aqui, Sr. Malfoy. –um deles avisou.
-MAS É A MINHA MULHER QUE ESTÁ LÁ DENTRO MORRENDO! –ele se exaltou.
-Nós faremos o possível para salvá-la. –o outro o informou.
-Eu não quero que façam o possível. Eu quero que façam o impossível! –exigiu e em seguida foi para a sala de espera.
Blás, que estava lá, levantou-se assim que viu o amigo:
-Draco, onde é que você estava? Primeiro você me chama aqui e depois some...
-Cala a boca, Blás. –foi categórico –Eu te chamei aqui porque você vai ser meu advobruxo de defesa na acusação que saiu no jornal hoje. E eu estou aqui porque a Virginia está internada. –informou e sentou-se, enterrando a cabeça nas mãos.
-Draco, você parece acabado. Eu não entendo...Você não estava com raiva dela?
-Não foi ela quem me denunciou. E ela não fez o aborto...
-Como não? –o moreno o interrompeu.
-Ela acabou de dar à luz ao nosso filho. Só que então houve uma complicação e o coração dela parou de bater. Me tiraram da sala enquanto tentavam reanimá-la. Eu não sei o que vou fazer se a Gina morrer...A culpa vai ser minha... –esfregou os olhos, tentando impedir que lágrimas caíssem deles.
-O que foi que você fez? –quis saber.
-Eu não tô com cabeça pra falar disso agora.
-Tá então. –o advobruxo concedeu –Mas saiba que eu tô aqui se você precisar.
-Obrigado.
Os dois ficaram lá na sala de espera, em silêncio, sentados lado a lado. Seria cômico se não fosse trágico. Cerca de 1h se passou até que Hermione apareceu na sala de espera. Draco imediatamente levantou-se, como se onde estivesse sentado anteriormente estivesse em chamas:
-O que houve com a Virginia? –ele quis saber, mas em seus olhos havia receio.
Hermione estava séria. Olhou profundamente nos olhos acinzentados de Malfoy antes de dizer:
-Ela está viva. –o loiro sorriu e quase teve vontade de abraçar a medibruxa -Essa é a notícia boa sobre ela. A ruim é que ela tinha fraturado o crânio durante o acidente de carro e isso fez com que os vasos sanguíneos ficassem mais frágeis. Durante o parto a Gina fez muita força, o que ocasionou o rompimento de alguns desses vasos, causando edema cerebral e conseqüentemente a entrada dela em coma. Sinto muito, não há previsão nem garantias de que sairá dele.
-DROGA! –gritou Draco e as janelas de vidro do andar explodiram.
-Controle-se, Malfoy. –Hermione o repreendeu.
-Me controlar, Granger? Você tem idéia de como estou me sentindo?!?
Ela respirou profundamente:
-Não é fácil pra mim também. Eu já disse que a Gina é uma pessoa muito querida pra mim. –houve alguns instantes de silêncio entre eles –Quer ver o seu filho, Malfoy? É um lindo menino.
Um brilho de orgulho passou pelos olhos azuis acinzentados e ele respondeu:
-Quero sim. Posso levar o Blás junto?
Só então a medibruxa percebeu a presença do moreno na sala. Acenou educadamente para ele e balançou a cabeça afirmativamente para o Malfoy. Ele então chamou o amigo:
-Venha comigo ver o seu afilhado.
-Meu afilhado? –perguntou, surpreso.
-Sim, você será o padrinho do Alex, a não ser que não queira...Mas seria uma grande desfeita.
Blás sorriu:
-Claro que quero! Será uma honra.
Os três dirigiram-se até a ala da maternidade. Havia uma sala com um grande vidro na qual era possível ver muitos bebês em seus pequenos leitos.
-O seu é aquele, Malfoy. Terceira fileira, o primeiro. –a medibruxa informou.
-E-eu...posso pegá-lo no colo?
Na verdade ele não podia. Mas ao ver a expressão esperançosa e a emoção mal contida na voz dele, Hermione cedeu:
-Sim. Espere um instante que eu o trarei até aqui.
Draco sorriu e esperou impacientemente até que ela voltasse com seu filho. Cuidadosamente Hermione o passou para o colo do pai. Ele observou cada detalhe do pequeno Alex. A pele suave e rosada, os cabelos tão claros que só podiam ser vistos de perto. Sorriu ao perceber que o nariz e os lábios tinham saído à mãe. Uma mãozinha do bebê alcançou o dedo indicador de Draco e envolveu-o. Em seguida, os olhinhos abriram:
-Os meus olhos. –Draco murmurou ao mirar os olhos do pequeno, uma lágrima escorreu por sua face –Alexander Weasley Malfoy. Alex, meu filho... –ele disse, emocionado como nunca imaginaria estar por uma criança.
De fato aquele era seu filho. Não havia como negar. E ele tinha julgado tão mal a mulher que amava...E agora ela estava naquela situação. Culpa o corroía de uma forma que doía pensar em Virginia Weasley.
Deixou que Blás segurasse o bebê um pouco:
-Vou te ensinar a ser um garanhão, Alex. Vai ser o terror das menininhas. –Blás fez graça –Terá muito o que aprender comigo.
Draco esfregou os olhos:
-Não pense que vai levar o meu filho pro mau caminho.
Hermione segurou o riso, ainda mais ao ouvir a resposta de Blás:
-Olha quem fala...O sujo falando do mal lavado...
***
A medibruxa Hermione Weasley adentrou o quarto de sua amiga. Não tinha idéia de quando ou se sua cunhada sairia daquela situação, mas ainda assim queria ao menos se fazer um pouco presente.
“Quem sabe se a Gina sentir por perto a energia das pessoas que a amam e a querem de volta isso ajude...Nem sempre a magia tem todas as respostas.” Respirou profundamente e então reparou sem surpresa alguma que sua amiga estava acompanhada. “O Malfoy deve estar se sentindo horrivelmente culpado pelo estado da Gina. Em parte bem feito pra ele, mas por outro lado...Não quero nem pensar se por acaso o Rony ficasse internado no hospital por minha causa.”
Draco Malfoy estava adormecido. Uma de suas mãos segurava a mão esquerda de Gina e ele tinha a cabeça e parte do tronco apoiados na cama, descansando seus braços. Havia apenas a branda luz de um pequeno abajur em cima da mesa de cabeceira. Aquela luz era insuficiente para mostrar as olheiras debaixo dos olhos do loiro. Hermione percebia que realmente o Malfoy deveria estar arrependido e que amava Gina, mas ele parecia estar destruindo a si mesmo ficando ali praticamente o tempo todo. Um suspiro escapou de seus lábios e então ela parou ao lado dele:
-Malfoy. –ela chamou, baixinho.
O loiro nem se mexeu, continuava a dormir em seu sono pesado.
-Malfoy! –ela insistiu, dessa vez mais alto.
Finalmente ele abriu os olhos. Bocejou antes de perguntar, sonolento:
-O que aconteceu, Granger?
-Hum, Malfoy, eu acho que você deveria ir pra sua casa.
-E eu acho que você deveria cuidar da sua própria vida. –respondeu de mau humor.
A morena revirou os olhos, mas resolveu relevar e ignorar o comentário dele:
-Eu entendo que você queira ficar ao lado da Gina nesse momento, mas pare e pense um pouco, Malfoy. Você acha que a Gina ia querer que você deixasse de viver a sua própria vida? –e o silêncio da parte dele incentivou-a a continuar –Não estou dizendo que você não deva visitá-la. Apenas que viva. O pequeno Alex precisa de você, Draco Malfoy. Seja forte.
-Tsc, tsc. Odeio quando você está certa, Granger. – ele resmungou e então se levantou da cadeira em que estivera sentado por um longo tempo –Eu te amo, Virginia. Volte para mim e para o nosso filho. –ele sussurrou baixinho para a ruiva, não querendo que Hermione escutasse, enquanto acariciava a mão da mulher.
A morena não querendo olhar pra o loiro enquanto ele se despedia da amiga, voltou-se para o aparelho que marcava o ritmo cardíaco de Gina. Para sua surpresa os batimentos cardíacos tinham aumentado. Hermione começou a pensar no que poderia ter causado aquela reação.
Draco lançou um último olhar para a ocupante do leito e em seguida afastou-se. Ao ver o loiro se aproximando de si ela abriu um grande sorriso:
-O que foi Granger? –ele perguntou, achando estranho o modo como ela estava sorrindo.
-Os batimentos cardíacos da Gina tinham aumentado agora a pouco, Malfoy. –ela respondeu e Draco continuava com uma cara de interrogação –Foi bem na hora em que você estava se despedindo dela. Ela chegou a apertar a sua mão ou fez algum movimento?
-Não, ela não fez nenhum movimento.
-E o que foi que você disse para ela? –perguntou, séria.
-É mesmo necessário que eu diga? -Draco tentou resguardar-se.
-Sim, Malfoy. Não estou perguntando por pura curiosidade. –assegurou.
-Bom...Eu disse que a amava e pedi que ela voltasse para mim e para o nosso filho. –Draco respondeu, meio sem-graça.
Mais uma vez um sorriso apareceu nos lábios de Hermione:
-É provável que seja um estado comatoso, mas responsivo. O que quer dizer que as chances dela acordar aumentam por não ser um coma profundo.
-Que ótimo! –Draco se entusiasmou.
-Eu disse que aumentam, mas você não deve ter tanta esperança, Malfoy. Se a Gina não acordar daqui alguns dias ou semanas as chances dela permanecer assim indefinidamente são grandes.
Draco baixou a cabeça:
-Posso ver o meu filho de novo? –perguntou para a medibruxa enquanto saíam do quarto de Gina.
-Sim, Malfoy. Adiantaria eu dizer que não? –devolveu, num tom cansado.
-Não. Você é esperta, Granger. Também, com aquele marido que você tem, era de se esperar que entre os dois você fosse o cérebro do casal...
A morena revirou os olhos:
-Já vai começar com a implicância, Malfoy? Eu também sei jogar sujo com palavras, e sem descer do salto posso te deixar bem transtornado. Acredite, você não quer me provocar. –avisou.
-O que te fizer dormir melhor, Granger. –respondeu em seu tom arrastado.
Fizeram o resto do caminho até a maternidade em silêncio. Era tarde da noite e o corredor do berçário estava vazio exceto por eles e mais dois homens que estavam conversando e a quem Draco não prestou a mínima atenção. Ele esperou até que Hermione trouxesse Alexander até ele. Pegou o bebê em seus braços e abriu um sorriso genuíno. De repente ele escutou alguém dizer:
-Hey, Malfoy!
Instantaneamente o loiro virou a cabeça para o lugar de onde vinha a voz. Foi cegado por um flash de máquina fotográfica:
-Mas que porra é essa?!? –ele perguntou, irritado, com seus olhos claros ainda afetados pelo luminoso flash de luz.
-Senhor Malfoy, considerando-se o fato de que a sua esposa, Parvati Malfoy, está internada na ala psiquiátrica do hospital e do seu caso com Virginia Weasley, a qual deu à luz hoje...O que acha que a sociedade vai pensar do senhor, sendo um homem casado ter um filho com uma amante? –o repórter perguntou.
-Mas quem deixou vocês dois entrarem aqui? –Draco perguntou se referindo ao repórter e ao fotógrafo –Afinal, isso aqui é um hospital ou uma espelunca qualquer???
-Liberdade de ir e vir. –disse rapidamente o repórter e continuou com suas perguntas –Como foi esconder Virginia Weasley enquanto ela estava grávida? Qual é o nome da criança? Acha que é um exemplo de bom pai mesmo com as acusações que foram feitas contra o senhor?
Hermione percebeu que Draco Malfoy estava espumando de raiva e só não tinha atacado ainda os dois homens por estar segurando seu filho. Ela interveio:
-Cavalheiros, isso aqui é um hospital. Tem gente doente aqui, tem gente morrendo. Será que não poderiam ter um pouco mais de respeito? Aqui não é lugar para uma entrevista. Vão embora. Ou então eu chamarei os seguranças para tirá-los daqui. –ameaçou.
Os dois homens saíram de lá. Não plenamente satisfeitos, mas a foto já daria o que falar...E foi apenas depois que os dois foram embora que Draco percebeu que seu filho estava chorando. O loiro olhou para Hermione, como que perguntando o que fazer.
-Ah, deve ter sido o flash que o assustou. Passe ele para cá que eu posso tentar fazê-lo parar.
-Não, Granger. Eu vou tentar primeiro. –teimou.
Meio incerto, Draco embalou o bebê em seus braços:
-Shiu. Calminha, pequeno Alex. O papai tá aqui com você. Eu não vou deixar que ninguém te machuque. Quem é o garotinho do papai? –sussurrou no ouvido da criança e ao ver que estava funcionando, beijou o topo da cabeça de Alex e abraçou-o em seguida –Bom garoto. Eu amo você e a sua mãe também te ama.
Hermione estava meio estupefata pela cena, não era como se ela esperasse que Draco conseguisse ser afetuoso:
-Nossa, Malfoy. Devo reconhecer que você leva jeito com ele.
Um sorriso convencido surgiu nos lábios finos dele:
-É meu filho.
Pouco depois Alex adormece e Draco o entrega de volta a Hermione que o leva de volta para onde ele estava anteriormente:
-Agora tchau, Malfoy. Não quero ver a sua cara aqui se você não tiver descansado, comido direito ou trabalhado.
-Você não é minha mãe, Granger. Além do mais, eu sei o que é melhor para mim.
“E eu sou a mulher de Merlin.” A morena pensou, revirando os olhos.
***
Era meio da tarde e Draco encontrava-se em seu escritório na M Corporation. Contrariava seu costume de bom inglês e já estava na terceira xícara de café. O notebook estava ligado, papéis e documentos, espalhados pela mesa. Num dia normal nunca que sua mesa estaria aquela bagunça! Draco Malfoy estava lutando contra o cansaço, lutando contra si mesmo para conseguir trabalhar naquele dia. Não tinha pregado o olho a noite inteira, ficara rolando de um lado para o outro na cama, pensando em Gina e se algum dia ela voltaria a ser o que fora outrora ou se então permaneceria como um vegetal por sua causa. Sentia-se um lixo, o pior ser humano na face da terra.
O IB tocou. Draco suspirou e sem a mínima vontade apertou o botão:
-O que é, Samantha?
-Percy Weasley está aqui para vê-lo. –ela anunciou e tinha algo estranho em sua voz, algo que Draco não se preocupou em tentar identificar.
-Não estou com saco pra receber ninguém. –respondeu e seu tom inquestionavelmente deixava isso claro.
-Não é como se eu pudesse impedi-lo, ele diz que vai entrar por bem ou por mal.
Draco desligou o IB na cara da secretária. Poucos segundos depois a porta era aberta com selvageria e um decidido Percy Weasley entrava, parecendo furioso e apontando a varinha para o loiro:
-EU VOU TE MATAR, MALFOY! – e jogou um exemplar do Profeta Diário em cima da escrivaninha.
O olhar do loiro baixou da varinha do Weasley para a capa do jornal. Visualizou aquela foto que haviam tirado na noite anterior quando segurava Alex e o título da matéria era “O FRUTO DO PECADO: NASCE O FILHO DE DRACO MALFOY E SUA AMANTE VIRGINIA WEASLEY”.
Draco rolou os olhos e voltou a encarar Percy:
-Tsc, tsc. O que você quer que eu faça, Weasley? –perguntou, aparentando não se importar muito.
-Você deveria ter calado a boca da imprensa como já fez tantas vezes. –respondeu, como se fosse óbvio, ainda apontando a varinha na direção de Draco –Mas não, você tinha que desmoralizar a minha irmã. Da melhor advobruxa restou apenas um corpo que jaz num leito de um hospital. É sua culpa ela estar naquele estado, Malfoy. Vai ser hipócrita o suficiente para negar?
Draco deu um profundo suspiro:
-Não nego.
-Tenho um bom motivo para matá-lo. –disse, querendo afirmar a si mesmo que o que estava prestes a fazer era para lavar a honra de sua irmã.
-Não é como se eu estivesse me sentindo muito inclinado a viver, sabe? –outro suspiro –Eu amo a sua irmã, Weasley. Eu cometi um erro terrível. Saber que ela está em coma por minha causa está me matando. Eu não posso te culpar por querer me matar, mas acho que deixar meu filho órfão não é a melhor opção.
-A minha família seria muito mais capaz de criar a criança do que você. Você não é exemplo nenhum a ser seguido, Malfoy.
-Abaixe essa varinha, Weasley. –ordenou e não foi atendido –Tá bom então, vá em frente e me mate. Daí a Gina acorda e quem vai morrer pra ela vai ser você.
Percy pareceu hesitar e em poucos segundos guardou a varinha em suas vestes:
-Dessa vez passa, Malfoy. E é bom que você seja um bom pai. Saiba que eu não fui o único a ficar indignado com o que aconteceu. Passar bem. –e saiu andando a passos rápidos e pesados do escritório.
Draco afundou a cabeça em suas mãos. Franziu o cenho ao sentir sua cabeça começar a doer. Esticou o braço e pegou o IB, teclando para falar com Zabini:
-Tá com algum problema, Draco? –a voz do consliglieri perguntou do outro lado da linha.
-Tsc, tsc. Mais problemas do que já tenho? –tentou ironizar.
-Bem...Na verdade há mais um problema...
-Qual? –Draco perguntou, lutando para manter sua voz estável.
-Os aurores querem que você aguarde o julgamento em Azkaban...
Draco o cortou:
-Tudo o que eu mais precisava! Uma estadia em Azkaban... –satirizou –Mas que porra! –revoltou-se.
-Eu vou aí. –Blás anunciou e desligou o IB antes que o loiro pudesse dizer qualquer coisa mais.
Draco levantou-se de sua cadeira e foi até o divã, jogando-se no mesmo. O mundo, o mundo que havia construído parecia estar ruindo em grandes proporções e ele não parecia estar preparado para isso. Sabia que precisava pensar para conseguir sair daquela situação. Mas saber disso não tornava o ato de pensar mais fácil em si, não quando tantas coisas ruins estavam tramitando ao mesmo tempo. Os problemas tomavam sua mente de modo a mexer com seu emocional e a falta de racionalidade definitivamente não era algo que o ajudaria a achar a luz no fim do túnel.
O loiro nem sabia quanto tempo havia se passado quando ouviu baterem à porta. Não deu qualquer atenção ao barulho e em seguida Blás adentrou a sala de presidente:
-Cara, eu sei que as coisas não têm dado muito certo pra você ultimamente, mas...
-Mas o quê, Zabini? –perguntou com selvageria –Poupe-me do seu discursozinho pseudo-animador.
O moreno revirou os olhos:
-Pare com essa auto-piedade, Malfoy. Acredite, não combina com você. –falou e Draco apenas cruzou os braços e olhou para o teto, aproveitou então para continuar a falar –Eu sei que o Draco Malfoy frio e racional ainda está aí. Se esse Draco Malfoy não der as caras, daí sim podemos dizer que tudo estará perdido.
-Certo, Blás. Me traz firewhisky. –falou, olhando diretamente para o outro.
-Hum, Draco, eu não acho que beber vai ajudar em alguma coisa. –foi sincero em sua opinião.
-Cale a boca e faça o que eu disse. –o loiro sentou-se no divã, sério.
Ao ver que Draco não estava para brincadeiras, o moreno deu de ombros e conjurou uma garrafa, dando-a na mão de Malfoy. O loiro, por sua vez, revirou os olhos e conjurou dois copos, determinando:
-Você vai beber comigo. –e quando Blás abriu a boca para contradizê-lo, Draco não permitiu –Eu não perguntei se você queria, Zabini.
-Ótimo. A sua parte mandona voltou. Espero que isso signifique que o resto também vai.
Draco exibiu um sorriso enviesado e serviu os dois copos:
-Ainda não é o fim. É preciso muito mais para se acabar com Draco Malfoy. –declarou e foi a vez do vice-presidente sorrir –Eu vou sair dessa, Blás.
Cada um deles tomou meio copo. Blás ficou quieto, observando Draco, o qual parecia perdido em pensamentos. Não ousou interromper os pensamentos do chefe ou quem sabe poderia sobrar para ele. Foi que Draco encarou-o e perguntou:
-Você pode impedir que os aurores me prendam?
-Hum, não se o próprio Chefe de Execução das Leis da Magia assinar um mandato de prisão. E é justamente isso o que os aurores estão tentando fazer acontecer.
-O Chefe de Execução das Leis da Magia, é? –perguntou retoricamente enquanto um sorriso misterioso surgia em seus lábios.
-Draco...O que é que você tem em mente? –o advobruxo falou.
-É hora de cobrar uma velha dívida.
***
Hermione entrou no quarto de Gina no St. Mungus. Como ela esperava, não estava vazio. Molly, Fleur, Evelyn e Rony rodeavam a cama de sua cunhada.
-Por que a Tia Gina tá dormindo tanto? –ouviu a voz curiosa da inocente Evelyn.
A medibruxa lançou um olhar de pena para a criança e disse:
-Eve, lembra a história da Bela Adormecida que eu contei pra você? –e a ruivinha acenou afirmativamente –Então, a princesa Aurora fica desacordada em sono profundo, assim como a sua tia Gina.
-Então a tia Gina furou o dedo? –perguntou, tentando entender.
-Não, querida, ela não furou. –foi tudo o que a morena respondeu.
-E cadê o tio Draco? Ele é que nem o príncipe Filipe era para a princesa Aurora. Ele é o príncipe da tia Gina, ele pode acordar ela. –falou seriamente.
Hermione abraçou Eve:
-Infelizmente as coisas não funcionam dessa maneira, mocinha. Tudo o que podemos fazer é esperar.
Nesse instante Molly Weasley fungou e Fleur suspirou profundamente. Rony abraçou a mãe. Molly lembrava-se perfeitamente de sua nora Hermione dizer que sua filha poderia tanto acordar nos próximos dias quanto não acordar. Tudo o que mais queria era que ela saísse daquele coma. Não tinha participado da vida de Virginia naqueles últimos meses e agora corria o risco de nunca mais poder conversar com ela. Aquilo a estava matando como a mãe que era.
-E o meu neto? Quando é que eu vou poder levá-lo para casa? –Molly perguntou para Hermione.
A morena lançou um rápido olhar para o marido, antes de encarar a matriarca Weasley. Receava qual seria a reação, principalmente de Rony, depois dela falar:
-Bem, na verdade eu tinha vindo aqui para falar do Alex. Imaginei que estariam com a Gina. O Alex já está medicamente liberado...
-Então quando a mamãe pode levá-lo, Mi? –Rony perguntou para a esposa.
-Hum, a questão é que como a Gina está incapacitada, o parente mais próximo do Alex é o Malfoy.
Ronald fuzilou a esposa:
-Você espera que eu deixe o meu sobrinho aos cuidados de um bandido? –perguntou revoltado.
-O Tio Draco não é bandido! –Evelyn, que estava nos braços de Fleur, clamou.
Hermione parecia embaraçada pelo olhar de ódio que o marido estava lançando em sua direção. Não queria brigar com o ruivo ali. Molly pousou uma mão sobre o ombro direito dele:
-Filho, a Hermione tem razão. O Malfoy é o pai.
-Isso mesmo. –Hermione disse –A criança foi registrada como Alexander Weasley Malfoy. Filho de Virginia Molly Weasley e Draco Malfoy.
-Mas e não tem um jeito de evitarmos que o Malfoy tenha a guarda da criança? –Rony perguntou, ainda não desistindo.
-Apenas se ele não quiser ficar com o filho. –Fleur respondeu.
-Do jeito que o Malfoy é egocêntrico, eu duvido que dê importância para a existência de alguém que não seja a si mesmo. É provável que ele não queira ficar com o Alex e essa seria a melhor coisa que ele poderia fazer por essa criança. –o ruivo expôs a sua opinião e dessa vez as pessoas no quarto pareciam estar sem argumentos para contradizê-lo.
***
Draco Malfoy saiu o prédio da M Corporation acompanhado por 2 seguranças, os quais o lembravam ironicamente de seus asseclas Crabbe e Goyle nos tempos de Hogwarts. Na época de escola os usava principalmente para poder dizer o que quisesse para seus desafetos sem que recebesse represálias. Na maioria das vezes funcionava, constatou. Contudo, agora necessitava de seguranças para conter o assédio da imprensa.
“Está praticamente o mesmo inferno da vez em que a Gina me acusou entre outras coisas de ser o mandante da MMVO. Agora, além de estar enrascado com a justiça bruxa a minha imagem de modelo familiar da comunidade bruxa foi por água abaixo também.” Pensou enquanto passava pela multidão de repórteres que se acotovelava tentando, em vão, chegar perto de Draco e gritando perguntas na esperança de que ele as respondesse. Doce ilusão dos repórteres...Falar que Malfoy queria que eles sumissem de sua frente seria definitivamente um eufemismo do que ia na mente dele.
Draco deu graças aos céus quando entrou em sua limusine.
-Ewan, para o Ministério da Magia. –informou o motorista.
-Sim, Sr. Malfoy. –respondeu e deu partida no carro.
Malfoy recostou-se contra o banco e tentou relaxar, enquanto pensava em qual abordagem utilizaria para conseguir o que queria de Kingsley Shacklebolt, o Chefe do Departamento de Execução das Leis da Magia. Pelos seus cálculos não seria tão difícil assim. Não que Shacklebolt fosse corrupto, pelo contrário, mas ele simplesmente devia a Draco...por todos aqueles anos os dois não haviam se falado, mas chegara a hora em que isso se fazia necessário e obviamente Draco não deixaria que o momento passasse.
Draco adentrou o Ministério da Magia de forma imponente, de cabeça erguida, andando pelo suntuoso e longo saguão. O chão escuro de madeira era tão polido e lustroso quanto os sapatos usados pelo Malfoy. Era indiferente ao movimento a sua volta de pessoas circulando pelo saguão indo ou saindo das lareiras douradas. As grandiosas estátuas, que também serviam como fonte no meio do saguão, dos irmãos mágicos mereceu apenas um mero relanceio do loiro. Ele seguiu reto e passou pelos portões dourados que havia no fundo do saguão. Passou pela mesa de segurança meneando a cabeça para o bruxo que ali trabalhava e que obviamente o conhecia. Parou em frente a um dos muitos elevadores. Assim que as grades do mesmo se abriram ele e mais alguns bruxos entraram no elevador. Esperou impacientemente que o elevador chegasse ao nível dois e então após a voz feminina dizer “Nível dois, Departamento de Execução das Leis da Magia, que inclui a Seção de Controle do Uso Indevido da Magia, o Quartel-General dos Aurores e os Serviços Administrativos da Suprema Corte dos Bruxos” e que a porta se abrisse, para então sair do elevador.
Andou a passos decididos até a porta em que se lia escrito em preto numa placa dourada “Escritório de Kingsley Shacklebolt, Chefe do Dpto.”. Bateu três vezes à porta e ouviu uma voz de mulher dizer:
-Entre. –e foi isso o que ele fez.
Era uma sala pequena e não muito iluminada. As paredes estavam cobertas por decretos, atos e leis mágicas, todos enquadrados em molduras simples. No fundo, à direita havia uma porta de madeira polida e à esquerda uma escrivaninha. Por trás da escrivaninha estava sentada uma mulher que devia ter trinta e poucos anos, pele morena, cabelos escuros e lisos presos no alto de sua cabeça num penteado rígido e óculos de armação preta. Olhou para Draco e curiosamente perguntou:
-Em que posso ajudá-lo, Sr. Malfoy?
-Eu gostaria de falar com Shacklebolt. Poderia avisá-lo?
A secretária pegou o IB e falou com o chefe por ele:
-Sr. Shacklebolt, o Sr. Malfoy está aqui e deseja vê-lo. –alguns instantes de silêncio com a secretária ouvindo –Ok. –e desligou –Pode entrar, Sr. Malfoy. –disse para o loiro, que se dirigiu para a porta à esquerda.
Não perdeu seu tempo batendo à porta uma vez que já havia sido anunciado. Fechou-a assim que passou por ela, em seguida olhou para Shacklebolt. O bruxo negro ganhara linhas de expressão em seu rosto e alguns fios de cabelos brancos, Draco pôde perceber em um rápido exame. Foram momentos tensos aqueles em que ambos se encaravam como se estivessem medindo um ao outro. Kingsley foi o primeiro a falar:
-Sente-se, Malfoy. –e fez um gesto apontando a cadeira em frente à mesa.
Draco caminhou a passos lentos e calculados, sentando-se após um segundo de hesitação em que ficara em pé, próximo a cadeira, ainda encarando o bruxo negro:
-Olá Shacklebolt, há quanto tempo! –saudou-o, estendendo sua mão em um gesto pacífico de cumprimento.
Por uma fração de segundo houve desconfiança na expressão do ex-auror, mas logo vestiu uma máscara de neutralidade e apertou brevemente a mão que o loiro oferecia:
-O que o traz aqui, Malfoy? –foi direto ao ponto.
Draco fingiu indignação ao responder em remoque:
-Como é que alguém consegue chegar a um cargo tão importante no Ministério da Magia sendo tão não cortês?
Kingsley revirou os olhos antes de responder:
-Não pensei que fosse do seu feitio fazer visitas de cortesia...Aliás, sei que não é. Portanto estava apenas tentando simplificar as coisas. Você veio aqui por um motivo. Eu quero saber qual é, porque quanto mais cedo resolvermos isso, melhor. Eu sou um homem muito ocupado...
-Poupe-me do seu discurso, Shacklebolt. Eu também tenho mais o que fazer. –e respirou fundo –Portanto eu não atrasarei a sua vida se você não atrasar a minha. –declarou seriamente, recebendo um gesto de concordância de Shacklebolt e seu silêncio como um incentivo a continuar –Presumo que se lembre do voto perpétuo que fizemos durante a guerra.
Kingsley tentou esconder a sua surpresa por o loiro trazer aquele assunto à tona e repreendeu-se por não ter pensado antes que seria sobre aquilo que Malfoy queria falar:
-Obviamente que me lembro, Malfoy.
-Pois bem. Como eu prometi no voto perpétuo, eu nunca contei para ninguém o que implicou ser o Espião-X. Você bem sabe a quantidade de informações que passei ao Ministério ao ser forçado a penetrar no cerne do mundo do crime. Vocês me devem muito, inclusive a garantia de que não seria preso até onde fosse a sua influência, lembra? Eu entrei nessa por causa daquele voto perpétuo, eu sabia que era uma questão de tempo para que Voldemort perdesse e eu não queria estar do lado perdedor. Então nem hesitei ao aceitar a sua proposta, Shacklebolt. Agora os aurores estão fazendo pressão para que você assine o mandato de prisão para que eu aguarde julgamento em Azkaban. A situação está em suas mãos...
-Não aja como se fosse uma vítima nessa história, Malfoy. Nós dois sabemos que você se aproveitou muito da posição em que o voto perpétuo te colocou, aproveitou em benefício próprio na maior parte das vezes.
Draco exibiu um pequeno sorriso sarcástico antes de responder:
-Eu não deixei de cumprir a minha parte do trato. Quer que eu chame o avalista? Tenho certeza que Dumbledore faria o favor de te dizer que estou certo.
-Deixe Dumbledore fora disso. Ele está nos EUA, auxiliando Potter, no cargo de conselheiro.
-Deixarei ele fora disso se você for justo, Shacklebolt. Eu estou dizendo que não descumpri e você deveria saber disso, eu estaria morto. E você estará se não me impedir de ir preso, isso está ao seu alcance. Ignore a pressão que os aurores estão fazendo e pronto. É o mínimo que pode fazer. –foi incisivo –Esse voto já me custou mais do que você imagina.
Kingsley respirou profundamente:
-Está bem, Malfoy. Eu não vou assinar o mandato de prisão, satisfeito? O seu advogado pode cuidar do resto, presumo... –e Draco fez que sim –Muito bem, tem minha palavra.
O loiro sorriu presunçosamente:
-Sabia que conseguiria trazê-lo à razão. Pode não ser lá muito cortês, mas nenhum homem chega a chefe de departamento se for burro.
-Devo considerar isso um elogio? –ergueu uma sobrancelha.
-Sim. –Draco confirmou e em seguida estendeu a mão para Shacklebolt, que a apertou –Não vou mais tomar o seu tempo. Foi um prazer negociar com você.
-Passar bem. –respondeu quando Draco já saía da sala.
Ao passar pela secretária de Shacklebolt, o loiro fez um aceno com a cabeça para indicar que estava se despedindo.
-Até mais ver, Sr. Malfoy. –ela respondeu.
Draco sentia-se aliviado de ter resolvido aquele problema. Era algo a menos a pesar em sua extensa lista de preocupações. Seus passos estavam bem menos pesados ao deixar o Ministério da Magia, embora seu ar continuasse arrogante. Andava em direção a sua limusine quando seu celular tocou. Permitiu-se sorrir.
“Deve ser o Blás. Que sorte, eu estava exatamente pensando em ligar para ele para contar sobre o meu sucesso no Ministério.” Pensou, caçando o celular em um de seus bolsos.
-Alô. –Draco atendeu –Granger? Por que está me ligando? A Virginia acordou? –perguntou esperançoso –Ah, pensei que sim. Que outro motivo você teria para me ligar? O que é que tem a Parvati? COMO É QUE É?!? Tá, eu tô indo pra aí agora mesmo. Tchau. –e desligou o aparelho, guardando-o automaticamente no bolso.
Estava um tanto paralisado com a notícia que acabara de receber. Não sabia exatamente o que pensar. Em parte se sentia aliviado por agora ser viúvo, Parvati já havia causado demasiados problemas para o loiro. No entanto, havia uma parte dele que sentia uma espécie de vazio. Afinal, ele fora casado com ela por cinco anos e cinco anos não eram cinco dias. Ele reconhecia que ela também já fizera coisas boas por ele. Por mais raiva que tivesse pelas últimas ações realizadas por Parvati, pensar que ela estava morta era no mínimo estranho. Esperava que não o acusassem de ter cometido mais esse crime, dessa vez ele era inocente e não tinha absolutamente nenhuma relação com a morte dela.
“Por mais motivos que eu tivesse para querer matá-la, não podem me condenar por isso. Dependendo da hora da morte, muito provavelmente eu tenha álibi. Eu não devo me preocupar com isso.” Pensou consigo mesmo.
Entrou na limusine e imediatamente informou Ewan que queria ir até o St. Mungus. O trajeto até o hospital pareceu ser mais rápido que o normal. Hermione esperava Draco na entrada do hospital:
-Oi, Malfoy. Meus pêsames. –ela falou, colocando uma mão sobre o ombro dele.
O loiro estava sério e foi numa voz profunda que respondeu:
-Obrigado, Granger.
Houve alguns minutos de incômodo silêncio entre os dois, os quais a morena resolveu quebrar:
-Como você está se sentindo, Malfoy?
Draco revirou os olhos:
-Creio que não seja do seu concernimento, Granger. –respondeu, seco, e a medibruxa pareceu ficar sem-graça –Como foi que a incompetência desse hospital ocasionou a morte da Parvati? –cobrou –Deveriam se certificar de que ela não machucasse a si mesma, não?
Hermione encarou-o:
-A sua esposa não parecia ter tendências masoquistas ou suicidas, apesar de apresentar um quadro de severa confusão mental. –explicou e antes que Draco pudesse dizer algo, ela continuou –Por isso, raramente ela era sedada e não precisava ser vigiada 24 horas por dia. No entanto, ela agiu fora dos padrões que esperávamos. Então, na hora em que uma curandeira foi levar o almoço para a Parvati, ela já se encontrava morta. A curandeira me relatou que àquela altura o corpo da sua mulher ainda estava quente. Portanto, a morte dela aconteceu por volta da hora do almoço.
Quando Parvati morrera, Draco estava na M Corporation. Samantha e Blás poderiam confirmar caso fosse necessário, Malfoy tinha seu álibi caso fosse preciso utilizá-lo. Duas coisas que intrigavam Draco eram o porquê ela havia se matado e como.
“Talvez mesmo louca ela conservasse a personalidade que tinha. Então ela não estava nem um pouco satisfeita de viver em um mundo onde não era o centro das atenções e sem as trocentas coisas que alimentavam a vaidade dela.” Pensou, tentando adivinhar.
-Granger, como foi que ela se matou? –perguntou, neutro.
-Um espelho. O medibruxo responsável por ela disse que ela vivia se olhando nesse espelho. Ela quebrou o espelho e passou um pedaço afiado na garganta. –Hermione respondeu, sentindo aflição só de pensar na cena.
-Hum. –Draco murmurou, na falta de algo para dizer.
Era irônico pensar que Parvati se matara utilizando um objeto que a vida inteira ela empregara para admirar a si mesma.
-Gostaria de ver a Parvati? Eu posso te levar se assim você desejar. –Hermione disse, solícita.
Draco pensou que seria no mínimo interessante, por isso não tardou em responder:
-Sim, Granger. Eu gostaria de vê-la.
Hermione fez um gesto positivo com a cabeça e murmurou:
-Siga-me. –e ele obedeceu –Hum, eu sei que você está com a Gina e tal, mas mesmo assim deve ser desagradável a morte de um cônjuge... –tentou puxar assunto após muitos passos que haviam sido dados em completo silêncio.
-Poupe-me da sua pena, ou seja lá o que for, Granger. Eu não quero falar sobre isso. –deixou claro.
-Está bem, Malfoy. Vou parar de tentar ser legal com você, já que isso te incomoda tanto. Eu realmente não sei como a Gina consegue te agüentar.
-Isso é entre eu e ela. Não precisamos da sua aprovação se quer saber. –respondeu.
A morena revirou os olhos e desistiu de retrucar, porque ela sabia que aquela conversa não acabaria resultando boa coisa. Após uns dois minutos de trajeto, Hermione parou em frente a uma porta e após lançar um breve olhar ao loiro, abriu-a. Os dois entraram. O lugar era frio e era uma espécie de necrotério do hospital. Um medibruxo legista, munido de sua varinha, fazia testes em um dos cadáveres com ar de enfado de quem fizera aquilo por mais vezes do que poderia contar.
-Hey, Richard. –a medibruxa o cumprimentou.
-Olá , Hermione. –o outro respondeu, esperando que ela revelasse o motivo de estar ali e ainda mais acompanhada de um estranho.
-Bem, eu e o Sr. Malfoy estamos aqui para que ele possa ver o corpo da esposa dele. Parvati Patil Malfoy.
O medibruxo legista pareceu pensativo por um instante, até se encaminhar para uma grande gaveta e puxá-la, expondo o corpo sem vida de Parvati que ainda vestia a camisola de paciente.
-Eu fiz um feitiço para consertar o corte na garganta. –Richard disse.
Draco olhava fixamente para o corpo da falecida. Seus olhos estavam secos, indício de que aquela ocasião não merecia ser uma das raras vezes em que ele derramara lágrimas. O loiro podia perceber que ela perdera peso e que seus cabelos não estavam bem cuidados e sedosos como antes. Não fez nem menção de tocá-la e após a observar por mais alguns instantes:
-Pode fechar. –disse ao medibruxo –Diga a Padma que eu cuidarei do funeral. Eu estou em mais condições de lidar com isso do que ela. –disse a Hermione, que respondeu com um gesto afirmativo de sua cabeça.
Os dois se retiraram de lá e o silêncio reinava entre os dois. Para Hermione era um silêncio desconfortável. Já para Draco não era incômodo, uma vez que estava pensativo. Refletia que por um lado o destino de Parvati havia sido trágico, mas em contrapartida o caminho dele estava livre. Draco estava livre perante a sociedade para ficar com quem quisesse. Ironicamente, a única mulher com quem ele queria ficar estava desacordada por tempo indeterminado naquele mesmo hospital.
-Como a Virginia está? –perguntou para Hermione.
-Na mesma. A única possível resposta dela a estímulos exteriores é a variação dos batimentos cardíacos.
-E o meu filho?
-Ele está muito bem, pronto para deixar o hospital. A minha sogra estava querendo ficar com ele por causa do estado da Gina...
-Mas de jeito nenhum! –Draco interrompeu.
-Calma, Malfoy. Eu disse a ela e ao Rony que você é o parente mais próximo. –ela assegurou –Você tem o direito. Eles não acreditaram que você iria querer cuidar da criança.
-Mas é óbvio que eu irei cuidar do Alex. É meu filho, meu sangue. –falou seriamente.
-Eu achava que você não abriria mão da guarda dele. A Gina ficaria feliz.
Não muito depois chegaram ao quarto de Virginia. Molly e Ronald ainda estavam por ali. A expressão no rosto do ruivo demonstrava o quanto a presença de Draco ali o desagradava:
-O que está fazendo aqui, Malfoy? –perguntou secamente.
-Ronald, não procure briga. –Hermione deu uma bronca no marido.
-Como se você não soubesse o que eu vim fazer, Weasley. –Draco fuzilou-o e caminhou até o lado do leito de Gina contrário ao que os parentes dela estavam.
Malfoy estendeu uma mão e acariciou os cabelos ruivos de Virginia. Queria tanto poder falar com ela, mas com os familiares dela ali ele não poderia dizer muita coisa. Molly Weasley observava atentamente o modo que Draco estava agindo. Ficou surpresa ao ver uma mescla de adoração e tristeza na expressão dele. Observou Draco se aproximar do ouvido de Gina e sussurrar coisas que ela não conseguia ouvir:
-O Alex está bem, meu amor. Eu vou cuidar dele. –e em seguida o loiro afastou os seus lábios do ouvido dela.
Continuava a observá-la, mas dessa vez pegou a mão dela que estava mais próxima e a beijou, em seguida passando a acariciá-la.
“Eu estou com tanto medo, Virginia. Por favor, volta pra mim. Eu prometo ser um bom pai independentemente de você estar em coma ou não, mas não seria suficiente. O Alex precisa de você. Eu preciso de você, Virginia. Eu não posso mais ser feliz sem você. Eu sinto tanto a sua falta e me atormenta saber que você está assim por minha causa. Eu sou um idiota, mas sou um idiota que te ama. Eu quero poder te fazer sorrir e olhar nos seus olhos que me fazem tão bem. Ah, Virginia, se você soubesse o que eu estou sentindo...” era o que Draco estava pensando até que foi interrompido pela voz de Rony Weasley:
-A quem você está querendo enganar com esse teatrinho todo de homem apaixonado e preocupado? –desdenhou.
Draco fuzilou-o com o olhar:
-Cale a boca, Weasley. Você não sabe de nada.
-Sei sim! –ele teimou –Sei que você usou a minha irmã e que é por sua causa que ela está nessa cama de hospital. É o suficiente para se saber. E é por isso que eu sei que alguém desequilibrado como você não deve ficar com a guarda de uma criança.
-O filho é meu e ninguém vai tirar de mim. Eu tenho os melhores advobruxos e eles vão até o inferno se precisar para garantir o meu direito como pai.
Porém, antes que Rony pudesse retrucar, para o alívio de Hermione e Molly, Evelyn e Fleur haviam voltado:
-Tio Draco! –a ruivinha exclamou, animada, desvencilhando-se da mão de Fleur e correndo em direção ao loiro.
Draco sorriu para ela enquanto a pegava no colo:
-Veio visitar a sua tia, sapequinha?
-Sim, a tia Gina tá como a Bela Adormecida, mas me disseram que se você beijá-la nada vai acontecer, tio Draco. –e fez bico –Mesmo você sendo o príncipe da tia Gina.
-É por isso que eu gosto de você, Eve. Ao contrário do seu tio, você não fica implicando com o meu relacionamento com a Gina.
-Pare de tentar fazer uma lavagem cerebral na minha sobrinha, Malfoy. –Rony reclamou, fazendo menção de ir até ele e pegar Evelyn.
Molly impediu-o de fazer isso e ela mesma foi até Draco:
-Poderia dar uma palavrinha com você lá fora, Malfoy? –perguntou, olhando para cima, já que ele era bem mais alto que ela.
Ela tinha os mesmos olhos que Virginia, ele percebeu imediatamente e aquilo provocou um aperto involuntário no coração de Draco. Viu-se fazendo um gesto afirmativo com a cabeça. Colocou Evelyn no chão, passando uma mão pela cabeça dela de maneira carinhosa. A seguir acenou brevemene para ela e Fleur antes de sair do quarto do hospital acompanhado de Molly Weasley.
Já do lado de fora, Draco encarou a Sra. Weasley, curioso para saber sobre o que ela queria falar. Esperou que ela se manifestasse primeiro, o que logo aconteceu:
-Malfoy, perdoe a falta de modos do meu filho. Mas você deve entender as nossas reservas quanto a você, principalmente por sabermos que a Gina está aqui por sua causa.
Draco deu um suspiro cansado antes de responder:
-Na verdade eu não posso culpá-los, já que realmente é minha culpa. –e deu uma pausa -Eu sinto muito pelo que aconteceu, Sra. Weasley, sinceramente. –acrescentou.
Molly o observava com atenção mais uma vez:
-Você é um homem muito bonito. –ela alegou, pegando-o de surpresa por tal comentário –Mas é preciso mais do que beleza para conquistar a minha Gina, eu sei disso. Eu nunca tive a chance de ver vocês como um casal. Você é um homem casado, Malfoy...
Draco interrompeu-a:
-Viúvo, a minha mulher acaba de falecer.
-Meus pêsames. –ela pareceu sincera, mas depois de alguns instantes continuou –Como eu ia dizendo...A Gina que eu conheço não iria querer ser a outra. Ela deve gostar de você para além da razão para concordar com uma relação desse tipo. Não que eu esteja defendendo o que ela fez...
-Com licença, Sra. Weasley –interrompeu-a novamente –Por favor, não culpe tanto a Virginia, nem se sinta desapontada por ela. Fui eu o persistente e eu cheguei a prometer que me separaria da Parvati. Era realmente a minha intenção, mas complicações surgiram e eu não pude fazer isso. A Parvati forjou uma gravidez falsa e me enganou e chantageou com isso. Só que ao mesmo tempo a Gina ficou grávida de verdade. Eu pedi que ela abortasse por ter sido coagido pela Parvati. Mas ela não fez o aborto e simplesmente sumiu do mapa. Eu a procurei desesperadamente por todos esses meses. Quando eu a vi grávida eu fiquei cego de raiva. Eu não sabia que ela não tinha feito o aborto, pensei que ela tivesse me traído. Na hora eu senti uma dor tão grande que eu não conseguia pensar direito nas coisas que estava fazendo. Eu a forcei a entrar no carro e joguei o carro de uma falésia. Só então, à beira da possível morte eu percebi que não queria e não poderia perdê-la. Eu tirei a Virginia do carro e vim direto para o hospital. –ele contou a parte da história que lhe pareceu conveniente e no seu rosto havia uma expressão de sofrimento.
Naquele momento ele sabia que era oportuno demonstrar que estava arrependido. Não que ele não estivesse, mas não era de seu feitio mostrar suas emoções. Queria ganhar a Sra. Weasley como uma aliada e as próximas palavras dela diriam se ele realmente estava no caminho certo:
-Malfoy, você realmente parece gostar da minha menina. As conseqüências do que você fez enquanto estava cego de raiva foram muito graves e você sabe disso. Creio que se a Gina sair dessa você nunca mais vai querer fazer algo que ocasione a perda dela.
-Nunca. É torturante demais ver a Virginia desacordada nessa cama de hospital e não saber se ela vai voltar. –ele murmurou, encostando-se de forma desolada contra a parede.
Molly dirigiu a ele um sorriso, o que fez Draco perceber que sua argumentação estava tendo efeito.
-Eu vi como você tratou a Evelyn, Malfoy. Creio que se esforçará para ser um bom pai para o Alex. –e foi a vez de Draco sorrir.
-Sim. Não sei como pude duvidar da Gina. Ele é igualzinho a mim. Foi amor à primeira vista.
-Eu também vi como você se portou com a Gina. Você a ama, Malfoy. O jeito como você a olhou, os seus gestos...Eu acredito no que você sente por ela. Eu quero muito que a minha filha acorde. Mas como mãe eu devo dizer que se ela acordar e ficar com você, é bom que você a faça feliz ou então perderei toda a minha simpatia por você e acredite isso não seria nem um pouco bom. –falou seriamente.
-Sim, eu entendo, Sra. Weasley.
-Será que você poderia enrolar um pouco dando umas voltas por aí?
-Ahn? –ele perguntou, confuso.
-Você não gostaria de ficar sozinho com a minha filha? –ela perguntou e o loiro rapidamente fez que sim –Então faça o que eu disse. Daqui alguns minutos você volta.
Draco sorriu:
-Muito obrigado mesmo, Sra. Weasley. Nem sei como agradecer.
-Apenas cuide bem da minha menina. –ela respondeu, como se encerrasse a questão –Tchau, Malfoy.
-Tchau. –ele respondeu, afastando-se da senhora ruiva.
Uma idéia ocorreu a ele. Decidiu que uma vez que Alex estava liberado para deixar o hospital, poderia pegá-lo e levá-lo até o quarto de Gina. Ele sabia que ela gostaria de ficar perto filho independentemente de estar consciente disso ou não. Draco foi até a área da maternidade e preencheu os documentos que uma atendente lhe forneceu. Quando a papelada estava em ordem, uma das curandeiras buscou Alexander. Draco pegou-o no colo com cuidado. Acenou brevemente para a curandeira indicando um agradecimento e andou vagarosamente pelo caminho até o quarto da Weasley. Chegando lá a porta estava fechada. Ele bateu, mas não houve resposta. Resolveu então entrar e como Molly Weasley havia lhe prometido, não havia ninguém, exceto pela paciente. Draco fechou a porta atrás de si e se encaminhou até o leito da ruiva. Agora não precisaria se importar com o que as pessoas pensariam do que ele falaria, uma vez que só Virginia e Alexander estavam ali com ele. Ele se sentou numa cadeira que estava do lado direito da cama:
-Meu amor, adivinha quem eu trouxe para te ver? –e ergueu um pouco o bebê, que observava com curiosidade a mãe –O Alex. O nosso filho é tão lindo. Eu quero tanto que você saia dessa para poder vê-lo crescer. Nós juntos somos uma família, essa família não está completa sem você, minha querida. Eu sei que você não pode me ouvir, mas eu te amo demais, Virginia. Eu sou um imbecil por ter quase te matado. Eu não sou nada sem você, amor. Você é o meu ópio, o meu vício, o combustível que me faz ter vontade de viver e mais do que nunca eu sei disso. Eu criaria o Alex de uma maneira que você aprovaria, mas não seria a mesma coisa do que ter você ao meu lado me ajudando nisso. Me perdoa, minha ruiva. Você é inteligente demais, brilhante demais para acabar dessa forma... –os olhos dele estavam tendo dificuldades em conter o mar de emoções que ele estava transmitindo através daquelas palavras.
Parou de falar, não confiava que conseguiria guardar aquelas lágrimas por muito tempo se continuasse. Levantou uma mão de Virginia, acariciando-a por alguns instantes. Até que ele pegou uma das mãozinhas de Alex e colocou entre sua própria mão e a dela. O loiro fechou os olhos e murmurou:
-É o fruto do nosso amor. Seja forte por você mesma, por mim, mas acima de tudo seja forte pelo nosso filho.
Draco sentiu uma pressão em sua mão e então abriu seus olhos. No segundo seguinte assistiu Virginia sentar-se na cama como se tivesse levado um choque de seu travesseiro e arregalar os olhos para logo em seguida franzir o cenho para tentar protegê-los da luz. O loiro ficou sem palavras e perguntou-se se estava tendo alucinações ou sonhando acordado. Gina olhou para a mão direita dela que estava junto da dos dois loiros:
-Oh, meu Deus. Eu consegui... –ela disse, com a voz rouca, sua garganta queimava de tão seca.
-Você é mesmo a Gina e não um produto da minha imaginação? –ele perguntou, sentindo-se perdido.
A ruiva tirou do braço a agulha que estava levando soro para dentro de seu corpo. Em seguida perguntou com a voz carregada de emoção:
-Posso segurar o nosso filho?
Draco fez que sim e ajudou-a a posicionar o bebê na melhor posição:
-Como é que você acordou simplesmente de repente?
-Não foi tão simplesmente assim. –respondeu, olhando com adoração para o bebê –Oh, Draco, o Alex é uma cópia sua. Tão lindo. –e depositou-o na cama, perto do travesseiro, meio que fazendo cócegas na altura da barriguinha dele –Coisinha linda da mamãe. –e então virou-se para Draco –Posso te dar um abraço?
Ele ergueu uma sobrancelha:
-Isso é algo que se pergunte? Você sabe muito bem a resposta.
Gina se ajoelhou sobre a cama e se aproximou de Draco do melhor jeito que conseguiu. Olhou fundo nos olhos dele, como se quisesse decorar cada traço, cada mínimo detalhe. Então ela levantou uma mão e acariciou o rosto dele. Então, sem aviso prévio, ela enlaçou-o pelo pescoço e pressionou seu corpo contra o dele num abraço apertado. Draco passou seus braços em volta da cintura dela e apoiou seu queixo sobre o ombro dela:
-Nessas últimas horas eu estava consciente, mas eu não conseguia me mexer, abrir os olhos ou falar. Eu ouvi tudo o que falaram nesse quarto. Tive tanto medo de não voltar nunca mais. Eu ouvi o que você falou também. Eu lutei tão desesperadamente para conseguir sair daquele torpor. Eu tentei me agarrar a sua voz, suas palavras. Então eu senti o contato da sua mão e do Alex e não sei como, consegui mexer a minha mão. Daí eu pensei que talvez conseguisse me mexer mais, tentei me sentar e consegui. Draco...Eu tive tanto medo! –e lágrimas começaram a rolar pelo rosto dela.
O loiro apartou um pouco o abraço para secar as lágrimas dela:
-Vai ficar tudo bem, Virginia. Eu prometo. –e então a encarou mais profundamente –Eu sinto muito por não ter acreditado em você e ter causado esse acidente. Eu me arrependo profundamente.
Ela colocou um dedo na frente dos lábios dele por um instante;
-Eu acredito em você, Draco. Eu ouvi o que você disse quando pensou que eu não estava escutando. Eu te perdôo. Eu te amo tanto...
O loiro acabou com a distância que havia entre os lábios de ambos e beijou-a numa mistura de paixão, desespero e saudades. Tinham perdido a noção do tempo naquele beijo, como se a vida deles dependesse da continuidade daquele contato instintivo que seus lábios e línguas faziam. Mas como que a lembrá-los de que não era apenas um com o outro que deveriam se preocupar dali em diante, Alex começou a chorar. O lado maternal de Gina falou mais alto e ela foi a responsável pelo término do beijo. Logo tinha o filho em seus braços e o ninava, o que não estava adiantando muito para que o choro parasse:
-Draco, será que você pode pegar um copo de água para mim? Estou com muita sede.
Imediatamente Draco contornou a cama e se dirigiu para a cômoda. Lá havia uma jarra e um copo. Draco serviu um pouco de água no copo e entregou para a ruiva. Ela bebeu de uma só vez, devolvendo-o rapidamente para em seguida desabotoar a parte de cima da roupa de paciente que usava, deixando um de seus seios exposto. Draco observou a mulher dar de mamar para o filho e ficou hipnotizado pela cena:
-Isso é lindo, Vi. –ele confessou e ela sorriu.
Draco não tirou os olhos do seu filho abocanhando o mamilo rosado de Gina. Era algo tão inocente...
“Ao contrário do que a minha boca faz perto dos seios dela...” pensou, sorrindo internamente com várias lembranças de momentos íntimos que já tivera com a ruiva.
Quando o bebê pareceu satisfeito, a ruiva entregou-o para que Draco o segurasse. Ele beijou uma bochecha do filho:
-O papai ama você. –falou olhando nos olhos claros dele e Gina sorriu –Tem uma coisa que eu quero te pedir. –disse seriamente.
-O quê? –ela perguntou, ao mesmo tempo preocupada e curiosa.
Por alguns instantes, os quais pareceram uma eternidade para Gina e um piscar de olhos para Draco, eles apenas se encararam, até que ele respirou fundo e tomou coragem:
-Virginia Molly Weasley, aceita se casar comigo? –perguntou, ansioso e com expectativa.
A ruiva não sorriu e ele poderia não saber, mas ela esforçava-se para manter o rosto vazio de expressões:
-Não.
N/A2: Please, tenham piedade dessa autora que vos fala e não atirem seus avadas!
Sim, eu sei que eu demorei muitos meses (quase um ano) para atualizar essa fic. Mas acreditem, não teve um mês em que eu não pensasse “Poxa, eu preciso continuar a fic. Não vou desistir dela.”. Mas eu ainda tinha mais a RC (que eu consegui acabar) e a Algemas da Paixão, além da Danger. E como fazia mais tempo que eu não atualizava a Algemas, tive que priorizar. Além disso, teve a questão falta de tempo e de oportunidade para escrever (durante meu período letivo eu não tenho acesso ao meu PC, daí é complicado). Sem contar que durante certas vezes eu tive crise de inspiração. Então não me matem por essa tamanha demora e nem por onde eu terminei esse último capítulo. Ùltimo capítulo da fic? Sim. A fic acabou assim? Não. Eu ainda vou escrever um epílogo. Provavelmente não vá ficar tão grande qto um cap, justamente por ser um epílogo. E eu ainda não tenho muita idéia do que escrever nele, mas pretendo fazer o meu máximo pra não demorar tanto quanto demorei para postar esse. Eu me esforcei para que saísse bom esse capítulo, mas ainda tenho minhas incertezas quanto a isso...Então, por favor, se vocês pudessem fazer o lindo e maravilhoso ato de mandar uma review comentando o que vocês acharam...Eu ficaria imensamente grata ^^ Obviamente eu não poderia deixar de agradecer as pessoas que se perguntaram raivosamente “Aquela autora relaxada não vai mais postar não???????????” e que me mandaram reviews/e-mails ou até pelo MSN me cobrando de quando eu atualizaria. Não que eu precisasse ser lembrada...Mas isso mostra que vocês se importam e eu fico muito feliz com isso XD Thanks por não desistirem de ler a fic. Bjuss
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