Capítulo Final



Capítulo Final



 



 



 



Ela batia o anel em seu anelar distraidamente contra o acabamento de madeira da porta do carro em movimento enquanto lia uma séria de pergaminhos. O tão famoso anel que causara uma enorme curiosidade pública anos atrás. Não havia dúvida que era uma peça fascinante. Uma obra de arte que saíra cara. Os dois dragões que antes haviam feito parte do famoso anel da família Malfoy agora era apenas um e seu corpo de prata extremamente brilhante se entrelaçava ao de uma fênix de ouro. O rubi dos Malfoy, a pedra de Merlin, agora dividia espaço com a uma safira, que muitos diziam ser a pedra de Morgana. Era um anel extremamente simbólico e Hermione Malfoy o carregava com orgulho. Não havia dúvida de que aquele anel era muito mais o anel de Draco e Hermione do que um anel propriamente Malfoy. Mas era também inquestionável que qualquer próxima futura Malfoy morreria para carregar aquele anel, e não o quase milenar e tradicional ouro branco de dragões e Ruby.



 



Tina Hogrefe-Miller já trabalhava há anos com a família e nunca tivera nem mesmo a oportunidade de tocar na peça tão bem elaborada. Nem quando havia a levado para ser exposta no Museu Nacional de Artefatos Mágicos em Londres. O evento havia atraído milhares de bruxos do mundo inteiro. Todos queriam dar uma espiada de perto, nem que fosse rápido, no novo anel de uma das mais tradicionais linhagens bruxa da história. Tina tinha um certo fascínio por eles. Draco e Hermione. O quanto eram inteligentes. O marketing que usavam a seu favor. As decisões que tomavam. Tudo que faziam, que diziam, que projetavam era extremamente bem calculado para torna-los mais fortes, mais influentes, mais idolatrados, mais inalcançáveis. Os dois estabeleciam um legado inabalável, um que os filhos herdariam, que os filhos de seus filhos e todo o resto da história daquela família.



 



- Isso é tudo? – Hermione perguntou devolvendo o pergaminho para a maleta aberta no banco ao seu lado.



 



- Temo que sim. – Tina respondeu.



 



Hermione apertou os lábios e abriu uma outra pasta. Ela não estava contente. Tina não saberia dizer se era porque não gostava do que estava vendo ou se porque tinha que fazer aquilo sem seu marido, que atualmente estava em uma viagem longa tentando reverter os conflitos com Gringotes. Durante e após a guerra, tanto o império quando dezenas de famílias haviam dependido dos dinheiro Malfoy, cada dívida, empréstimo, investimento, estava ligado ao nome deles e isso os dera tanto controle sobre a vida de terceiros que Gringotes sentia seu próprio tesouro ameaçado, principalmente com os rumores de que os Malfoy pretendiam abrir um banco.



 



Observava aquela mulher forte a sua frente. Não havia dúvida que a fênix em seu anel a representava. Aquela mulher morrera e renascera incontáveis vezes em sua trajetória. Tina tinha o privilégio de ser de confiança, de ter estado tão perto, de trabalhar tanto com Draco quanto com ela. Carregava segredos sobre eles que jamais ousaria contar a ninguém e sabia muito mais do que deveria sobre a reservada intimidade que Draco e Hermione escondiam do mundo. Deus sabia os desafios que aquela família enfrentava e o peso que isso colocava nos laços que tinham. Mas isso os fortalecia. Os unia mais. E Merlin, o cérebro daquele casal deveria ser mais temido do que venerado.



 



- Luna ainda não confirmou se todo os funcionários irão trocar de turno essa tarde e apenas os elfos irão passar as semanas de natal e ano novo na casa de Brampton. – Tina disse depois de limpar a garganta.



 



Hermione ergueu os olhos de sua pasta.



 



- Certo. – Respondeu Hermione. – Quais são seus planos e de Edmond para o natal? – Ela perguntou num tom suave e amigável.



 



Não eram necessariamente amigas, mas Tina a tinha com muito respeito. Hermione a honrava por ser de confiança e a tratava muito igualmente. Tinha uma afeição pela mulher e sentia que era recíproco, por mais que se tratassem muito profissionalmente.



 



- Irlanda. Como todo ano. Sempre conseguimos juntar a família de Edmond e a minha. As crianças gostam de passar com os avós. Preciso aproveitar enquanto elas ainda não atingem aquela adolescência chata que nada mais em família parece divertido e eu sinto que estou chegando bem dessa fase.



 



Hermione sorriu abertamente com o que ouvira.



 



- Draco passou para Edmond alguma previsão de que irá conseguir voltar? – Perguntou Hermione fechando sua pasta.



 



Tina negou.



 



- Nada ainda. – Respondeu.



 



Hermione soltou o ar e estreitou os lábios. Tina tinha plena convicção de que ela não estava nada satisfeita com a possibilidade de ter que atender o banquete de inverno anual na Catedral sem a companhia do marido. A presença dos dois era extremamente necessária para o evento.



 



- Deixe Neville em alerta caso Draco não consiga voltar.



 



Tina assentiu. Neville já havia sido avisado de que teria que acompanha-la caso Draco não conseguisse.



 



O carro onde estavam parou bem de frente a um prédio simples no centro de Londres. Uma comitiva da guarda a esperava do lado de fora. Eles abriram a porta para que ambas descessem e a acompanharam. Hermione foi a frente até parar diante de uma cabine de telefone. Um dos homens uniformizados abriu a porta para ela, que entrou primeiro. O resto a seguiu, conseguindo se fazerem caber confortavelmente dentro do espaço que parecia impossível a qualquer olhar trouxa. A cabine foi calmamente engolida pelo chão e em segundos eles estavam aterrissando no saguão principal do Ministério da Magia. O lugar havia sido preparado para recebe-la. Não havia nenhum tapete vermelho, mas haviam os pedestais que separavam o caminho por onde iriam passar do resto. A mídia estava empilhava logo no início e no momento que Hermione pisou para fora da cabine, os flashes e milhões de perguntas inundaram o saguão.



 



A mulher não deu nenhuma atenção e apenas seguiu seu caminho sendo acompanhada pela guarda e por Tina. Fizeram seu caminho até o elevador principal e desceram no andar do primeiro Ministro. Isaac Bennett a esperava logo no corredor com um grande sorriso no rosto. Definitivamente tentava uma calorosa recepção. Os dois se cumprimentaram como bons amigos de longa data num tom bastante profissional e seguiram adiante, sem deixarem transparecer os recentes conflitos entre as duas famílias. Isaac Bennett era um homem extremamente esperto, o que Hermione admirava, mas definitivamente gostava de jogar com o poder que havia sido lhe dado.



 



- Espero que esteja pronta para isso. Não vai ser bonito. – Bennett começou discretamente.



 



- Eu sei. – Hermione respondeu. Ele só podia ser um tolo por esperar que ela não acreditasse que ele havia armado algo.



 



- Temo que a presença de Miller não irá agradar.



 



Hermione olhou para ela por cima dos ombros. Um relance rápido enquanto terminava de tirar seu longo casaco.



 



- Tina irá esperar do lado de fora. – disse e tanto Tina quanto Bennet assentiram.



 



Hermione passou para o lado de dentro quando chegaram a uma enorme porta dupla ao fim do corredor. Lançou um olhar rápido a Tina antes de entrar e ela soube que aquilo significava que deveria ficar atenta as conversas que conseguisse escutar do lado de fora.



 



Do lado de dentro Hermione for recebida por um grupo de líderes e representantes do alto escalão do Ministério. Não se sentiu minimamente intimidada, simplesmente porque sabia do controle que tinha ali. Cumprimentou em geral, muito educadamente e sentou-se em sua cadeira ao lado do Primeiro Ministro no grande círculo daquele gabinete.



 



- Bom dia, senhores. – Iniciou o Primeiro Ministro. – Agradeço a presença de todos e obviamente a honra da presença da Sra. Malfoy nessa reunião privada, onde vamos poder, talvez, esclarecer, de uma vez por todas, nossos posicionamentos.



 



- Onde está seu marido, Sra. Malfoy? Foi nos dito que teríamos a presença dos dois. – O orador do parlamento interrompeu.



 



- Draco Malfoy está ocupado com Gringotes no momento. – Bennett apressou-se para justificar. – Não foi possível que voltasse a tempo e o burburinho tem sido demasiado para que eu imprudentemente adiasse essa reunião, senhores.



 



- Definitivamente preocupante essa situação com Gringotes, devo dizer...



 



- Tenho certeza de que poderei representar com clareza os interesses da minha família. – Hermione cortou o homem. – Eu preferiria que seguíssemos a pauta de discussão. Certamente iremos tocar em Gringotes no seu devido momento.



 



Os homens se entreolharam rapidamente até que um limpou a garganta e começou:



 



- O povo tem mostrado recentes ressalvas sobre o envolvimento da família Malfoy dentro do Ministério. – Era o orador do parlamento outra vez. – As eleições estão chegando e isso é um marco extremamente importante para a comunidade bruxa desde a queda do Império. É necessário que fique claro que sua família não tem qualquer envolvimento político.



 



- Pensei que fosse evidente que isso é algo que tanto eu quanto meu marido concordamos. – Hermione comentou. – Não fazemos mais viagens em nome do Ministério há um ano, cedemos nossos assentos independentes na Câmara Superior, nos mantivemos neutros diante de polêmicas políticas e nos afastamos tanto do Ministério que a imprensa, desacostumada, teve que se agrupar no saguão e todos vocês tiveram que se preparar para receber minha visita hoje.



 



O presidente da Câmara dos Comuns moveu-se desconfortável em sua cadeira e se manifestou:



 



- Porém, ainda são claros as evidencias da influência e o domínio quem tem sobre todo o funcionamento do governo bruxo.



 



- E estou disposta a ouvir sugestões de como mascarar isso da melhor forma possível. Ao menos por agora.



 



Os homens se entreolharem cuidadosamente.



 



- Sra. Malfoy. – Começou novamente o orador. – Com o devido respeito, gostaria de deixar claro que a intenção dessa reunião é a de chegarmos a uma estratégia cívica para remover por completo o peso determinante de sua família sobre o Ministério e o governo bruxo.



 



Hermione poderia rir por dentro por escutar aquilo. Mesmo que tivesse a clara consciência sobre como aquela reunião havia sido formada e sob que intenção se agrupara, ela ainda preferia se fazer de desavisada apenas para irritar os ânimos e provar do sabor que era se colocar por cima de todos eles quando achavam que tinham a chance de passar por cima dela. Tentou controlar sua satisfação e um sorriso que quis esticar seus lábios, cruzou a perna muito elegantemente para enfatizar sua postura e uniu as mãos sobre seu joelho.



 



- Não sei se seria desrespeitoso julgá-los como tolos ou se realmente merecem. – Alfinetou ela. – Acaso fazem a mínima ideia do que aconteceria caso eu e Draco removêssemos todos os braços de controle que temos sobre o mundo bruxo? O Ministério Africano se mantém estável porque a liderança dele ainda responde aos Malfoy. Quer mesmo deixar que a constante ameaça de guerra civil na África se torne uma realidade? Quantos homens o Ministério Inglês está disposto a despachar para retomar a ordem da união bruxa mundial caso o equilíbrio dos territórios Africanos se rompa? Os tratados de troca justa entre os continentes têm a assinatura do meu marido como representante do governo inglês e pela nova lei, remover a assinatura dele obrigatoriamente exige uma revisão do tratado, e duvido muito que exista qualquer interesse entre os senhores de passar por toda a confusão que isso causaria. Mas a verdade é que nem precisamos ir tão longe na estabilidade da ordem mundial bruxa. A nossa economia interna ainda se mantém fragilizada e o Ministério ainda depende, minimamente que seja, do investimento dos fundos do cofre da minha família. Isso significa que a presidente do setor de infraestrutura, o conselho de segurança pública, a gerência da ala de educação e mais trinta por cento dos departamentos do Ministério fiquem debaixo de uma aprovação minha ou do meu marido para seguirem com qualquer projeto. Querem mesmo que tiremos essa injeção monetária de circulação agora? Sabem que isso é o que mantém os senhores longe da ideia de precisarem fabricar mais dinheiro para cobrir as despesas, e o que menos precisamos agora é de inflação para desvalorizar ainda mais a moeda bruxa. Os senhores são bem conscientes que a comunidade bruxa se dispersa muito facilmente e a qualquer sinal de desequilíbrio do sistema, muitos vão se isolar para viverem de magia. Querem mesmo esse atraso para o mundo bruxo? – Ela parou por ali, mesmo sabendo que poderia ficar um dia inteiro listando os perigos que uma recuada dela e de Draco causariam.



 



Um silêncio desconfortável correu entre eles por alguns segundos. O presidente da Câmara do parlamento foi o primeiro a se manifestar:



 



- Espero que a senhora esteja consciente do quanto isso não é nada saudável para um governo. – Apelou para a moralidade ela.



 



- Certamente. – Respondeu ela. – Entendo sua perspectiva e concordo. É exatamente por isso que temos nos afastado. Entendo o desagrado dos senhores, por isso me faço presente aqui para lembra-los que nem eu nem meu marido temos energia ou sequer financeiro para continuar com isso por muito mais tempo. Portanto, existe apenas uma alternativa na mesa. Desde o último ano temos nos mostrado dispostos a nos afastarmos, mesmo que seja lentamente, porque não somos inconsequentes.



 



- Não são. – O orador parecia minimamente irritado. – Mas são espertos. Disso eu sei. Vão se afastar definitivamente quando tiverem certeza de que metade do mundo deve a vocês não apenas a vitória que derrotou Lorde Voldemort, mas também metade do dinheiro que tem. Por isso me parece bastante conveniente que abram um banco exatamente agora.



 



- Estaríamos partindo um monopólio. Muitos enxergam isso como algo positivo. – Retrucou ela.



 



- Gringotes é uma instituição de res...



 



- E nós não temos nenhuma intenção de destruí-las. – Hermione o cortou. - Ajudamos a reconstruir o novo mundo debaixo de sacrifícios que os senhores não conseguem nem mesmo imaginar. Nada é de graça. O Ministério não pode nos impedir de exigir retorno de alguma forma. Se quiserem levar essa briga adiante, estejam preparados para enfrentar o debate público e sabem muito bem o somos defendidos a unhas e dentes.



 



O orador se levantou visivelmente irritado. Encarou Bennett ao lado dela.



 



- Está nos fazendo perder nosso tempo, Bennett. Não faça parecer que tem os Malfoy sob controle quando evidentemente eles quem o manipulam. – Bufou, deu as costas e saiu.



 



Bennett soltou e murmurou um palavrão num tom cansativo.



 



- Bem, senhores. – Ele mostrou as mãos evidentemente desconcertado. – Acredito que a única rota que temos por agora é a paciência.



 



O presidente do parlamento, alguns dos líderes de partido e o chefe dos tribunais levantaram-se em seguida, fizeram um aceno com a cabeça e se retiraram sem pressa. Hermione continuou sentada em seu lugar até ver a sala completamente vazia. Bennett se levantou, andou de um lado para o outro e em poucos segundos tornou a abrir a boca, frustrado e irritado:



 



- Vocês me fizeram reunir todas as cabeças mais importantes do Ministério aqui para que? Para lembra-los de que vocês são uma força maior do que todos nós?



 



- Nós não fizemos você reunir ninguém aqui, Isaac. Leu entrelinhas que nunca existiram. Acha que nem Draco, nem eu, sabemos que não quer se reeleger? Que tem lutado contra o modo como eu e ele nos movemos para certificar de que seu partido ganhe maioria para você continuar exatamente onde está? Você quem achou que juntar as maiores cabeças do Ministério aqui poderia me intimidar o suficiente para eu visse a necessidade de pensar em recuar, de conversar sobre um acordo. – Ela revirou calmamente. – Draco não te quer fora do Ministério para competir com minha família dentro da entediante aristocracia bruxa. Pelo menos não ainda.



 



- Não pode me manter aqui como um prisioneiro!



 



- Lembre-se de que a aliança que fez conosco te coloca em uma posição de extrema vantagem. Não é nenhum sacrifício para você estar aqui. – Ela se levantou.



 



- É um sacrifício quando não tenho a liberdade de exercer o meu cargo. Querem me manter aqui porque tem medo da força do meu nome fora no mundo político, aqui eu ainda sou manipulável.



 



- Não pense que os líderes dos partidos de oposição também não são manipuláveis, Isaac. Você sabe bem da influencia que temos. E não temos meda da força do seu nome. Poderá deixar o Ministério, no momento devido. Como mesmo disse, tenha paciência. – Fez um aceno com a cabeça despedindo-se e virou as costas.



 



- Vocês não podem agir como se fossem maiores do que o Ministério. Como se fossem a família real. Como se conseguissem fazer todo Primeiro Ministro beijar o anel de vocês e prometer montar um governo debaixo de seu nome. Não existe espaço para monarcas dentro do governo bruxo! – Explodiu ele.



 



Hermione parou. Soltou o ar com calma e se virou novamente.



 



- Lembre-se de que o temos como um amigo, Isaac. Como um aliado. Recomendo que reveja seus interesses e revise suas prioridades. Até onde sei, estamos dividindo um poder aqui, debaixo de confiança e debaixo da história que nossas famílias compartilham. Meu filho é fascinado pela sua filha mais nova. Não faça com que daqui a alguns anos eu e Draco tenhamos que interferir nas escolhas dele. Está querendo mexer em algo que ainda é extremamente vantajoso para você. – Foi direta, deu as costas e finalmente conseguiu ir embora. Sabia que quem teria que lidar com as consequências daquela alfinetada seria Draco e ela deixaria que ele resolvesse aquilo.



 



Reencontrou-se com Tina. A assistente rapidamente notou que deveriam se apressar e sem qualquer demora Hermione já conseguiu recuperar seu casaco e ambas partiram a fazer o caminho de volta para o carro que as esperava do lado de fora, naquela discreta rua em Londres.



 



- Foi mais rápido do que imaginei que seria. – Tina comentou discretamente quando as duas entraram no carro.



 



- Foi mais longo do que eu esperei que seria. – Hermione disse e Tina riu. – Quais foram os comentários do lado de fora? – Perguntou.



 



A assistente precisou dar um relance no motorista, para se certificar de que a janela que os separava estava fechada.



 



- Não acho que percebiam que eu podia escutar. – Ela começou assim que o carro começou a se mover. - Mas o grupo da guarda comentava sobre um movimento dentro do Ministério, que pretendia ascender os Malfoy como Monarcas e criar uma nova lei. Uma com a tentativa de prender o poder dos Malfoy a uma casa real subjugada ao poder do Estado.



 



Hermione deixou um fino sorriso escapar.



 



- Ridículo o modo como o Ministério se organiza para tentar nos controlar. Será sempre uma constante batalha. – Ela comentou.



 



Tina não duvidava que aquilo enchia os olhos dela e do marido.



 



- Eu seria cuidadosa. O povo ama vocês, a ideia de vocês, a família de vocês, o misterioso ar que os ronda, o estranho heroísmo que carregam. Vocês usam tudo isso muito inteligentemente para terem vantagem. Se o Ministério começar com essa história de casa real, monarquia, coroas e afins, especialmente como uma forma de honrá-los, não acredito que o povo irar entender que a intenção é aprisiona-los.



 



Hermione puxou o jornal do dia casualmente e o abriu para se entreter.



 



- Gostaria de vê-los tentar, se quiser que eu seja inteiramente honesta. – Respondeu entretida. – Sabe como Draco e eu amamos um desafio. – Passou uma página desinteressada e riu fracamente por baixo da respiração. – Família real. – Zombou ela num murmúrio baixo, mais pra si mesmo do que qualquer outra coisa. – Que estupidez. – Murmurou. – Qual a próxima agenda? – Perguntou.



 



- St. Mungus. – Respondeu Tina relembrando mais cedo sobre a rota que passara ao motorista.



 



A expressão de Hermione mudou rapidamente e ela ergueu o olhar de seu jornal.



 



- Oh. – Ela pareceu surpresa. Imediatamente ela pareceu extremamente cansada. Soltou o ar e piscou muito devagar desviando o olhar para a janela. – Havia me esquecido que era hoje. – Franziu o cenho como se de repente estivesse lidando com uma dor de cabeça. Estalou os lábios desgostosa e bem descontente voltou sua atenção para o jornal. – Certo. Faça ser rápido. – Disse.



 



Tina sabia que o humor dela estava comprometido pelo menos pelas próximas horas. Bateu na janela do motorista, e passou a mensagem de que estavam com pressa. O carro passou a se mover mais rapidamente e em poucos minutos elas conseguiram cruzar o centro de Londres para a entrada privada do St. Mungus num dos becos da cidade.



 



Hermione desceu acompanhada da assistente. Deram a senha e conseguiram passar para o ladro de dentro da área exclusiva e luxuosa do hospital. Um medibruxo já a esperava logo no hall de entrada quase vazio. Passaram pelo processo de reconhecimento e foram guiadas pelos corredores, descendo até quase um dos últimos níveis do hospital. Quando Hermione se viu de frente familiar e pesada porta de carvalho, com o brasão dos Malfoy cravado bem no centro, parou para puxar o ar. Tina estendeu para ela uma pasta bem ornamentada com o símbolo do hospital e Hermione a pegou. Respirou fundo e entrou no quarto deixando Tina e o outro medibruxo do lado de fora.



 



A lareira da pequena sala estava acesa. O chão e a parede fria eram cobertos por tapeçarias novas que Hermione se lembrava de ver Narcisa comprando na última viagem que fizeram a Espanha. A organização das poltronas e do divã estavam diferentes do que se lembrava. Havia uma xícara de chá com biscoitos na mesa de centro.



 



Cruzou o espaço pequeno até a porta entreaberta do quarto. Caminhou devagar assim que se aproximou o suficiente conseguiu ver a imagem de Narcisa, sentada em uma cadeira ao lado da enorme e confortável cama de Lúcio Malfoy, em sua postura perfeita, lendo um livro qualquer em voz alta, para o sono profundo e eterno do marido. Empurrou a porta e passou para o lado de dentro. Narcisa parou e ergueu os olhos para ela. Não estava feliz.



 



- Eles me disseram que viria. – Ela começou depois que a troca de olhares foi incomoda o suficiente. – Não sei porque ainda insiste.



 



- A ideia não é só minha. – Ela respondeu. Aproximou-se com cuidado. Estendeu a pasta para narcisa. - Sua parte da documentação chegou essa semana. Precisamos da sua assinatura.



 



- Quantas vezes terei que recusar, Hermione? – Apertou os lábios.



 



Hermione suspirou cansada.



 



- Sabe que seremos insistentes pelo tempo que precisar. – Respondeu.



 



A mulher desviou o olhar. Ela sempre parecia mais velha do que realmente era naquele quarto. O brilhoso loiro agora dava muito mais espaço para um branco frágil, porém sempre muito bem penteado e arrumado. Era triste ver como se definhava com o estado do marido. Era como se carregasse alguma culpa pelo que havia acontecido com ele, ou por tê-lo deixado.



 



- Entregue para um dos meus elfos. – Ela rejeitou a pasta.



 



- Teria sido muito mais fácil para mim fazer isso do que vir aqui. Mas estou aqui. – Hermione disse. Deu a volta e deixou a pasta em cima da cabeceira da cama, logo ao lado do copo de água de Narcisa. Observou a mulher por mais alguns segundos. – As crianças não têm mais autorização para virem aqui. – Sabia que aquilo iria machucar a mulher, mas mesmo assim, teve que dizer.



 



Narcisa soltou o ar e fechou os olhos.



 



- Nem você nem Draco possuem o direito de privá-las de conhecerem o avô.



 



- Elas já o conhecem. Já vieram aqui. E quando forem mais velhas irão saber tudo que precisam.



 



- Irá pintá-lo como um monstro para Scorpius e Hera.



 



- Ele foi um monstro. Não preciso pintá-lo de nada. – Devolveu Hermione.



 



- Ele foi um monstro porque optou por esconder todo o amor que carregava. – Narcisa fechou o livro em seu colo e abaixou o rosto.



 



Hermione se indignou de vê-la presa naquilo.



 



- Ele está morto, Narcisa! – Soltou.



 



- Não! – Ela vociferou. – Consegue vê-lo respirando, não consegue?



 



- O que faz o coração dele bater é magia! Nada mais do que magia! Tudo nele já definhou. O veneno e a maldição já o consumiu. Precisa aceitar isso. Céus! Narcisa, a última vez que ele soou estranhamente lúcido, pelos segundos que foram, faz mais de três anos!



 



- E se lembra do que ele disse? – A voz dela veio fraca. Hermione sabia que ela segurava o nó em sua garganta. – Disse que me amava.



 



- Porque ele sabia que não voltaria. – Tentou convencê-la.



 



- Não! – Narcisa foi dura.



 



- E mesmo ali ele te manipulou!



 



- Como ousa...



 



- Pra te prender a ele, mesmo quando ele partisse!



 



- PARE! – Narcisa soltou farta. – Você não sabe! Não sabe de nada! Não sabe sobre eu e ele! Pare porque não entende que eu fui a única coisa real na vida dele. Mais do que Draco, mais do que o nome Malfoy! Dar as costas para mim fez dele o que você conhece. Não abra a boca para soltar as asneiras da sua indignação por me ver presa aqui. Você sabe o que é amor! Como ousa? No que acha que Draco teria se transformado se vocês tivessem seguido caminhos separados depois de Voldemort? Se ele tivesse que te perseguir? Se fosse ele aqui nessa cama depois de ter endurecido o coração, você não estaria exatamente onde eu estou agora?



 



Hermione puxou o ar e calou-se. Teve que empurrar para longe aquela imagem que Narcisa trouxe para sua cabeça porque ela era dolorosa demais apenas para se imaginar. Não tinha como rebater. Nem que fosse para dizer que eram cenários completamente distintos. Ou será que eram? Engoliu seco. Soltou o ar e fez seu caminho até a porta. Parou antes de ir embora.



 



- Talvez esteja certa. – Disse numa voz baixa para a mulher. – Mas se fosse eu no seu lugar, não prenderia Draco a uma existência medíocre se não houvesse mais nenhuma esperança. Assine os papéis e deixem desfazerem a magia. Deixe-o partir, Narcisa. – Disse e a mulher não disse nada de volta. Hermione suspirou derrotada com o silêncio dela. – Sentimos sua falta. Passe em casa quando der. – Despediu-se e foi embora.



 



Fez o caminho de volta a Malfoy Manor com o coração pesado. Tina tentou trocar assuntos irrelevantes com ela e Hermione se permitiu tentar ser distraída. Assim que pisou para fora do carro, subiu as escadarias da enorme casa e passou para o lado de dentro, Luna Lovegood a esperava no saguão.



 



- Chegaram algumas corujas depois do almoço, já deixei as correspondências em sua mesa. Tem uma de seu marido. – Começou Luna seguindo Hermione pela casa quando ela se desfez do casaco e das luvas. – Quanto a casa, o cardápio para o jantar já está em ordem, mas ainda preciso da sua autorização para qual prataria usar. – Hermione dispensou a tarefa em apenas com um aceno, sinal de que Luna poderia escolher o que preferisse. Luna prosseguiu em lhe passar a pauta sobre as datas para a reforma no jardim, a modificação nas decorações de natal, e a lista de empregados nomeados para estarem na casa de Brampton para o natal e a virada de ano.



 



- Draco e eu queremos apenas os elfos esse ano. – Hermione a interrompeu dando a volta em sua mesa assim que chegou em sua sala e sentando-se em sua suntuosa cadeira.



 



Luna ergueu as sobrancelhas surpresas.



 



- Quando decidiu isso?



 



Hermione ergueu os olhos para a loira não entendendo o porque ela parecia imediatamente preocupada com aquilo.



 



- Ontem a noite. Por que?



 



Luna mordeu os lábios um tanto nervosa.



 



- Passar o natal na casa de Brampton é um enorme reconhecimento entre os empregados. Eles esperam o ano inteiro pela nomeação. Não apenas pela chance de serem os próximos a receberem aumento, mas porque se sentem parte confiável da família e o peso do reconhecimento e interesse que ganham lá fora é enorme.



 



Hermione soltou o ar. Sabia daquilo, mas não dava o mesmo valor que Luna dava. Ela era a voz dos funcionários da casa e era bastante popular entre eles. Fez uma careta largando as cartas que separava.



 



- As crianças que insistiram. – Começou. – E eu nem ao menos hesitei. Você sabe o quanto aquela casa é especial para mim. O natal é a única época do ano que conseguimos tirar para fugirmos disso tudo e sermos apenas nós, num lugar mais simples, com uma vida mais simples, mesmo que seja por tão pouco tempo. Esse ano tem sido uma loucura, Luna. Você tem visto tudo que tem acontecido e se conseguirmos fechar aquele quarto no St. Mungus antes do fim do ano, Draco vai precisar de um tempo sendo apenas nós por alguns dias.



 



Luna assentiu.



 



- Vou conversar com todos e pensar em soluções. – Ela disse e Hermione assentiu transparecendo que aquela era uma boa ideia.



 



A loira prosseguiu em deixa-la a par dos rodízios de funcionários, da nova organização da biblioteca e da troca de móveis da sala de recepção da casa. As duas conversaram rapidamente sobre os jantares formais que dariam no mês seguinte. Quais família estavam convidadas, quais não estavam, qual decoração, quem sentaria onde, a programação.



 



Hermione era grata pela amiga e pelo papel fundamental que ela tinha naquela casa. Tudo começara como algo temporário, mas a cada ano que se passava Hermione assumia mais do trabalho de Narcisa Malfoy. Luna era sua enorme ajuda em manter aquela casa gigantesca funcionando, em organizar os funcionários, em vigiar tudo que acontecia, e colaborava na manutenção da extensa conexão e influencia que os Malfoy tinham sob muita das instituições do mundo bruxo. Luna aprendera tudo muito rápido e era extremamente dedicada a seu trabalho. Parecia carregar muito orgulho no que fazia.



 



Mas para além de tudo que Luna fazia pela família, Hermione era ainda mais grata por saber que graças a Luna, Draco já havia tomado alguns copos de conhaque na companhia de Ronald Weasley sem fazer qualquer careta de desgosto. Graças a Luna, Hera e Scorpius escutavam histórias de quem Hermione havia sido num passado muito distante da realidade deles. Graças a Luna, Hermione tinha uma amiga que conhecia seu passado e não a julgava por ser quem era hoje.



 



- Ronald e eu decidimos que vamos reformar a cabana de Bill e Fleur. – Ela respondeu quando Hermione perguntou sobre os planos dela para a semana que teria de folga quando os Malfoy fossem para Brampton passar o natal. – Rony não vai estar na rotação de times, então vamos poder adiantar muita coisa. Estamos planejando morar lá agora que ele finalmente pareceu aceitar a ideia de um filho.



 



Ronald não tinha o melhor dos salários com a posição na liga de Quadribol. Ele havia começado tarde e isso fazia com que tivesse rotações em times não tão importantes e quase tudo que recebia acabava indo para ajudar os pais. Mas Luna definitivamente tinha um salário gordo, um que Hermione fazia questão de manter. Com os anos que havia passado trabalhando para os Malfoy, certamente tinha um cofre capaz de arcar com os custos de um lugar melhor do que a velha cabana de Bill e Fleur.



 



- Tem certeza de que quer ir para um lugar tão longe e tão... simples? – Foi a melhor forma que encontrou de ser discreta.



 



- Tem uma vista bonita e um espaço enorme. – Luna justificou. – E é pacífico. – Completou ela. – Um fator muito importante depois de dividirmos um apartamento de sótão no Beco Diagonal por tanto tempo.



 



- Luna... – Hermione se viu sem jeito. – Sabe que posso aumentar seu salário se realmente estiver precisando.



 



Luna riu.



 



- Não é dinheiro, Hermione. – A loira explicou. – Depois de tudo que vivemos, uma vida simples é tudo o que precisamos. Não queremos nada mais do que isso.



 



Hermione entendia. Havia sonhado uma vida simples com Ronald Weasley uma vez, anos atrás. A diferença era que antes mesmo de esquecer o ruivo, teve a certeza de que não saberia viver uma vida que não lhe oferecesse algum tipo de desafio, alguma aventura.



 



Tina apareceu e passou para ela a agenda do dia seguinte. Hermione a guardou pediu para que Luna fosse se certificar de que Greta sabia que teria que colocar as crianças na cama. Discutiu com Tina as mudanças de última hora que precisava encaixar em sua agenda enquanto separava e descartava correspondências não importantes. Abriu a carta que Draco havia mandado e num rabisco rápido ele dizia que estaria em casa aquela noite, mas que não chegaria a tempo do banquete. Hermione sorriu feliz por saber que teria o marido logo, mas ficou desapontada por ter que ir a um evento grande sem a companhia dele.



 



Dispensou Tina e se levantou quando viu que não teria mais muito tempo. Desceu a escada dos fundos da ala central até o porão, passou por alguns corredores e pelas salas de estoque de poções. O porão era uma área extremamente restrita naquela casa. Até mesmo para as governantas que mantinham um relacionamento muito próximo a família. Desceu uma longa escada em espiral até chegar na entrada que dava para o ginásio de simulação da casa. Uma versão duas vezes maior do que os que a Catedral tinha.



 



Neville estava na galeria superior e Hermione encontrou-se com ele ali. Aproximou-se da extensa janela de vidro para observar os filhos correndo pelos obstáculos que Dean Clifford erguia no percurso pelo ginásio. Eles conseguiam desfazer as magias no meio do caminho como se fossem alunos do último ano de Hogwarts e como se estivessem usando a mais poderosa das varinhas. Hermione sempre se surpreendia. Eram duas crianças de sete anos que mal sabiam sobre o mundo que as esperava lá fora e já tinham que lidar com tarefas e desafios como os que Dean severamente os fazia passar diariamente. Dean era o treinador que Draco se lembrava. Trabalhava nas crianças velocidade, tempo de resposta, criatividade, concentração. Colocava em prática todos os exercícios e Neville desenvolvia para os dois. Hermione confiava na dupla que os dois eram, simplesmente porque ela colhia dos frutos do esforço deles em fazer com que ela dominasse a si mesma.



 



- Como eles estão hoje? – Perguntou ela.



 



Neville deixou de rabiscar em seu caderno.



 



- Melhor do que ontem. Conseguiram ir mais longe dessa vez, mas ainda não chegaram a zona final do desafio. – Ele apontou para o fim do ginásio onde uma forma prateada que se contorcia estava suspensa sobre o ar. Claramente alguma magia complexa que as crianças teriam que desfazer usando concentração e agilidade.



 



- Eles têm tentando por mais de um mês. – Ela expressou preocupação.



 



- Tudo bem, Hermione. Esse é o primeiro desafio pesado que eles têm tentado zerar. São muitas lições em um só desafio. Estão tendo dificuldade porque algumas fases, é necessário que trabalhem juntos, e Hera insiste em achar que é uma competição. - Hermione sorriu. Claro. Ela era bastante ambiciosa. Certamente queria a glória de tudo aquilo para jogar na cara do irmão que completara o desafio antes dele. – E eles tem apenas sete anos. Bruxos habilidosos não fazem o que eles tão fazendo.



 



Hermione assentiu.



 



- Como eles estão lidando com a varinha? – Perguntou.



 



Neville riu.



 



- Eles a odeiam. O que é bastante compreensível. – Respondeu. – Veja só a forma como trabalham. – Observou as crianças. – A liberdade que os dois tem de fazer magia fluir da forma como querem, exatamente como querem. A varinha é algo incomodo que os limita.



 



- Mas eles precisam aprender, Neville. – Ela disse. – Os anos estão passando e quando menos esperarmos eles vão estar segurando suas cartas de Hogwarts. Precisam saber se misturarem, controlar o dom que possuem, parecerem perfeitamente comuns.



 



- Não acho que jamais irão parecer comuns. Mas eles vão aprender a lidar com a varinha. É como ter que usar um sapato apertado para eles, mas vão se acostumar. Confie em mim, eles têm um senso de adaptabilidade bem apurado. – Ele disse e Hermione esperava que o amigo estivesse certo. – E quanto a você? – Perguntou.



 



- O que? – Ela não entendeu.



 



- Saiu frustrada do seu treino hoje de manhã. – Comentou ele.



 



Ela soltou o ar. Estalou os lábios.



 



- Sabe que não gosto da ideia de ter que lidar com uma maldição, por mais simples que seja. Magia escura me assusta. Conhece meus receios quanto a mim mesma.



 



- Você está indo bem, tem apenas...



 



- Não é meu treino agora. – Hermione o cortou. – Prefiro não ocupar minha cabeça com isso. Não agora.



 



Neville parou. Pensou e disse:



 



- Sabe que não é bom quando foge das coisas.



 



Hermione sorriu.



 



- Eu não sou do tipo que foge. – Revidou.



 



Neville mostrou as mãos em sinal de paz.



 



- Não posso argumentar contra isso. – Disse e os dois riram. – Mas você tem deixado seu receio abrir brechas.



 



Hermione soltou o ar não querendo ter aquela conversa.



 



- Estou dando o meu melhor.



 



- Sim. Eu sei que está. Mas você sabe que pode desfazer aquela maldição sem precisa mover um músculo sequer. Scorpius e Hera não teriam qualquer problema...



 



- Scorpius e Hera não são o que eu sou! – Hermione o interrompeu. Neville se calou. Ela desfez um pouco de sua postura quando percebeu que seu tom fora mais firme do que esperado. – Vou fazer isso no meu ritmo, Neville. Eu não tenho pressa. O objetivo de tudo isso sempre foi me ensinar a controlar Morgana. – Era assim que preferia chamar a Horcrux que carregava. – A conhecer meus limites, a usar do meu potencial sem ser dominada por ele. – Lembrou Neville. – Consegui alcançar tudo isso com maestria e me sinto muito satisfeita de saber que sou capaz de manter Morgana trancada dentro de uma gaveta bem empoeirada aqui dentro. – Apontou para sua cabeça. – Eu sei que quer me ver alcançar grandes coisas, quer me ver ser brilhante, quer me ver em minha melhor forma como a bruxa mais poderosa que já pisou nessa terra e o aprecio por isso. É um amigo que eu não mereço. Mas precisa entender que essa não é minha prioridade. Já assusto o mundo o suficiente.



 



Neville sorriu.



 



- Certo. Está certa. Eu acabo me animando mais do que deveria.



 



Ela tocou o braço dele solidariamente, feliz por saber que havia sido bem interpretada. Ele concordou com a cabeça. Acabou sendo levada por outros pensamentos e debateu rapidamente consigo a necessidade de abrir a boca. Acabou por escolher matar sua curiosidade.



 



- Como está todo mundo? – Perguntou.



 



Neville ficou em silencio por alguns segundos. Talvez surpreso por receber aquela pergunta quando sabia que ela sempre evitava o assunto.



 



- Estão todos bem. – Respondeu Neville parecendo imediatamente surpreso pela pergunta. – Animados pela primeira vez em muito tempo. – Continuou. – Os Weasley querem reunir todo mundo para o natal n’A Toca esse ano outra vez.



 



Hermione apertou um sorriso e assentiu com a cabeça sentindo aquele aperta em seu coração por saber que estava tão separada daquele mundo do qual sabia que um dia havia lhe pertencido também.



 



- Eles continuam com dificuldades? – Perguntou um tanto sentida.



 



Neville mordeu os lábios e soltou um longo suspiro.



 



- Sempre foi difícil para o Sr. e Sra. Weasley, Hermione. Acho que eles estão acostumados com essa vida.



 



Hermione assentiu.



 



- Harry? – Perguntou ela curiosa sobre o garoto que um dia fora seu melhor amigo, seu companheiro, seu herói, seu líder e seu amante.



 



- Acredito que ele encontrou uma posição confortável na vida como professor de Defesa Contra a Arte das Trevas em Hogwarts. Fico apenas feliz que ele ao menos pareça finalmente estar... – Pareceu procurar pela palavra certa. – Contente. – Findou.



 



Hermione ficou feliz por saber daquilo.



 



- E quanto a você? – Perguntou ela.



 



- Eu? – Ele não entendeu.



 



- Sei que recebeu a proposta para ocupar a cadeira de Herbologia em Hogwarts.



 



Ele riu sem graça.



 



- Sabe que devo lealdade a sua família, Hermione.



 



- Sim, sei disso. Mas saiba que não é preso a essa casa. – Ela o lembrou. – Você me ajudou quando eu mais precisei. Todos esses anos foi excepcional e indispensável. Mas nem Draco nem eu, te pararíamos caso queira seguir sua vida. Sei que ficaria feliz de estar perto de Harry.



 



Ele puxou o ar e negou com a cabeça.



 



- Você acha que não, mas ainda precisa de mim. Seus filhos precisam de mim. Dean precisa de mim. Eu jurei ser leal a essa família por um motivo e pretendo dedicar minha vida a isso. Além do mais, Hogwarts jamais me pagaria o que vocês me pagam.



 



Hermione riu junto com ele.



 



- Obrigada, Neville. – Disse ao amigo, consciente do quanto era grata por ele. – Precisamos sim de você.



 



Ele mostrou as mãos divertidamente.



 



- Claro que precisam! – Riu, mas logo engoliu tudo quando ambos escutaram um grito de Scorpius lá embaixo.



 



Hermione deu um rápido passo até o vidro segurando a barra de ferro do parapeito ao ver o filho caindo da escada que ele mesmo projetava para passar por cima de uma das barreiras que Dean erguera de surpresa. Foi rápido quando o treinador ergueu a varinha para segurá-lo a tempo, mas o garoto ainda preso ao apurado reflexo da atividade que praticava barrou o feitiço e não conseguiu tempo para poder se proteger da própria pancada contra o chão. Caiu contra o próprio braço e o choro de dor foi alto.



 



- Tudo bem, Hermione. Ele vai ficar bem. – Neville apressou-se para dizer tocando o braço da amiga de muito tempo.



 



Hermione sabia que ele ficaria, mas ainda assim não conseguia evitar ficar sem reação ao ver o filho ser carregado para fora do ginásio assim que Dean desfez todo o cenário do treino. Soltou o ar, tocou o estomago e fechou os olhos. Soltou um palavrão baixo.



 



- Eu sei que vai ficar bem. – Ela disse. – Mas eles vão questionar novamente o porque de tudo isso e você sabe o quanto eu odeio ter que jogar a realidade contra a inocência dos meus filhos.



 



Bufou e deu as costas apressando-se para atravessar a galeria e descer até o nível da sala de primeiros-socorros. Escancarou a porta para ver Scorpius choroso apertando o braço contra o corpo sobre uma das duas macas contra a parede, Hera estava de pé ao seu lado um tanto quando em choque. Ainda ofegada da atividade que tivera que encerrar as pressas.



 



- Mãe! – Scorpius chorou assim que a viu.



 



Ela estendeu a mão em sinal de “pare” imediatamente, assim que viu que o filho queria desabar por saber que agora ela estava ali.



 



- Tome a poção. – Ela ordenou imediatamente quando em segundos, Dean trouxe para ele uma poção de cura.



 



O garoto virou a poção com rapidez, quis voltar a chorar quando o efeito da poção bateu contra ele. Hermione estalou os dedos na frente do rosto do filho para ter sua atenção.



 



- Foco! – Exigiu dele. – Guie a magia da poção e agilize o efeito. – O filho tentou chorar. – Não. – Ela foi dura. – Concentre-se. – Insistiu.



 



Ele choramingou, mas obedeceu. Sua mão apertou com força a grade da maca enquanto rangia os dentes tentando usar sua concentração para sentir a magia correr por seu corpo e se focar na área exata a ser restaurada. Hermione sentiu todo o seu coração ser moído enquanto via o filho tentar agilizar o processo daquela poção tendo a idade que tinha, sofrendo como sofria, dando o seu melhor e sendo forte quando. Queria ajuda-lo, fazer aquilo por ele, mas sabia que não podia cria-lo daquela forma. Apenas torceu. Torceu por ele e torceu para que aquilo passasse logo.



 



E para sua surpresa, passou. Aos poucos ela notou que o os músculos dele relaxaram e mais de seu choro reprimido passou a ser um soluço silencioso. Ela viu sua própria tensão passar assim que o filho moveu muito devagar o braço que havia sido machucado, para testar se já podia movê-lo.



 



Hermione soltou o ar com calma, relaxou os músculos e sentou-se na maca com ele. Hera subiu no pequeno banquinho ao pé da maca e estendeu a mão para tocar o irmão com muito cuidado.



 



- Melhor agora, Scorp? – Perguntou receosa.



 



Hermione sentiu um calor em seu peito por ver sua menina preocupada com o irmão. Afastou os fios loiros prateados do rosto de Hera e encarou Scorpius que assentia soluçante para responder a irmão sem precisar usar a voz. Soltou o ar sabendo que finalmente poderia se mostrar comovida. Tocou o rosto dele.



 



- Tudo bem chorar agora, filho. – Disse bem baixo para ele.



 



Ele assentiu, mas não chorou. Sabia que agora ele estava orgulhoso por ter conseguido, sozinho, agilizar todo o processo da poção que tomara, num momento de alto estresse, e já conseguia mover o braço sem dor ou talvez com algum resquício de desconforto.



 



Dean abriu a boca para ensiná-lo de que devia apurar seus instintos e aprender a discernir que alguma ajuda pode vir de um momento onde tudo parece estar indo contra você. Que se ele estivesse alerta a sua volta e com o foco não apenas na surpresa daquele evento acidental, talvez não teria perdido o controle e usado magia involuntária para repelir o feitiço que Dean usara para segurá-lo antes de tocar o chão.



 



- Não se preocupe muito por agora. – Dean continuou. – Seu pai também demorou para aprender a não perder o controle quando era pego de surpresa. – O treinado lembrou. – Acredito ser bom pararmos por aqui hoje. Estarei satisfeito enquanto estiverem progredindo. Tire tempo para se recuperar, pequeno Malfoy. – Findou e deixou o quarto.



 



Scorpius deitou ainda soluçante encostando a cabeça no colo da mãe. Hermione penteou o cabelo do filho com os dedos, sentindo a textura que a lembrava dos cabelos do marido. Sentia falta dele. Céus!



 



- Por que temos que fazer isso? – Hera questionou encarando a mãe. Ela sempre fora mais desafiadora.



 



- Porque temos, Hera. – Scorpius respondeu entre seus soluços. E ele sempre tentava trazer senso ao temperamento espirituoso de Hera.



 



- Não só por isso. – Hermione disse, pesarosa por saber que teria que lecionar os filhos mais uma vez sobre aquilo. – Vocês são crianças únicas. Sabem disso. Ninguém da idade de vocês é capaz de controlar magia, ou sequer conduzi-la, nem mesmo com a ajuda de uma varinha. Seu pai e eu temo o dever de nos certificar que conseguem controlar a força que carregam, do mesmo modo que precisamos prepara-los para se protegerem do mundo caso ele decida teme-los. O mundo pode ser muito cruel.



 



- É por isso que Luna disse que você e papai ainda não sabem se vamos para Hogwarts quando tivermos idade? – Hera perguntou.



 



Hermione puxou o ar e estreitou os olhos. Luna?



 



- Luna te disse isso? – Duvidava muito.



 



- Nós a escutamos conversando com Greta. – Scorpius respondeu sentando-se novamente. – Foi sem querer.



 



Hermione soltou um suspiro prolongado, dando-se tempo em como ia explicar aquilo da melhor forma possível.



 



- Sabe que tudo que seu pai e eu queremos é que estejam protegidos, mas sabemos que mantê-los em uma bolha para sempre não condiz com a realidade. Encarem tudo isso como uma constante lição separada por fases, etapas. Quanto mais provarem capacidade de lidarem com os desafios, mais oportunidades iremos abrir para os dois. Portanto dediquem-se aos exercícios de Neville, aos treinos de Dean, a lições que seu pai e eu estamos sempre passando. Nós não temos a menor intenção de privá-los da experiência de irem para Hogwarts.



 



Os dois assentiram. Sabiam que era um desafio controlar toda a força mágica que carregavam. Por isso se aproveitavam do modo como os pais os protegiam de grandes multidões, de aparições em público grandiosas, de eventos onde pudessem ficar nervosos. Assim evitavam assustar a comunidade bruxa daquilo que os pequenos ainda não tinham culpa por não saberem administrar.



 



- Papai disse que Durmstrang talvez seja uma opção melhor. É uma escola menor. Hera e eu poderíamos nos adaptar melhor já que uma parte da elite bruxa a frequenta. Seria um ambiente mais.... familiar? – Questionou Scorpius.



 



- Vocês poderão escolher quando tiverem idade e quando provarem que podem manusear a varinha como qualquer outro bruxo e que possuem perfeito controle da magia em vocês. – Findou a mãe e se levantou. – Agora sigam para o quarto de vocês e se aprontem para o jantar. Greta deve estar os esperando. – Passou a ordem.



 



Estendeu a mão para ajudar Scorpius a descer, mas ele recusou, mostrando-se perfeitamente recuperado. Hera o desafiou para uma corrida, mas ele recusou também. A menina deu a língua para ele e saiu correndo. O garoto não conseguiu engolir aquilo e saiu correndo atrás da irmã. Hermione balançou a cabeça tentando não rir da personalidade dos dois e apenas não os repreendeu porque sabia que Greta faria isso assim que emergissem do subsolo da casa.



 



Hermione tomou o caminho para seu quarto encarando a beleza do fim da tarde enquanto cruzava as enormes salas de sua casa sempre impecavelmente arrumada e exuberante. As vezes ela mal acreditara que aquele era o mundo do qual fazia parte. Havia encarado a vida de modo tão simples crescendo no pequeno quarto da casa até descente de seus pais quando pequena. Havia pensado que nada conseguiria superar a grandiosidade do divisor de água que Hogwarts havia sido em sua pequena existência. Mas as vezes quando se via introspectiva andando pela sua enorme mansão, sabendo bem quem era e qual era posição naquele mundo, se perguntava como havia parado ali e por que ela? Por que logo ela de tantos no mundo?



 



Tomou um banho demorado, deixou que Tryn trabalhasse o tempo que fosse num penteado que ela gostasse e numa maquiagem especial. Vestiu-se com o longo que já estava separado em seu closet. Colocou os sapatos caros e vestiu-se de joias feitas apenas para ela. Encarou-se bem no espelho para observar o produto final para o evento daquela noite. O vestido bem elaborado se ajustava ao seu corpo perfeitamente e descia rodado por sua cintura. A renda escura era visivelmente cara, o cetim lustroso por baixo era o da melhor qualidade, a costura, o corte. Estava acostumada a roupas como aquela, mas não ter Draco para elogiá-la vestida naquela peça única de arte fazia quase que não valer a pena se dar o trabalho de usá-la.



 



Era feliz por poder ver sua forma saudável, o cabelo exatamente como gostava, o bom gosto para sua roupa clássica e elegante, a postura imponente e intimidadora. Sabia que já havia se visto de todas as formas encarando o espelho e saber que agora estava tudo bem, aquecia seu coração. Alisou a curva de sua cintura para se certificar de que o vestido estava bem ajustado a sua fora e virou-se de lado. Sua mão imediatamente passou por sua barriga completamente reta. Vazia. Seu cérebro abriu as memórias de todos as outras vezes que se encarara daquela forma desejando poder tocar sua barriga e sentir vida ali dentro.



 



Ainda era muito nova. Sabia que Scorpius e Hera iriam ficar felizes se soubessem que poderiam ter uma irmã ou irmão. Sabia que Draco morreria para poder ter mais uma criança. Seria diferente dessa vez. Seria uma gravidez que eles poderiam aproveitar sem medo. Uma que seria muito bem-vinda. Mas ela não podia. Não conseguia manter a concentração corporal que precisava para vencer por nove meses a magia irreversível em seu sistema que a impedia de segurar uma gravidez. Provou isso para si mesma nas várias vezes em que se vira perder gravidez seguida de gravidez numa época em que ela e Draco haviam tentado. Quando ela, com toda a sua ingenuidade, acreditara que atingira um bom nível em suas habilidades e que poderia ter controle de seu próprio corpo por novo meses inteiro.



 



Teve que parar. Draco a fez prometer que pararia. Estava indo para um caminho que não era saudável. Só Draco sabia o quanto havia chorado por cada “adeus” que teve que dar aos filhos perdidos, aos que nunca conheceria. Sempre que pensava que queria um, precisava colocar seu desejo em um lugar bem guardado em sua mente. Não era um desejo que um dia se faria físico. Pensava em seus filhos e sua família e o quanto sabia que possuía o que era invejado por muitos, facilmente tornava-se grata por ter a certeza de que não faltava nada entre ela o marido e os filhos. Eram completos. Isso era o suficiente para a fazer esconder seu desejo.



 



Alisou o vestido mais uma vez, respirou fundo e deu as costas ao espelho deixando tudo aquilo para trás. Pegou seu pesado casaco de pele, suas luvas e deixou o quarto. Não andou muito até ver Luna indo de encontro a ela para anunciar que Molly e Arthur Weasley estavam no foyer de entrada e que queriam ver as crianças. Hermione soltou o ar quase cansada e não soube exatamente o que sentir. Assentiu para a Luna, permitindo que ela liberasse Scorpius e Hera quando estivessem prontos. Deixou seu casaco com Luna e tomou o rumo daquela ala da casa para o foyer. Quando chegou, viu a mulher bem ao lado de Arthur Weasley esperando ansiosamente. Vestiam roupas simples, mas Hermione sabia que aquelas eram suas melhores roupas. Eles sempre se vestiam da melhor forma que podiam quando vinham para Malfoy Manor. Aproximou-se deles e não esperou nenhuma recepção calorosa.



 



O casal Weasley sabia bem a responsabilidade que Hermione carregava da morte de dois dos filhos deles. Não poderia esconder aquilo deles. O casal era frio com ela, mas era sempre presente por causa das crianças e Hermione não negava a eles o direito que tinham sob Hera e Scorpius. Aquele casal havia sido a única família viva que restara para ela de seu velho mundo e ela queria que os filhos tivessem contato com o mundo simples de Molly e Arthur. Aquele mundo que havia a moldado a muito tempo atrás era um de seus alicerces. Os filhos precisavam conhece-lo. Por mais que não fosse nada caloroso, Hermione ainda sentia que o casal se preocupava com ela, mesmo com todas as barreiras que agora impediam que ela os abraçasse e fosse bem acolhida.



 



- Sei que não avisamos a visita, mas queríamos nos despedir das crianças. Vão ficar longe por bastante tempo os recessos de final de ano e nós vamos estar ocupados com nossos eventos n’A Toca. – Arthur Weasley quebrou o silêncio.



 



- Claro. – Hermione respondeu respeitosamente. Sempre se sentia vulnerável com eles por perto. – Eles estão terminando de se arrumar para o jantar e já vão descer. Preciso ir ao banquete de inverno na Catedral, mas fiquem à vontade. Draco não está em casa. – Os dois assentiram. – Sintam-se convidados para ficarem para o jantar, também.



 



- Já preparei algo em casa. Obrigada. – Molly recusou.



 



Hermione assentiu e houve aquele estranho momento de silêncio entre eles que era bastante comum. Ela pigarreou desajeitava e abaixou um pouco o tom de voz para aproveitar a visita deles e comentar:



 



- Sei que o Ministério lhe ofereceu outra posição, Sr. Weasley. Não entendo porque a negou. - Os dois mostraram-se instantaneamente desconfortáveis. – Sei que seria uma ótima ajuda para vocês agora. – Tanto Molly quanto Arthur não conseguiam se engajar numa fonte de renda estável desde o fim da guerra.



 



Os dois trocaram olhares e ajeitaram-se desconfortáveis.



 



- Bem. – Arthur Weasley tossiu para limpar a garganta e ganhar tempo. – Uma posição muito alta para minha qualificação. Não me soou correto.



 



- Como não? – Hermione tentou manter o tom casual. – Foi uma boa oportunidade.



 



- Sim. Sim. – Concordou o senhor. – Mas... Sabemos que... Bem... Nós sabemos que foi seu marido quem... E...



 



- E não queremos ajuda de vocês. – Molly terminou para o marido, sem dar voltas.



 



Hermione puxou o ar e sentiu seu coração apertar. Claro que não eram idiotas em não desconfiar que todas as oportunidades abertas para os dois vinham de Hermione e Draco articulando algo em nome deles, sem que soubessem. Eles haviam negado todas. Engoliu a seco e assentiu.



 



- Certo. – Respondeu calmamente. – Entendo. – Verdadeiramente entendia. Aquele silêncio desconfortável novamente perdurou por mais algum tempo. – Precisam de algo? Água? Chá?



 



- Estamos bem. – Molly foi quem respondeu.



 



- E como você está? – Arthur perguntou e Hermione sentiu aquele breve momento de felicidade fazer seu coração pular brevemente.



 



Bebeu daquela pequena gota de demonstração de que ainda se importavam e apertou os lábios num sorriso simples.



 



- Bem. Obrigada. – Respondeu.



 



- Arthur e eu gostaríamos de saber se... – Molly hesitou por alguns segundos. – Se as crianças poderiam passar um final de semana conosco na Toca. No final do verão. Agosto. Ou quando for melhor conveniente para vocês.



 



Hermione apertou os dentes sabendo imediatamente que aquele seria um desafio. Scorpius e Hera já haviam ido na Toca. Nunca para passar mais do que algumas horas e a resistência de Draco sempre fora imensa. Suspirou hesitante. Seria difícil convencê-lo. A briga seria duradoura. Não sabia se deveria compra-la, por mais que quisesse que seus filhos conhecessem um mundo fora do círculo de famílias tradicionais, por mais que quisesse que Arthur e Molly tivessem a chance de cuidar de netos que já deveriam ter aos montes naquela altura de suas vidas, mas que ainda estavam longe de ter. Cada Weasley carregava suas cicatrizes e a maioria dos que restara deles consideravam o mundo um lugar cruel demais para se colocar uma criança.



 



- Terei que conversar com Draco, mas talvez... – Foi interrompida pela euforia dos filhos em seus passos apressados e vozes altas aproximando-se pelas suas costas. “Pop-pop”, Scorpius gritou quase explodindo o próprio pulmão e Hera o seguiu correndo direto para os braços de Molly gritando “Mimi”.



 



Hermione sempre sorria quando via a interação dos filhos com Molly e Arthur. Gostava de ouvi-los chamando-os de formas tão carinhosas e em pensar que eles amavam seus filhos tanto quanto ela enchia seu coração. Ver o sorriso nos rostos de Molly e Arthur e a alegria de Scorpius e Hera, observar o modo como eram expressivos, como partilhavam abraços apertados, como dividiam brincadeiras bobas, fazia Hermione se sentir preenchida de alguma forma. Sempre imaginara que sua vida seria cercada por Weasleys, figuras ruivas por toda parte, risadas, comida boa. Ver seus filhos ali, sendo amados e cuidados pelo casal Weasley, satisfazia nem que fosse um pedaço desse ideal que um dia fizera parte de seu futuro imaginário. Mesmo que seus filhos tivessem olhos cinzas e cabelos prateados. Mesmo que carregassem o sangue de Draco Malfoy. Ainda podia se agarrar aquele pedaço de sua vida antiga.



 



- Mimi! Vamos passar o natal na casa de Brampton! Só nós dessa vez e os elfos! Por que não vem com a gente? – Hera perguntou em sua vozinha excitada e infantil. – Você e pops!



 



- A casa de Brampton é pequena, mas tem um milhão de quartos vazios! Deveria ver! – Scorpius ajudou a irmã. – Não é mesmo, mamãe? – Olhou esperançoso para a mãe.



 



Hermione tentou manter um sorriso educado para o filho.



 



- Normalmente não recebemos visitas na casa de Brampton. – Encarou Molly, que evidentemente não se sentia confortável com as crianças insistindo naquilo. – Nossas portas sempre vão estar abertas para Mimi e Pop-pop. – Certificou-se de dizer isso aos filhos. – Mas eles já têm uma série de programações para o fim do ano n’A Toca.



 



As duas crianças murcharam e assentiram. Hera logo tentou reverter seu próprio humor, perguntando se podiam brincar de “Hogwarts”, Scorpius se empolgou e logo mais um apelo estava sendo feito para a mãe. Hermione deixou claro que não mudaria o horário do jantar e que “Mimi e Pop” estavam de passagem rápida, mas que se quisessem aproveitar os minutos que tinham antes do jantar, estavam livres. O casal de senhores não teve muita escolha quando foram empurrados para fora do foyer pelas crianças. Hermione apenas deixou seu sorriso sincero perder força quando se viu sozinha ali. Ainda podia escutar as conversas dos filhos.



 



- Pops, por que não gosta do meu papai e da minha mamãe? – Captou a voz distante de Scorpius.



 



Arthur riu.



 



- Você é muito novo para entender ainda, filho. – respondeu a voz do Sr. Weasley, que quase foi difícil de entender.



 



- Mas eu já tenho sete! – Exclamou o filho em resposta e dessa vez Hermione não pode mais escutar nada pois já haviam feio o caminho para outra parte da casa.



 



Hermione suspirou e encarou os próprios sapatos por um tempo. Fechou os olhos e soltou o ar com calma. Queria ter tido mais tempo para digerir o misto de emoções que estava sendo obrigada a engolir, mas Tina apareceu logo em seguida.



 



- Posso pedir autorização para a chave de portal? – Ela perguntou.



 



Hermione limpou seus pensamentos.



 



- Neville está pronto? – Perguntou.



 



- Sim, está apenas conversando algo com Dean e logo vai descer. – Respondeu a assistente.



 



- E Draco? – Ela perguntou. – Alguma projeção para o horário que vai estar em casa?



 



- Acabei de me corresponder com Edmond. Eles ainda estão presos em algumas tarefas, talvez cheguem muito tarde. – Ela disse dando de ombros. – Mas nunca se sabe.



 



Hermione assentiu. Checou a mesa de jantar para se certificar de que estava arrumada como deveria, revisou com Greta o horário que era esperado que as crianças fossem para cama e o que elas deveriam terminar antes de se recolherem. Encontrou-se com Neville no caminho de volta e eles se elogiaram pelos trajes. Neville agradeceu pelo terno e ela agradeceu por ele ser a companhia dela todas as vezes que Draco não estava presente.



 



- Vamos ficar por pouco tempo. Só cumprir o protocolo. Quero tentar chegar antes das crianças irem para cama. – Ela anunciou.



 



Neville assentiu e riu.



 



- Adoraria ficar mais tempo se Draco estivesse indo. Fariam do evento um espetáculo só de vocês. – Ele alfinetou.



 



Hermione riu e deu de ombros. Sim, eles adoravam se aproveitar de quando o mundo colocava um holofote em suas figuras. Pediu para que Neville a esperasse mais alguns minutos e cruzou quase toda a casa para chegar ao solário, de onde conseguia escutar toda a falação dos filhos. Pareciam brincar de três coisas ao mesmo tempo e Hermione se pegou escutando escondida do lado de fora, com um sorriso discreto no rosto.



 



Arthur Weasley parecia fazer o papel do Chapéu Seletor e havia acabado de gritar Hera para a casa da Grifinória. A menina protestou imediatamente, insistindo para que seu “pop-pop” a trocasse para a casa Sonserina. Hermione riu silenciosamente lembrando-se da constante indecisão dos filhos quanto a suas casas em Hogwarts. Hera parecia sempre inclinar-se para a Sonserina. Scorpius por sua vez, dividia-se bastante entre Grifinória, Sonserina e Corvinal. Os dois discutiam quase que constantemente, porque tinham o consenso de que deveriam ficar juntos na mesma casa, sempre, e nas brincadeiras, um acabava sempre abrindo mão de sua vontade para que os dois ficassem juntos. Hermione sabia que até os onze anos eles estariam convencidos de qual seria o plano definitivo.



 



Bateu na porta quando se aproximou e perceber que não fora notada. A brincadeira parou e Hermione avisou que só estava ali para se despedir das crianças e que não tomaria muito tempo. As crianças correram para os braços da mãe quando ela se abaixou para dar um abraço neles e pedir para que fossem obedientes e responsáveis. Molly e Arthur avisaram que já estavam de saída e logo ouve uma onda de protestos, que foi encerrada com muita facilidade por Molly Weasley. Ela retirou dois pacotes bem embrulhados de sua pequena bolsa de mão e estendeu uma para cada criança.



 



O presente de natal das crianças era sempre o mesmo todos os anos. Mas o brilho de alegria no rosto delas quando viam todo o amor colocado por Molly naquele suéter, um bordado com um visível “H” e o outro com “S”, causava em Hermione uma mistura de sentimentos no peito. Seus olhos brilharam e sua garganta queimou vendo os filhos receberam o que ela costumava receber anos atrás como presente de natal dos Weasley. O que não faltava para os dois eram roupas de inverno, caras e de todos os tipos possíveis, mas aquela única peça era tudo que queriam usar durante a estação e se não fosse por Draco, por Hermione, por Narcisa e pelas governantas, realmente aquilo seria a única peça usada todo inverno.



 



Scorpius e Hera saíram correndo para mostrar o presente para Luna, que certamente era a única da casa que não olharia torto para o suéter que carregavam. Hermione limpou a garganta e se levantou piscando para clarear sua vista quando Molly e Arthur se organizaram para ir embora depois de se despedirem de Scorpius e Hera. Hermione ofereceu-se para leva-los até a porta, mas o casal insistiu que sabiam o caminho. Arthur foi na frente e antes que Molly deixasse o solário, Hermione a parou.



 



- Molly. – Pediu por sua atenção e a senhora parou bem ao seu lado, antes de passar pela porta. As duas se encararam. – Obrigada. – Disse.



 



A Weasley se mostrou interrogativa.



 



- Pelo que?



 



Hermione suspirou.



 



- Por amar meus filhos como se tivessem seu sangue. – Não era a primeira vez que a agradecia. – Por ser tão presente e cuidar deles. Por permitir que conheçam um mundo fora de toda essa bolha extravagante. Por ter feito parte da vida deles desde tão pequenos. Por me fazer ter a certeza de que por causa de tudo isso, meus filhos vão ser Malfoys diferentes.



 



Molly demorou alguns segundos para reagir. Quando o fez, acenou a cabeça calmamente em sinal de que agradecia a consideração, puxou o ar e tocou o braço dela muito discretamente.



 



- Se cuide, Hermione. – Disse e foi embora.



 



Fechou os olhos sentindo a falta que o afeto daquela mulher lhe fazia, mas se fez satisfeita por saber que não era odiada apesar de tudo que havia feito a eles. Seu relacionamento com os Weasley caminhava a passos extremamente lentos, mas estavam num lugar melhor hoje, do que há alguns anos quando mal podiam dividir o mesmo espaço. E saber que progrediam era um alívio. Não esperava que o relacionamento deles fosse algum dia ser o que havia sido antes de sua vida ter virado de cabeça para baixo, mas sabia que seriam curados pelo tempo. O que mais importava agora era que seus filhos tinham o que nenhum Malfoy havia tido antes. Não que Narcisa não fosse uma avó carinhosa, nem amasse os netos, mas ela não era necessariamente calorosa. Enxergava seu papel como avó com certo ar de dever, como uma responsabilidade Malfoy, simplesmente porque ela não sabia ver a vida de outra forma. Sua figura sempre vinha acompanhada de lições sobre comportamento e repreensões das mais variadas. Mas não deixava de ser amada.



 



Encontrou-se com Neville novamente e os dois seguiram até a sala de chave de portal, onde tomaram uma que os levou diretamente a entrada do portão norte, que hoje era apenas uma base de entrada e saída da cidade. Brampton Forte havia se tornado a maior cidade unicamente bruxa do Reino Unido. Diferente do isolamento de antes, a cidade crescera para além das muralhas que agora se mantinham de pé em apenas algumas áreas remotas. Haviam estradas que saiam de outros povoados bruxos conhecidos e que levavam até a famosa cidade, transportes variados que saiam de Londres e do Ministério até Brampton. Por mais distante e isolado que fosse o local, a atividade bruxa ali era tão intensa que atraia gente de todo o lugar.



 



Neville e Hermione tomaram um carro que os levou do portão norte até a entrada principal da gigantesca catedral que hoje servia de escola de treinamento para aurores e centro de pesquisa para diferentes áreas cientificas da magia. O banquete de inverno era um evento que tomara o lugar da antiga cerimônia de inverno. Era uma das celebrações anuais do fim do Império de Voldemort. A verdade era que não passava de um grupo de aristocratas e uma boa quantidade de figuras públicas e políticas que usavam da oportunidade para cuspirem suas contribuições a restituição e consolidação da democracia bruxa e seu desenvolvimento.



 



Hermione teve que guiar Neville pelo amontoado da imprensa na porta da Catedral. Diferente de anos atrás durante o Império de Voldemort, onde Draco e Hermione usavam a imprensa como um portal para manipular a opinião pública, agora eles se reservavam a direcionar-se a ela raramente. Assim conseguiam manter suas figuras dentro de um limbo misterioso e especulativo. Mantinha a curiosidade alheia e o constante interesse. Usavam isso como instrumento de influência.



 



- Algo mudou desde a última vez em que me fez ter que passar por isso? – Neville inclinou-se discretamente para perguntar quando conseguiram vencer o mar de flashes e perguntas do corredor de entrada para a Catedral.



 



Hermione tentou não rir.



 



- Não. – Respondeu. – Converse com todos, seja político e democrático. A lista daqueles com quem não deve engajar em longas conversas continua a mesma. Não deixem te usar para chegar até mim. E seja discreto quanto a mim e minha família, por favor. Todos sabem que você é muito próximo, vão tentar tirar algo de você.



 



Ele gemeu baixo.



 



- Eu odeio isso. – Murmurou.



 



- Eu também. – Ela devolveu. – Faça seu papel. Não é tão difícil. Eles pensam que somos heróis.



 



Eles entraram no salão principal e Hermione precisou puxar o ar porque aquele lugar sempre mexia com suas entranhas. Eles haviam restaurado tudo exatamente como era e cada pedaço daquele lugar lhe trazia uma lembrança que revirava seu estômago de alguma forma. Até mesmo seu casamento com Draco ali era uma lembrança que não gostava de reviver. Por esse motivo e outros que Draco fizera uma pequena e simples cerimônia fechada no quintal de sua casa em Brampton anos atrás quando dera a ela seu novo anel, onde o dragão Malfoy e a Fênix de Morgana se entrelaçavam numa peça única. Renovaram seus votos para poderem se lembrar de um casamento diferente, uma união diferente, com um propósito diferente. Aquele sim havia sido seu casamento.



 



As atenções mudaram rapidamente para a figura dela acompanhada de Neville. Não conseguiram avançar muito sem serem interrompidos. Um Malfoy por perto era sinal de oportunidades a vista. Foi a política que podia ser, mas muito bem vestida com a máscara firme de sua posição dentro da hierarquia daquela sociedade.



 



Assim que Devon cruzou seu caminho sentiu-se mais aliviada. Recebeu um respeitoso beijo em sua mão da parte do antigo aliado e riu quando ele brincou que sabia que Draco encontraria uma forma de escapar daquele banquete. Neville e ele discutiram rapidamente sobre especulações para áreas fechadas da Catedral e futuros projetos até que Devon voltou-se para Hermione.



 



- Denna deixou o time de Fox. – Devon comentou.



 



Hermione ergueu os olhos surpresa com aquela nova informação. Draco havia comentado sobre o interesse dela, mas não havia acreditado nas palavras dele.



 



- Então ela quer ser lobista? – Significava que tinha aceitado o convite de uma das companhias que controlava recursos mágicos importantes.



 



- O trabalho dela de porta-voz chamou atenção. Tinha influência e ela adorava controlar interesses alheios.



 



Hermione estalou os lábios descontente. Era um desperdício de talento. Iria ganhar muito dinheiro, certamente. Mais uma que fugia do controle deles.



 



- Um erro bastante comum é trocar poder por dinheiro, Devon. É difícil de se ver a diferença, mas Draco e eu vamos estar a esperando quando o castelo dela começar a desmoronar em quinze anos. – Disse e viu Devon soltar um riso fraco.



 



Acenaram com a cabeça, cumprimentando um grupo de cargos chefes do Ministério que passou por eles.



 



- Enquanto isso o secretário de imprensa do Primeiro Ministro continua em silêncio, ele irá ficar nos dando o ombro frio enquanto souber que temos nossa influência sobre os partidos e as eleições. – Devon fez mais um comentário quando notou que eram observados pelos funcionários do gabinete de Bennett do outro lado do salão.



 



- Bennett está o usando. Diga a ele que não gostamos de ser administrado. – Respondeu Hermione.



 



- Hermione Malfoy! – Gwendoline foi a primeira a aproximar-se sem ser convidada. – Sempre uma honra poder ter sua presença todo ano. É uma pena que seu marido não tenha conseguido fazer a viagem.



 



Hermione forçou um sorriso educado.



 



- Draco está ocupado em trabalhar com outros interesses importantes da família, Gwendoline. – Disse.



 



- Ah. Claro. Gringotes. Ouvir dizer que tem sido um trabalho árduo juntar toda a convenção de duendes. – A mulher mostrou um desapontamento respeitoso. – Mas o que é impossível para Draco Malfoy, não é mesmo?



 



Hermione apertou os lábios em outro sorriso forçado.



 



- Vejo que tomou o lugar de Denna. – Devon cortou o assunto referindo-se a liderança da liga de agentes da segurança nacional.



 



A mulher aprumou a postura.



 



- Foi uma batalha e tanto com Fox. Ele acha que não sou capaz de fazer um trabalho tão bom quanto o dela. – Respondeu. Fox era a cadeira chefe do departamento de aurores.



 



- Ele, na verdade, não queria alguém por perto que deseja o cargo dele, Gwendoline. Está tentando se convencer do errado. – Hermione foi direta.



 



Ela ajeitou a postura novamente.



 



- Eu estou bem convencida de que Fox é armado com o escudo Malfoy, e sei o quanto ele é impenetrável. Portanto desejar a posição dele, seria uma guerra ferrenha demais para eu comprar. – Ela disse.



 



Hermione sorriu diante da inocência que a mulher acreditava que Hermione carregava.



 



- Está se convencendo disso também? – Jogou para ela. – Veja bem. Se caso decidir comprar a guerra, saiba que Draco e eu trabalhamos com lealdade.



 



- Não é uma novidade. – Ela devolveu.



 



Ela acenou com a cabeça respeitosamente.



 



- Boa sorte, então. – Concluiu e passou por ela, tomando caminho até sua mesa, onde Fox se encontrava na presença da inocente esposa que apesar de bonita e muito nova, sempre parecia muito perdida. O casamento arranjado claramente não dera certo para os dois.



 



Hermione cumprimentou os outros chefes de departamento na mesa e sentou-se ao lado de Fox propositalmente trocando seu lugar ao lado de Astória, que estava pronta para verbalizar sobre os grandes feitos da criação de princesa que dava as filhas.



 



– Por que desconfio que teve um papel fundamental na decisão de Denna em deixar o time? – Fechou-se em uma conversa discreta com Fox, o que notavelmente não agradou a esposa ao seu lado.



 



- Ela vai ganhar mais dinheiro do que eu e todo o meu time combinado. – Respondeu Fox com um sorriso desafiador no rosto. Hermione era muito consciente do amor e ódio que Fox nutria por ela. Era respeitada apenas por causa da profunda lealdade que ele tinha por Draco.



 



- E ao mesmo tempo não vai ameaçar tomar sua posição, não é mesmo? – Provocou ela.



 



Fox deu de ombros.



 



- Alguns amam dinheiro, outros amam poder. – Soltou ele.



 



Ela estreitou os olhos e sorriu.



 



- E eu respeito aqueles que sabem a diferença. – Devolveu para ele, orgulhosa de saber que Fox aprendera bastante em sua caminhada de lealdade. Se Gwendoline fosse um dia querer competir, teria muito no que trabalhar.



 



Finalmente voltou sua atenção para a mesa, permitindo-se engajar no assunto que Astória dividia com a esposa de Fox por mais entediante que fosse. Sabia que ultimamente o relacionamento de Astória e Isaac, por mais forte que fosse, vinha se desgastando lentamente com a forma como Isaac vinha tentar driblar os Malfoy. Astória era firmemente contra e Isaac julgava necessário. Isaac queria apenas se ver livre de ser manipulado, mas claramente não queria deixar de ser um aliado. Os dois se equilibravam em corda bamba. Assim que o Primeiro Ministro tomou seu lugar ao lado da esposa, lamentou pela ausência de Draco. Como se estivesse procurando pelo momento em que finalmente conseguiria trocar palavras com ele e não com Hermione.



 



- Potter teria sido um rosto melhor para o novo Departamento de Segurança. – Comentou ele, sem qualquer receio de se expressar.



 



Hermione afastou a taça da boca e Fox engasgou ao seu lado.



 



- Querido, por favor! – Astória o repreendeu.



 



- Acredita que Fox não tem vocação para general? – Hermione questionou calmamente.



 



- Não existe mais lugar para um general no mundo de hoje. – Respondeu Isaac, que por mais que não oferecesse uma postura afrontosa, exibia um discurso que era. – Esse é o Departamento de Segurança. Abriga a guarda, os aurores e a patrulha civil. Não é um exército.



 



- Mais um motivo para não colocar nas mãos de Potter. – Fox revidou.



 



- Se continuarem jogando para as sombras o homem que proferiu o feitiço que matou Lorde Voldemort, a imprensa vai começar a se encher de narrativas. – Advertiu o Primeiro Ministro.



 



Hermione soltou o ar entediada. Ela revidaria, mas sabia que Fox faria aquele trabalho.



 



- Potter precisa de uma bengala para andar por aí! Ele mal se movimenta propriamente depois de toda a recuperação que teve que passar. Um papel dentro do departamento de aurores, mesmo que seja para ficar sentando em uma mesa o dia inteiro, ainda seria questionável! – Ele foi firme. – Potter não é nenhuma estrela. – Continuou. Hermione sabia que ele realmente não era porque Draco fazia questão de mover seus pauzinhos para que ele não fosse. – Dá muito ouvido para burburinhos políticos, Primeiro Ministro.



 



Isaac estalou os lábios e se preparou para perder sua postura tentando revidar Fox, mas Hermione interviu.



 



- Aprecio a preocupação, Isaac. – Começou muito indiferente ao clima conflituoso que crescia entre Fox e o Primeiro Ministro. – Posso assegurá-lo, no entanto, que Harry Potter está perfeitamente contente onde está. Neville pode muito bem satisfazer qualquer dúvida que tenha quanto a isso, e como um amigo próximo pode informa-lo sobre a intenção de Harry em acabar com qualquer rumor caso ele surja. – Afastou sua cadeira e se levantou. – Agora se poderiam me dar alguns minutos com Astória, adoraria dar uma volta pelas galerias.



 



Astória se colocou de pé em um segundo e sem qualquer demora, as duas tomaram o rumo das galerias. A mulher não perdeu tempo para se desculpar pelo comportamento do marido, mas partiu também em sua defesa.



 



- Ele está com medo. Medo de não construir um legado para as filhas. Não quer ficar preso na política, você sabe o quanto é desgastante ter que lidar com tantas vozes dentro daquele Ministério. Ele sente que vocês têm o prendido.



 



- Não sou eu e Draco que precisamos de mais um mandato de Isaac. Seu marido é uma figura reconfortante de segurança e reconstrução. Ele quem ocupou a cadeira de Primeiro Ministro durante todo esse processo desde o fim do Império. O mundo ainda pode se sentir extremamente inseguro de ver qualquer outro assumindo o cargo, mas eu sei que tanto você quanto Isaac são conscientes disso, do mesmo modo que minha família já se mostrou disposta a recompensá-los de modo muito justo pelo serviço e aliança que seu marido tem tratado com descaso. Por isso não deixo de me questionar se esse comportamento não é nenhuma estratégia para pressionar minha família a recompensá-los mais significativamente. – Hermione foi direta.



 



Astória parou mostrando-se ofendida e Hermione a acompanhou.



 



- Hermione, por Deus....



 



- Por favor, Astória. Vamos nos poupar do tempo que esse teatro nos custaria. – Hermione já havia passado anos o suficiente na companhia dos Bennett para saber como eles jogavam.



 



A mulher se mostrou extremamente desconfortável.



 



- Essa conversa deve ser reservada para nossos maridos. – Ela ainda tentou se esquivar.



 



- Certo. – Hermione disse. Se ela queria que fosse assim, não iria se opor. Sabia que estaria envolvida de qualquer jeito. – Tenha em mente que nos drenar de benefícios pode custar caro, nem pense também que eu um dia vá vender a liberdade do meu filho por se enxergarem no direito de tocarem em alguma parte da herança da minha família. Os Bennett são ferramentas importantes, mas não são insubstituíveis. Mantenha seu marido no lugar dele. – Terminou de se expressar para Astoria Bennett e passou por ela para ser recebida pelo chefe do departamento de experimentos mágicos da Catedral que se aproximava.



 



O jantar foi mais demorado do que o previsto. A listra de agradecimentos foi gigantesca e esse ano haviam duas enjoativas figuras que contaram longos testemunhos deprimentes sobre a repressão sofrida durante regime de Voldemort. Alguns líderes de movimentos tomaram a frente para contarem sobre recentes projetos e uma breve premiação foi feita onde houveram homenagens para a família Malfoy por serem os maiores doadores pelo sexto anos consecutivo.



 



Assim que os pratos terminaram de ser servidos e eles abriram a pista para valsas, Hermione conseguiu se esquivar com Neville graças a ajuda de Devon. Os dois fizeram o caminho de volta para o portão norte onde pegaram uma chave de portal de volta para Malfoy Manor. Hermione se despediu de Neville assim que chegou em casa e o levou até o carro estacionado no pátio da mansão que o esperava para leva-lo de volta para seu apartamento nos arredores de Londres. Sabia que logo veria o amigo cedo pela manhã para sua rotina de treinamento.



 



Havia sido um dia longo e ela já se sentia pronta para poder relaxar. Passou para o lado de dentro da casa novamente e cansada, tirou seu pesado casaco e o passou para a mão do elfo que a esperava na porta. Tirou os sapatos para libertar seus pés. Tomou a liberdade de se sentir confortável sabendo que aquele horário, o número de funcionários pela casa era mínimo. Ia começar a se despir das joias a medida que tomava o caminho para seu quarto, mas parou antes mesmo de ir muito longe quando percebeu que havia visto um segundo carro estacionado do pátio que não era o de Neville.



 



Puxou a pesada cortina para poder ver pela janela o pátio. E realmente não estava errada. Ali estava o carro parado no pátio. Ainda não havia sido estacionado, sinal de que não fazia muito tempo que havia chegado.



 



Draco!



 



Seu coração acelerou. Ele estava em casa depois de quantas semanas? Sempre parecia uma eternidade. Ele estava de volta! Puxou as saias de seu vestido e preparou-se para apertar o passo até o quarto, mas notou que as luzes do jardim dos fundos estavam acesas. Apertou os olhos e sorriu sabendo exatamente onde ele estava e o que estava fazendo. Acelerou o passo em direção ao solário por saber que era o único lugar por onde ele conseguiria estender o aquecimento da casa para alguns bons metros do jardim.



 



A medida que avançava conseguia ouvir de longe as gargalhadas dos filhos que deveriam estar na cama, mas não estavam. As luzes fortes do jardim foram ficando mais próximas e quando seu coração não conseguia mais se conter de excitação por saber que logo veria o marido, escutou uma voz forte as suas costas:



 



- Hei.



 



Ela parou. Seu coração parou junto. Conhecia aquela voz. Passara por ele? Preparou-se para virar-se para recebe-lo, mas logo sentiu a presença dele as suas costas. As mãos dele passaram por sua cintura e sentiu o corpo dele colar as suas costas.



 



- Com pressa, Sra. Malfoy? – Ele sussurrou em seu ouvido e desceu para deixar um beijo em seu pescoço.



 



Hermione se viu derreter por inteira. Céus! Inalou fundo o cheiro dele.



 



- Merlin. – Soltou ela por baixo de sua respiração. Fechou os olhos embriagada. – Seu cheiro. – Se viu fraca. – Fica por todo o lugar quando você vai embora. – Disse a ele. – Me faz contar os dias para te ter de volta.



 



Ele riu.



 



- Não faz ideia do que é sentir sua falta, Hermione. – Murmurou para ela.



 



Hermione sorriu e virou-se para ele. Encarou seu rosto perfeito, seus traços belos e afiados, as linhas duras de seu maxilar, a altura da ossada de suas bochechas, os olhos de inverno, os cabelos que agora usava um pouco além da altura do ombro. Aquilo a lembrava muito de Lúcio Malfoy, mas ela não reclamava. Não reclamava porque gostava da textura, gostava de fazer seus dedos correrem por entre aqueles fios. Ele era seu. Todo aquele homem era seu. Cada pedaço daquele homem a pertencia.



 



- 3418 – Sussurrou para ele.



 



Draco não conseguiu esconder um sorriso. Inclinou-se e fez seus lábios tocarem o dela como se quisesse tirar tempo para apreciar cada pequeno espaço onde suas bocas se encostavam.



 



-3420 – Ele devolveu no mesmo tom para ela.



 



Era o código que usavam para “Eu te amo” quando estavam num ambiente muito profissional ou quando estavam cercados de pessoas, ou até mesmo quando parecia impróprio. Era bem o estilo deles se manterem discretos sobre o relacionamento que tinham quando estavam em público. A contagem também era um bom entretenimento para os dois e quando a usavam estando sozinhos, riam de si mesmos.



 



A grande verdade era que tomavam como uma grande vantagem a forma como reservavam, muito cuidadosamente, a intimidade deles. Os toques, abraços, as palavras que diziam apenas um para o outro, os beijos, tudo aquilo eles escondiam como o bem mais sagrado que tinham. Cuidavam de si no privado, se fortaleciam longe do olhar alheio, e sabiam que a conexão que tinham se traduzia para o público sem que fosse necessário que sequer estivessem um ao lado do outro.



 



- Me responda o porque consigo ouvir Scorpius e Hera no jardim? – Ela perguntou.



 



Ele riu.



 



- Talvez eu não tenha resistido a ideia de matar a saudade dos meus próprios filhos, Hermione. Me condene o quanto quiser. – Devolveu ele.



 



Ela estreitou os olhos.



 



- Posso considerar não te julgar se tiver conseguido uma data com Gringotes.



 



Ele imediatamente se mostrou confiante.



 



- Primeira terça do mês que vem. Sala de conferência da sede local. Beco Diagonal. Nove da manhã.



 



Ela abriu os olhos surpresa. Sorriu.



 



- O que é impossível para você, Draco Malfoy?



 



Ele deu de ombros a provocando. Segurou seu queixo e estalou um beijo rápido em sua boca. A soltou, passou por ela e seguiu se caminho. Hermione sentiu o vento quase frio quando o calor do corpo dele a deixou, quase precisou de um segundo para se recuperar. Voltou-se para ele.



 



- Espere. Quero saber como fez isso. – O chamou.



 



- Você irá. – A encarou por cima dos ombros. – Temos a noite inteira, querida. – Piscou para ela e sumiu para dentro do solário.



 



Hermione ficou ali encarando o nada com um sorriso bobo no rosto. Deus! Será que era algum pecado que fosse tão feliz? Deixou seus pés a levarem até o jardim onde viu Hera e Scorpius correndo do pai, que já estava sem os sapatos, sem o casaco de seu terno, sem a gravata, a camisa desabotoada, fingindo que não conseguia alcançar as crianças. Hermione riu da cena que viu. Seu coração se encheu completamente e ela esqueceu do resto do mundo. Aquilo era tudo que bastava para ela.



 



Assistiu Draco rolar na grama com Scorpius, tentando impedi-lo de chegar até sua vassoura infantil que não o faria ir muito longe, mas era a única arma que tinha. Hermione tirou suas joias, desprendeu os cabelos, juntou a saia esvoaçante de seu vestido e desceu os degraus do solário para a grama. Esperou pelo momento certo com um sorriso enorme no rosto e quando viu sua oportunidade roubou de Hera a vassoura que ela acabara de capturar do chão. Fugiu da menina e Scorpius veio atrás. Driblou o filho, mas não demorou a ser capturada pelo braço forte do marido. Se viu rodar no ar contra o corpo dele e abafou seu grito de excitação e surpresa cobrindo o rosto. Os dois cambalearam juntos quase que sem equilíbrio quando os pés dela tocaram a grama novamente. Riam sem fôlego. Os braços dele se fecharam ao redor da cintura dela, o corpo maciço dele contra suas costas.



 



- O que está fazendo, Sra. Malfoy? – A boca dele colou contra seu ouvido. Hermione sentiu seu corpo perder forças. Ele a chamava de Sra. Malfoy sempre que queria a provocar. – Deveria estar guardando energia para hoje a noite. – Ele disse de modo divertido e malicioso.



 



Ela riu e desvencilhou-se dele. Bem que sentia falta do marido o suficiente para arrasta-lo para o quarto naquele exato momento. Mas tudo tinha seu tempo e queria apreciar a leveza de cada momento. Sabia que até o fim daquele dia, estariam no chão do quarto, cobertos apenas com lençóis, um nos braços do outro, assistindo o céu da noite enquanto dividiam uma garrafa de vinho e riam de assuntos idiotas.



 



- Não sou a única que deveria estar guardando energia, Sr. Malfoy. – Ela devolveu tão maliciosa quanto ele e correu atrás de Scorpius, que a provocou e fugiu na vassoura que mal erguia alguns centímetros do chão.



 



Não demorou a estar rolando na grama com Hera. Entregou-se por um minuto apenas, gargalhando com a filha jogada também contra seu corpo. Fechou os olhos apenas para apreciar os sons dar gargalhadas infantis e das provocações bestas de Draco cruzando o ar da noite.  Apenas alguns segundos que se permitiu, porque sabia que nem os filhos, nem Draco, a daria mais do que aquilo. Apreciou a delícia daquele caos, do som das risadas de sua família, da intimidade e da felicidade que haviam entre os laços que os unia. Eram fortes. Eram valiosos. Era seu bem mais sagrado. Não queria que aqueles sons escapassem os limites de sua propriedade. Não queria que o mundo soubesse de momentos como aquele, simplesmente porque sabia que apenas ela, Draco, Scorpius e Hera saberiam dar a ele o valor devido. Memórias de momentos como aquele a blindava nos seus momentos de maior fragilidade, de instabilidade, quando a alma vingativa de Morgana parecia querer escapar pelas frestas do compartimento em sua mente que Hermione havia, com tanta dificuldade, conseguido a prender. Manter aquele pedaço de si preso, isolado, confinado, era um de seus maiores desafios. Era um aprendizado constante, uma pesquisa incessante.



 



Abriu os olhos para ver Draco carregando Scorpius quase de ponta-cabeça pelo jardim enquanto o filho mal conseguia respirar entre gargalhadas. Amava aquele homem. Amava seu coração cheio de camadas que se dividia entre a nobreza e a ambição.  Amava o pai dedicado que era, o marido observador, o líder determinado. Amava seu senso de responsabilidade, sua capacidade de foco, sua procura por objetivos, sua astúcia. Era um homem como nenhum outro e ela se via sempre cada vez mais certa da escolha de o amar a cada ano que passava ao seu lado, a cada desafio que venciam juntos, a cada conflito de diferenças que aprendiam a administrar. Era apaixonada. Por ele, pela jornada deles, pelo legado que desenhavam, pela confiança que construíam.



 



Entendia a vida simples que Luna queria com Ronald, na antiga cabana de Bill e Fleur. Entendia que uma vida simples bastava para muita gente. Sua vida com Draco não passava perto do “simples” em nenhum aspecto que fosse, nem nunca passaria. Mas Hermione tinha plena convicção de que a complexidade era o que os excitava, de que o tamanho do desafio era o que os unia, e que se perdessem absolutamente tudo e ainda tivessem um ao outro, seria como não ter perdido nada. Porque se fossem despidos de todos os seus bens, do nome Malfoy, das mansões caras e bem elaboradas, da linhagem que tinham, da influência e poder que detinham, ainda assim seriam Draco e Hermione, e o mundo ainda seria pequeno demais para eles.



 



 



FIM



 



 



 



 



 



 



 



 



 



 



 



 



 



 



N/A Final:



 



Nem acredito. Dá até vontade de chorar.



 



Quis postar esse último capítulo no último dia do ano para encerrar essa fanfic junto com o fim da década. Parece o dia certo por ser um dia especial e essa história é muito especial pra mim.



 



Antes de tudo, gostaria de dizer: OBRIGADA!!!!!



 



Muito, muito, muito, muito, muito obrigada a todos vocês que chegaram até o fim. Que esperaram pacientemente, por mais de um ano, o final dessa fanfic. Por vocês que divulgaram, e que com tanto carinho abraçaram essa história, comentaram, se apaixonaram junto comigo, fizeram suas recomendações. A todos os comentários, todas as mensagens, todos os votos, e toda a paciência, MUITO OBRIGADA!!!



 



Muitos anos atrás eu fiz uma long que me durou talvez um ano e meio pra completar. Dei uma pausa nas fanfics e algum tempo depois me bateu uma saudade de estar mergulhada no universo de uma história por muito tempo. Foi quando decidi começar Cidade das Pedras. Eu sabia que seria uma long. Eu queria que fosse uma fic grande, detalhada, com capítulos grandes e com toda a intenção de fazer o negócio durar. Mas em 2013 eu NUNCA imaginei que eu fosse terminar essa fic só em 2019! Hahahahaha! Tanta coisa aconteceu de lá pra cá, eu mudei tanto, vivi tanto. É engraçado olhar pra trás e ver que curto demais o primeiro capítulo dessa fanfic tanto quanto curto o último. Foi uma jornada maravilhosa escrever essa história. Ela pra sempre irá continuar na minha cabeça. Consigo ver os conflitos futuros, consigo ver Scorpius e Hera crescendo.



 



Esse último capítulo foi escrito mais para dar uma visão de como as coisas estão seguindo, o lugar de cada um, como tudo tem se resolvido. Algumas coisas ficaram de fora, mas o mais importante está aí. Minha ideia inicial era dividir entre as perspectivas de Draco e Hermione. Mas acabei que gostei bem mais de focar na perspectiva de um pra construir a saudade do outro, assim quando eles se encontrassem no final a sensação tanto da Hermione como nossa/leitor fosse mutua. E gente, esse final em família foi um amorzinhoooo!!! Eu me lembrei muito de uma parte na fanfic onde o Draco não tá conseguindo dormir e no meio da noite ele pergunta para Hermione (por curiosidade), se ela achava que a vida dele era miserável. Daí ela meio que fala que não sabe e pergunta: “Você é feliz?”. E ele responde: “Não”. E eu estou genuinamente feliz por saber que eles são finalmente felizes. Sou daquelas que adora um fim trágico, mas eu amei dar um fim caloroso pra essa história. Draco e Hermione são felizes, por mais questionável que eles sejam dentro de suas ambições, eles carregam uma história cheia de cicatrizes e merecem viverem o laço forte em família que criaram. Ficou feliz por fechar o livro dessa história com um calorzinho no peito e sabendo que apesar dos desafios e dilemas que eles ainda têm para enfrentar, eles estão bem e vão ficar bem.



 



Obrigada por fazerem parte disso comigo. Por estarem juntos. Por torcerem pela história, por confiarem no desenvolvimento dela. Obrigada mesmo. Pelos comentários que eu torcia tanto para receber, pelos votos, pelas recomendações feitas que sempre me deixaram tão felizes! Sério! Vocês fizeram com que meu compromisso com essa fanfic fosse mais do que apenas casual. Obrigada e continuem espalhando a história. Continuem comentando. Continuem escrevendo recomendações e deixando feedbacks.



 



Essa história é muito mais de vocês do que minha!



 



Vejo vocês por aí. Me sigam aqui ou curtam minha página no facebook para saberem sobre projetos futuros! MIL VEZES OBRIGADA! FELIZ ANO NOVO! E TCHAU CIDADE DAS PEDRAS!



 



 



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Comentários (2)

  • S.M.F.

    Acompanhar essa história foi maravilhoso! Eu já li e reli tantas vezes

    2022-12-13
  • Byanca

    Acompanho essa fic desde 2013, eu amava os dias 04 porque eram os dias que você costumava atualizar, quando você sumiu eu reli a fic e senti um peso enorme achando que a história que eu mais havia gostado de ler não teria um fim, mesmo assim algumas vezes eu entrava na floreios e borrões só pra ver se tinha algo, quando você voltou no ano passado eu surtei de felicidade hahahaa, reli a fic OBVIAMENTE e agora ao ler esse último capitulo só tenho a agradecer por você ter dividido essa verdadeira obra de arte, cidade das pedras sempre vai estar no meu coração, você é demais!

    2020-01-10
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