Um Natal Inesquecível







N/A: Estou tão emocionada



N/A: Estou tão emocionada! Eu consegui terminar o capítulo! Acreditem, eu tava sofrendo pra caramba com essa demora, mais do que vocês, podem crer em mim! Bem, deixem primeiro eu me desculpar devidamente:


Ó, queridos leitores, por favor, perdoem essa pobre autora, que também é uma escrava Isaura no trabalho, que também é uma tia dedicada às voltas com a festa da sobrinha, que também está se preparando pra prestar concurso pro TRE, que também... nem sei mais também o que sou! (Rsrsrs)


Gente, agora é sério, eu sei que uma demora de quase seis meses é indesculpável, mas eu peço que me desculpem mesmo assim, e que entendam as minhas razões. Saibam que em nenhum momento eu abandonei a fic, só não atualizei antes porque não consegui, mesmo.


Agora, sobre o capítulo... eu não faço idéia de como está, pq mais uma vez a Tonks sumiu, e se eu for esperar ela aparecer pra dá assessoria, não sei quando vou poder postar, então, qq coisa, me desculpem, ok? Espero que gostem, mesmo não sabendo se tá coerente (escrevo as cenas que me vêem na cabeça, depois vou juntando, então, se ficou faltando alguma coisa, não reparem, depois eu conserto).



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CAPÍTULO XIX


Um Natal Inesquecível



- Aquele idiota, cérebro de trasgo...


Ana continuou recitando a lista de xingamentos, andando nervosa pela sala, enquanto Alice e Kristyn a observavam. O rosto de Alice expressava sua surpresa diante do comportamento pouco usual da amiga, ao contrário de Kristyn, que se divertia, e estava até satisfeita com aquilo. Afinal, era muito melhor do que a apatia e conformismo que a prima vinha apresentando desde que abalara o castelo.


- ... imbecil arrogante! Quem ele pensa que é?


- O pai do seu filho. - Kristyn respondeu prontamente, rindo e erguendo os braços de forma defensiva, diante do olhar assassino que ela lhe lançou - Ei, foi você quem perguntou!


- Mas não era essa a resposta que eu queria! - Ana bufou, e foi para diante da janela, remoendo sua irritação em silêncio, enquanto observava a movimentação dos alunos que se preparavam para a visita a Hogsmeade.


Fazia uma semana que contara a Remo sobre o bebê. Uma semana extremamente exasperante. Sim, pois passado o choque inicial, e depois de avaliar toda a situação, o grande sr. Lupin chegara a conclusão de que deveriam se casar. E simplesmente declarara aquilo como se fosse fato consumado. Mas Ana não tardou a deixar bem claro que já criara uma filha sem ter um marido, e não via por que deveria ser diferente daquela vez. O que não o deixou nem um pouco satisfeito.


A discussão que se seguiu foi realmente um espetáculo a parte, nenhum dos dois disposto a ceder um milímetro sequer. E pararam apenas quando madame Pomfrey entrou na enfermaria, furiosa, e expulsou Remo dali. Porém, assim que Ana fora liberada pela enfermeira, três dias atrás, ele voltara ao ataque, determinado a ter as coisas a sua maneira.


- Ana, - começou Alice, hesitante - talvez...


- Não, Alice. - ela cortou com frieza, sem se voltar - Esse casamento seria um erro. Talvez o maior de todos que já cometi.


- Concordo. - Alice voltou-se surpresa para Kristyn, que continuou - Pelo menos enquanto vocês pensarem que Remo está fazendo isso somente pela criança.


- É exatamente o que ele está fazendo. - ignorou o gesto que Kristyn fez para Alice, como quem diz "está vendo?", prosseguindo - Ele só pensa nisso. Não me deixa em paz um minuto, sempre preocupado, diz que eu tenho que descansar e várias outras orientações que, segundo Frank me contou, ele conseguiu num livro sobre o assunto. Ele está obcecado!


- Ele só quer cuidar de vocês. - comentou Alice, com um sorriso.


- E se levarmos em conta a inexperiência no assunto, e o fato de ter perdido a chance de fazer o mesmo com a filha, dá pra entender muito bem o cara.


- Kristyn! - Ana se voltou para ela, irritada - Afinal, de que lado você está? Pensei que quisesse transformá-lo num verme-cego.


- Sabe que eu estou sempre do seu lado, querida prima. Quanto ao Remo, ele parece ter voltado ao caminho certo, por isso já o perdoei. Mas é mesmo bom você fazê-lo sofrer um pouquinho, assim ele aprende alguma coisa.


- Eu não sei de onde você tira essas idéias, mas isso não é nenhum joguinho. Eu ainda o amo. - ela confessou, desviando o olhar tristonho novamente para a janela - Mas ele não sente mais nada por mim. Acredite, eu sei disso.


- Ana... - Alice foi até ela, abraçando-a pelos ombros - Isso foi antes. Ele estava em choque com tudo o que aconteceu. Talvez se você...


- Não, Alice. Sentir aquele vazio, a ausência fria de qualquer tipo de emoção, quase me destroçou. Eu não poderia suportar passar por aquilo de novo.


Kristyn e Alice trocaram olhares. Ela estava enganada sobre o que encontraria caso se abrisse para as emoções de Remo, mas nada a convenceria disso. Então resolveram mudar de assunto.


- Então, você não vai ao Palácio da Lua?


- Não importa se Remo acha que é muito perigoso. Alena já disse que minha presença é indispensável, e nada vai me impedir de ajudá-los na missão. - respondeu, determinada. Aquele era o motivo de sua irritação, e de sua última discussão com Remo: ele não aceitava que ela participasse de outra busca. Porém Alena a apoiara, afirmando que ele poderia ficar, se quisesse, mas que sem Ana, eles não conseguiriam a Ithil Celeb, o que encerrara a discussão. - Por falar em Alena, onde ela está?


- Ela precisava preparar algumas poções, e Dumbledore lhe disse para usar a sala de Snape, já que ele está viajando.


- Essas viagens de Snape são muito arriscadas. Logo Voldemort vai se perguntar como ninguém desconfia dessas ausências.


- Ele pensa que Snape faz jogo duplo – ou seria triplo? - se fingindo de espião para Dumbledore, mas na verdade espionando para ele.


- Ainda assim...


- Esqueça isso, Ana. – Kristyn cortou, aborrecida - Deixe-o fazer algo. Sinceramente, não me preocupo nem um pouco com o que possa lhe acontecer.


As outras duas acharam melhor não insistir. Sabiam que a amiga se ressentia de Snape, pelo que acontecera a Sirius. Nada a convenceria de que ele não poderia ter feito algo para evitar aquilo.


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- Droga de mulher teimosa!


Rhea apenas sorriu, vendo o pai passar novamente a mão pelos cabelos, já bastante bagunçados, enquanto andava pelo quarto como uma fera enjaulada.


- Do que está rindo, mocinha? Não tem pena do seu velho pai?


- Pobrezinho... – ela ironizou, rindo ainda mais da careta que ele fez.


- É sério, Rhea, sua mãe está tentando me enlouquecer! - ele suspirou, sentando-se na poltrona em frente a cama, onde a filha estava acomodada. Desviou os olhos do álbum aberto sobre seu colo. Ela o flagrara sorrindo como um idiota, olhando novamente as fotos da primeira gravidez de Ana – Porque ela não pode simplesmente aceitar o que é melhor para todos?


- Talvez porque o que você acha que é melhor para todos não seja o melhor para ela. – retrucou calmamente.


- Você também... - ele resmungou, desanimado - Pensei que estivesse do meu lado.


- É claro que eu quero que vocês fiquem juntos, mas você está metendo os pés pelas mãos, pai. Tentar obrigar a mamãe a se casar usando sua gravidez como pretexto não vai funcionar.


- Não é um pretexto. - ele retrucou, irritado - Se não fosse por isso, jamais pensaria em voltar a me envolver com Ana. Ela conseguiu estragar tudo com suas mentiras.


- Então pare de insistir nesse casamento.


- Nada disso. Eu vou participar de todos os estágios da vida dessa criança, como deveria ter sido com você.


- Pode fazer isso sem estarem casados.


- Uma criança precisa de uma família. – ele insistiu com teimosia, fazendo-a sorrir internamente.


- Bem, agora que o coração dela está livre, mamãe pode se apaixonar novamente, constituir uma família... – comentou casualmente.


- Só por cima do meu cadáver! - ele rugiu, levantando-se e voltando a andar nervosamente – Eu não vou deixar outro homem assumir o lugar que deve ser meu!


Rhea teve que usar todo o seu autocontrole para não rir abertamente. Seu pai estava morrendo de ciúmes! Ótimo. Quanto antes ele aceitasse seus verdadeiros sentimentos, melhor.


Levantou-se e foi até ele, estalando um beijo em seu rosto, para depois se aninhar em seus braços.


- Adoraria ficar aqui me deliciando com sua crise de ciúmes, mas tenho que ir a Hogsmeade.


- Não estou com ciúmes. - ele retrucou sem convicção, e apoiou o queixo em sua cabeça. Resolveu mudar de assunto - E as coisas com o Harry, como vão?


- Ele parece estar feliz com seu namoro com Sammy.


- E você não se importa?


- Para Harry é impossível determinar de quem gosta mais. A escolha que fez foi baseada no único motivo que eu aceitaria. E eu fico feliz por isso. – ela ergueu os olhos para encontrar os do pai, cheios de preocupação - Sério.


- Talvez um dia ele te aceite por inteira. - ele comentou, acariciando de leve seu rosto.


- Talvez. – ela deu de ombros, como se aquilo não importasse, mas Remo sabia que estava fingindo - Mas por enquanto, vamos ver no que vai dar isso tudo.


- Muito bem, agora vá, mocinha, e trate de comprar um belo presente de natal para o seu pai. – ele brincou, empurrando-a na direção da porta.


- Interesseiro. Saiba que o seu presente não apenas já foi providenciado, como já está muito bem embrulhado, esperando o momento de ser entregue.


- Ótimo! Tenho certeza de que vou adorar.


"Eu também, papai", ela pensou, enquanto saía do quarto. "Talvez não no começo, mas no momento certo..."


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- O que você está fazendo aqui?


A pergunta repentina, feita em tom ríspido, interrompeu o silêncio do laboratório. Porém, Alena sequer ergueu os olhos do caldeirão borbulhante para encarar o irritado recém-chegado.


- Diria que isso é óbvio. – respondeu calmamente – Estou preparando uma poção.


Snape ficou ainda mais irritado. Chegara a pouco de sua última missão, e tendo sido informado que Dumbledore não se encontrava no castelo, deixara o relatório para depois e seguira direto para seu escritório, disposto a relaxar um pouco. A última coisa que esperava e desejava era encontrar aquela mulher ali. Como era de costume, reagiu àquela incômoda presença com frieza e sarcasmo.


- Desculpe, minha senhora, esqueci de que era uma sacerdotisa da Ilha Sagrada, e como tal está acima de coisas como educação e respeito ao espaço alheio.


- Não seja impertinente. – ela retrucou, ainda sem se dignar a olhá-lo, enquanto examinava ingredientes dispostos sobre a mesa ao lado do caldeirão, escolhendo alguns para acrescentar à mistura - É lógico que jamais viria aqui sem permissão.


- Engraçado... não me lembro de tê-la concedido. - comentou com acentuada ironia.


- Não foi possível, visto que estava ausente, mas Dumbledore, como diretor de Hogwarts, me autorizou a fazer uso do laboratório da escola.


As feições de Snape, que tinha caminhado até a mesa e examinava os ingredientes, tentando descobrir que tipo de poção ela preparava, ficaram duras como pedras, o olhar frio assumindo um brilho cortante.


- Você não nega o parentesco.


- Com quem? - perguntou de forma desinteressada, enquanto mexia o caldeirão.


- Com aquela Feiticeira dos infernos, quem mais?


- Pode ser. - ela finalmente ergueu o rosto para ele, e os olhos que o encaravam estavam enevoados, como que cobertos por fina neblina - Mas é Ana quem você vê quando me olha, e é isso que realmente te incomoda.


Depois de um momento de espantado silêncio, Snape praguejou, e virou-lhe as costas, rumando para o escritório do outro lado do laboratório.


- Não seja tola. - disse enquanto se afastava - Por favor, apresse-se, pois eu preciso preparar a poção de Lupin ainda hoje, se não quisermos ter um lobisomem feroz a solta em Hogwarts. E eu agradeceria se não utilizassem seus dons na minha pessoa. - declarou antes de bater a porta.


"Como ela se atreve?", ele tinha as mãos espalmadas sobre a mesa e inspirava profundamente, tentando acalmar a raiva despertada pelas palavras da sacerdotisa, "Como ousa sequer insinuar...".


Com movimentos bruscos ele puxou a varinha, destrancando a última gaveta da mesa, e tirou de lá um retrato muito antigo, onde uma adolescente de cabelos negros, límpidos olhos azuis e expressão bondosa estava sentada na beira do lago, os pés brincando na água.


Snape desabou sobre a cadeira, o olhar preso a garota sorridente.


- Está enganada, sacerdotisa. - murmurou, perdido nas lembranças que o comentário da mulher e a foto em suas mãos evocavam - Ninguém se compara a ela.


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Todos os alunos que ficavam para as festas no castelo não perdiam a última visita a Hogsmeade antes do Natal, aproveitando-a para compras. E uma vez que poucas famílias se arriscavam a afastar os filhos do lugar mais seguro naqueles tempos – debaixo das vistas de Dumbledore - aquilo significava que praticamente todo o corpo estudantil abarrotava o vilarejo.


Harry e os amigos quase desistiram de ir, pois o frio era intenso e a neve não dava descanso, mas assim como os outros também tinham compras de última hora a fazer, e sentiram-se recompensados por sua persistência ao verem a surpresa que os aguardava em Hogsmeade. A Zonko’s tinha sido vendida e transformada em filial da Gemialidades Weasley. Os novos donos, como não podia deixar de ser, realizaram uma inauguração digna de sua fama, atraindo uma verdadeira multidão.


- Mas que filhos...!


- Veja bem o que vai dizer, Ronald Weasley! - cortou Gina, fingindo-se de indignada - A mãe deles é a nossa também, esqueceu?


- Como eles puderam esconder isso da gente? - Rony estava inconformado, enquanto seguia com os amigos, lutando com a massa de estudantes excitados que se aglomeravam em frente à loja examinando as vitrines - Nós somos seus irmãos!


- Bem, pelo menos agora sabemos o que eles tanto faziam no vilarejo. - comentou Harry, que ia abrindo caminho, seguido por Sammy, que segurava sua mão. – Uau! - exclamou ao finalmente conseguir entrar na loja.


Os outros tiveram a mesma reação, observando maravilhados o resultado da criatividade dos gêmeos. As prateleiras estavam repletas de artigos que fariam com que os Marotos achassem que estavam no paraíso. E todas tinham a sua frente mostruários encantados, onde os fregueses podiam ver demonstrações permanentes desses artigos, transformando a loja numa verdadeira miríade de cores e movimentos.


- Nossa, me sinto como se estivesse dentro de um caleidoscópio. – comentou Nicky, fascinada.


- Que bom que gostaram. - respondeu uma voz feminina atrás deles.


- Angelina! - Harry exclamou, cumprimentando a antiga colega - O que faz por aqui?


- Trabalhando, Harry. - ela indicou as vestes magenta que formavam o uniforme da Gemialidades.


- Mas você não tinha sido contratada pelo time do Olívio? - Hermione estranhou.


- Realmente, Hermione, mas com a volta de Você-sabe-quem e seus seguidores, o Ministério suspendeu todos os campeonatos, por medida de segurança. Então, como não tínhamos nada a fazer, resolvemos dar uma mãozinha a nossos amigos.


Ela indicou o outro lado da loja, onde Olívio Wood, Lino Jordan e Alícia Spinnet atendiam os fregueses, todos usando o uniforme da loja. Lembrando-se de como Olívio era com quadribol, Harry sorriu.


- Olívio está reagindo melhor do que eu esperava. - comentou.


- Ah, é verdade. Tivemos que estuporá-lo para impedi-lo de invadir o ministério e "resolver o problema", como ele dizia. Mas agora ele tá legal.


Depois de conversarem mais um pouco com a garota eles se espalharam pela loja. Harry e Sammy se distanciaram discretamente de Rony e Hermione, tentando dar espaço para os amigos se acertarem.


- É impressão minha ou Nicky está interessada em um dos gêmeos? - comentou Harry, olhando para o outro lado da loja, onde eles conversavam animadamente.


Sammy riu ao seguir o olhar do namorado.


- Eu diria que não apenas interessada... – ela respondeu, vendo o modo como a amiga sorria para o ruivo - mas determinada a conquistá-lo. Qual deles é aquele?


- Daqui não dá para dizer, mas espero que seja o Jorge, ou Angelina não ficará nem um pouco satisfeita.


- Com certeza. – ela continuava olhando para os dois – Até que combinam, não é?


- Em vários sentidos. – ele concordou, voltando sua atenção para as mercadorias dispostas nas prateleiras a sua frente – Incrível o que eles são capazes de inventar, não é? – comentou, com expressão pensativa.


- Duvido que eles consigam ajudá-lo a desvendar os segredos daquele livro.


- Como você...?


Ela riu da expressão espantada do namorado.


- Você só tem pensado nisso. Fica horas olhando para suas páginas, esperando que a qualquer momento uma inspiração divina lhe mostre o que fazer. – ela sorriu ainda mais quando ele fechou a cara, aborrecido, e inclinou-se para beijá-lo. Depois, seu rosto ficou sério – Harry, já parou para pensar que pode não gostar do que vai descobrir se conseguir que aquele livro revele seus segredos?


- Tenho certeza de que não vai ser nada que eu já não saiba: - ele respondeu com rispidez - que o Snape é um maldito bruxo das trevas, e que não merece a confiança que Dumbledore deposita nele.


- Espero que não tenha uma surpresa desagradável. - retrucou desanimada, como quem não acredita muito na possibilidade. Em seguida voltou a ficar sorridente, e enlaçando seu braço, puxou-o em direção ao local onde Nicky e Jorge ainda conversavam – Agora vamos deixar isso pra lá, e ver o que a louca da minha amiga está aprontando agora.


Ao se aproximarem perceberam que os dois estavam envolvidos numa pequena discussão.


- Sou, sim. – ele afirmava com firmeza.


- Não, não é. - Nicky respondeu tranqüilamente, e deu de ombros – Mas se pensar que me engana te faz feliz, vá em frente.


- Ei, o que vocês estão discutindo? – Harry perguntou, divertido com o ar perplexo do rapaz. Coisa realmente rara de se ver.


- Ela se recusa a acreditar que eu sou o Fred, e não o Jorge. – ele explicou, parecendo aborrecido.


- Bem, se está falando a verdade, - disse Sammy, com um sorriso maroto, enquanto ao seu lado Harry segurava o riso – então o Jorge está encrencado.


- Eu... o Jorge? – ele se espantou – Por que?


- Vocês podem ser muito unidos, mas duvido que aceite que ele fique beijando sua namorada. – ela explicou – Harry e eu acabamos de passar por eles.


- E então, Fred? – Nicky provocou – Não vai lá tirar satisfações?


- Como você sabia? – ele perguntou, encarando-a intrigado, e ignorando os outros dois que agora riam abertamente dele.


- Tenho grande experiência com gêmeos. – ela explicou – Minha família está repleta deles e sempre consegui diferenciar um do outro. Deve ser um dom, sei lá. – acrescentou com um dar de ombros.


- É a primeira vez que não consigo enganar alguém. - ele comentou, parecendo frustrado, e então sacudiu um dedo em sua direção, censurando-a – E eu não gostei nada disso, viu bem, mocinha?


- E o que pretende fazer a respeito? – ela rebateu, com ar desafiante.


- Pensarei em algo, pode ter certeza. – respondeu, disfarçando aquele jeito dela o agradara – Enquanto isso, vou ficar de olho em você.


Ela se aproximou bem dele para falar junto ao seu ouvido.


- Estou contando com isso. – sussurrou, provocante.


Harry e Sammy que acompanhavam a conversa se entreolharam com malícia e decidiram que, assim como Rony e Hermione, aqueles dois também precisavam de privacidade. Saíram de fininho, enquanto eles continuavam entretidos com sua conversa.


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Olhando pela vitrine, Gina notou que nem todos procuravam as lojas e tavernas para se proteger do frio intenso.


- Malfoy - ela murmurou para si mesma, vendo o rapaz olhando em volta antes de se esgueirar por uma passagem estreita entre dois prédios, que levava até o terreno a beira da Floresta Proibida. Um lugar ermo, sem nada que pudesse atrair o interesse de alguém - O que ele está aprontando?


Resolvida a descobrir, ela aproveitou que os amigos estavam distraídos e saiu da loja, seguindo rapidamente o mesmo rumo de Draco. Assim que saiu da passagem, viu que ele seguia para um velho casebre abandonado, que ficava numa colina a poucos metros da Floresta.


"Ótimo!", ela pensou com ironia, apertando o casaco a sua volta, enquanto se desilusionava, o que não era tão eficiente quanto uma capa de invisibilidade, mas que serviria bem no momento, já que nevava tanto, "Um tempo maravilhoso desses e ele resolve sair para um agradável passeio pelo campo! Aí tem coisa!".


Aproximou-se cautelosamente do casebre e posicionou-se em baixo de uma janela, estreitando bem os olhos para poder enxergar através da vidraça imunda. Quase deixou escapar um palavrão ao ver que estava lá dentro.


- E então, garoto, trouxe?


Como resposta, Draco estendeu uma pequena bolsa de couro, de onde a mulher retirou três pequenos frascos.


- Ótimo, milorde vai ficar satisfeito. - depois de analisá-los com atenção, tornou a guardá-los na bolsa - E quanto ao resto?


- Nada ainda.


- Você já teve bastante tempo - o tom de sua voz dura demonstrava seu desagrado - Eu sabia que seria perda de tempo esperar que você conseguisse algo.


- Eu consegui algo. - indicou a bolsa com um gesto.


- E acha isso grande coisa? - ela sorriu com escárnio - Você é tão patético quanto seu pai, que só conseguiu colaborar de verdade com nosso mestre morrendo, e ainda precisou de ajuda para isso.


Ela ainda ria quando o ar lhe faltou de repente. Tentou erguer a varinha, mas esta voou para as mão de Draco, que caminhava tranqüilamente a sua volta.


- Acho que está na hora de esclarecermos algumas coisas, titia. – declarou friamente, sem esboçar qualquer emoção enquanto a via cair de joelhos, lutando para respirar - Primeiro, seu histórico recente não permite que critique ninguém: você é um poço de fracassos e desapontamentos para o lorde, e há muito não pode se gabar de ser sua "mais leal e querida serva". - ele imitou-a, parecendo divertir-se com a raiva que brilhou em seus olhos - Segundo, no presente momento, eu e minha mãe somos mais importantes para os planos dele que você, o que me deixa numa posição muito melhor que a sua. E por último, - ele se agachou ao lado dela, que já estava estirada no chão, quase inconsciente e estendeu o braço diante de seu rosto, a manga puxada até o cotovelo - Isto deixa bem claro quem e o quê eu sou, e garanto que posso ser tão cruel quanto qualquer um de nossos amigos, e não é aconselhável me provocar. E lave bem a boca antes de falar do meu pai novamente.


Ele se ergueu e Bellatrix sentiu o ar voltar aos seus pulmões, tossindo ofegante. Incapaz de continuar assistindo aquilo passivamente, Gina correu para longe dali, sentindo-se tão sufocada quanto a mulher caída no interior do casebre.


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"Acho melhor segui-la. Ela parecia muito abalada."


"Ela é forte. Vai ficar bem.", apesar dessas palavras, Wezen acompanhou a partida da garota com olhar preocupado. Depois de alguns instantes, porém, voltou o rosto em sua direção, a expressão zombeteira, "Tentando se livrar de mim?".


"Imagine!"


Tonks virou o rosto na direção da janela que estiveram observando, mais para imprimir entre eles alguma distância, por mínima que fosse. Estavam vigiando Malfoy desde que ele saíra do castelo, e quando se tornou impossível segui-lo sem que ele notasse, resolveram usar a capa da invisibilidade da auror. O problema era permanecerem os dois sob ela, sem que nenhuma parte deles ficasse a vista. Ele resolvera a questão simplesmente abraçando-a pelas costas, colando-se inteiramente a ela. Vendo seu sorriso presunçoso, ela engolira o protesto, limitando-se a olhá-lo com desdém.


"Parece que a titia está se recuperando", ela comentou, vendo Bellatrix se erguendo.


"Vamos ver no que isso vai dar.", ele respondeu, e sob o pretexto de observar melhor, apoiou o queixo em seu ombro, o rosto colado ao dela.


Esforçando-se para ignorar o arrepio que percorreu sua espinha, ela se concentrou na cena que se desenrolava no interior do casebre.


- Eu devia matá-lo por isso. - Bellatrix sibilou, os olhos duros faiscando.


- Você poderia tentar. - ele retrucou com frieza.


Contrariando as expectativas, a mulher riu, um riso desagradável capaz de provocar arrepios em quem o ouvia, mas também era perceptível uma nota de satisfação.


- Ótimo, sobrinho! É muito bom saber que a fraqueza dos Malfoy não estragou seu sangue Black. Expeliarmus! – ela gritou antes que ele acabasse de erguer a varinha, fazendo-o cair sobre a poltrona. Sacudiu a cabeça com falso pesar – Draco, Draco... Da primeira vez você me pegou de surpresa. Isso não se repetirá, pode estar certo. Agora, vamos voltar ao que importa. - ergueu a bolsinha de couro onde guardara os frascos – Levarei isso ao mestre, e relatarei seus progressos – ou deveria dizer a falta deles? - completou com ironia, antes de prosseguir – Não se preocupe, não direi nada sobre sua pequena insubordinação.


"Como se ela fosse contar mais uma derrota".


"Shhh, deixe-me ouvir."


Mas nem seria preciso, porque Bellatrix desaparatou, e logo a seguir Draco saiu do casebre, seguindo de volta ao vilarejo.


"Vamos segui-lo?"


"Não acho que seja necessário.", respondeu Tonks, observando o rapaz se afastando. Assim que ele desapareceu de vista, ela puxou a capa.


- Pode me soltar agora.


- Estraga prazeres. - ele brincou, antes de soltá-la.


- Engraçadinho. - retrucou, e foi investigar o casebre.


- Encontrou alguma coisa? - ele perguntou depois de algum tempo. Ela revirara todo o lugar, enquanto ele ficara parado no meio da sala, as mãos nos bolsos da calça, observando-a calmamente.


Com um suspiro exasperado, ela voltou-se para ele.


- Não, mas desconfio que já sabia disso antes mesmo de entrarmos.


- Realmente.


- E então...?


- Então o quê?


- Por que não me disse nada? - ela se indignou - Supostamente está aqui para me ajudar, não é? Ou gosta de me fazer bancar a idiota?


- Não adiantaria eu dizer nada. Você não me daria ouvidos. Não tente negar. - ela fechou a boca que já se abria em protesto - Eu quero ajudá-la, mas você tem que me deixar fazer isso. Por que resiste tanto a me ter por perto?


Por nada no mundo Tonks admitiria que ele mexia com ela. O moleque presunçoso não precisava de incentivo.


- Ok, você está certo, vamos começar de novo, está bem? - ela ignorou o sorriso satisfeito do garoto - E então, como faremos para descobrir o que havia naqueles frascos?


- Eu já sei. - ele deu de ombros diante de sua expressão espantada - Você não tinha perguntado.


- Tudo bem, vou deixar passar essa. Mas como conseguiu descobrir isso? Não acredito que tenha conseguido ler a mente deles, duvido que não estivessem protegendo-as.


- Eu sou um Vidente, não um simples telepata. - ela revirou os olhos diante de sua arrogância, o que o divertia bastante - Para mim seria impossível não saber o que havia naqueles frascos.


Ela estreitou os olhos em sua direção, desconfiando do porquê daquela impossibilidade.


- Acho que não vou gostar do rumo que isso vai tomar.


- Eu também não, mas o pior vai ser quando minha mãe souber que Voldemort está tão interessado em nós que mandou Malfoy obter fios de cabelos nossos.


- Mas o que ele pretende com isso?


- Garanto que não quer fazer uma Poção Polissuco. Ele desconfia de nós. Com seus conhecimentos de Artes das Trevas, ele pode usar esses fios para descobrir a verdade.


- Vamos voltar para o castelo. - Tonks praticamente correu para a porta - Temos que contar isso ao Dumbledore, imediatamente!


- Ei, calma aí. - ele conseguiu alcançá-la quando já descia a colina, e segurou seu braço, fazendo com que se voltasse para ele - Não adianta se apressar. Dumbledore não está em Hogwarts, ele saiu para uma reunião no ministério, lembra?


- Bem, podemos falar com outra pessoa, sua mãe...


- Nem pensar! Se ela sequer sonhar com isso, eu e as garotas não teremos mais nenhum instante de sossego!


- Mas Wezen, isso é sério! É perigoso...


- Não tanto quanto parece. Sério! - ele insistiu diante do olhar descrente dela - Tudo o que Voldemort vai saber é nossa verdadeira identidade, e isso não é tão alarmante assim, temos outras proteções. Nossas mães cuidaram disso.


- Tem certeza? - ela o encarou com intensidade, acabando convencida pela expressão sincera do rapaz - Ok, mas eu insisto em contar ao diretor. E você fica me devendo essa, ouviu?


- Terei o maior prazer em recompensá-la. – o tom sugestivo e a maneira como se aproximou mais, acariciando o braço que ainda segurava deixaram claras suas intenções – Posso pensar em formas muito interessantes de fazer isso...


- Se enxerga, moleque. - com um safanão ela se soltou, voltando a caminhar em direção a passagem entre os prédios - Quando eu quiser trocar fraldas, visito meus sobrinhos.


- É, você é mesmo muito velha. - ele retrucou com ironia, seguindo-a - Quantos anos tem? Vinte?


- Fiz vinte e um em setembro.


- E eu faço dezessete em maio. Realmente, quatro anos de diferença são uma vida! - ele debochou - Você é uma verdadeira anciã.


- Vamos esclarecer algumas coisas, ok? - ela virou-se de repente, fazendo-o estacar - Primeiro, não há nada que me interesse em você. - a expressão zombeteira do rapaz deixava claro o quanto ele acreditava na declaração - Segundo, mesmo que houvesse, você é sim muito novo para mim. E terceiro, - ela elevou o tom, impedindo-o de interromper o discurso - eu já tenho alguém, e estou muito satisfeita com ele. Portanto, desista de bancar o Dom Juan pra cima de mim, está bem? Não vai funcionar.


- Quer apostar? - o sorriso arrogante continuava inabalável em seu rosto.


- Você é surdo ou idiota?


- Nem uma coisa nem outra. Apenas determinado. – deu de ombros com displicência – Acho que é um traço genético. Lembre-me de te contar a história de meus pais qualquer dia desses.


- Sinto desapontá-lo, mas eu também sou uma Black, e posso ser tão determinada quanto qualquer um dessa família.


- Ah, mas eu tenho uma vantagem. - ele inclinou-se, baixando o tom como quem conta um segredo - Minha herança materna é ainda pior que meu sangue Black.


Ela aproximou o rosto do dele, até quase se tocarem, os olhos brilhando intensamente sem se desviar dos seus.


- Veremos. - retrucou antes de dar-lhe as costas e partir, enquanto ele a observava com um sorriso deliciado.


- Isso realmente promete ser divertido. - ele murmurou, antes de segui-la.


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"Ele não é como o pai, só precisa de um empurrãozinho."


- E você acreditou nisso. Burra, burra, burra!


Gina resmungava consigo mesma enquanto avançava pelo vilarejo, sem enxergar nada a sua frente. Por sorte, devido ao frio intenso, a maioria das pessoas se refugiavam nas lojas, deixando as ruas desertas. Assim, não precisaria se preocupar com o que os outros pudessem pensar de seu estranho comportamento. Não que isso fizesse diferença, claro.


"Ele é um Comensal. Um maldito Comensal da Morte!". Se o encontro suspeito com uma conhecida Comensal, ou o modo cruel como ele agira contra alguém de seu próprio sangue já não fosse suficiente para convencê-la, o que vira quando ele estendera o braço para a mulher caída não deixaria dúvidas disso. A imagem da Marca Negra sobre a pele clara parecia gravada no fundo de sua retina, dançando a frente de seus olhos desde que fugira do casebre.


"E você se apaixonou por ele. Como pôde deixar algo assim acontecer, Weasley?"


- Porque você é uma completa idiota!


- Obrigada, mas o que fiz para merecer tão gentil elogio?


Gina se surpreendeu ao ver que estava diante de Nicky, que a olhava com uma expressão entre intrigada e divertida. Sabia que devia se explicar, mas não estava com paciência para isso.


- Sinto desapontá-la, mas não estava falando de você. - respondeu, continuando a andar. Conteve um suspiro exasperado ao ver que a garota a seguia.


- Então, como apenas nós duas parecemos apreciar passear nesse clima adorável, suponho que estivesse falando consigo mesma. Tentando elevar a auto-estima, é?


- Olha, Nicky, eu não quero ser grosseira, mas esse não é um momento muito bom, ok?


- Eu sei. – a súbita mudança em sua voz fez com que Gina a encarasse. Ela estava muito séria, o que não era uma coisa comum na garota – Eu estava na loja de seus irmãos quando a vi saindo daquele beco. Fiquei assustada. Você estava mais pálida que um fantasma, e parecia perdida, sem nem se dar conta de por onde ia.


- Impressão sua. - tentou desconversar, e o riso forçado contradizia ainda mais suas palavras - Deve ter sido o frio que causou essa palidez toda.


- Engraçado. - comentou irônica, sem disfarçar a descrença - Normalmente você ficaria corada, e não pálida com um frio cortante desses. – prosseguiu depois com um tom mais ameno – Gina, eu não vou forçar a barra. Se não quer me dizer nada, por mim tudo bem. Só estava preocupada com você, e queria me certificar de que ficaria bem.


Encarando o rosto franco da garota, Gina pensou que realmente precisava desabafar com alguém, e Nicky era uma boa escolha. Ela não faria julgamentos sobre seu envolvimento com um inimigo de sua família. Ela decidiu arriscar.


- Está a fim de uma caminhada? - propôs com um sorriso relutante.


- Tá brincando? - Nicky retrucou, sorrindo largamente, e abrindo os braços para indicar a paisagem ao redor – Consegue imaginar algo melhor pra gente fazer agora?


Gina riu da exuberância da amiga.


- Acho que consigo pensar em uma coisa ou duas.


- Pois eu duvido. – ela respondeu, enlaçando o braço no de Gina, e começando a andar com animação em direção aos campos congelados.


Logo as duas chegaram no velho poço abandonado, ao lado do qual havia um banco coberto de gelo. Nicky conjurou uma pesada manta, com a qual o cobriu, e após se sentarem fez aparecer também canecas de chocolate fumegante.


- Nossa, você é mesmo boa em feitiços, não? - Gina admirou-se .


- Eu sempre tive aptidão para a matéria. - ela deu de ombros com pouco caso - E então? O que aconteceu para tirar nossa inabalável artilheira dos eixos?


- Lembra do meu atacante misterioso? Bem, faz um tempinho que descobri sua identidade, e essa descoberta não me deixou muito feliz.


- Malfoy. - Nicky assentiu compreensiva.


- Mas como você sabe disso! A professora Donovan...


- Ela não tem nada a ver com isso. Eu já desconfiava dele desde que você contou sobre os ataques. Então um dia eu o vi arrastando-a para dentro de uma sala deserta, e tive certeza.


- Mas você nunca disse nada!


- Ei, não era assunto meu, ok? - ela se defendeu - Eu percebi que você também já sabia que era ele, e se não comentou nada...


- Ok, ok, já entendi.


- Então você descobriu que Malfoy era seu atacante misterioso. Mas não foi isso que a deixou tão perturbada, foi? – comentou com perspicácia.


Ela contou tudo o que tinha acontecido, e o que tinha acabado de presenciar. Nicky ouviu em compenetrado silêncio, e quando Gina terminou o relato, esperou ansiosa para saber o que ela diria a respeito.


- Dá pra entender sua perturbação. – ela comentou, séria como Gina nunca a vira – Não deve ser fácil estar apaixonada por um Comensal.


- Quem disse que estou apaixonada? – protestou, mas a outra apenas encarou-a, com aquele ar de "pra cima de mim?", e ela suspirou, dando o braço a torcer – Ok, você tem razão, estou apaixonada pelo canalha, mas não me obrigue a repetir isso, está bem?


- Pode deixar, eu não farei isso. Mas, voltando ao que interessa, o que você vai fazer agora?


- É uma boa pergunta. Eu sei o que deveria fazer, o que não sei é se consigo. – admitiu, torcendo os lábios numa careta – Desde que isso tudo começou, eu nunca fui capaz de resistir ao cafajeste, e só de pensar em denunciá-lo... – ela balançou a cabeça, com desânimo – Apesar de tudo, eu não quero que ele seja preso. Sou mesmo uma idiota.


- Não é, não. Só está apaixonada, o que não é a mesma coisa, apesar de ser bem parecido. – completou com um dar de ombros, rindo da careta que Gina fez – Não adianta reclamar, o que temos que fazer agora é traçar uma estratégia.


- Estratégia? – Gina estranhou.


- Isso mesmo. Afinal, suponho que você não esteja muito a fim de encontrá-lo a sós, pelo menos não tão cedo, não é mesmo? – Gina assentiu e ela continuou – E já admitiu que não consegue evitá-lo quando ele se dispõe a fazer isso.


- Bem, nas últimas semanas eu até consegui mantê-lo afastado, mas alguma coisa me diz que isso logo vai mudar. Ele está muito comportado.


- Realmente, isso é estranho. – ela concordou, pensativa – Mas, como dificilmente vamos conseguir descobrir o que ele está tramando, vamos nos concentrar em evitar todo e qualquer tipo de aproximação que ele possa tentar. Eu sei, vai ser uma tarefa hercúlea, mas nós conseguiremos!


Rindo da falsa pompa da garota, Gina juntou-se a ela na elaboração de seus planos extravagantes. Nenhuma das duas percebeu que alguém as espionava, alguém disposto a frustrar todos aqueles planos.


X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X


A véspera de Natal amanheceu sem nuvens, o sol se refletindo na neve e formando um lindo quadro, e proporcionando o clima ideal para que os alunos passassem o dia ao ar livre, passeando ou organizando guerras de bola de neve. Alguns casais também aproveitaram para buscar a privacidade dos pontos isolados dos jardins. Em suma, foi uma dia muito agradável, coroado por um dos jantares dos mais festivos que Harry já presenciara em Hogwarts, o que lhe causou certa estranheza. Afinal, com o retorno de Voldemort, era de se esperar justamente o contrário.


- Temos que levar em conta que ele ainda não voltou de verdade, não é? - disse Hermione quando ele comentou o fato – Até agora aconteceram poucos ataques, e nenhum muito bem sucedido.


- É, cara, - juntou Rony, abocanhando uma coxa de peru – todo mundo esperava um retorno aos velhos tempos de terror, com desaparecimentos, torturas e assassinatos. Essa calmaria dá uma sensação de segurança às pessoas.


- Sensação totalmente falsa, diga-se de passagem. – Harry retrucou.


- Sei lá, vai ver ele perdeu o jeito. - Rony deu de ombros, pensativo – Talvez esses anos de exílio o tenham enfraquecido.


- Eu não apostaria nisso. – Sammy, que estava ao lado de Harry conversando com Neville, resolveu entrar no assunto - O mais provável é que Voldemort tenha aprendido que é melhor disfarçar seus ataques, pelo menos por enquanto.


- Ora, Sammy, e como ele faria isso? - Rony retrucou, gesticulando e quase enfiando a coxa no olho de Harry – Quer dizer, mesmo que ele abrisse mão de fazer com que todos soubessem que voltou com tudo, seria meio difícil esconder seus crimes, não é? No mínimo teríamos muitos desaparecimentos suspeitos.


- Será? - foi a vez de Alex intervir.


- Está sabendo de algo, Alex? - Hermione o encarou, desconfiando do tom do rapaz.


- As vítimas preferidas dele sempre foram os trouxas. - ele respondeu em tom sugestivo.


- Alex, eu leio os jornais todos os dias. Não aconteceu nenhum ataque a trouxas. Nem unzinho desde que Voldemort voltou. – e aquilo era o que eles mais estranhavam. Aconteciam mais ataques a trouxas durante a ausência do lord das trevas do que agora.


- Talvez você não esteja olhando no lugar certo.


- O que você quer dizer...


Ela não concluiu a pergunta, pois Alex se levantou num salto, indo para o lado de Sammy, que de repente ficara extremamente pálida. A garota apertava com força a beirada da mesa e seu rosto estava contorcido de dor.


- Sammy! - Harry exclamou, assustado - O que...


Alex o fez se calar com um gesto enérgico, enquanto observava a amiga com olhar preocupado, mas que continha um quê de irritação.


- Deixe-a, Harry. - impediu que ele a tocasse e instruiu - Temos que esperar passar. E não podemos chamar atenção para o que está acontecendo, acredite, não ia ser bom para ela.


Todos assentiram e se juntaram mais, formando uma barreira que protegia a garota de olhares curiosos. Aflitos, eles aguardaram, vendo seu rosto expressar níveis cada vez mais altos de sofrimento, até que enfim ela pareceu relaxar, e tombou para o lado, sendo imediatamente amparada pelo namorado.


- Ela precisa descansar. - vendo que Harry queria protestar, ele continuou, inflexível – Acredite, é a única coisa que ela precisa agora. Nada mais pode ser feito. Vamos todos para o salão comunal, assim poderemos ampará-la sem que ninguém perceba nada.


Sem discutir, todos se levantaram, e seguiram para fora do salão. Assim que se viram longe da vista de todos, Harry pegou-a no colo, carregando-a para as escadas.


- Não precisa disso. - ela protestou, e apesar da voz ainda fraca, ela parecia estar se recuperando depressa - Já passou.


- Ótimo. - ele retrucou, sem fazer menção de colocá-la no chão - Agora trate de guardar suas forças, pois quando chegarmos ao salão comunal vai ter que me explicar direitinho o que foi isso. E não discuta. - completou quando ela tentou protestar novamente.


Emburrada, ela cruzou os braços e virou o rosto para frente. A despeito da preocupação, os amigos que seguiam um pouco atrás não puderam conter o divertimento diante da cena.


Quando passaram pelo retrato da Mulher Gorda, encontraram apenas Nicky e Gina, que não tinham descido para o salão, alegando que tinham muito o que fazer, e iriam comemorar por ali mesmo. As duas riam muito, sentadas no tapete em frente à lareira. E logo eles perceberam o motivo.


- Gina Weasley! - exclamou Rony, zangado - O que você pensa que está fazendo?


Elas olharam para o rapaz, depois se entreolharam e riram ainda mais, o que aumentou sua irritação.


- Deixe-a em paz, Rony. – interveio Hermione, disfarçando um sorriso.


- Ela está bêbada, Hermione! - ele retrucou, gesticulando nervoso na direção da irmã - As duas estão!


- Êpa! Pera lá! - Nicky protestou com veemência – Está longe o dia em que vou ficar embriagada com cooler. E a Gina também não está.


- Ah, não? - ele debochou.


- Não. Só está um pouco... – ela encolheu os ombros - ... alegre. É a falta de hábito. Sabe o que dizem, quem nunca comeu melado...


- A mamãe vai me matar. - ele desabou sobre o sofá, olhando desalentado para o rosto afogueado da irmã, que o fitava com divertimento.


- Deixe de ser bobo, meu irmão. Eu não estou bêbada, - ela olhou ao redor de si, para a confusão de taças e garrafas vazias – apesar de admitir que é essa a impressão que dá.


Antes que Rony pudesse responder, Alex interveio.


- É verdade, Rony, isso era cooler, suco de abacaxi com vinho branco. - ele explicou, erguendo uma das garrafas - É uma bebida fraca, essa quantidade não seria suficiente para embebedá-la. Ainda mais que, se eu bem conheço a Nicky, - ele lançou um olhar conhecedor para a amiga, que olhou-o com a mais completa inocência – Gina não chegou a beber nem metade dela.


- Que vergonha, Alex! - ela se fingiu de ultrajada - Desse jeito nossos amigos vão pensar que sou uma pinguça, e você sabe que isso não é verdade.


- É, eu sei, mas sei também que não se pode confiar uma garrafa de cooler a você.


Estavam todos tão entretidos com aquela situação que por um momento esqueceram o que motivara a volta antecipada do jantar, e nem notaram quando Harry levou Sammy para o outro lado do salão, deitando-a sobre um sofá ao lado da janela. Sentando-se ao seu lado, ele imitou-a, cruzando os braços sobre o peito e encarando-a em silencio. Ficaram assim durante alguns minutos, até que ela desistiu.


- Olha, eu sei que você ficou preocupado...


- Eu? Não sei de onde tirou essa idéia. – a irritação permeava as palavras irônicas – Só porque minha namorada de repente parecia estar sendo atingida por uma Cruciatus?


- Não foi assim...


- Desculpe, mas eu discordo. Talvez você não tenha noção do que parecia, mas eu te garanto: foi assim, sim! - Harry respirou fundo, tentando se controlar. Ficara realmente assustado com a crise dela, e não ia permitir que ela fingisse que nada acontecera. – É a segunda vez que algo assim acontece, Sammy. Por que não me conta a verdade? O que está acontecendo com você?


Ela demorou a responder, o olhar perdido na paisagem que a janela revelava, e antes mesmo de ver o brilho em seus olhos quando ela enfim o encarou, Harry soube que não diria o que ele queria saber.


- Eu sinto muito, Harry...


- Eu também, Sammy... - respondeu com tristeza, e com um suspiro desanimado aproximou o rosto do dela, levando a mão a sua nuca e puxando-a para um beijo suave.


Quando se separaram, o olhar da garota estava emocionado, e ela sorriu sem alegria.


- Isso foi uma despedida, não é?


- Eu não posso ficar com alguém que não confia em mim. - ele confirmou, acariciando seu rosto de leve - Preciso que esteja por inteira ao meu lado, Sammy.


- Infelizmente, essa é a única coisa que não pode ter de mim. Não ainda. Talvez um dia... - ela completou, resignada.


- É uma pena. - ele afastou a mão que acariciava seu rosto e se levantou - Talvez quando esse dia chegar, eu já não me importe mais.


E com isso ele foi para o dormitório, deixando-a encolhida sobre o sofá, o rosto voltado novamente para a janela, sem realmente ver nada a sua frente. Tudo o que queria nesse momento era que sua vida fosse algo que nunca fora: mais simples.


X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X


- As coisas não parecem boas, não é? - comentou Nicky, vendo a tristeza da amiga, do outro lado do salão.


Eles tinham encerrado o assunto da bebida há algum tempo, e observavam discretamente a conversa dos dois. Não tiveram dificuldades para deduzir qual fora o seu resultado.


- Eu vou ver como o Harry está. - Rony se apressou atrás do amigo.


- Não é melhor você ir falar com ela? - Hermione perguntou a Nicky, hesitante, ao que a garota balançou a cabeça.


- Ainda não. Ela gosta de ficar sozinha nessas horas.


- Quando estiver pronta, sabe que estamos aqui. – Alex completou, ainda sem desviar os olhos da amiga.


- Então talvez seja melhor a gente subir, não é, Gina?


- Tem razão, Mione. - ela concordou prontamente, abafando um bocejo – Além disso, esse vinho me deu um tremendo sono.


- Mas ainda não são nem oito horas!


- O vinho causa esse efeito em quem não tá acostumado, Hermione. - Nicky explicou, sorrindo diante do olhar desconfiado da outra - Nós falamos a verdade, ela não está embriagada. Apenas sonolenta.


Despedindo-se dos dois, elas subiram para seus quartos. Gina quase não conseguia manter os olhos abertos enquanto se preparava para deitar, e assim que caiu na cama adormeceu profundamente, sem nem desconfiar do que aquele natal ainda lhe reservava.


X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X


Harry não estava propenso a confidências, e Rony respeitou a vontade do amigo, deixando-o quieto em seu canto. Por isso mesmo, quando pouco antes das onze horas o viu abandonar a cadeira ao lado da janela, onde passara as últimas horas em silenciosa reflexão, e se cobrir com a capa de invisibilidade, fingiu que estava dormindo. Esperou alguns minutos depois de ouvir a porta se fechar e levantou, disposto a descer para o salão, já que não tinha um pingo de sono. Desceu a escada em silêncio e espiou o salão. Se Harry estivesse lá, ele voltaria para o quarto. Não queria que pensasse que estava vigiando-o.


Mas o salão estava deserto, ou assim ele pensou, até descobrir Hermione estirada no sofá, um livro aberto sobre o peito, dormindo a sono solto. Aquela era realmente uma boa surpresa. Poderia haver momento melhor para eles colocarem os pingos nos is?


Sentou-se ao seu lado no sofá e ficou algum tempo apenas olhando-a. Era linda e ele não entendia porque levara tanto tempo para admitir o que sentia por ela. E não se conformava com o tempo que perdera com sua idiota idéia de que ela merecia alguém melhor. Não havia ninguém melhor para Hermione do que ele, e iria mostrar isso a ela.


Cuidadosamente tirou o livro de suas mãos, jogando-o sobre a mesinha ali perto. Ficou um pouco indeciso se seria uma boa idéia, mas ligou o dane-se e aproximou o rosto do dela, beijando-a com delicadeza. Pretendia apenas acordá-la, mas quando ela levou os braços ao seu pescoço, puxando-o para mais perto de si, ele aprofundou o beijo, deitando-se ao seu lado e abraçando-a.


Lutando contra a vontade de continuar assim noite afora, Rony interrompeu o beijo, se afastando um pouco para poder encará-la, vendo sua expressão sonhadora. Seu sorriso convencido não durou muito, pois no momento seguinte era empurrado com violência para fora do sofá, caindo com um baque sobre o tapete.


- Ronald Weasley! - Hermione o olhava do sofá, parecendo muito irritada - O que deu nessa sua cabeça pra fazer isso!


O olhar de Rony rivalizava com o dela em irritação, enquanto esfregava as costas doloridas pela queda.


- Que droga, Mione, isso dói!


- Não mude de assunto!


- Eu só estava tentando te acordar.


- E precisava me agarrar pra fazer isso? - ela colocou as mãos na cintura, em postura desaprovadora - Não podia simplesmente me chamar?


- Eu não te agarrei! - diante de sua expressão cética, ele continuou - Eu só te beijei. Foi você quem me agarrou.


- Eu jamais faria isso! – ela gritou, muito vermelha.


- Pois fez! E trate de falar baixo, se não quiser atrair toda a Grifinória para cá.


- Pode deixar que eu não vou fazer mais barulho. - ela retrucou, pulando do sofá e pegando seu livro – Já está mais que na hora de ir embora.


Ao vê-la se dirigir para a escada do dormitório feminino, Rony se levantou num salto, segurando-a pelo braço e virando-a para si.


- Eu te acordei porque queria conversar com você.


- Tenho certeza que seja o que for, pode esperar até amanhã. - respondeu com frieza.


- Não pode, não senhora. - retrucou, arrastando-a de volta para o sofá - E nem adianta discutir, pois vamos conversar e ponto!


- Muito bem! - ela puxou o braço que ele segurava e sentou-se novamente. Sua postura rígida lembrava muito a professora McGonagall. - Espero que seja algo realmente importante.


- Pode ter certeza disso.


Ele sentou-se ao seu lado, e tentou decidir o que lhe dizer. Já estava nervoso, e o olhar hostil dela não ajudava muito. Depois de alguns minutos de silêncio, ela ergueu uma sobrancelha, a expressão impaciente.


- E então?


- Droga, Mione, você bem que podia colaborar, né?


- Uma vez que eu não faço idéia do que você quer me dizer, isso fica meio difícil, não é mesmo?


- Ok, ok... – ele se levantou, andando de um lado para o outro diante do sofá, e disparou a falar rapidamente - Olha, eu sei que é babaquice, mas sempre foi difícil, e não achava que era bom o bastante. Então a Gina falou aquilo do Percy e eu entendi...


- Ei, ei, calma aí, Rony. - Hermione o interrompeu, confusa - O que é babaquice? O que não é bastante bom? E o que o Percy tem a ver com tudo isso?


- É exatamente o que eu quero dizer!


- Então é melhor nós arrumarmos um intérprete, pois eu não estou entendendo lhufas. - esquecida da irritação ao ver como o amigo estava nervoso, ela fez com que ele se sentasse ao seu lado, falando com gentileza para tentar acalmá-lo - Vamos começar do princípio, está bem?


Ele assentiu com veemência, segurando suas mãos e respirando fundo antes de encará-la.


- Hermione, eu sou um idiota. - ela resistiu ao impulso de dizer "isso eu já sei", e o incentivou a continuar - Toda minha vida eu tive vergonha por ser pobre, e me sentia à sombra dos meus irmãos, que se destacavam em várias áreas. - ele a impediu de protestar e continuou - E eu deixei esse sentimento de inferioridade atrapalhar minha vida. Só quando a Gina disse que eu estava agindo como o Percy, que tinha vergonha da nossa família, foi que percebi o meu erro. Eu não quero ser como ele.


- E você não é, Rony. - ela o confortou, afagando sua mão - O Percy é pedante e esnobe, e você nunca vai ser assim.


- Obrigada, Mione, mas eu sei que se continuasse daquele jeito, eu não ficaria muito diferente dele. Poderia até não ser esnobe, mas o resultado seria o mesmo.


- Bom, mas você está arrependido, não é? Não vai continuar agindo assim. - ele concordou e ela tentou animá-lo - Então, não precisa se preocupar. Tem que continuar sua vida, evitando cometer os mesmos erros.


- É justamente por isso que eu queria conversar com você. – ela reteve o fôlego, sem ousar adivinhar o que aquele olhar caloroso queria dizer - Tudo isso que eu te contei, Mione, era o motivo porque eu me recusava a admitir algo mais que amizade entre nós. Eu achava que você merecia alguém melhor que eu, e te amo muito pra deixar que tenha menos do que merece.


- Como pode dizer uma coisa dessas? - ela exclamou, indignada - É lógico que você é bom o suficiente! Você é muito bom, ouviu, sr. Weasley, e eu não quero nunca mais ouvi-lo dizer... - ela estacou de repente, encarando-o com os olhos arregalados - O que você disse?


- Dá pra ser mais especifica? Eu disse muita coisa. - o brilho divertido em seus olhos desmentia a seriedade com que falava.


- A última frase é o suficiente, obrigada.


Ele repetiu, e quando terminou, seu sorriso se apagou e ele ficou encarando-a, confuso..


- Eu nunca vou entender as mulheres. - comentou consigo mesmo, dando tapinhas consoladores em suas costas enquanto ela soluçava, o rosto molhado de lágrimas - Por que elas sempre choram nos momentos mais estranhos?


- R-Ron-nald Weas-ley... - ela soluçou, segurando a frente das vestes dele e puxando-o para perto de si - Você é o maior idiota que eu conheço... mas eu te amo mesmo assim.


- Acho bom amar mesmo, depois de todo o trabalho que eu tive pra me declarar. - ele brincou, abraçando-a.


- Idiota. – ela repetiu, pouco antes de colar os lábios ao dele.


X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X


Harry usou várias passagens secretas para conseguir sair do castelo sem ser visto. Não entendia bem porque, mas depois de passar muito tempo perdido em seus pensamentos, revoltado com a recusa de Sammy em confiar nele e ao mesmo tempo triste com o fim do namoro, sentira uma estranha vontade de ir até o lago. Descobriu o motivo assim que chegou lá.


Banhada pela luz da lua Rhea deslizava sobre a superfície congelada do lago. Harry sentou-se num tronco caído perto da margem, observando com fascinação enquanto a garota se movia com graça, totalmente envolvida pela música que ecoava pelo ar, como atestavam seus olhos fechados e a expressão de seu rosto.


"I follow the night


Can't stand the light


When will I begin T


o live again?


One day I'll fly away


Leave all this to yesterday


What more could


Your love do for me?


When will love be


Through with me?


Why live life


From dream to dream


And dread the day


When dreaming ends?


One day I'll fly away


Leave all this to yesterday


Why live life


From dream to dream


And dread the day


When dreaming ends?"


Apesar de sua simplicidade, a música ilustrada pela coreografia intensa que a garota executava era emocionante. E quando silenciou, ela ainda permaneceu algum tempo de olhos fechados, girando lentamente no meio do gelo, os braços envolvendo o próprio corpo, como se tentando represar toda a emoção que tinha liberado.


Parecia tão distante que ele se assustou ao ouvir sua voz.


- Você não devia estar aqui, Harry. - ela disse, sem olhar em sua direção.


- Então pode me dizer por que vim? - perguntou, caminhando até ela, não sem antes enfeitiçar as botas para não escorregar no gelo. Quando já estava bem próximo, continuou - Porque, sinceramente, eu não sei.


Ela suspirou e encarou-o. Depois de vê-la patinando, Harry não se surpreendeu com a tristeza que viu no seu olhar.


- Provavelmente eu te atraí para cá. Desculpe, não era minha intenção. Às vezes é difícil controlar o meu dom.


- Se não tinha a intenção, – ele retrucou – então isso significa que realmente precisava que eu viesse.


Ela baixou os olhos e sorriu sem humor.


- Talvez. - enfiando as mãos nos bolsos do casaco, ela começou a deslizar lenta e distraidamente. Harry não disse nada, apenas seguiu-a, esperando pacientemente que ela continuasse. Depois de alguns minutos de silencio, ela ergueu a cabeça, olhando para o céu - É linda, não é? – comentou, os olhos fixos no globo prateado, e Harry imediatamente entendeu porque ela estava daquele jeito.


- Muito – ele concordou – Uma pena que não seja assim para todos. Como ele está?


- Decepcionado. Não é o que sonhamos para nosso primeiro natal. – ela encolheu os ombros com ar resignado – Ao menos estamos juntos. Poderia ser pior.


- É verdade. - ele não pôde evitar uma nota de amargura na voz. Sabia exatamente como poderia ser pior. Pensou nos pais, com quem nunca passara um natal; pensou no padrinho, aprisionado em outra dimensão; e pensou em Sammy. Podia parecer estranho, mas foi ao pensar nela que sentiu mais tristeza.


- Ela também está sofrendo. - Rhea disse de repente, sem realmente surpreendê-lo. Girou nos patins, parando a sua frente e encarando-o - Acredite, Harry, ela não queria que as coisas acontecessem desse jeito.


- Então por que ela não me diz a verdade? – ele retrucou, aborrecido – Por que não pode confiar em mim?


- Você é muito radical. - ela suspirou, virando-se e voltando a se afastar, dessa vez patinando com mais energia.


- Radical? - repetiu, com incredulidade, seguindo-a, mas sem conseguir acompanhá-la – Não acredito que está dizendo isso!


- Por que não? – devolveu, e então parou e voltou-se – Ok, Harry, eu admito que você tem certa razão.


- Claro que eu tenho...


- Mas... – ela o interrompeu com firmeza - ... Sammy também tem suas próprias razões para agir desse jeito. Nem sempre é uma questão de confiança, sabe? Às vezes temos responsabilidades que nos obrigam a guardar segredo, mesmo de alguém que amamos.


- Ora, Rhea, – ele respondeu com desdém – seu segredo também envolve muita responsabilidade, e você não se importou de que eu o conhecesse.


- Não seja tolo, Harry. É claro que me importei, e garanto que nós tomamos nossas providências para que não descobrisse mais nada que não devesse. – ela sorriu diante do olhar espantado do rapaz – Oh, sim, nós temos muitos outros segredos. – retomando o ar sério, ela continuou – Além disso, eu não te contei nada, você descobriu sozinho.


- Mas você não era minha namorada. – ele retrucou com acidez.


Ela se aproximou dele, e tomando seu rosto com as mãos, fez com que ele encarasse seus olhos, que emitiam um brilho profundo e emocionado.


- Harry, se você gosta dela como eu acredito que gosta, não deixe que isso os separe. Veja o exemplo dos meus pais.


- É totalmente diferente. – tentou argumentar, sentindo-se intimidado pela emoção do seu olhar.


- Não é, não. – ela rebateu com determinação – Eles se amam, mas estão sofrendo, separados porque meu pai não pôde aceitar que ela fez o que devia fazer, apesar do que seu coração pedia que fizesse.


Ele não teve como responder àquilo. Ela também parecia já ter dito tudo o que tinha para dizer sobre o assunto, então o silêncio reinou entre eles, enquanto voltavam a se mover sobre o gelo, cada um perdido em seus próprios pensamentos. Depois de um bom tempo, ela olhou para seus pés.


- Por que não usa patins?


Ele foi obrigado a sorrir. A facilidade com que ela era capaz de pular de um assunto para outro, totalmente diferente, sempre o divertia.


- Eu não sei fazer isso. - constrangido com o olhar espantado da garota, continuou, em tom defensivo – Eu nunca patinei.


- Mas isso é inadmissível! - ela exclamou, enquanto sacava a varinha – Temos que dar um jeito nisso.


Transformou suas botas em afiados patins que imediatamente começaram a escorregar, e Harry, inexperiente, lutou para manter o equilíbrio.


- Rhea, eu acho que isso não é uma boa idéia... – tentou protestar, prestes a se estabacar sobre o gelo.


- Não seja bobo, claro que é. – respondeu, segurando seu braço e ajudando-o a se aprumar – Venha, eu vou te ensinar.


E entre risos e tombos, os dois se entregarão a diversão da primeira aula de patinação de Harry, esquecidos momentaneamente de seus problemas.


X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X


Apesar do frio intenso, parara de nevar e o céu estava limpo e estrelado. A lua cheia reinava majestosa, lançando seu brilho prateado sobre Hogwarts, transformando-a numa visão de contos-de-fada. Indiferente a tudo isso, Draco se apoiava contra o tronco de uma árvore, parecendo entretido numa conversa com a coruja de plumagem dourada que trazia no antebraço.


- ... mas se ela pensa que vai se livrar de mim assim tão fácil, está muito enganada. - a coruja soltou um pio, como que concordando com o dono - E você vai me ajudar a mostrar isso a ela, Circe. - puxou o relógio de ouro do bolso da capa, abrindo-o para verificar a hora, para logo depois guardá-lo novamente, com um sorriso satisfeito - Quase na hora. - ele acariciou levemente a cabeça da ave - Sabe o que fazer.


A coruja então alçou vôo com elegância, e foi seguida pelo dono em sua Nimbus. Quando se aproximaram de uma das altas torres do castelo, uma verdadeira nuvem de corujas os cercou. Em algum lugar, um relógio bateu as doze badaladas.


Alguns instantes depois eles passavam por uma das janelas que se abriam para deixarem as entregas natalinas entrarem. Draco aterrisou sem ruído sobre o tapete no centro do dormitório enquanto a janela voltava a se fechar após a última coruja sair. Olhou em volta, sorrindo satisfeito ao notar que todos os presentes estavam depositados aos pés de apenas uma das camas. Estavam realmente sozinhos.


Apontou a varinha para a porta do dormitório, lacrando-a com um feitiço silencioso e depois foi até a beira da cama, cujas cortinas estavam fechadas. Ele as abriu devagar, com cuidado para não despertar a garota que dormia a sono solto, e ficou parado, observando-a. Ela jogara as cobertas para longe, e a longa camisola de flanela subira até o alto das coxas, deixando suas pernas a mostra, assim como estava também o ombro pelo qual deslizara a camisola.


Muitos diriam que ele era um canalha pelo que pretendia fazer, mas quem se importava com isso? Ele era Draco Malfoy, e fazia o que tinha vontade. E afinal, aquela também era a vontade de Gina, ela apenas não queria admitir isso. Confirmando seu pensamento, a garota se remexeu na cama, comprimindo as pernas e deslizando a mão pelo corpo ondulante.


- Draco... - ela murmurou, meio que gemendo.


Era óbvio que ela sonhava com ele, e que tipo de sonho era esse. Excitado com aquela visão, e determinado a tirar proveito disso, ele puxou um frasco do bolso da capa, bebendo seu conteúdo de um só gole. Depois se despiu rapidamente e se juntou a ela na cama.


Não queria que ela despertasse agora, por isso aproximou-se lentamente, tocando-a com cautela enquanto envolvia sua cintura com um dos braços e afundava o rosto nos cabelos espalhados sobre o travesseiro. Ela suspirou, incentivando-o, e ele seguiu roçando os lábios em seu pescoço e descendo a mão até a coxa, acariciando-a levemente, o que provocou outro suspiro, ainda mais profundo que o primeiro.


Os braços dela se ergueram, envolvendo-o pelo pescoço e puxando-o para um beijo apaixonado. Abandonando toda idéia de cautela, ele passou a acariciar todo seu corpo, enquanto suas línguas se entrelaçavam com voracidade. Sem deixar de beijá-la, ele abriu os botões de sua camisola, e baixou-a até a cintura.


- Hum... – ela gemeu quando ele envolveu-lhe os seios em carícias abrasadoras, a voz embargada enquanto continuava - ... você é um demônio... - ele se afastou um pouco para observá-la e percebeu que não estava realmente desperta. Ótimo. - ... não me deixa em paz nem em meus sonhos...


- Você não quer que eu te deixe em paz. - ele retrucou, baixando a cabeça para sugar o mamilo rosado, o que a fez arquear o corpo de encontro ao dele.


- Quero sim. – contrariando suas palavras ela levou a mão até sua nuca, acariciando seus cabelos enquanto puxava-o mais para si.


Ele riu, continuando a beijá-la e arrancando-lhe gemidos cada vez mais profundos. Em seguida ajoelhou-se na cama, puxando a camisola que se enrolara em sua cintura para baixo, aproveitando para levar também a minúscula calcinha. Atirou ambas para o lado e se deleitou com a visão que era Gina totalmente nua e entregue a ele.


- Esses sonhos estão cada dia melhores. - ela comentou com um sorriso malicioso, estendendo a pé delicado para tocá-lo - Mais reais...


Foi a vez dele gemer sentindo o pé atrevido acariciá-lo com intimidade.


- Sua diabinha... - ela riu, enquanto ele lhe segurava o pé.


- Ei, é meu sonho, eu faço o que quiser, ouviu. - ela estreitou os olhos em sua direção, parecendo ligeiramente confusa - É mesmo muito real... deve ser efeito do vinho...


Estava explicada sua reação. O sono misturado ao vinho que consumira antes de deitar faziam-na confundir sonho e realidade. Bem, não era ele quem iria reclamar de tão providencial ajuda aos seus planos. Mas ela parecia estar começando a se dar conta do que realmente estava acontecendo, e ele não podia permitir isso. Ainda não.


Ainda segurava-lhe o pé e levou-o até os lábios, beijando-o e provocando-lhe uma risadinha. Olhou para ela, erguendo a sobrancelha.


- Cócegas? - ela assentiu - Desculpe. Aqui, também? - ele beijou-lhe o tornozelo e foi subindo, sempre perguntando - E aqui? - Gina parara de rir e estava ofegante quando ele afastou-lhe as pernas para beijar a parte interna das coxas.


- Draco... - ela suspirou, e tentou detê-lo, mas ele ignorou seus protestos, seguindo sua trilha de beijos até seu ponto mais íntimo, fazendo-a gemer alto e se contorcer com o prazer que suas carícias hábeis lhe provocava.


Draco sabia que podia levá-la ao clímax daquele jeito, e apesar de a idéia lhe agradar, sabia que não devia arriscar. A força do orgasmo poderia trazê-la de volta a si, e não estava pronto para encerrar o interlúdio. Não ainda.


Erguendo o corpo, se posicionou entre suas pernas, pronto para atingir seu objetivo: torná-la sua, definitivamente. Com o olhar preso ao seu, insinuou-se dentro dela.


Gina sabia que um prazer tão intenso quanto o que estava sentindo não podia vir apenas de um sonho. De alguma forma, sabia que o que estava vivendo no momento era real, mas inconscientemente recusava-se a admitir. Era tão bom... Porém, quando a barreira de sua virgindade foi rompida, a dor atirou-a na realidade e a fez gritar.


- Shhh... calma, vai passar. – Draco manteve-a no lugar quando ela tentou se afastar, e ficou imóvel para deixá-la se acostumar aos seus corpos unidos.


Gina quis protestar, mas ele a beijou, e colocou uma das mãos entre seus corpos, acariciando-a. Logo ela tinha esquecido a dor, e ele voltou a se mover, cautelosamente a principio, mas quando Gina envolveu-lhe o corpo com as pernas, e passou a acompanhar seus movimentos, ele perdeu todo o controle. Os dois adotaram um ritmo frenético, beijando-se com sofreguidão, e algum tempo depois atingiram juntos o clímax.


Ficaram algum tempo imóveis, prostrados pelo prazer vivenciado. Draco foi o primeiro a se recuperar, e deitou-se ao seu lado. Puxou-a para junto de si e passou a afagar seus cabelos com uma ternura que o deixou surpreso. Não era típico dele. Percebeu que ela adormecera, e sem disposição para se analisar, aconchegou-se a ela e também se entregou ao sono.


X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X


Remo virou as costas para o lago, onde os jovens que estivera observando se divertiam, e entrou na Floresta Proibida. Por mais que ela negasse, não conseguia evitar a sensação de que a filha ainda iria sofrer muito por causa de Harry.


"Cuidado, Rhea, você está brincando com fogo..."


Foi arrancado de seus devaneios de repente, e ergueu o focinho, farejando o ar. Não havia dúvidas. Entre aborrecido e intrigado, ele hesitou um pouco antes de seguir a direção que seu faro indicava e se embrenhar ainda mais na floresta. Por fim, chegou até um riacho cercado de rochas. Sentada sobre a maior delas, os braços envolvendo os joelhos encolhidos contra o peito e os cabelos açoitados pelo vento, ela parecia uma garotinha perdida. Sua expressão tristonha e ar vulnerável despertando nele um antigo instinto de proteção.


"É muito natural que eu queira protegê-la, ela está esperando um filho meu.", ele pensou, na defensiva.


- Pode ser natural... – ela falou de repente, sem se voltar - ...mas eu dispenso sua proteção. Sei muito bem me cuidar sozinha.


Irritado por aquela intromissão em seus pensamentos, ele tratou de erguer as habituais barreiras em sua mente. Porém, logo se deu conta de que aquele seria o único modo de se comunicarem, e a contra-gosto voltou a permitir-lhe acesso aos pensamentos.


"Não é o que parece." , retrucou, enquanto ia até a margem do riacho, e ficava de frente para ela, que nem assim o encarou, o que o deixou nervoso. Ela nunca o tinha visto em sua forma lupina, pois quando eram jovens ainda não existia a Poção Mata-Lobo e apesar do seu dom, Remo não admitia que ficasse com ele durante as transformações, pois era muito perigoso. Agora que finalmente via o que ele era, será que sentiria repugnância?


- Não seja bobo. – ela respondeu, ainda mantendo os olhos baixos – Eu sempre soube quem você é, e não é a imagem do lobo que eu evito. Apenas não quero vê-lo, Remo, acho que já deixei isso bem claro, não é? Não temos mais nada para dizer, e você não devia ter me seguido até aqui.


"Como pode dizer isso? É o meu filho que você está carregando!", ele foi incapaz de conter a raiva que suas palavras provocaram, os olhos amarelos encarando-a com ferocidade. "Espera mesmo que eu fique quieto enquanto coloca a vida dele em perigo, apenas pelo prazer de me contrariar?".


- Eu jamais faria isso! – finalmente ela o encarou, os olhos azuis emitindo o mesmo brilho enfurecido dos dele.


"E o que me diz de nossa última missão? Você quase morreu, Ana! Sabia o quanto era perigoso, e resolveu ignorar todos os riscos, sem nem me contar sobre a criança.", ele desabafou.


- Justamente por conhecer os riscos, eu não contei nada. Se algo desse errado, você jamais saberia.


"E acha isso justo? Acha certo que decida sozinha o destino do nosso filho?".


- A única coisa que poderia ter acontecido seria ele crescer sem a mãe. – ela declarou, surpreendendo-o.


"Como assim?", perguntou, confuso.


- As mulheres Donovan sempre ficam mais vulneráveis durante a gravidez, porque devido a natureza de nossos dons, os bebês consomem grande parte de nossa energia. – ela começou a explicar – Por isso Kristyn e eu não podíamos mais usar o Gaworn naquela época. Lidar com as criaturas do Estreito de Runfhort não seria tão desgastante assim, nas minhas condições normais. Eu sabia que conseguiríamos concluir a missão, só não sabia se a energia que me restaria seria o suficiente para nós dois, o bebê e eu.


"E se não fosse, os dois morreriam."


- Não. – ela contradisse – Nesse caso, uma escolha deveria ser feita. Kristyn tinha ordens diretas minhas para escolher o bebê.


"O que quer dizer com isso?", uma sensação angustiante começou a tomar conta dele, diante da suspeita que começou a se formar em seu íntimo.


- Existiam duas opções: ou interrompiam a gestação, ou eu ficaria numa espécie de coma, até o nascimento do bebê. – ela não precisou dizer o que aconteceria então. – Como pode ver, eu sabia exatamente o que estava fazendo. Não quero e nem preciso de sua proteção. – declarou, antes de saltar da rocha e se afastar rapidamente, não sem antes finalizar – E agradeceria muito se me deixasse em paz!


Remo estava tão chocado que nem tentou evitar a sua partida. Ela tinha, conscientemente, escolhido um caminho que a levaria à morte. Se Alena não tivesse conseguido reverter o quadro, o nascimento de seu filho, que deveria ser ocasião de alegria, seria também o fim de Ana.


O horror que aquela revelação causou tomava conta de cada parte dele, e lançava-o de volta no tempo, até aquela tarde longínqua, quando pensara tê-la perdido para sempre. Era como se estivesse vivendo novamente aquele terror, e a lembrança da dor que sentira atingiu-o com tanta força que estilhaçou a grossa e fria barreira de indiferença que envolvia seus sentimentos. Estes pareciam ter triplicado de intensidade, e preencheram rapidamente o vazio em que estivera vivendo nas últimas semanas.


Seu uivo reverberou pela noite, extravasando a miríade de emoções que o atormentavam, e perseguindo a mulher que corria às lágrimas de volta para o castelo.


X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X


Os dois pararam de rir ao ouvir o uivo melancólico. Harry encarou o rosto apreensivo da garota.


- Vá. – disse simplesmente – Ele está precisando de você.


Ela sorriu e abraçou-o com força, uma emoção que Harry não soube definir brilhando em seu olhar.


- Obrigada por compreender, Harry. – beijou-o ligeiramente nos lábios, antes de se afastar. Quando já estava à beira da floresta, virou-se e gritou – Tente ser tão compreensivo assim com Sammy também, ok?


Harry ficou parado como um idiota, vendo-a sumir por entre as árvores. Sacudiu a cabeça. Jamais entenderia aquela garota. Num momento, agia como se estivessem iniciando algo, e no momento seguinte, praticamente o atirava para a amiga.


Resolveu voltar para o castelo, pois logo iria amanhecer. Nem conseguia acreditar que passara quase toda a noite brincando no gelo. Mas fora muito bom partilhar aqueles momentos com Rhea, aquilo o ajudara a esquecer, nem que fosse só por hora, a tristeza que sentira com o fim do namoro.


Entrou sorrateiramente no salão comunal, parando ao se deparar com Rony e Hermione dormindo abraçados no sofá. Ainda não tinha se refeito da surpresa quando um grito ensurdecedor veio do dormitório feminino, fazendo os amigos pularem assustados.


- O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO!


X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X


N/A: E então, o que acharam? Era pra ter outras coisas também, mas o capítulo já tava quase o dobro do maior que já escrevi, e se fosse ficar esperando, não sei quando ia postar, então decidi deixar pro próximo. Por favor, não deixem de me dizer o que acharam, ok? Bjaum.




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