Capítulo 37
37. Capítulo 37
Fleur Weasley
Três longos dias. Talvez os piores de sua vida. Havia sido um caos. Destruição por toda parte, desespero, mortes... Estava surpresa por ainda estar viva depois de ter passado por tudo aquilo. Era o que pensava enquanto abria os olhos muito devagar acordando de um estado de inconsciência do qual não se lembrava de ter entrado.
Ainda estava na Ordem. Sua cabeça doía como nunca havia doído antes em sua vida. E sua visão ainda estava embaçada. Piscou várias vezes até finalmente conseguir fazer tudo entrar em foco. Perdeu o fôlego no mesmo segundo. Estava de pé, mas não usava suas próprias foças. Seu corpo estava colado contra a parede do recém adicionado cômodo que todos chamavam de salão de experimentos no último andar. Não conseguia se mover nem falar. A sua frente, no chão, vários corpos estavam atados em pequenas rodas espalhados pelo maior espaço que a Ordem já tivera em anos dentro da sede. De seus dois lados haviam mais pessoas de pé exatamente como ela e cobriam toda a extensão das paredes. Colin Creevey estava logo ao seu lado. Ainda desacordado. Ou talvez morto. Ela não podia dizer muita coisa.
- Separamos os nomes mais importante nas paredes e os menos relevantes deixamos no chão... – escutou uma voz de longe e tentou detectar de onde vinha.
Seus olhos capturaram o conhecido Draco Malfoy na companhia de ninguém menos que Lorde Voldemort em seu temível e horroroso estado de homem-cobra. Sentiu todo seu corpo reagir em medo e raiva, porém não se moveu um centímetro. A figura dos dois juntos, acompanhados de alguns Comensais que ainda andavam em suas máscaras parecendo fazer um papel de escolta, era como encarar a maior aposto que já vira na vida. Draco Malfoy exalava uma imponência que partia de uma beleza física sem tamanha ou qualquer comparação. Voldemort por sua vez era desprezível e chamava uma atenção que te fazia querer remoer e expelir as próprias entranhas.
- ...Potter e o grupo que conseguir sumir juntamente com ele? – ela escutou a voz rouca de Voldemort quando se aproximaram mais de onde estava.
- Não vai ser difícil encontrá-los. Não há lugar que possam ter ido na Grã-Bretanha. Temos o domínio de todo o território. Se tivermos problemas para encontrá-los, devem ter ido para lugares muito remotos ao redor do mundo. O que é muito duvidável. – respondeu Malfoy.
- Eles parecem ter reagido como se soubessem que esse ataque aconteceria.
- Não me surpreende que estivessem preparados para algo como isso. Sempre soube que a Ordem inteira trabalha a favor da segurança de Potter e dos membros mais importantes.
Voldemort parou por um segundo passando os olhos sobre o lugar.
- Eles não tem mais toda essa segurança. – encarou Malfoy. – Portanto não me faça ter que te dar prazos para encontrá-lo.
Draco Malfoy apenas assentiu. Voldemort se afastou desviando sua atenção para as pessoas alinhadas nas paredes. Os olhos dele caíram sobre ela rapidamente e todo o seu interior congelou. Não soube como reagir, mas não tinha muitas opções além de encará-lo assustada. Fazia tanto tempo que não colocava os olhos em Voldemort que mal se lembrava de sua figura assustadora.
No mesmo segundo, o eco das portas se abrindo deram lugar a uma nova personagem, e no momento que ela passou para o lado de dentro, foi como se toda a atenção, até mesmo das moléculas suspensas no ar, fossem roubadas. Era a mulher mais impactante que ela já colocara os olhos. Até perceber que era Hermione Granger. Questionou sua sanidade naquele exato momento.
Ela entrou fazendo o barulho dos saltos de seus sapatos ecoarem pelo silêncio. Sua postura era irreconhecível. Parecia dominar todo aquele espaço, parecia ser a dona do ar que respirava, do chão que pisava, daquilo que olhava. Seu cabelo estava absolutamente perfeito descendo em cachos castanhos em cascatas até abaixo dos ombros. Fleur teria vendido sua alma por aqueles sapatos em sua adolescência e aquele vestido também. Era poderoso, mas ao mesmo tempo doce. Uma espécie de estilo vitoriano que lembrava muito o verão. Destacava bem o caro colar em seu pescoço e também a...
Espere!
Tinha que estar delirando. Só podia estar delirando. Seria possível que ela estivesse... Grávida?!
A medida que ela avançava, dominando cada metro quadrado em que pisava, Fleur podia ter mais certeza de que ela estava sim grávida. Seu cérebro imediatamente começou a ataca-la. Aquela não era Hermione. Não tinha como ser. Seria possível que existisse alguma sócia, ou talvez... talvez uma gêmea. Nós começaram a se formar por toda parte em seus pensamentos.
A tal Hermione parou ao lado de Draco Malfoy. Deus do céu! Os dois juntos... Havia algo muito poderoso na imagem deles dois ali parados, lado a lado, ocupando o mesmo metro quadrado, sugando para eles todo e qualquer tipo de beleza que houvesse ao redor, frios e inexpressivos como pedras. Eles tinham uma conexão que Fleur não conseguia entender. Pareciam quase milenares.
- Onde está sua escolta? – Malfoy perguntou para ela.
- Não preciso de uma escolta. Conheço esse lugar. – ela passava os olhos por cada ser humano espalhado pelo local. Era definitivamente Hermione. A voz era contínua, suave, porém certa de si. A mesma de Hermione.
- Sabe que não é por isso que precisa de uma escolta, Hermione. – ele a encarou.
Ela piscou e muito calmamente levou seus olhos até ele.
- Não quero uma escolta. – retrucou ela.
Voldemort riu estranhamente.
- Deixe-a ter o que quiser, Draco. Você só conseguiu derrubar a Ordem da Fênix por causa dela.
Ódio passou pelos olhos dela e ela encarou Voldemort sem medo embora procurasse manter sua distância.
- Me queria aqui. Por que? – não havia energia em sua voz.
- Queria que visse tudo isso. – Voldemort voltou-se para ela. – Sei que a sensação de “dever cumprido” é de grande satisfação.
Ela puxou o ar como se estivesse tentando matar o próprio tédio.
- Poderia ter adivinhado isso. – comentou. – Acaso quer que eu decida qual fim dar a tudo isso?
- Eu não te daria esse prazer. – ele sorriu um sorriso sinistro.
Fleur tentou procurar pelo marido enquanto eles continuavam aquela conversa ridícula. Hermione era uma traidora, já havia entendido.
- Daria se pudesse encontrar uma forma de me torturar de alguma forma. – ela comentou casualmente.
- Você faz um bom julgamento de como minha mente funciona. Mas todos sabem que sou imprevisível. – Voldemort caminhou de volta para ela. – Quero que separe os nomes de quem pode dar informações valiosas. – encarou Malfoy. – Quero Potter em minhas mãos em menos de um mês. – tornou a encarar Hermione. – Não se esqueça de que me prometeu Potter. Não se esqueça do que está em jogo. Portanto é melhor que vocês dois façam para mim um trabalho de excelência e eficiência. – deu as costas. – Quero uma cerimônia. Quero que esse lugar seja queimado com tudo dentro, inclusive todos esses rebeldes. Quero fogo verde e minha marca gloriosamente estampada no céu sobre tudo isso. Quero a imprensa documentando tudo. Profeta Diário, Diário do Imperador e todo o restante. Inclusive as mídias estrangeiras. Lúcio ira ler meu discurso. Ainda não é a hora de eu me mostrar. Mas quero que prepare tudo. Quero vocês dois presentes, inclusive Hermione. Está na hora do mundo conhecer o rosto da nova Sra. Malfoy e o papel que ela desempenha no meu Império. – ele pareceu se divertir com isso. - Essas são suas ordens. – finalizou e saiu.
Hermione não mudou sua expressão indiferente e fria em nenhum segundo. A Hermione que ela conhecia não era assim. A Hermione que conhecia era uma das mulheres mais expressivas da Ordem da Fênix. Aquela Hermione ali era uma completa estranha.
- Você não precisa ficar aqui, pode voltar para casa. Posso cuidar disso. Apenas me passe os nomes. – Malfoy a seguiu.
- Não vou voltar para casa. – ela passeou por entre as pessoas. Seus olhos cruzaram com o de Fleur, mas ela não vacilou, hesitou, piscou ou mudou de expressão por um segundo sequer. – Sabe que precisa de mim.
Era incrível a conexão que havia entre eles pelo modo casual como trocavam aquelas simples palavras. Fleur ainda tentava acreditar que seu cérebro não estava conectando tudo com precisão simplesmente porque Draco e Hermione sendo marido e mulher era louco demais que fosse realidade, mas seus olhos também não conseguiam deixar de notar agora no anel que ela tinha no dedo. Era sem dúvida o anel da família Malfoy. Já o vira várias vezes nas revistas quando era mais nova. Lembrava de ter ficado o admirando várias vezes no meio da noite, se divertindo com suas amigas, criando histórias e situações românticas sobre quando finalmente conhecessem Draco Malfoy, quando ainda estava na escola. Se tornar um Malfoy era o sonho distante de muita menina por aí.
Os dois continuaram conversando sobre coisas que não faziam o menor sentido para ela. Malfoy deu ordens a alguém de sua escolta e não demorou para que mais comensais se juntassem a eles. Foi então que a seleção começou e foi cruel e silenciosa. O que mais doía em Fleur, era saber que eles seguiam cada palavra que Hermione dissesse.
Quando chegaram em Colin, logo ao seu lado, as perguntas foram as mesmas e Hermione respondeu a todas elas e lhe deu a sentença final: morte. Ele não era importante, mesmo que Fleur soubesse que Colin havia se feito a sombra de Harry por anos.
- Essa é Fleur Weasley, marido desaparecido no ataque a Ordem, filha morta dois anos atrás em um dos atentados... – um dos homens da escolta de Malfoy começou passar as informações. Fleur suava loucamente e sentia que estava a ponto de explodir naquele estado imóvel e mudo.
- Nome do marido. – pediu Draco.
- Bill Weasley.
- Nome da filha.
- Victoire Wealsey.
- Ela é uma Weasley. É valiosa. – comentou um dos comensais.
- Que posição ela ocupava? – perguntou Draco.
- Não existem posições na Ordem. – Hermione respondeu. Fleur a encarava em desespero. Hermione mantinha os olhos sobre ela mas era ilegível e imutável. – Fleur nunca foi ativa na Ordem. Sempre foi apaixonada por Bill e isso foi motivação o suficiente para fazê-la tolerar todo o resto. Molly Weasley nunca permitiu que ela participasse das reuniões internas. Os Weasley nunca aprovaram a relação de Fleur e Bill.
Mentira. Mentira. MENTIRA!
- Não exclui o fato deles serem marido e mulher. Não acredito que Bill Weasley nunca tenha soltado segredos importantes da Ordem para ela.
- Eles tem tido uma péssima relação desde que a Victoire foi morta. Bill tem procurado relações extraconjugais há anos. Molly Weasley sempre foi autoritária com os filhos e não acredito que Bill tenha deixado de ouvir a mãe e colocado em jogo os segredos da Ordem abrindo a boca para Fleur. Se ele fez, não acredito que tenha sido algo importante ao nível do valioso.
MENTIRA! Fleur era tão ativa na divisão principal da Ordem quanto o marido. Desde que a filha havia morrido eles haviam se aproximado muito mais do que antes. Bill a amava tanto quanto ela o amava. Molly Weasley já havia a aceitado na família fazia anos. Até mesmo Gina deixara de implicar com ela. Por que ela estava fazendo aquilo? Por que todas aquelas mentiras?
Um silêncio se manifestou entre eles enquanto Fleur tentava se comunicar com Hermione pelo olhar, mas ela era absolutamente inalcançável. Malfoy, ao seu lado, parecia ponderar toda a situação.
- Ela é uma Weasley, Hermione. – reforçou ele.
- Vamos matá-la de qualquer forma. Fazendo-a passar por todo o processo de interrogatório ou não. – comentou um dos Comensais.
- Olhe o tamanho dessa sala, Draco. A Comissão tem um bom estoque de Veritasserum, mas mesmo assim ainda não cobre um terço do que tem aqui. Sabe quanto tempo irá demorar para produzir o suficiente para cobrir todas essas pessoas? As celas da Catedral ainda estão abarrotadas desde o episódio de York. Ainda esta conduzindo uma fila de interrogatórios atrás de interrogatórios, torturas atrás de torturas para se livrar de toda aquela gente. Não tem espaço nem tempo para mais. Estou te dando o nome apenas de quem vale a pena. Ela não vale. – Hermione disse. – Mate-a.
Malfoy voltou-se para um dos Comensais.
- Vocês a escutou.
Fleur desesperou porque nenhum deles hesitou ao aproximar-se dela. Esse era seu fim. Não havia passado e sofrido tudo aquilo desde o início da guerra, para ter aquele fim. Não! Procurou desesperada pelo olhar de Hermione e pela primeira vez ela deixou que Fleur conseguisse lê-lo. Tudo que entendeu foi:
Acredite, estou te fazendo um favor.
Depois disso uma imensa luz verde a cegou e a escuridão se seguiu.
Draco Malfoy
Tinha certeza de que a Ordem haviam mantido o arco do véu exatamente ali. Podia sentir. Todo mundo podia sentir. Bastava entrar naquele espaço do subsolo da casa que qualquer bruxo podia sentir o sangue coçar dentro das veias, a varinha vibrar dentro do bolso e a ponta dos dedos formigarem.
O que quer que eles tivessem feito com aquele véu, haviam tirado tanta magia que a impregnara nas paredes, nas moléculas do ar, nas fibras da madeira. Era incrível sentir todo aquele poder dentro dele se comunicar daquela forma. Perguntava-se se Hermione se sentia assim com frequência quando produzia magia porque o poder que agora sabia que ela tinha dentro dela talvez fosse o dobro do que qualquer bruxo normal tivesse.
Passeou pelo pequeno salão fazendo a madeira sob a sola de seus sapatos ranger. A sede da Ordem da Fênix era, muito provavelmente, o edifício mais louco que já entrara em sua vida. Havia tantos corredores e labirintos pobremente anexados por magia ao corpo da casa principal para fazer com que todos coubessem ali que as vezes se sentia doente de estar ali dentro. Principalmente quando passava por corredores que de repente se exprimiam numa largura quase intransitável, ou quando tinha que se abaixar devido a altura do teto ou quando o chão inclinava sem aviso. Apostava que havia sido algum Weasley que conjurara aqueles espaços porque quando destruiu a tão famosa Toca deles, o estado da casa não era tão diferente. Não tinha certeza se aquilo era proposital ou não, mas sem dúvida fora um dos fatores que dificultara a tomada do espaço pelos Comensais.
Todos estavam especulando e comentando sobre o que infernos eles vinham fazendo ali naquele espaço. Era inegável sentir a presença forte de magia ali. Draco sabia que aquele havia sido o lugar do véu. Não estava mais ali. A forma como Hermione o olhara quando entrara ali fora mais do que uma confirmação. Aquele fora o lugar do véu.
- Céus, que diabos eles andaram fazendo por aqui? – a voz de seu pai soou assim que passou por um dos arcos de entrada.
Draco não suportava a presença de seu pai. O fazia se lembrar de Pansy além de muitas outras coisas ruins. Mas sabia ser profissional.
- Estamos apenas especulando sobre isso por agora. Terei que dar um dia ou dois a Comissão para que inspecionem a área com precisão. – disse tentando desvendar onde exatamente eles teriam ancorado o arco de pedras. Não parecia haver sinal algum de um lugar específico.
- Você não terá todo esse tempo. O mestre quer a cerimônia semana que vem. É melhor que prepare bem esse prédio para a maior fogueira que o mundo bruxo já viu. Terá que destruir todos os anexos feitos por magia até ficar somente com o corpo da casa, isso vai exigir mais da metade da Comissão pelo número de anexos que presumo que esse lugar tem. Não pode arriscar queimar o lugar por inteiro e jogar no limpo espaços mágicos. É perigoso o que restou dos rebeldes podem estar contando com isso. – Lúcio disse e Draco concordou. Sabia que ele estava jogando no ar aquelas palavras e Draco precisava ler as entrelinhas. Não sabiam quem poderia estar escutando ou não.
- O mestre está mais preocupado em mostrar ao mundo que destruiu a Ordem do que está em perder qualquer tipo de evidências importante queimando tudo isso precipitadamente.
- Disse isso a ele? – indagou Lúcio.
Draco o encarou.
- Não sou nenhum idiota de dizer a ele o que ele já sabe. – respondeu. – Ele esteve aqui. Sentiu o que eu, você e todos os outros bruxos sentem quando descem até aqui. Ele não parece estar nem um pouco interessado em saber o que é. Tudo que ele quer é a glória de ter finalmente acabado com a Ordem da Fênix.
- Ele está mais preocupado em consolidar o império dele do que nas conspirações dos rebeldes remanescentes. Exibir a destruição da sede da Ordem é um enorme passo para eliminar qualquer sentimento de esperança que ainda possa existir. A morte de Harry Potter eliminará definitivamente o resto.
- Farei o melhor que puder com o tempo que tenho. Não posso prometer nada além das ordens que foram me passadas. Ele lhe passou alguma?
- Ele apenas me contou os planos para a cerimônia. Ele quer que seja algo grande.
- Então prefiro que cuide de toda essa parte da cerimônia. Vou me certificar de trabalhar em deixar esse lugar pronto para pegar fogo. – encarou o pai e sentiu o desgosto tomar conta de sua alma ao ver a imagem dele. – Creio que toda a inútil equipe que coordena o Ministério da Magia seja o suficiente para preparar algo grande o suficiente.
Lúcio aproximou-se dele.
- Certifique-se de que não está deixando passar nada. Não queremos destruir nada que possa ser importante. – ele disse numa voz baixa e a entrelinha na verdade era: Certifique-se que ninguém irá saber que um dia houve qualquer tipo de véu roubado do Ministério por aqui.
- Certifique-se de que a glória de tudo isso seja dada exclusivamente ao mestre. – disse Draco e a entrelinha era: Certifique-se de que todos saibam que tudo que estamos fazendo não passam de Ordens. Lúcio assentiu entendendo bem. Deu as costas e seguiu seu caminho de volta. Draco queria que ele fosse embora, mas algo dentro dele lhe incomodava mais do que aquela vontade. – Tem passado mais tempo em casa agora que minha mãe não está mais lá. – precisou comentar.
Lúcio parou e deixou o silêncio reinar entre eles durante os segundos que ele levou para se virar novamente.
- Sempre soube que procurava não ficar em casa por causa dela.
- Como espera que eu acredite que realmente a ama?
Lúcio forçou um riso fraco.
- Aposto que já sabe que não estou tentando provar nada a ninguém quando me viu indo atrás da sua amiga Parkinson.
Draco sentiu a necessidade de puxar uma faca para machuca-lo dolorosamente, ao invés disso apenas puxou o ar e se aproximou.
- Como não pode sentir nojo de si mesmo? Sabia que eu já havia estado com ela milhares de vezes.
- Draco, já dividimos mais mulheres do que pode imaginar. Nós dois temos bom gosto, não posso fazer nada a respeito disso.
Draco quis socá-lo.
- Tenho o senso do limite. – vociferou.
- Limite não colocou o mestre onde ele está hoje, não é mesmo?
- Não fuja do assunto. Não faz ideia do alívio que me dá saber que minha mãe está aprendendo a viver sem você.
Lúcio riu.
- Ela não vai conseguir. Acredite em mim, Draco. Conheço sua mãe mais do que você. Vivi com ela mais do que você. Sei bem o que sentimos um pelo outro e acredite, ela vai voltar para mim antes do que você imagina – ele deu as costas para seguir seu caminho.
- Minha mãe sabia sobre Pansy? – Draco teve que perguntar.
- Não. – respondeu Lúcio. – Parkinson foi a única que eu fiz o favor de não deixá-la saber. Ela era sua melhor opção de esposa até Hermione aparecer. Mas não precisei mais ser cuidadoso depois que se casou. Aposto que ela já chegou a se questionar a possibilidade.
- Deveria aprender a se odiar. – foi atrás dele.
- Não tenha raiva de mim, Draco. Já sabe o tipo de homem que eu sou há tempo. Parkinson quem te enganou. Ou talvez não, porque você também sempre soube que tipo de mulher ela era. – ele riu novamente. – Talvez devesse culpar sua mãe por ter lhe ensinado a encontrar valor nas pessoas pelo nível de simpatia que tem por elas.
Não conseguiu se conter dessa vez. Se havia algo que seu pai nunca se acostumaria era o fato de Draco ter gastado alguns anos de sua vida em treinamento. Em menos de um segundo Lúcio estava preso entre ele e a parede encarando um Draco furioso a centímetros de distância.
- Sua boca não tem o mínimo nível de dignidade que seja para culpar minha mãe! – cuspiu. – Não sou o tipo moralista. Não busco por justiça em lugar nenhum porque sei que se justiça existisse eu estaria tão ferrado quanto você, mas as vezes me faz pensar que é como ele, Voldemort, porque não parece ter afeto por ninguém além de si mesmo.
Lúcio não parecia nem um pouco abalado.
- Quantos anos eu gastei da sua infância e adolescência tentando lhe ensinar que não deve agir por impulso e olhe só o que está fazendo nesse exato momento! Contenha-se primeiro, depois fale comigo. – tentou desvencilhar-se, mas Draco não deixou.
- Posso ser profissional quando preciso e não sinto que preciso ser agora. Escute bem. Você foi longe tocando em Pansy. Foi longe tocando em qualquer mulher que já soube ter sido minha. Não pense que só porque estamos ocupados demais com o mestre que eu não posso trabalhar também em fazer da sua vida uma ruína.
- Cuidado com o que fala, Draco. Malfoys não dão as costas a Malfoys. Regra número um.
- Então é melhor tomar muito cuidado com o que faz para não provocar demais o seu filho impulsivo. Eu tenho um limite. – o soltou finalmente.
Lúcio limpou a garganta e alisou seu terno tentando recompor-se. Encarou Draco ainda com sua feição de indiferença por alguns segundos antes de seguir seu caminho. Draco precisou respirar fundo quando ele finalmente sumiu de sua vista. Sim, perder o controle ainda fazia parte de sua personalidade e se sentia muito melhor agora do que antes.
Foi sua vez de recompor-se, alinhar sua postura e seguir seu caminho. Quando deixou o subsolo, fez questão de reforçar a equipe de segurança que não deixassem ninguém descer ao menos que fosse da Comissão. Subiu até o primeiro andar para ter certeza de que eles já haviam nomeado e isolado todas as áreas e que já haviam partido para o trabalho no segundo andar.
Passeou pelos caminhos que conhecia parar analisar se haviam feito exatamente como ordenada. Tudo dividido organizadamente por seções fazia sua vida ser bem mais fácil. Entrou por um corredor engraçado com um papel de parede de pequenos cupidos sem roupa com um fundo pateticamente amarelo. Foi obrigado a parar quando passou pela segunda porta a direita e encontrou Hermione dentro de um quarto apertado e abarrotado de livros.
Entrou com cuidado sabendo que ela escutava cada passo do novo visitante, mas se mantinha imóvel, de costas a ele, encarando estática uma fotografia grudada na parede de frente a uma cama pequena de casal encostada no canto da parede.
- Hei. – ele anunciou sua presença. Ela não respondeu nada.
Draco aproximou-se para poder visualizar melhor a imagem e conseguiu ver que havia sido tirada em algum inverno. A esquisita casa dos Weasley era o fundo e estava decorada para o natal. Ele não conseguia contar ou reconhecer todo mundo, mas havia uma grande quantidade de pessoas posando para câmera e todos sorriam como se alguém tivesse contado a melhor piada de todos os tempos. Draco não sabia quando aquilo havia sido tirado, mas Hermione deveria ter definitivamente uns quinze ou dezesseis anos ali. Era a mais bonita de todas e de todos. Perguntou-se como foi capaz de ignorá-la aquele tempo?
- Eu costumava dizer que essa era minha janela já que eu não tinha uma. – ela finalmente quebrou todo o silêncio. Não havia emoção em sua voz ao contrário do que ele estava esperando. Ela era tão fria e indiferente quanto a que havia usado para decretar a morte de tantos rebeldes quando estavam no salão do último andar horas atrás.
- Esse era seu quarto? – ele perguntou.
- Pensei que fosse ser mais óbvio. – ela respondeu.
Havia sido uma pergunta estúpida. Podia dizer aquilo pelo número de livros espalhados pelo espaço que apesar de ser pequeno e estar abarrotado, era extremamente organizado. Aproximou-se dela. Não queria tocá-la. Tinha receio de tocá-la ali.
- Você está bem? – precisava saber o que estava se passando pela cabeça dela.
Ela não disse nada por alguns longos segundos.
- Não foi uma pergunta inteligente, Draco. – finalmente disse.
Draco soltou o ar. Realmente não havia sido.
- Sinto muito. – desculpou-se. – Não queria você aqui.
- Você não tem o poder para decidir isso. Ele me quer aqui. – ela se referiu a Voldemort.
- Isso é uma tortura para você.
Ela respirou fundo. Olhou para ele por cima dos ombros.
- Isso é bom para mim, Draco. – disse e passou por ele andando pelo quarto, fazendo o barulho de seu salto ecoar pelo silêncio com calma. Ela passou o indicador pela superfície da cômoda e o analisou. – Eles mantiveram tudo exatamente como eu havia deixado. Limpo, inclusive. Harry deve ter pedido. – ela parou de frente a porta de um armário. Abriu fazendo as dobradiças rangerem. Haviam roupas muito bem dobradas e dois vestidos pendurados. – Essas eram todas as minhas roupas. – ela não podia estar falando sério. Nenhum ser humano que ele conhecia possuía tão pouca roupa. – E as vezes eu pensava ter mais do que o necessário. – ela tocou um colar longo pendurado na porta do guarda-roupa. Parecia algo feito a mão. Era um tanto estranho. - Eu não era Hermione Malfoy. Eu era apenas Hermione Granger.
E aquilo começou a intimidá-lo. Tudo aquilo. Aqueles quadros, os livros, as roupas no armário, os pergaminhos, as almofadas sobre a cama, as poções alinhadas nas prateleiras da parede, as pequenas luzes penduradas na quina do teto, os móveis... tudo aquilo era de Hermione Granger, uma mulher que ele pouco conhecia. O que ele conhecia de Hermione, era a Malfoy que ela vinha se tornando a medida que os dias passavam, era o sofrimento de estar com tudo que realmente importa para ela em constante risco. Ele nunca conheceu a mulher que ocupou aquele quarto, que dormiu naquela cama, que selecionou todos aqueles livros, um a um, para estar ali, que muito provavelmente fabricou todas aquelas poções e que deve ter ganhado de presente aqueles quadros de alguém lhe trazia sopa quente nas noites em que não se sentia disposta. Ele não conhecia a mulher que ela havia sido a vida inteira. Na verdade, havia a odiado. Não se sentia bem por agora querer que tivesse a conhecido. Sentia-se hipócrita.
- Esse era o meu favorito. – ela abriu um suéter de lã branca e azul. Ele se sentiu ainda mais intimidado. Céus, ele podia ver Hermione Granger andando com aquilo pelos corredores de Hogwarts. A detestável garota que ele mal conhecia. – A Sra. Wasley me deu de aniversário. Eu me sentia bonita quando o usava.
- É bom que pode tê-lo de volta agora. – Draco arriscou dizer.
Hermione soltou um riso forçado e devolveu o suéter ao armário sem se preocupar em dobrá-lo.
- É ridículo. Não tenho onde usar isso nem nenhuma roupa que combine, sem contar que é óbvio que foi feito pela mão de um amador. – aquilo soou exatamente como algo que sua mãe diria. Algo que Astória ou Pansy diria.
Aquele mundo havia transformado Hermione Granger e ela estava encarando a dor daquilo estampado a sua frente naquele exato momento. Draco respirou fundo e se aproximou. Tocou os ombros dela, desceu por seus braços e encostou a boca em seu ouvido.
- Sinto muito, Hermione. – sussurrou para ela.
Hermione suspirou.
- Não sente. – ela respondeu no mesmo tom. – Teria feito exatamente o mesmo se voltasse no tempo.
- Não se eu a conhecesse como a conheço agora. Se sentisse o mesmo que sinto agora.
- Teria mesmo me deixado ir ao invés de me capturar?
Céus. Aquela era uma pergunta difícil. Sabia que ela estaria muito melhor do que está agora vivendo toda a utopia da Ordem, com aqueles que aparentemente a amavam tanto. Os amigos. Sem nenhuma ameaça de Voldemort contra seus filhos ou contra seu futuro. Ela estaria melhor sendo apenas Hermione Granger, sem nem mesmo saber que era descendente de Morgana. Mas e ele? Tinha certeza de que estaria bem com sua vida ativa e com mulheres para ocupar seus momentos de tédio. Sem precisar se preocupar com o dever de uma nova família, de que estava a um passo de assumir a cadeira principal do sobrenome Malfoy, sem se preocupar de que a vida de seus filhos estava ameaçada. Mas e tudo que havia vivido com Hermione? Sim, fora perturbador, mas aquilo que eles tinham agora... Ele não trocaria por nada no mundo.
- Sim, teria.
Ela se virou e segurou o rosto dele com as duas mãos.
- Eu não gostaria que nós dois tivéssemos sido perdidos.
Ele colou sua testa na dela.
- Nem eu.
- Então acredito que esse é o preço a se pagar.
Ele soltou o ar. Não queria ter que concordar.
- Esse é o preço a se pagar. – concordou.
Ela o beijou. Foi diferente de qualquer outro beijo que ela já o dera, mas foi intenso. Intenso ao ponto de fazê-lo entender o que ela realmente queria. Ele não sabia se aquilo era certo, mas era absolutamente incapaz de não responder ao instinto que ela estava trazendo.
Hermione se afastou e eles se viram ofegantes. Ela encarou seus olhos e ele tentou dizer a ela, sem ter que abrir a boca, que não tinha certeza se deveriam fazer aquilo. Ela criou distancia entre eles indo até a porta. Hesitou por um segundo, mas logo a fechou com calma. Ele a viu no momento em que ela a trancou e voltou-se para ele. Seus olhos passaram pelo quarto antes de fixarem-se nele novamente. Ela tirou os sapatos com calma e os arrastou para o lado.
- Preciso estar com você aqui, Draco. – ela pediu. O tom de voz baixo.
Ele nunca havia hesitado sobre aquilo antes.
- Tem certeza?
Ela puxou o ar incerta.
- Não sei. – pela primeira vez, desde que ela havia chegado, ele notou a indiferença dela vacilar.
Ele se aproximou. Segurou-a pela cintura, colou seu corpo no dela e parou a centímetros de sua boca.
- Não me pare quando eu começar. – ele a avisou.
Deu tempo suficiente para que ela desistisse daquela ideia. Esperou alguns poucos segundos. A resposta dela foi nula então ele não hesitou a atender seu primeiro pedido. Tomou aquela boca como já havia feito milhares de outras vezes, tocou-a com propriedade sem tentar mostrar que se sentia intimidado por aquela situação, pressionou-a contra a porta e fez uma rápida nota mental sobre aproveitar enquanto a o tamanho da barriga de Hermione ainda não os atrapalhava tanto.
Puxou-a pelas pernas fazendo-a cerca-lo pelos quadris no momento em que ela enterrou os dedos por seu cabelo. Ele mal a deixou respirar enquanto a beijava simplesmente porque carregava constantemente a necessidade de não soltá-la sempre que a tocava. Não demorou e Hermione começou a trabalhar para desfazer o nó de sua gravata. Ele também não perdeu tempo e foi direto para os milhares de pequenos botões que fechavam as costas do vestido dela.
Havia algo de estranho entre eles. Não estava funcionando como normalmente funcionava e Draco sabia que teria que trabalhar mais pesado para fazer com que aquilo desse certo. Talvez o fantasma da Hermione que vivera naquele quarto por tanto tempo estivesse incomodando tanto ele quanto ela, mas ele não deixaria que aquilo os vencesse porque sabia que era isso que Hermione não queria.
Virou-se de costas e colocou-a contra a porta. Hermione costumava não gostar daquilo logo quando haviam começado a se relacionar, mas havia aprendido a gostar. Esperou que a energia de se esforçar para que aquilo desse certo acalmasse entre eles. Sabiam fazer aquilo, já haviam feito milhares de vezes, não era necessário persistir em nada extraordinário, precisavam apenas encontrar o ritmo que estavam vivendo naquele momento e foi o que ele fez. Deixou que seu hálito aquecesse a pele de seu pescoço enquanto subia sem pressa a mão por debaixo do vestido dela. Com sua outra mão, deslizou a alça pelo braço dela o suficiente para conseguir ter espaço para segurar um de seus deliciosos seios. Eles estavam cheios como ele nunca havia visto antes e ele adorava tocá-los.
A respiração dela mudou no momento em que ele tocou a parte úmida entre suas pernas. Essa era a respiração que ele precisava. Ele conhecia aquele território e aquilo lhe dava confiança. Escorregou para dentro da peça simples que ela usava por baixo do vestido e a tocou como sabia tocá-la. Trabalhou exatamente da maneira que havia aprendido que o corpo dela funcionava e a forma como ela respondeu foi mais do que o suficiente para que ele crescesse dentro do confinado espaço de sua calça.
Aquela familiaridade que havia entre eles era tão confortável que logo nada daquele espaço pareceu mais intimidá-lo. Nem mesmo o fantasma de Hermione Granger. Eles eram um quando se tornavam íntimos e parecia ser o suficiente para apagar o mundo que os cercava, embora ele ainda estivesse muito consciente de onde estava e mesmo assim não se importava que aquela fosse a Ordem da Fênix, não se importava que aquele fosse o quarto de uma mulher estranha, uma que ele detestara por tanto tempo, não se importava que deveria estar trabalhando e dando ordens a seu exército naquele momento. Não importava. Ele estava com sua mulher, sua família, seu patrimônio.
Ela gemeu alto arqueando as costas e puxando seu cabelo em sinal de que ele não deveria ir tão longe tão cedo. Ele a virou novamente e ela não esperou nem um segundo para descer a mão até o cinto de sua calça. Ela precisava dele e esse era o seu aviso. Ajudou-a. Ela o direcionou até a cama e no caminho eles se livrou do máximo de peças que pode.
O colchão afundou quando ele se sentou, mas ele logo sentiu que não era tão confortável quanto esperava que fosse. Ela fez sua única peça íntima escorregar pelas pernas, puxou as saias do vestido e subiu na cama sentando-se sobre dele. Hermione colocou as mãos geladas em sua nuca e descansou o rosto a centímetros do dele para que seus hálitos se misturassem enquanto se ajustavam um sobre o outro. Esperaram um instante no silêncio encarando um ao outro. Não por causa da expectativa de matar o desejo de se unirem finalmente, mas pelo fato de não se importarem por estarem exatamente onde estavam. Talvez era isso que ela precisava. Talvez tudo que ela queria ali era provar para si mesma que tinha autoridade sobre o fantasma de seu passado ali, que podia mostrar a mulher que havia sido antes, a mulher que era agora, a Malfoy que era, a descendente de Morgana que tentava encontrar resposta para suas habilidades extraordinárias, a mulher que se deitava com um inimigo antigo e gostava.
Ele se sentiu na responsabilidade de entretê-la, sentiu que deveria dar a ela a melhor experiência que já havia tido na vida, talvez ela precisasse de algo extraordinário, mas a verdade foi que ela logo mostrou a ele que não precisava. Quando eles finalmente se ajustaram e ela deslizou sem pressa para dentro dele. Seu gemido de satisfação foi o mesmo de sempre e era isso que ela queria, ela queria o que eles eram de verdade, o que eram em casa, o que eram quando encontravam tempo e privacidade na catedral, o que eram quando dividiam uma carruagem e tinham um longo caminho pela frente.
Permitiu-se senti-la então. Permitiu-se ter aquele momento como qualquer outro que já haviam tido e se havia algo que ele pensara que nunca fosse gostar, era o que tinha com Hermione. Adorava o conforto da familiaridade que tinham. Não precisava desvendá-la na cama, não mais. Sentia que agora eles faziam isso juntos, sem esforço, sem pressão, e era surpreendente, era novo, mesmo que parecesse o mesmo sempre. Nunca imaginou que aquela estabilidade fosse completa-lo de uma tão
Ela moveu os quadris com paciência e ele precisou responder a sensação deliciosa de estar dentro daquele espaço apertado, quente e úmido soltando um bom grunhido por debaixo de sua respiração. Hermione tinha um bom apetite para aquele tipo de atividade por estar gravida, o que normalmente o surpreendia quase todos os dias e a forma como ela guiava aquilo de acordo com sua necessidade era um belo de um entretenimento para ele.
Hermione começou devagar e sem pressa. Ele não se moveu, deixando que ela indicasse o ritmo que queria. Ela sabia estimulá-lo. Sabia os sons que ele precisava ouvir e quando precisava ouvir, sabia onde e quando deveria tocá-lo, sabia os movimentos, sabia como massageá-lo dentro daquele apertado espaço, sabia exatamente o que ele gostava e como gostava. Confiava nela e era ela quem precisava daquilo.
Não a atrapalhou, a parou o mudou o curso de como ela estava liderando as coisas. Ela manteve aquele ritmo, não havia pressa nela e permitiu-se apenas mergulhar por completo em todas as sensações que corriam pelo corpo naquele momento. Precisou concentrar-se porque sabia que Hermione não tinha pressa ali e se ele se deixasse levar pelo desejo que lhe crescia muito provavelmente tomaria o controle daquilo e queria que ela tivesse.
Hermione escondeu o rosto em seu pescoço sem perder o ritmo. Draco apenas passou os braços por ela, não permitindo que houvesse qualquer espaço entre seus corpos. Enquanto ela se movia e eles tentavam lidar com a urgência que crescia da maneira mais deliciosa possível, ele sentiu a satisfação daquele momento. Momentos como aquele o fazia entender como era absolutamente maravilhoso tê-la, saber que ela era dele, só dele, e que ela o queria tanto quanto ele a queria e que ela era só dele como ela era só dele.
Havia imaginado sua vida inteira, que se comprometer a um relacionamento a dois eram muito provavelmente a coisa mais idiota e o sacrifício mais estúpido que alguém poderia fazer. Teve a prova disso quando se envolver com Astória. Astória havia sido uma fase de ‘nãos’ em sua vida. Tudo que ele havia vivido com Astória era um grande ‘não’. Não podia se envolver com outras garotas. Não podia não dar satisfação. Não podia não se comunicar diariamente. Não podia comentar sobre outras garotas. Não podia ficar mais tempo com seus ‘amigos’ do que com Astória. Não podia isso. Não podia aquilo. Mas Hermione era diferente. Sentia como se tivesse dito apenas um enorme ‘sim’ a ela e todos os ‘nãos’ que seguiam essa decisão não precisavam sequer serem ditos, notados, analisados. Não era como se estivesse andando pela Catedral dizendo ‘não’ a qualquer mulher que cruzasse seu caminho agora, era diferente, o ‘sim’ que dissera a Hermione era tudo que bastava.
Ela começou a investir com mais vigor e a respiração contra seu pescoço já era rápida o suficiente para que ele conseguisse analisar o estágio em que ela estava. Os sons dela se tornaram mais consistentes e ele permitiu-se subir ao mesmo estágio dela. Ela estava guiando aquilo, ele iria segui-la. Apreciou o corpo dela deslizando suas mãos por dentro do vestido, fincou os dedos na carne macia procurando concentrar-se para não avançar além do estágio em que ela estava.
Segurou-a pelas pernas quando a moveu para o centro da cama e a deitou. Mesmo que estivesse por cima, ele ainda deixou que ela o guiasse. Ele se manteve imóvel enquanto ela trabalhou com os quadris. Puxou os braços dela e a prendeu pelo pulso contra o colchão logo acima da cabeça. Fixaram o olhar um sobre o outro. Sabiam como aquilo iria funcionar. Ela o guiaria até o ponto em que ele não conseguisse mais se conter, e foi exatamente experimentou.
A forma como ela movia os quadris, como ela sabia contrair nos momentos certos, como ela reagia ao prazer que sentia, tudo aquilo fazia sua pele queimar, seus poros transpirarem, seu abdômen arder, sua boca secar, sua mente desfocar. Era incapaz de lutar contra a divina angústia que o consumia de dentro para fora. Podia segurar até certo ponto, mas não muito além dele, seu corpo gritava por alívio. Precisava atingir seu alívio ao mesmo tempo em que tentava prolongar aquela angústia simplesmente porque era absolutamente maravilhoso ser consumido por ela.
O momento exato em que foi incapaz de não investir contra ela e acabou cedendo, surpreendeu-se com o nível de prazer que ela sentia pelo som que saiu de sua boca e pelo modo com as costas dela arquearam. Seus atos pareceram estimulá-la a um patamar que ele conhecia e soube que dali não havia mais volta. Seu sangue parecia ferver em suas veias já e ele queria e não queria alívio, tudo ao mesmo tempo.
Ela tinha que terminar aquilo. Ela quem precisava. Aquilo era para ela. Ela quem havia começado. Ela quem deveria terminar. Draco conhecia seu corpo, colocou-se no seu ponto exato, encarou Hermione passando para ela o aviso de que ela quem daria fim aquilo. Soltou seu pulso e ela já sabia exatamente o que ele faria e o que ela deveria fazer. Deitou-se de costas, ela sentou sobre ele, suas mãos se encontraram e seus dedos se enlaçaram no ar. Ela dançou em seu ritmo urgente, soltando seus sons roucos e lindos, dando a ele a visão de seu seio exposto, seu vestido amarrotado, as maças do rosto rubras e a expressão de puro delírio, mas com uma dor escondida por trás do olhar.
Os músculos de seu corpo protestavam como se estivesse a beira da morte, sua garganta precisou informar a ela o grau de angústia que estava atingindo. Eles se colocaram na mesma página e esperaram pelo momento em que o mundo fosse acabar para eles. O rangido da cama acompanhava o ritmo rápido sem descanso de Hermione e misturava-se com os sons dela e o dele. Nos últimos segundos da contagem regressiva os movimentos dela aceleraram a um passo que o fez perder a visão. Ele foi consumido por todas as sensações que existiam no mundo ao mesmo tempo no momento que ela arqueou, perdeu o fôlego por um segundo. Teriam um fim juntos e foi exatamente o que tiveram quando todo o interior dela contraiu-se contra ele. Jorrou dentro dela enquanto a via pender a cabeça soltando um gemido alto e agudo. Seus corpos entraram em colapso juntos, para logo se recompor juntos. Estavam ficando bons naquilo. Atingirem o clímax juntos. Conseguiam se comunicar bem. Nunca havia atingido esse nível com Pansy, mesmo ela sendo a mulher com quem ele mais fizera sexo na vida.
Permaneceram ofegantes por um bom tempo na posição em que estavam. Aquilo deve ter sugado de Hermione muita energia. Esperava que ela ficasse bem para o restante do dia, que seria difícil. Ela não o encarou. Quando senti que já conseguia voltar a se mover, tudo que fez foi deitar-se ao lado dele. Eles ficaram em silêncio encarando o teto por um longo minuto. Draco virou o rosto para poder observar o perfil dela. Seus olhos estavam cheios de água.
- Obrigada. – ela disse muito baixo. Havia sido para ele. No momento que ela piscou a lágrima descer pela lateral de seu rosto e sumiu em seus cabelos.
Draco respirou fundo. Virou-se, passou o braço por ela, trouxe-a para mais perto, colocou os lábios sobre o caminho que a lágrima fizera e o beijou com calma. Ela gostava de afeto, ela reagia bem a afeto, ela constantemente precisava de afeto. Vinha aprendendo sobre isso.
- O que quer em troca dos seus pensamentos, Hermione? – ele precisava saber o que se passava na cabeça dela. Seus dias baseavam-se basicamente na repetição daquela pergunta vezes seguidas, sem parar. O que se passa na cabeça dela?
Hermione não respondeu nada. Não de imediato. Ele deu a ela o tempo que ela precisasse.
- Eu tinha que estar com você na mesma cama em que dormi dezenas e dezenas de vezes desejando que estivesse morto por tantos anos. – ela suspirou. – Eu precisava saber se algo me seguraria, se seria diferente. – virou o rosto para encará-lo. – Não foi.
- Presumi isso. Quero saber o que está na sua cabeça agora, o que está pensando, o que está sentindo.
Ela tornou a encarar o teto. Hesitou. Ou talvez estivesse apenas organizando tudo dentro de sua cabeça. Ou talvez realmente não quisesse dizer nada. Ou quem sabe não estivesse nem prestando atenção nele. Ficaram em silêncio por alguns bons minutos. A mão dela encontrou a dele sobre seu estomago e elas se uniram.
- Eu não imaginava que estava tão distante de quem eu era. – ela finalmente disse. A voz muito distante. - Não sinto que sou a mesma mulher que viveu nesse quarto. – e calou-se. O silêncio preencheu aquele quarto por mais alguns outros minutos. Ele não a pressionou e deixou que ela digerisse aquele fato pelo tanto de tempo que precisasse.
Hermione virou todo o seu corpo para ele, encarou-o por um longo minuto passando os dedos por entre seus cabelos. Nos olhos dela, ele era capaz de ver uma dor distante e quase muito bem controlada. O coração dela estava apertado. Céus! O que ele tinha que fazer para acabar com tudo aquilo? O que ele podia fazer para dar um fim a toda e qualquer dor que existisse dentro dela? O que ele podia fazer para aliviar as culpas, os arrependimentos...? O que?
- Pegue o que quiser desse lugar. Prometo não deixar ninguém saber. – tinha que fazer algo. Por mais insignificante que fosse.
Não teve efeito algum sobre ela. Hermione apenas respirou fundo, tocou seu rosto e beijou sua boca por alguns segundos. Afastou-se depois, levantou-se e começou a ajeitar a roupa muito calmamente passando o braço de volta pela alça solta, vestindo a peça íntima que deixara no chão, colocando de volta os sapatos e abotoando as costas do vestido.
Draco soltou o ar e sentou-se. Eventualmente precisou copiá-la vestindo novamente sua calça. Observou-a com muito cuidado procurando cada pista que ela pudesse deixar escapar do que quer que estivesse se passando em sua cabeça. Nada. Foi até ela para ajuda-la com os últimos botões e continuou a observar, procurando qualquer sinal. Nada. Talvez o silêncio dela fosse algum sinal. Se fosse, ele não sabia como reagir.
Ela ajeitou os cabelos quando ele terminou com seu vestido. Ocupou-se em abotoar a própria camisa que nunca havia deixado seu corpo enquanto a via analisar-se no espelho da porta do armário que ainda estava aberto. Hermione passou os olhos uma ultima vez pelo lugar. Não parecia haver apego nela dessa vez.
- Não preciso de nada daqui. – disse ela. - Pode destruir e queimar o que quiser. – e foi embora.
Hermione Malfoy
Estava em dúvida de qual vestido deveria usar. Tinha separado duas boas opções, mas ainda não sabia qual realmente queria. As duas eram de tecido leve e iriam ajuda-la a suportar o calor do verão, que parecia estar o dobro do normal, tudo porque se sentia enorme. Isso porque ainda faltava duas semanas para chegar a metade daquela gravidez. A ideia de ficar maior do que já estava começava a assustá-la cada vez mais.
Decidiu que usaria o dourado com pérola simplesmente porque o cinca com branco tinha um decote alto que muito provavelmente a faria se sentir como se estivesse sendo estrangulada em algum momento daquele calor infernal. Sentia como se não existisse mais nenhum tipo de roupa confortável. Queria que pudesse ficar em casa o dia inteiro em sua camisola, que parecia ser o mais perto do confortável que podia chegar. A verdade mesmo era que queria poder ficar sem roupa o dia inteiro. Dava-se esse privilégio durante as noites as vezes, o que agradava bastante Draco. Não entendia como ainda se sentia tão confiante com seu corpo, mesmo do tamanho em que estava. Draco ajudava bastante com essa parte mostrando o quanto queria usar as mãos para gravar o formato do corpo dela todos os dias, mas não era só ele. Ela gostava de ver como mudava tão rapidamente, como seu corpo se ajustava, e como de alguma forma, conseguia se sentir bonita assim.
Pegou o vestido, vestiu-o, atou a parte da cintura como deveria passando pelo topo da barriga, fechou os pequenos botões que abria o decote entre seus seios e fez mais uma nota mental sobre o tamanho deles. Estavam começando a ficarem doloridos. Ajeitou a alça trançada sobre os ombros e encarou-se no espelho. Ainda precisava arrumar o cabelo, mas o resto era de muito bom gosto. Gostava de estar grávida. Respirou fundo e focou-se nisso.
Gostava de estar grávida. Gostava de estar grávida. Gostava de estar grávida. Aquele seria um lindo fim de tarde. Aquele seria um lindo fim de tarde. Aquele seria um lindo fim de tarde. Estava feliz. Estava bem. Gostava do calor.
Respirou fundo.
- Hei. – Draco apareceu afrouxando a gravata e parecendo eufórico. Ele chegara em casa naquele estado quase todos os dias da última semana.. – Estamos atrasados.
Ela poderia rir por escutar aquilo saindo da boca dele. Era engraçado ver Draco soltar algo tão clichê como se fosse uma informação inédita.
- Não estamos. – realmente não estavam.
- Sim, estamos. – ele começou a despir-se. – Por que você é sempre incapaz de estar pronta no horário?
Hermione revirou os olhos.
- Não estamos atrasados. – insistiu.
- Quer apostar que vou ficar pronto antes de você? – ele sorriu encarando-a pelo espelho.
Ela virou-se para ele.
- Eu não te daria o prazer desse desafio, Draco. – sorriu e deixou o closet.
Tomou o caminho da cozinha sentindo a necessidade de um imenso copo de suco fresco. Poderia pedir que Tryn lhe fizesse o grande favor de providenciar isso para ela, mas ainda sentia que precisava de algo a mais que ainda não sabia o que realmente era. Surpreendeu-se ao cruzar com Narcisa no corredor que dava para a escada principal.
- Hei! Você já está pronta. – soltou o comentário automaticamente ao vê-la vestida em um incrível conjunto de blusa estampada e saia lisa, salto, joias, perfume, cabelo perfeito, chapéu em mãos.
- Você claramente não. – Narcisa a analisou dos pés a cabeça.
Hermione se sentiu instantaneamente inconsequente.
- Tenho alguns assuntos urgentes para resolver na cozinha. – sorriu incerta.
Narcisa não sorriu. Ela não sorria fazia muito tempo. Mas Hermione pode ver que ela simpatizava com seu presente estado.
- Bom saber que vem se permitindo realmente estar grávida. – foi o que ela comentou. Hermione riu gentilmente em resposta e procurou seguir seu caminho. Passou por Narcisa. – Hermione. - Ela chamou seu nome procurando ter sua atenção novamente. Hermione voltou-se para a mulher mais uma vez. Narcisa hesitou por um instante até finalmente abrir a boca. – Acaso comentou algo com Draco?
Hermione precisou recapitular suas últimas e poucas conversas com ela.
- Sobre estar pensando em se mudar?
Narcisa respirou fundo.
- Vou me mudar semana que vem.
Não havia sido essa a conversa que haviam tido.
- Sabe que Draco a quer aqui, não sabe?
- Draco não sabe o que é melhor para mim, Hermione.
- Não acredito que você também saiba o que é melhor para você. – precisou ser cuidadosa ao dizer aquilo.
- Acaso você sabe?
Hermione suspirou.
- Não acredito que ficar sozinha seja o melhor.
- Acredita mesmo que você e Draco são algum tipo de companhia? – Narcisa disse e lá estavam elas na mesma discussão de alguns dias atrás novamente. – Não estou questionando atenção. O problema é que vocês tem uma vida agora e eu não devo fazer parte dela da forma como estou fazendo. Esse espaço não pode ser a minha casa e eu preciso de um lugar para chamar de casa.
Hermione pensou em retrucar, em levar em frente aquela discussão, mas sabia bem que quanto mais argumentos jogasse contra ela, mais contra argumentos escutaria. Suspirou.
- Para onde vai se mudar? – foi a direção que decidiu tomar.
Narcisa pareceu surpresa por ver que ela não discutiria.
- Uma cobertura no centro há quinze minutos da Catedral. – respondeu.
Hermione surpreendeu-se com a escolha da localização.
- Pensei que estivesse procurando por uma casa na Vila dos Comensais. – era onde a maioria dos comensais de influência e família nobre moravam.
- Preciso de uma vida, Hermione. Você tem uma, Draco tem uma, Lúcio tem uma. Vivi tempo o suficiente na sombra da vida de Lúcio para não saber para onde ir agora. Além do mais, sabe que Lúcio tem bloqueado alguns acessos meu ao cofre, o que tem me limitado.
Hermione sabia sobre o cofre. Draco estava furioso com aquilo e talvez, se não estivesse tão ocupado com toda a história da cerimonia de destruição da Ordem, muito provavelmente estaria encontrando uma forma de matar o pai.
- Pensei que fossemos o suporte uma da outra. – precisou soltar. – Era isso que pensei que havíamos combinado.
Narcisa desviou o olhar pareceu pensar por alguns segundos antes de tornar a encará-la.
- Você não precisa de suporte, Hermione. É uma das mulheres mais fortes que já conheci. Foi um bom suporte para mim quando precisei. Preciso agradecê-la por isso. – disse em seu estilo único de ser carinhosa de uma forma muito profissional. Hermione não se lembrava de ter feito nada de especial. Lembrava-se apenas de ter se fechado em seu próprio mundo tanto quanto ela. – O tempo que estive aqui, pude vê-la enfrentando Draco, mesmo quando sabia que o queria. Pude vê-la enfrentando as decisões que ele tomava que não a agradava apenas com o silêncio. Pude vê-la enfrentar seus próprios conflitos sobre o trabalho que vinha fazendo com a Comissão. Você foi a primeira pessoa que me fez ter vergonha do papel de tola ao qual me prestei por tantos anos. Porque sei que sempre fui tola me sujeitando a tudo que me sujeitei desde que me casei, mas sempre procurei encontrar algo belo na minha fidelidade. Sempre acreditei em submissão.
- Você não precisa deixar de acreditar. Submissão é algo belo e construtivo quando se há respeito, confiança e cuidado das duas partes.
Narcisa assentiu e houve um estranho silêncio entre as duas por alguns segundos.
- Acredito que você e Draco irão crescer juntos e chegar a um ponto em que nenhum Malfoy já chegou na história. Você entende a hierarquia da família, entende o papel de Draco, entende o seu e em nenhum momento você ou ele tentam ultrapassar essa linha, mas ainda assim vejo o quanto são essenciais um para o outro. Você o faz crescer assim como ele também te faz crescer. Queria que pudesse ver o quanto vocês se tornam cada vez mais grandes juntos como o modo como se ajustam, se mudam, se permitem trabalhar um no outro. É recíproco entre vocês e isso permite que as barreiras que existem na história que carregam sejam quebradas com o tempo, com o passar dos dias, com as provações que enfrentam. – ela suspirou. – Queria que tivesse sido assim entre Lúcio e eu. Nós podíamos ter sido grande juntos, mas ele sempre se achou suficiente demais para si mesmo. – ela balançou a cabeça tentando afastar todos os milhares de pensamentos que pareciam estar correndo acelerado em seu cérebro naquele momento. – Vou procurar construir minha própria vida, Hermione. Ser suficiente para mim mesma. Descobrir aquilo que sou, aquilo que posso ser e o que quero ser.
Hermione não podia contradizer aquilo. Não podia argumentar contra aquilo. Era incapaz. Suspirou. Sorriu eventualmente. Deu de ombros.
- Você venceu. Mesmo que eu ainda acredite que pode fazer tudo isso sem ter que se mudar. Agora espero que possa convencer Draco disso.
- Draco nunca me parou quando eu estava com Lúcio. Ele continua não podendo me parar. – ela foi firme.
- Parece que algumas semanas de silêncio te fizeram bem. – talvez ter permanecido firme em sua decisão de deixar o marido finalmente a fizera se tornar de alguma forma, um pouco mais forte. – Gosto da forma como soa.
O incentivo não trouxe nenhum tipo de energia diferente a Narcisa. A mulher apenas continuou a falar, explicando como funcionaria sua aparição na cerimônia, como pretendia cumprir seu posto de Sra. Malfoy sem manter contato com Lúcio e como não se importaria que a imprensa notasse que por mais que estivessem casados, não mantinham contato. Hermione apenas concordou, não simpatizando muito com as partes em que Bellatrix era incluída como uma boa companhia, mas não contestou. As duas continuavam sendo irmãs apesar da esquisita personalidade de Bellatrix.
Hermione conseguiu continuar seguindo seu caminho apenas quando confirmou que Narcisa não usaria a mesma chave de portal de eles para sair de Brampton Fort. A mulher iria para o Largo Grimmauld na companhia da irmã, algo que não a agradava. Mas não se manifestou contra.
Quando finalmente chegou a cozinha, sua vontade pelo que a trouxera ate ali anteriormente não existia mais. Acabou por escolher algo completamente aleatório. Tinha desejo por coisas azedas ou crocantes na maioria das vezes, mas acabou apenas por pegar um último pedaço de torta de abóbora solitário que sobrara do jantar da noite anterior. Draco odiava que ela criara a mania de guardar as sobras na casa, mas era simplesmente incapaz de permitir que qualquer tipo de comida fosse para o lixo daquela forma.
Enquanto se deliciava com sua torta, observou o jardim dos fundos pela enorme janela que havia em apenas um dos lados do cômodo. Gostava do verde. Por um momento pensou em milhares de formas de como iria colori-lo próxima primavera e quando se deparou com esse pensamento não conseguiu deixar de sorrir. Sua alma estava se curando. Não que ainda não fosse atormentada por todos os seus conflitos, por suas culpas, mas ela não fazia ideia de que estar bem com Draco fosse mudar tão drasticamente seu estado emocional.
Alisou sua barriga e sentiu-se feliz pelo tamanho dela. Uma semana apenas já fazia uma imensa diferença naquele estágio. Fechou os olhos e sentiu o gosto doce da abóboda dissolver em sua boca. Foi quase que automático quando se concentrou naquilo e em um instante milhões de informações completamente irrelevantes e desnecessárias sobre aquele pedaço de torta simplesmente se revelaram para seu cérebro. Ela respirou fundo e abriu os olhos. Vinha praticando coisas que sua concentração era capaz de fazer por ela há algum tempo já. Desde quando todo a sua curiosidade sobre como poderia ser quem poderia ser entediou-a o suficiente pelo número de frustrações que tivera, começou a tentar se reinventar. Precisava provar para si mesmo que era especial. E realmente era. Conseguia sentir a natureza se caso se permitisse. Conseguia conversar estranhamente com ela. Isso a assustava. Não puxava muito seus limites. Tinha medo de traumatizar a si mesma. Tentava viver a vida como se nada de diferente tivesse acontecido. Fazia com que se sentisse melhor.
Puxou o Diário do Imperador que deixara sobre a mesa aquela manhã. A primeira página era toda dedicada a cerimônia que aconteceria em algumas horas no Largo Grimmauld. Virou a página, passou os olhos rapidamente sobre a nova política de entrada e saída do Forte quando a Ordem fosse destruída e logo na página seguinte, encarou sua imagem caminhando com um grupo da Comissão, na rua do Largo Grimmauld, afastando todo o entulho que estava em seu caminho sem precisar tirar a varinha do bolso. Ela é, ou não é? Esse era o grande título da matéria.
O modo como as pessoas especulavam sobre ela, agora que quem havia estado na pequena reunião onde Voldemort anunciara sua suposta origem soltavam notícias curiosas aqui e ali, a incomodava. Mas a mídia tinha mais liberdade de pesquisa do que ela e acabava tendo muito mais notícias sobre seu passado através das matérias de jornais que saiam sobre ela do que dos livros ao qual tinha acesso naquela prisão que chamavam de Bramton Fort.
“...E se ela realmente for descendente de Morgana, mesmo que seu sangue seja misturado, o que muito provavelmente é, visto que a linhagem não teria sobrevivido senão dessa forma, não posso imaginar o que os filhos dela e de Draco Malfoy, que todos já sabem descender de Merlin, poderiam ser. Podemos especular muitas coisas sobre como a magia se comportaria no sangue deles e o quão especiais essas crianças podem ser. Mas nunca chegaríamos a uma conclusão definitiva. Não há nenhum parâmetro pelo qual poderíamos nos embasar para pudéssemos chegar a qualquer tipo de suposição verdadeira ou conduzir qualquer tipo de teste...”
Era o comentário de um dos medibruxos da equipe de extensão do St. Mungus.
“...Eu afirmaria sem dúvida que Hermione Malfoy não poderia descender de nenhuma outra linhagem que não fosse a de Morgana. Enquanto todos se questionam se isso poderia ser verdadeiro ou não, eu convivo com a minha certeza de que ela é especial. Sempre foi. É só pegarmos o histórico dela desde Hogwarts. Ela foi uma das mentes mais brilhantes que já se passou por aquela escola. Não me importo com as evidencias de que é impossível que a linhagem de Morgana tenha sobrevivido tanto tempo, nem com as evidências que provam que de fato houveram brechas na história, para mim a Sra. Malfoy sempre se mostrou brilhante demais para uma bruxa comum...”
Mais um depoimento de um dos vinculados ao círculo interno de Voldemort. Hermione poderia apostar que o precioso mestre estaria pedindo para que eles soltassem depoimentos como aquele a mídia. Tinha que aprender a rir de toda aquela idiotice, mas ainda não conseguia. Algumas linhas abaixo ela viu um depoimento de Theodoro e dessa vez precisou rir.
“...Ela é extraordinária. Não me importo que seja descendente de Merlin, Morgana, Arthur, ou o que seja. Ela tem habilidades que nenhum outro bruxo comum teria e isso é fascinante sobre ela. Mas não acredito que seja a linhagem dela que a defina como pessoa...”
Hermione suspirou. Theodoro era sujo. Aquela repetição de carisma para cima dela estava começando a coloca-la em uma posição não muito favorável diante da mídia. A mulher que não sabe perdoar. Ela não se importava realmente. Aquele era um caso antigo e insignificante. Ninguém mais dava atenção aquilo e ela era uma Malfoy, não era como se alguém estivesse esperando que ela fosse realmente perdoá-lo.
O que a surpreendia de toda aquela matéria, cheia de depoimentos e suposições sobre ser possível ou não que a linhagem de Morgana tivesse sobrevivido era o minúsculo comentário que haviam tirado de Draco sobre tudo aquilo em algum momento em que estava sendo generoso demais com a mídia ao chegar na Catedral.
“Não me interessa qual seja o sangue dela ou qual habilidade especial tenha. Conheço o coração dela, o coração dela é o que ela é, e o que ela é, é o que realmente importa para mim.”
Lembrava-se de ter lido aquilo no café da manha com Draco ao seu lado. Lembrava-se de ter erguido o olhar para ele. Lembrava-se do que ele havia dito quando notara o olhar dela.
“Esse olhar é diferente.” Foi o que ele disse.
Ela sorriu e respirou fundo. Apenas se levantou, beijou-o rapidamente em resposta e seguiu seu caminho aquela manhã.
Draco sabia surpreendê-la e isso se dava muito pelo fato dele ser alguém completamente diferente do que ela se lembrava que ele era. Crescera vendo um Draco arrogante e esnobe, passara anos daquela guerra criando a personalidade cruel dele, um dos seus maiores inimigos. Talvez nunca fosse se acostumar com o homem que ele se provava ser todos os dias.
Voldemort havia o mudado. Não só Voldemort, mas o fim da farsa de sua família, o treinamento rigoroso que passou para se tornar um homem militar, a guerra, matar pessoas... Tudo aquilo o mudou e era surpreendente que não tivesse sido par pior. Isso era, para ela, a prova de que Draco Malfoy sempre tivera, no fundo, um coração bom. Mesmo o Draco arrogante e esnobe de Hogwarts.
Terminou sua torna, fechou o jornal e apressou-se para terminar de se arrumar. Não queria ficar realmente atrasada. Draco encontraria formas de culpa-la por milhões de outras coisas que não eram sua culpa se isso acontecesse. Quando voltou ao closet, ele já havia acabado seu banho e se ocupava em fechar o cinto da calça que acabara de vestir.
- Alguma notícia sobre os preparativos da cerimônia? – ela manifestou-se indo direto para o seu lado do closet. Gostava de como não havia receios entre eles agora. Não havia nenhum silêncio esquisito ou pensamentos estranhos quando falavam um com o outro. Apenas tinham diálogos agora e quanto mais casual mais ela gostava.
- Espero que meu pai tenha feito um péssimo trabalho. – ele respondeu. – É a primeira vez que ele organiza algo dessa proporção sem a ajuda da minha mãe. Ela ficaria devastada se visse um serviço tão impecável quanto o dela vindo dele.
- E você? – ela ainda não havia feito aquela pergunta a ele embora tivesse estado envolvida em solucionar a segurança da área para a cerimônia tanto quanto ele.
- Eu? – ele a encarou pelo espelho desacelerando o processo de fechar os botões de sua camisa.
Seus olhares se cruzaram pelos espelhos opostos e ela parou de trabalhar em seu cabelo para dar total atenção a ele.
- Quão seguro você se sente com o trabalho que fez com a segurança da área para cerimônia? – ela precisava perguntar aquilo porque as ultimas semanas foram tão corridas que tudo que fazia era participar de reuniões com ele e receber ordens.
- Eu não faço serviços ruins, Hermione. Sabe disso. – foi o que ele respondeu.
Ela soltou o ar.
- Draco, sabe que teme que Harry faça algo estúpido.
Ele revirou os olhos.
- Preparei o exército para caso isso aconteça.
- Acaso se preparou para as consequências que isso pode ter para nós?
Ele desviou o olhar dela, fechou o último botão de sua camisa e encarou-se no espelho.
- As consequências são relativas. – foi o que ele respondeu. Hermione entendeu que aquilo era tudo que teria dele. Assentiu e tonou a concentrar-se em seu cabelo. – Hermione. – ele a chamou de alguns segundos. Ela ergueu os olhos para encará-lo pelo espelho. – Está com medo de algo?
Ela prendeu uma mecha de seu cabelo com o grampo e suspirou.
- Sempre estarei com medo de algo enquanto Voldemort estiver vivo. – respondeu.
Eles se encararam por um longo minuto e nada mais precisou ser dito para que entendessem que aquele sentimento era mutuo.
- Vamos por um fim nisso. – foi o que ele disse. – Continue fazendo seu trabalho.
Hermione apenas assentiu em resposta. Puxou o ar com calma e se focou em seu cabelo. Percebeu que havia sido a responsável por criar o distante clima de tensão que havia entre eles agora. Tentavam evitar isso o máximo possível. Tentavam não pensar que o tempo deles estava se esgotando, que logo seus filhos iriam nascer, que logo Voldemort tomaria seu menino e faria sabe-se lá o que com sua menina... Tinha que reverter aquilo.
- Astória está grávida. – comentou com um grampo preso entre os dentes enquanto decidia o melhor lugar para prender outra mecha solta.
Draco soltou um riso fraco ao escutar aquilo e ela precisou encará-lo pelo espelho para analisar sua reação.
- Aposto que ela e o marido estão planejando isso desde quando descobriram que você estava grávida. – ele disse casualmente passando a gravata pelo pescoço.
Hermione não entendeu.
- O que quer dizer?
- Não está claro o suficiente para você? – ele pareceu surpreso. – Aposto que eles estão torcendo para ter uma menina.
- Sim. Foi o que Astória disse.
Ele riu novamente. Hermione continuou sem entender.
- Farão de tudo para que essa menina seja a candidata perfeita ao posto de futura Sra. Malfoy. Não duvido que seja por isso que Isaac se mostre tão empenhado em fazer de tudo para me servir. Ele sabe que nós temos um plano, os Malfoy. Ele quer fazer de tudo para reestabelecer a ordem do mundo. O pai dele o ensinou a jogar bem no mundo antigo, na hierarquia antiga. Sei que ele se sente perdido com toda essa ditadura.
Hermione não gostou daquilo.
- Eles estão pensando em casar nosso filho, que ainda nem nasceu? – não deixou de mostrar sua aversão a ideia.
- Acostume-se, Hermione. Eles, sem dúvida, não são os únicos a essa altura do campeonato e com certeza não serão os últimos. Faz parte da vida de qualquer um que nasce em uma família como a nossa. Nós vamos ter que aprender a lidar com isso, não pense que também estou feliz.
Ela soltou o ar não muito contente. Encarou-se no espelho e imaginou o que seu filho pensaria sobre isso. Seu filho. Uma pessoa. Uma personalidade que ela ainda nem conhecia, mas já sentia tão apegada.
- Draco. – ela parou tudo que estava fazendo. Ele a encarou pelo espelho. Ela virou-se completamente para ele. – Por que não conversamos sobre nossos filhos?
Ele parou o nó que fazia em sua gravata. Pensou por alguns segundos e virou-se para ela para encará-la diretamente.
- O que quer dizer? – ele pareceu confuso.
- Nomes, o que queremos para o futuro deles, qual quarto da casa vamos separar para eles, cores... – ela soltou não sabendo se deveria ter trago aquele assunto num momento tão casual como aquele.
Draco respirou fundo e soltou a gravata.
- Hermione, eu já acredito que somos apegados demais a eles. Não sei se nos faria bem... – a voz dele morreu. Suspirou. – Quer mesmo falar sobre eles? – ele mudou completamente o curso do que estava falando.
- São nossos filhos. Duas pessoas que irão fazer parte dessa casa e de nós. Duas pessoas com suas próprias personalidades, suas próprias vidas. Queria que pudéssemos pelo menos dar nome a eles.
Ela viu que Draco pareceu se ver contra algum tipo de beco sem saída. Não era aquilo que ela queria criar.
- Acho que eu só não sei por onde começar.
Teve que sorrir. Levantou-se de sua penteadeira e foi até ele.
- Não precisamos fazer isso agora. – ocupou-se em fazer o nó da gravata dele. – Apenas queria que conversássemos mais sobre eles. São nossos filhos e apesar de todos os receios que temos a respeito do futuro que nos aguarda com eles, precisamos sim nos apegar a eles. São nosso.
Ele assentiu concordando. Sorriu. Segurou o rosto dela pelo queixo.
- É bom te ver sorrindo. – ele disse. – Especialmente hoje.
Ela ergueu os olhos para ele.
- Fiz minha escolha.
- Hermione. – ele tocou seu rosto. - Escolheu mergulhar nessa vida e se tornar quem está se tornando porque não viu saída?
Ela aproximou seu corpo do dele.
- Você foi a minha saída quando eu achava que não havia nenhuma. – respondeu e sorriu. Ele retribuiu o sorriso, colocou sua boca na dela por alguns segundo e Hermione afastou-se para sussurrar: - Me ajude com os sapatos, por favor.
Ele riu e ajudou-a a calcar os sapatos. Pequenas tarefas como aquela estavam se tornando, a cada dia que se passava, um desafio devido ao tamanho de sua barriga. Mas de alguma forma, gostava daquela mudança.
- O primeiro dia que entrou na Ordem. Quando estávamos juntos em seu quarto. Você disse que não era a mesma mulher que havia vivido ali. – ele comentou enquanto terminava de calçar seu sapato. – Tem orgulho da pessoa que é agora?
- Sim. – respondeu sem hesitar, o que pareceu surpreendê-lo. – De uma forma estranha, devo dizer. – Levantou-se e foi buscar a última peça do terno dele. – Existem partes de mim que não gosto, assim como qualquer outra pessoa, assim como sei que sempre existirão. Mas não acredito que regredi. Sei que evolui. Sou o melhor que posso ser de mim hoje, vivendo o que vivo, estando na situação que estou. Se as coisas mudarem amanhã, continuarei tentando ser o melhor de mim. No que quer que eu me tornar, se souber que segui isso, posso me sentir bem comigo mesma porque a Hermione de antes também pensava assim. - Draco a encarou em silêncio agachado diante dela, sentada na cadeira de sua penteadeira. – Sei que está preocupado comigo. Com como estou lidando com tudo isso. Com estou lidando com a culpa. – ela sorriu, mesmo que não quisesse. - Não se preocupe. Estou bem. Tenho dito a mim mesma que estou bem. Um dia eu realmente vou estar. Preciso estar, porque sei o que quero agora. Você é minha prioridade, nossos filhos são prioridade, nosso futuro é prioridade. Mesmo quanto não estávamos realmente juntos, quando não nos dávamos bem, essa era a minha realidade e minha prioridade. Tenho que estar pronta para ser parte dessa família. Tenho que estar disposta a dar tudo por ela, se eu não estiver, não posso dizer que é uma prioridade, não posso dizer que sou uma Malfoy, não posso aceitar a vida que tenho. É mais importante para mim me erguer do que me afundar por um passado que vem se tornando mais distante a cada dia.
Ele não respondeu nada por alguns bons segundos. Quando abriu a boca foi para sorrir e dizer:
- Tenho orgulho de você, Hermione.
Hermione gostava da forma como ele era diferente. Não era pegajoso como Harry, não era completamente sem noção como Rony. Draco era único. Ele nunca repetia sobre aquilo que sentia em seu coração. Havia dito uma vez e não precisava repetir. Mas todos os dias provava a ela que o que havia dito sobre o que sentia por ela ainda estava tão vivo quanto o dia que externara verbalmente.
Levantou-se e cruzou para o lado dele para buscar a última peça do terno que faltava. Ele foi até ela e passou os braços pelas mangas vestindo-o enquanto Hermione o auxiliava. Hermione deu a volta nele para analisa-lo. Sorriu. Ele devolveu o sorriso.
Estava bem. Estava feliz. Aquele seria um ótimo fim de tarde. A companhia dele a completava. Repetiu para si mesma.
Assim que ficaram prontos, seguiram o caminho até o portão onde a Chave de Portal para fora de Brampton Fort os esperava. O portão estava congestionado devido ao intenso fluxo de pessoas que agora tinham privilégios de ir e voltar com as novas normas de segurança, agora que a Ordem da Fênix fora destruída.
A mídia estava empilhada novamente no portão principal tendo a certeza de que as pessoas mais importantes tomariam aquela entrada. Draco foi extremamente protetor impedindo que ela se sentisse pressionada pelas milhões de perguntas que explodiram no ar assim que apareceram. Ele a lembrou antes de saírem da carruagem que ela não precisava responder ninguém e que talvez fosse melhor que realmente não respondesse. Eles mal sabiam sobre tudo aquilo em relação a Morgana e o fato de seus filhos estarem envolvidos, os filhos que ainda nem tinham um nome, que ainda nem haviam nascido, gerava algum tipo de revolta nela que preferia manter tudo o mais privado possível.
Tomaram a Chave de Portal direto para o Largo Grimmaud. O local estava completamente diferente da ultima vez em que ela vira. Todo destruído e com ruinas de uma guerra acirrada espalhado por todos os cantos. Haviam plataformas de frente a fachada destruída da Ordem. Hermione não se lembrava de estar tão ruim como aparentava naquele momento, mas sabia que Lúcio muito provavelmente dera mais alguns retoques pelo bem da dramatização.
A mídia estava empilhada de frente as plataformas e entre a fachada destruída da antiga casa dos Black. Todos os tipos de meio de comunicação estavam confinados a um único espaço sob o sol e o calor do fim de tarde dos arredores de Londres. Narcisa teria pensado em algo melhor.
Os Comensais influentes da Catedral e do Ministério estavam reunidos debaixo de um tipo de tenda bem armada, que carregava uma decoração extremamente luxuosa, logo ao lado das plataformas. Hermione logo ocupou-se com a companhia de Astória, preferindo não se aproximar de Narcisa, visto que ela estava na companhia da adorável irmã Bellatrix. Elise estava presente, o que Hermione achava uma decisão muito questionável, mas sabia que Lúcio fizera o trabalho de convencê-los a trazer a pequena. Uma criança num evento como aquele mostrava o quanto tinham domínio e controle sobre tudo.
Ainda assim, Hermione ficou atenta. Ficou atenta porque sabia que Draco também estava em constante estado de alerta. Ao mesmo tempo que cumpria o seu social naquela tenda, esperando os últimos minutos do pôr-do-sol, cumpria também seu papel de general, mantendo contato com seus líderes para se manter informado de suas posições e seus comentários a respeito de toda a movimentação.
Hermione manteve foi arrastada pelos assuntos superficiais de Astória. Quando menos percebeu, viu-se fazendo um estranho tipo de entrevista com a mulher a respeito da criação que pretendia dar a possível filha que ela teria, apenas para especular se ela seria boa o suficiente para seu filho. Não sentiu-se mal por isso, embora uma parte de si soubesse que devesse. Não importava. Era necessário. Sentia que era. Seu valor moral tinha outros padrões agora. Era uma Malfoy.
Assim que o sol sumira de vista e tudo que restara no céu fosse os últimos resquícios de luz natural, Lúcio finalmente a tal cerimônia. Não foi nada extremamente elaborado e demorado. Tudo aquilo precisava ser feito apenas para ser estampado nas primeiras páginas de jornal do dia seguinte como a vitória final do império de Voldemort. O discurso lido foi do próprio mestre das trevas. Muito político, muito ousado, absolutista e bem autoritarista. A visão de mundo que ele tinha era incrivelmente distorcida.
Houve uma espécie de performance ensaiada pelo exército para serem lançadas as chamas verdes contra o edifício. Não demorou para que o edifício acendesse como uma imensa tocha. No topo, Lúcio projetou a marca negra no céu. Hermione assistiu em silêncio, do seu lugar na plataforma ao lado de Draco, o fim do lugar em que vivera confinada pelo menos por tantos anos lutando por algo estúpido, uma utopia que só trouxera dor e traumas para todos que também ficaram ali com ela.
Sua mão se uniu com a de Draco naturalmente e ela respirou fundo tentando sentir-se confiante possível diante daquela gloriosa e ao mesmo tempo assustadora cena, enquanto o calor abafado das chamas que chegavam até ela moviam seu vestido e seu cabelo. Se havia alguma dúvida de que estava grávida, agora o mundo não teria mais. Os flashes por todos os lugares quase a cegavam.
- O que está pensando? – Draco perguntou ao seu lado.
- Quanto tempo ainda vai levar para virarmos o jogo. – ela respondeu. Na verdade, pensava sobre aquilo constantemente.
- Já estamos virando o jogo, Hermione. – ele comentou.
- O que você está pensando? – ela perguntou.
Ele estralou o pescoço discretamente.
- Estou pensando em quanto tempo mais isso vai demorar. – ele respondeu.
Hermione notou o estado de alerta dele sendo externado. Tentou manter-se focada no prédio em chamas, mas quanto mais o tempo se passava, mas ela se sentia incomodada com a tensão dos músculos de Draco.
Pensou em dizer qualquer coisa que fosse acalmar seu espírito. Não havia necessidade para aquilo. Eles haviam revisto a segurança do local vezes seguidas embora o tempo tivesse sido curto. Assim que abriu a boca, viu um dos líderes da zona seis cortar por entre a multidão da mídia com pressa acompanhado de outros três homens dispostos estrategicamente. Eles estavam em ação e ela não tinha a menor ideia do porque. No momento em que Hermione fechou a boca, Draco abriu a dele.
- Volte para casa. – foi uma ordem e foi para ela. – Agora. – e a arrastou para fora da plataforma. Foram interceptados por mais um dos homens de Draco. – Tire minha mãe e Hermione daqui. – foi a ordem dele.
Hermione procurou pelos Bennett imediatamente. Precisava levar Elise com ela. Em segundos encontrou o olhar de Astória pedindo por ajuda em silêncio. Ela havia notado a movimentação do exército também. Estava pedindo ajuda pela filha e Hermione não tinha medo de estar cercada por qualquer tipo de atmosfera perigosa. No momento em que fez menção de tomar a direção da mulher para buscar a criança. Draco a segurou pelo braço exclamando um não seguido de seu nome. A última sílaba foi abafada por três grandes estalos secos que ecoaram pelo ar tomando-a completamente de surpresa.
Draco a cobriu de uma forma inutilmente protetora num reflexo perfeito. O caos se instalou no mesmo segundo. Hermione olhou por cima dos ombros do marido procurando por respostas e não demorou a tê-las. Estirado próximo as escadas da plataforma estava o corpo de Lúcio Malfoy. O grito de Narcisa vindo de algum lugar impreciso cortou o ar e fez doer sua alma. Será que ele ainda estava respirando? Abaixo da plataforma ela viu a figura de Gina Weasley com um olhar furioso e uma arma trouxa na mão.
Foi arrastada por Draco agressivamente dessa vez. Não teve reação nenhuma além de se deixar ser levada. Seu olhar encontrou-se com o de Gina. A arma dela foi para a sua direção e Hermione encarou o cano de longe decretando sua morte. Perdeu o oxigênio. Seria seu fim. Foi rápido como um flash quando foi puxada de uma vez para baixo das plataformas perdendo Gina de vista no mesmo segundo em que o disparo foi feito. Hermione imediatamente e inconscientemente tampou os ouvidos sentindo sua alma ser quase arrebatada com o som insuportável. Respirou ofegante percebendo que encontrara abrigo a tempo. Encarou Draco.
- Gina. – foi tudo que disse.
Ele assentiu. Estava tão assustado quanto ela.
NA: Último capítulo do ano!!!! Fechando com chave de ouro... Vamos ter uma boa avançada no tempo para o capítulo que vem. Espero que estejam preparados!
Feliz Natal e Feliz ano novo a todos!
Vejo vocês dia 04 novamente!
Comentários (14)
Deveria haver uma lei que proibisse de acabar um capítulo dessa forma, estou em fôlego até agora. Que capítulo maravilhoso foi esse, não me canso de dizer que vc a cada dia 04 supera mais e mais minhas expectativas. Esse relacionamento Draco e Hermione é exatamente como se espera de verdadeiros Malfoys, a gravidez da Hermione me deixa tão contente principalmente porque nesse capítulo mostrou o quanto ela está feliz por isso. Só espero que dia 04 chegue logo. Feliz Natal e um ótimo ano novo.
2015-12-05Sem palavras com esse capítulo... Vc simplesmente lacrouuuuu Fran!!! Essa Gina é uma cobra, falsa... atirar na Hermione desse jeito, ela só se redime um pouco pelo grandefavor de ter atirado em Lúcio... espero q ele tenha morrido.Feliz Natal e próspero ano novo pra vc e todas as leitoras!!!!Abraços
2015-12-04Sem fôlego. Doida pelo próximo (como sempre hahahaha)Peninha da Ordem :(Muito lindinhos os momentos Dramione, amei.Nunca me imaginei falando isso mas espero que o Lucio não morra. Quero que ele e a Narcisa tenham um final feliz, ela merece.Gina fdp. Sabia que ia odiar ela nessa fic e já tô odiando.Espero que possamos ter capítulo especial de Natal igual ano passado :)Beijinhos
2015-12-04Capítulo mais lindo de todos, srsrrs, mas to morrendo aqui pelo fim. Adianta outro como presente de natal, sei q tá uma correria aí p vc, mas não custa nada pedir né? kkkk. Menor comentário d todos, mas tinha que deixar p não passar em branco. Vou tentar comentar apropriadamente depois, ou seja, um comentário q é um livro, kkkkk. Boas festas e que venha 2016 com mais CdP.
2015-12-04